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𝐈 𝐌𝐈𝐒𝐒 𝐘𝐎𝐔

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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐅𝐎𝐔𝐑𝐓𝐄𝐄𝐍

𝐈 𝐌𝐈𝐒𝐒 𝐘𝐎𝐔

⚠️ ATENÇÃO: Esse capítulo faz MENÇÃO a ABUSO SEXUAL/ESTRUPO. Se você não se sente confortável com o tema, pule o capítulo.


⛈︎彡𝐃𝐚𝐥𝐥𝐚𝐬, 1963.

Depois de uma semana longa, chuvosa e aparentemente interminável, Dallas finalmente se alegrava com uma tarde clara e quente. Era como se uma nova estação estivesse se iniciando, deixando os moradores animados e agradecidos pelo fim da chuva.

Desde o momento em que a garota chegou à cidade, a família Blake a acolheu de braços abertos. Anthony Blake, agora perto de terminar seus estudos em psiquiatria, havia finalmente conseguido um emprego no sanatório local. Apesar disso, ele sempre foi reservado em relação ao trabalho, mantendo em segredo os detalhes de seu dia a dia no hospital.

— Cecelly! — gritou a pequena menina de cabelos escuros, saindo correndo da escola para abraçar a jovem que a esperava, braços abertos e um sorriso caloroso no rosto. Quando se conheceram, numa avenida caótica, a menina tinha apenas três anos. Agora, seis anos depois, já estava maior, embora sua baixa estatura sempre a incomodasse e a fizesse se sentir menor que os colegas.

A mais velha riu ao receber os vários beijinhos da pequena e, sem hesitar, segurou sua mão para guiá-la de volta para casa. Já havia se acostumado com essa rotina: gostava de acordar cedo para levá-la à escola e de buscá-la à tarde. Para ela, era uma forma perfeita de aliviar a saudade da família... e de Cinco.

— Como foi a aula? — perguntou, enquanto caminhavam.

— Boa, tirando a parte do lanche ser lentilha — respondeu a menina, fazendo uma careta ao lembrar do prato que nunca lhe agradou. Celeste até havia tentado inventar receitas diferentes com lentilha, colocando até batata, o ingrediente favorito da garota, mas o problema parecia ser mesmo com as próprias habilidades culinárias ou com o paladar da menor, que tinha completa aversão à maior parte das comidas saudáveis que ela preparava.

Elas continuaram conversando, atualizando uma à outra sobre tudo que havia acontecido nos últimos dias, enquanto o sol as aquecia, quebrando o frio dos dias chuvosos anteriores. Era reconfortante estar ao lado da garotinha. Ao se aproximarem da casa, avistaram Thomas, como sempre, tentando consertar a velha lata do Buick Centurion 1956 que ele comprara por uma pechincha devido ao seu estado precário. Felizmente, e para a frustração de Thomas, o problema não era na impecável lataria do carro.

Assim que o rapaz de 18 anos avistou as duas figuras familiares atravessando a rua, um sorriso travesso se formou em seu rosto. Suas mãos estavam sujas de graxa, e ele sabia que sua irmã detestava aquela sujeira. Esse era o jeito perfeito de obrigá-la a tomar banho — só de deixá-la "imunda" já seria suficiente para evitar os dramas adolescentes.

— Sammy! — chamou, escondendo as mãos atrás do corpo com uma expressão de falsa inocência. Ao se aproximar, a menina percebeu o estado das mãos dele e quase soltou um grito. Ele a puxou para um abraço, cuidadoso para não sujá-la completamente, mas ainda assim a prendendo com braços calorosos.

— Sai — murmurou ela, apertada no abraço do irmão, embora, no fundo, adorasse o contato físico e o carinho que ele sempre demonstrava. — Você está fedendo.

— Igual você — retrucou ele, numa resposta infantil. Soltando o abraço, Thomas colocou as mãos na cintura, observando Celeste, que sorria com a cena. — Como foi a aula dela hoje? — perguntou, aproximando-se para beijar a bochecha da mais velha, em um gesto afetuoso que mostrava a familiaridade entre eles.

— Boa. Hoje ela deu um jeito no coleguinha que vivia implicando com ela — respondeu Celeste, orgulhosa por ter ensinado a pequena a se defender.

Thomas não escondeu a expressão de surpresa, seguido por um sorriso de aprovação.

— Um dia desses eu é que vou querer aprender a lutar com você. Como estão os dedos? — Ele segurou a mão de Celeste, observando as cicatrizes nos dois dedos que haviam sido seriamente machucados há anos.

— A fisioterapia hoje foi bem produtiva. Consigo mexer bem agora — explicou ela, apertando os olhos para se proteger do sol enquanto mostrava o progresso. — Mas ainda tremem e dói um pouco.

— Bom... mas, ao menos, está melhorando. A fisioterapia aqui em Dallas tem feito milagres. Você é um caso e tanto — disse ele, orgulhoso, e lançou um olhar curioso. — Mal posso esperar para o dia em que você vai abrir o jogo e contar como isso aconteceu de verdade.

— Já disse, o teto da minha casa desabou. Puf. Se não fosse pelo meu irmão-fantasma, eu teria virado panqueca — respondeu ela, com uma sinceridade que desafiava qualquer um a acreditar. Thomas apenas revirou os olhos. Celeste sempre usava um tom sarcástico, o que fazia qualquer verdade que dissesse parecer uma mentira.

— Tudo bem. Vou fingir que acredito — resmungou ele, em tom derrotado. — Irmão-fantasma, hein?

Ela observou o garoto, notando como ele estreitava os olhos, ainda confuso e sem acreditar totalmente.

— O Tony já chegou? — perguntou, tentando manter a calma. Apesar de achar engraçado que ele nunca acreditasse quando ela falava sério, desta vez precisava mesmo saber sobre Tony. O carro dele não estava na garagem, e, a essa altura, já era para ele ter chegado.

— Não. Ele me ligou mais cedo. Disse que o Ross... se enforcou — respondeu, abaixando o tom na última parte para que a irmã não escutasse, enquanto a expressão de Celly se transformava de surpresa para choque. — Vai ter que cumprir o turno dele hoje — completou, fazendo uma careta e limpando o suor do rosto por causa do trabalho pesado de consertar o veículo.

— Puta merda — murmurou Celeste, quase sem pensar. No mesmo instante, cobriu a boca, alarmada, lembrando-se de que Samantha costumava repetir tudo que eles diziam de errado.

