𝐯𝐢𝐢𝐢. 𝐍𝐄𝐖 𝐋𝐈𝐅𝐄
O VERÃO ESTAVA TERMINANDO DA MESMA FORMA QUE A VIAGEM DE JASON E LOUISE. Ambos não podiam passar toda a eternidade indo de hotel para hotel em cidades diferentes, por esse motivo, Jason havia encaminhado seu currículo para uma escola em Boston. Sem demora, havia recebido uma agradável resposta e ganhado uma bolsa de estudos para Louise. Para sua felicidade, as coisas pareciam estar a seu favor.
— Não quero ir para Boston! — Louise enrugou o nariz quando Jason mencionou o novo lugar de trabalho.
— Isso não é negociável, boneca. — respondeu sem dar atenção a adolescente. Ele pesquisava por apartamentos em algum bairro próximo a seu novo local de trabalho. — Preciso de um emprego e você precisa estudar. Podemos ir embora de lá quando você terminar seu ensino médio. Pode escolher a faculdade que quiser, em qualquer estado.
— Espero que se lembre de todas suas promessas quando chegar a hora. — Ela respondeu. Louise ligou o ar condicionado. O fim do verão era a pior parte, estava mais quente que o esperado e o hotel que ambos estavam hospedados, não possuía piscina ou algo parecido. — Escolha um lugar perto da praia, ouvir dizer que a Carson Beach é bem legal.
Jason não respondeu. Morar próximo à praia era agradável, mas bastante custoso financeiramente. Louise ligou o celular novamente, sua única amiga Cassie não havia mandado mais mensagens e ela não possuía outras amizades. Lo odiava o fato de ter que mudar de escola, ser a novata em um novo lugar era horrível.
Passeou pela galeria do seu celular, havia uma única foto dela com Lorraine, um aperto tomou de conta do coração da garota. Para seu bem estar emocional, ela não havia perguntado a Jason como sua madrasta havia morrido e de fato, talvez ela não quisesse saber. Seu telefone vibrou alertando que havia novas notificações em sua rede social. Louise abriu sem tanta animação, mas sorriu ao perceber que havia uma solicitação de amizade: Tyler Donovan.
Era o mesmo garoto que ela havia ignorado no hotel. Ela encarou Jason rapidamente, ele ainda parecia concentrado no notebook. Deitando-se na cama em um lado oposto, Lo entrou no perfil do garoto, mas seu sorriso se fechou ao descobrir que o garoto residia em Boston com sua família. A maioria das fotos de Tyler, exibia um garoto ativo e amigo de todos, ele era gato, embora não fizesse o verdadeiro gosto de Louise.
Ela ignorou a solicitação de amizade, assim como pretendia ignorar o garoto. Uma curiosidade latejou em sua mente, estava ligada diretamente ao tal Murtagh, do hotel. Louise abriu no Google e jogou o sobrenome, não demorou para que uma página repleta de links aparecesse. Murtagh era um sobrenome famoso, ela abriu na aba de imagens e se deparou com um homem um pouco mais jovem que Jason. Era bonito, Murtagh possuía um olhar desafiador.
Louise arregalou os olhos ao encontrar a foto de "Dominic Murtagh" na abertura do Hotel Mount. Esse era o mesmo hotel em que esteve presente à algumas semanas atrás. A menina chegou a conclusão que o hotel era dele, ou um dos seus hotéis. Murtagh era um milionário dono de boa parte de Massachusetts.
Seria loucura ligá-lo ao mesmo homem que havia lhe entregado a bebida como cortesia? Teria Jason conhecia o suposto Murtagh?
Era estranho e verdadeiramente confuso para a cabeça da jovem. Murtagh era o único da sua geração, não tinha filhos ou esposa, nem mesmo algum irmão. Embora ele fosse bonito, seu olhar passava algo que lembrava o olhar de Jason. Eles pareciam ter os mesmos gostos peculiares e isso fez os pelos de Lo eriçarem.
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ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
Finalmente na cidade de Boston, Jason alugou um modesto apartamento em uma avenida movimentada. A boa notícia, era que havia muitas lanchonetes e restaurantes pelo local. Já a péssima notícia, era que por hora, buzinas estridentes afastavam qualquer sossego. Pelo preço do aluguel, estava valendo o esforço de residir no local por um ano.
Jason estacionou o Jeep em frente ao prédio cinza, desceu do carro indo diretamente para o bagageiro para retirar as malas. Lo olhou a vizinhança, esse lugar era completamente diferente do seu antigo bairro. As pessoas de Boston pareciam mais agitadas e andavam sem prestar muita atenção no próximo. Havia bastante movimentação de carros e muitas lanchonetes, era como se fosse a pequena Time Square em um bairro simples de Boston.
