๐๐๐๐ ๐๐๐๐๐๐๐๐
*โข.โงโฝ*:โ๏ธโงโ.โข*
๐๐๐๐๐๐๐ ๐๐๐๐๐
๐๐๐๐ ๐๐๐๐๐๐๐๐
COM TODOS OS IRMรOS se aproximando, enfileirados, da parte externa da grande casa onde passaram a infรขncia, eles tentavam se organizar da melhor forma possรญvel para o inรญcio do funeral. Nรฃo havia tensรฃo no ar. Estranhamente, o momento parecia confortรกvel. Estavam imersos nas memรณrias mais profundas do pai.
โ Aconteceu alguma coisa? โ perguntou Grace com um sorriso distraรญdo, como se realmente nada tivesse acontecido. Ela parecia atordoada, perdida em sua confusรฃo.
โ O papai morreu, lembra? โ Allison respondeu, tรฃo confusa quanto os outros. Todos estavam ali por causa da morte de Reggie, entรฃo por que ela nรฃo lembrava?
โ Ah, sim... lembro โ Grace disse, um sorriso pรกlido se formando em seu rosto.
โ Mamรฃe estรก bem? โ perguntou Allison, posicionando-se ao lado de Diego.
โ Sim, estรก tudo bem. Ela sรณ precisa descansar โ respondeu Diego. โ Recarregar as energias, sabe?
โ Ela nรฃo costumava esquecer das coisas quando estava com a bateria fraca โ Celly retrucou. Diego apenas deu de ombros, tentando esconder sua evidente preocupaรงรฃo.
Pogo foi o รบltimo a chegar. Seus olhos, ao contrรกrio da maioria dos presentes, revelavam uma tristeza genuรญna pela perda do amigo. A morte de Reggie tirava dele o sentido de sua prรณpria existรชncia.
Quando Luther abriu a tampa do recipiente, despejou as cinzas que antes haviam pertencido ao corpo de seu pai. Mas as cinzas nรฃo caรญram como ele esperava. Na verdade, o momento foi quase cรดmico: sem vento, elas desceram diretamente do pote para o chรฃo encharcado, enquanto a chuva tornava tudo ainda mais melancรณlico. Celly e Klaus fizeram caretas; os outros apenas suspiraram, frustrados.
โ Um pouco de vento teria sido melhor โ Luther comentou, encolhendo os ombros e guardando o pote vazio debaixo do braรงo. Um silรชncio constrangedor tomou conta enquanto todos observavam as cinzas sendo encharcadas pela chuva.
โ Alguรฉm gostaria de dizer algumas palavras? โ Pogo perguntou. Os irmรฃos evitaram o olhar uns dos outros, permanecendo em silรชncio. โ Muito bem โ continuou Pogo, percebendo que ninguรฉm queria falar. Com emoรงรฃo na voz, ele contrastava com a melancolia da chuva. โ Em todos os sentidos, o Sr. Reginald Hargreeves me fez ser quem eu sou hoje. E por isso, serei eternamente grato a ele. Ele foi meu mestre, meu amigo... e sentirei muito a sua falta. Ele deixa para trรกs um legado comple-
โ Ele era um monstro โ Diego interrompeu, arrancando uma risada baixa de Klaus, que jรก esperava por esse desabafo. โ Ele era uma pessoa terrรญvel e um pรฉssimo pai. O mundo estรก melhor sem ele.
โ Diego! โ Allison tentou interromper.
โ Meu nome รฉ Nรบmero Dois. E vocรช sabe por quรช? Porque nosso pai nรฃo se importava o bastante para nos dar nomes de verdade. Ele pediu para a mamรฃe fazer isso.
โ Alguรฉm quer comer alguma coisa? โ Grace interveio, tentando desviar o assunto.
โ Nรฃo, tรก tudo bem, mรฃe โ Vanya respondeu.
โ Ah, certo.
