CAPÍTULO 22 - O Sacrifício
"𝑄𝑢𝑒𝑚 𝑖𝑟𝑎́ 𝑐𝑎𝑛𝑡𝑎𝑟 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑖𝑚
𝑁𝑜 𝑠𝑜𝑛ℎ𝑜 𝑑𝑎 𝑚𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑒𝑚 𝑞𝑢𝑒 𝑓𝑢𝑖 𝑑𝑒𝑖𝑥𝑎𝑑𝑜
𝑄𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑒𝑢 𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑛𝑜 𝐶𝑎𝑚𝑖𝑛ℎ𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐻𝑒𝑙
𝐸 𝑎 𝑡𝑟𝑖𝑙ℎ𝑎 𝑒𝑚 𝑞𝑢𝑒 𝑝𝑖𝑠𝑜
𝐸́ 𝑡𝑎̃𝑜 𝑓𝑟𝑖𝑎, 𝑡𝑎̃𝑜 𝑓𝑟𝑖𝑎
𝑉𝑜𝑐𝑒̂ 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑟𝑎́ 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒 𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑚𝑎𝑟𝑟𝑎𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑎𝑚 𝑣𝑜𝑐𝑒̂
𝑉𝑜𝑐𝑒̂ 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑟𝑎́ 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒 𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑚𝑎𝑟𝑟𝑎𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑛𝑑𝑒𝑚 𝑣𝑜𝑐𝑒̂"
(𝑾𝑨𝑹𝑫𝑹𝑼𝑵𝑨 - 𝑯𝒆𝒍𝒗𝒆𝒈𝒆𝒏)
Lembro da primeira vez em que deparei-me com a morte. Eu ainda era uma criança, não tão pequena que não compreendesse a grande dimensão de tal fatalidade, apenas uma criança na idade em que a curiosidade sobre o mundo é demasiada aguçada.
Minha família morava em um lugar afastado da maioria das civilizações. Papai costumava a dizer que ser um druida solitário não era algo bem visto pelas pessoas que o temiam alegando que ele não passava de um feiticeiro cruel que sempre esteve preparado para matar a todos que ousassem a se aproximar dele e sua família. Então, vivíamos afastados e em paz com nós mesmo e todos que ficavam consideravelmente, próximos de onde morávamos.
Nossa subsistência era baseada na colheita: comíamos o que plantávamos; criávamos algumas galinhas, possuíamos duas vacas e, também, dois cavalos que ajudavam a arar as terras. Mas num determinado ano, um inverno rigoroso se abateu sobre o local em que habitávamos, nós, assim como as demais famílias que viviam aos arredores, quase definhamos com a falta de alimentos. O pouco que tínhamos, não era o bastante para alimentar os animais, portanto, um de nossos potros, infelizmente sucumbiu com a fome.
Nesse determinado dia, segui meu pai até o celeiro e nos deparamos com o animal deitado de lado, ele estava extremamente magro, provavelmente não era mais capaz de se manter em pé. Sua respiração lenta e entrecortada saia de sua boca com um esforço sofrido e em seus olhos, havia uma tristeza que só aqueles que estão à beira da morte, conseguem exibir.
Papai se abaixou perto do cavalo e afagou sua crina marrom. O animal olhava com atenção para seu dono. Seus grandes olhos negros, davam a impressão de que poderia falar.
— Pode curá-lo? — indaguei ao meu pai, pois sempre o via usar a magia para curar os animais quando estes se machucavam.
— Não! — ele respondeu sem desviar os olhos do cavalo. — Posso curar uma pata quebrada, um corte na perna ou na barriga. Mas não posso acabar com sua fome e creio que seja tarde demais para salvá-lo. — Concluiu em tom de lamento.
Também aproximei-me do cavalo e abaixei-me de modo a ficar a seu lado.
— Ele está sofrendo. — eu sussurrei enquanto passava os dedos em suas costelas expostas.
