Chร o cรกc bแบกn! Vรฌ nhiแปu lรฝ do tแปซ nay Truyen2U chรญnh thแปฉc ฤ‘แป•i tรชn lร  Truyen247.Pro. Mong cรกc bแบกn tiแบฟp tแปฅc แปงng hแป™ truy cแบญp tรชn miแปn mแป›i nร y nhรฉ! Mรฃi yรชu... โ™ฅ

๐–๐‡๐Ž ๐ˆ๐’ ๐‚๐„๐‹๐„๐’๐“๐„ ๐‡๐€๐‹๐„?

*โ€ข.โœงโ˜ฝ*:โ›ˆ๏ธŽโœงโ˜‚.โ€ข*
๐‚๐‡๐€๐๐“๐„๐‘ ๐„๐ˆ๐†๐‡๐“

๐–๐‡๐Ž ๐ˆ๐’ ๐‚๐„๐‹๐„๐’๐“ ๐‡๐€๐‹๐„?



APร“S O DESAPARECIMENTO repentino de Cinco, os irmรฃos seguiram pela estrada deserta. Quarenta minutos depois, chegaram de volta ร  academia. Ver Grace funcionando como se nunca tivesse sido desligada foi um alรญvio para todos. Jantaram juntos, e Diego parecia arrependido por ter dito que preferia que Celeste nรฃo tivesse retornado. Ela passou o dia ignorando Luther, enquanto Klaus perguntava insistentemente o que havia acontecido. Contudo, Celeste decidiu nรฃo falar sobre o assunto. Apenas mencionou que as marcas no pescoรงo eram de Hazel e Cha-Cha, sem mencionar o loiro.

Quando foi dormir, seus dedos brincavam com o colar dourado em seu pescoรงo, torcendo para que Cinco voltasse logo. Ela confiava tanto nele que, apesar de tudo, dormiu como nunca antes, tranquila, como se o fim do mundo nรฃo estivesse prestes a acontecer.

Foi despertada por Allison, que bateu o jornal da manhรฃ em seu corpo para acordรก-la. Luther havia contado a Allison sobre o que fizera com o pescoรงo de Celeste.

"Nรฃo foi nada", resmungou Celeste, irritada por ter sido acordada. Ela nรฃo queria discutir, muito menos naquele momento, com tanto sono.

- Por que vocรช nรฃo contou?! - exclamou Allison, incrรฉdula. Jรก estava sentada na cama enquanto Celeste, ainda sonolenta, coรงava os olhos.

- Eu nรฃo queria constrangรช-lo - respondeu Celeste, dando de ombros, como se o fato de ele tรช-la estrangulado fosse irrelevante. Pelo menos, comparado ร  descarga elรฉtrica que ela lhe deu em vinganรงa.

Allison soltou um suspiro de incredulidade, seguido de um sorriso de descrenรงa.

- Ah, sรฉrio? "Constrangรช-lo"?

- ร‰. Vocรช sabe como รฉ. - Celeste resmungou, evitando dizer "O fim do mundo estรก deixando todos estressados", jรก que eles ainda nรฃo sabiam disso. - A morte do papai, sabotaram a Grace, tem aquelas fitas ridรญculas, o ataque ร  academia com assassinos mascarados super treinados... Todo mundo estรก enlouquecendo.

- Isso nรฃo รฉ desculpa para ele estrangular vocรช.

- Eu sei. Mas... digamos que eu quase provoquei uma parada cardiorrespiratรณria nele. Entรฃo, estamos quites.

Allison sorriu, interessada.

- E como ele reagiu?

- Disse que poderia fazer aquilo o dia todo.

- Nรฃo podia, nรฉ?

- Claro que nรฃo - Celeste revirou os olhos. - Quase morreu no chรฃo, mas รฉ orgulhoso demais para admitir.

- Isso รฉ bem a cara dele - Allison suspirou, rolando os olhos. - Mas ele sรณ quer voltar a ser o lรญder. Acho que ver todos nรณs reunidos faz ele lembrar de como era antes.

- Sim, mas ele precisa entender que isso jรก nรฃo existe mais - retrucou Celeste, jรก irritada sรณ de pensar em Luther.

- Nรฃo existe pra quem? - perguntou Allison. - Pra vocรช?

As palavras atingiram Celeste como um soco. Ela queria esquecer aquela academia maldita, aquela ideia de famรญlia unida que, em sua cabeรงa, ainda permanecia vista como falsa.

- Sim, pra mim. Desde os meus dezesseis anos - resmungou, levantando-se de repente, querendo fugir daquela conversa.

Ela jogou as cobertas de lado e foi atรฉ o banheiro, enquanto Allison a observava em silรชncio, impassรญvel.

- ร‰ramos crianรงas, Celly - disse Allison suavemente, como um lembrete de que todos haviam mudado, de que talvez muitos se arrependessem do passado.

Celeste suspirou, exausta. Olhou seu reflexo sonolento no espelho, jogou รกgua no rosto e, por um momento, o silรชncio profundo do quarto a fez pensar que Allison jรก tinha ido embora. Mas quando ela voltou ao quarto, ela estava lรก, esperando.

- Nรณs mudamos - murmurou Allison, os olhos escuros e sinceros. Ela ainda estava na cama da garota, os braรงos cruzados, mostrando que estava sendo honesta.

- Eu sei - resmungou Celeste. - Mas...

- Nรฃo pode nos perdoar? - Allison completou a frase diretamente. De repente, Celeste se sentiu ridรญcula. Soltou um suspiro exasperado, impaciente. Olhou para a janela, para o movimento da cidade lรก fora, e entรฃo engoliu em seco, encarando a irmรฃ que esperava por uma resposta.

- Posso. Sรณ preciso de um pouco de tempo - disse Celeste, com a voz baixa.

Allison sorriu levemente, como se estivesse orgulhosa. Levantou-se e ficou frente a frente com Celeste, que teve de olhar para cima para encarรก-la.

- Espero que nรฃo demore muito - disse Allison com um sorriso suave. Celeste suspirou, caminhando atรฉ a cรดmoda para pegar seu remรฉdio para ansiedade. - Estou com saudade de falar sobre garotos com vocรช.

- Garotos? - Celeste arqueou uma sobrancelha, irรดnica. - Vocรช pode falar sobre garotos comigo.

- Entรฃo falaremos - Allison sorriu, cruzando os braรงos. Seu olhar ficou mais astuto de repente, enquanto via a garota colocar o remรฉdio dentro da boca, pronta para engolir. - O que estรก acontecendo com o Cinco, hein?

Celeste quase engasgou com a รกgua que estava bebendo. Seus olhos se arregalaram, e a menรงรฃo ao nome de Cinco fez seu rosto ficar vermelho. Ela pรดs a mรฃo na frente da boca e engoliu rapidamente o remรฉdio, tossindo vรกrias vezes. Allison parecia se divertir com o jeito desajeitado de Celeste sempre que falavam de seu melhor amigo.

- O Cinco? - Celeste resmungou, tentando se recompor. O rosto ainda vermelho, batendo no peito para tentar se acalmar.

- Ele mesmo - afirmou Allison, com um sorriso malicioso.

