𝐢. 𝐓𝐇𝐄 𝐆𝐑𝐄𝐀𝐓 𝐌𝐄𝐄𝐓𝐈𝐍𝐆
JASON CHECOU MAIS UMA VEZ O ENDEREÇO EM UM PEDAÇO DE PAPEL. Encarou o hotel que pretendia se hospedar, não era um dos melhores da cidade ou de longe deveria possuir cinco estrelas, mas soava como um lugar simples, ideal para começar sua nova aventura literária e, quem sabe, ter sossego para seu futuro trabalho; ao menos assim ele acreditava.
Jason empurrou a porta indo até a recepção, onde uma jovem ruiva parecia distraída no computador em sua frente. Ele olhou em volta, não havia muitas pessoas no salão de piso amadeirado, isso significava que não teria problemas em ser interrompido em seus momentos importantes e até mesmo sagrados.
— Em que posso ajudá-lo? — A recepcionista sorriu para ele após perceber sua presença.
— Fiz uma reserva em nome de Jason Delarue. — Ele respondeu. Rapidamente a jovem digitou em seu computador, sua expressão serena foi para uma verdadeira confusão. Jason trocou o peso da perna esperando a ruiva se manifestar.
— Eu sinto muito senhor Delarue, mas parece que sua reserva não foi confirmada e seu quarto foi alugado a outra pessoa. — A jovem se desculpou. Jason suspirou, talvez alto demais. Sua paciência estava indo pelo ralo.
— E agora? — Ele perguntou rispidamente para a mulher. — Onde irei ficar? Não tem mais quartos?
— Sinto muito, senhor. — A jovem se desculpou novamente, então continuou percebendo que o semblante do homem em sua frente estava para poucos amigos. — Se posso ajudar, sugiro que procure uma pensão, há bastante na cidade.
A jovem recepcionista tentava contornar a situação, ela entregou um jornal ao homem. Puxando o papel sem demora das mãos dela, Jason se virou.
— Obrigada por nada! — Ele disse antes de sair.
Frustrado e impaciente, saiu pela porta que havia entrado, sentou-se em um banco de praça e folheou o jornal de qualquer maneira. Pousadas, pensões, hotéis e quitinetes eram anunciadas em uma sessão especial, mas todas possuíam valores altíssimos. Não era como se o salário de um mero professor de literatura pudesse pagar.
Irritado com tal desventura, Jason fez daquele jornal uma enorme bola de papel e arremessou para uma lata de lixo próxima. Voltou até seu carro; um Jeep preto de segunda mão. Fechando a porta, ele encarou o volante do carro e se reprimiu internamente.
Onde estava com a cabeça quando decidiu aceitar o convite para lecionar em uma escola local de Nova Hampshire? As pessoas daquele lugar eram estranhas, o clima era estranho. Com tudo, ele não tinha muita opção, embora fosse um homem solteiro e livre, Jason precisava de dinheiro e se estabelecer para escrever seu livro. Além disso, viver de cidade em cidade era uma boa saída para sonegar um passado que ele não conseguia esconder mesmo que quisesse.
Dirigiu até um bar que havia encontrado pelo caminho, desceu do carro sem muita animação. Dentro do estabelecimento era escuro, uma música dos anos 80 tocava abafada enquanto algumas pessoas olharam em sua direção, algo que Jason ignorou. Sentou-se em um banco e esperou ser atendido no balcão.
— Dia difícil amigo? — O barman perguntou sorridente, Jason bufou levemente. — Tudo bem, você parece ser um homem de poucas conversas... O que vai querer?
— Uma dose de uísque. — Jason disse, o barman não demorou para trazer seu pedido. Jason avaliou aquela bebida antes de tomá-la de uma só vez, sentindo o líquido queimar sua garganta e esquentar seu estômago vazio.
— Você não parece ser daqui. — O homem disse sugestivo. Jason lhe encarou ainda com uma cara feia por conta da bebida forte.
— Vim de longe a trabalho.— respondeu sem emoção.
— Isso é bom... — O homem disse. Olhou em volta se perguntando se não haveria ninguém a mais para o barman atender e lhe deixar a sós com seus demônios. — Mas me parece triste.
— Triste? — Jason sorriu de lado secamente. — Eu diria puto! O hotel que eu ia ficar acabou dando meu quarto a outra pessoa. Procurei nos anúncios outro local para ficar, mas são todos mais caros do que posso pagar.
— Que merda, amigo. — O homem lamentou. Jason deu de ombros e brincou com o copo sobre a mesa. — Eu conheço uma viúva que está alugando um quarto da sua casa, o preço é acessível, pelo menos. É minha vizinha, amiga da minha esposa.
Jason coçou o espaço entre suas grossas sobrancelhas. Morar em um bairro ainda mais com uma viúva não soava como uma boa ideia para ele, mas não tinha muita escolha. Até o verão acabar e as aulas começarem, ele poderia se mudar para um lugar melhor com o salário que iria receber, ou pelo menos, algum que pudesse pagar.
