xix. someone's memories
CAPÍTULO DEZENOVE
someone's memories
AS SEMANAS CONTINUAVAM PASSANDO NORMALMENTE. Daphne sabia que estava mais distante de seus colegas e mais próximas de livros e de seus professores. Já havia usado feitiços e criado poções que seus colegas não tentariam nem nos mais loucos devaneios. Aprendera também sobre diversos venenos mortais, Slughorn estranhou de inicio a súbita curiosidade da menina em venenos, mas gostava de sua companhia na sala em horários vagos. Sprout também era uma das professoras curiosas sobre o porquê de Armstrong se interessar tão de repente em plantas curandeiras, mas permitia suas perguntas em momentos sem compromissos.
─ Essa poção é sem heléboro... Daphne! ─ Slughorn exclamou tarde demais quando a garota despejou metade de um frasco dentro do caldeirão.
Assustada, Daphne deu um passo para trás e fechou o caldeirão antes de uma pequena explosão acontecer dentro dele. Slughorn se aproximou, abrindo, então um cheiro ruim impregnou na sala. Sim, talvez ela estivesse um pouco confiante demais.
─ Aqui diz... ─ Armstrong não completou sua frase ao ver que estava totalmente errada. De algum modo havia voltado algumas páginas do livro na metade da poção. ─ Desculpe, senhor.
─ Está tudo bem ─ disse o professor, fazendo uma careta ao olhar dentro do caldeirão, o limpando com feitiço logo em seguida. ─ Escute, Daphne, sei que está bem empenhada a aprender feitiços e poções que seus colegas provavelmente nunca vão tentar, mas tem certeza que isso não tem alguma razão?
─ Como assim, professor? ─ perguntou ela, sem interesse enquanto bisbilhotava a estante de ingredientes da sala de Poções.
─ Você está bem, Daphne? Está evitando alguém? Não é por nada, mas você errou uma poção que já fez diversas vezes.
Ela apenas murmurou que estava bem. Com um movimento da varinha do professor Slughorn, as portas da estante foram fechadas, fazendo com que Daphne desse um passo para trás, surpresa.
─ Me desculpe ─ pediu Horácio. ─ Você é uma aluna brilhante, mas alguma coisa está acontecendo aí dentro ─ ele fez um movimento simples, apontando a varinha para a própria cabeça.
─ Está tudo bem ─ ela sorriu. ─ Só quero aprender tudo o que eu posso. Só tenho meses... aqui em Hogwarts.
─ Conhecimento é bom, Daphne ─ ele balançou a cabeça, enquanto levava o caldeirão para a mesa principal, ─ mas você precisa cuidar da saúde mental também. Sem ela é difícil aprender alguma coisa.
─ Eu sou bem saudável mentalmente ─ Daphne ainda tinha o sorriso no rosto.
─ Tá ─ Slughorn assentiu, mas era visível que ainda não acreditava nisso. ─ Enfim, sugiro que vá tomar um ar fresco, sabe que hoje é permitido ir a Hogsmeade, não sabe? Faça alguma coisa fora desses muros, menina.
Mas Daphne correu até seu livro de poções novamente.
─ Professor, e se o senhor me ajudasse...
─ Me ouça... ─ Slughorn a interrompeu. Ela olhou para ele ─ não vou mais te ajudar hoje. Estamos aqui há três horas, isso é mais do que uma aula comum. E só Deus sabe o que acontecerá se qualquer outro aluno souber que estou dando aula particular para você há mais de duas semanas.
─ Estamos conversando, somos amigos, o senhor mesmo disse isso.
─ Você tem outros amigos ─ disse o professor, caminhando até a porta e a abrindo. ─ Eu gosto da sua companhia, mas vá viver, menina.
๑
─ ... Então ele me expulsou.
─ Que bom.
Daphne virou a cabeça e encarou Regulus, que, após a última frase, tinha um sorrisinho maroto no rosto.