— Eu sei... Só tem um jeito de acabar com seu sofrimento. — Papai tirou uma adaga da bainha do cinto, a segurou firme em sua mão e a levou próximo ao coração do cavalo.
— Vai matá-lo? — perguntei alarmada.
— Vou! Pode fechar os olhos se achar que isso é demais para presenciar. — ele disse como se fosse um aviso.
Eu não fechei os olhos. Vi quando a adaga invadiu a carne do cavalo e o sangue derramou sobre o chão. O animal se debateu, arregalou os olhos, soltou um longo suspiro e depois morreu.
Não havia mais dor, nem fome. Somente um corpo vazio.
— Vá em paz! – eu sussurrei e tracei minhas mãos pela extensão do corpo do cavalo morto. Por fim, fechei seus olhos petrificados e desejei que estivesse em paz.
Meu pai limpou o sangue da adaga em suas vestes. Suor pingava de sua testa. Ele claramente não sentiu prazer ao tirar a vida do animal.
— Pai... Morrer, dói? — Olhei diretamente em seus olhos verdes.
Papai nunca me escondeu nada, sempre disse-me a verdade, não importava quão dura ela fosse. Por isso, o druida respondeu:
— Tudo depende das circunstâncias em que a morte ocorreu. Há pessoas que morrem agonizando, outras sufocadas, algumas rápidas e praticamente indolor e um pequeno grupo, morre tranquilamente enquanto dormem. Então sim, às vezes, a morte pode ser dolorosa. — Um vinco de marca de expressão acentuou no centro de sua testa.
— E o que acontece depois? — questionei curiosa.
Papai soltou uma curta risada rouca.
— Ah! pequena Erieanna, isso é um mistério que todos querem desvendar. Nem mesmo nós, os druidas, sabemos com exatidão o que se sucede após a morte. Algumas das poucas pessoas que passaram por tal experiência e voltaram a vida, se recordam muito pouco do que aconteceu enquanto estiveram mortas. No entanto, nenhuma delas alegaram afirmar que sentiram dor enquanto estavam no outro plano. — Papai afagou meus cabelos carinhosamente.
— Espero que não esteja mais sentido dor e nem fome. — Percorri a crina do cavalo com meus pequenos dedos.
— Você é uma pessoa muito boa. Desejo de todo meu coração, que o mundo não tire essa bondade de dentro de ti. — Meu pai apertou minhas bochechas e esboçou um largo sorriso que eu retribui.
Ele teria ficado desapontado se visse o que o mundo fez comigo. Mas no fundo, creio que antes de morrer, soube que eu seria destruída.
No dia do meu sacrifício, pouco tempo depois do raiar do sol. Ragad veio a minha cela acompanhado de seus homens. Não olhei em sua direção quando adentrou no ambiente, apenas continuei sentada encolhida num canto em que a penumbra da luz do dia cobria boa parte de meu rosto.
— Erieanna... — ele começou a falar num tom sério. — Chegou o momento de te preparar para o... — As palavras ficaram engasgadas em sua garganta. Ele trincou o maxilar antes de concluir a frase. — Para seu sacrifício. — sua voz soou baixa e um tanto insegura.
— Imaginei que não tivesse mudado de ideia. — Coloquei-me em pé e andei até sua direção.
Ragad assustou-se ao deparar com minha caótica imagem. Sangue ainda cobria boa parte de meu corpo, assim como as marcas da luta com a velha estavam evidentes em minha pele.
— Sumoko? — ele arqueou a sobrancelha loira.
Apenas exibi um sorriso de canto em resposta a sua pergunta.
— Como escapou daqui? — indagou nitidamente confuso.
— E isso importa? — rebati de forma áspera — Estou aqui agora, não é? — Dei de ombros.
O Jarl encarou-me por um bom tempo. Depois, passou a mão na extensão da barba e disse finalmente:
— Sim, está. Creio que isso é tudo que importa.
