๐๐๐๐๐'๐ ๐๐๐๐ ๐๐๐๐๐
*โข.โงโฝ*:โ๏ธโงโ.โข*
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โ ๏ธ EU IMPLORO SE FOR PRECISO!!! Leiam ao menos o inรญcio desse capรญtulo ouvindo a mรบsica "Sunshine On My Shoulders" (vocรชs vรฃo entender em que momento รฉ pra comeรงar a ouvir, SรRIO). Vai ser mรกgico, eu juro.
โ๏ธๅฝก ๐๐จ๐ข๐ญ๐ ๐๐ง๐ญ๐๐ซ๐ข๐จ๐ซ ๐๐จ ๐๐๐ฌ๐๐ฉ๐๐ซ๐๐๐ข๐ฆ๐๐ง๐ญ๐จ ๐๐ ๐๐ข๐ง๐๐จ.
โ VOCรS ESTรO LIBERADOS AGORA, crianรงas โ disse Grace, com um sorriso largo no rosto. O jantar havia terminado, e Reginald jรก se levantara da mesa, voltando para seus afazeres.
Hรก dois meses, Celeste e Cinco se viciaram em pรฃo com pasta de amendoim e marshmallow. O pai nem suspeitava. A regra da casa era que todos participassem dos jantares saudรกveis, juntos ร mesa. Mas, naquela noite, fingiram comer, brincaram com a comida e nรฃo chegaram nem perto de terminar o prato. No final, sabiam que teriam seu "verdadeiro jantar" mais tarde. Grace, cรบmplice dos dois, sempre ajudava o garoto a preparar esse lanche nada saudรกvel, mas totalmente favorito.
As crianรงas se levantaram da mesa, caminhando lentamente para seus quartos. Luther e Allison tagarelavam entre si; Klaus, Cinco e Celeste discutiam no caminho, rindo das palhaรงadas do Nรบmero Quatro; Ben, perdido em seu mundo literรกrio, e Vanya, apressada, morrendo de sono, sรณ queriam chegar logo aos seus quartos.
Os quartos eram organizados pela ordem dos Nรบmeros. Klaus foi o primeiro a se despedir.
โ ...e aรญ eu posso burlar a regra do banho pra passar a noite olhando para aquela revista com o Ryan Gosling e-
โ Ai, meu Deus. โ Celeste revirou os olhos. Klaus estava obcecado.
โ Tudo bem. โ Cinco resmungou. โ Pode olhar se tomar banho antes, seu imundo.
โ Celly! โ Klaus reclamou, incrรฉdulo. โ Vai deixar ele falar assim comigo?
โ Ele nรฃo tรก errado, nรฉ? โ ela implicou, estreitando os olhos.
O olhar fulminante de Luther quase incendiou os trรชs. Entreolharam-se rapidamente, murmurando desculpas como "Jรก estamos indo" e "Tudo bem, vamos dormir". Bufando, Klaus seguiu para o quarto, resmungando sobre como seus irmรฃos nunca o entendiam.
Antes que Cinco entrasse no quarto, puxou o braรงo de Celeste e aproximou a boca de seu ouvido. O gesto inesperado fez o coraรงรฃo dela disparar, e um sorrisinho tรญmido escapou. "Volto em trinta minutos com nosso jantar favorito", ele sussurrou, deixando um beijo rรกpido em sua bochecha antes de ir para o quarto. Luther, ao ver a cena, fez uma careta e desistiu de insistir no horรกrio. Celeste continuou seu caminho, finalmente entrando em seu quarto.
Tomou banho, vestiu o pijama leve de verรฃo e enrolou os cabelos em um coque desajeitado. Sentou-se em sua cadeira de balanรงo, abrindo o livro de romance que estava lendo.
O tempo passou rรกpido, como areia escorrendo por entre os dedos. Jรก era tarde, e ela ajustou a luz do abajur para que ficasse suave, o suficiente para que Reginald nรฃo percebesse. "Por que ele passaria por aqui? Para nos ver? Para desejar boa noite?", pensou amarga. Sabia que nรฃo era o tipo de coisa que o pai faria, e ele com certeza nรฃo a impediria de ficar acordada.
Duas batidas leves na porta a tiraram dos pensamentos. Ela sabia quem era, entรฃo deixou o livro de lado e foi atender. Lรก estava Cinco, com dois sanduรญches de pasta de amendoim e marshmallow.
โ Demorei um pouco โ disse ele, fazendo uma careta enquanto entrava sem muita cerimรดnia. โ Pogo quase me pegou.
โ Acha que ele nรฃo deixaria? โ ela perguntou, franzindo o cenho e fechando a porta com cuidado.
โ Tรก brincando? Claro que deixaria. Mas ele comeรงaria aquele sermรฃo sobre alimentaรงรฃo saudรกvel. Parece atรฉ uma nutricionista.
Ela riu, abafando o som com a mรฃo antes de dar um tapa brincalhรฃo no braรงo dele. Cinco colocou os sanduรญches sobre a escrivaninha e, sem perder tempo, comeรงou a comer. Se jogou confortavelmente na cama dela, cruzando os pรฉs e deitando sobre o braรงo.
Celeste pegou seu sanduรญche e foi atรฉ a vitrola, colocando o seu disco favorito. Havia comprado-o recentemente, mesmo que suas mรบsicas fossem antigas. Ela baixou o volume, devagar, atรฉ que sรณ eles pudessem ouvir. Ainda bem que seu quarto ficava no fim do corredor. Ninguรฉm seria incomodado.
โ Vai falar com o papai amanhรฃ? โ perguntou ela, a boca cheia de pรฃo, finalmente saciando a fome.
โ Sim, mas nรฃo precisamos falar sobre isso agora. โ Cinco deu de ombros, os olhos fixos no teto de madeira.
โ Precisamos, sim. โ Ela insistiu, franzindo o cenho. Jogou-se ao lado dele na cama, terminando o sanduรญche e, de alguma forma, aconchegando-se nele. โ E vamos falar.
Cinco suspirou pesadamente, claramente sem vontade de discutir o assunto. Ele sabia o quanto ela podia ser teimosa, e o pior: ele tambรฉm era. Mas jรก tinha decidido e estava certo de que nada a faria mudar sua opiniรฃo. Nรฃo quando estava tรฃo confiante de que o pai finalmente o deixaria iniciar o treinamento.
โ Vai dar tudo certo, Celly. โ Ele afirmou com convicรงรฃo, dando uma mordida no sanduรญche. โ Eu venho estudando matemรกtica e viagens no tempo, muito alรฉm do que fazem parte das nossas liรงรตes. Sou bom nisso, e viajar no tempo vai ser fรกcil. โ Um sorrisinho apareceu em seus lรกbios.
Depois de engolir o รบltimo pedaรงo, ele se virou para ela, deitando de lado.
โ E se o papai nรฃo deixar? โ ela perguntou suavemente, com uma firmeza que mal escondia o medo na voz.
โ Ele vai deixar. โ Cinco disse, confiante. Levantou-se da cama, sempre inquieto quando o assunto era esse. Deu alguns passos, e Celeste o observou atentamente. Ele soltou um suspiro cansado antes de se virar para encarรก-la. โ Vocรช vai ver, eu vou convencer ele de que รฉ uma boa ideia. โ concluiu, determinado.
Celeste ficou em silรชncio, voltando a se sentar na cama enquanto observava o garoto andar lentamente pelo quarto. Quando ele se aproximou da cadeira de balanรงo dela e percebeu o livro aberto, a curiosidade o dominou, e ele aproveitou a oportunidade para mudar de assunto.
โ O que vocรช estรก lendo? โ perguntou, pegando o livro nas mรฃos. O coraรงรฃo de Celeste disparou, e num impulso, ela saltou da cama e correu atรฉ ele.
Embora ele nรฃo estivesse tรฃo interessado a princรญpio, de repente pareceu obcecado em ler a pรกgina inteira. Um sorriso brincalhรฃo surgiu em seu rosto ao notar o nervosismo dela.
โ Okay, chega. Me dรก isso aqui.
โ O quรช? Por quรช? โ Ele perguntou, com uma falsa inocรชncia no olhar. Quando Celeste tentou pegar o livro de volta, ele o ergueu bem alto, deixando-a resmungar baixinho, suplicando que devolvesse.
โ Vamos logo, seu pivete! โ ela implorou. Cinco, agora fingindo estar completamente focado no livro, continuava mantendo-o fora do alcance dela.
โ "Noah desceu seusโฆ beijos..." โ ele comeรงou a ler, com dificuldade. Celeste bufou, seu rosto ficando vermelho como uma pimenta. Tentava empurrรก-lo, dizendo o nome dele repetidamente, mas a nรฃo estava convencida a machucรก-lo realmente, usando a eletricidade โ "โฆpelo pescoรงo dela. Eโฆ entรฃoโฆ as mรฃos dele foram pararโฆ naโฆ cintaโฆ?" Cintura! โ corrigiu. โ "Na cintura de Emma".
