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𝐓𝐎𝐎 𝐄𝐀𝐒𝐘

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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐄𝐋𝐄𝐕𝐄𝐍

𝐓𝐎𝐎 𝐄𝐀𝐒𝐘





PORCARIA! — Klaus resmungava, trancado em seu quarto, imerso em suas queixas e auto-piedade. Foi então que Celeste e Cinco apareceram, interrompendo-o ao bater no batente da porta.

— Levanta! — ordenou Cinco, entrando sem a menor cerimônia. Não parecia se importar com o que Klaus achava. — Vamos.

— Aonde? — Klaus perguntou, exasperado, já sabendo que não ia gostar.

— Salvar o mundo — Celeste deu de ombros, encostada na porta com os braços cruzados. Uma sobrancelha levantada, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Ah... só isso. Que maravilha — ele suspirou, se sentando com um ar de desânimo. Parecia resignado, mas ainda havia algo cansado em seus olhos.

— Então… Pogo disse que o papai se matou só para nos reunir de novo, certo? — comentou Cinco, começando a traçar sua linha de raciocínio. Desde que ele e Celeste saíram do quarto, ele vinha tagarelando sobre Pogo e Reginald, questionando a visão dela, buscando respostas. Sua mente era um caos.

— Tá... e daí? — Klaus perguntou, visivelmente confuso. Ele não estava no humor para ouvir, mas também não tinha saída.

— Isso me fez pensar: eu viajei pro futuro para descobrir o que aconteceu, mas o papai… ele não viaja no tempo. Como ele sabia que tinha que morrer uma semana antes do fim do mundo?!

— Bom, sabe como é... — Klaus tentava encontrar uma explicação, relutante. Celeste já havia falado sobre isso com ele. Sua resposta, meio vaga, foi algo como "Vai ver ele não sabia do apocalipse iminente. Só achou que estava na hora."

— Não responde, isso foi meramente retórico — Cinco interrompeu, deixando Klaus com uma expressão de tédio. — A verdade é que ele sempre nos dizia que salvaríamos o mundo de um apocalipse iminente.

— É, mas eu achava que era só uma desculpa pra fazer a gente lavar a louça — respondeu Klaus, calçando os sapatos, já imerso na conversa com o irmão.

— Eu também! — Celeste concordou, saindo do batente da porta e se pendurando no braço de Cinco. Ele sorriu de leve, sentindo a cabeça dela apoiada no bíceps. — Mas e se o papai realmente sabia que isso aconteceria?

— Como ele saberia? — Klaus perguntou, mais confuso ainda. Nada daquilo parecia fazer sentido para nenhum deles.

— Não sabemos — Cinco deu de ombros, visivelmente incomodado. — Mas o fato é que o plano dele funcionou. Por mais estúpido que fosse.

— Plano estúpido, é? — Celeste ironizou, levantando o olhar para encará-lo. — Se ele realmente previu o apocalipse, como vocês dizem, quem garante que ele não sabia de coisas ainda maiores? — Ela declarou, seus olhos escurecidos pelo temor. Que poder Reginald teria? — Isso vai… muito além do fim do mundo.

Cinco e Klaus trocaram um olhar, ponderando. Cinco deu de ombros:

— Talvez tenha razão. Mas o que poderia ser maior que o apocalipse? Alguma ideia?

— Nada — Klaus resmungou.

— Nem imagino — Celeste suspirou, derrotada.

— Já que estamos aqui e tudo isso tá ao nosso alcance, por que não salvar o mundo? — Cinco deu de ombros e se dirigiu para a porta, seguido automaticamente por Celeste.

— Ah, é?! Quem? Nós três? — Klaus debochou, com um meio sorriso cínico.

— Tenho que trabalhar com o que tenho — Cinco devolveu, um tom de preocupação escondido na voz. Ele e Celeste seguiram para fora, e Klaus levantou-se a contragosto, pegando sua camisa enquanto os acompanhava.

Não demorou mais de dez segundos para cruzarem o corredor, mas foram interrompidos por Diego, que passou correndo em direção ao próprio quarto. Ele entrou apressado, atirando o casaco em qualquer lugar.

— Onde é que você estava? — Celeste perguntou, confusa. Ele já devia ter voltado há tempos.

— Na cadeia — Diego revirou os olhos. Os outros três o encararam, atônitos. Percebendo isso, ele completou com desdém: — Longa história. Onde tá o Luther?

— Onde tá a Allison?! — Celeste rebateu, ignorando a pergunta dele.

— Responde a minha pergunta primeiro — Diego disse, apressado.

— Não vemos ele desde o café — Cinco respondeu, indiferente.

— É, dois dias pro fim do mundo, e ele decide sumir do mapa — Klaus resmungou, sarcástico.

Diego se apressava, pegando equipamentos e organizando suas armas, sem olhar para os outros, que esperavam alguma explicação para tanta pressa.

— Ah... merda — murmurou ele, o rosto claramente preocupado. Ele mal conseguia formar as palavras direito de tanta pressa. — Allison tá em perigo.

— O quê?! — Celeste exclamou, incrédula. "Como eles foram irresponsáveis a ponto de se separarem? Eram pra cuidar um do outro!", pensou.

Os três seguiram Diego, que saiu da academia em direção ao carro. Enquanto estavam a caminho, ele explicou a situação: foi preso sob a acusação do assassinato de Patch, um caos, e Allison teve que ir atrás de Leonard e Vanya sozinha. A preocupação com Allison se intensificou para Celeste; agora, ambas as garotas poderiam estar em apuros. Ela se sentiu imediatamente culpada. Se tivesse ficado com eles, Allison não estaria sozinha agora. Afinal, uma dupla é sempre melhor que um, certo?

Klaus e Celeste sugeriram que Luther poderia estar bebendo em algum bar, considerando o estresse que a situação recente com Pogo trouxe a ele. Embora relutantes, Cinco e Diego concordaram em checar os bares. O palpite de Klaus estava certo: encontraram Luther em um bar na quinta avenida, com uma bebida na mão, sentado em uma mesa no canto.

Eles desceram do carro e entraram no bar, o ambiente mal iluminado e de aparência desgastada. Celeste franziu o nariz, observando em volta. "Sou exigente demais, ou esse lugar é realmente horrível?", pensou, chocada.

— Olha lá! — Klaus disse, apontando para o loiro, como se dissesse: "Eu falei que ele estava aqui. Viram só?"

Os outros três se apressaram em direção ao bar, deixando Klaus para trás. Ele foi se aproximando mais devagar, sem perder a chance de provocar Luther:

— Bebendo para curar a ressaca, hm?