Não falamos mais nada. O viking indicou a saída da cela e eu caminhei até ela. Mas, antes de alcançar meu destino, Ragad interrompeu-me com seu questionamento:
— Você andou chorando? — Franziu o cenho ao analisar meu rosto com atenção.
— Reservo-me ao direito de não responder essa pergunta. — Ergui o queixo em sinal de ousadia.
Ele tentou levar os dedos a minha face, porém eu não permiti que me tocasse.
— Não ouse encostar em mim. Prometi que não o mataria, mas isso não impede-me de queimar suas mãos. — Ameacei entredentes.
Astuto como sempre, Ragad rapidamente recolheu sua mão para si.
Voltei a andar rumo a saída e passei por seus homens de cabeça erguida.
O Jarl logo tomou as rédeas do caminho e levou-me até sua casa onde um quarto havia sido preparado para receber-me. Uma banheira já estava pronta e aquecida para limpar-me. Havia duas criadas aguardando-me, elas não eram escravas, por isso continuavam a servir a casa do Jarl. Naquele momento dei por conta que ninguém havia sentido falta dos escravos. Provavelmente, todo o clã só pensava em meu sacrifício que ocorreria muito em breve.
As mulheres banharam-me tirando todo sangue impregnado em minha pele, por seguinte, enxugaram-me e, contra minha vontade, fui obrigada a enfiar-me numa veste branca que cobria toda extensão de meu corpo e terminava em meus pés. A roupa era demasiada larga e o tecido grosso, não era o suficiente para proteger-me do frio das terras nórdicas.
Terminado o serviço, as criadas saíram enquanto eu fiquei encolhida no meio do quarto, com os braços apertados ao meu redor tentando, inutilmente, aquecer-me.
Não tardou para que Ragad retornasse ao cômodo trazendo consigo seis homens vestidos de branco, assim como eu. A única diferença é que eles possuíam um manto marrom ao redor dos ombros que cumpria com a função de aquecê-los do frio.
Um dos homens se aproximou de mim como uma adaga e fez menção de segurar meus pulsos. Recuei dois passos para trás, deixando claro que não seria tocada pelo desconhecido.
— Calma Erieanna, ele não vai te machucar. Apenas quer desenhar algo em seus braços. — Ragad disse tentando tranquilizar-me.
Fitei-o com raiva.
— Ninguém tocará em mim, até que eu veja Thorn. — proferi de forma enfática.
Os homens voltaram o olhar para Ragad que trincou o maxilar. Eu continuei a sustentar meus olhos no seu, deixando claro que não mudaria de ideia.
— Deixarei que o veja, depois que fizer os símbolos em seus braços. — falou com seriedade.
— Acho que temos um impasse aqui, pois eu quero justamente o contrário. — Argumentei.
O viking diminuiu a distância entre nós e olhou diretamente em meus olhos. Seus olhos azuis nunca estiveram tão apagados como naquele dia
— Tem minha palavra que deixarei vê-lo se fizer o que eu pedi. — Seu tom de voz demonstrava a segurança de alguém que supostamente dizia a verdade.
Mas não podia confiar nas palavras de um homem que estava prestes a matar-me.
Num ato habilidoso, segurei seu antebraço e com a outra mão, peguei faca que carregava ao lado de sua cintura. Os homens deram um passo a frente, se preparando para atacar-me. Entretanto, eu apenas cortei uma pequena parte da pele que cobria o pulso de Ragad e fiz o mesmo em mim.
Juntei nossos membros sangrando e sussurrei as palavras do feitiço que ligava seu sangue ao meu.
— Quero que jure que me deixará ver Thorn! Mas jure somente se for a verdade, pois quando fizer isso, o feitiço estará selado. Não poderá voltar atrás, se não, morrerá por sua mentira. — Fixei meus olhos nos seus tentando demostrar a real seriedade da situação em que nos encontrávamos. — É um feitiço de sangue e nem minha morte pode desfazê-lo.