โ Cinco!!! โ Ela praticamente gritou, desesperada para que ele parasse antes que chamasse a atenรงรฃo de alguรฉm. Mas ele estava decidido a implicar com ela e a ler aquilo que ela tanto tentava esconder.
โ "Eleโฆ puxou a blusa dela. Nรฃo o suficiente para ver osโฆ seus pei-"
Ele nรฃo conseguiu terminar. Um espasmo elรฉtrico percorreu seu corpo, e isso foi o suficiente para ele se encolher, permitindo que Celeste arrancasse o livro de suas mรฃos.
โ Ai!! โ Ele reclamou, passando as mรฃos sobre as partes que doรญam, incrรฉdulo.
โ O que foi? E-esse รฉ o MEU livro... e-e... eu nรฃo queria que vocรช lesse. โ disse ela, segurando o livro firmemente contra o peito, o rosto queimando de vergonha. Sentia-se exposta, vulnerรกvel. "Como eu fui deixar o livro aberto? Que estupidez!", pensou.
โ Tudo bem. Era uma pornografia escrita. โ Ele resmungou, com um sorriso cafajeste no rosto. โ Eu ia parar de ler na parte em que ele enfia os dedos nel-
โ Cala a boca! โ Ela avanรงou sobre ele, colocando a mรฃo na boca dele para silenciรก-lo. Sentiu o sorriso torto dele se formar sob sua palma. โ Como eu disse antes... โ ela suspirou, tentando recuperar a compostura. โ ร o MEU livro... portanto, minha privacidade. Vocรช nรฃo deveria ter pego e muito menos violado isso. โ Falou rรกpido, empurrando-o em direรงรฃo ร porta. โ Agora FORA.
Ele segurou a mรฃo dela gentilmente enquanto a afastava da sua boca. Celeste estava firme, sua carranca deixando claro o quanto ela tinha desgostado da situaรงรฃo. Esperava que ele saรญsse, mas Cinco permaneceu ali, encarando-a. Havia algo adorรกvel nela quando estava irritada, ele pensou, achando hilรกrio. Seu bico irritado era irresistรญvel. De repente, ele estava sorrindo para ela, e ela o fulminava com um olhar carregado de mau humor.
โ Sai logo. โ pediu, impassรญvel. โ Vocรช sรณ estรก me deixando com mais raiva ainda, seu babaca.
Antes que ele pudesse admitir que havia passado dos limites โ mesmo sem se arrepender, jรก que para ele tudo tinha sido muito engraรงado โ, uma mรบsica familiar comeรงou a tocar na vitrola. Era "Sunshine on My Shoulders". O sorriso dele, que jรก havia desaparecido ao perceber o quรฃo irritada ela estava, voltou ao ouvir a melodia.
โ Olha, Celly. ร a nossa mรบsica. Um sinal divino para vocรช nรฃo me expulsar. โ Ele sorriu. Ela revirou os olhos, incrรฉdula com a ousadia. Num piscar de olhos, ele se teleportou para perto da bancada da vitrola, escapando de seus braรงos que o empurravam em direรงรฃo ร porta.
โ Mandei vocรช sair.
โ Ah, vai. Seja menos amarga. โ pediu ele, com um sorriso provocador. Estendeu a mรฃo para ela, mesmo de longe, enquanto ela permanecia imรณvel, ainda furiosa. โ Vamos danรงar.
Celeste o observou, imรณvel. Ele cantarolava a mรบsica baixinho, e sua raiva jรก estava se dissipando, mas o orgulho a impedia de ceder tรฃo facilmente.
โ "Sunshine on my shoulders..." โ ele cantava suavemente. โ "...makes me happy...". Venha, querida. Nos meus ombros. โ incentivou com um sorriso. Ela quase sorriu com o novo apelido e a ideia que ele trazia.
Hesitou por um momento, mas, entรฃo, largou o livro de qualquer jeito e caminhou atรฉ ele.
โ "Sunshine in my eyes can make me cry" โ completou ela a melodia, enquanto se aproximava. Ele sorriu, satisfeito por vรช-la entrar na brincadeira. Com delicadeza, ele segurou sua mรฃo e a puxou, unindo seus corpos de forma tranquila. A mรฃo dele pousou respeitosamente em sua cintura, e os olhos de ambos se fixaram um no outro, como se nada mais existisse.
โ "Sunshine on the water looks so lovely"... Porra, vou te chamar de Sunshine a partir de hoje. โ Ele disse, rindo, completamente encantado com a ideia. Jogou a cabeรงa para trรกs e soltou um sorriso que fez as borboletas no estรดmago dela se agitarem, quase escapando.
โ Isso รฉ muito brega. โ ela murmurou, ainda ressentida pelo episรณdio do livro. Ele riu, divertindo-se com a teimosia dela. Com carinho, segurou o rosto dela, forรงando-a a olhar diretamente nos olhos dele.
โ Nรฃo รฉ, nรฃo. โ disse suavemente, enquanto seu polegar acariciava a bochecha dela. A troca de olhares era intensa, e a melodia suave ao fundo fazia o momento parecer ainda mais รญntimo. Suas bocas se tornaram irresistรญveis, mas havia uma hesitaรงรฃo. Poderiam estragar tudo.
โ "Sunshine almost always makes me high" โ ele continuou a mรบsica e, claro, nรฃo resistiu ร piada: โ Sรณ fico triste quando vocรช nรฃo me deixa ler seus livros.
Ela quase soltou uma gargalhada, e ele deixou suas mรฃos caรญrem do rosto dela, rindo junto. Ela o empurrou levemente com o ombro.
โ Estou tentando esquecer pra te perdoar. Me ajuda a te ajudar. โ murmurou, entre sorrisos.
As mรฃos dele voltaram para a cintura dela, e agora ambos apenas ouviam a melodia em silรชncio. Ela descansou o rosto no peito dele, e seus corpos balanรงavam devagar, quase imperceptivelmente. Naquele instante, Celly percebeu o quanto era feliz com ele. Sentia-se segura, importante, e estranhamente amada.
Ela amava os beijos na testa, os abraรงos apertados, as piadas bobas e atรฉ os sanduรญches de pasta de amendoim com marshmallow que ele trazia antes de dormirem. E, embora odiasse admitir, atรฉ gostava das implicรขncias dele. Porque, no fundo, sabia que era isso que os tornava especiais โ mesmo que ele ร s vezes passasse dos limites. Nos braรงos dele, ela se sentia a pessoa mais importante do mundo, com a pessoa mais importante do mundo ao seu lado.
As mรฃos dele subiram novamente atรฉ o rosto dela, dessa vez com um cuidado extremo, como se ela pudesse quebrar a qualquer momento. Seus olhos azuis a encaravam com uma devoรงรฃo que fez o coraรงรฃo dela acelerar. Primeiro, ela se perdeu no olhar dele, e logo depois suas bocas voltaram a ser tentadoras. Antes que pudesse desviar o olhar, ele a surpreendeu com um beijo suave e lento nos lรกbios, algo tรฃo puro que a fez prender a respiraรงรฃo. Era um gesto que ela jamais imaginara, vindo dele, daquela forma.
Quando ele se afastou, seus olhos transpareciam tristeza โ ela sabia que estragaria tudo mais ainda em seguida. Ela ficou paralisada, sem reaรงรฃo. "Droga. Estraguei tudo entre nรณs", ele pensou, a culpa tomando conta de seu rosto.
Mas, antes que qualquer arrependimento se solidificasse, ela subiu nas pontas dos pรฉs e o beijou de volta, num impulso, extinguindo qualquer dรบvida ou negaรงรฃo. A resposta dela foi imediata.
A mรฃo dele na cintura a apertou com mais firmeza, e a outra, que antes estava em sua nuca, agora a envolvia em um abraรงo ainda mais prรณximo. Nรฃo era um beijo superficial; havia uma profundidade, uma sinceridade crua. Foi a forma mais verdadeira de confessarem o que sentiam, selando o primeiro beijo com a pureza de quem estava apaixonado.
Naquele dia, ela percebeu que o amava, e nรฃo havia como esconder seus sentimentos. No entanto, no dia seguinte, ela esperou por ele, disposta a se declarar. Mas ele nรฃo voltou.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
โ๏ธๅฝก๐๐ข๐๐ฌ ๐๐ญ๐ฎ๐๐ข๐ฌ.
Os quatro nรฃo haviam saรญdo da academia hรก muito tempo e sabiam que qualquer informaรงรฃo poderia ser crucial. A lรณgica era clara: se a dupla mortal tinha recebido ordens para proteger Harold, o causador do Apocalipse, ele certamente estava na mesma cidade que eles. Essa pista tornava tudo mais simples, embora Celeste tivesse uma sensaรงรฃo incรดmoda de que nรฃo era ele. Logo no inรญcio da viagem, Cinco e Diego brigaram pelo banco da frente, mas para que Cinco pudesse ficar ao lado de sua melhor amiga, Cinco cedeu a direรงรฃo ao Nรบmero Dois e o assento do passageiro a Allison.