— Put-  — tentou repetir a pequena, até que o irmão rapidamente tapou sua boca com as mãos sujas de graxa.

— Não! — disse, interrompendo-a com firmeza, mantendo a mão sobre o rosto dela, só depois se lembrando de que estava suja.

Celeste caiu na risada, enquanto Samantha fazia uma expressão de nojo, tentando se desvencilhar do irmão. Resmungou, abafada, e, quando ele finalmente a soltou, lançou-lhe um olhar fulminante. Resmungou algo parecido com "eca" e saiu pisando firme para dentro de casa, pronta para limpar o rosto, claramente irritada.

— Desculpa — murmurou Celeste, franzindo as sobrancelhas. Não queria ser uma influência ruim para a pequena, que praticamente a idolatrava. Samantha imitava tudo nela, e seria péssimo se ela começasse a aprender as coisas erradas.

— Tá tudo bem. Quer entrar? Se quiser, pode ir. Vou continuar aqui mais um pouco — disse Thomas, indicando com um gesto o veículo que ele tentava, sem muito sucesso, consertar há dias.

— Tudo bem — respondeu ela, por fim, dando dois tapinhas no ombro dele. — Hoje a janta é por minha conta! — avisou, seguindo para dentro da casa. Thomas fez uma careta, mas no fundo estava aliviado. Pelo menos, não teria que se preocupar em cozinhar.

「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」

A ansiedade de Celeste crescia, sem um motivo claro, fazendo suas pernas se moverem sem parar. Havia algo no ar; o dia parecia lhe prometer uma boa surpresa, mesmo que ela não soubesse o que poderia ser. Já fazia um tempo desde sua última visão, e isso lhe trazia um certo alívio. Afinal, não estava nos seus planos passar novamente pelo sofrimento que as visões causavam — e Anthony ficaria desconcertado se ela aparecesse com outra cicatriz de repente.

O cheiro forte do café que Thomas preparava ao seu lado trazia à tona memórias vívidas do passado, momentos que ela havia vivido com Cinco. Apesar dos anos, as lembranças ainda eram nítidas. Da última vez que ele desapareceu por quase quinze anos, Celeste ainda guardava esperanças. Bem, ele havia prometido voltar, afinal.

Mas dessa vez... Dessa vez era diferente. Eles tinham superado a falsa "só amizade" e finalmente revelado o que sentiam, mas ele não deixara nenhuma promessa. Ela estava ali, lutando no teatro, até que, sem explicação, se encontrava agora em Dallas, sessenta e dois anos antes. Não fazia ideia do que acontecera. Será que ele tinha morrido? Esse pensamento a atormentava todos os dias. Mesmo assim, o reaparecimento dele depois de um tempo parecia ser uma espécie de padrão. Quem sabe ele não aparecia? Ela não sabia.

Enquanto cortava cebolas para jogá-las na panela, o toque do telefone soou alto na cozinha, puxando-a de volta dos seus pensamentos. Thomas, ouvindo o telefone, pegou a térmica e começou a encher sua xícara de café, mas derramou um pouco sobre a bancada no processo. "Ops", resmungou, atrapalhado.

Celeste rapidamente alcançou o pano e o entregou a ele, que o pegou com um murmúrio de agradecimento antes de atender ao telefone fixo. Enquanto limpava, ele respondeu:

— Ah? Oi, pai. Que? Tá bom.

Celeste colocou as cebolas na panela, que começaram a fritar na manteiga quente. O aroma se espalhou pelo ambiente, e Samantha veio correndo para ver o que ela estava preparando. Ficou na ponta dos pés para espiar, com uma expressão um tanto desconfiada das habilidades culinárias de Celeste.

— Cuidado para não se queimar — advertiu Celeste.

— O que você está fazendo? — Samantha perguntou, segurando a barra do avental de Celeste com curiosidade.

— Bem... — Celeste começou a responder, mas percebeu que nem tinha certeza. Olhou para a garota, que esperava uma resposta, talvez pronta para tirar sarro dela. "Vamos decidir a janta agora. Voilà," pensou. — Nem te conto.

— Hm? — Samantha resmungou, impaciente. Depois de tanto tempo convivendo juntas, pareciam quase irmãs. Compartilhavam as mesmas manias, a mesma impaciência, o mesmo sarcasmo e sinceridade. Mas Samantha tinha um jeito adorável, que conquistava a todos.

— Tem três chances de adivinhar. Se acertar de primeira, vai ter o privilégio de comer minha comida.

— O privilégio tá mais pra tortura — rebateu Samantha, sem perder o tom. Ainda assim, riu da própria provocação.

— Desde quando você não gosta da minha comida, hein, ingrata? — Celeste perguntou, fingindo-se de ofendida, enquanto mexia as cebolas na panela. Samantha, ao lado dela, parecia completamente tranquila.

— Desde que você começou a cozinhar essas coisas nutritivas — respondeu, fazendo uma careta.

— É para sua saúde! — retrucou Celeste, ofendida.

— Você fala como uma mãe de trinta anos — disse Samantha, rindo com malícia. "Trinta eu tenho", Celeste pensou, levemente chocada. "Mas mãe...? O que eu estou me tornando?"

Celeste revirou os olhos. A garota estava cada vez mais afiada. Pegou o pano de prato e deu uma leve batidinha no braço de Samantha, que se afastou, rindo e se defendendo.

— Vai, tente adivinhar o jantar — lembrou Celeste, tentando focar na decisão da comida antes que as cebolas queimassem. — E SEM falar mal da minha comida.

— Difícil, né? — Samantha resmungou, colocando o dedo no queixo, o olhar fixo na panela. — Porcaria de cenoura com brócolis? — perguntou, fazendo uma careta. Desde que Celeste aderira às comidas saudáveis, Samantha assumira o papel de sua maior crítica.

— "Porcaria" de cenoura com brócolis não é o nome de um prato. — Celeste corrigiu, segurando o riso e escondendo a pequena diversão que sentiu. Samantha percebeu que havia conseguido arrancar um sorriso dela, ainda que Celeste se esforçasse para não incentivar o sarcasmo da garota. — Te dou mais uma primeira chance — completou, enquanto Samantha revirava os olhos. Afinal, na segunda tentativa, talvez ela não tivesse o "privilégio" de jantar sua comida. — Tente algo melhor.

— Lasanha — arriscou Samantha, hesitante, mas com um brilho de expectativa no olhar. Celeste nem estava pensando em fazer lasanha, mas como poderia recusar a ideia quando Samantha demonstrava tanto interesse?