— Me deixem em paz — Luther resmungou, tomando mais um longo gole de sua cerveja.

— Me deem um minuto — Diego pediu, seus olhos fixos e firmes. Ele sabia que a presença dos outros, especialmente de Celeste, só dificultaria a conversa. Sem esperar, ele colocou as coisas sobre a mesa e se sentou diante do irmão.

— Ok, vamos lá. Talvez fiquem se lamentando até a morte — Klaus comentou com sarcasmo, saindo com Cinco e Celly, que caminhava ao lado deles em silêncio, tentando manter a expressão calma, mas travando uma batalha interna para não demonstrar sua angústia.

Ela lançou um olhar de relance para trás, vendo Diego falar seriamente com Luther, batendo na mesa para dar ênfase. Porém, em poucos minutos, Luther explodiu, levantando-se da mesa e gritando com Diego:

— Era pra você estar no comando! Meu Deus!

Os três imediatamente correram atrás de Luther, que, em sua pressa, arrancou a porta do bar ao sair. Ele já estava decidido a encontrar Allison e foi direto para o carro, com uma determinação inabalável.

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A propriedade ficava muito mais longe do que os quatro imaginavam, e Cinco dirigia acima da velocidade, tentando chegar o mais rápido possível. Quando finalmente chegaram, já era noite, e o vento soprava, balançando as folhas das árvores, o som tranquilo contrastando com a ansiedade que crescia entre eles.

Celeste não perdeu tempo. Destrancou a porta do carro e saiu correndo na direção de uma cabana de madeira ao longe.

— Allison! — ela gritou, subindo os degraus da varanda. O lugar estava estranho, quieto demais. Seu coração acelerava enquanto continuava chamando o nome da irmã, torcendo desesperadamente para encontrá-la bem.

Ela entrou pela porta da frente e congelou ao ver a cena: Allison estava estirada no chão, coberta de sangue.

O estômago de Celeste revirou, seu coração congelando diante do corpo imóvel da irmã, os olhos abertos e vazios. Ela ficou paralisada, sua visão em câmera lenta, enquanto os outros entravam na cabana e também se horrorizavam com a cena.

Ver Luther tentando falar com Allison, em prantos, e Klaus com um olhar de puro terror foi devastador. Celeste sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto. Tentava falar, mas só conseguia soluçar, sua voz falhando enquanto se segurava para não desmoronar.

Ela já havia tirado vidas, muitas vezes. Nunca se sentiu bem com isso, mas era diferente ver alguém que ela amava nesse estado. Matar um estranho, conhecendo seus pecados, era uma coisa; ver uma amiga de infância, quase morta, com a camisa ensopada de sangue e um corte profundo na garganta, a dor visível mesmo em sua quietude, era insuportável.

Celeste nunca quis ser o que se tornou. Ela sabia que não era inocente e que matar, mesmo sob o pretexto de chamar a atenção de seu pai, não a tornava uma pessoa melhor. Mas ali, naquela sala, vendo Allison tão vulnerável, ela sentiu uma profunda empatia pelas pessoas que, um dia, também perderam alguém querido por sua própria causa.

Luther rapidamente pegou Allison nos braços e a levou para o carro. Dessa vez, dirigiu ainda mais rápido que Cinco, enquanto Celeste tentava estancar o sangramento com um pedaço de sua própria camisa, o coração disparado. Durante a viagem, o ambiente no carro era um caos; Luther culpava Diego, Cinco mandava todos calarem a boca, e Celeste, desesperada, só queria que Allison sobrevivesse.

Quando finalmente chegaram, Grace foi chamada imediatamente para ajudar. Todos correram para a sala de medicação, onde, na infância, eram tratados de machucados, e Allison foi colocada em uma maca. A ansiedade dominava a todos. Era tarde demais? Como ela ficaria? Celeste sentia um ódio ardente por Leonard Peabody.

O ambiente entre os irmãos era de desespero; cada um queria ajudar de algum jeito, mesmo que alguns estivessem de mãos atadas.

— Ela sofreu uma laceração grave na laringe. Um de vocês vai precisar doar sangue — anunciou Grace após examinar o ferimento. Embora visivelmente aflita, a expressão de Grace transmitia uma calma firme que sempre os reconfortava.

Todos se ofereceram ao mesmo tempo.

— Eu vou doar — disse Luther com firmeza, mais alto que os outros, tirando o casaco e deixando o braço à mostra.

— Infelizmente, isso não será possível, meu querido — interveio Pogo. — Seu sangue é mais compatível com o meu.

Luther fechou o rosto, frustrado por não poder ajudar. Ele recuou, dando espaço para que os outros se oferecessem.

Luther tinha sido uma vítima inocente dos experimentos de seu próprio pai. Depois de falhar em uma missão solo, Reginald decidiu aplicar nele uma de suas injeções para mantê-lo vivo, o que resultou em seu corpo com características semelhantes às de Pogo — o chimpanzé.

— Eu vou dar meu sangue para ela — Celeste ofereceu-se prontamente, levantando a manga da roupa para expor o braço.

— Celly... Seu sangue tem um DNA... diferente, digamos assim. Lembra dos experimentos que seu pai fez para "melhorar" seus poderes? Seu sangue não é mais puro — explicou Pogo, tentando não ser duro. Ela bufou, frustrada. Era difícil esconder a raiva e o desapontamento.

Não poder ajudar Allison a deixava angustiada. Cada segundo perdido a afastava mais. Ela baixou os ombros, ainda tensos, e sentiu as mãos começarem a suar. "Essa maldita confusão é minha culpa", pensou. "Se eu tivesse ido com Didi e Allison, poderia ter ajudado."

Frustrada e sem controle, pegou o primeiro objeto que encontrou e o atirou longe. O barulho ecoou atrás de todos, mas ninguém ali se importou; cada um estava tomado pelo desejo de salvar a Três.

— Relaxem! Eu dou conta disso, pessoal! — disse Klaus, batendo no braço. — Aqui! Eu adoro uma agulha.

— Senhor Klaus... Seu sangue está um pouco... poluído — disse Pogo, tentando amenizar para não dizer diretamente que o uso de drogas havia comprometido a pureza de seu sangue.

— Eu faço então — disse Diego, aproximando-se de Grace, que já preparava a agulha. Mas ao ver o tamanho dela, ele revirou os olhos e desabou no chão, desmaiado.

— Alguém pega ele — disse Pogo, resignado. Afinal, que outra opção decente Allison tinha?