Estacionados em frente ร delegacia, Diego comeรงou:
โ Tenho certeza de que esse tal de Jenkins tem ficha criminal โ ele afirmou com convicรงรฃo.
โ E se nรฃo tiver? โ Celeste questionou, tentando falar de forma mais natural. Estava aliviada que Cinco nรฃo havia colocado a mรฃo em sua coxa durante o trajeto inteiro, o que a fez agradecer silenciosamente. Embora gostasse do toque dele, era melhor assim, evitando que Allison fizesse alguma piada.
โ Para de ser pessimista. Ele tem que ter. โ Diego insistiu. โ Sรณ preciso conseguir o arquivo dele.
โ E qual รฉ o seu plano? โ Allison cruzou os braรงos, cรฉtica. โ Vai simplesmente pedir pra eles?
โ Eu conheรงo essa delegacia como a palma da minha mรฃo. Passei muito tempo lรก. โ Diego rebateu com orgulho.
โ Preso? โ Celeste provocou, com um sorriso malicioso. Allison havia contado histรณrias sobre Diego e suas frequentes encrencas com a polรญcia. Cinco soltou um riso breve ao lado dela.
โ Tanto faz. Esse รฉ o plano โ Diego concluiu.
โ Plano? โ Cinco zombou, sua voz carregada de arrogรขncia. โ Basta piscar e pegar o arquivo โ resmungou, incrรฉdulo. Claramente, queria se teleportar e resolver tudo ร sua maneira, sem precisar expor o plano que todos jรก conheciam.
โ Nรฃo. Vocรช nรฃo conhece os detalhes do lugar โ Diego retrucou, firme.
โ Olha, eu literalmente fiz isso ontem. โ Cinco rolou os olhos.
โ O quรช?
โ Meu ontem, nรฃo o seu. โ Cinco respondeu, pensativo. โ Vou precisar de dois segu-
โ Vocรช nรฃo vai entrar lรก โ Diego interrompeu, a voz carregada de autoridade. Celeste e Allison assistiam ร discussรฃo quase como se fosse uma comรฉdia. โ Eu fiz uma ligaรงรฃo.
โ Pra que complicar? Estamos correndo contra o tempo โ Celeste disse, impaciente. Entendia que Diego queria ajudar, mas daquele jeito sรณ ficariam esperando ร toa.
โ Um lรญder nรฃo invade uma delegacia. Ele lidera e faz a coisa certa โ Diego insistiu, teimoso.
Alguns minutos de silรชncio passaram atรฉ que Diego finalmente recebeu a resposta da sua ligaรงรฃo. Ele saiu do carro murmurando algo como "Jรก volto, me esperem aรญ", enquanto os outros permaneciam no veรญculo. Celeste estava ansiosa, mas o retorno de Cinco trazia um conforto inexplicรกvel. Ela nรฃo era a รบnica a se sentir assim. Cinco claramente estava desconfortรกvel em seguir as regras de Diego, e nos olhos de Allison havia uma pressa, talvez uma necessidade de perdรฃo?
โ Tenho que falar com a Vanya โ Allison disse de repente, rompendo o silรชncio. Antes que pudessem responder, ela jรก havia saรญdo do carro.
Celeste, sempre observadora, acompanhou o movimento de Allison com o olhar. O silรชncio e a proximidade repentina entre ela e Cinco criaram uma tensรฃo. Ele estava olhando o perfil dela, e o foco dela em Allison os aproximou ainda mais. Celeste pigarreou, afastando-se rapidamente, tentando fingir interesse nos carros que passavam.
โ Vamos descer? โ Cinco perguntou, quebrando o silรชncio e o transe em que ela se encontrava. Seu toque no tornozelo dela trouxe uma sรบbita consciรชncia do momento. Seus dedos subiam lentamente pela perna dela, atรฉ chegar ao joelho, o que a deixou sem palavras.
โ V-vocรช acha q-que devemos? โ Ela gaguejou. A mรฃo dele jรก se enfiava sorrateiramente sob o tecido do vestido. Seu rosto permanecia inocente, como se fosse algo banal. O polegar dele jรก estava em sua coxa, pele com pele.
โ Nรฃo sei. Quero saber o que vocรช quer โ Ele respondeu, um sorriso malicioso surgindo em seus lรกbios, uma mistura de tentaรงรฃo e inocรชncia.
Celeste respirou fundo, tentando recuperar o controle da situaรงรฃo. Olhou firme nos olhos dele, determinada a nรฃo perder o domรญnio.
โ Devemos โ ela respondeu, casualmente. โ Por quรช? โ perguntou, estreitando os olhos com um sorriso travesso. Enquanto puxava a maรงaneta do carro para sair, provocou: โ Vocรช quer ficar aqui sozinho comigo?
Ela saiu do carro, seguida por ele, e mal conseguiu disfarรงar o rubor quando ouviu o "Sim" que ele murmurou em resposta.
Os dois se aproximaram de onde Allison colocava as moedas no telefone pรบblico para ligar para Vanya. Eles se encostaram na parede, observando o movimento dos carros na avenida. A rotina seguia inalterada, o som comum da vida preenchendo o espaรงo, como se o apocalipse nรฃo estivesse prestes a destruir tudo em poucos dias.
Allison jรก estava trocando palavras de desculpas com Vanya por algum motivo que nรฃo parecia interessar aos dois. Enquanto isso, Celeste estava ร beira de um colapso. O medo tomava conta dela, mas algo em seu instinto dizia que Harold Jenkins talvez nรฃo fosse o verdadeiro perigo. Afinal, uma coisa leva ร outra, certo? Ele poderia ser apenas o estopim, uma distraรงรฃo criada pela gestora para esconder o verdadeiro objetivo.
โ Cincoโฆ โ Ela o chamou, cruzando os braรงos, tentando manter a postura firme apesar do medo crescente. โ Vocรช me disse que a gestora โsabia que vocรช estava aprontando algoโ quando espionou aโฆ โ Ela estreitou os olhos, tentando lembrar os nomes que ele havia mencionado antes de irem para a delegacia.
โ Dot. โ Cinco a corrigiu, sem hesitar. โ Por quรช?
โ Porqueโฆ eu nรฃo sei. Vocรช sempre diz que ela รฉ esperta demais, nรฃo? Traiรงoeira. โ A voz de Celeste tremia levemente, mas Cinco estava mais focado em entender o que ela estava tentando dizer do que em acalmรก-la. โ Acho que o pedido para protegerem Harold Jenkins foi para nos despistar.
โ Talvez vocรช tenha razรฃo. โ Ele deu de ombros, amargo. Nรฃo havia pensado nisso antes. โ Mas... a gestora nรฃo sabia o meu real objetivo lรก, nรฉ? Nรฃo acho que ela perderia tempo mandando Hazel e Cha-Cha, os melhores assassinos da Comissรฃo, protegerem alguรฉm que nรฃo fosse realmente importante. โ Ele murmurou, tentando racionalizar. โ Mas sua linha de raciocรญnio รฉ interessante. Talvez eu seja pragmรกtico demais. Espero que vocรช esteja errada.
โ Jรก pensou se o apocalipse รฉ causado por um de nรณs? โ Celeste perguntou, e Cinco suspirou, cansado. A vulnerabilidade rara dela parecia quase esmagรก-lo. โ Somos poderosos o suficiente para isso.
โ Causar o apocalipse? Tem alguรฉm na famรญlia emocionalmente instรกvel o suficiente para isso? โ Cinco rebateu, tentando aliviar a tensรฃo com um tom mais leve.
โ A pessoa estรก bem na sua frente. โ Ela brincou, numa tentativa desesperada de fugir da preocupaรงรฃo esmagadora com o caos iminente.
โ Ah... vocรช estรก me ajudando a evitar isso. โ Ele disse com convicรงรฃo. โ Sempre hรก uma chance, mas nรฃo consigo imaginar vocรช fazendo isso. Mesmo sendo 99% sarcรกstica e irritada, seu 1% รฉ bem intenso.
โ Sabe que essa matemรกtica nรฃo faz sentido, nรฉ? โ Ela riu, franzindo a testa. โ 1% รฉ 1%, a intensidade nรฃo muda merda nenhuma.
โ Tudo bem, entรฃo preciso mudar a metรกfora. โ Cinco resmungou, divertido. โ Vocรช tenta mostrar para todo mundo que รฉ durona, impassรญvel, como se nรฃo se importasse com nada. โ Ele escolhia as palavras com cuidado, enquanto ela o ouvia atentamente. โ Mas, na verdade, morre de medo de que percebam que vocรช ainda รฉ gentil como sempre foi. E, acima de tudo, que vocรช tem medo de falhar.