โ Querem prestar suas homenagens? Fiquem ร vontade. Mas, por favor, digam a verdade sobre ele โ Diego continuou, saindo de sua posiรงรฃo e avanรงando para o centro do grupo de irmรฃos.
Funerais nunca foram momentos agradรกveis em famรญlia, mas brigas e discussรตes tornavam tudo infinitamente pior. Celly, embora quieta em respeito ร situaรงรฃo, concordava plenamente com o que Diego dizia. O peso em seus ombros sรณ aumentava. O barulho da chuva no telhado acima dela, tรฃo melancรณlico, a deixava cada vez mais nervosa. Evitou olhar para os irmรฃos, que hรก tanto tempo nรฃo via, imersos em brigas.
"Talvez as coisas tenham mudado", pensou.
โ ร melhor vocรช calar a boca agora โ disse Luther, tornando o clima ainda mais pesado. A tensรฃo parecia prestes a explodir entre eles, todos os irmรฃos olhando para a cena com desagrado.
โ Sabe, de todos aqui, vocรช รฉ o que deveria estar ao meu lado. Nรบmero Um.
โ Estou avisando...
โ Depois de tudo o que ele fez com vocรช, ainda te mandou para o outro lado do mundo...
โ Cala a boca! โ Luther rosnou entre dentes.
โ ...sรณ porque ele nรฃo suportava olhar para sua cara! โ Diego gritou, empurrando o dedo contra o peito de Luther.
Celly comeรงou a achar tudo aquilo desnecessรกrio. A discussรฃo jรก a incomodava, mas uma briga fรญsica? Era como se tudo de bom tivesse ficado no passado.
โ Vocรชs podem parar com isso, seus idiotas? โ Celly gritou, mas os dois nem sequer a ouviram. Continuaram envoltos naquela aura de tensรฃo.
โ Rapazes! Parem com isso agora! โ Pogo tentou intervir, mas sem sucesso.
โ Vem cรก, grandรฃo! โ Diego provocou, pedindo mais briga.
Enquanto eles trocavam socos e golpes, Celly observava, furiosa por eles nรฃo conseguirem se controlar nem mesmo no funeral. Estaria tudo bem se Diego tivesse continuado a falar a verdade, sem recorrer ร violรชncia.
โ Eu nรฃo acredito nisso โ ela murmurou.
Num รญmpeto, Celeste drenou a energia dos dois ao mesmo tempo, concentrando a eletricidade na ponta dos dedos. Em segundos, ambos estavam desmaiados na chuva. Ela suspirou, frustrada, mas sentiu um alรญvio profundo ao usar seus poderes novamente. Parecia que o vazio dentro dela havia sido preenchido, pelo menos um pouco.
โ Deixem eles aรญ โ disse, olhando para os irmรฃos, que compartilhavam o mesmo olhar de frustraรงรฃo. A tensรฃo, de alguma forma, comeรงou a se dissipar. โ ร melhor que fiquem doentes mesmo โ completou, antes de se afastar e voltar para dentro da casa. Sabia que alguns olhares a acompanhavam.
Do lado de fora, os irmรฃos restantes se entreolharam, desconfortรกveis com a reviravolta que o funeral havia tomado.
Todos โ exceto os dois que brigavam โ se retiraram para dentro da casa.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
โ๏ธๅฝก๐๐ฎ๐ข๐ง๐ณ๐ ๐๐ง๐จ๐ฌ ๐๐ง๐ญ๐๐ฌ.
Enquanto todos os irmรฃos se reuniam ao pรฉ da extensa escadaria, Reginald, o pai, lia em voz firme citaรงรตes de grandes filรณsofos.
โ Friedrich disse: "O homem รฉ uma corda estendida entre o animal e o super-humano. Uma corda sobre um abismo รฉ uma travessia perigosa. ร perigoso olhar para trรกs. ร perigoso tremer e parar."