Ambos estavam sentados na grama do jardim do pátio exterior de Hogwarts. A maioria dos alunos estavam aproveitando suas horas vagas do fim de semana em Hogsmeade e arredores, portanto, o Castelo estava mais vazio do que costumava ficar.
Regulus Black não tinha nenhum conhecimento sobre a busca da noiva por um legilimentes, apenas sabia sobre seus momentos divididos com o professor de Poções, onde a ruiva tentava cessar sua súbita busca incansável por novas aprendizagens muito além do que qualquer outro aluno daquele ano desejava.
E Daphne Armstrong ainda não conseguia esquecer a conversa que tivera com Bartolomeu Crouch Jr. há algumas semanas. Segundo o garoto, a pessoa que poderia ajudar Daphne era nada menos do que Marilyn Bessi. E a ruiva estava em um impasse: permitir facilmente que Voldemort ou Dumbledore a lesse em qualquer momento ou situação, ou buscar a ajuda da garota que supostamente a odiava.
Se o Lorde das Trevas a lesse, veria todas as suas dúvidas sobre a questão de servidão e concordância sobre toda a causa da supremacia de sangue puro, algo que Daphne não dava a mínima. E, com toda certeza, Voldemort já havia matado por muito menos.
E se Dumbledore tivesse um mínimo de dúvida sobre Daphne... ela seria obrigada a confessar tudo, seja por encantamento ou maldição, e seria enviada à Azkaban sem direito a um julgamento. Se bem que ela imaginava que merecia isso.
─ Melhor prevenir do que remediar ─ disse Regulus, de repente.
Daphne franziu a testa, confusa. Agora Regulus também era legilimens?
─ O que?
─ Slughorn ─ respondeu ele. ─ É melhor prevenir que alguém saiba que ele anda dando aulas particulares para você. Isso não seria legal, principalmente se os alunos favoritos dele de repente descobrissem.
─ Você é o aluno favorito dele, bocó ─ a ruiva revirou os olhos.
Regulus colocou uma mão no peito, encenando estar ofendido.
─ Você realmente me chamou de bocó?
Daphne assentiu, sorrindo com ele.
A temperatura diária naquela estação havia ganhando uma redução gradativa, o que antecedia o período frio que viria após o outono. Daphne, desde seus onze anos, gostava do inverno em Hogwarts, seja pelas noites em frente à lareira jogando conversa fora com Nikolai, pela vista na janela nos inícios dos dias, onde haviam pequenas formações de nevoeiros e neve pela manhã, ou pelas longas noites repletas de cobertores. Naquele dia, ainda outono, não estava tão frio. A folhagem das árvores adquiriu uma coloração entre tons amarelados e avermelhados. Momento ou outro, Daphne percebia a queda das folhas ao seu redor e de Regulus antes de se levantarem dali.
Minutos depois, nos corredores do Castelo, ela conseguiu observar Bartolomeu Crouch Jr. e Marilyn Bessi dividindo uma conversa, animados. Então percebeu que Black também olhou, desviando rapidamente o atenção para o caminho percorrido. Nem Bessi nem Crouch perceberam os dois.
─ Você ainda... sente algo por ela?
Por um instante, devido os longos segundos de pensamento de Regulus, Daphne imaginou que ele diria que sim.
─ Não. Não sinto nada ─ ele respondeu. ─ Nunca tinha realmente pensado sobre isso, mas agora eu sei que essa é minha resposta.
─ Sinto muito, Regulus.
Ela balançou a cabeça, com um sorrisinho forçado.
─ Não sinta, por favor ─ disse. ─ Eu desejo tanto que ela seja feliz, sabe? Marilyn não é uma má pessoa, merece ter uma vida incrível ao lado de alguém também incrível, mas eu não sou esse alguém.
─ Não é mais... ─ Daphne comentou.
─ Acho que eu nunca fui.
─ Tudo bem ─ disse a garota, tentando urgentemente sugerir outro assunto. ─ E você e sua mãe? Como estão?
─ Considerando que ela bateu no meu rosto na sua frente... eu diria que estamos muito bem, obrigado.