Ela abriu a porta do prédio com um rangido alto. Odor de mofo incomodava suas narinas, a menina não conseguiu segurar um espirro devido à poeira. O primeiro andar não havia nada além do minúsculo hall de entrada e um armário para casacos. Subindo as escadas do apartamento, Lo se deparou com uma sala pequena que dividia lugar com a uma cozinha ainda menor. Era um prédio bem antigo, podia-se notar pela decoração local, era tudo tão... demodê.
Havia três portas. Lo caminhou até a primeira, era um quarto pequeno com uma vista simples para o prédio do lado, péssima por sinal, havia um banheiro pequeno em uma porta estreita ao lado da janela. Ela voltou para a sala vendo Jason checar cada local curioso, Louise seguiu para a segunda porta, era um banheiro também, provavelmente para as visitas.
Então por fim, caminhou até a última e terceira porta do local, era um quarto ainda menor que o primeiro, mas a vista era mais agradável, ao menos Lo interpretou assim, encarar a avenida lá embaixo ainda melhor que se deparar com um vizinho desagradável da janela ao lado.
— O que achou? — Jason perguntou ao entrar no quarto e se deparar com o olhar curioso da garota.
— Uma merda! — Ela disse sincera, encarou Jason, ele estava descontente por seu comentário. O que ele esperava? — O que foi?
— Vamos ficar aqui até as coisas melhorarem. — justificou dando um passo largo até ela. Lo cruzou os braços ignorando o toque dele em seu corpo.
— Pelo menos tem uma pizzaria lá embaixo... — Ela cedeu por fim. Talvez um toque feminino tenha sido o que faltava no lugar, e claro, uma boa limpeza. — Fico com esse quarto!
— Pensei que fosse dormir comigo. — Jason sorriu malicioso. Lo não evitou o sorriso seco.
— Quando eu quiser eu durmo com você, papai. — Ela debochou passando pelo homem.
Louise deixou Jason em seu inferno pessoal enquanto puxava sua mala de dentro do carro. Depois de longas horas em arrumar um novo armário, finalmente suspirou aliviada. Seu antigo quarto era grande e seu closet cabia todas suas coisas perfeitamente, esse era diferente, mal havia guardado metade dos seus vestidos. Por sorte, a garota bem pouco usava jeans.
A noite chegou e Jason pediu uma pizza de calabresa para o jantar, era sábado e as aulas iam começar na segunda. Jason não podia disfarçar que estava nervoso, mas ainda estava mais nervoso em ver Louise partir para um novo lugar, diferente de tudo que estava acostumada.
O telefone no bolso de Jason vibrou, ele sorriu de lado ao ver o velho amigo ligando.
— Nem acredito que está na minha cidade. — O homem do outro lado da linha disse.
— Sua cidade? Não acredito que terei que ir embora tão rápido. — Jason caçoou, então o homem do outro lado da linha sorriu alto.
— Qual é, amigo? Sabe como é bom manter o controle das coisas, experimentar coisas novas... em todos os sentidos. — O homem disse. Jason pode sentir a malícia em suas palavras.
— Enzo, não quero encrenca dessa vez. Suas aventuras só me trazem problemas. — Jason disse se recordando da aventura que teve com o amigo no Texas, foi divertido o que fizeram por lá, mas quase resultou cadeia para ambos.
— Virou puritano, seu puto? — Enzo parecia chocado. Jason suspirou pegando a pizza do balcão, jogou o dinheiro e saiu do estabelecimento. — Eu conheço você desde que brincávamos de esconde-esconde com as gêmeas Lewis e você sabia muito bem esconder seu pintinho nelas. Deixe-me adivinhar, tem uma mulher na jogada?
— Pintinho? — Jason foi a vez dele sorrir alto. Suas aventuras de infância eram engraçadas de lembrar, se não fossem trágicas. — Por acaso tem uma mulher, sim. Uma garota.
Ocorreu um momento de silêncio do outro lado da linha. Jason encarou o celular para ter certeza se seu mais velho amigo ainda estava na chamada. Enzo era seu amigo de infância, seus pais trabalhavam no mesmo lugar, ambos cresceram juntos até que tomassem seus rumos diferentes.
Enzo preferiu seguir a vida fácil em uma gangue, enquanto Jason havia resolvido seguir a vida abstrusa, estudar e se tornar alguém. Mas não podia esquecer jamais das grandes aventuras vividas na juventude, das garotas compartilhadas em todos os momentos e das festas que terminavam com alguém preso ou das brigas de ruas.
— Seu fodido, você não aprende né? — Enzo pareceu repreender o amigo.
— Qual o problema? Você também adora garotas.
— Já esqueceu do que fez com a última? — Enzo perguntou. Jason subiu os degraus da escada que levaria a porta do seu prédio, parou brevemente antes de abri-la. — Essa garota se parece com ela?