Os olhos dele se fixaram nos dela, e Celeste desviou o olhar, disfarรงando ao encarar a avenida. Endireitou-se, visivelmente abalada.
โ Talvez vocรช tenha razรฃo. โ Ela deu de ombros. โ E sobre falharโฆ vocรช รฉ igualzinho.
โ Eu sei. โ Cinco murmurou. โ Passei muito tempo naquele inferno. Depois, mais um tempo tentando fugir da Comissรฃo. Toda a minha vida foi dedicada a isso... a impedir o apocalipse para que eu pudesse... โ Ele hesitou por um momento antes de completar: โ viver com vocรช.
โ E o que vocรช faria se eu causasse o apocalipse? โ Ela perguntou, a preocupaรงรฃo finalmente transbordando. Sabia que Cinco se sentiria frustrado se falhasse em sua missรฃo, mas... e se a culpa fosse dela? Tudo parecia possรญvel naquele ponto.
Ele se empertigou, claramente entendendo o medo dela, o medo de decepcionรก-lo. Cinco olhou para os carros passando, ponderando. Parecia estar elaborando um plano, procurando uma resposta que fosse verdadeira, nรฃo apenas reconfortante.
โ Eu nรฃo te mataria, Celly. โ Ele disse com seriedade, olhando diretamente para ela. โ Nunca me permitiria fazer isso. โ Balanรงou a cabeรงa negativamente, como se essa fosse uma decisรฃo que ele jรก havia tomado. โ Talvez eu me teleportasse para outra รฉpoca e te impedisse de causar o apocalipse. Mas jamais te machucaria.
โ Entรฃo concordamos que, se for alguรฉm da nossa famรญlia, nรฃo vamos matar. โ Ela disse, determinada. โ Impedir o fim do mundo รฉ importante, mas nรฃo podemos sujar as mรฃos com nossos irmรฃos. E... sinceramente, eu nรฃo conseguiria viver com isso.
โ Eu disse antes. Gentil como sempre. โ Cinco sorriu, genuinamente. Ele gostava de ainda conhecรช-la tรฃo bem. โ Eu gosto disso em vocรช.
Ela deu um sorriso contido, tentando esconder o quanto havia gostado daquilo. Adorava elogios, principalmente vindos dele.
Assim que os dois voltaram a atenรงรฃo para Allison, notaram que ela jรก havia terminado a ligaรงรฃo. Seu rosto estava marcado pelo nervosismo e pelo cansaรงo. Antes que pudesse disparar um "Por que nรฃo ficaram no carro?", Diego chegou com os documentos em mรฃos, exibindo um sorriso convencido.
โ E aรญ?! โ Allison perguntou, impaciente.
โ De nada! โ ele respondeu, balanรงando os papรฉis de forma provocativa. Allison, exausta demais para as picuinhas, pegou os documentos sem cerimรดnia.
Os trรชs ficaram ao redor dela, observando enquanto Allison folheava as pรกginas interminรกveis em busca de algo importante. E entรฃo, encontrou. Seus olhos se arregalaram ao ver a foto do causador do fim do mundo.
โ Puta merda! โ exclamou Allison, incrรฉdula, como se lutasse para processar o que estava diante de seus olhos. Celeste e Diego rapidamente se aproximaram, tentando entender o motivo da perplexidade.
โ O quรช? โ Diego perguntou, enquanto Allison mostrava o documento para eles.
โ Harold Jenkins รฉ o Leonard Peabody.
Celeste sentiu o estรดmago revirar, uma onda de nรกusea e pavor crescendo dentro dela. O coraรงรฃo batia acelerado, e eles se entreolharam, sabendo que a revelaรงรฃo era um golpe devastador. Vanya estava com ele hรก dias. Ela estava com o causador do apocalipse. E talvez tivessem que matar a pessoa que ela amava. Pensamentos sombrios invadiram a mente de Celeste: como Vanya reagiria ao saber disso? A irmรฃ, que confiava nos outros irmรฃos poderosos da Umbrella, agora se via na presenรงa do prรณprio causador do apocalipse. E seโฆ Vanya fosse a causa? Ela balanรงou a cabeรงa, em negaรงรฃo. "Como posso achar isso?!". Celeste sentiu um calafrio; tudo aquilo podia desabar como uma avalanche, tornando-se uma bola de neve sem controle.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
Nรฃo demorou muito para que todos comeรงassem a discutir. Allison revelou que jรก sabia o endereรงo de Leonard โ hรก dias desconfiava de seu carรกter duvidoso e queria provar a Vanya que ele nรฃo era quem parecia ser. Agora, mais do que nunca, precisava convencรช-la.
Decidiram partir para o endereรงo. Cinco fez questรฃo de dirigir desta vez, e Celeste ficou um pouco mais aliviada ao se sentar no banco da frente, com a visรฃo ampla da rua atravรฉs do para-brisa. Aquilo lhe dava uma sensaรงรฃo de controle e serenidade, mesmo que tรชnue.
Ao chegarem, desceram com cuidado, tensos. Nรฃo era exatamente medoโฆ mas o pensamento de que Leonard pudesse realmente ser uma ameaรงa global os mantinha atentos.
A casa era surpreendente. Alta, branca, com dois andares e amplas janelas. Transmitia um ar aconchegante, uma tรญpica casa de famรญlia. Para Celeste, era o tipo de lugar que sonhava em comprar depois de anos de trabalho, algo que, mesmo difรญcil, ela consideraria como um trofรฉu da sua prรณpria determinaรงรฃo.
โ Cuidado. Nรฃo sabemos do que Peabody รฉ capaz โ Allison advertiu, avanรงando com determinaรงรฃo pelo gramado verdejante.
โ Ele nรฃo parecia perigoso quando o vi โ comentou Diego, confiante. โ Parecia magrelinho, atรฉ.
โ ร, comparado a um monte de irmรฃos superpoderosos, ele deve ser bem inofensivo mesmo โ Celeste respondeu, de modo sarcรกstico. Cinco a observava e percebia como ela assumira novamente sua postura "durona", ainda que Leonard, de fato, nรฃo parecesse representar ameaรงa para ela.
โ Mas aparรชncias enganam, como a maioria dos psicopatas e assassinos em sรฉrie... tipoโฆ โ Cinco hesitou, depois indicou Diego com um leve aceno. โ Olha sรณ pra ele.
โ Valeu. โ Cinco resmungou, teleportando-se rapidamente atรฉ o lado de Celeste.
โ E o que esse cara quer com a Vanya? โ perguntou Diego, com uma expressรฃo de desconfianรงa. Apesar das diferenรงas e do atrito entre eles, a preocupaรงรฃo por Vanya era evidente.
โ Nรฃo sei. Por que a gente nรฃo perguntaโฆ depois de matรก-lo? โ Cinco respondeu, com uma ponta de arrogรขncia, a voz transparecendo um ciรบme contido em relaรงรฃo ร irmรฃ e sua ingรชnua confianรงa. Tentou avanรงar atรฉ a porta, mas Diego o segurou.
โ Olha, eu vou derrubar... โ Diego comeรงou a dizer, mas ao olhar para trรกs percebeu que Allison nรฃo estava mais ali. โ Seria bom se as pessoas seguissem o plan...ย โ sua frase foi cortada quando Cinco segurou firmemente o ombro de Celeste, e num piscar de olhos, teleportou-se com ela para dentro da casa.
Num instante, os dois estavam numa sala elegantemente decorada e acolhedora: piso de madeira polida, uma lareira clรกssica, paredes brancas e isoladas para o frio. Contudo, Celeste mal teve tempo de apreciar o ambiente; o teleporte repentino lhe causara uma forte tontura, e ela se sentiu nauseada.
Fazendo uma careta, Celeste levou a mรฃo ร cabeรงa, enquanto Cinco, notando seu mal-estar, a segurou.
โ Desculpa โ murmurou ele, os olhos arrependidos. Ele a puxou gentilmente para mais perto, acariciando seu rosto enquanto ela respirava fundo, tentando controlar a vertigem e acalmar a mente.
Num sรณ impulso, Diego se lanรงou contra o vidro da porta, quebrando-o completamente e caindo no chรฃo sobre os estilhaรงos, soltando um gemido de dor enquanto se contorcia ali.
โ Ah, isso foi รณtimo de ver โ a garota debochou, se apoiando no joelho. Agora que a pressรฃo arterial se estabilizava, ela esboรงou um sorriso presunรงoso.
โ Sutil โ comentou Allison, saindo da cozinha. Provavelmente havia entrado pela porta dos fundos. Com um ar de curiosidade, Cinco girou a maรงaneta da porta, verificando algo que jรก suspeitava.
โ Sabia que a porta tava aberta? โ perguntou, puxando a maรงaneta e revelando uma portaโฆ aberta. Diego, tentando disfarรงar, fez uma leve careta.
โ รโฆ deu no mesmo, do meu jeito โ ele deu de ombros, ainda cheio de si, mesmo levantando-se com um gemido de dor.