- Vocรช sรณ pode estar brincando. Amizade. Sรณ isso - disse Celeste, com firmeza.

Allison nรฃo parecia convencida, mas decidiu nรฃo pressionar. Sabia que, se continuasse, Celeste ficaria ainda mais desconcertada, e talvez acabasse tendo um colapso nervoso.

Algum tempo depois, Allison desceu as escadas, deixando Celeste em paz para tomar um banho e se vestir com as roupas da academia. Afinal, ela ainda tinha esperanรงa de que Cinco voltaria naquele dia.

Celeste estava sentada em uma dos bancos na extensa bancada de bebidas da sala, esperando com os outros irmรฃos a chegada de Klaus e Luther. Diego, de algum modo, sabia que Luther queria uma espรฉcie de "reuniรฃo" e havia convocado todos para estarem ali ร s 8:00 da manhรฃ.

Quando Luther finalmente desceu as escadas, ouviram Klaus, desesperado, murmurando: "Como assim trรชs dias?! E-eu pensei que viveria mais tempo! Volta aqui, Luther! Explica isso direito!"

Os dois entraram na sala, e Luther foi direto ao balcรฃo de bebidas, onde Allison lhe ofereceu um copo de cafรฉ. Celeste tamborilava os dedos, inquieta, esperando que ele finalmente falasse.

- O mundo acaba em trรชs dias - declarou Luther, com uma calma assustadora, como se estivesse dando uma notรญcia banal.

- Trรชs dias? - Allison franziu o cenho, perplexa. A reaรงรฃo foi um choque geral. Alguns irmรฃos ficaram incrรฉdulos, outros resmungaram, enquanto outros estavam confusos demais para dizer qualquer coisa.

- De acordo com o Cinco - Luther completou.

Celeste pensou em falar que talvez nรฃo fosse prudente contar isso agora, temendo que todos se desviassem do foco, mas preferiu se calar. Sabia que, se dissesse algo, Luther iria contrariรก-la e logo estariam brigando novamente.

- Sabia disso, Celly? - Allison perguntou, surpresa com a calma da irmรฃ.

- ร“bvio que sabia - Klaus acusou, dando de ombros. - Desde que o Cinco voltou, Celeste anda pra lรก e pra cรก com ele.

Allison sorriu, cruzando os braรงos, mais interessada em implicar do que em se preocupar com o fim do mundo.

- "Amizade. Sรณ isso" - ela debochou, imitando a voz da irmรฃ. Celeste corou e revirou os olhos. Alguns entenderam a provocaรงรฃo, enquanto outros nem prestaram atenรงรฃo.

- O velho atรฉ falava sobre o apocalipse, pelo que me lembro. Ele sรณ mentiu na parte que seria logo - Klaus suspirou, agora com o semblante sรฉrio e preocupado.

- Dรก pra confiar nele? Nรฃo sei se vocรชs notaram, mas o Cinco tรก meio... - Allison assobiou, fazendo gestos com a mรฃo, indicando que Cinco parecia estar enlouquecendo.

Celeste pensou em defendรช-lo, mas a realidade a atingiu: eles nรฃo tinham provas concretas do que Cinco estava falando. Ela confiava cegamente nele, instintivamente, mas sabia que isso nรฃo bastava para convencer os irmรฃos. Quando abriu a boca para falar, foi interrompida:

- Nosso maluquinho... - Klaus murmurou, o olhar perdido.

- Ele foi bem convincente - Luther retrucou. - Se nรฃo estivesse tentando evitar o apocalipse, aqueles dois delinquentes nรฃo estariam atrรกs dele.

- E eu, como melhor amiga dele, posso garantir que ele nรฃo perderia tempo com isso nem passaria noites em claro se nรฃo fosse sรฉrio - completou Celeste, firme. Alguns irmรฃos estreitaram os olhos, ponderando.

- Entรฃo รฉ por isso que eles estรฃo atrรกs dele? - Allison perguntou, referindo-se aos assassinos.

- Ele estรก tentando mudar a linha do tempo para impedir o apocalipse - explicou Celeste. - Aquelas pessoas sรฃo pagas para impedir gente como ele.

- O que foi que ele viu no apocalipse? - Allison perguntou, a voz agora um pouco trรชmula.

- Todos nรณs mortos - respondeu Celeste sem rodeios, dando de ombros. - Segundo ele, nรฃo sobrou mais nada. Sรณ ruรญnas.

- Como รฉ que รฉ?! - exclamou Allison, aterrorizada, refletindo o pรขnico que rapidamente tomou conta dos outros.

Luther revirou os olhos e jogou a cabeรงa para trรกs, murmurando algo como "podia ter dado essa informaรงรฃo de um jeito menos horrรญvel".

Nesse momento, um guarda-chuva se desprendeu do suporte e caiu no chรฃo, abrindo-se com um estrondo. Klaus deu um grito agudo de susto. Celeste teve que reprimir o riso, mesmo com toda a tensรฃo no ar.

๏ฝขยท ยท โ€ข โ€ข โ€ข โ›ˆ๏ธŽ โ€ข โ€ข โ€ข ยท ยท๏ฝฃ

โ›ˆ๏ธŽๅฝก๐‚๐จ๐ฆ๐ข๐ฌ๐ฌ๐šฬƒ๐จ, 1995.

Enquanto Cinco e a mulher elegante de trajes caros caminhavam pelo extenso terreno da Comissรฃo, discutiam assuntos importantes, trocando informaรงรตes como dois velhos conhecidos. Apesar de nunca terem sido prรณximos, ela tinha uma habilidade inegรกvel para manter a conversa fluindo.

- ...tenho que admitir, Nรบmero Cinco. Em todo o tempo que vocรช esteve aqui, nunca vi alguรฉm tรฃo habilidoso quanto vocรช - ela sorriu, deixando o elogio pairar no ar. - Hazel e Cha-Cha, por exemplo, sรฃo talentosos, claro. Mas... eles nรฃo pensam fora da caixa. A sua coragem, seu espรญrito empreendedor... - continuou, colocando o braรงo ao redor dele - ...atรฉ me lembra de mim mesma, se รฉ que posso me vangloriar assim - retirou o braรงo e comeรงaram a subir as escadarias que levavam ร  grande porta de entrada. - Se tudo correr bem, vocรช pode se tornar um รณtimo sucessor, Cinco.

Ela entrou no edifรญcio e retirou o casaco com um gesto fluido, imediatamente recolhido por um funcionรกrio. O interior da agรชncia estava em constante movimento. Pessoas engravatadas andavam de um lado para o outro, carregando planilhas, cadernetas, maletas; atรฉ os funcionรกrios da limpeza pareciam ter pressa.

- Eu quero resolver a logรญstica da seguranรงa da minha famรญlia o mais rรกpido possรญvel. E, alรฉm disso, quero saber como vรฃo fazer Celly envelhecer de novo - Cinco disse, ansioso, enquanto subia as escadarias em espiral ao lado dela.

- Quanta audรกcia. ร‰ revigorante, devo admitir - ela respondeu com um sorriso, divertindo-se com a pressa dele. - Vรก com calma, Cinco. Agora que aceitou trabalhar conosco, vocรช tem todo o tempo do mundo - brincou, com um toque de ironia.

