xxvii. eagle claws
CAPÍTULO VINTE E SETE
eagle claws
A ÁGUIA É A AVE QUE POSSUÍ a maior longevidade de sua espécie, chegando a viver cerca de setenta anos. Esse fato é certamente interessante, contudo, para chegar a essa idade, ela precisa tomar uma difícil decisão.
Em algum lugar próximo de Hogwarts havia uma águia solitária prestes a completar quarenta anos de vida, suas unhas estavam compridas e frágeis, tão flexíveis que já não conseguiam agarrar as presas, ficando sem ter como se alimentar. Seu bico, antes ameaçador, longo e pontiagudo, começara a se curvar. Seu vôo era fraco e cansativo graças as suas asas pesadas e envelhecidas, além das penas grossas.
E nessa época lhe restavam duas opções para escolher: simplesmente se deixar morrer, ou enfrentar um processo extremamente doloroso que duraria cerca de difíceis cento e cinquenta dias.
A águia, após tomar sua decisão, foi-se para o alto de uma montanha de vôo firme, e se isolou próximo a um enorme paredão. Ao encontrar o lugar perfeito, a ave deu início ao seu processo. Com força e coragem começou a bater o bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando a extrema dor. Esperando tempo suficiente para que a dor passasse e que nascesse um novo bico, a ave logo começou a arrancar suas velhas unhas e com novas unhas arrancou suas velhas penas.
Pacientemente esperando cinco meses, a ave então pôde sair para enfrentar o famoso vôo de renovação. Renascida para viver por mais trinta anos e viajar pelo mundo afora.
Daphne Armstrong encarou o céu claro enquanto, junto a sua mãe, esperavam a cabine telefônica abrir para os visitantes do Ministério da Magia Britânico. Assim que as portas se abriram, antes de entrar a garota ouviu o crocitar de uma ave acima do edifício vizinho, parecia olhar diretamente para ela em um cortejo, em seguida a águia levantou vôo mais uma vez e se foi para sempre, deixando-a ouvir o som de seu canto diminuindo aos poucos devido a distância.
O agasalho e os braços que abraçavam o próprio corpo praticamente não lhe serviram no instante em que atravessou aquele corredor frio no último andar. Daphne sentiu o gosto da morte.
Nikolai e Regulus não foram liberados das aulas para acompanhá-la, então sua única companhia era Felicity, sua mãe, que não conversava normalmente com ela desde o incidente na mansão, mas que fora o único motivo para que Daphne fosse liberada, após enviar uma carta destinada a Hogwarts, que dizia estar terrivelmente mal pelo o que acontecera ao marido e que a única companhia que a ajudaria naquele momento tenso e terrível seria a da filha. Após Slughorn conversar e insistir para McGonagall, a Profa. falou com Dumbledore e aparentemente o convenceu, dando a Daphne dois dias com Felicity.
Dois dias que ela queria que passassem rápidos demais.
A garota sabia que normalmente os bruxos não eram tão afetados por dementadores à uma distância tão grande. Mas ela sim estava com muito medo.
Ela esperou junto à Felicity no corredor. Sentadas em duas cadeiras, observavam o pouco movimento naquele setor no Ministério da Magia Britânico. Por um momento Daphne desejou gritar os nomes de todos os Comensais da Morte, deixar até mesmo que a prendessem, dizer tudo o que sabia sobre planos futuros do Lord das Trevas. Mas ela não fez porque era covarde o suficiente.
Daphne sabia exatamente os efeitos dos Dementadores, mas jamais havia conseguido produzir o seu Patrono, ao contrário de sua mãe, que no instante em que foi chamada para entrar na câmara para o julgamento do marido conjurou o gato brilhante e prateado e o deixou ao lado da filha.
─ Você está pálida, Daphne. Se entrar lá vai acabar desmaiando ─ foi o que Felicity havia falado antes de deixa-la no corredor. Pelo o que Daphne sabia, Dementadores estavam presentes em cada julgamento, guardando o local enquanto não levavam seus prisioneiros.
Dementadores se alimentavam de felicidade humana, causavam depressão e desespero para qualquer um perto demais. Ela não desejava isso para o seu pai, mas o que podia fazer? Não havia nada que ela pudesse ter feito. Mas não podia negar que ainda tinha uma pequena esperança. Richard sempre conseguiu se safar de qualquer coisa, ele não ia permitir que esses demônios sugassem sua alma até não sobrar mais nada que um corpo vazio. E apesar de tudo Felicity o amava e não estava entrando em desespero. Eles tinham que ter um plano. Algo que não contaram para a filha.
No momento em que acontecia o julgamento, Daphne, fora da Câmara, se apegou a essa esperança enquanto encarava o patrono de sua mãe, brilhante como a lua, caminhando graciosamente ao seu redor e a protegendo.
Depois de horas que Daphne batia o pé impacientemente no chão, as enormes portas no fim do corredor foram abertas. Ela ficou de pé, e o gato aos seus pés como se continuasse em guarda. Felicity saira, logo depois Bartolomeu Crouch Sr. e mais dois funcionários segurando os braços de Richard, como se fosse possível fugir naquele lugar.