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Allison já havia sido suturada e estava em repouso há horas. Luther, ainda abalado pelo que aconteceu, não saía do lado dela nem por um instante.

Enquanto isso, Celeste, Cinco, Diego e Klaus estavam na grande sala da academia, discutindo o apocalipse. Celeste estava exausta, principalmente psicologicamente, e Cinco foi o único que notou a culpa que a consumia. Tentou acalmá-la, e, mesmo que não totalmente, ajudou.

Cinco andava de um lado para o outro, ansioso com o assunto, enquanto Celeste, deitada no sofá com as pernas para cima, tentava relaxar.

— O maldito que quase matou nossa irmã ainda está por aí com a Vanya. Precisamos encontrá-lo — disse Diego, preocupado.

— A Vanya? Tanto faz — Cinco resmungou, dando de ombros. Seu comentário parecia sugerir que havia prioridades maiores, mas soou cruel para os outros. Celeste franziu o cenho, incrédula.

— Ela é nossa irmã, Cinco. Pode não ter muita relevância para o apocalipse, mas é importante tê-la perto — protestou ela, pegando uma almofada e jogando em Cinco. Ele apenas sorriu, um pequeno gesto de leveza em meio a tanto caos.

— Sim, foi cruel até para você — Diego acrescentou, desaprovando a indiferença de Cinco com relação a Vanya.

— Não estou dizendo que não me importo com ela — ele rebateu, olhando pensativo pela janela. — Mas se o apocalipse acontecer, ela morrerá como todos os outros sete bilhões de pessoas. Harold Jenkins é nossa prioridade.

— Concordo — bufou Diego, apesar de sentir um pequeno desconforto com isso. — Vamos.

Celeste resmungou e se levantou do sofá, Diego a seguiu, e todos começaram a caminhar para fora da sala. Celeste então olhou para trás e viu Klaus ainda sentado.

— Me deixem fora disso, tá? — disse ele, com uma expressão que sugeria uma desculpa. — Sem querer ofender, só acho que isso é pressão demais para mim. Acabei de ficar sóbrio, então...

— Você vem. — A voz de Celeste foi seca e firme. Se nem ela queria ir, mas estava indo, quem era ele para decidir que ficaria?

— Levanta logo, Klaus — Cinco falou, impaciente.

— Venham me obrigar — retrucou ele, com um sorriso debochado.

Celeste perdeu a paciência. Pegou uma das facas de Diego, envolveu a lâmina com uma leve eletricidade, o suficiente para queimar o tecido do sofá, e jogou entre as pernas de Klaus, que as abriu instintivamente, assustado com o cheiro de queimado e o perigo iminente.

Ele suspirou e se rendeu:

— Um pouco de exercício não me fará mal — disse, levantando-se e colocando a mão no peito. — Não faça isso de novo, por favor.

Todos seguiram para o carro, e a primeira decisão em grupo foi ir até a casa de Jenkins novamente. Sabiam que Vanya ainda estava com o causador do apocalipse, e pela última localização, ele provavelmente estaria em sua casa. Desta vez, dirigiram mais rápido, já que o tempo estava acabando — em menos de 24 horas, o mundo poderia ser destruído.

Ao chegarem, a porta, quebrada por Diego anteriormente, estava coberta com um saco preto. Entraram na casa, que novamente estava aberta, com passos cuidadosos. Cada um alerta para qualquer movimento. Sabiam que, se o encontrassem ali, seria a chance perfeita para detê-lo e acabar com o apocalipse de uma vez por todas. De repente, Celeste se lembrou de uma promessa que fizera a Cinco: daria um beijo nele se ele impedisse o apocalipse. Seu estômago revirou com o pensamento.

— Vanya? — Ela chamou, um pouco perdida em seus próprios pensamentos, mas não houve resposta.

Klaus foi o primeiro a explorar a casa, ansioso para acabar logo com aquilo e, enfim, descansar. Ele foi até a cozinha, mas, antes mesmo que Diego subisse as escadas, um grito dele cortou o silêncio.

— Gente! Venham aqui!

Todos caminharam rapidamente até onde Klaus estava e se depararam com Harold Jenkins, morto, o corpo ensanguentado e coberto de facas e talheres. Era uma visão horrenda, e a cena parecia ainda recente.

— Eca — resmungou Celeste, olhando com nojo. Todos estavam parados, em silêncio, em volta do cadáver.

— Não era bem o que eu esperava — comentou Klaus, franzindo o rosto.

— É um eufemismo e tanto — murmurou Cinco.

— E nada da Vanya por aqui — disse Diego, já começando a se impacientar. — Vamos sair daqui antes que a polícia chegue.

Diego fez menção de ir embora, seguido de Klaus, que parecia aliviado com a chance de sair dali.

— Só um minuto — pediu Cinco, parando ao lado de Celeste e enfiando a mão no bolso do casaco. Ele se abaixou. Cinco retirou o curativo do olho do cadáver, abrindo a pálpebra para ajustar o globo de vidro, o que arrancou murmúrios de nojo dos outros irmãos.

— Cinco, o que você... o que está fazendo?

— Uh... Uau.

— Mesma cor de olho, mesma pupila. — Ele se virou para os outros, os olhos brilhando com um ar de fascinação. — Gente, é isso! Esse é o olho que eu carrego há décadas... Ele finalmente encontrou o dono — Cinco disse com uma pontada de emoção por ter finalmente cumprido aquele objetivo.

— Oba... — Celeste resmungou, corando ao pensar no que ele poderia querer reivindicar como recompensa quando voltassem para a Academia. — Pronto, achamos quem tínhamos que matar. Agora vamos celebrar com um karaokê de John Denver.

Cinco engasgou, surpreso e envergonhado com o comentário dela. Estava ansioso, mas não imaginava que ela falaria aquilo em voz alta. Diego e Klaus se entreolharam, perdidos. A piada era claramente interna, e Klaus, sem entender, começou a discutir seu gosto musical com Celeste.

— ...mas tanto faz. Vamos embora — disse Klaus, desgostoso de estar ali, e começou a sair. Diego, no entanto, o puxou pela roupa, interrompendo sua saída. Todos pareciam incrédulos. Achar Harold morto parecia... fácil demais.

Cinco tirou o olho de Harold e guardou novamente.

— Não, espera, espera! Isso não pode ser tão fácil assim — comentou Cinco, puxando uma ordem da Comissão que guardava no bolso. Ele parecia tonto, imerso em pensamentos que borbulhavam. — Esse é o bilhete da Comissão... A ordem para proteger Harold Jenkins, também conhecido como Leonard Peabody. Mas quem o matou? Quem fez isso?