Logo apรณs a frase, Vanya โ posicionada ao lado de Reginald โ soou um apito, iniciando uma corrida frenรฉtica rumo ao topo da escadaria.
Os irmรฃos dispararam pelos degraus com rapidez. Celeste e Cinco, lado a lado, usavam seus poderes para se distanciar dos demais. Celeste canalizava a eletricidade de seus poderes, lanรงando um feixe que iluminava os degraus ร frente, certificando-se de nรฃo atingir os irmรฃos. Seu corpo parecia se fundir ao raio de energia, quase como um teleporte imperfeito que teria dado errado se Cinco nรฃo tivesse segurado sua mรฃo no รบltimo segundo.
โ Por mais que cada um de vocรชs deva lutar pela grandeza individual, e sim, precisam lutar, pois ela sรณ vem com esforรงo, nรฃo se esqueรงam: nรฃo hรก indivรญduo mais forte que o coletivo โ disse Reginald, enquanto observava a corrida.
โ Isso nรฃo vale! Celly e Cinco estรฃo trapaceando! โ protestou Diego, irritado.
โ Eles estรฃo se adaptando! โ respondeu Reginald com um orgulho contido. โ Os laรงos que unem vocรชs tornam todos mais fortes do que sรฃo sozinhos. Eles farรฃo de vocรชs imunes ร dor e ร s provaรงรตes que o mundo colocarรก no caminho. Acreditem em mim quando digo: a vida serรก difรญcil, a vida serรก dolorosa. Mas juntos, aceitando as responsabilidades coletivas, podemos conquistar qualquer coisa. ร isso que nos dรก confianรงa. Juntos, enfrentaremos as forรงas do mal.
A intensidade das palavras pairava no ar enquanto os irmรฃos continuavam a corrida, com a mensagem de uniรฃo reverberando dentro de cada um deles.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
โ๏ธๅฝก๐๐ข๐๐ฌ ๐๐ญ๐ฎ๐๐ข๐ฌ.
Ao sair da chuva que encharcava suas roupas, Celeste subiu direto para o quarto. As horas passavam rรกpido, mas sua mente ainda tentava processar tudo que havia acontecido. Ela queria voltar para casa โ e era exatamente isso que faria. A sensaรงรฃo de estar ร beira da loucura a incomodava profundamente.
Quando abriu a porta do quarto, deu de cara com a รบltima pessoa que esperava ver, embora tivesse sentido falta dele durante quatorze longos anos. Cinco estava sentado em sua cama, mexendo em um objeto que ela nรฃo conseguia identificar. Ela parou no batente, pigarreou e cruzou os braรงos, sentindo um leve desconforto ao vรช-lo ali.
โ Ah. Oi โ disse ele, virando a cabeรงa em sua direรงรฃo e se levantando rapidamente, guardando o objeto no bolso.
O silรชncio entre os dois foi pesado, como se o tempo tivesse parado. Celeste ergueu as sobrancelhas, como um sinal para que ele se explicasse. Quando ficou claro que ele nรฃo falaria nada, ela quebrou o silรชncio:
โ Precisa de alguma coisa?
โ Na verdade, sim โ respondeu Cinco, se levantando e escolhendo cuidadosamente as palavras. โ Eu queria tomar cafรฉ, mas nรฃo achei nada bom na cozinha.
โ Eu fiz o cafรฉ da cozinha โ disse Celeste, mantendo a postura rรญgida, tentando deixรก-lo desconfortรกvel.
โ Ah, รฉ? โ Cinco soltou um riso irรดnico e deu alguns passos ร frente, embora ainda houvesse uns trรชs metros entre eles. โ Nรฃo estava bom, Celly.
โ Eu vou te fazer desmaiar como fiz com seus dois irmรฃos, se continuar falando mal do meu cafรฉ โ retrucou ela, sรฉria.