— Acertou. Agora vai poder comer minha comida.

— Isso é horrível — retrucou Samantha, fingindo nojo, mas não conseguindo esconder o riso.

— Eu vou caprichar, espertinha.

— Só não pede ajuda do Thomas, por favor — pediu Samantha, baixando a voz, mas com um tom dramático. Thomas, que ainda segurava o telefone, lançou um olhar ofendido na direção dela. — Da última vez, ficou péssimo. Se combinar com o seu jeito de cozinhar… meu Deus. — A última frase foi sussurrada, mas não o suficiente para que ele não ouvisse. Em protesto, Thomas pegou o pano de prato e o lançou na direção dela, com uma expressão divertida.

Samantha saiu da cozinha para voltar aos estudos, e Celeste aproveitou o momento para adicionar farinha à manteiga derretida, preparando o molho bechamel. Thomas, ainda segurando o telefone, de repente se virou para ela.

— Celly? O Tony quer falar com você — avisou, estendendo o aparelho.

Celeste trocou de lugar com ele rapidamente. Enquanto ela levava o telefone ao ouvido, Thomas se ocupava de mexer a farinha com as cebolas e a manteiga. Samantha, observando de longe, não conseguiu esconder o olhar julgador ao ver o irmão tentando se ajeitar na cozinha.

— Oi? Tony?

— Celly, preciso que você assuma as coisas em casa enquanto eu estiver fora — Anthony pediu. A voz dele soava cansada, mas tranquila, evidenciando que estava há horas além do seu turno no sanatório.

— Ah, sim. Já estou preparando o jantar — respondeu ela, simpática. Thomas e Samantha trocaram olhares sincronizados, fazendo-a franzir a testa em descrença. — Thomas mencionou que você está cobrindo o turno do Ross. Que horas você volta?

— Esse é o problema… vou ter que ficar a noite toda. — Ele suspirou pesadamente. — Um grupo de homens armados acabou de causar um tiroteio aqui no sanatório. Eles liberaram vários pacientes, e eu preciso organizar a lista dos desaparecidos. Acredito que só estarei de volta amanhã cedo — explicou ele, a voz exausta denunciando o estresse do momento.

— O quê?! — A voz de Celeste saiu em um tom alto, a preocupação evidente. O suicídio de Ross e agora isso? — Tony, você está bem? Realmente bem?

— Estou sim, pequena — ele respondeu com ternura, tentando acalmá-la. — Vou voltar assim que puder. Sinto muito por não estar aí para o jantar. Ligo de novo em algumas horas para saber como estão as coisas por aí. Se cuidem, tá?

— Tudo bem — suspirou Celeste, derrotada, olhando para Thomas e Samantha, que agora discutiam algo trivial. — Eu vou cuidar de tudo por aqui — afirmou, com um toque de hesitação. — Tchau, Anthony.

— Tchau, Celly.

Celeste desligou, esfregando o rosto com as mãos, enquanto jogava a cabeça para trás, sentindo o peso das responsabilidades que o dia seguinte traria. Ainda assim, faria tudo com prazer por Tony, que sempre a ajudara tanto. Nesse momento, Thomas, deixando a panela com o bechamel pronto, aproximou-se dela com um sorriso irônico.

— Deixa eu adivinhar, o papai pediu pra você cuidar da gente? — Thomas perguntou, com um tom entediado, cruzando os braços e observando Celeste com desdém.

— De você não — respondeu ela, franzindo o cenho, incrédula. Deu-lhe um tapinha no braço, passando por ele e voltando para o fogão. — Você já tem dezoito anos, seu bobo.

— Exatamente! Era pra ele me dar essa responsabilidade — ele resmungou, revirando os olhos, antes de deixá-la focar na comida. Em seguida, Thomas se dirigiu ao quarto de Samantha, e logo Celeste ouviu gritos de "socorro" vindo de lá. Claro, eram as brincadeiras de sempre. Eles brigavam, lutavam, ele fingia ser fraco, e ela, apesar de dar tudo de si para vencer, invariavelmente perdia.

Essas cenas lembravam Celeste de sua antiga vida, da Umbrella Academy. Ela se recordava das vezes que Diego invadia seu quarto para provocar, das travessuras com Klaus, das fofocas que Allison lhe contava. Sentia falta dos duetos silenciosos com Vanya, dos momentos em que Ben ficava irritado ao ser interrompido em seu mundo literário e, claro, dos comentários de Luther que sempre a deixavam irritada. Mas, acima de tudo, lembrava de Cinco: das danças, do beijo. Sentia uma pontada de saudade, mas rapidamente se concentrou na tarefa.

Depois de terminar os molhos e montar a lasanha, colocou-a no forno. Enquanto esperava, notou que na TV aberta estava passando um filme que Thomas comentara a semana inteira que queria assistir. Ele se atirou no sofá, de olho na tela.

Assim que Celeste terminou de limpar a cozinha, olhou para trás e viu Samantha e Thomas lado a lado, totalmente imersos no filme. Sentindo-se parte daquele momento de descontração, ela não resistiu e se jogou no sofá junto com eles, aproveitando para roubar uma boa quantidade de pipoca do pote de Thomas.

Thomas, do seu lado, nem reclamou. Deixou os pés esticados no colo da irmã, enquanto ela cutucava os pés dele. Na TV, "Moscou contra 007" exibia cenas que deixavam Thomas tenso e faziam Samantha desviar o olhar — isso quando ele não colocava a mão na frente dos olhos dela, provocando-a. Ela resmungava e xingava, sem paciência para as brincadeiras do irmão.

O telefone tocou novamente. Coincidentemente, no mesmo instante em que Celeste se levantava para checar a lasanha. Thomas, entendendo o que fazer, correu para o forno enquanto ela atendia o telefone.

— Alô? — Celeste atendeu com um sorriso, observando Thomas pegar o pano de prato para tirar a travessa quente do forno. Ele era mais atrapalhado que ela, se é que isso era possível. Samantha já estava a postos na mesa, ansiosa.

— Oi, Celly! Tudo bem com vocês aí em casa? Já jantaram?

— Estamos bem sim. Thomas acabou de tirar a lasanha do forno. Já prestou seu depoimento? — perguntou, enquanto olhava Thomas quase derrubar a travessa quente.

— Não... a polícia está concentrada em localizar os pacientes e reunir provas. — Anthony suspirou, a voz cansada. — Ah, posso te fazer uma pergunta?