— Tive uma ideia louca — Klaus se manifestou, dando de ombros. — Por que não achamos a Vanya e perguntamos o que aconteceu?

— A-ha. Simples. Fácil. — ironizou Celeste, cruzando os braços. — Se ela estava aqui quando Harold morreu, sinto dizer, mas deve ter enlouquecido e fugido.

Cinco sumiu em um teleporte para qualquer outro lugar, deixando Klaus para continuar.

— Isso se ela ainda estiver viva — completou Celeste, a voz pesada de preocupação.

— Se a Vanya escapou desse imbecil, pode estar voltando para a academia — disse Diego, pensativo.

— Temos que voltar de qualquer forma. Precisávamos matar Harold, e ele já está morto. Querendo ou não, concluímos nosso objetivo — disse Celeste, dando de ombros, antes de sair, deixando Diego e Klaus trocando olhares.

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Não demoraram para retornar à academia e começar a procurar Vanya, que poderia estar em qualquer lugar da vasta mansão. Decidiram se separar, cada um explorando um andar, e depois de algum tempo, acabaram todos se reencontrando no mezanino, próximo à curva da sala térrea.

— Sem sinal da Vanya — resmungou Celeste, cansada e frustrada. Odiava esse tipo de busca; esconde-esconde só era divertido quando era ela quem se escondia.

— Ela não está em nenhum quarto — Diego informou, dando de ombros.

— Também não está lá embaixo — Klaus completou, desanimado.

— Vou sair — Diego avisou, determinado.

— Ei! — Klaus o chamou, incrédulo.

— Espera! — Cinco interveio, confuso. — Aonde você vai?

— A Vanya ainda está lá fora! Assim como Hazel e Cha-Cha! — protestou Celeste, o tom carregado de preocupação. Já tinha Allison em perigo, Vanya desaparecida... Quem mais poderia se machucar?

Diego suspirou, decidido. 

— Eu sei. — Deu de ombros e parou ao pé da escada, lançando um olhar resoluto aos irmãos. — Vou pegar minhas coisas e sair. Tenho negócios inacabados com os bocós.

Diego desceu as escadas com passos determinados. Celly quase pediu para ir com ele; ficar com Cinco significava suportar as provocações incessantes dele e quase desmaiar com as aproximações de repente — e agora ainda mais, já que ele havia cumprido o desafio que ela impôs, mesmo que indiretamente. Apesar de querer ceder e admitir a vitória dele, seu orgulho não permitia.

Klaus suspirou, frustrado, observando Diego se afastar. Cinco, impaciente, bateu o pé, parecendo perdido em seus próprios pensamentos.

— Ei! O papai mencionou algo sobre o apocalipse quando falou com você? — Cinco perguntou, voltando-se para Klaus. — Alguma pista de como tudo vai acontecer?

— Não. Nenhuma pista. Uma barba muito bem feita, mas nenhuma pista — Klaus murmurou, abatido. Celeste franziu o cenho, tentando entender o comentário sobre a barba.

Cinco bufou, sem paciência para as respostas do irmão. Olhou para Celeste, cansado, balançou a cabeça negativamente e desceu as escadas, as mãos nos bolsos do blazer.

— Ei! Pensando bem, ele até falou algo sobre o meu potencial e como eu nem cheguei perto do meu verdadeiro...

— Como é que ele sabe sobre o apocalipse? — interrompeu Cinco, apressando-se nas escadas, seguido por Celeste e Klaus. Ele parecia inquieto, como se precisasse ter certeza de tudo o quanto antes; afinal, restavam poucas horas.

— Eu não sei! — Klaus respondeu, irritado, cansado de nunca ser levado a sério. Ao chegar ao térreo, parou e se voltou para Cinco. — Mas essa sua coisa de ficar saltando no tempo... como você soube fazer isso?

— Eu não soube — Cinco parou, o olhar frio e calculista, como se estudasse o irmão. Fez uma pausa dramática e soltou, ríspido e carregado de sarcasmo: — Você perceberia isso se estivesse realmente sóbrio.

Mas por que toda essa irritação, hein? — Celeste interveio, cruzando os braços, impaciente.

Ela entendia que, com o apocalipse iminente, Cinco estava sob imensa pressão e era, na maior parte do tempo, cruel. Mas aquilo já estava passando dos limites. Principalmente porque já não acreditava de mais ninguém.

Cinco bufou, como se apenas murmurasse para si mesmo.

— Estou farto das alucinações dele — resmungou, revirando os olhos. — Sabe o que é? Ele se droga, imagina coisas, e depois...

— Ei! Eu tô sóbrio! Já faz quase dois dias! — Klaus protestou, tentando se defender.

— Dois dias? — Cinco se virou para ele, o rosto expressando cansaço e sarcasmo.

— Parece que foram quarenta e cinco anos... — Klaus murmurou, tristemente.

— Quem você acha que engana, Klaus? — Cinco rebateu. — Você está impaciente o dia inteiro.

— É o que acontece quando alguém abandona uma substância que usa há anos — explicou Celeste, dando de ombros. — Não é só porque ele parou que automaticamente vai se sentir bem. O corpo sente falta.

— Parece que nós dois estamos lutando contra o vício — disse Klaus, zombeteiro, com um sorriso provocador, mirando Cinco com um olhar astuto.

— Eu não sou viciado — Cinco respondeu, a voz calma, sem dar importância ao irmão.

Klaus deu um passo à frente, aproximando-se do mais jovem, enquanto Celeste observava, já sem paciência, com os braços cruzados.

— Ah, mas é sim — insistiu Klaus, um sorriso implicante no rosto. — Viciado numa droga chamada "apocalipse".

— Errou — respondeu Cinco entre os dentes, claramente cansado.

— Primeiro sinal: negação — Klaus retrucou, o sorriso traiçoeiro estampado no rosto, enquanto dava meia-volta para seguir seu caminho. Não esperou muito; Cinco teleportou-se para sua frente, o rosto tenso, apontando o dedo para ele, tentando justificar-se. Celeste revirou os olhos, exasperada.

— Você e eu não somos iguais! — rebateu Cinco, a voz elevada e carregada de impaciência.

— Eu já vi esse olhar antes — disse Klaus, sorrindo de modo perverso. — Nos olhos de alguém que não sabe quem é sem estar chapado. Confia em mim. Você só precisa soltar-

A frase de Klaus morreu no ar, cortada pelo olhar furioso de Cinco, que arremessou o que tinha nas mãos contra a parede, despedaçando a prótese ocular de vidro em uma explosão de raiva. Sem olhar para trás, saiu rapidamente, ignorando até mesmo o olhar de Celeste.