─ Me parece que alguém andou tomando chá de sarcasmo, foi Nikolai quem recomendou?
Regulus deu uma risadinha.
─ Isso não é nada comparado com o que Sirius ou Andrômeda já sofreram ─ ele falou, dessa vez sem nenhum resquício de sorriso. ─ Certa vez Andy ficou presa em um porão por dois meses nas férias... E Sirius... bem... Sirius foi atingindo pela maldição cruciatus com apenas doze anos de idade.
Os Black era uma família respeitada pela comunidade bruxa, mas o interior era esquisito e sombrio. Daphne não gostava de pensar para onde estava indo, de qual família estava prestes a se tornar membro. Ao menos Regulus aparentava ser o menos pior deles.
Como já estava ficando tarde, os corredores de Hogwarts estavam novamente começando a encher de alunos que voltavam de Hogsmeade. Regulus e Daphne passavam próximos a porta dos fundos da cozinha, onde já haviam alguns sonserinos e lufanos pela ala, alguns até estavam sentados em alguns bancos de pedras nos cantos das paredes.
─ Quer ir para a comunal agora ou prefere esperar Nikolai e Emma aqui? ─ perguntou Regulus, sugerindo que se sentassem, assim como alguns de seus colegas.
─ Vamos nos sentar.
Como sugerido, os dois se sentaram em banquinhos antes desocupados. Nikolai estava em Hogsmeade desde cedo naquele dia, havia convidado Daphne, mas ela preferiu ficar, afinal, estava com Slughorn antes de ir até Regulus.
─ Ei, Reggie ─ Daphne chamou. Regulus, que antes apenas olhava a movimentação no corredor, virou o rosto.
A menina sorriu, sabendo que seu próximo gesto causaria uma leve confusão na mente do garoto. Mesmo que ela houvesse se aproximado de uma maneira quase ousada, ele permaneceu no lugar apesar da expressão ligeiramente confusa.
Daphne colou seus lábios quase que de repente. Regulus, apesar da surpresa, não hesitou em momento algum e rapidamente correspondeu o beijo.
Devia ser algo comum, mas cada vez que seus lábios se tocavam, era como da primeira vez e sempre era algo especial. Eles nunca diziam, mas aquele gesto também era uma maneira de sentir algo diferente correndo em suas veias até atingir seu coração e o fazer vibrar de uma forma engraçada e assustadora. Era como uma magia poderosa e genuína.
E, apesar de ser bom e querer nunca parar, havia pessoas andando por ali, então Regulus sorriu timidamente enquanto eles se afastavam lentamente.
─ O que foi isso? ─ ele murmurou, apertando uma mão dela.
─ Queria saber como é beijar você em público ─ Daphne brincou, fazendo ele rir baixinho.
─ E eu sei que é bom beijar você em público ou não ─ respondeu ele, ─ especialmente como naquele dia lá em casa...
Regulus não conseguiu completar sua frase muitíssimo ousada quando se assustou com uma sacola sendo jogada em seu rosto de repente. Ele fechou os olhos com força, com toda certeza irritado.
─ Nikolai! ─ Emma repreendeu Schenker, lhe dando um tapa no braço ─ Os docinhos...
─ Eu devia enfiar isso no... ─ Regulus não completou.
─ Sério, você tá andando demais com o Nik ─ disse Daphne, tomando a sacola das mãos do noivo. ─ Então, trouxeram doces... não fizeram mais do que sua obrigação.
─ Não divida com ele ─ recomendou Nikolai, ─ comprei só para você.
─ Vou tirar a placa que você colocou na porta do quarto que eu lhe dei ─ Regulus ameaçou Nikolai. ─ A partir de agora aquele cômodo está totalmente desocupado e eu vou fazer uma suíte com jacuzzi lá dentro.
─ Eu só estava brincando, meu grande amigo Regulus Armstrong ─ Nikolai se aproximou, bagunçando os cabelos de Regulus antes de levar um soco no braço dado pelo mesmo.
─ "Regulus Armstrong" ─ Emma riu, puxando Nik, ─ você é tão idiota.