โ Na verdade, nรฃo deu nรฃo โ Celeste rebateu, lanรงando um olhar julgador. โ Me admira vocรช ser meu irmรฃo. Meu Deus.
โ Nรฃo saรญmos da mesma mรฃe โ retrucou Diego com o ar de provocaรงรฃo habitual.
โ Isso explica muita coisa โ Cinco acrescentou, irรดnico. Diego quase revirou os olhos, finalmente se levantando e seguindo em direรงรฃo ร cozinha.
โ Se separem e gritem se encontrarem problemas โ alertou Diego, como se o tombo recente nรฃo tivesse sido nada.
โ Inspirando a lideranรงa โ zombou Cinco.
โ Um dos melhores โ Allison sorriu. Era quase cรดmico ver Diego sempre tentando liderar e frequentemente se dando mal. โ As mulheres revistam o andar de cima.
โ Vocรชs que mandam โ Cinco respondeu, despreocupado, seguindo Diego em direรงรฃo ร cozinha.
Allison e Celeste, no pรฉ da escadaria, comeรงaram a subir. Moviam-se cautelosas, temendo cruzar com o dono da casa a qualquer momento. Subiram devagar, quase na ponta dos pรฉs. Quase chegando ao segundo andar, Allison lanรงou um olhar sorrateiro e malicioso para Celeste.
โ E aรญ, como estรก sendo com o Cinco? โ perguntou Allison, com um sorriso que deixava claro que sabia bem o que esperava da resposta de Celeste.
โ Ha ha. Eu sabia que vocรช ia trazer isso de novo โ murmurou Celeste, divertida. Respirou fundo ao chegarem no segundo andar e comeรงou a inspecionar os corredores. โ Eu nรฃo mudei de opiniรฃo.
โ Sรฉrio? โ Allison perguntou, cรฉtica. Nรฃo acreditava em nada do que Celeste dizia, pois era รณbvio a forma como os dois se olhavam. Ela comeรงou a vasculhar os quartos em busca de qualquer sinal do homem.
โ Serรญssimo. โ Celly deu de ombros. โ Sabeโฆ รฉโฆ complicado. โ Ela comentou, fechando a porta de um quarto vazio. Entรฃo, cruzou os braรงos e parou a busca, olhando para Allison. A irmรฃ tambรฉm parou de procurar, olhando para ela com seriedade, embora o sorriso leve no rosto indicasse um certo divertimento. โ Quando ele foi embora, a gente era um pouco maisโฆ mas isso foi hรก quatorze anos.
โ Isso nรฃo quer dizer nada. โ Allison deu de ombros, continuando pelo corredor. โ Vocรชs dois estรฃo solteirosโฆ
โ Amizade, Allison. โ Celeste afirmou, abrindo a porta de um dos cรดmodos e saindo logo apรณs ver que nรฃo havia nada ali.
โ Sabeโฆ โ Allison chamou a atenรงรฃo dela โ nem todo mundo tem a oportunidade de ser feliz com alguรฉm ao seu lado. Vocรช tem, e estรก desperdiรงando essa chance sรณ por nรฃo se permitir amar alguรฉm โ aconselhou. Ela entรฃo lhe lanรงou um olhar sรฉrio, estalando a lรญngua. โ Pensa nisso, maninha.
As palavras de Allison atingiram Celeste em cheio. Ela atรฉ abriu a boca, tentando responder, mas Allison jรก havia se afastado, deixando-a sozinha com seus pensamentos e com a desconfortรกvel sensaรงรฃo de que, em parte, a irmรฃ tinha razรฃo.
Com os cรดmodos jรก inspecionados, Celeste inclinou a cabeรงa para trรกs, suspirando de cansaรงo. Atรฉ que algo chamou sua atenรงรฃo: logo acima dela, avistou um alรงapรฃo. Franziu o cenho, inclinando a cabeรงa de lado. "Essa casa รฉ planejada mesmo", pensou, atรฉ soltando um breve sorriso ao se perceber distraรญda com a estrutura da casa em que estavam.
Celeste pulou, tentando alcanรงar a cordinha do alรงapรฃo. Soltar descargas elรฉtricas em Luther tinha comeรงado a afetรก-la: sua altura parecia limitada. Bufou frustrada e, pensando rรกpido, foi atรฉ o segundo quarto, de onde puxou uma cadeira da escrivaninha. Com esforรงo, carregou-a atรฉ embaixo do alรงapรฃo.
Posicionada ali, subiu cuidadosamente na cadeira, esticando-se atรฉ alcanรงar a cordinha. Quando Allison voltou, franziu o cenho, surpresa ao ver Celeste abrindo o alรงapรฃo. Assim que ele se abriu, o cheiro forte e repulsivo fez Celeste sentir uma nรกusea imediata.
โ Gente! โ Allison gritou, alarmada. โ Vocรชs tรชm que ver isso!
Os outros dois logo apareceram, subindo para o andar de cima, e os quatro entraram juntos no sรณtรฃo. O local parecia o quarto obsessivo de um fรฃ distorcido da Umbrella Academy. Pรดsteres antigos das crianรงas, agora com os rostos rabiscados, cobriam as paredes, e estantes de bonecos colecionรกveis preenchiam o ambiente.
Ao lado, uma visรฃo perturbadora: uma mulher asiรกtica de cabelos pretos estava morta, degolada, com seu violino guardado em um saco plรกstico. O corpo jรก estava em decomposiรงรฃo, e o cheiro insuportรกvel infestava o sรณtรฃo. Celeste sentiu o estรดmago embrulhar e a cabeรงa girar. Era coisa demais para assimilar num รบnico dia, e a cena era horripilante.
โ A julgar que essa casa pertence ao causador do apocalipse, isso รฉ bem macabro โ resmungou Celeste, apertando a mรฃo de Cinco, que jรก estava ao seu lado apรณs se teletransportar, num gesto silencioso de apoio.
โ ร, esse cara tem uns problemas sรฉrios โ comentou Diego, se aproximando dos bonecos. โ O que รฉ isso? โ perguntou, encarando as figuras com curiosidade.
โ Nunca teve nada a ver com a Vanya... murmurou Allison, refletindo, incrรฉdula. โ Era com a gente.
Celeste olhou para Cinco, sentindo a falta do sarcasmo dele, mas entรฃo percebeu que algo estava errado. Ele estava suando frio.
โ Cinco... vocรช estรก be-
Antes que ela pudesse terminar a pergunta, Cinco desabou no chรฃo. Suas pernas cederam de repente, e ele caiu com um gemido de dor, segurando o abdรดmen. Celeste sentiu o coraรงรฃo disparar. Ajoelhou-se rapidamente ao lado do amigo enquanto os outros se juntavam ao redor, preocupados.
Ela tentou levantar o suรฉter xadrez dele, mas Cinco resmungou, afastando suas mรฃos como se tentasse nรฃo preocupรก-la.
โ Deixa eu ver! โ pediu Celeste, insistente. Tirou as mรฃos dele dali, apesar dos protestos. Ao erguer o suรฉter, viu a camisa branca manchada de vermelho. โ Sangue? โ sussurrou para si mesma. Levantando a camisa, viu o ferimento ainda com cacos de vidro, provavelmente resultado das explosรตes que ele enfrentara na Comissรฃo.
โ Droga, Cinco! Por que nรฃo disse nada?! โ exclamou Diego, alarmado.
โ Temos que continuar โ murmurou Cinco, com a voz enfraquecida. โ Nรฃo queria preocupar... a Celly.
โ Mas que droga! โ Celeste resmungou, abaixando a camisa dele. โ Vamos para a Academia agora, e depois eu mesma mato esse desgraรงado.
Sem tempo para hesitar, o estado de Cinco piorou, e ele comeรงou a perder a consciรชncia. Diego rapidamente o pegou e o carregou atรฉ o carro, apressado. Celeste foi tomada por uma enxurrada de pensamentos negativos; odiava sentir-se vulnerรกvel daquela forma. Pediu para ficar ao lado de Cinco, mas Allison insistiu que ela dirigisse, temendo que Celeste, no banco de trรกs, ficasse nervosa demais.
Ela nunca havia acelerado tanto na vida. O clima dentro do carro era caรณtico: Allison, tentando acalmar a situaรงรฃo, pedia para todos ficarem quietos; Diego insistia para que ela fosse mais rรกpido, mesmo com o velocรญmetro quase no mรกximo; e Celeste, lutando para conter as lรกgrimas, dirigia com a visรฃo turva um enorme risco.
"E se eu perder ele de novo?", pensava ela, olhando pelo retrovisor para Cinco, desacordado, enquanto Allison tentava conter o sangramento. Celeste ultrapassava todos os carros possรญveis, buzinando, na esperanรงa de que os outros motoristas entendessem a urgรชncia.