— Ah, isso serve... — murmurou Klaus, em tom de sarcasmo, enquanto observava o irmão se afastar. — Um dia de cada vez.

— Vocês parecem duas crianças. — Celeste comentou, com uma seriedade que fez Klaus desviar os olhos de Cinco, que já saía do salão em direção à sala.

— Ele tem quarenta e seis anos — Klaus deu de ombros, como quem diz "eu tenho idade pra agir assim, ele não".

Celeste bufou, olhando-o com um misto de incredulidade e repreensão.

— Tudo bem, tudo bem — ele ergueu as mãos, rendendo-se. — Eu passei dos limites.

— E…? — Ela cruzou os braços, esperando ele terminar a frase.

— …e quero que você o faça dizer o mesmo que eu.

— Não era isso que eu esperava. — Ela franziu o cenho, mas logo achou graça. A ideia de ver Cinco pedindo desculpas era, de fato, tentadora.

— Mas seria ótimo, vai. Tá bom, eu passei dos limites e não deveria tê-lo irritado ainda mais, aquele velho ranzinza e malu...

— Tudo bem. Desculpas aceitas. — Ela deu de ombros, cortando Klaus antes que ele continuasse. Um suspiro pesado escapou, mas ela o olhou com uma ponta de orgulho. — Fico feliz que esteja sóbrio.

— Ah, eu também estou feliz, por incrível que pareça. — Ele sorriu. — Agora… vai lá ver o seu companheiro de karaokê, seja lá o que isso signifique, e depois podemos morrer juntos… se o apocalipse ainda estiver de pé.

— Você fala do apocalipse como se fosse um evento marcado. — Ela estreitou os olhos, quase incrédula, enquanto começava a se afastar. Klaus continuou tagarelando atrás dela:

— … levando em consideração que temos até data, eu diria que é bem parecido...

Celeste não demorou para sair do saguão, seguindo em direção a Cinco, que já estava no balcão de bebidas, preparando dois drinques. Sentia um misto de emoções: feliz por Klaus, triste por Allison, preocupada com Vanya, temerosa por Diego, desconfiada de Cinco… e nada em relação a Luther. Pelo contrário, o fato de mal terem se falado aquele dia até melhorava seu humor.

Ela atravessou a sala, encontrando Cinco resmungando sozinho. Sentou-se em uma das banquetas, soltando um suspiro cansado e preocupado.

— Acha mesmo que conseguimos? — Cinco perguntou, estendendo um dos drinques para ela enquanto se acomodava ao seu lado. O olhar dele era inquieto, quase desesperado por uma certeza. — Finalmente paramos o apocalipse?

Celeste interrompeu o gole, olhando ao redor da sala impecavelmente organizada. Respirou fundo, pensativa, antes de responder, com um tom de dúvida.

— Sinceramente... isso tudo foi fácil demais. — Ela resmungou, deixando transparecer sua desconfiança. Sabia que a gestora o estava vigiando na Comissão; podia muito bem ser uma armadilha para desviar o foco. — Mas fizemos o que era necessário. Cumprimos o plano, mesmo que... eu tenha minhas dúvidas. Não consigo acreditar que Harold era o causador, e o encontramos morto. Foi... fácil demais para ser verdade.

Cinco pareceu entender sua apreensão. Ele soltou um suspiro, sentando-se ao lado dela e tomando um gole generoso da bebida.

— É. E agora? — Ele perguntou, a testa franzida, parecendo perdido em seus pensamentos. — O que acontece?

— Bom... eu vou parar. — Celeste deu de ombros, pensando em seu trabalho. — Não quero mais nada que me prenda ao passado. Sempre fiz isso pelo papai, mas... ele não está mais aqui. Talvez seja hora de fazer algo por mim.

— E o que você gosta? — Cinco perguntou, interessado, inclinando-se ligeiramente para ouvi-la, como se cada palavra dela tivesse um peso especial.

— Acho jornalismo interessante. — Ela respondeu, dando de ombros. Nunca havia se apaixonado por nada específico, mas jornalismo parecia ter um charme próprio. — Ainda sou uma leitora voraz. Ser jornalista significa encontrar novas histórias. Histórias reais, carregadas de sentimentos genuínos, e não apenas ficções.

— Sério?

— Você deve ter percebido que sempre fui curiosa. Não é uma profissão que traria reconhecimento imediato. Vou ter que me esforçar bastante. — Ela fez uma careta, com um toque de insegurança, o que arrancou um sorriso de Cinco.

— Quando você não se esforça, Celly? Você seria uma jornalista incrível. — Ele afirmou, com a segurança de quem acreditava plenamente no que dizia.

Celeste sorriu, abaixando o olhar para o gelo na taça. Um silêncio confortável surgiu entre eles, enquanto Cinco observava o jeito como o cabelo dela caía sobre os ombros. Ela, por outro lado, tentava conter o leve constrangimento que sentia.

— Obrigada. — Ela disse, com um sorriso tímido, finalmente olhando para ele. — Acho que agora é hora de recomeçar. E você, Cinco Hargreeves, o que quer fazer? — Celly perguntou, os olhos estreitos e divertidos. Cinco deu um sorriso sutil; adorava quando ela falava seu nome completo.

— Vou me aposentar. — Ele deu de ombros, como se aquela decisão já estivesse tomada há muito tempo. — Vivi tempo demais. Na verdade, vivi coisas demais. Me dediquei à Comissão como ninguém, só para chegar até aqui, nesta época. Sei que eles provavelmente me odeiam agora, mas não me importo.

— Quebrou algum contrato? — Celeste perguntou, intrigada com o "eles devem me odiar", afinal, Cinco sempre mencionava seu status elevado na Comissão, mesmo sem orgulho.

— Não faz ideia de quantos. — Ele respondeu, com um sorriso malicioso. Seu rosto denunciava o prazer em romper as regras. — Não cumpri os anos necessários para me aposentar, mas talvez eu encontre algo mais simples. Pode parecer bobo, mas acho que só quero uma vida tranquila agora.

— Não é bobo. — Ela afirmou, e Cinco pareceu relaxar. — Eu viveria viajando, para ser sincera. Conhecendo pessoas diferentes, com histórias de vida tão únicas… Isso realmente me atrai. — Seus olhos brilharam com a ideia, ainda que parecesse algo distante.