— Com quem eu falo? — Jason perguntou, o barman sorriu e pegou um papel, escreveu o que parecia ser o endereço juntamente com o número de telefone. — Acha que a viúva vai aceitar qualquer um em sua casa?
— Certamente ela não pensaria duas vezes em aceitá-lo na casa dela. — O barman parecia seguro, mas Jason pode sentir uma nota de maldade presente em suas palavras. — Ela está um pouco... carente, se é que me entende. Não se preocupe, irei falar bem de você para minha esposa e sabe como as mulheres são.
— Se você diz. — Jason levantou-se pegando o papel da mão do homem, em troca jogou o dinheiro da bebida sobre o balcão e saiu do local rumo ao endereço da tal viúva.
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Um tempo depois, Jason estava parado em frente à casa que havia pego o endereço. Era uma casa modesta, com uma grama verde bem aparada e cerca branca, e possuía dois andares, o bairro que estava também era agradável aos olhos. Ele caminhou até a porta branca, mas pensou se era certo tocar aquela companhia. Jason pensou novamente no que estava preste a fazer, era a casa de uma viúva que provavelmente ansiava por calor masculino em sua cama, certamente, Jason não estava disposto a satisfazer gostos de mulheres como essas.
— Que se foda.
Jason apertou o botão redondo fazendo com que uma melodia suave tocasse. Ele aguardou alguns segundos até a porta se abrir revelando uma mulher robusta de pele pálida, ela usava um uniforme cinza, provavelmente era a doméstica da casa.
— Posso ajudar o senhor? — A mulher perguntou.
— Perdoe-me eu não tive tempo de ligar, mas soube que estão alugando um quarto nessa residência e eu estou interessado. — Jason disse a mulher. Ela o encarou e deu um passo para trás.
— Isso é tratado diretamente com a senhora Lemony. — explicou, então ouviu passos vindo de dentro da casa, eram som de saltos em passos leves e sofisticados.
— Quem está aí, Dora? — Ele ouviu uma voz suave, não demorou para que outra mulher aparecesse na porta. Ela usava um vestido de corte fino e tinha cabelos castanhos bem penteados, usava uma maquiagem que dava-lhe uma aparência um pouco artificial, provavelmente a mulher era vaidosa ao extremo. — Pois não?
— Olá, me chamo Jason Delarue. — Sorriu para a provável dona da casa. Ela suspirou entregando a mão para que ele beijasse, Jason aceitou o gesto como um bom cavalheiro. O cheiro suave do perfume de rosas que usava havia invadindo suas narinas. — Gostaria de alugar um quarto na sua casa.
— Ah sim, claro! — A mulher respondeu entusiasmada levando a mão beijada para o peito. — Eu me chamo Lorraine Lemony, esta é minha casa, mas entre Senhor Delarue, vamos conversar melhor aqui dentro. Dora, prepare um chá!
Jason sorriu ao entrar. A princípio notou que era uma casa simples, embora a senhora Lemony fizesse questão de exagerar na decoração de bibelôs na estante de carvalho. A sala de estar dividia lugar com a sala de jantar e a cozinha, seguido por uma escada coberta por um carpete de cor creme que provavelmente levaria aos quartos. A casa era bem iluminada, havia uma quantidade generosa de janelas e portas que levavam ao lado de fora.
— Não quero ser enxerida ou algo parecido, mas quem falou a você sobre o quarto? — Lemony perguntou tomando atenção de Jason.
— Um conhecido me falou que a senhora estava alugando um quarto e depois de um imprevisto que me resultou ficar ao relento, me apareceu como uma salvação. — Jason disse. A mulher sorriu, talvez um pouco alto demais.
— Por favor, senhor Delarue, senhora está no céu, me chame de Lorraine. — Ela disse seguido de uma piscadela. Jason sorriu um tanto desconfortável — Tudo bem, eu sei que imprevistos acontecem, estou alugando um quarto da minha casa para poder quitar algumas dívidas. Meu marido, que Deus o tenha, faleceu há alguns anos e as coisas ficaram um pouco feias. Tínhamos muitas posses, inclusive uma casa bem maior que essa, mas tive que vender boa parte de nossas coisas para poder pagar as contas, hipoteca e enfim... Acho que estou falando demais.
Lorraine parou de tagarelar assim que percebeu que Jason começou a demonstrar um semblante entediado com seu pequeno desabafo. Ela sorriu simpática, o homem em sua frente era um verdadeiro partido, não parecia ter má índole, se ela arriscasse dá-lo uma profissão, certamente seria algo relacionado à educação, talvez professor ou algo do tipo.
— Estar tudo bem, Lorraine. — Jason disse exibindo seu sorriso avassalador. — Vim a cidade para trabalhar como professor de literatura, também sou escritor.
— Perfeito! — Ela disse alegremente. — Vamos conhecer a casa. Não se preocupe, o valor vai ser justo para ambos os lados. Como pode ver aqui temos a sala de estar e a de jantar, ali é a cozinha. Dora trabalha para mim apenas alguns dias da semana, ela lava, passa, cozinha, limpa, mas quando não está aqui, tenho que fazer tudo.