O sol jรก estava se pondo, dando lugar ร lua, e o tempo parecia se esgotar. Suas mรฃos suavam de ansiedade, e Allison quase se arrependeu de tรช-la colocado no volante. Depois de vรกrios minutos, finalmente chegaram, e saรญram do carro ร s pressas: Diego e Allison pegaram Cinco com pouco cuidado, enquanto Celeste corria para abrir os portรตes e as portas da Academia. Diego tentou tranquilizar Celeste, mas a tensรฃo estava no ar, e o medo por Cinco parecia sufocar a todos.
โ Devรญamos ter levado ele para o hospital! โ exclamou Allison, com medo de que se complicassem ainda mais.
โ O problema รฉ que um garoto com um ferimento desses levantaria suspeitas โ respondeu Diego, firme.
โ ร, assim como a cena de assassinato no sรณtรฃo do Harold Jenkins โ rebateu Allison, sarcรกstica, enquanto deixava Cinco no sofรก da sala.
โ E o que vamos dizer ร polรญcia, porra?! Que invadimos a casa do causador do Apocalipse?! Tem noรงรฃo da loucura que isso parece?! โ Celeste gritou, ร beira de um colapso, seu desespero evidente, dificultando sua capacidade de raciocinar.
โ Tudo bem, tudo bem! โ resmungou Allison, respirando fundo para manter a calma. โ Ele estรก perdendo muito sangue. O que a gente faz?
โ Temos que tirar os estilhaรงos โ indicou Diego, levantando a camisa e o suรฉter de Cinco para revelar o ferimento.
Sem hesitar, Celly correu atรฉ o armรกrio da sala e pegou um dos muitos kits mรฉdicos que mantinham ali. Em meio ao caos, quase havia esquecido que Grace havia sido consertada. Quando viu Diego e a mamรฃe finalmente juntos, sentiu como se um peso enorme fosse tirado dos seus ombros. Grace, entรฃo, comeรงou a tratar do ferimento de Cinco, e Celly pรดde finalmente relaxar um pouco.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
Cinco estava deitado em sua prรณpria cama havia mais de vinte minutos, enquanto Grace terminava o curativo com precisรฃo.
Celeste, sentada numa poltrona prรณxima, observava-o dormir. Na porta, Diego e Allison conversavam em voz baixa sobre a situaรงรฃo, claramente preocupados. Cinco machucado, Vanya envolvida com um ex-presidiรกrio acusado de assassinato, o Apocalipseโฆ
Perdida em pensamentos, ela fixava o olhar em Cinco, que dormia tรฃo tranquilamente.
โ Celly? โ chamou Allison, parada junto a Diego na porta. โ Vamos sair para procurar a Vanya. Quer vir com a gente?
Mesmo que soubesse a resposta, Allison achava importante perguntar.
โ Nรฃo. Vou ficar aqui com Cinco โ respondeu ela, sem hesitar.
Allison assentiu, e desceu as escadas com Diego. Grace, ao terminar os curativos, tambรฉm saiu do quarto, deixando-os a sรณs.
A noite estava fria, e Celly pegou um cobertor para cobrir Cinco, notando os pelos dele eriรงados pelo frio. Um gesto de carinho, compensando a sensaรงรฃo de impotรชncia por nรฃo ter feito mais por ele. Voltou ร poltrona e se enrolou em outro cobertor, mas seu pรฉ balanรงava incessantemente, reflexo da ansiedade.
Instintivamente, segurou o colar que Cinco lhe dera anos atrรกs e soltou um suspiro pesado, absorvendo o peso de tudo que estavam enfrentando.
Depois de algum tempo, o cansaรงo a venceu, e ela adormeceu, com a cabeรงa tombada para trรกs. Quando acordou, o cรฉu comeรงava a clarear, e Cinco ainda dormia.
Observรก-lo ali, tรฃo calmo, tinha algo de encantador. Talvez atรฉ mais do que vรช-lo cochilando na van dias atrรกs. Ele estava deitado de lado, os cabelos bagunรงados, o semblante sereno, como se o mundo em ruรญnas ao redor nรฃo existisse. A garota sorriu ao vรช-lo assim, aliviada por aquele momento de paz depois de tantos dias de tensรฃo.
Antes de sair, deixou um beijo suave em sua testa e foi se arrumar para enfrentar mais um dia que, provavelmente, seria exaustivo.
Enquanto se trocava apรณs o banho, ela refletia sobre o quanto sua vida havia mudado. Se, hรก uma semana, alguรฉm do futuro lhe dissesse que Reginald morreria, Cinco voltaria, e que eles estariam lutando para impedir o Apocalipse, ela teria rido da ideia.
Descendo as escadas, encontrou Cinco jรก na cozinha, roubando a xรญcara de cafรฉ das mรฃos de Luther assim que ela entrou. Aquele pequeno momento de normalidade, entre as paredes da cozinha, parecia, por um breve instante, reconfortante.
Klaus estava estranhamente mais animado do que o habitual. Jรก Luther exibia uma expressรฃo terrรญvel, claramente de ressaca. Celeste arqueou as sobrancelhas, intrigada com a possibilidade de ele ter se embebedado โ algo que ele sempre condenava, sendo o mais "certinho" da famรญlia.
Ela se acomodou ao lado de Cinco, que rapidamente pegou uma nova xรญcara e serviu cafรฉ para ela.
โ Bom dia โ ele disse, com um sorriso leve que nรฃo conseguia esconder a inquietaรงรฃo em seus olhos.
โ Bom dia. Conseguiu dormir bem? โ perguntou Celeste.
โ Ah... sim โ Cinco respondeu, dando de ombros e suspirando. โ Desculpa por nรฃo ter avisado vocรชs.
โ Tudo bem, sรณ fiquei preocupada โ ela disse, pegando a jarra de cafรฉ e enchendo sua xรญcara. โ Mas, por favor, nรฃo faz isso de novo โ completou, encarando-o. Cinco baixou o olhar, claramente desconcertado.
โ Nรฃo vou fazer mais โ ele prometeu, engolindo em seco ao perceber a intensidade da preocupaรงรฃo dela. Tentando quebrar o clima tenso, levantou a xรญcara e brincou: โ Um brinde ao cafรฉ feito porโฆ sei-lรก quem.
Celeste acompanhou o gesto, ambos levando o cafรฉ ร boca apenas para, no instante seguinte, fazerem careta. Ela cuspiu o cafรฉ de volta na xรญcara, enquanto Cinco, com muito esforรงo, engoliu a bebida.
โ Eca! Quem eu tenho que matar pra conseguir um cafรฉ decente por aqui?! โ Cinco resmungou, incrรฉdulo.
โ Dessa vez nรฃo fui eu que fiz! โ Celeste se defendeu, afastando a xรญcara com expressรฃo de repulsa.
โ Dรก pra gente comeรงar, por favor? โ Luther pediu, com voz cansada.
โ Alguรฉm viu os outros? Diego, Allisonโฆ nada? โ Klaus perguntou, visivelmente desapontado. Ele realmente parecia querer todos ali, reunidos.
โ Eles saรญram ontem para procurar a Vanya โ Celeste respondeu, estranhando a sรบbita necessidade de "reuniรฃo" de Klaus.
โ Okay, isso รฉ o mais prรณximo de um fรณrum que vamos ter โ disse Klaus, batendo na mesa com um objeto qualquer, fazendo Luther fazer uma careta. โ Escutem! Nรฃo tem jeito fรกcil de dizer isso, entรฃo eu vou direto ao ponto.
โ Nem quero imaginar o que vem agora โ Celeste murmurou, com sarcasmo. Cinco fez uma leve careta, mas manteve os olhos atentos em Klaus.
Os trรชs irmรฃos aguardaram em silรชncio, mas a demora de Klaus em comeรงar o que tinha a dizer jรก estava deixando Celeste impaciente. Entre o cafรฉ horrรญvel e o mau humor de Luther, a manhรฃ nรฃo prometia.
โ Klaus, fala logo! โ ela o pressionou.
โ Eu... falei com o papai ontem ร noite โ ele finalmente revelou, fazendo todos se entreolharem.
โ Achei que vocรช tinha dito que nรฃo conseguia invocar ninguรฉm hรก anos โ Luther murmurou, confuso.
โ Pois รฉ... Mas eu estou sรณbrio โ respondeu Klaus, sorrindo como se tivesse dado a melhor notรญcia do mundo e erguendo as mรฃos, como se esperasse aplausos.
โ Uau. Essa รฉ realmente uma boa notรญcia โ Celeste disse, sem conseguir disfarรงar seu tom รกcido. Embora estivesse genuinamente feliz por ele, seu humor a traiu, tornando o comentรกrio irรดnico.
โ Eu fiquei puro ontem para falar com alguรฉm... especial. E, com isso, consegui ter uma conversa com o nosso querido pai em pessoa โ explicou Klaus. Luther e Cinco trocaram olhares novamente, enquanto o loiro suspirava, sem acreditar muito nas palavras de Klaus.