Cinco levantou-se sorrateiro, foi até o balcão e encheu mais sua taça, evitando encará-la. Como quem não quer nada, lançou a proposta:

— Podemos morar juntos e viver viajando. — Ele falou, hesitante, quase envergonhado, sem ousar olhá-la nos olhos. — O que você acha?

Celeste sorriu, e um leve rubor tomou conta de seu rosto. A ideia lhe agradava mais do que deveria, embora fosse estranha — afinal, eles eram apenas melhores amigos, certo? Sentiu o escudo emocional que sempre mantinha se levantar de novo. Engoliu em seco.

— Poderíamos. — Ela respondeu com um sorriso tímido, mas com o escudo emocional novamente erguido, como uma barreira que a impedia de se aproximar dele. — Tipo… melhores amigos. — Mas era evidente que Cinco não estava pensando apenas em amizade. A expressão dele mudou, passando de uma esperança discreta para uma leve decepção. Ainda assim, ela se mantinha convencida de que estava fazendo o certo, que não deveria magoá-lo, pois sua vida, no momento, era uma confusão só.

— Isso. Isso. — Cinco murmurou, tentando disfarçar o desconcerto. Ficou ali, do outro lado do balcão, observando enquanto ela bebia o drinque que ele havia feito.

— Então, tudo bem. — Ela sorriu, na tentativa de aliviar o clima. — Podemos morar em uma casa com um pátio enorme, onde possamos ter um cachorro bem esperto, como um Border Collie. Ou um gato, se você preferir. — Ela deu de ombros. Cinco abriu um sorriso esperançoso, de repente.

— Nunca te perguntei... você prefere gatos ou cachorros?

— Na verdade, não tenho muita preferência. Cada um reage de um jeito especial. Mas gosto da ideia de ter um cachorro. Se tivesse um, provavelmente acabaria querendo um gato também, para fazer companhia.

Cinco sorriu com a resposta, e os dois pareceram esquecer a tensão de segundos atrás. Estavam tão envolvidos na ideia de passarem tempo juntos — afinal, haviam ficado quatorze anos sem se ver — que qualquer um os tomaria por um casal ao olhar para a cena.

O olhar de Cinco repousou nos olhos castanhos dela, e Celeste mergulhou no azul intenso dos olhos dele. Havia uma eletricidade entre eles, uma atração irresistível que ambos eram orgulhosos demais para confessar. Seriam culpados por isso?

Celeste passou anos tentando agradar o pai, mesmo que dissesse o odiar por inúmeros motivos. E Cinco? Ele estava desgastado, ferido pela vida. Passara trinta anos lutando para voltar, sem nunca conseguir esquecê-la, mesmo que jamais admitisse isso.

E Celeste, tão intensa quanto ele, passou os quase quinze anos afastada da família tentando seguir em frente. Mas nunca conseguiu. Procurava em outros, sinais do melhor amigo: alguém com gostos musicais diferentes, que a respeitasse, que trouxesse sua comida favorita, que fizesse de tudo para vê-la sorrir, mesmo quando ela estava de mau humor. Alguém que, em um impulso, a chamasse para dançar e, quem sabe, roubasse um beijo descarado…

Quando percebeu isso, decidiu se fechar. Não tentou mais nada com ninguém, apenas esperou que o tempo a fizesse esquecer. Mas ali estava ele, bem à sua frente, fazendo o esquecimento parecer impossível.

— Quero ter uma casa boa. — Ele comentou, o brilho nos olhos denotando que, apesar de tudo, ele ainda tinha sonhos. — Quem sabe uma casa branca, de madeira, com janelas grandes? Você gosta?

— Gosto. Desde que tenha uma varanda enorme, onde eu possa tomar chá quente, enrolada em um cobertor, observando o frio do Canadá. Ah! Precisamos de um ponto alto para ver o nascer do sol! — Ela riu, animada com a ideia.

— Ah, isso eu não vou esquecer, prometo. — Ele sorriu, exibindo aquelas covinhas que ela adorava. Inclinou-se levemente sobre o balcão, ficando mais próximo dela.

Celeste sentiu o coração disparar enquanto ele a olhava com admiração. "Eu poderia beijar essa boca idiota agora mesmo", pensou, quase balançando a cabeça em descrença consigo mesma. Por que, afinal, ele era tão irresistível?

Ela quase o puxou pela gravata, pronta para dar a recompensa merecida pelo fim do apocalipse, mas batidas na porta interromperam o momento. Cinco suspirou, claramente frustrado, enquanto ela resmungava.

— Eu vou atender — Cinco avisou, saindo da sala para o hall de entrada ao lado.

Celeste ouviu uma voz estranhamente familiar. Tentou espiar para ver quem estava lá, quando Hazel entrou na sala ao lado de Cinco.

O homem trajava o mesmo terno refinado da primeira vez que o vira, mas desta vez, trazia uma arma apontada para Cinco. O coração de Celeste disparou.

Ao ver a arma, ela ativou seus poderes, deixando os raios correrem por suas mãos de forma ameaçadora, o suficiente para intimidar Hazel. Ela se levantou da banqueta, em alerta, embora Cinco permanecesse tranquilo, como se a presença de Hazel fosse apenas um detalhe.

— Veio me matar? — perguntou Cinco calmamente, voltando a sentar-se, com um ar despretensioso.

— Ah, merda. — Hazel resmungou, guardando a arma com um suspiro, enquanto Celeste o olhava, confusa. — Desculpa. Força do hábito. Eu até entendo o porquê de você se sentir assim.

Cinco sentou-se ao lado dela e, num gesto calmo, pousou a mão sobre a dela, pedindo em silêncio que se acalmasse. Celeste, ainda hesitante, manteve-se próxima, lançando um olhar desconfiado para Hazel.

— É. Você atacou a academia, tentou matar nossa família e sequestrou o Klaus — retrucou Celeste com a voz áspera e carregada de desprezo. Cinco pousou a mão sobre sua coxa, tentando apaziguá-la, ou talvez apenas desconcertá-la um pouco. E funcionou.

— Ossos do ofício — Cinco ironizou, reconhecendo bem aquela realidade.

— Não posso matar meu passado. — Hazel falou com serenidade, lançando um olhar a Cinco. — Não esqueça que não sou o único assassino nessa sala. Vocês dois têm seus passados sangrentos também. — A defesa dele a fez pigarrear, desconfortável. Ela odiava ser julgada por alguém que mal a conhecia e quase deixou escapar uma faísca de eletricidade na direção dele. Cinco, ao contrário, se manteve impassível. — Aliás, os trabalhos do Número Cinco são lendários. Nem acredito que estou falando com você depois de tantos anos-

— Hazel, por que você está aqui? — Cinco perguntou, impaciente. Seus olhos fixaram-se em Hazel, que parecia um tanto nervoso.