O edifรญcio, com suas paredes cinzentas e janelas imensas, emanava uma sensaรงรฃo de ordem. Cada funcionรกrio parecia uma engrenagem perfeita em uma mรกquina meticulosamente ajustada.

Enquanto caminhavam de um bloco para o outro, a mulher mantinha-se surpreendentemente calma, enquanto Cinco, por dentro, mal conseguia conter sua ansiedade. "Quanto tempo jรก passou para Celly?", ele se perguntava, inquieto.

- A Comissรฃo mantรฉm um equilรญbrio delicado entre a cronologia dos eventos e o livre-arbรญtrio das pessoas. A maleta jรก nรฃo faz mais parte do seu kit, Cinco - disse ela, lanรงando um olhar para uma enorme sala repleta de prateleiras com maletas de viagem temporal. - Liberte sua mente. Agora vocรช รฉ da diretoria. Um de nรณs - acrescentou, envolvendo os braรงos ao redor dele. Ela estava completamente ร  vontade, enquanto Cinco sรณ queria sair dali o mais rรกpido possรญvel.

Subiram mais algumas escadas, que pareciam nunca terminar.

- Todos neste andar sรฃo gerentes de caso. Cada um รฉ responsรกvel por um grande evento em qualquer ponto da linha do tempo - explicou, apontando para uma sala simples, cheia de mesas e cadeiras.

- Sรฃo muitos - Cinco murmurou, observando o ambiente. Jรก odiava o lugar, preferia mil vezes trabalhar sozinho.

- Impressionante, nรฃo? Fazer parte de algo tรฃo grandioso - comentou a mulher, notando o olhar cansado de Cinco. - Venha comigo - disse, levando-o para fora da sala.

- Quando alguรฉm toma uma decisรฃo errada e altera a linha do tempo, a Comissรฃo recebe um relatรณrio dos agentes de campo. Esses relatรณrios sรฃo enviados para um gerente de caso, que decide se alguรฉm deve ser eliminado - explicou enquanto entrava em uma nova sala. - Isso garante que o evento ocorra da maneira certa. O gerente entรฃo envia instruรงรตes para assassinos temporais, como vocรช foi um dia, Cinco - ela sorriu, enquanto uma senhora idosa despachava cรกpsulas de informaรงรตes pelos tubos pneumรกticos. - Alguma dรบvida?

- Quem era o gerente responsรกvel pelo meu caso? - Cinco perguntou, com รณdio na voz. Seus olhos se estreitaram, esperando a resposta com intensidade.

- Ah! - ela sorriu, tocando levemente o rosto dele. - Vocรช estรก falando do apocalipse.

Eles deixaram a sala e caminharam em silรชncio atรฉ um espaรงo menor, onde vรกrios trabalhadores escreviam sem parar.

- Cinco, esta รฉ a Dot! - apresentou ela, indicando uma mulher negra de cabelos crespos, que parecia surpreendentemente carismรกtica.

- Ah! Oi! - Dot cumprimentou, um pouco lisonjeada por conhecรช-lo.

- Ela รฉ responsรกvel por todos os eventos relacionados ao apocalipse. Inclusive, foi Dot quem registrou sua apariรงรฃo pela primeira vez em 2019 - comentou, pousando a mรฃo no ombro da mulher com um olhar de aprovaรงรฃo.

- Sem ressentimentos - Dot brincou, um pouco constrangida diante da figura lendรกria de Cinco.

- Bom, foi vocรช quem nos colocou em apuros, enganando dois dos nossos melhores assassinos - disse a gestora com um sorriso, elevando a voz de propรณsito. - Se isso nรฃo รฉ uma prova de que vocรช รฉ um futuro lรญder... - as atenรงรตes na sala se voltaram para Cinco - ... entรฃo nรฃo sei o que รฉ - ela riu, aproximando-se de uma das mesas. - Eu acho que vocรช gosta de um desafio, Cinco - disse, puxando uma cadeira. - E รฉ por isso que estou te dando algo particularmente complexo - falou, entregando-lhe uma pasta vermelha. - Seu primeiro caso.

Cinco pegou a pasta e a abriu, lendo rapidamente as informaรงรตes. Mesmo que tentasse disfarรงar, era interessante.

- Pena que Joseph decidiu nรฃo sabotar o tanque de combustรญvel. Teria sido bem mais fรกcil - ela comentou com um sorriso. - Qualquer dรบvida, estarei logo ali atrรกs de vocรช - disse, apontando para a saรญda e se retirando.

Ele se sentou na mesa com seu nome e comeรงou a ler o arquivo mais detalhadamente, pronto para agir, mas com o pensamento jรก voltado para quando poderia voltar para Celly.

๏ฝขยท ยท โ€ข โ€ข โ€ข โ›ˆ๏ธŽ โ€ข โ€ข โ€ข ยท ยท๏ฝฃ

โ›ˆ๏ธŽๅฝก๐”๐ฆ๐›๐ซ๐ž๐ฅ๐ฅ๐š ๐€๐œ๐š๐๐ž๐ฆ๐ฒ, ๐๐ข๐š๐ฌ ๐š๐ญ๐ฎ๐š๐ข๐ฌ.

Enquanto os irmรฃos discutiam acaloradamente sobre a gravidade da situaรงรฃo, enchiam o ar de perguntas que nรฃo pareciam ter fim: "Sรณ nรณs vamos morrer?", "Como vai acontecer?", "Que horas?", "Quem vai causar tudo isso?". A tensรฃo sรณ aumentava. Nesse turbilhรฃo, Vanya entrou na sala com seu novo namorado, Leonard, que ela havia conhecido hรก menos de uma semana. Para ela, esse relacionamento era intenso, uma faรญsca em meio ao caos, mas, para os outros irmรฃos, a situaรงรฃo soava desconfortรกvel, quase embaraรงosa.

- Oi - ela disse rapidamente, interrompendo as conversas. Sua expressรฃo e a pressa com que parou no centro da sala deixavam claro que algo importante a trazia ali.

- Oi, Vanya! - Celly a cumprimentou com um sorriso, sempre diplomรกtica. Para ela, o que importava era a felicidade da irmรฃ, nรฃo quem estava ao lado dela. Nรฃo era sua preocupaรงรฃo.

- O que aconteceu? - Vanya perguntou, franzindo a testa ao perceber a seriedade e a inquietaรงรฃo nos rostos de todos.

Leonard, logo atrรกs, observava a famรญlia com um interesse estranho, os olhos carregados de uma frieza que nรฃo escapou ร  atenรงรฃo de Oito. Ela o observou, desconfiada, quase dizendo: "Questรตes apocalรญpticas. Junte-se ร  festa!". Mas se conteve. Havia algo errado naquele homem, algo que a incomodava profundamente. Talvez ele fosse um problema maior do que aparentava. Nรฃo quando todos ali poderiam ser suspeitos. Nรฃo quando ele os olhava com um misto de nojo e manipulaรงรฃo.

- Nรฃo podemos continuar com... - ela apontou para Leonard com o queixo. - Qual o nome dele mesmo?