— Tudo bem, sou bem autossuficiente. — Jason disse enquanto caminhava atrás da mulher.
— Eu tenho certeza que sim. — Ela se virou para ele com um olhar suspeito, então voltou atenção para frente subindo a escadaria. — Aqui em cima temos os quartos, no máximo três, uma suíte que me pertence e dois quartos de solteiro, além de um banheiro para visitas. Aquele ali é o quarto da Lo. Ignore a placa na porta.
Lorraine realmente gostava de falar. Jason sorriu olhando para a placa ou melhor, o papelão pendurado na porta branca escrito: "Proibida a entrada de humanos"; era uma bela letra. Ele caminhou até Lorraine, ela entrou em um quarto cuja porta ficava de frente para o que havia a placa. Era simples, havia uma cama de casal, uma escrivaninha pequena e um armário vazio. Havia também uma porta que Lorraine abriu sem demora, era um closet minúsculo.
— Espero que tenha gostado. — Lorraine disse, então passou por Jason. — Vamos, você precisa conhecer meu jardim de Éden.
Jason acompanhou a mulher novamente até o andar de baixo. O tour pela casa estava se tornando cansativo e maçante, Lorraine era tagarela e não se cansava em lançar piadas e risadinhas para Jason. Contudo, isso era algo que já estava acostumado, havia aprendido a ignorar os charmes que recebia do sexo oposto. Nenhuma mulher lhe despertava interesse, pelo menos, nenhuma mulher com a personalidade de Lorraine.
O jardim era realmente belo. Uma macieira tomava de conta da maior parte do quintal, a grama era verde e bem aparada. Além da roseira e das outras inúmeras plantas que havia no local, Jason pode notar que havia algumas cadeiras de ferro da cor branca perfeitamente arrumadas em uma roda. Com certeza era um lugar agradável para tomar o chá das três.
— Não é belo? — Lorraine disse suspirando. A mulher realmente era apaixonada por aquele lugar. — Meu falecido marido dizia que eu gastava metade da fortuna nesse lugar, mas veja só, aposto que nem mesmo o Céu é tão belo quanto meu jardim.
— Sim. É um belo lugar. — Jason respondeu. Ele não precisava elogiar, o egocentrismo da mulher era maior que qualquer elogio que ele fosse fazer.
— Bem, essa macieira nos dá maçãs doces, pode comer alguma se quiser. Você precisa ver minhas flores do deserto. Venha! — Lorraine exclamou andando para além de Jason, que bufou baixinho e caminhou atrás da mulher, ela parou brevemente para se virar. — Aquela ali é minha Lo... Na verdade, ela é filha do meu falecido marido, mas eu criei a menina e cuidei como se fosse minha desde que ela tinha cinco aninhos, claro que naquela época era mais fácil de lidar com ela.
Jason não deu atenção ao resto do histórico. A figura deitada de bruços na grama lendo uma revista qualquer de moda despertou-lhe algo que ele não sentia há muito tempo. Era a Lo... como Lolita, como sua musa da infância. Jason suspirou, era como se uma verdadeira obra de arte tomasse vida além de forma e ironicamente tivesse sido posta em um quintal de um bairro de classe média.
Provavelmente a garota que não tinha muito além de dezoito anos. Possuía cabelos longos e volumosos na cor de avelã, um corpo escultural e pele delicada como só uma ninfa poderia ter. Seu vestido florido e curto deixava amostra boa parte das suas coxas, enquanto ela brincava com os pés descalços no alto. Estava distraída demais para perceber a movimentação no jardim ou a voz irritante que a sua madrasta possuía.
— É radiante! — Jason disse perdido ainda na bela visão da ninfeta deitada na grama.
— Sim, minhas flores do deserto são um tanto raras e exigem um cuidado especial. — Lorraine disse contemplando a vista das flores exóticas. — E então, senhor Delarue, o senhor vai ficar com o quarto?
Jason finalmente voltou atenção a mulher. Ela era uma visão completamente diferente da enteada, mesmo que fosse bonita, nem de longe possuía as belas curvas ou belos fios de cabelo. Ele sorriu iluminado, havia encontrado no seu jardim de Éden, a ninfeta que precisava para sua história e para uma aventura inimaginável.
— É claro! — Jason confirmou satisfeito. Lorraine sorriu.
Era até inocente pensar que o sorriso radiante nos lábios de Jason fossem para Lorraine. A mulher estava convencida que ainda conseguia mexer com os homens, tal como em sua juventude, mas o verdadeiro motivo dele se tratava da jovem deitada despretensiosamente na grama. Jason voltou atenção novamente a garota, dessa vez a jovem apoiava o queixo em uma mão e suspirava um tanto entediada, enquanto Jason, se permitiu suspirar encantado.
──𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒
Eu sei que nos aviso deixei claro que o primeiro capitulo seria postado ao fim da fic SURVIVOR, mas fazer oq né? Eu estava ansiosa de mais para publicar o primeiro capitulo para você ❤️
E então, me deixem ai o feedback de vocês❤️
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