O sorriso de Cinco se alargou, e as covinhas que ela conhecia tรฃo bem apareceram, o que a fez relembrar o quanto ele a fazia feliz. Fazia tanto tempo que nรฃo sorria assim. Ele olhava para ela com os olhos brilhando, com o coraรงรฃo acelerado. Queria contar tudo o que tinha passado, mas ao olhar para o cansaรงo evidente nos olhos dela, soube que despejar tudo de uma vez sรณ a faria surtar.
โ Por que demorou tanto? โ perguntou ela, com a voz carregada de mรกgoa, apesar de tentar esconder.
Cinco ficou em silรชncio por alguns segundos, enfiando as mรฃos nos bolsos do blazer e soltando um suspiro pesado.
โ Digamos queโฆ eu nรฃo conseguia voltar โ respondeu ele, sua voz revelando uma tristeza profunda. Seus olhos se nublaram, como se revivesse memรณrias terrรญveis. Celeste, sempre atenta, percebeu que era melhor deixar que ele contasse tudo no seu tempo.
โ Tudo bem โ disse ela, dando de ombros, embora seus pensamentos tivessem voltado ร รบltima noite que passaram juntos antes de sua partida. Sentia-se tensa perto dele, sem saber ao certo o que pensar ou sentir. Talvez fosse melhor ignorar o passado e focar na amizade, afinal.
โ Quer ir comigo na loja de donuts? โ perguntou Cinco, interrompendo seus pensamentos.
โ Pra tomar um cafรฉ decente? โ ironizou Celeste, estreitando os olhos.
โ Isso. Exatamente โ respondeu Cinco, aproximando-se mais, com um sorriso provocador nos lรกbios. Aquele mesmo sorriso que ela lembrava tรฃo bem.
A sรบbita proximidade fez Celeste sentir borboletas no estรดmago, algo que sempre lutava para esconder. Ela sabia que precisava se afastar, antes que comeรงasse a gaguejar ou fizesse papel de boba.
โ Desde que vocรช prometa nรฃo me teleportar, eu vou โ disse ela, recuando em direรงรฃo ao corredor, prestes a sair da casa. "Pelo visto, ir para a casa estรก oficialmente adiado", pensou.
Cinco, caminhando logo atrรกs, sorria. Se ela tivesse olhado para trรกs, teria notado como sua linguagem corporal era clara: ele percebera seu embaraรงo e adorava aquilo.
โ Prometo que nรฃo vou te teleportar, Sunshine.
O apelido a fez sorrir abertamente. "Droga", pensou. Cinco a chamava assim... desde que danรงaram juntos Sunshine On My Shoulders. Ele sempre gostava de comparรก-la ร s coisas boas da vida. E ela adorava ser comparada a uma de suas melhores memรณrias. Ser chamada assim apรณs tantos anos trouxe uma alegria inesperada em meio ao caos que sentia desde sua chegada.
Enquanto desciam as escadas lado a lado, Celeste sentiu o dedo indicador de Cinco roรงar na sua mรฃo. Ela fingiu nรฃo perceber, mas notou o olhar triste dele quando nรฃo deram as mรฃos como costumavam fazer no passado.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
Ao chegarmos ao Griddyโs, nos acomodamos rapidamente nas cadeiras do balcรฃo, esperando que alguรฉm nos atendesse apรณs tocar o sino. Notei que Cinco fixava o olhar em suas mรฃos, mergulhado em pensamentos. Ele parecia distante, mas ao mesmo tempo, profundamente concentrado em algo.
Logo atrรกs de nรณs, um novo cliente se aproximou e se sentou ao lado de Cinco. Tirou o chapรฉu e soltou um suspiro pesado, revelando o cansaรงo que carregava.
โ Desculpe, a pia estava entupida. O que vai ser? โ perguntou Agnes, a atendente da loja, com um sorriso no rosto e o bloco de notas em mรฃos, pronta para nos atender.