─ Daphne ─ a voz de Richard quase não exalou som, mas os dois funcionários entenderam que o homem desejava falar com a filha. ─ Só um minuto, por favor.
Com um sinal de Crouch, o libertaram, Richard foi até o encontro da filha e a abraçou forte. E antes que ela dissesse algo, ele jogou as informações nos ouvidos dela:
─ Não permita que sua mãe machuque a garota, ela não tem culpa. Eu deixei me levarem para Azkaban. Não quero mais ferir ninguém.
─ Garota? Quem...?
Mas Richard não a deixou completar, acariciou os cabelos dela mais uma vez, a apertando com muita força em seus braços.
─ Dei e Regulus algumas ordens, facilite para ele, Daphne. O garoto saberá o que fazer no futuro.
─ Pai...
─ Eu te amo. Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Nunca duvide disso. Eu vou encontrar você outra vez.
─ Um minuto ─ disse Crouch.
─ Daphne, você sabe que a águia precisa tomar uma decisão difícil no meio da vida, não sabe? ─ perguntou Richard, sorrindo para a filha.
─ Sei ─ a garota respondeu. ─ Ela precisa de isolar para passar por um processo de renovação.
─ É doloroso ─ disse Richard, ─ mas um dia ela poderá voar para a liberdade.
Mesmo que ela estivesse confusa, Richard assentiu, orgulhoso da resposta que recebera da filha. Daphne sentiu a escuridão avançar e deu um passo para trás quando dois guardas de Azkaban saíram da Câmara, prontos para levarem o seu pai para a prisão.
๑
─ Era só o que me faltava ─ Nikolai bufou.
O time da Sonserina estava no Campo de Quadribol há pouquíssimo tempo, haviam esperado chegarem todos os jogadores para enfim iniciarem o seu primeiro treino da semana. Daphne não havia dormido direito desde que voltara para Hogwarts. E só desejava um treino leve e sem confusão.
Mas quando o time da Grifinória surgiu, com seu mais novo capitão os guiando, Daphne soube que não seria nada leve.
─ Aí, o que estão fazendo aqui? ─ perguntou o Capitão da Grifinória, deixando a vassoura em pé no chão enquanto se apoiava nela. ─ Falamos com a Profa. McGonagall, antes das oito o campo é nosso.
Emma, que antes havia dado algumas instruções aos seus jogadores, arqueou a sobrancelha ao encarar o garoto um ano mais jovem. Desde seu último treino ela não estava tão paciente como quando tiveram a vitória contra a Corvinal.
─ Qual é mesmo o seu nome? ─ ela perguntou, confusa.
Daphne terminava de vestir as luvas de couro enquanto os observava no centro dos dois grupos divididos pelas Casas.
─ Jac Greengrass ─ respondeu o garoto loiro da grifinória. ─ E eu sugiro que nos deixem treinar, ou irei ter que ir novamente até McGonagall?
─ Escuta aqui, Jac Ninguém ─ Emma trovejou, ─ não há como você ter falado com McGonagall quando ela sabia que Hooch nos deixou treinar. Então eu sugiro que dê meia volta com seu timinho. Se não está vendo, chegamos primeiro.
─ Típico da Sonserina ─ Jac sorriu e encarou o time. ─ Acham que vamos temer só porque a maioria dos seus familiares são... bem... Comensais da Morte. Você entende bem disso, não é, Armstrong?
Apesar de alguns jogadores do time da Grifinória discordarem da ação de seu capitão, outros apenas deram risadinhas.
Regulus largou a vassoura no chão, ele e Nikolai estavam prontos para dar um passo para a frente e quebrar a cara de Greengrass quando Daphne os impediu.
─ Por que você simplesmente não cai fora? ─ Daphne aconselhou ─ Volte quando o campo não estiver ocupado.
─ Queremos treinar agora ─ disse Jac.
─ O que não vai acontecer, Greengrass, vá embora.
─ E o que você vai fazer para me mandar embora, Armstrong? ─ Jac desafiou, dando um passo para a frente. ─ Não me diga que vai chamar o papai, ah não, esqueci que logo não sobrará nada do papai.
Não era sempre que os jogadores levavam suas varinhas para os treinos no Campo, mas fazia muito tempo em que Daphne deixava a sua distante das próprias mãos. Não seria de seu feitio deixá-la na mesa de estudos do quarto quando não estava presente no cômodo.
Era um fato que os Greengrass e os Armstrong tinham uma velha rixa que havia sido iniciada pouco depois de Dumbledore assumir a direção de Hogwarts. Todos sabiam sobre o pequeno conflito entre as famílias causadas por intrigas de sangue bruxo entre avôs e bisavós da atual geração. Daphne só não imaginou que presenciaria e viveria alguma consequência pelos erros passados de sua família.
Contudo, sem ao menos pensar em como reagir... pensando somente em como seu pai havia sido levado para Azkaban e em como Jac o havia insultado, ela só ouviu a voz de Greengrass e no outro segundo, quando tirou a varinha do bolso, não ouviu mais nada por um breve momento. Não até que Greengrass fosse lançado por um feitiço seu do outro lado do Campo de Quadribol.