— Bom, eu-

Antes que Hazel pudesse continuar, Diego entrou na sala abruptamente e desferiu um chute no quadril de Hazel, derrubando-o. Celeste soltou uma risada ácida e incrédula.

— A-ha. Eu sabia que faltava algo dramático nessa casa pra apimentar a calmaria. — Ela debochou.

— Diego! Para! — Cinco exclamou, frustrado, mas foi ignorado. Sua impaciência era visível; tudo o que ele queria era voltar à conversa com Celeste, e talvez, quem sabe, finalmente pedir um beijo.

No chão, Hazel tentava se levantar, mas Diego estava decidido a impedir, chutando-o no rosto e desferindo uma sequência de golpes brutais enquanto Cinco tentava, em vão, controlar a situação.

— Sabe, antes de matá-lo, talvez você devesse ouvir o que ele tem a dizer — sugeriu Cinco, mantendo um tom calmo.

Diego não deu ouvidos e, num movimento rápido, foi arremessado ao chão por Hazel, que trocou de posição e passou a desferir socos em seu oponente.

— Gostei dessa briga. Aposto dois dólares que o Diego ganha. — Celeste murmurou com um sorriso divertido, observando a cena como se estivesse vendo uma luta de animais impulsivos. Diego nem tentara conversar, simplesmente partira para a pancadaria. Bem típico dele.

— Só dois dólares? — Cinco perguntou, quase lançando um "dois dólares e um encontro", mas optou por se conter, pensando que aquele talvez não fosse o melhor momento, além do fato de que Diego parecia estar levando a melhor.

— É o que eu tenho. — Ela deu de ombros, divertindo-se.

Diego se ergueu com estilo, sacando uma de suas facas e preparando-se para o ataque.

— Vou te matar pelo que fez com a Patch! — ameaçou, a voz cheia de ódio. Hazel tentou se explicar, mas Diego nem lhe deu tempo, desferindo um chute que quase o atingiu.

Hazel recuava instintivamente enquanto Diego avançava com uma sequência de socos e tentativas de cortes.

— Manda ver! — provocou Hazel, com um sorriso desafiador.

No momento em que Diego ergueu a mão para atingi-lo com a faca, Hazel segurou seu braço, convencido de que havia evitado o golpe. Mas Diego foi rápido, sacando outra faca e cravando-a na perna de Hazel, que soltou um grito de dor.

— Ai... — Celeste resmungou, contorcendo o rosto em uma careta. — Diego tá lutando bem, né?

— Eu também luto bem. — Cinco respondeu com o cenho levemente franzido, tentando disfarçar o ciúme que o incomodava. A expressão dele era impagável, e Celeste se divertiu silenciosamente com o ciúme repentino.

Hazel, recuperando-se da dor, torceu o braço de Diego, que perdeu o equilíbrio e quase caiu.

Com um gesto rápido, Hazel retirou a faca cravada em sua perna e tentou usá-la contra Diego. Antes que pudesse atacar, levou um soco no rosto e um chute no abdômen. Diego se impulsionou para trás, mantendo-se firme de pé após o golpe.

Hazel tentou atingi-lo de novo, mas Diego segurou seus braços, prendendo-o e dando-lhe uma cabeçada violenta, seguida por um aperto no tórax que o deixou sem ar. Hazel, ainda assim, se manteve firme, erguendo Diego do chão, enquanto Diego usava a oportunidade para morder sua orelha, arrancando-lhe um grito de dor.

— Pode desligar nosso irmão? — Cinco pediu, exausto.

— Vou considerar isso uma vitória. — Celeste deu de ombros, lembrando-o da aposta de dois dólares.

Nos segundos seguintes, Diego desabou no chão, desacordado, enquanto Celeste drenava sua energia.

— Morder já é demais — ela resmungou, ajeitando-se na banqueta e apoiando os braços na bancada atrás de si.

— Hazel, seja lá o que veio dizer, sugiro que seja rápido. Antes que ele acorde — Cinco falou, impaciente.

— Larguei minha parceira, saí da Comissão e vim me voluntariar.

Celeste ergueu as sobrancelhas, surpresa. Muita informação para assimilar de uma vez.

— Pra quê? — ela perguntou, intrigada.

— Ajudar a impedir o apocalipse — ele deu de ombros, ofegante após a recente luta. Passou a mão na orelha e notou o sangue nos dedos.

Cinco trocou um olhar divertido com Celeste. A proposta de Hazel parecia engraçada para ele. Afinal, Peabody estava morto, e não era pelas mãos da comissão. O Apocalipse havia sido impedido, e só agora Hazel havia chegado, deixando isso ainda mais concreto para ele. Ou, pelo menos, Cinco pensava assim.

— Posso saber o que eu disse de tão engraçado?

— Antes de dizer isso, por que quer ajudar a gente? — Cinco estreitou os olhos, desconfiado.

— Digamos que tenho um interesse pessoal numa loja de donuts.

Celeste quase engasgou com o drink, surpresa. Um sorriso malicioso apareceu em seu rosto enquanto pensava: "Essa história só melhora?!"

— Sinto te dizer isso, amigo, mas você chegou um pouco atrasado — Cinco ironizou, girando o guarda-chuva decorativo no copo.

— Já detivemos o apocalipse — Celeste concluiu, com tranquilidade.

— O fato de você estar aqui agora significa, sem sombra de dúvidas, que o apocalipse acabou. — Cinco sorriu, satisfeito, convencido da suposta vitória. Mas para Celeste, aquilo ainda não estava finalizado.

— É? Como sabem? — Hazel perguntou, confuso. A última ordem que recebera da Comissão fora sobre Cha-Cha, e ele não sabia do alvo Harold Jenkins, pois Cinco interceptara a mensagem antes que ela fosse enviada.

— O alvo tá morto. Encontramos ele de manhã. Você era a última incógnita que restava — Cinco respondeu, despreocupado.

Hazel piscou, surpreso, e soltou uma risada baixa, satisfeito.

— Merda. É mesmo?! — sorriu.

— Exato. Com sua saída, os cavaleiros do apocalipse já eram.

Hazel soltou um "oh" de alegria, levantando as mãos em uma pequena comemoração silenciosa.

— Tá legal. — Ele riu, sentando-se ao lado de Cinco, que voltou ao balcão, focando no drink. Celeste também retornou à sua bebida.