Ragad engoliu a seco antes de tomar sua decisão:
— Eu juro que deixarei que o veja. É o mínimo que eu devo a você. — Suas narinas dilataram-se quando proferiu aquelas palavras.
— Agora jure que o libertará assim que tudo estiver acabado. — Continuei segurar seu braço.
— Eu juro que o libertarei. — falou sem titubear.
O juramento foi selado, assim como a nossa pele que já não mais sangrava.
Ragad passou os dedos no pulso e pude notar que ficou incerto e um tanto incrédulo com o viu diante dos seus olhos. Logo a seguir, o líder do clã fez um sinal com a cabeça e o homem que segurava a adaga voltou a se aproximar de mim. Estendi meus braços em sua direção, na qual o desconhecido segurou com uma das mãos e com a outra, manuseou a adaga e começou a desenhar o símbolo um pouco acima da linha do meu pulso. Creio que eu estava muito abalada, pois não senti a dor do corte em minha pele, eu via o sangue escorrer, mas nada sentia. O homem repetiu o desenho no outro braço e quando concluiu, proferiu uma série de palavras que fez os pelos de minha nuca se arrepiarem.
De imediato, senti um vazio dentro de mim, aquele poder antigo deixado por meu pai em meu sangue, havia sido bloqueado. A magia e toda sua força assombrosa, já não rugia dentro de mim. Olhei para os símbolos em meus braços e notei que se tratavam de runas. Naquela altura eu já conhecia muito daquela simbologia: o presente deixado pelo próprio Odin — o deus supremo — para que os vikings pudessem se comunicar. Entretanto, aquele padrão desenhado em meu braço, era totalmente estranho para mim.
— O que você fez comigo? — rosnei a Ragad.
— Isso é um tipo de runa que tem o único propósito de bloquear seu poder temporariamente. Não podia correr o risco de te levar completamente munida de seus dons e colocar todos do meu clã em risco. — Ele continuou a encarar-me com intensidade. — Não espero que me entenda. Creio que se não conseguimos avançar em algum ponto até agora, não avançaremos mais. — Soltou um pesado suspiro que fez seus ombros se inclinarem para frente.
— Nosso tempo acabou Ragad. Vamos acabar com isso de uma vez por todas. — falei demostrando total resignação.
O Jarl apenas acenou em gesto de afirmação. Depois deu o comando a um dos homens de branco que permaneciam no quarto:
— Traga o prisioneiro!
O viking prontamente obedeceu a ordem do líder a saiu rapidamente pela porta.
Meu coração começou a bater acelerado, pois tinha certeza de que Ragad ordenou para que fossem buscar Thorn. Pelo que tudo indicava, meu amigo continuava vivo.
Não demorou muito e o responsável por trazer Thorn adentrou novamente no quarto acompanhado de mais dois guardas que arrastavam pelos braços um homem muito machucado. De onde encontrava-me, não conseguia confirmar se o prisioneiro era realmente Thorn, pois ele estava com a cabeça baixa e o cabelo desgrenhado de tonalidade acobreada, cobria parte de seu rosto.
Fiz menção de ir de encontro ao prisioneiro, no entanto, Ragad me interrompeu se aproximando do homem e, a seguir, colocou uma faca rente ao seu pescoço.
— Não ouse se aproximar dele! — Ameaçou o Jarl de forma sombria e lançou-me um olhar mortal.
— Preciso saber se ele é realmente o homem que deve libertar! — rebati com obstinação.
Ragad puxou os cabelos do prisioneiro e o fez erguer o rosto. O viking estava muito machucado. Marcas arroxeadas cobriam sua pele, o nariz estava quebrado, um corte profundo fazia com que seus lábios sangrassem. Mas mesmo que os olhos verdes estivessem inchados e avermelhados, eu reconheceria aquele olhar em qualquer lugar do mundo, ou em qualquer circunstância. Malditamente destruído, Thorn estava diante de mim.