"Ela"? Era daquela forma que Enzo se referia a Lolita? Jason suspirou indignado, seu amor de juventude era diferente e igual a Louise em muitos sentidos.
— São parecidas. Um pouco, talvez fisicamente, mas a garota, ainda é mais... quente. — Jason parecia orgulhoso, como alguém que mostrava seus valiosos prêmios.
— Quero conhecê-la... — Enzo disse do outro lado, Jason encarou a rua onde carros pediam seus lugares. — Dessa vez, não vai ficar com a diversão só para você, né?
Jason suspirou pesado. Ele sabia qual era a diversão favorita de Enzo, mas não sabia se Louise estava preparada para isso e nem sabia ao certo se queria dividi-la com seu amigo.
— Eu entro em contato com você. — Foi a única coisa que disse.
— Ficarei esperando por isso, Jason. — Enzo disse de maneira suja, então desligou a ligação primeiro.
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Louise comeu o último pedaço de pizza e bebeu o vinho da taça sem fazer cara feia. Ela não podia disfarçar o quanto estava ansiosa para suas aulas, estava um tanto insegura, não sabia como seria seu tratamento naquela escola, mas pelo que já havia pesquisado, sabia que era uma escola que pregava valores, o que soava irônico para ela.
— Vai ser meu professor? — Louise perguntou subitamente.
— Não, sinto muito. Irei dar aula para as turmas do primeiro ano. — Jason explicou. Lo bufou cruzando as pernas no chão.
— Que pena, nada de flertar com meu professor em sala de aula então!
— Ou de flertar com qualquer um...
— Tem medo de me perder, Delarue? — Lo perguntou. Ela tinha um semblante sarcástico no rosto, fazia tempo que Jason não a ouvia chamar seu sobrenome.
— Eu não viveria sem você... — disse bebendo o vinho, então encheu a taça da garota, ela sorriu de lado.
— Você é tão dramático... — Ela disse antes de beber o líquido em sua taça. — Quem era Lolita?
Jason quase se engasgou com seu pedaço de pizza, encarou Louise, ela parecia curiosa e plena com a pergunta. Pensou nas inúmeras possibilidades de responder. Lolita era seu primeiro amor de verdade, a parisiense que havia arrebatado seus sentimentos e que por um vacilo, ele não soube prendê-la em seus braços para sempre.
— Foi uma antiga paixão. — Ele disse, se pudesse fechar os olhos e se concentrar bem, poderia ver Lolita em sua frente.
— Ela morreu?
— Não... Na verdade, eu não sei. — Jason deu de ombros, de fato não sabia o que havia acontecido a garota depois do dia trágico no hotel.
— Então, o que aconteceu com ela?
— Lolita era o vento suave em meio ao calor... Ela era francesa, a conheci em uma viagem para Paris, na minha adolescência. Foram boas aventuras que vivemos, mas eu a perdi. Não soube cuidar bem dela!
— Que... Triste! — Não era o termo que Louise queria usar, mas talvez usar "melodramático", fosse cruel de mais. — O que você fez a ela?
— Machuquei ela. E não tive tempo de pedir perdão antes dela partir!
— Ela realmente se chamava Lolita?
— Sim, esse era o nome dela. Diferente, não? — Ele sorriu para a menina.
— Seu livro, você fala dela? Digo... especificamente dela? — A menina perguntou apontando para o notebook sobre o sofá.
— Ela é uma grande inspiração, mas minha Lolita é baseada em outra pessoa.
Louise olhou novamente para Jason, era óbvio que ela era uma fonte de inspiração para homem, era a Lolita da vez, mas diferente da parisiense, não era tão maleável assim, muito menos inocente.
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Louise se encarou novamente no espelho do seu quarto, usar uniforme escolar era novo para ela, na sua antiga escola não tinha algo parecido, exceto na aula de educação física. Mesmo assim era um bom uniforme, era composto por uma saia xadrez plissada de cor cinza, uma blusa de mangas três quartos de botões e um blazer negro com a logo da escola.
— Fica bem nesse uniforme. — Jason elogiou encostado na porta do quarto. Lo o encarou pelo espelho, ainda era estranho o fato de usar essas roupas. — Mas acho que sua saia, está curta demais.
Lo olhou para baixo, sua saia terminava no meio das coxas para que suas meias negras começassem, mesmo que estivesse curta, não era vulgar ou chegava a infringir alguma regra da escola.
— Para mim está perfeito. — Ela disse, então abriu o blazer, ele ia até a altura da sua saia, aberto exibia uma visão melhor, assim ela se sentia menos sufocada.
— Precisa usar sua saia tão lá em cima? — Jason reclamou novamente. Lo revirou os olhos, arrumou o cós da saia na altura da cintura por cima da blusa e abriu um botão a mais dela, por sorte a gravata era facultativo aos alunos.