— Claro, o que quiser.

— Você não tem irmãos, não é? — A voz dele soava curiosa, quase hesitante. Celeste congelou por um segundo. E se ele tivesse encontrado um deles?

— Tenho — respondeu, a voz saindo quase em um sussurro, enquanto seu coração acelerava. — Lembra dos três primeiros anos aqui? Eu… me perdi deles. Faz tempo que não os vejo.

Uma fagulha de esperança surgiu dentro dela. Mesmo após tanto tempo, aquela era a chance de um reencontro. Ela se adaptara a essa vida, mas não hesitaria em voltar para perto deles — até mesmo Luther, talvez. Prendeu a respiração, esperando Anthony continuar, o pingente em forma de infinito em seus lábios, como uma prova de que tudo aquilo era real.

— Diego Hargreeves te soa familiar? — Anthony perguntou, sem rodeios, e o coração dela quase parou. Celeste sentiu a boca abrir, mas nenhuma palavra saía. Ele o havia encontrado. — Celly? Diego...

— Diego... Hargreeves? Anthony, você tá brincando? — A incredulidade coloria sua voz.

— É o nome que consta aqui na ficha...

— Sim! — respondeu ela, um sorriso abrindo em seu rosto. Thomas e Samantha, sem entender a situação, levantaram as sobrancelhas, intrigados com a súbita alegria de Celeste.

— Eu estava conferindo a lista dos pacientes desaparecidos antes de enviar os documentos, e encontrei o nome dele. Pelo que entendi, o Dr. Moncton fazia rodas de conversa com ele na ala hospitalar. Posso tentar falar com o médico amanhã para ver o que consigo descobrir — explicou Anthony, enquanto Celeste absorvia tudo, eufórica. Seu coração e sua mente se debatiam em pensamentos. Ela tinha escolhido se afastar há anos atrás, mas agora... depois de tanto tempo, sentia a mais pura saudade. E também, talvez pudesse ter respostas. Isso significava que eles também estavam ali, de alguma forma.

— Claro, Tony! Por favor — pediu, ansiosa, enfiando uma mecha de cabelo atrás da orelha e andando de um lado para o outro. Samantha e Thomas a observavam, inclinando a cabeça para tentar ouvir o que se passava no telefone, como os curiosos que eram.

— Se quiser, pode vir aqui amanhã de manhã — Tony sugeriu, hesitante. — O Dr. Moncton está aqui agora, mas...

— Não. Se o médico do Diego está aí, eu tô indo agora — respondeu Celeste, ansiosa. Thomas quase saltou da cadeira.

— O quê?! Celly, já tá escuro. Não é seguro você sair sozinha a essa hora...

— Pode ficar tranquilo, eu sei me defender — ela insistiu, sem perder tempo. — Chego aí em vinte minutos — falou, desligando rapidamente o telefone.

Ao colocar o aparelho de volta no suporte, soltou um suspiro, quase rindo de incredulidade. "Por que eu não me surpreendo de Diego ter sido internado?" murmurou, esboçando um sorriso de alegria e nostalgia. A chance de reviver aqueles tempos finalmente parecia ao seu alcance. Ela se pegou pensando em Cinco, imaginando se ele também já teria chegado... por um instante, se arrependeu de não ter voltado ao beco nos últimos três anos.

Celeste saiu da sala a passos rápidos, indo em direção ao seu quarto. Samantha e Thomas trocaram um olhar curioso.

— Onde é que você vai?! — Thomas perguntou, preocupado, enquanto Samantha se aproximava com o prato de comida nas mãos, pela primeira vez sem fazer cara feia.

— Achar meu irmão — respondeu Celeste, dando de ombros, como se fosse óbvio. Depois, fez uma careta. Nunca havia contado a eles sobre seus irmãos.

— Irmão? Eu nem sabia que você tinha família — ele disse, arregalando os olhos. Samantha quase se engasgou com a comida. — Só lembro daquela história do irmão-fantasma e...

Celeste se virou abruptamente, segurando os ombros de Thomas e o encarando com uma intensidade que ele nunca tinha visto.

— Escuta, eu nunca falei muito sobre eles porque eu achava impossível reencontrá-los. E agora... eu tenho a chance de ver o meu irmão. O idiota maluco que eu chamava de "Didi" aos doze anos. Então, por favor, entenda isso. — A voz dela era firme, quase um pedido desesperado. Thomas ficou boquiaberto, tentando processar o que ouvia. Ela parecia realmente agitada.

Antes que ele pudesse responder, Celeste entrou no quarto e bateu a porta, determinada a se arrumar.

Ainda assim, não conseguiu abafar os sussurros do lado de fora:

— A Celly vai embora?

— Eu... eu acho que não, Sammy.

— E se ela for?

— Não sei.

— Você nunca sabe de nada mesmo.

Celeste quase podia imaginar Samantha revirando os olhos. Com pressa, abriu o guarda-roupa, frustrada ao ver que as calças estavam todas para lavar. Pegou o primeiro vestido que encontrou — um azul escuro — e um casaco, já que era noite. Calçou sapatos simples e prendeu o cabelo em uma trança rápida. Olhou-se no espelho, resmungando, sentindo-se ridícula. Mas não tinha tempo para se preocupar com aparência agora.

Saiu do quarto com a mesma rapidez com que havia entrado e se vestido. Quando chegou à porta, percebeu Thomas e Samantha a observando. Thomas, com os braços cruzados, parecia não querer deixá-la ir.

— Vai pra onde exatamente? — perguntou ele, preocupado.

— Tenho que me encontrar com seu pai — respondeu Celeste, simples, segurando a maçaneta da porta enquanto uma brisa fria invadia a sala.

Thomas abriu a boca para fazer mais perguntas, mas hesitou. Celeste notou a preocupação no rosto dele, um misto de medo e incerteza, mas acabou cedendo com um breve aceno.

— Eu me viro amanhã — ele resmungou, tentando soar despreocupado. Coçou a nuca, desconfortável. Samantha, por outro lado, fez uma careta, claramente não gostando da ideia.

— Você que vai fazer o almoço? — perguntou a garotinha, olhando para Thomas com ceticismo. Ele revirou os olhos.

— Você anda muito reclamona pro meu gosto — ele retrucou, cruzando os braços. — Se continuar assim, vou queimar a comida de propósito.

Ela resmungou, suspirando derrotada.

— Vai voltar? — A voz de Samantha saiu quase trêmula, o que era raro, pois ela raramente demonstrava fragilidade.