โ Ahn, uma bomba de chocolate โ respondeu o outro cliente, um homem gorducho de bigode e cabelos claros. Cinco ergueu as sobrancelhas, claramente surpreso com o gosto questionรกvel do sujeito. Eu podia quase ouvir seus pensamentos: "Eu pediria isso se fosse uma crianรงa", imaginei.
โ E para as crianรงas? Um copo de leite ou algo assim? โ perguntou Agnes, lanรงando um olhar curioso para nรณs dois.
โ Cafรฉ, por favor โ respondi com um sorriso educado, tentando manter a formalidade.
โ ...puro โ completou Cinco, com um sorriso falso, mas estranhamente adorรกvel.
โ Oh โ resmungou ela, visivelmente surpresa. Sim, aparรชncias enganam. โ Que bonitinhos โ comentou, ainda confusa, antes de sair para preparar os pedidos.
O silรชncio caiu entre nรณs, mas nรฃo por muito tempo.
โ Na nossa รฉpoca, esse lugar nรฃo era uma espelunca โ disse Cinco, voltando-se para o cliente ao lado. โ Lembra, Celly?
Havia algo nos olhos dele, uma provocaรงรฃo silenciosa, como se quisesse que eu entrasse no jogo e agisse como o adulto preso no corpo de uma crianรงa โ que, embora fosse irรดnico, era exatamente o que estava acontecendo com nรณs dois. Embora fosse esquisito pra caramba, isso seria รณtimo.
โ Ah, sim โ disse com um sorriso falso, tentando acompanhar. โ A gente vinha aqui com nossos irmรฃos e comia donuts atรฉ passar mal.
A lembranรงa me fez sorrir de verdade, e o cliente ao nosso lado pareceu ainda mais desconcertado, o que de alguma forma me deixou mais satisfeita.
โ Outros tempos, nรฉ? โ comentou Cinco, olhando para o homem que nos observava com uma expressรฃo cada vez mais confusa.
โ ร... eu acho โ respondeu o homem, sem saber muito bem como reagir. Seu rosto mostrava o quanto aquilo tudo parecia uma pegadinha. Sua confusรฃo era hilรกria.
Pouco tempo depois, Agnes retornou com nossos cafรฉs e o pedido do cliente ao lado, que, surpreendentemente, pagou nossa conta com um sorriso amigรกvel. Levei a xรญcara ร boca, mas o calor do cafรฉ queimou minha lรญngua instantaneamente. Amaldiรงoei minha boca sensรญvel e o cafรฉ, que qualquer pessoa normal conseguiria tomar sem problemas. Suspirei e relaxei na banqueta, perdida em pensamentos. Ao olhar para o lado, vi que Cinco estava fixado no uniforme do cliente, como se estivesse tentando encontrar uma pista, uma resposta.
โ Vocรช deve conhecer bem a cidade โ comentou Cinco, casualmente.
โ Acho que sim. Dirijo hรก vinte anos โ o homem respondeu com orgulho.
โ รtimo. Preciso de um endereรงo. โ Cinco ajeitou-se na banqueta e suspirou antes de olhar para mim. โ Celly, pode ir lรก fora um pouquinho? Prometo que jรก te acompanho.
โ Acabamos de receber nossos cafรฉs โ protestei, franzindo o cenho.
โ Todos sabemos que sua boca รฉ sensรญvel demais para tomar cafรฉ quente. Deixe esfriar um pouco โ respondeu ele, tentando me acalmar.
Eu o encarei por um momento, relutante em sair e deixรก-los a sรณs, mas no fim, obedeci. Bufei, levantando da banqueta e indo para os fundos da loja, empurrando as portas de vidro com mais forรงa do que pretendia. Odiava ser afastada das situaรงรตes importantes.
โ Idiota โ murmurei para mim mesma. โ O que ele estรก planejando agora para me mandar pra fora?