- Leonard. - Vanya respondeu de imediato, sua voz cortante. - Por que ele nรฃo pode participar? - A rispidez em suas palavras era inegรกvel, quase cuspida.

Celly arqueou as sobrancelhas, surpresa com o tom. Quando foi que Vanya comeรงou a tratรก-la assim?

- Opa, calma aรญ. - Ela pediu, ajeitando-se na cadeira, a voz carregada com uma mistura de comando e sarcasmo. O desagrado era palpรกvel. Vanya nรฃo gostou do tom, endireitando-se tambรฉm, encarando a irmรฃ com seriedade. - Ele nรฃo pode porque รฉ algo pessoal. A gente te conta, e vocรช vai entender a importรขncia e perceber que nรฃo รฉ para qualquer um ficar sabendo. - O tom de Celly era tรฃo arrogante quanto o de Vanya, mas ela nรฃo se importava. Leonard simplesmente nรฃo inspirava confianรงa.

- ร‰ assunto de famรญlia - disse Allison, tentando dissipar a tensรฃo.

- Assunto de famรญlia? - Vanya riu, sarcรกstica. - Claro que nรฃo pensaram em me incluir.

A ironia na voz dela deixou a sala desconcertada, mas ninguรฉm a levou muito a sรฉrio. Pelo menos, atรฉ que Vanya comeรงou a se afastar, a frustraรงรฃo e a irritaรงรฃo pulsando em cada passo.

- Nรฃo, nรฃo รฉ isso! - Luther tentou amenizar, sua voz quase suplicante. - ร‰ que a gente...

- Vanya! Espera! Eu te conto depois, quando estivermos sozinhas! - Allison levantou-se rapidamente, tentando alcanรงar a irmรฃ. O ar parecia ficar mais pesado quando Vanya se virou, com um drama que dominou a sala.

- Nรฃo, por favor, nรฃo se incomode. - O tom dela era cortante.

- Nรฃo nos incomodamos! - Celly rebateu, tambรฉm entrando na conversa, levantando-se com um semblante preocupado.

- Entรฃo deveriam ter me incluรญdo desde o comeรงo - rebateu Vanya, a voz carregada de amargura.

- Isso nรฃo รฉ justo - protestou Allison, tentando manter a calma.

- Justo? Nรฃo hรก nada justo em ser irmรฃ de vocรชs! - A explosรฃo de Vanya pegou todos de surpresa. - Eu sempre fui deixada de fora, em tudo, desde que me lembro! E eu achava que era culpa do papai, mas ele estรก morto agora! - Os olhares chocados dos irmรฃos sรณ a atiรงaram mais. - Vocรชs รฉ que sรฃo os imbecis.

E com isso, ela saiu da sala, os passos ecoando pelo chรฃo frio. Leonard, com um olhar de falso pesar, a seguiu em silรชncio.

- O que estรก acontecendo com todo mundo? - Celeste resmungou, bufando de frustraรงรฃo antes de se afundar novamente no banco.

- Eu vou falar com a Vanya e tentar explicar... - Allison comeรงou, jรก se movendo em direรงรฃo ร  porta, mas foi interrompida por Luther.

- Nรฃo, nรฃo temos tempo. Precisamos descobrir o que estรก causando o apocalipse. Hรก tantas possibilidades... guerra nuclear, asteroides... mas algo me diz que tem a ver com a lua. Certo?

Celeste, jรก sem paciรชncia, revirou os olhos enquanto servia uma dose de tequila.

- Luther, pelo amor de Deus, para de falar de vocรช e da lua. Muda de assunto.

- O papai deve ter me mandado pra lรก por algum motivo! - Luther retrucou, insistente. - Eu o mantinha informado diariamente. Mandava amostras do solo! Precisamos encontrar as pesquisas dele.

A discussรฃo continuava, mas a tensรฃo deixada pela saรญda de Vanya pairava no ar, como uma sombra que ninguรฉm conseguia ignorar.

- Ei! Espera aรญ! Nรณs todos morremos lutando contra essa coisa da primeira vez, tรก lembrado? - Klaus perguntou, a voz carregada de uma mistura de pรขnico e frustraรงรฃo.

- Surpreendentemente, ele tem razรฃo - disse Diego, cruzando os braรงos com um tom seco. - Que vantagem temos agora?

- O Cinco? - Luther retrucou, com aquele ar de superioridade que o irritava. - A gente estava sem ele antes. Nรฃo estรกvamos juntos. Dessa vez vamos ter a forรงa total da Umbrella Academy. ร‰ o que precisamos.

- Tรก, e onde estรก o Cinco agora?! - Diego insistiu, sem esconder sua irritaรงรฃo.

- Ele vai voltar! - Celeste interveio, sua voz firme, embora seus olhos mostrassem uma leve incerteza. - O plano de nรณs trรชs estรก dando certo... eu acho.

- Tรก, eu vou atrรกs do Hazel e da Cha-Cha - Diego anunciou, levantando-se com uma determinaรงรฃo perigosa.

- O quรช? Agora? - Luther perguntou, confuso, sentindo o controle da situaรงรฃo escapar entre seus dedos.

- Isso aรญ! Faltam trรชs dias e eu tenho cada vez menos chance - Diego respondeu, jรก se movendo para a porta.

- Espera, Diego! Eu sei que vocรช quer vingar a sua amiga, mas...

- Ela nรฃo era sรณ uma amiga, Luther! - Diego interrompeu, a voz carregada de raiva e dor. - Se eu morrer, preciso saber que matei aqueles desgraรงados primeiro. Nรฃo tem nada a ver com o papai ou comigo! ร‰ sobre a Patch! Eu nรฃo vou descansar antes de... - sua voz se quebrou por um segundo, antes de endurecer novamente. - Eu nรฃo vou descansar.

- Devemos ficar juntos! - Luther implorou, a tensรฃo crescendo.

- Para de achar que รฉ tudo sobre vocรช! - Diego disparou antes de sair, os passos pesados ecoando pela sala.

No mesmo instante, Klaus se levantou, seguido por Ben, que o acompanhava em sua forma fantasmagรณrica.

- Klaus? Klaus! - Luther chamou, exasperado.

- Ah, รฉ... - Klaus tentou improvisar uma desculpa, mas desistiu no meio do caminho. Ele nรฃo conseguia mentir naquele momento.

- O quรช? Vai desistir do mundo tambรฉm? - Luther perguntou, a frustraรงรฃo transparecendo.

- ร‰, รฉ isso aรญ - Klaus respondeu com um encolher de ombros, saindo definitivamente.

- Entรฃo รฉ isso. Tudo bem morrermos todos em trรชs dias - Luther murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.

- Eu tรด indo com ele - Celeste finalmente falou, levantando-se com uma decisรฃo inesperada e seguindo Diego.

- Tรก brincando, Celly? - Luther protestou, incapaz de esconder sua surpresa. Ela parou abruptamente na porta, seu corpo tenso, e soltou um suspiro pesado, como se o apelido fosse a รบltima gota.