— Deixa ela encontrar a família, tudo bem? — disse Thomas, colocando a mão sobre a cabeça da irmã. Samantha pareceu pensar, ainda relutante, mas assentiu.

— Tudo bem...

— Obrigada — disse Celeste, sentindo um peso sair dos seus ombros. Soltou uma respiração que nem percebera estar prendendo.

Estava prestes a sair, pronta para ir ao sanatório, mas algo a fez parar. Sentiu que precisava se despedir deles, nem que fosse por um instante.

Deu meia-volta e abraçou Thomas. Ele ficou surpreso, mas acabou correspondendo ao abraço, como se também precisasse daquilo. Ainda relutava em deixá-la ir, mas sabia que não havia como impedi-la. Celeste era mais teimosa que uma mula.

— Eu prometo que volto amanhã à tarde, no máximo — garantiu ela, soltando-o. Abaixou-se até a altura de Samantha, segurando seu rosto com as mãos e enchendo-o de beijinhos. Samantha, apesar da carranca de sempre, deixou escapar um sorriso discreto.

Quando finalmente saiu, o coração de Celeste batia acelerado. Nunca se sentira tão ansiosa na vida.

「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」

Um táxi deixou Celeste na entrada do sanatório da cidade. Diversas viaturas da polícia cercavam o local, e uma faixa amarela de isolamento deixava claro que ninguém devia ultrapassar aquela área. Mas ela não estava disposta a obedecer.

— Ei! Você! Não pode estar aqui! — chamou um policial, interrompendo-a antes que pudesse avançar pela área restrita. Celeste quase bufou de impaciência.

— Tenho que falar com Anthony Blake.

— Ele está prestando depoimento agora. Vai ter que esperar — informou outro guarda, de longe.

Sem outra escolha, Celeste afastou-se, frustrada. O tempo parecia passar lentamente, como se cada segundo a separasse ainda mais de Diego. Ela esperou, firme, embora o frio da noite parecesse atravessar seu casaco fino, não sendo suficiente para aquecê-la. O vento gelado parecia querer intensificar sua ansiedade.

Depois de longos doze minutos, Tony finalmente apareceu, saindo do sanatório. Ele cumprimentou algumas pessoas, visivelmente exausto, com olheiras profundas.

Quando ele a notou, Celeste acenou, sem esconder a urgência no olhar.

— Não acredito que você realmente veio sozinha — ele comentou, incrédulo com a ousadia dela. Aproximando-se, cumprimentou os policiais com um aceno de cabeça.

— Preciso falar com o médico do Diego — disse Celeste sem rodeios. Anthony suspirou, quase resignado.

— Não sei se ele vai te passar alguma informação. Conversei com ele antes, mas está cansado. Sugiro que venha amanhã e...

— Eu sei, Tony — interrompeu, visivelmente impaciente. — E agradeço por isso. Mas eu preciso vê-lo hoje.

Tony hesitou, olhou ao redor e, após coçar a nuca, finalmente cedeu:

Sem outra palavra, ele começou a andar, e Celeste o seguiu em direção ao sanatório. Desta vez, com ele ao lado, ninguém impediu sua passagem.

Eles caminharam pelo lugar. O ambiente era frio e estranho, com um ar quase sufocante. Cada passo ecoava pelos corredores vazios, acompanhando-os como uma trilha sonora inquietante. Alguns policiais estavam ali, examinando o local, buscando sinais de arrombamento, recolhendo projéteis para análise... Quando atravessaram o terceiro corredor, viram um homem alto, de cabelos penteados e óculos largos, saindo da sala de interrogatório.

Celeste e Anthony pararam alguns passos à frente, esperando enquanto o homem se despedia dos policiais. Quando ele os avistou, aproximou-se, sem sorrir, mas estendendo a mão, claramente cansado.

— Ah, oi. Você deve ser a Celeste, certo? — ele perguntou educadamente. Celeste apertou a mão dele com firmeza, embora estivesse nervosa. Anthony, ao lado dela, mantinha-se calmo. — Pode me chamar de Moncton. Anthony comentou que você... tinha algumas perguntas sobre o Hargreeves, não é?

— É um prazer conhecê-lo, senhor — cumprimentou Celeste, tentando conter o nervosismo. — Tony está certo. Preciso de... qualquer informação sobre Diego.

— Diego é um caso complicado — Moncton suspirou. — Se você veio buscar informações pessoais do paciente, sinto muito, mas não posso ajudar. Tony é um bom amigo, mas tenho deveres éticos; não posso divulgar informações confidenciais...

— Eu sou irmã dele — interrompeu Celeste, numa tentativa desesperada de conseguir algo. — Faz muito tempo que não o vejo. Qualquer informação seria muito útil, Dr. Moncton.

O homem ponderou, lançando um olhar ao redor para se certificar de que ninguém mais ouvia. Respirou fundo, escolhendo as palavras com cuidado.

— Em situações normais, eu diria para você esperar que a polícia o traga aqui novamente e agendar uma visita — começou ele, sério. — Mas Diego tem demonstrado... habilidades peculiares. Ele escapou da solitária umas cinco vezes, e nem está aqui há tanto tempo.

Celeste quase fez uma careta de incredulidade. "Meu Deus, que moleque difícil!"

— A polícia deve pegá-lo em breve, mas ele é astuto, em certo sentido — continuou Moncton, falando com um cuidado que claramente ocultava detalhes. — Nas últimas sessões, tem demonstrado ideias absurdas. Foi diagnosticado com complexo de herói, paranóia aguda, delírios de grandeza...

— Entendo — murmurou Celeste, desanimada, olhando ao redor. Tudo aquilo parecia em vão. Pensou se mais alguém da família teria visitado Diego. — Ele... teve alguma visita enquanto esteve aqui?

Essa parecia ser uma pergunta que o doutor poderia responder sem reservas.

— Teve. Uma só — respondeu Moncton, com um tom levemente amargo. — Um jovem, da sua idade, com uniforme de escola e sapatos estranhos.

"Cinco?", pensou ela, lembrando-se dos sapatos de boliche. Cinco tinha voltado.

— E... sobre o que eles conversaram? — perguntou Celeste, agora não só preocupada com Diego, mas ansiosa para reencontrar Cinco. Sentiu suas mãos suarem de nervosismo; a ansiedade de antes era pequena comparada ao que sentia agora.