Cruzei os braรงos e me escorei na parede de tijolos do lado de fora, olhando para a lua melancรณlica. Aos poucos, minha raiva comeรงou a se dissipar. Por que, se eu estava com saudade, ficar perto dele me irritava tanto?
"ร claro, porque ele nรฃo te dรก respostas", aquela voz interna sussurrou. E estava certa. Odeio quando as pessoas se afastam sem explicaรงรฃo, odeio quando me tratam como se eu nรฃo fosse capaz de lidar com a verdade...
Tentei afastar os pensamentos sacudindo a cabeรงa. Ao fundo, ouvi a porta da frente se fechando, indicando que a conversa com o cliente havia terminado e ele jรก tinha ido embora.
Eu me encostei na parede, tentando relaxar, mas logo ouvi a voz de Cinco novamente, dessa vez com um tom tenso:
โ Vocรชs sรฃo rรกpidos. Eu pensei que teria mais tempo โ disse ele, me fazendo imediatamente ficar alerta. Sorrateiramente, espreitei pela porta de vidro.
Diversos homens armados estavam apontando para Cinco, que, surpreendentemente, se mantinha calmo.
โ Vamos ser profissionais aqui, tudo bem? Levanta e vem com a gente, eles querem conversar โ falou uma voz desconhecida.
โ Eu nรฃo tenho nada pra dizer โ Cinco respondeu, dando de ombros com uma irritante tranquilidade.
โ Nรฃo precisa ser assim. Nรฃo quero ter que atirar em uma crianรงa e ter isso na minha consciรชncia.
โ Nรฃo se preocupe com isso. Vocรช nรฃo vai voltar, eu garanto โ disse Cinco, com um sorriso cรญnico. โ Ah, e tambรฉm tem o lance da garota que eu gosto. Nรฃo vou deixรก-la sozinha de novo.
"Garota que eu gosto?", pensei, surpresa. Ele nรฃo podia estar falando de mim, certo? Afinal, ele passou trinta anos no futuro. Meu coraรงรฃo apertou. E se... e se ele estava falando de outra mulher?
Droga. O fato de eu ter ficado magoada ou com ciรบmes explicava tanta coisa. E que raiva me dava admitir isso!
Nรฃo demorou mais de trรชs segundos. Havia sido quase instantรขneo. Cinco pegou a faca em cima do balcรฃo e se teleportando para trรกs do homem, o esfaqueando.
O homem agora morto, acabou atirando no momento do golpe, e os seus disparos quebraram o vidro ร minha frente, que eu impedi de me machucar quando estabilizei a eletricidade no projรฉtil.
โ Droga, Cinco! Vocรช sempre se mete em confusรฃo?! โ murmurei para mim mesma e adentrei a loja com raios de eletricidade em minhas mรฃos. Eram poucos, mas o suficiente para causar estrago caso fossem lanรงados em uma rajada tensionada. E melhor: nรฃo faziam minha idade regredir tanto.
Vi Cinco se teletransportar para cima de uma mesa, onde ficou sentado por somente alguns segundos โ que foram o suficiente para xingar os inimigos de "imbecis".
Os inimigos abriram fogo contra Cinco, mas foram lentos demais; no instante seguinte, ele desapareceu da mesa como um fantasma.
Liberando uma onda de energia elรฉtrica, atingi dois deles, que caรญram ao chรฃo, tremendo sob a descarga. O ambiente ficou carregado, pulsando com a intensidade do combate.
Entรฃo, Cinco surgiu na entrada, atraindo a atenรงรฃo dos homens com sua presenรงa enigmรกtica, apenas para desaparecer no momento em que as balas voaram em sua direรงรฃo.
Em um movimento รกgil, ele se teletransportou para trรกs de um dos atacantes e o esfaqueou nas costelas, fazendo-o tombar. Sem perder tempo, usou a gravata do inimigo para apertar seu pescoรงo contra a mesa, forรงando-o a se curvar enquanto cravava a lรขmina em seus olhos.