- Agora eu sou Celly? - Ela cuspiu, incrรฉdula. Seus olhos lanรงavam faรญscas de desgosto para Luther. - Enquanto me machucava ontem, nรฃo parou pra pensar que eu era sua irmรฃ, nรฃo รฉ?

Luther suspirou profundamente, sabendo que nรฃo havia saรญda boa dessa discussรฃo. Ele a observou sair, os passos rรกpidos ecoando como um reflexo de sua raiva. Celeste sentia o รณdio borbulhar dentro de si, e uma mรกgoa mais profunda por trรกs.

No fundo, ela desejava desesperadamente que Luther demonstrasse arrependimento. Se ele apenas pedisse desculpas, ela o perdoaria sem hesitar. Ela acreditava no poder do perdรฃo, na capacidade das pessoas mudarem. Mas Luther? Ele nem ao menos havia reconhecido o que fez. Nem uma palavra de arrependimento.

- O que ele fez com vocรช? - Klaus perguntou baixinho, enquanto subiam os degraus juntos. Sua expressรฃo era um misto de curiosidade e preocupaรงรฃo.

- Digamos que os dedos dele esbarraram no meu pescoรงo... e ficaram ali por um tempo considerรกvel - ela respondeu com ironia. Klaus ainda parecia confuso, entรฃo ela puxou a gola branca do uniforme, revelando as marcas avermelhadas em seu pescoรงo.

Klaus soltou um gemido de choque, cobrindo a boca com as mรฃos.

- Que droga, Celly! O Luther ficou maluco desde a Lua! Aquele-

- Tรก tudo bem - Celeste o interrompeu com um suspiro exasperado. - Nรฃo รฉ como se ele estivesse exatamente sรฃo desde entรฃo.

- Espera aรญ. - Klaus estreitou os olhos, tentando juntar as peรงas do quebra-cabeรงa. - Por isso ele estava com um curativo na orelha?

- Ah, isso nรฃo fui eu. Foi o Cinco - ela respondeu, dando de ombros.

- Nรฃo tรด entendendo...

- O Cinco atirou no Luther - ela explicou casualmente, e Klaus arregalou os olhos, rindo nervosamente enquanto processava a informaรงรฃo.

Celeste esperava mais de Luther. Nรฃo que ele fosse seu irmรฃo favorito, nem que tivessem muitas lembranรงas boas juntos. Ele sempre passava mais tempo com Allison e Cinco. Mas o momento em que ele escolheu salvar as quatro vidas inocentes, machucando-a, partiu algo dentro dela. A marca de suas mรฃos em seu pescoรงo ainda coloria sua pele e, toda vez que ela olhava, uma tristeza profunda a tomava.

- Ei! - Klaus a chamou de volta ร  realidade. Eles tinham chegado ao andar dos dormitรณrios.

- Hm?

- Sรณ preciso pegar uma coisa antes de irmos lรก pra cima - ele avisou, desaparecendo pelo corredor.

Ela o esperou por alguns minutos, e quando ele voltou, trazia uma corda pendurada nos ombros.

- Pra que รฉ isso? Quer se enforcar? - Ela perguntou com sarcasmo, cruzando os braรงos. Dada a forma como as coisas estavam indo, nรฃo seria tรฃo surpreendente.

Klaus riu e ajeitou a corda.

- Nรฃo que seja uma ideia ruim - ele disse, despreocupado. - Vou pedir pro Diego me amarrar.

- Te amarrar? - ela repetiu, confusa.

- Tenho que ficar sรณbrio - ele explicou, soltando um longo suspiro cansado.

- Tรก brincando? Pra quรช? - ela perguntou, sem entender o sรบbito desejo de Klaus de mudar algo.

- Era pra vocรช ficar feliz! - ela exclamou, observando Klaus com expectativa.

- Eu estou, uรฉ. Mas deve ter um motivo, eu te conheรงo - ela respondeu, estreitando os olhos em desconfianรงa. Klaus desviou o olhar, hesitante. Depois de um longo suspiro, a tristeza em seu rosto ficou mais evidente.

- Tem, sim. Eu... eu quero ver alguรฉm - ele confessou, a voz vacilante.

Ela ficou confusa, arqueando as sobrancelhas. Klaus, normalmente tรฃo despreocupado, de repente parecia quase... apaixonado? Isso a pegou desprevenida. Ela nรฃo conseguia entender o que estava acontecendo. Klaus notou sua expressรฃo confusa e continuou:

- Digamos que... quando eu viajei com aquela maleta da dupla sinistra... eu... talvez... tenha me apaixonado por um cara.

Ela arregalou os olhos, surpresa. A felicidade inicial que brilhou em seu olhar rapidamente se transformou em tristeza ao perceber que a pessoa nรฃo pertencia ร  mesma รฉpoca que ele.

- Ah... que droga - murmurou, com as sobrancelhas franzidas de preocupaรงรฃo. Klaus apenas deu de ombros, tentando manter a postura relaxada.

- ร‰. Ele... ele morreu - Klaus admitiu, a dor evidente nos seus olhos.

Sem pensar duas vezes, ela o puxou para um abraรงo apertado, sentindo o peso da dor que ele carregava. "Tudo bem. Vocรช ficarรก sรณbrio e verรก ele", sussurrou, tentando confortรก-lo. O abraรงo de Klaus se apertou ainda mais, como se ela fosse sua รขncora em meio ao caos que ele vivia.

- Senti saudades, sua pirralha - ele resmungou, afastando-se devagar. Quando se soltou, encontrou Celeste sorrindo. - O que foi? Faรงa o favor de nรฃo sumir de novo.

- Eu nรฃo vou - ela prometeu, firme. - Agora... tem certeza que quer incluir o Diego nisso aรญ?

- Ah, nem tanto - Klaus reclamou, revirando os olhos. - Mas eu atรฉ gosto de incluir aquele chato nos meus planos. Enquanto ele me amarra, podemos ficar conversando. Daรญ eu nรฃo tenho que ouvir o sermรฃo dele sobre meus maus hรกbitos - ele piscou para ela, cheio de malรญcia.

- Sabe, eu estava pensando em te dar um sermรฃo sobre as drogas - ela provocou.

- Ah, nรฃo! Jรก tive palestras suficientes na reabilitaรงรฃo.

- E nรฃo prestou pra nada, pelo visto - ela debochou, e Klaus bufou, derrotado.

Ambos riram enquanto entravam no quarto de Diego, que tentava, com dificuldade e uma careta de dor por causa do machucado no braรงo, amarrar seus tรชnis.

- Se importa? - Diego perguntou, notando que os dois haviam entrado.

- Ah, eu posso amarrar isso aรญ - Klaus jogou a corda para ele segurar. - Se vocรช me amarrar depois.

- Como รฉ que รฉ? - Diego fez uma careta, mal-entendendo, o que fez Celeste rir da mente perversa do irmรฃo.

- ร‰ que a รบltima vez que fiquei sรณbrio foi naquela vez super divertida quando aqueles meliantes me amarraram no hotel.

- Uau. Vocรช รฉ um sem noรงรฃo pervertido - Diego respondeu, balanรงando a cabeรงa.