๑
─ ... Terão os campeonatos, os N.I.E.M.s daqui a um mês, depois o baile de encerramento e terminarão tudo. Será que podem esperar só um pouco mais?
McGonagall parecia bastante irritada com o chegado fim do último semestre. Por tanto, enquanto dava sermões em seus alunos, todos permaneceram quietos. Até que Slughorn surgiu para levar os sonserinos para a masmorra, ele, contudo, parecia mais cansado do que irritado.
E foi de grande ajuda quando os jogadores envolvidos na confusão apenas se sentaram em suas carteiras, sem dizer nada ou tentar se defender.
Mas Daphne sabia que a maneira como muitos professores olhavam para ela havia mudado. Obviamente existiam os boatos sobre os Armstrong serem comensais, mas com o fato correndo pelos corredores de Hogwarts graças a prisão de Richard, todos eles se confirmaram. Daphne não desejava tentar se defender ou fingir que tudo era mentira, afinal, se ela mesmo julgava suas próprias ações e as de sua família; as pessoas de fora julgariam mais ainda e não iriam acreditar em uma só palavra que lhes fossem dita.
E não era surpresa nenhuma que Slughorn não quisesse ter nenhuma relação com filhos de Comensais da Morte. Porém, Daphne não lhe deu a chance de que ele simplesmente a expulsasse do clube (o que ela acreditava que não aconteceria, ele obviamente daria alguma desculpa para ser menos óbvio), na próxima semana após a detenção, ela pediu que Regulus e Nikolai fossem sozinhos ao Clube, entregando a mensagem óbvia a Horace.
─ Não acho que ele tenha ficado muito feliz ─ disse Regulus na semana seguinte, ─ quero dizer, você sempre foi uma de suas melhores alunas... mas ao mesmo tempo acredito que ele tenha achado necessário. As pessoas até evitaram falar sobre isso, o que é novidade.
Os dois estavam sentados no pátio, ao ar livre, enquanto conversavam. Regulus deitava a cabeça nas pernas de uma Daphne pensativa enquanto ela lhe fazia um simples cafuné.
─ Eu prefiro focar nos jogos e nos exames ─ respondeu ela, acariciando os cabelos pretos do garoto.
Não era totalmente verdade, Daphne iria sentir falta do clube, apesar de nunca ter dado realmente um grande valor. Mas poderia viver sem ele pelos seus próximos poucos meses dentro de Hogwarts.
Algo interessante sobre a última confusão que houve e depois da detenção que os dois times levaram, era que todos os jogadores da Grifinória que estiveram presentes no campo simplesmente acordaram com coceiras em todo o corpo, além de enormes bolhas temporárias no rosto.
Não haviam provas dos delinquentes que fizeram isso, por tanto ninguém teve castigo ou detenção. Mas há duas noites atrás, Daphne viu Regulus e Nikolai escondendo alguns pequenos potes de pó-de-mico e outros experimentos comprados no Beco Diagonal. Ela apenas riu quando os dois negaram. "Você está vendo coisas" Nikolai havia falado, enquanto Regulus apenas deu de ombros e abriu um livro.
Nikolai e Regulus, mesmo que negassem até a morte, haviam se tornado grandes amigos há bastante tempo. E eles sabiam disso. Então nenhum deles deixava muito espaço para que Daphne ficasse irritada ou triste ao lembrar do que acontecera ao seu pai.
Estava claro que ambos tinham seus próprios problemas, então, sendo um trio, todos eles se ajudavam de alguma forma. E por sorte Nikolai não havia presenciado mais nenhuma morte que não pudesse impedir durante o último mês. Regulus não havia respondido e nem mesmo lido nenhuma carta que seus pais enviaram, jogando-as direto na lareira, e Daphne também não quis contato com sua mãe.
Basicamente a única pessoa de fora de Hogwarts que Regulus e Daphne tinham contato era Andrômeda Tonks. Mas raramente era Regulus quem respondia suas cartas. Daphne quem gostava de fazer isso. E, apesar de tudo o que acontecia no mundo bruxo, ela havia lhe prometido outra visita quando tudo acabasse. Ela só não sabia como isso ia acontecer.
" ... e eu espero que Dora tenha gostado da vassoura que mandamos de presente. Fiquem todos bem.
DAA. "
─ Assine, Regulus ─ pediu Daphne.
─ Não quero.
Daphne pegou a mão do garoto e lhe entregou a caneta.
─ Por favor.
Regulus revirou os olhos, derrotado.
" ... DAA. RAB. "
─ Obrigada.
─ Será que ela gostou do presente? ─ perguntou Regulus, baixinho.
─ Foi você que escolheu. Você gostou, então ela gostou.
De fato foi Regulus quem a comprou. Daphne não podia sair do Castelo desde a prisão do pai. Então Black enviou a vassoura de brinquedo para a casa da prima, presentado a pequena Dora Tonks.
perdão pela demora para atualizar. esses dias andei muito ocupada e acabei deixando o app um pouco de lado, atualizando só o que já havia escrito. enfim, espero que tenham gostado do capítulo e até o próximooo! <3
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