Mesmo assim, os outros se levantaram e dispararam na direรงรฃo de Cinco, que se encontrava no meio deles. Com um sorriso frio, ele desapareceu novamente, permitindo que suas balas se encontrassem em um duelo mortal.
Por fim, Cinco retirou a prรณpria gravata do homem caรญdo e a colocou em si mesmo, agora adornado com um sรญmbolo de sua vitรณria sangrenta.
โ Desde quando aprendeu a fazer nรณ na gravata?! โ perguntei, tentando desviar o assunto que me atormentava, a possibilidade de ele estar comprometido.
โ Desde que nรฃo tive mais vocรช para arrumรก-la por mim โ ele respondeu, dando de ombros.
โ Estรก torta. Deixe eu ajudar โ pedi, aproximando-me dele. Com cuidado, ajeitei a gravata, ajustando-a perfeitamente na gola da camisa dele.
O olhar dele sobre mim me deixou envergonhada, mas essa sensaรงรฃo logo desapareceu ao lembrar da situaรงรฃo em que estรกvamos. Os corpos no chรฃo faziam meu estรดmago revirar. Tentei tranquilizar minha mente, forรงando-me a acreditar que era apenas mais um dia de trabalho.
โ Pedi para que ficasse lรก fora para nรฃo ver tudo isso โ ele explicou, seus olhos transmitindo preocupaรงรฃo. Abri a boca para dizer algo, mas nenhuma palavra saiu.
O que eu diria? Que jรก estava acostumada? Que a garota que chorava por ter matado agora se tornara uma assassina?
โ Tudo bem โ murmurei, dando de ombros. Rapidamente, pensei em um novo assunto. โ Vocรช deve estar com um rastreador.
โ Ah, sim. Isso. Eu jรก ia me esquecendoโฆ โ ele resmungou. โ Corta aqui, por favor?
Concordei, observando enquanto ele apontava o indicador para seu antebraรงo. Com a eletricidade concentrada na ponta do meu dedo indicador e do meu dedo mรฉdio, formei uma lรขmina afiada. Deslizei suavemente ambos os dedos pela pele dele, cuidando para que fosse um corte superficial. Ele fez uma careta de dor, e sem hesitar, virou meu rosto para o lado e usou os dedos para remover o rastreador de dentro de si.
โ Vamos โ pediu.
Finalmente, saรญmos da loja de donuts, que estava toda quebrada e com a fiaรงรฃo elรฉtrica danificada. Enquanto isso, Cinco se despedia do rastreador, jogando-o perto do canal de esgoto.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
Assim que chegamos ao apartamento de Vanya, notei que o ferimento no antebraรงo de Cinco parecia sangrar incessantemente. Eu jรก me arrependia de ter feito aquilo com ele โ mesmo que ele tivesse pedido. Usamos o teleporte dele para entrar, e logo Cinco se deixou levar pela curiosidade, comeรงando a vasculhar a casa. Ele encontrou janelas abertas, a tรฉrmica do cafรฉ nรฃo fechada o suficiente โ o que fez esfriar โ e uma cama completamente desorganizada.
Enquanto eu procurava um kit de primeiros socorros no quarto dele, o rangido da porta anunciou a chegada de Vanya.
โ Meu Deus! โ ele reclamou. Coloquei a cabeรงa para fora da porta e a encarei. Vanya tinha a mรฃo no peito, visivelmente pega de surpresa. Ela olhou para Cinco e, ao me ver, acenei com os dedos.
โ Devia botar tranca nas janelas โ Cinco sugeriu, sua voz carregando uma preocupaรงรฃo genuรญna. Estava sentado na poltrona da sala, com a mente distante, como sempre.
โ Eu moro no segundo andar! โ ela se defendeu, mas seu tom era levemente defensivo.
โ Estupradores escalam โ ele deu de ombros, sua seriedade era palpรกvel.