โ Alguรฉm tem uma aspirina? โ Luther pediu, ignorando completamente o assunto.
โ Do lado do biscoito โ Cinco respondeu com indiferenรงa.
โ Gente! Isso รฉ sรฉrio! Aconteceu de verdade! Juro! โ Klaus protestou, soltando um suspiro frustrado.
โ Tรก bom, legal.Vou brincar โ Cinco respondeu, esboรงando um sorriso cรญnico. โ O que o velho tinha pra dizer?
โ Bom, ele me deu aquele sermรฃo de sempre sobre minha aparรชncia, meus fracassos e blรก-blรก-blรก... Nada de novo. Nem a vida no alรฉm conseguiu amolecer o coraรงรฃo de pedra do papai โ resmungou Klaus, revirando os olhos. โ Mas ele mencionou algo sobre... a morte dele.
Klaus fez uma pausa dramรกtica. Celeste franziu o cenho, Cinco lanรงou um olhar intrigado para ela e Luther observou Klaus com mais atenรงรฃo do que antes.
โ โฆ ou melhor, a falta de uma, porqueโฆ ele se matou.
A cabeรงa da garota latejou de repente, como se fosse explodir. Ela soltou um gemido de dor, levando a mรฃo ร testa enquanto a visรฃo se completava em sua mente. Isso sempre acontecia quando as visรตes surgiam borradas e incompletas, deixando apenas um leve desconforto e uma tontura. Mas agora era diferente โ tudo fazia sentido de repente.
Cinco percebeu o que estava acontecendo e segurou seu rosto com delicadeza, obrigando-a a focar nele. Celeste foi voltando aos poucos, ainda resmungando da dor. Luther e Klaus, que nรฃo estavam acostumados com esse tipo de cena, ficaram alarmados, embora Luther estivesse cansado demais para demonstrar preocupaรงรฃo, jรก irritado com o clima pesado e a dor de Celeste.
โ Nรฃo tenho tempo para a brincadeira de vocรชs dois โ Luther murmurou, levantando-se e contornando a mesa, enquanto Celeste finalmente respirava fundo, tentando controlar a respiraรงรฃo.
โ Ele nรฃo estรก mentindo โ disse ela, fixando o olhar nos olhos azuis de Luther, com Cinco a observando, visivelmente preocupado. Luther parou, esperando uma explicaรงรฃo. โ Tive uma visรฃo. Foi sรณ por isso que eu voltei.
โ Tรก brincando, nรฉ, Celly? โ Cinco perguntou, incrรฉdulo. Ele se sentiu frustrado, pensando em como ela havia guardado uma visรฃo perigosa por tanto tempo. Em seguida, percebeu a hipocrisia do prรณprio pensamento, jรก que fizera algo parecido no dia anterior.
โ Nรฃo โ respondeu ela, voltando ao seu lugar com um suspiro desconfortรกvel. โ A visรฃo agora se completou com o que Klaus disse. Tudo faz sentido. Ele estรก certoโฆ mais ou menos.
โ O que vocรช tรก falando? โ Luther perguntou, confuso. โ O que tinha na visรฃo?
โ Ahโฆ โ Ela fechou os olhos com forรงa, tentando lembrar dos detalhes. โ Chรก envenenadoโฆ ele sabia, claro. Ele e o Pogo ligaram as cรขmeras de seguranรงaโฆ ele se matouโฆ e entรฃo entregou o monรณculo para mamรฃe.
โ Sabia de tudo isso?! โ Luther indagou, incrรฉdulo, enquanto a raiva crescia em seus olhos. โ Por que fez isso? Eu estava certo desde o comeรงo, e vocรช nรฃo falou nada para os outros!
โ Ah, sim. โ Ela deu de ombros, lanรงando-lhe um olhar frio e um sorriso falso que sรณ fazia aumentar a irritaรงรฃo dele. โ Me desculpe por nรฃo querer defender a pessoa que dias depois tentou me matar. Lo siento.
โ Mas antes disso?! E-euโฆ
โ Luther, cala a boca โ Cinco resmungou, exasperado. โ ร nossa irmรฃ. Vocรช sรณ se preocupa porque os outros duvidaram de vocรช? Faรงa-me o favor. โ Ele revirou os olhos, e Luther travou o maxilar, claramente se contendo. โ Vocรช estรก bem agora, nรฃo estรก? โ Cinco perguntou, focando nos olhos castanhos dela.
โ Sim. Sรณ foi horrรญvel na horaโฆ como sempre. A sensaรงรฃo de estar sendo eletrocutada e a dor de cabeรงa que parece que vou explodir de dentro pra fora โ Celeste respondeu, exausta. โ Mas fisicamenteโฆ sรณ um corte no rosto.
Cinco suspirou, aliviado, e virou-se para Klaus, que agora estava com a mรฃo na cintura, com um olhar pensativo.
โ Por que ele fez isso? โ Cinco questionou, ainda confuso.
โ Ele disse que era a รบnica forma de nos reunir.
โ Papai nรฃo ia se matar assim โ Luther disse, com a confianรงa de sempre em sua visรฃo sobre o pai. Celeste revirou os olhos.
โ Atรฉ parece que vocรช sabia muito sobre ele โ ela comentou com ironia.
โ Vocรช mesmo disse que ele estava deprimido โ Cinco argumentou. โ Enfornado no escritรณrio o dia todo.
โ Nรฃo, nรฃo havia sinal algum. Pessoas suicidas apresentam certas tendรชncias. Comportamentos estranhos.
โ Tipo mandar o prรณprio filho pra lua? โ Celeste debochou. โ Ele praticamente nรฃo tinha mais ninguรฉm. Vocรช na lua, eu com รณdio, Diego fora de casa, Allison famosa. Ben jรก se foi hรก tempos, e Cinco reapareceu recentemente. Vanya estava dando aulas de violino para crianรงas e provavelmente nรฃo voltaria tรฃo cedo, nรฃo depois do livro.
Luther suspirou profundamente, como se sentisse seus argumentos desmoronando.
โ Odeio aquele livro โ Klaus murmurou.
โ Eu juro por Deusโฆ se vocรชs dois estiverem errados...
โ A gente nรฃo tรก! โ Celeste retrucou, a paciรชncia jรก no limite. "Mas que merda de homem teimoso!"
Antes que a discussรฃo se intensificasse, uma voz familiar ressoou na porta da cozinha, interrompendo o momento.
โ Eles estรฃo certos โ Pogo afirmou, entrando na cozinha com passos calmos, observando os quatro com cautela.
โ Sabia sobre isso? โ Luther perguntou, ainda mais confuso.
โ Eu literalmente acabei de dizer que ele e o papai ligaram as cรขmeras โ Celeste disse, revirando os olhos.
โ Euโฆ lamentavelmente, ajudei o senhor Hargreeves a executar seu plano โ Pogo confessou, abaixando a cabeรงa.
โ O quรช? โ murmurou Luther, atรดnito. Nรฃo conseguia acreditar naquela informaรงรฃo. Olhava para o chimpanzรฉ como se tivesse sido traรญdo profundamente.
โ Assim como a Grace, foi uma decisรฃo difรญcil para nรณs dois โ Pogo disse, finalmente saindo da porta e se aproximando dos outros. Sua calma era quase perturbadora, o rosto inexpressivo, mas os olhos carregavam uma resignaรงรฃo profunda. Ele parecia ter feito aquilo porque acreditava que era seu dever, que devia isso ao homem que lhe dera um propรณsito. โ Mais difรญcil do que vocรชs poderiam imaginar. Antes da morte do pai de vocรชs, o sistema da Grace foi ajustado para que ela fosse incapaz de prestar primeiros socorros naquela noite fatรญdica.
โ Que toloโฆ โ Celeste murmurou, desapontada, enquanto Cinco resmungava um "velho maluco". Embora jรก suspeitasse dos planos de Reginald, ouvir Pogo confirmar aquilo com tanta serenidade tornava tudo mais intenso. A tensรฃo entre eles era palpรกvel.
โ Entรฃo aquelas imagens de seguranรงaโฆ โ Luther balbuciou, comeรงando a entender o plano de seu pai. Estava perplexo.
โ Serviram para fomentar o mistรฉrio do assassinato.
โ Para nos manter presos aquiโฆ โ Celeste completou, e Pogo assentiu.
โ Seu pai acreditava que ter vocรชs reunidos aqui, investigando juntos, reacenderia o desejo de serem um time novamente.
โ E pra quรช?! โ Cinco perguntou, incrรฉdulo. Para ele, nada fazia sentido.
โ Para salvarem o mundo, รฉ claro!
"Salvar o mundoโฆ como Reginald sabia disso?", Celly se questionou.
โ Primeiro a missรฃo na lua e agora issoโฆ โ Luther disse, quase sem acreditar, olhando diretamente para Pogo. O desapontamento transparecia em cada linha de seu rosto; o desconforto da bebida havia sido completamente substituรญdo pela sensaรงรฃo amarga de traiรงรฃo. โ Vocรช me viu procurando respostas e nรฃo me disse nada. Quer compartilhar mais algum segredo, Pogo? Mais alguma coisa?