─ Um conselho, Emma ─ Daphne levantou uma mão, ─ não aceite o sobrenome do Nik.
─ Schenker ─ Regulus deu risada do sobrenome, enquanto tentava alcançar e chutar Nikolai. ─ Nikolai Benjamin Schenker.
─ Pelo menos não é minha família que tem a mania idiota de nomear os membros com nomes de constelações e estrelas ─ retrucou Nik, desviando do chute de Regulus.
─ Mas isso é tão bonito ─ disse Emma. Daphne riu.
Nikolai abriu a boca e soltou-se dos braços dela.
─ Você devia estar do meu lado, garota!
๑
─... Dependendo da concentração e das intenções do lançador ─ respondia Daphne, ─ esse feitiço pode ser qualquer coisa, desde um simples jato de água a uma onda.
─ Muito bem, senhorita Armstrong ─ disse o professor de Feitiços. ─ Poderia nos mostrar o encantamento?
Em cada mesa de cada dupla havia um grande cubo, o qual Daphne transfigurou com habilidade e sucesso em um cálice vazio.
─ Aguamenti... ─ sussurrou ela, sorrindo ao observar o cálice encher de água até onde ela desejou.
─ A senhorita foi ótima ─ disse Flitwick, ─ dez pontos para a Sonserina. Agora outra pessoa pode me responder sobre o feitiço abaffiato...
Um pedaço de pergaminho flutuou vagamente até a mesa de Daphne e Nikolai sem que o professor percebesse. Os dois amigos se olharam confusos antes que ela abrisse o papel dobrado.
" Dez horas em frente à sala de estudos dos trouxas.
BARTY. "
๑
Com toda certeza era uma ironia da parte de Bartolomeu Crouch Jr. querer encontrar Daphne na sala de Estudos dos Trouxas. Eles jamais estudaram essa matéria desde que puseram os pés em Hogwarts e ambos eram Comensais da Morte, supostamente deviam odiar qualquer coisa relacionada a isso.
Daphne havia feito uma pequena inspeção nos corredores da masmorra, Regulus estava na Ala Oeste de Hogwarts, seria impossível descobrir ela indo se encontrar com Bartolomeu por algum motivo desconhecido até mesmo pela garota.
Quando ela abriu a porta, havia apenas uma vela acesa para iluminar toda a sala. E presente só haviam duas pessoas. Bartolomeu e Marilyn.
─ Você tá zoando, não é? ─ perguntou Bessi, para Crouch.
Daphne balançou a cabeça e riu, uma risada cheia de ironia, desacreditada da audácia de Bart. Ele sabia que ela era a última pessoa com quem Marilyn desejava se encontrar. O garoto disse algo muito baixo para Marilyn. A ruiva balançou a cabeça e esteve prestes a sair da sala quando ele correu para alcança-la.
─ Ela pode ajudar você ─ disse ele, colocando uma mão sobre o braço de Daphne. ─ Dumbledore não vai descobrir sobre a gente, nem por mim nem por você. Só tente... não abrir muito a mente.
Armstrong empurrou com força a mão do garoto.
─ Vai se ferrar! E eu não pedi a sua ajuda e nem a dela.
─ Eu consigo te ouvir ─ Marilyn balançou um mão no ar, mostrando-se presente.
─ Que bom! ─ Daphne empurrou o garoto para poder olhar para Bessi, que desviou prontamente o olhar dela ─ Você está me evitando desde o início do ano e agora vai simplesmente aceitar e me ajudar com algo que não é nem da sua conta? Me poupe.
Marilyn nada disse por alguns segundos. Daphne respirou fundo e se virou, caminhando até a porta, parando no momento em que ouviu seu nome sair da boca da outra garota.
─ Daphne... eu vou ajudar você e isso é porque eu quero, não por causa dele. Eu... ─ ela parou, apertando os olhos ─ Você pode sair agora, Barty?
O garoto revirou os olhos, mas acabou se despedindo, saindo e batendo a porta.