— Bom, segundo os seguranças, eles mencionaram algo sobre um beco e aterrissagem — disse Moncton, franzindo o cenho com confusão. O coração de Celeste disparou; Cinco devia ter chegado hoje. — Bom, não posso dizer mais nada, senhorita — completou, cansado. Ele bocejou e cobriu a boca, num gesto educado. — Boa noite, Tony. Boa noite… senhorita Hargreeves.

Moncton se afastou, e o corredor pareceu se encher rapidamente de pacientes trazidos de volta pela polícia. Os agentes encontravam os internos e os levavam de volta aos quartos, restaurando a ordem. Celeste sentiu um nó de expectativa; poderia realmente reencontrar Cinco no beco.

— Isso te ajudou em alguma coisa? — perguntou Tony, ainda sem entender. Ele a olhava intrigado, cruzando os braços, esperando por uma explicação.

— Você nem imagina o quanto — disse Celeste, respirando fundo antes de se virar para ele, com uma expressão decidida. — Preciso ir agora, Tony.

— O quê? Pra onde?

— Eu sei onde eles estão — respondeu, firme, sem dar muitos detalhes. Mencionar "beco de aterrissagem" para um psiquiatra provavelmente não soaria bem.

— Olha, Celly, eu não posso te levar agora. O carro está quebrado, e vou ter que passar a noite por aqui — explicou Tony, preocupado, a voz lembrando a de Thomas mais cedo.

— Não preciso que me leve — disse ela, determinada, apertando o casaco ao redor de si. — Prometo que volto amanhã à tarde para ver vocês de novo.

Antes que ele pudesse responder, Celeste o envolveu em um abraço rápido e saiu apressada pelas grandes portas do sanatório.

「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」

A madrugada avançava lenta e gelada, e Celeste começou a se arrepender de ter vindo a pé. Uma garota de aparentemente dezesseis anos andando sozinha pelas ruas de Dallas não era a cena mais segura a essa hora.

Passou por um grupo de homens que bebiam do lado de fora de um bar, rindo alto e tirando sarro das poucas pessoas que passavam. Um deles assoviou para ela, provocando risadas dos outros. Celeste ignorou, mas uma chama de raiva subiu em seu peito. "Idiotas imundos", pensou, fantasiando em silêncio sobre um pequeno choque elétrico que os fizesse parar. Mas eles não haviam passado dos limites… por enquanto.

Ela olhou para o relógio de pulso: quase duas da manhã. Seu estômago roncava e uma leve tontura começou a rondá-la; há dias que não comia direito, distraída pela ansiedade. Desde que chegara a Dallas, às vezes até esquecia de comer.

Quando finalmente se aproximou do beco, um misto de familiaridade e expectativa tomou conta dela. Parou diante da porta de metal do prédio e bateu com impaciência, os nós dos dedos tilintando no frio. Alguém precisava atender.

Os mesmos homens do bar, que antes estavam na esquina, agora entravam no beco, cercando Celeste. Ela sentiu o coração acelerar ao perceber que estava encurralada contra a porta de ferro, e, por mais que batesse, ninguém parecia estar ouvindo.

— Ei, gatinha! — gritou um deles, aproximando-se com um sorriso desdenhoso.

— Quantos anos você tem, hein? — zombou outro.

— Que tal nos dar um beijinho? — provocou o mais novo do grupo, com olhos maliciosos.

O espaço entre eles diminuía a cada passo, deixando Celeste ainda mais pressionada contra a porta. Ela se encolheu, mas a voz saiu firme.

— Não encham o meu saco. Me deixem em paz.

Um deles riu, seus olhos brilhando com uma diversão sádica. 

— A gatinha é teimosa.

Celeste, desesperada, bateu na porta com mais força, a voz agora elevada. 

— Abram a porta pra mim! Por favor!

— Pra que fugir, hein? — outro riu, os olhos cheios de malícia. — A gente sempre consegue o que quer...

— Belo vestido, viu? Ficou uma gracinha nele — sussurrou o mais velho, estendendo a mão para tocar seu cabelo.

Celeste agiu por instinto. Segurou o braço do homem e o torceu com força, quase quebrando-o contra o próprio tronco dele. Os outros tentaram puxá-la para trás, mas ela se desvencilhou com um golpe certeiro de cotovelo em um e um chute afiado na canela do outro, que rosnou de dor. Ela já sentia o corpo vacilar — estava sem treinar há tempo demais — e o estômago revirava de náusea.

Antes que pudesse reagir, um deles a jogou ao chão, segurando seu braço. Ele ficou na barra do vestido dela, quase levantando. O cheiro azedo de bebida era sufocante, e ela começou a perder o controle. Fechou os olhos, absorvendo a energia do poste de luz acima, e, com um impulso, liberou uma corrente elétrica, atingindo os três ao mesmo tempo. Aproveitou a confusão para correr de volta à porta, batendo desesperadamente, mas ainda sem resposta.

— Sua desgraçada! — gritou um deles, cambaleando ao se levantar, os olhos furiosos.

De repente, uma luz azul piscou ao seu lado, iluminando o beco por alguns segundos. Celeste mal acreditou no que via; uma figura familiar apareceu entre ela e os homens. Antes que eles pudessem avançar, Cinco já se movia, rápido e preciso.

Ele deu um soco no primeiro homem, que caiu com o impacto. O segundo, aquele que falara mais bobagens, recebeu um chute direto na boca, caindo ao chão, fraco e desorientado. O terceiro, o que tentara levantar o vestido de Celeste, teve o braço torcido por Cinco, que pressionou o joelho em suas costas, forçando o braço com força. O homem gemeu em desespero, o rosto esmagado contra o chão.

O grito do agressor encheu o beco, enquanto Cinco o mantinha preso. Celeste quase podia ouvir a frieza irônica no olhar de Cinco, um aviso sombrio. Quando finalmente o braço do homem quebrou, ele urrou de dor, até que Cinco o acertou na cabeça, deixando-o desacordado.

Celeste, ainda atordoada, juntou as forças restantes e usou a eletricidade para garantir que os três estavam apagados. Não queria absorver a energia imunda deles, mas naquele momento, não havia escolha. O choque a fez sentir-se suja, mas aliviada.

Ela voltou o olhar para a figura de Cinco, que a encarava. Estava sem o blazer, usando apenas a camisa branca, com uma expressão de cansaço e alívio misturados.

— Você está bem? — ele perguntou, a voz um pouco trêmula, como se ainda tentasse processar o que teria acontecido se tivesse chegado tarde demais.