- Por quรช?! Vocรช que sempre tรก dizendo "Klaus, vocรช tem que ficar sรณbrio, cara" - Klaus o imitou, exagerando na voz grossa e revirando os olhos.

- Tem jeitos melhores de ficar limpo.

- ร‰, Klaus, eu concordo com ele - Celeste acrescentou, deixando o batente da porta e entrando no quarto, colocando a mรฃo no ombro de Klaus.

- Nรฃo pra mim - ele olhou para ela, entรฃo voltou a encarar Diego. - Eu preciso que alguรฉm me deixe sem as minhas opรงรตes - pediu quase implorando.

- Olha, Diego. O fato de que ele pelo menos quer mudar jรก รฉ um รณtimo comeรงo - Celeste disse, suavemente.

Diego ficou em silรชncio por um momento, claramente considerando a situaรงรฃo. Ele sabia que amarrar Klaus significaria ouvir suas piadas e reclamaรงรตes, mas tambรฉm sabia que aquilo era importante. Bufou, resignado.

- Tรก bom - cedeu. - Pode me ajudar?

- Claro! - Klaus respondeu prontamente, ajoelhando-se para amarrar os tรชnis do irmรฃo.

๏ฝขยท ยท โ€ข โ€ข โ€ข โ›ˆ๏ธŽ โ€ข โ€ข โ€ข ยท ยท๏ฝฃ

Celly jรก estava no sรณtรฃo hรก horas, conversando com o irmรฃo, que permanecia amarrado. Eles falaram sobre tudo, como se o fim do mundo nรฃo estivesse se aproximando. Ele contou sobre Dave, o recruta com quem lutou na guerra do Vietnรฃ. Ela, por sua vez, falou um pouco sobre Cinco - ainda negando e enterrando qualquer resquรญcio de sentimento, algo que teimava em fazer, mesmo apรณs tanto tempo.

Agora, um novo pensamento a dominava: talvez fosse a hora de falar com Luther. Talvez, sรณ talvez, ele estivesse certo sobre a lua, e isso pudesse ajudar a impedir o apocalipse.

Despediu-se do irmรฃo, desejou-lhe sorte, e desceu as escadas da mansรฃo. Procurou por Luther nos dormitรณrios, mas ele nรฃo estava lรก. Passou pela cozinha, tambรฉm sem sinal dele. Tentou a sala de treinamento, a sala de estar... mas evitou o escritรณrio de seu pai. Jรก subia as escadas, quase desistindo, quando esbarrou em Pogo.

- Pogo, vocรช viu o Luther? - perguntou, ofegante de tanto subir e descer as enormes escadarias.

- Da รบltima vez que o vi, ele estava no escritรณrio do seu pai, senhorita - respondeu Pogo, confuso com a pergunta repentina.

Celly fez uma careta. "O que diabos o Luther estava fazendo lรก?!" Pensou. Fazia sentido ele achar que as pesquisas estariam no escritรณrio do velho, mas onde ele havia encontrado coragem para isso?

Ela agradeceu Pogo e subiu novamente atรฉ o andar principal. Caminhou atรฉ o escritรณrio de seu pai, um lugar que ela jamais havia ousado entrar.

Os passos eram cautelosos quando cruzou a porta e foi recebida pelo cheiro antigo e ranรงoso que sempre pairava no ar.

- Luther? - chamou, mas nรฃo houve resposta.

Jรก era noite, e a primeira coisa que pensou foi que Luther havia saรญdo. No entanto, seu olhar foi atraรญdo por algumas tรกbuas removidas do chรฃo, revelando sacos brancos que pareciam ter sido escondidos ali.

Ela caminhou atรฉ eles e, ao abrir um dos sacos, viu que eram as amostras que Luther coletou durante sua missรฃo na Lua. Surpreendentemente, todas estavam intocadas, jamais abertas.

"O papai รฉ mesmo um idiota", pensou, incrรฉdula.

Franziu o cenho, imaginando como Luther deve ter se sentido ao descobrir que passou quatro anos na Lua por nada. Tentou afastar qualquer empatia, ainda ferida pelas cicatrizes de suas prรณprias dores. "Talvez agora ele pare de passar pano pro velho e caia na real", pensou, amarga.

Celly pegou algumas das amostras e as jogou na mesa, tentando ler os rรณtulos. Com cada linha que lia, sua frustraรงรฃo crescia. Nada ali parecia รบtil.

- Que maravilha! Todos esses anos na lua e nรฃo tinha nada de importante lรก - murmurou, sarcasticamente, enquanto se balanรงava na cadeira do pai. Batucou os dedos na mesa, cansada. Estava ร  espera do retorno de Cinco da Comissรฃo, com provas ou ajuda, mas sua confianรงa estava comeรงando a desmoronar.

O dia havia sido longo e exaustivo. Quando ele voltaria? A ansiedade comeรงava a se misturar com o medo. E se algo desse errado? E se a gestora da Comissรฃo desmascarasse Cinco?

Os pensamentos de Celly foram interrompidos pelo som distante das buzinas da cidade. Ela suspirou e girou na cadeira mais uma vez, tentando se distrair.

Foi entรฃo que algo chamou sua atenรงรฃo. Atrรกs da cadeira do pai, havia pequenas molduras de madeira na parede, cada uma contendo o rosto de um dos filhos, ainda adolescentes. O retrato dela e de Cinco permanecia praticamente inalterado, mesmo que eles prรณprios jรก tivessem vivido muito mais do que apenas dezesseis anos de vida.

Curiosa, aproximou-se de seu prรณprio retrato e percebeu algo peculiar: o olho esculpido no rosto tinha um leve contorno. Instintivamente, passou o dedo pelo relevo detalhado da madeira e, sem pensar, pressionou o olho da gravura.

Imediatamente, um clique ecoou pelo escritรณrio. Celly congelou, o coraรงรฃo disparado. Olhou ao redor, procurando a origem do som. Nada parecia ter mudado. Mas aquele barulho... aquilo nรฃo era normal.

Seus olhos se fixaram no tapete pesado que cobria o centro da sala. Havia uma leve elevaรงรฃo embaixo dele. Curiosa e cautelosa, afastou o tapete, revelando um alรงapรฃo.

Estava aberto.

Ela lutou contra o instinto de ignorar aquilo e sair, mas a curiosidade venceu. Descendo as escadas em espiral que se revelaram sob o alรงapรฃo, Celly desviou das teias de aranha, o cheiro de mofo e umidade se intensificando a cada passo.

No fim da escadaria, um longo corredor a aguardava, levando a uma porta de ferro maciรงo. O som de seus passos ecoava pelo local, quebrando o silรชncio que parecia ter reinado ali por muito tempo.

Com um pouco de esforรงo, girou a maรงaneta enferrujada e empurrou a porta, que se abriu com um rangido agudo.

- Droga! - murmurou, quando quase caiu ao empurrar a porta com forรงa demais.

Assim que se estabilizou, as luzes comeรงaram a acender uma a uma, revelando uma sala muito maior do que ela esperava. Havia uma incubadora quebrada, injeรงรตes, livros espalhados, uma escrivaninha e documentos por todo lado. Parecia um cenรกrio de um filme de terror, um laboratรณrio clandestino abandonado.