─ Barty me falou sobre como vocês todos são bons amigos agora e que você sentia que tinha dificuldade em... proteger sua mente. Sua primeira opção era Severus Snape...
─ Por que está fazendo isso? ─ Daphne a interrompeu.
Marilyn estava cada dia mais estranha depois que descobrira sobre o noivado da colega de quarto e seu ex namorado e Daphne percebia isso muito bem.
─ Isso não tem nada a ver com Regulus ─ a loira respondeu. ─ Nada do que eu faço é sobre ele, e sei que você age da mesma forma.
─ E o que você sugere? ─ Daphne revirou os olhos.
─ Que pegue a sua varinha.
Daphne respirou fundo mais uma vez, alcançando a varinha no bolso interno da capa de monitora. Sendo legilimência a capacidade de extrair sentimentos e lembranças da mente de outra pessoa, ela sabia que a qualquer momento Marilyn conseguiria ver algo dentro de suas memórias, então tentaria ao máximo permitir que ela invadisse as mais fúteis e inúteis. Talvez estivesse se superestimando neste caso, mas acreditava que, depois de pesquisar tanto sobre, conseguiria evitar que a legilimens conhecesse lembranças que não deveria.
E, segundo os livros, era mais fácil um legilimens penetrar mentes quando o alvo estava relaxado e vulnerável. Daphne não estava nem um pouco relaxada, mas ainda mantinha o contato visual com Marilyn, o que podia ajudar a colega, afinal, ela usaria qualquer brecha de emoção que Daphne demonstrasse.
Marilyn caminhou em um movimento teatral até a escrivaninha. Daphne observou os gestos dela. Eram sensíveis, mas ao mesmo impossivelmente violentos.
─ Como é sua primeira vez você só conseguirá se defender se usar sua varinha para tentar me desarmar, ou para se defender de qualquer outra maneira.
─ Você já fez isso? Alguém já conseguiu se defender das suas habilidades de legilimência? ─ perguntou Daphne, segurando com força o cabo da varinha.
─ Ninguém nunca me pediu para fazer isso. Eu não sou tão habilidosa, eu sou descentes de grandes legilimens, mas não sou e nunca serei tão boa. Eu apenas... tento ─ a garota pigarreou. ─ Vamos começar. Vou tentar penetrar sua mente, vamos ver até que ponto você resiste. É esse meu conselho, resista. Legilimens!
Daphne ainda segurava a varinha, mas soube de primeiro momento que falhou. Se sentiu atordoada quando teve a sensação de que sua cabeça girou, escurecendo a sala, milhares de imagens perpassando ao seu redor em cada ambiente diferente.
Estava novamente na casa do lago da família Armstrong. Daphne lembrava que estava feliz enquanto se balançava naquele pequeno balanço na árvore, seu tio-avô Henry estava a caminho, trazendo uma pequena cesta de lanches da tarde. Ele já estava velho, mas continuava se vestindo bem. Daphne pulou do balanço, caindo e ralando os joelhos, mas ela não chorou, pelo contrário, riu quando viu a feição preocupada do tio-avô Henry. Então correu até ele.
─ Vovô! Tem dois pavões enormes lá atrás, podemos vê-los depois do lanche? ─ ela praticamente gritou, ansiosa pela resposta.
─ Só se formos alimentar os patos depois.
Ela riu, balançando a cabeça e observando Henry tirar a varinha do bolso e colocar uma toalha no chão. A comida na cesta magicamente se arrumou em cima do pano.
A Daphne mais velha sentiu a cabeça doer, uma pontada forte na nuca a expulsou daquela cena. A cena da qual ela não queria se despedir. De repente, havia dezenas de pessoas dentro de uma sala. Estava claro, mas ao mesmo tempo vazio e assustador.
Um garotinho de onze anos colocou a mão no ombro da pequena Daphne sentada no sofá. Nikolai tentou colocar um pequeno sorriso no rosto, animar a amiga. Só faziam meses que eles se conheciam.