โ Vocรช รฉ muito estranho โ Vanya concluiu, ainda se recuperando do susto. Finalmente, deu as costas, fechando a porta atrรกs de si e largando suas coisas no chรฃo da sala.
โ Vanya? โ chamei. Assim que ela terminou de largar as coisas, olhou para mim com um sorriso caloroso.
โ Sim?
โ Vocรช tem coisas para curativo? Agulha e linha seriam bem รบteis.
โ Ficam no armรกrio do banheiro. O que aconteceu? Vocรช estรก machucada? ร melhor ir ao hospital โ sugeriu.
โ Eu estou perfeitamente saudรกvel, na verdade. O problema รฉ com o irresponsรกvel do nosso irmรฃo โ resmunguei. Pude ouvir um "ah" dela. Saรญ do quarto e fui atรฉ o banheiro, abrindo o pequeno espelho que continha as prateleiras com seus itens. Nรฃo demorei a encontrar uma pequena caixinha cheia de remรฉdios, uma agulha embalada e uma linha de procedรชncia duvidosa.
Caminhei rapidamente atรฉ Cinco e me sentei na cadeira ao lado dele, pronta para fazer seu curativo.
โ Por que vocรชs estรฃo aqui? โ Vanya perguntou, a preocupaรงรฃo levemente evidente, como se jรก soubesse que nรฃo era algo normal.
โ Cinco sรณ confia em nรณs para contar tudo o que aconteceu. Estรกvamos esperando vocรช chegar โ expliquei, enquanto abria a caixinha. Cinco tirou o blazer azul da academia e levantou a manga da blusa social branca, que agora estava manchada de sangue.
โ Por que confia em mim? โ perguntou Vanya, um toque de inseguranรงa em sua voz. Fiquei feliz em perceber que ela se sentia importante pela primeira vez.
โ Porque vocรช รฉ comum โ Cinco deu de ombros. Quase engasguei com a resposta.
Fuzilei Cinco com o olhar, dizendo silenciosamente: "Que merda, meรงa as palavras!". Ele respirou fundo e entรฃo voltou a olhar para Vanya:
โ Porque vocรช vai me escutar โ corrigiu-se.
Enquanto eu derramava iodo na ferida dele, o silรชncio pairou na sala, cheio de expectativa. Nรณs duas esperรกvamos que ele finalmente falasse.
โ Quando eu avancei no tempo e fiquei preso no futuroโฆ Sabem o que eu encontrei?
โ Nรฃo โ respondeu Vanya, demonstrando interesse, mas tambรฉm uma leve descrenรงa.
โ Vocรช disse que o futuro estava uma merda โ eu lembrei, tentando adivinhar. Comecei a passar a pomada em seu antebraรงo. โ Sei lรกโฆ guerra?
O silรชncio dele foi ensurdecedor. Meu coraรงรฃo acelerou; talvez eu tivesse falado bobagem, como se isso nunca fosse acontecer. Mas o olhar dele me deixou amedrontada. Era algo pior.
โ Nada โ falou Cinco, e o medo em seus olhos me fez estremecer. Levantei o olhar, encontrando seus olhos vazios, como se a dor do que havia passado estivesse estampada em seu rosto.
โ Nada? โ repeti, tensa.
โ Absolutamente nada โ ele reiterou, cravando os dedos no braรงo da poltrona, tentando desviar o desconforto da ferida sendo costurada. โ Pelo que percebi, eu era a รบltima pessoa viva. Nรฃo descobri o que matou a raรงa humana, mas encontrei outra coisa. A data do acontecimento.
โ Quando? โ Vanya perguntou, sua voz quase um sussurro, cheia de espanto. Nรณs duas o olhรกvamos com cautela.
โ O mundo acaba em oito dias, e eu nรฃo sei como impedir.
Votem e comentem๐
revisรฃo concluรญda โ๏ธ ๐
Bแบกn ฤang ฤแปc truyแปn trรชn: Truyen247.Pro