"Que merda รฉ essa?", pensou, seus sentidos em alerta.

Na parede ao lado, havia um mural com bilhetes e anotaรงรตes rabiscadas, alguns claramente danificados de propรณsito. A visรฃo de tudo aquilo a fez lembrar da estranha visรฃo que tivera hรก poucos dias.

Na escrivaninha, havia um caderno vermelho com as iniciais de Celly, que a jovem nรฃo hesitou em abrir. A caligrafia era idรชntica ร  de Reginald: impecรกvel, mas jogada para o lado em um rabisco elegante.

"Dia 1: Minha curiosidade sempre esteve fundamentada em verdades: as 43 mulheres que deram ร  luz no dia 1 de outubro nรฃo foram uma mera coincidรชncia. Elas possuรญam o mesmo princรญpio mรกgico que Celeste Hale. Apรณs tantos anos, posso finalmente afirmar que a esperanรงa voltou a florescer em mim. Com ao menos sete delas, รฉ viรกvel reativar o projeto Oblivion e, se tudo correr conforme o planejado, reconfigurar o mundo."

Celly leu a anotaรงรฃo, seu semblante se distorcendo em confusรฃo. Quem era Celeste Hale? Qual era a conexรฃo entre seu pai e essa mulher misteriosa?

Virou mais algumas pรกginas, mergulhando nas anotaรงรตes de Reginald. Seu coraรงรฃo pulsava forte a cada palavra que absorvia.

"Dia 523: Talvez trazer Celeste de volta nรฃo seja tรฃo complicado quanto imaginei. ร‰ um fato que, se eu a tiver novamente, os avanรงos cientรญficos para trazer a verdadeira Hale e minha amada Abigail serรฃo mais fรกceis. Na quarta-feira, dia 12 de maio, os estudantes de Massachusetts obtiveram resultados significativos: ร‰ possรญvel fazer nascer uma pessoa exatamente igual ao seu antepassado se os genes do antepassado forem preservados. Com algumas modificaรงรตes e os investimentos adequados que possuo, trazer Celeste Hale nรฃo serรก difรญcil."

Celly continuava sem entender. Olhou para a incubadora ao lado e sacudiu a cabeรงa em negaรงรฃo ร  medida que algumas teorias comeรงaram a surgir. "Verdadeira Hale". O que ela era? Um experimento?

"Dia 2.911: A criaรงรฃo de Celeste Hale, ou devo dizer, Hargreeves, estรก sendo um sucesso. A cada dia que passa, ela se desenvolve mais, mostrando-se forte e saudรกvel. Contudo, temo que ela nรฃo se tornarรก perfeita como eu desejaria. ร‰ frustrante, para dizer o mรญnimo, que apรณs tanto esforรงo, ela esteja se mostrando tรฃo insatisfatรณria. Hoje, dia 9 de outubro, รฉ seu aniversรกrio de sete anos, embora ela acredite que tenha celebrado junto com seus irmรฃos alguns dias atrรกs. Inevitavelmente, possui um anseio pelo saber e uma busca incessante por atenรงรฃo, mesmo que tente negar. ร‰ mais do que decepcionante perceber que a cada uso de seus poderes, ela se torna fisicamente mais fraca.

"Entรฃo eu sou uma cรณpia?". Celly se sentiu desmoronar. Se tudo aquilo fosse verdade, entรฃo nunca teria feito aniversรกrio junto com os outros irmรฃos. O que era real em sua vida?

"Dia 3.098: Todo esse esforรงo e o resultado รฉ desanimador. A tentativa de transferir meus poderes para Celeste foi completamente ineficaz. Certamente, isso se deve ร  quantidade de poder que reside nela. Simplesmente nรฃo รฉ compatรญvel. Talvez um treinamento excessivo a ajude, mas ela nunca serรก perfeita em suas habilidades. Este tem sido um desperdรญcio de tempo, um tempo que, francamente, nรฃo sei se poderei recuperar caso tudo dรช errado."

"Hale?", pensava Celly. Era demais para ela. Tentou reviver cada momento da sua vida, buscando memรณrias que corroborassem sua teoria, mas sempre acreditou que tinha nascido ao mesmo tempo que seus irmรฃos. O que o diรกrio dizia claramente era uma mentira. Sempre achou que era fruto das gestaรงรตes misteriosas. Agora, possivelmente, ali, naquele diรกrio, estavam as respostas para todos os momentos em que Reginald a desprezou.

"Dia 3.923: Celeste รฉ um grande desgosto para mim. Tanto tempo investido para que seus poderes ao menos fossem utilizรกveis. No entanto, ela รฉ um caso perdido. Atรฉ mesmo a habilidade elรฉtrica que desenvolveu รฉ inรบtil, devido ao problema com seu envelhecimento. Estou ficando sem ideias para ela e temo que ela tenha sido o meu maior erro. Celeste nรฃo nasceu para a Umbrella Academy. Boa demais, gentil demais. Recusa-se a matar e a participar das missรตes. Arrisco-me a dizer que Vanya, com sua determinaรงรฃo em fazer parte, poderia ser mais รบtil que ela."

As palavras, embora Celly jรก estivesse acostumada a ouvi-las, a atingiram de forma cruel. Como ele podia ser tรฃo insensรญvel? Para ele, ela era apenas uma peรงa de xadrez? Nada mais?

"Dia 4.789: Nรฃo vejo outra soluรงรฃo a nรฃo ser afastar Celeste dos outros. Desde que o Nรบmero Cinco foi embora, Celeste tem se mostrado emocionalmente instรกvel, e sinto que seu desempenho caiu drasticamente. Claro, seu desempenho nunca foi tรฃo bom quanto o dos outros. Mas, talvez, no fundo, eu ainda tenha esperanรงa. Ela sabia da partida dele. Se Celeste fosse menos tola, poderia tรช-lo impedido."

A jovem levou a mรฃo ร  boca, tentando abafar os pesados suspiros que escapavam de sua garganta. As lรกgrimas jรก escorriam por seu rosto.

- Nรฃo, nรฃo, nรฃo... - sussurrou, tentando negar essas revelaรงรตes.

"Dia 5.923: A separaรงรฃo de Celly dos irmรฃos tem sido benรฉfica para a Umbrella Academy. Todas as crianรงas passaram a acreditar que a culpa pela partida de Cinco era dela. E eu estava certo ao pensar que ela era fraca e nรฃo servia para a academia. Celeste nรฃo gostou de se sentir deslocada, e eu nรฃo precisei intervir em sua saรญda de casa. Ela fez isso por conta prรณpria, e acredito que o rumo da Umbrella Academy pode melhorar."

Celly nรฃo conseguia acreditar no que lia. O turbilhรฃo que antes cercava seus pensamentos agora parecia ser anulado. Eram tantos pensamentos que sua mente jรก nรฃo conseguia processar mais. Ela estava em ebuliรงรฃo. Suas mรฃos tremiam.