A Daphne que estava na sala de Estudos dos Trouxas queria impedir que Marilyn visse aquilo. Mas ela não conseguia.
A pequena garotinha ruiva olhava para o caixão, era alto para ela que ainda estava sentada no sofá. Ela não queria ter que se despedir do seu tio-avô Henry. De qualquer maneira ela precisou se levantar e olhar para o rosto dele. Ele aparentava estar apenas dormindo. Daphne percebia que era aquela a primeira vez que chorava na presença de Henry.
─ Ei, querida, temos todos que ir agora ─ Richard Armstrong passou uma mão pelos cabelos ruivos da filha.
─ Um dia iremos alimentar os patos novamente, vovô ─ ela sussurrou, olhando para o rosto de Henry, antes de tirarem o caixão da sala.
A Daphne de dezessete anos estava começando a se desesperar. Queria expulsar Marilyn, manda-la para outra lembrança. Qualquer uma, menos o velório de Henry. Ela se forçou e sentiu como se alguém houvesse puxado sua alma violentamente para fora do corpo quando tudo apagou e reascendeu na sala de Estudos dos Trouxas. Marilyn estava de joelhos no chão, agarrando o próprio pescoço, Daphne estava com a varinha apontada na direção da colega.
Marilyn não conseguia respirar. A ruiva arregalou os olhos, abaixando a varinha rapidamente. A outra menina sentou-se no chão, tomando todo o ar possível, passando as mãos pelos cabelos loiros presos, atordoada.
─ Me desculpe ─ as duas disseram ao mesmo tempo.
Marilyn assentiu, aceitando a mão de Daphne para levantar novamente.
─ Não foi tăo ruim quanto poderia ler sido. Mas precisa se manter concentrada. Me mande embora, mas tente não me ferir seriamente ao voltar.
Marilyn pediu alguns segundos para se recompor, em seguida falou:
─ Tente esvaziar a mente dessa vez. Legilimens!
Daphne imaginou que dessa vez conseguiria, mas isso não aconteceu. Se sentiu idiota ao ter sua cabeça lançada no céu escuro, em seguida, em rodopios assustadores, estava numa casa.
O homem estava de joelhos diante de Daphne, implorando pela sua misericórdia.
Não. Essa não.
─ Eu juro que nunca machuquei ninguém, eu juro que...
─ Crucius! ─ Daphne exclamou. Tudo o que sentiu naquele momento voltou a tona. Estava com raiva de si mesma, com raiva do que fazia, desejava que alguém fizesse o mesmo com ela. Merecia.
A cada grito de dor daquele homem, sua cabeça doía, a marca em seu braço ardia. Não, Marilyn não podia saber sobre a marca. Daphne estava novamente com raiva, ódio pulsava em suas veias, e isso só permitiria que Marilyn fosse mais longe. Precisava manda-la para longe dali, para outra memória, qualquer coisa.
Tudo escureceu e quando reascendeu reconheceu o quarto de Regulus Black. Ela ouviu o garoto respirar fundo, sentiu o aperto em sua cintura descer um pouco. Uma lembrança de três meses atrás. Não. Daphne ergueu o corpo acima do colo de Regulus enquanto se beijavam. Eram sentimentos demais, corações palpitando, suspiros, calor...
Daphne queria parar, mas dessa vez foi Marilyn quem interrompeu tudo.
Daphne caiu ajoelhada, Bessi segurou na escrivaninha tentando manter o equilíbrio.
─ Você conseguiu ver tudo o que eu vi? ─ perguntou Daphne, em um tom desesperado. Seria ruim se Marilyn viu sua lembrança com Regulus, mas seria terrível se ela soubesse sobre a marca.
─ Vislumbres... ─ respondeu a loira ─ Eu não sei o que aquele homem fez para você, mas isso não me interessa, então não precisamos falar sobre isso.
Olá, bruxinhos! Tudo bem com vocês? Gostaram do capitulo?
Espero que tenham gostado e vejo vocês na semana que vem! Não esqueçam de seu voto e seu comentário. <3 beijos!!
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