— Solte-o! — supliquei.
Aquilo se parecia cada vez mais com o pesadelo que tive onde Ragad o matou diante de meus olhos e eu não pude fazer nada para evitar sua morte.
O Jarl continuou a pressionar a adaga ao pescoço de Thorn e eu sentia que meu coração poderia sair pela boca a qualquer momento.
— Solte-o, por favor! — Já não tinha mais forças para enfrentar o desenrolar daquela cena que parecia nunca ter fim.
Então, ainda receoso, Ragad tirou a lâmina do pescoço de meu amigo e ordenou a um dos guardas:
— Leve-o! Mandem que o limpe. Depois dêem comida e água o suficiente para completar sua jornada, e o libertem.
O guarda acatou a ordem e levou Thorn embora.
Eu não pude despedir-me, nem lhe dar um último abraço, ou talvez um último beijo. E de tudo que aconteceria comigo dali em diante... aquilo era o que eu mais lamentava.
— Vamos Erieanna! Já perdemos muito tempo. — falou o viking que responsável por minha morte iminente.
Eu nada disse. Somente ajeitei minha postura e o segui até o local em que seria sacrificada.
Conforme andava por entre as árvores, o vento uivava em meus ouvidos e o sangue dos cortes em meus braços pingava no chão. Minha veste branca já não estava impecavelmente limpa, o mesmo sangue que sujava as terras vikings enquanto eu caminhava, havia manchado o tecido na altura dos meus ombros. Uma multidão de pessoas nos seguia cantando uma canção melancólica que, ironicamente, falava sobre o caminho até a morte:
Kven skal synge meg (Quem irá cantar para mim)
I daudsvevna slynge meg (No sonho da morte em que fui deixado
Når eg helvegen går (Quando eu ando no Caminho para Hel)
Og dei spora eg trår (E a trilha em que piso)
Er kalde så kalde (É tão fria, tão fria)
Quanto a mim, não estava triste e nem com medo. Fiz tudo que pude para partir dessas terras sem deixar pendências para trás. Encontrava-me pronta para morrer.
Descemos a ribanceira e paramos às margens da praia. Até o mar que sempre esteve revolto, parecia que tinha se aquietado para ver minha partida.
Ragad e os seis homens de branco levaram-me até as águas salgadas tão geladas quanto meu coração naquele momento. Um dos vikings colocou um ramo de frutos vermelhos preso ao meu pescoço e cabeça enquanto sussurrava palavras desconhecidas.
Dois homens seguraram firme meus braços, no momento em que Ragad perguntou:
— Deseja proferir suas últimas palavras? — Ele estava espantosamente sério e, pelo que vi no fundo de seu olhar, também estava triste.
Um silêncio se apossou da multidão e de todo local onde estávamos. Apenas o mar chiava em torno de nós. Dois corvos sobrevoaram o céu grasnando e eu lembrei-me do que Thorn disse-me sobre Odin observar o mundo através dos olhos daquelas aves negras. Esperava que o deus supremo dos vikings estivesse presenciando aquilo, queria que pudesse ouvir as palavras que saíram dos meus lábios naquele fatídico dia:
— Espero, para o bem de todos vocês, que esse realmente seja meu fim... Porque, se não for, eu juro que voltarei a acabarei com cada maldito viking que vive nesse lugar! — Meu tom de voz saiu alto e ameaçador o suficiente, para manter a multidão calada e com medo.
Mães abraçaram os filhos. Homens levaram as mãos as armas que empunhavam e Ragad arregalou os olhos diante da minha ameaça.
— Estou pronta para morrer. — Cravei meu olhar no Jarl, demostrando que já podia pôr um fim na minha vida.