Sem pensar, Celeste o abraçou com força. Cinco envolveu seus braços ao redor dela, segurando-a com firmeza. Ela pôde sentir o cheiro familiar dele, o toque suave do nariz dele roçando seu pescoço. O calor do abraço e a força com que ele a apertava fizeram seu coração disparar.

Cinco suspirava pesadamente, como se ainda se recuperasse do choque. Para ele, haviam se separado há apenas algumas horas, mas para ela, parecia uma eternidade. Quando ele a soltou, levou as mãos ao rosto dela, examinando-a com cuidado, para se certificar de que estava bem. Seus olhos encontraram os dela sob a luz suave da madrugada, e por um momento, Celeste pensou no quão surreal era aquilo. Tinha esperado tanto tempo para ver aqueles olhos azuis de novo.

— Sim — respondeu ela, a voz suave, quase um sussurro, com um sorriso leve.

— Vou te teleportar — ele avisou, e num instante, o mundo ao redor se dissolveu.

Já estavam dentro do prédio para o qual Celeste tanto tentara chamar atenção. O lugar era simples, com uma escadaria larga, ladrilhos de época e pisos bem cuidados. Em silêncio, subiram os degraus, enquanto Cinco a observava de soslaio. Ele havia notado sua aparência, como estava mais velha. Aquilo deve tê-lo confundido.

Chegaram a uma sala aconchegante e desorganizada, com pilhas de papéis presos nas paredes e uma leve sensação de desordem que trazia certo calor ao ambiente.

Um homem desajeitado, vestido com um roupão colorido, entrou no cômodo coçando o rosto enquanto bocejava. Parecia ter sido acordado de um sono profundo e sua maneira atrapalhada deixava a cena ainda mais curiosa.

— Quem é ela? — perguntou, estreitando os olhos para enxergar melhor. Quando reconheceu Celeste, a expressão de sono se desfez, e seu rosto iluminou-se com um sorriso genuíno. — Espera, você é a primeira. Você chegou antes de todos! — disse, realmente interessado. Estendeu a mão de forma gentil. — Eu sou Elliot.

— Celly — ela respondeu, apertando a mão dele para finalizar o cumprimento.

— Está aqui há quanto tempo? — questionou Cinco, que se escorava no balcão da cozinha. Ele parecia hesitante, quase temeroso da resposta. — Me lembro de você estar mais nova quando nos trouxe pra cá.

Celeste abriu a boca, hesitante. Sabia que a resposta causaria culpa a ele, mas não havia como evitar. Olhou nos olhos dele, tentando transmitir serenidade, enquanto seu olhar brilhava, triste.

— Seis anos — disse, em um sussurro. Sua voz estava baixa, ela sentou-se na cadeira da mesa, olhando para o próprio colo. Elliot ergueu uma sobrancelha, visivelmente espantado, como se estivesse relembrando aquele momento.

O rosto de Cinco expressou puro espanto, e a culpa o envolveu como uma sombra. Ele respirou fundo, endireitando-se, mas o desconforto era palpável. Desviou o olhar, incapaz de suportar a realidade.

— Pode, por favor, me explicar por que eu vim parar aqui? Eu achei que havia conseguido impedir o apocalipse — Celeste questionou, com um tom triste.

— Apocalipse?! — Elliot indagou, a confusão evidente em seu olhar. Parecia querer fazer parte daquele momento de revelação.

— Na verdade, no momento em que Vanya te jogou contra o teto do teatro, ela venceu a batalha — explicou Cinco, voltando a olhar nos olhos castanhos da garota, que agora pareciam se nublar. — Aquele raio de energia atingiu a lua, que se despedaçou e caiu na terra.

Celeste ficou atônita, confusa. Ao longo dos anos em que ficou sozinha, tinha imaginado várias teorias para entender a situação, mas nada se comparava à loucura que acabara de ouvir.

— Tentei pensar rápido e achei que nossa melhor chance era viajar para o passado. Viver nossas vidas aqui, longe do apocalipse, consertar a Vanya e depois voltar para o futuro.

— Mas nos espalhou em diferentes anos... — observou ela, com a voz carregada de preocupação.

— Sim — confirmou ele, a tristeza clara em seu olhar. Ele desviou o olhar novamente, decepcionado. — Só vi Diego e Luther até agora. Cheguei ontem de manhã. Tentei te encontrar quando cheguei, mas não achei cartazes ou anúncios seus nos jornais. Luther e Diego nem sabiam que você já havia chegado.

— Evitei deixar rastros que pudessem alterar a linha do tempo — respondeu ela, dando de ombros e engolindo em seco. A esperança de finalmente poderem viver suas vidas pesava sobre ela. — Nada de apocalipses, certo? — questionou, com a voz trêmula, cheia de medo. Sabia como as coisas poderiam mudar da noite para o dia.

— Na verdade... — Antes que ele pudesse concluir, Celeste fez uma careta de incredulidade e exaustão. — trouxemos o fim do mundo conosco.

— Sério? — perguntou, coçando o pescoço, incrédula. "Não posso acreditar nisso", pensou. Ela desviou o olhar, evitando o contato visual.

Ele confirmou em silêncio.

— O mundo acaba em nove dias. A causa é um ataque nuclear. Criamos uma guerra.

Celeste soltou uma risada nervosa, incrédula. "Eu sabia que éramos problemáticos o suficiente, mas criar uma guerra?", refletiu.

— Guerra? — Elliot estava claramente confuso, sem entender a gravidade da situação.

— Elliot, por que você ainda está aqui? — indagou Cinco, impaciente, tentando tirar o foco da tensão.

— Desculpe. Tô indo pra cama — Elliot se rendeu, levantando-se e saindo da cozinha, deixando-os a sós. Ele parecia realmente desajeitado, mas a seriedade da conversa pairava no ar.

Um silêncio pesado se instalou entre eles. Celeste olhava para o chão, enquanto Cinco refletia sobre o quão idiota havia sido ao ter a ideia de viajar no tempo. A realidade era dura: Celeste havia ficado sozinha por mais seis anos. Ele quase se amaldiçoou por isso.

— Eu sinto muito — murmurou, a voz baixa. Celeste levantou o olhar para ele, balançando a cabeça em negação. Ambos se levantaram, ficando frente a frente.