— Você está parecendo com ela... — Louise murmurou irritada. Jason caminhou até a garota, ela estava esplêndida no uniforme escolar.
— Desculpe, não quero que pensem coisas terríveis sobre você. — Jason justificou, ele abraçou a garota por trás, talvez apertado demais para Lo, ela se remexeu desconfortável nos braços do homem.
— Tipo o quê? — Ela se virou para Jason. — Que eu fodo com meu pai ou padrasto? Ou seja lá o que você é para mim agora.
Jason suspirou, levou em conta que talvez Lo estivesse de mau humor devido sua TPM ou provavelmente por ter acordado cedo para a escola, mas ainda assim, jogar culpa nos hormônios, soava melhor. Louise pegou a bolsa e pulou degrau por degrau até chegar no andar de baixo. Jason a seguiu até o Jeep e juntos eles partiram até a nova escola.
Louise encarou os alunos daquele lugar, a grande maioria deles parecia pertencer a famílias ricas. Alguns grupinhos formados por meninas cochichavam ao notar a presença da novata, ela bufou, que ótimo. Havia se tornado o assunto da escola, ou pelo menos achava, mas a atenção estava indo toda para o novo e atraente professor de Literatura.
— Dê um sorriso, não vai ser tão ruim. Vamos falar com a diretora primeiro. — Jason disse. Ele pode perceber o desconforto na menina, embora ela tentasse disfarçar. Louise levantou o rosto e desafiou todos com o olhar.
Não demorou para que ambos cruzassem o corredor sombrio de alunos, chegando a diretoria, Jason abriu a porta e deu espaço para Lo entrar. Lá dentro uma mulher robusta e com uma pinta sobre a boca esperava pelo mais novo professor e sua adorável filha a quem tanto ele havia comentado.
— Senhor Delarue, é uma honra! — A mulher disse, então estendeu a mão para Jason que apertou com um sorriso amigável no rosto.
— A honra é minha, senhorita Prior. — cumprimentou sedutor. Louise lhe encarou de soslaio, percebeu que era o jogo de Jason encantar e seduzir para conseguir algo. A mulher robusta corou ao ouvir a simpatia do homem, então deu atenção a jovem ao seu lado.
— E você deve ser Louise Delarue. — pontuou. Louise forçou um sorriso, sentiu que o Lemony do seu nome havia sido totalmente esquecido.
— É um prazer conhecê-la, meu pai falou tão bem do seu trabalho e sua instituição... — A garota mentiu cinicamente. Jason encarou Louise de cima, era uma boa atriz. — Fiquei tão entusiasmada com a honra que tive em receber uma bolsa de estudos. Esse lugar me parece... — decadente, ela pensou — fantástico!
— Ah, mas que garota preciosa, espero que possa aproveitar tudo que temos a oferecer. — A diretora disse. Lo encarou Jason sorridente, mas era nítido em seu olhar todo o esforço que ela estava fazendo para soar agradável. — Senhor Delarue, sei que teve que abrir mão de uma vaga de emprego em uma escola da Nova Hampshire, mas fico feliz por fazer parte agora da nossa família, a Escola Preparatória de Boston preza a responsabilidade. Vimos seu currículo, o senhor trabalhou em várias escolas.
Jason se remexeu desconfortável. Lo trocou o peso de uma perna para a outra, pensando quando aquele diálogo ia ter finalmente fim.
— Sou escritor... Então viajar me motiva a escrever. — Ele tentou justificar. Lo mordeu a língua reprimindo um sorriso.
— Seja o que for, queremos sua dedicação em nossa escola, fará bem a sua adorável filha também. — A mulher encarou Louise, a menina sorriu amorosamente para ela. Sem demora a Senhora Prior procurou por alguns papéis, entregou uma folha para pai e filha. Ambos continham horários e números das salas. — Esse é o mapa de vocês, seus horários, turmas... Sinto informar que seu pai não será seu professor, cara Louise, mas você terá bons instrutores, não tem com que se preocupar.
— Não estou. — A menina deu de ombros. Seu primeiro horário era aula de Inglês e já estava mais que atrasada. — Posso ir para aula?
— Ah, mas é claro. — A mulher confirmou. — Se tiverem dúvidas não se contenham em vim até aqui, irei ajudar no que for preciso.
Após a pequena reunião, Louise caminhou até sua sala de aula enquanto Jason tomou um caminho oposto rumo à sua primeira apresentação. Ambos estavam nervosos, se sentiam como verdadeiros criminosos fugindo da polícia, ou pelo menos, era isso que Jason pensava, era ele o maior causador de todas as desgraças, ele tinha que se preparar para sua dupla ou até tripla jornada, onde teria que se dividir entre o professor, pai e raptor de uma jovem não tão inocente de seus atos.
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