โ Lรก vai o maluco por atenรงรฃo paterna culpar quem nรฃo tem nada a ver com isso, ao invรฉs de finalmente perceber que o papai era um babaca. โ Celeste murmurou, sem paciรชncia, um sorriso satisfeito surgindo em seus lรกbios ao ver Luther irritado.
โ Calma, Luther! โ pediu Klaus, tentando amenizar.
โ Nรฃo, eu nรฃo vou me acalmar. Fomos enganados pela รบnica pessoa na famรญlia em quem confiรกvamos.
โ Foi o รบltimo desejo do seu pai, senhor Luther โ argumentou Pogo, com um toque de pesar na voz. โ Eu nรฃo tive escolha.
Luther se aproximou, encarando-o firmemente, e murmurou algo como "sempre existe uma escolha" antes de sair da cozinha em passos firmes. Pogo o seguiu, deixando o restante na tensรฃo daquele ambiente.
Cinco suspirou pesadamente. โ Eu preciso pensar โ murmurou, e num instante desapareceu, deixando Celeste sozinha com Klaus.
Ela se largou na cadeira, exausta, jogando as pernas sobre a mesa de forma desajeitada. Sentia que precisava de uma pausa, mas Klaus parecia distraรญdo, olhando para o nada e, em seguida, fazendo caretas, como se estivesse falando com alguรฉm. Finalmente, ele quebrou o silรชncio.
โ O Ben perguntou o que tรก rolando entre vocรช e o Cinco.
Celeste olhou ao redor, franzindo a testa, e tirou os pรฉs da mesa, desconfortรกvel. Agora estavam sรณ eles dois na cozinha: Klaus, que sabia de tudo o que ela havia passado com o melhor amigos, e ela, tentando negar constantemente seus sentimentos.
โ Eu nรฃo perguntei nada โ confessou Ben, invisรญvel a ela.
โ Shh, cala a boca โ Klaus respondeu ao fantasma, deixando claro para Celeste que Ben realmente estava ali, mesmo naquele estado etรฉreo. Ele apoiou os cotovelos na mesa e observou Celeste com uma intensidade que quase a fez se sentir desconcertada.
โ Tem certeza de que รฉ o Ben quem quer saber sobre isso? โ ela perguntou, levantando as sobrancelhas, cรฉtica. Conhecendo o Seis, sabia que ele nรฃo era de fofocas โ a menos que fosse uma realmente boa, daquelas de acelerar o coraรงรฃo.
โ Ah, tenho sim. โ Klaus mentiu descaradamente. โ Ele estรก super curioso sobre esse assunto.
โ Ahโฆ bom, รฉ complicado โ Celeste resmungou, olhando para as prรณprias mรฃos. โ Eu viveria com ele facilmente. Mas somos sรณ melhores amigos โ acrescentou, tentando soar indiferente, mas suas palavras soavam vazias atรฉ para ela. Nem ela acreditou no que disse.
โ Amigosโฆ โ Klaus repetiu, desconfiado, enquanto tomava um gole de cafรฉ. โ Sabia que existe amizade colorida?
Celeste fez uma careta, tentando conter um riso nervoso.
โ Ah, eu nรฃo vou falar sobre sexo com vocรช-
โ Sabe, seria รณtimo pra desestressar essa tensรฃo toda que vocรชs dois tรชm de sobra e-
โ Klaus! Meu Deus! โ Celeste exclamou, os olhos arregalados, engasgando de vergonha. โ Definitivamente, nรฃo vou mais tocar nesse assunto com vocรช! โ disse, saindo da cozinha com as mรฃos levantadas, enquanto ele gritava atras dela algo com: "sexo รฉ tรฃรฃรฃรฃรฃo bom!"
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
Depois da conversa extremamente constrangedora com Klaus, ela subiu apressada pelos andares, determinada a encontrar seu melhor amigo. E o avistou no quarto, com a porta aberta, terminando de vestir o uniforme.
โ Sabia que existe chave nas portas, nรฉ? โ perguntou, carregando uma ironia no tom, enquanto ele abotoava a camisa social com tranquilidade. Com a gravata pendurada despreocupadamente ao redor do pescoรงo, ele vestiu o pulรดver com calma.
โ Sabia โ respondeu ele, dando de ombros e puxando o blazer. โ Mas nรฃo achei que vocรช ia subir depois daquela conversa estranha com o Klaus.
O rosto dela corou no mesmo instante, uma sensaรงรฃo incรดmoda tomou seu estรดmago, e o coraรงรฃo parecia estar prestes a explodir. โMas que bisbilhoteiro desgraรงadoโ, pensou, indignada. Tentou ignorar a vergonha que borbulhava dentro de si, fingindo que nada havia acontecido.
โ Gravata. โ Ele pediu, dando um passo ร frente. Agora estavam frente a frente, e ela sentia a parede bem prรณxima ร s suas costas. Ele a encarava com um olhar de quem espera pelas suas mentiras, um sorriso malicioso no rosto. Ela se aproximou, ligeiramente desconcertada.
โ N-nรฃo tivemos nenhuma conversa estranha โ ela afirmou, mas a gagueira fez sua defesa soar frรกgil, sem credibilidade. Com mรฃos firmes, ela comeรงou a fazer o nรณ da gravata com a precisรฃo de sempre.
โ Vocรช รฉ pรฉssima mentindo โ disse ele, se aproximando ainda mais, enquanto apoiava o braรงo ao lado da cabeรงa dela, prendendo-a contra a parede. Ela sorriu, quase desafiadora, embora por dentro estivesse completamente desorientada. Manteve a pose de quem domina a situaรงรฃo.
โ Vocรช acha? โ Ela arqueou as sobrancelhas, os olhos exibindo uma falsa inocรชncia ao encarรก-lo de baixo, fazendo um leve beicinho, como se ficasse ofendida com a acusaรงรฃo. Seu coraรงรฃo batia descompassado.
Ele umedeceu os lรกbios, hipnotizado. Os olhos dela tinham um brilho castanho profundo, a falsa inocรชncia que ele conhecia bem. A troca de olhares era intensa, uma familiar tensรฃo pairava entre eles. Ele olhava para os lรกbios dela, recordando o quanto desejava tocรก-los, como na noite anterior ร sua partida para o apocalipse.
Cinco afastou delicadamente uma mecha dos cabelos dela que caรญra sobre o rosto, colocando-a atrรกs da orelha. O gesto foi suave, cuidadoso, como no dia em que se beijaram. Ela sentiu um frio na barriga e, sem perceber, segurava a gravata dele com um pouco mais de forรงa. Ele percebeu, quase se inclinando para mais perto, mas hesitou. Ao invรฉs disso, a mรฃo que repousava no cabelo dela deslizou para sua cintura.
Ele apertou a cintura dela suavemente, desviando o olhar por um instante, como se lembrasse de manter a linha tรชnue que os separava. Ela sorriu, mas o olhar carregava uma pitada de provocaรงรฃo.
โ Vocรช รฉ linda โ ele murmurou, com uma sinceridade que a fez corar instantaneamente. โ Especialmente quando tenta manter o controle.
Ela ficou completamente desconcertada, desviando o olhar, enquanto ele terminava de arrumar a gravata sob o pulรดver, com um sorriso satisfeito.
โ ร. Vocรช atรฉ que mente bem. Se eu nรฃo te conhecesse, diria que vocรช nรฃo gostou disso โ disse ele com um sorriso desafiador. Assim que ele deixou o quarto, ela soltou o ar que mal percebeu estar prendendo e quase gritou em silรชncio, num surto de pura adrenalina. Recompondo-se rapidamente, o seguiu.
โ Foi sรณ brincadeira, Sunshine. Igual vocรช disse pro Klausโฆ somos sรณ amigos โ rebateu ele, a voz carregando uma ponta de amargura disfarรงada.
โ ร... amigos โ respondeu ela, quase arrependida de dizer isso ao ver a expressรฃo dele escurecer. Tentando dissipar o embaraรงo, acrescentou: โ Podemos mudar de assunto?
โ Certo, mudando de assunto. Temos um mundo pra salvar, e vou chamar o Klaus pra ajudar.
โ Tem certeza de que ele รฉ a melhor opรงรฃo?
โ Nรฃo, mas precisamos de todos. Vem comigo? โ Ele estendeu a mรฃo, pronto para descer as escadas.
Ela nรฃo disse nada, apenas pegou na mรฃo dele, acompanhando-o, enquanto o pensamento ecoava em sua mente: seria perfeito se ele tivesse a mesma atitude que no primeiro beijo deles.
Mais um capรญtulo! espero que tenham gostado!
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Bjos e atรฉ a prรณxima postagem ๐
revisรฃo concluรญda โ๏ธ ๐
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