Hazel deu um tapinha no ombro do garoto, pegou o grande copo e virou o conteúdo, soltando um "ahh!" ao sentir o frescor da bebida. Ele olhou ao redor, em paz, mas ainda absorto em suas próprias preocupações.

— Mas e agora? — Hazel perguntou. Olhou para os dois ao seu lado. Toda a sua vida também havia sido dedicada à Comissão. Encerrar tudo…? Aquilo significava muito.

— Pra falar a verdade, eu não sei. — Cinco resmungou, olhando para Celeste com um sorriso discreto que fez o rosto dela corar. Em seguida, desviou o olhar, pensativo. — Tenho meus planos, mas estou atrás disso há tanto tempo que nunca pensei no dia seguinte. E você?

— Tô cansado dessa loucura toda. Hora de recomeçar. Vocês deveriam tentar também — Hazel sugeriu, olhando para a dupla ao seu lado. Celeste resmungou.

— Não é assim tão fácil.

Não precisa ser difícil. — Ele retrucou, otimista. — Pensem só: e se Cinco nunca tivesse viajado no tempo, se nunca tivesse se metido com a gestora? E você? Se... nunca tivesse se envolvido com o Estado? — perguntou Hazel, como se nas entrelinhas dissesse: "claramente teriam ficado juntos".

Cinco ficou imerso em seus pensamentos, assim como Celeste. Quando ele a olhou de novo, ela foi pega desprevenida. Aquele olhar não era casual; parecia quase dar a ela o poder de ler seus pensamentos.

— Bom, boa sorte — Hazel disse, contente. Ele estava genuinamente alegre, não conseguia parar de sorrir com a possibilidade de finalmente viver sua vida. Levantou-se, deu alguns passos e ouviu a voz de Celeste o chamar:

— Hazel. Espera! — Ela o chamou, e ele parou, olhando pacientemente para ela.

— Sim?

— Qual de vocês dois foi o atirador da Patch? — Ela perguntou, olhando para Diego. Lembrava que ele havia sido preso como suspeito do homicídio. Quando encontrou Patch morta, ele ficou tão desesperado que tocou na cena do crime inteira.

— Foi atiradora, na verdade — Hazel corrigiu.

— Ah. — Ela resmungou, derrotada. — Se você tivesse a arma dela, isso inocentaria Diego.

Hazel estreitou os olhos e começou a apalpar os bolsos, até finalmente encontrar as armas.

— Bom, hoje é o seu dia de sorte. É melhor ficar com as duas — ele disse, determinado, colocando ambas as armas sobre o balcão de bebidas. — Cansei dessa vida.

Hazel saiu, caminhando tranquilamente para fora. Celeste soltou uma lufada de ar, impressionada, e olhou para as armas ao seu lado, logo se apressando para encontrar um pano e envolvê-las sem estragar as digitais.

Alguns minutos depois, Diego despertou, voltando à realidade. Levantou-se rapidamente, confuso, sem saber que seu inimigo já tinha ido embora. Parecia ter caído por apenas alguns segundos, embora estivesse desacordado há vários minutos. Quando notou a cena — Cinco bebendo seu drink, Celeste com duas armas envoltas em cetim do outro lado da sala, e Hazel ausente — franziu o cenho.

— Pegou minha energia de novo? — Diego reclamou, incrédulo.

— Só roubo quando você se mete em confusão — Celeste rebateu, tranquila, voltando a sentar-se ao lado de Cinco e deixando as armas no balcão.

— Vai querer um drink agora? — Cinco perguntou.

— Cadê ele? — Diego questionou sobre Hazel.

— Deixamos ele ir — Cinco respondeu, indiferente.

— Vocês o quê?! — Diego exclamou, com o rosto transbordando raiva e incredulidade.

— Agora que o apocalipse acabou, tá na hora de acabarmos com as brigas — Cinco declarou, enquanto Diego pegava suas facas e fazia menção de sair à procura do homem. — Ele não matou a Patch! A parceira Cha-Cha matou.

— Tá! E daí?! Eles dois estavam lá naquela noite.

— Essa metade da parceria deixou as armas que eles usavam. — Celeste defendeu Hazel, olhando para as armas e depois para Diego. — Isso vai te inocentar. A balística bate com a cena do crime da Patch.

— Hazel veio aqui procurando uma saída. Ele quer começar do zero e, por acaso, tinha com ele a única coisa que poderia ajudar nossa família — Cinco disse. — Tá na hora de seguir em frente.

— Nem morto.

— Como quiser. — Cinco deu de ombros, indiferente, mas parecia mais pensativo de repente. Colocou a mão sobre a coxa de Celeste de forma casual e confortável, sem nem perceber o gesto. Mas para Diego e para ela, o ato não passou despercebido. — Sua namorada, Patch. Do que você gostava nela?

— Ah, um monte de coisa... — Diego resmungou, como se fosse óbvio. — Bunda bonita, belas pernas.

Celeste fez uma careta, incrédula.

— Você sempre é superficial assim ou essa idiotice só tá aparecendo agora porque Hazel bateu na sua cabeça? — Celeste questionou, sarcástica, claramente irritada. Cruzou os braços, enquanto Diego revirava os olhos.

— Alguma coisa mais profunda do que isso? — Cinco perguntou, mantendo a calma.

Diego pareceu mergulhar em seus pensamentos, relembrando as memórias da sua amada e as melhores partes que compartilhavam. Após um momento de silêncio, ele olhou para o chão e, com a voz carregada de nostalgia, respondeu:

— Ela sempre viu o lado bom.

Cinco ergueu as sobrancelhas, surpreso. As palavras de Diego eram exatamente o que ele precisava para dar um choque de realidade no irmão.

— Tenho certeza de que ela vai ficar super orgulhosa ao saber que você planeja matar o Hazel e a Cha-Cha como forma de homenageá-la.

Cinco finalmente se levantou, deixando seu drink de lado, assim como o de Celeste, que já estava vazio há algum tempo. Ele suspirou, a preocupação evidente em seu rosto.

— Vou procurar alguma prova de que o apocalipse foi realmente impedido. Sei que você ainda está com um pé atrás. — Ele deu de ombros. Celeste se pegou admirando a sua capacidade de observação, e enfeitiçada por seus olhos azuis, quase foi junto. — Você vem?

— Vou ficar para beber mais um pouco — ela respondeu, dando de ombros, mas havia um brilho de indecisão em seus olhos.

Mais um capítulo, gente!
Votem e comentem! 💗
A season two já tá MUITO próxima.
Temos no máximo mais quatro capítulos pela frente e eu já tenho a base dela planejada!

revisão concluída ☑️ 💚

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