"Dia 6.723: A Umbrella Academy teve seu auge, mas รฉ evidente que as crianรงas nรฃo sรฃo mais inocentes. Diego tem se mostrado instรกvel, Klaus estรก quieto - nรฃo que eu desgoste disso. Muito pelo contrรกrio, รฉ excelente quando ele se mantรฉm em silรชncio - especialmente apรณs a partida da Nรบmero Oito. Allison percebeu que seus poderes podem alavancar sua carreira. Talvez isso a faรงa deixar a casa mais rapidamente do que eu imaginava. Preciso mantรช-los todos aqui. Erros nรฃo podem mais ser tolerados. Nรบmero Oito foi um caso perdido, Nรบmero Cinco nรฃo voltarรก, e Nรบmero Seis estรก morto. Pouco a pouco, todo o meu trabalho escapa entre meus dedos."

Mentiras e mais mentiras. Ela sempre foi um peso para ele.

O coraรงรฃo de Celly pulsava acelerado, como se fosse dilacerado de dentro para fora. A dor das inverdades a corroรญa de maneira insuportรกvel.

"Dia 9.850: Rever a Nรบmero Oito me surpreendeu. Algumas semanas atrรกs, meus informantes descobriram que ela tem se envolvido com atividades ilรญcitas. Antes, o Nรบmero Cinco encobria seus afazeres com a eliminaรงรฃo de inimigos. Esperar isso dela na vida adulta certamente me deixou impressionado. Ao que parece, Nรบmero Oito cresceu, amadureceu e compreendeu que a vida nรฃo deve ser fรกcil nem gentil para indivรญduos diferentes como ela. Tentei visitรก-la hoje, mas nรฃo estava em casa. De qualquer modo, as chances de eu visitรก-la e eliminar todo o interesse que desenvolvi por ela recentemente sรฃo altas. Recebi notรญcias de que seu trabalho tem sido satisfatoriamente executado. Como a mente humana busca incessantemente validaรงรฃo, quem sabe Celeste ainda nรฃo tenha alguma necessidade... paternal? Chegou a hora de um novo peรฃo se inserir em meus planos."

Ela odiava quando ele a tratava como um mero objeto de manipulaรงรฃo. Seu sangue ferveu. Celly percebeu que trabalhar para ele nos รบltimos anos fora um erro. Ele continuava o mesmo Reginald, sem mudanรงas, sempre em busca de controle.

Tomou coragem e leu a รบltima pรกgina escrita.

"Dia 12.658: Eu falhei. Jamais pensei que fazer tudo da maneira correta resultaria em tamanha frustraรงรฃo. Afinal, a mente humana รฉ mais complexa do que julguei. Todos necessitam de uma segunda chance, ร s vezes. Nรฃo tenho meus sete filhos para tocar os sete sinos, mas tenho uma ideia desesperada que pode me proporcionar a segunda chance que tanto anseio."

Sua cabeรงa parecia que iria explodir. Nesse momento, Celeste teve outra visรฃo. Era a mesma da semana anterior, mas agora estava completa.

Reginald conversava com Pogo sobre seu plano e reativava as cรขmeras de vigilรขncia da casa. Entรฃo, comeรงou a encenaรงรฃo. Grace ofereceu uma xรญcara de chรก envenenada, e Reggie tomou, fingindo ignorar o componente mortal na bebida. O homem se contorcia na cama, enquanto o objeto entregue ร  mulher era seu monรณculo. Ele havia cometido suicรญdio..

Ela balanรงava a cabeรงa em um gesto de incredulidade, enquanto voltava a observar o mural que havia danificado antes da morte. Fotos e anotaรงรตes estavam espalhadas pelo chรฃo, e sua incessante curiosidade pela verdade a impulsionou a ler e a explorar o que aquele mural escondia.

Atraรญda por um pedaรงo de jornal parcialmente queimado, ela conseguiu discernir a manchete e a imagem de um rosto notavelmente familiar.

"MISTร‰RIO CERCA DESAPARECIMENTO DE JOVEM PESQUISADORA: Onde estรก Celeste Hale?

Apรณs o desaparecimento de Celeste Hale, filha adotiva do Sr. Reginald Hargreeves, ocorrido na manhรฃ desta quinta-feira, a polรญcia canadense mobilizou buscas em vรกrias regiรตes, mas atรฉ o momento, nรฃo hรก sinais da jovem. Celeste, de 19 anos, foi vista pela รบltima vez junto ao seu pai e uma equipe de seguranรงa.
O sumiรงo da jovem deixou a sociedade perplexa. Nรฃo hรก provas de sua morte, nem qualquer pista de seu paradeiro. Perguntas como "O que aconteceu com ela?" e "Onde ela pode estar?" ecoam sem respostas.
Celeste Hale, reconhecida por suas contribuiรงรตes significativas na pesquisa sobre desenvolvimento motor e intelectual de primatas, colaborava com uma respeitada equipe cientรญfica. Apesar de sua curta trajetรณria, jรก deixava um legado admirรกvel.
As investigaรงรตes continuam, mas atรฉ o momento, nรฃo hรก suspeitas relacionadas ao seu pai ou a qualquer outra pessoa envolvida. O mistรฉrio segue sem soluรงรฃo."

Abaixo da manchete, a foto de Celeste, porรฉm com sutis diferenรงas. Era como se aquela jovem retratada na imagem pertencesse a uma era distante, pois Celly nรฃo se recordava de ter posado para aquela fotografia antiga. A expressรฃo dela parecia ligeiramente menos jovem, os cabelos cuidadosamente alisados em um penteado refinado e vestindo vestidos elegantes... A confusรฃo a envolvia.

Espalhadas pelo chรฃo, havia vรกrias fotos, incluindo algumas de uma mulher deslumbrante, de cabelos ondulados e com uma idade que parecia semelhante ร  de Reginald. Havia tambรฉm imagens de um violino branco e fotos de Reggie com, aparentemente, Celeste Hale.

- Nรฃo era para vocรช ter descoberto desta maneira - uma voz grave ecoou, interrompendo o silรชncio que a cercava, vindo de trรกs da porta.

Ela reconhecia aquela voz sem precisar pensar duas vezes. Pogo. Uma das poucas pessoas em quem havia depositado sua confianรงa ao longo de toda a sua vida. O ser que havia consertado Grace, que expressou genuรญna preocupaรงรฃo ao ouvir sobre suas visรตes, que a acolheu com um abraรงo caloroso quando ela retornou ร  Academia apรณs quase quinze anos... Mas ele sabia de tudo. Uma onda de traiรงรฃo e dor a invadiu. Esperava enganos de qualquer um, menos dele.

Enquanto observava os olhos gentis do chimpanzรฉ, sentiu uma raiva e uma frustraรงรฃo que nunca havia experimentado antes.

Votem e comentem! isso ajuda MUITO a fic!
Enfim, mais um capรญtulo para vocรชs. Atรฉ terรงa novamente ๐Ÿ’—

revisรฃo concluรญda โ˜‘๏ธ ๐Ÿ’š

โš ๏ธ CAPรTULO REESCRITO! SE NOTAR ALGUMA DIFERENร‡A, ร‰ PORQUE EU DE FATO MUDEI!โš ๏ธ

Bแบกn ฤ‘ang ฤ‘แปc truyแป‡n trรชn: Truyen247.Pro