Ragad não proferiu uma palavra sequer quando começou a debruçar meu corpo nas águas do mar. O sal fez com que meus olhos ardessem. Prendi minha respiração tentando evitar que o líquido entrasse em meu pulmão, no entanto, não fui capaz de resistir por muito tempo. Senti o exato momento em que a água salgada do mar penetrou minha boca e nariz. Meu pulmão queimou, como se tivesse engolido brasas de fogo. Tentei debater-me, mas mãos prendiam meus braços, assim como minhas pernas e Ragad mantinha firme suas mãos em meu pescoço. Olhei adiante de seus ombros e vi um clarão seguido de fumaça. Parei de lutar e exibi um sorriso malicioso ao Jarl. Ele ainda não sabia, mas logo se daria conta do que acontecia com seu clã enquanto me matava.
Podia sentir a morte se aproximando e levando cada parte da minha alma. Minhas lágrimas juntaram-se ao mar e a última imagem que vi antes de morrer, foram os olhos azuis banhados em águas, do homem que erroneamente dizia me amar.
Escuridão, silêncio, vazio. Foi tudo que senti após meu coração parar de bater.
"Então, isso é a morte!" Pensei à medida que andava completamente sozinha pelo breu que cercava-me.
Eu não me sentia em paz, mas também não tinha medo nem dor. Era apenas uma solidão sem fim. Talvez a morte fosse aquilo: eu e o peso dos meus erros, sozinha por toda a eternidade. Ou, provavelmente, apenas tinha que encontrar o caminho até meus pais. Tudo que sempre quis foi ver minha família novamente, entretanto a morte não me deu esse conforto. Aquilo que lembro-me do período em que morri, foi somente de silêncio, escuridão e um vazio sem fim. Nada — absolutamente nada — além disso.
Nunca estive tão confusa quanto o momento em que recobrei a consciência e o sentido de meu corpo. Lembro-me de ter ouvido o barulho suave de uma correnteza de água e também tinha a sensação de que estava flutuando. Não sentia frio, tampouco calor, tudo parecia estar em perfeito equilíbrio, que eu tinha medo de abrir os olhos e aquela prazerosa sensação se dissipar. Poderia flutuar para sempre naquelas águas serenas. Porém, o momento de tranquilidade foi interrompido, quando meu corpo trombou em algo sólido que posteriormente levantou-me das águas em que repousava.
Fui levada aos braços de alguém, pois podia escutar perfeitamente as batidas forte de um coração. Ainda lutava contra a vontade de abrir os olhos, no entanto, não tive escolha a não ser abri-los. Tinha esperanças de que estivesse sendo carregada por meu pai.
A claridade do sol ofuscou minhas vistas impedindo que eu visse com clareza a feição da pessoa que havia me tirado da água. Semicerrei os olhos e tentei me concentrar no aspecto físico de seu rosto que aos poucos começou a tomar forma.
"Não era meu pai!"
Tratava-se de um homem cujos cabelos loiros curtos e estavam penteados para trás. Havia uma barba bem-feita cobrindo seu rosto e ela não era tão longa quanto a que os vikings costumavam usar. Sua pele apresentava um tom dourado de alguém que costuma se banhar a luz do Sol com certeza frequência. Já seus olhos eram tão azuis quanto o céu acima de nós. E de uma coisa eu tinha certeza, jamais o tinha visto em toda minha vida.
— Quem é você? — sussurrei franzindo o cenho claramente confusa.
O estranho abriu um largo sorriso, na qual exibiu seus dentes bem alinhados e depois respondeu:
— Alguns me chamam de deus da trapaça, outros de pai da mentira... — Sorriu novamente. Aquele maldito sorriso que parecia zombar de mim.
— Prazer, eu sou o Loki e você... — Ele fez uma breve pausa enquanto sorria. — Bem... você é meu sacrifício. — disse, por fim.
E com aquelas simples palavras, tudo tornou-se um caos.
(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
É Isso gente! Postei e sai correndo, porque estou com medo de vocês terem odiado!
Nos vemos, na terça. (se tudo der certo)
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