— Não foi culpa sua — ela disse, com firmeza. — Foi sua primeira vez-

— Eu não deveria ter feito isso. Deveria ter esquecido tudo. Preferiria que tivéssemos morrido do que isso, e-

— Cinco! — Ela o repreendeu, incrédula, enquanto pegava o jornal em cima da mesa e batia com ele em seu braço. Ele arregalou os olhos de surpresa. — Eu vou fingir que não ouvi isso.

— Seis anos, Celly! — Ele exclamou, a voz carregada de decepção. Segurou os braços dela, forçando-a a encará-lo. — Eu disse que não deixaria você esperar mais. Foram quase quinze anos antes. Você tem noção de que isso é loucura?

— Eu sei que é loucura! — Ela respondeu, com calma, mas a frustração transparecendo. — Mas que merda! Quando eu disse aquilo pra você, eu não estava brincando, Cinco.

Ela se desvencilhou dos braços dele, cansada. Jogou o jornal longe, cobrindo o rosto com as mãos, como se quisesse esconder a dor.

— Você acha que eu brinquei? Eu disse que te amo. Vamos fazer isso de novo. Vamos tentar impedir o apocalipse, e tudo bem. E… dessa vez, vamos conseguir.

Cinco suspirou, derrotado.

— Não foi sua culpa. A vida tem espaço para erros. Eu aprendi isso — ela sussurrou, dando um passo à frente e aproximando-se dele. Segurou seu rosto, forçando-o a olhá-la. Nos olhos dela, ele viu compreensão, uma qualidade que sempre o encantou. Pensou em como havia conquistado aquela mulher e se questionou se realmente merecia alguém tão incrível. — Vamos reiniciar, tudo bem? Apocalipse de novo, e depois, uma casa boa.

Ele suspirou, pegando as mãos dela e afastando-as do rosto, segurando-as com delicadeza reconfortante. Observou os dedos dela, remendados e cheios de cicatrizes. Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto.

— Você é adorável.

Ela retirou as mãos, envergonhada, sentindo o rosto aquecer. Cinco olhava para a boca dela, e ela tentou ignorar isso, mesmo desejando ardentemente aquela atenção.

— Isso está ridículo — retrucou, escondendo as mãos. — As técnicas de sutura dos anos 50 não eram tão eficazes. Mas… tenho que admitir, isso é um milagre.

Ela sorriu, meio tímida. Cinco novamente segurou sua mão, os dedos machucados. Ele umedeceu os lábios, olhando para as cicatrizes.

— Eu gosto deles… dos seus dedos. Mesmo com cicatrizes — ele deu de ombros, como se aquilo realmente não importasse para ele. — Sabe por quê? — perguntou, a voz baixa como um sussurro. A garota franziu a sobrancelha, parecendo desconfiada. Ele ergueu a mão dela, beijando o anelar. — Vou colocar uma aliança dourada nesse aqui, um dia.

Ela quase engasgou, o rosto pegando fogo. Não era comum que ele a deixasse tão desconcertada com palavras. Normalmente, era pelo toque físico. Mas isso? Cinco realmente havia evoluído. Ela sorriu, quase gargalhando, divertida, enquanto seu coração se aquecia com a lembrança da conexão entre eles.

— Ah, vai? — perguntou, incrédula, com um sorriso radiante. Cinco fez um "Aham", puxando a mão dela para que ela o abraçasse no pescoço. Então, colocou as mãos na cintura dela. Os dois estavam abraçados, como se o tempo separados não tivesse existido.

Os braços dela o envolveram com força. Ambos eram o porto seguro um do outro. O silêncio tomou conta, enquanto ela absorvia as palavras dele. "É isso que ele realmente quer?", pensou, gostando da ideia.

— Acho que é melhor a gente dormir. Você precisa descansar — disse ele, a voz baixa e compreensiva.

Celeste concordou em silêncio enquanto ele caminhava à frente, guiando-a até o quarto onde dormiria. Era um espaço simples: uma cama de casal, um criado-mudo de cada lado, um espelho pequeno e um banheiro. Sim, apenas uma cama.

Ela abriu a boca, tentando dizer algo, mas nenhuma palavra saiu. Um passo hesitante a levou a se familiarizar com o ambiente.

— Se quiser, eu posso dormir no sofá — ele ofereceu, dando de ombros. Seu desejo era deixá-la o mais confortável possível. Apesar de Celeste ter insistido que não era culpa dele pelos seis anos, ele sentia que precisava, de alguma forma, compensá-la.

— O quê? — Sua pergunta soou irônica, enquanto ela se virava bruscamente para encará-lo, o cenho franzido. — Pode dormir comigo — completou.

— Quer que eu durma com você? — ele sorriu, com um ar malicioso, claramente tentando deixá-la envergonhada.

"Funcionou, idiota", pensou ela, incrédula. O que estava acontecendo com ela? Ela costumava manter o controle, mas, no fundo, estava gostando disso.

As bochechas dela arderam, e ela engasgou, sem saber como responder. Em um ato de incredulidade, pegou o travesseiro da cama e o golpeou com força contra ele.

— Vou considerar isso como um sim — ele debochou, sorrindo, sem se importar com o travesseiro.

Ele já estava praticamente pronto para dormir, uma vez que havia sido acordado antes por causa da situação dos homens nojentos. Tirou os sapatos e se jogou confortavelmente na cama, dando dois tapinhas ao lado, como um convite para que ela se juntasse a ele.

— Venha, querida.

Ela sorriu, tentando se conter. Naquele momento, qualquer coisa que ele dissesse seria mais do que bem-vinda. Tirou os sapatos, o casaco, desprendeu os cabelos e, finalmente, se deitou ao lado dele. Cinco a cobriu com o cobertor, garantindo seu conforto. Ela se acomodou em seu peito carinhosamente, enquanto ele apoiava o queixo em seus cabelos. Ambos estavam confortáveis.

— Boa noite, Sunshine — ele desejou, fazendo com que ela se aconchegasse ainda mais em seu corpo.

— Boa noite, Cinco — ela respondeu, recebendo um suave beijo na testa.

E assim, mesmo depois de seis anos, Celeste percebeu que, com Cinco, tudo era diferente. Independente do tempo que passou, o que sentia por ele sempre poderia ser descrito exatamente como havia se declarado. Ele era, sem dúvida, a sua pessoa favorita.

Esse não foi o melhor capítulo do mundo, mas eu tentei ao máximo deixar exposto a vida da Celly com os Blakes e o fato de que ela tava muito ansiosa para reencontrar a própria família.

Enfim, votem e comentem! sejam bem-vindos a season two🫣💗

revisão concluída ☑️ 💚

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