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*β’.β§β½*:βοΈβ§β.β’*
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OS IRMΓOS HARGREEVES DISCUTIAM sobre algum assunto irrelevante quando um pequeno vΓ³rtex temporal se abriu bem no meio do salΓ£o do Hotel Obsidian. Quatro pessoas despencaram do portal, gemendo com o impacto. Todos ao redor pararam para encarar a cena, perplexos. LΓ‘ estavam Cinco, Celly, a Sparrow e Lila, amontoados no chΓ£o como se tivessem acabado de cair de um aviΓ£o em pleno voo.
β Ai! β gemeu Lila, enquanto se esforΓ§ava para se sentar.
β VocΓͺ tΓ‘ bem, meu amor? β Cinco perguntou para Celly, preocupado, enquanto ela movia o ombro dolorido em cΓrculos, tentando aliviar a tensΓ£o. A careta que fez deixou claro que a aterrissagem nΓ£o tinha sido gentil.
β Na medida do possΓvel β respondeu, esforΓ§ando-se para nΓ£o alarmΓ‘-lo. Ela tirou o blazer de Cinco e o entregou de volta, completando o traje que ele usava. Mesmo sem precisar mais da peΓ§a, Cinco aceitou com um pequeno aceno, quase grato.
β Merda. β Cinco murmurou, passando a mΓ£o pelos cabelos e analisando o estrago.
Ao lado deles, a Celeste da Sparrow tentava se equilibrar, igualmente desconfortΓ‘vel. Seu tornozelo parecia ter sofrido com o impacto.
β Por onde vocΓͺs andaram? β Viktor perguntou, a confusΓ£o evidente no tom de voz. Cinco se levantou com um suspiro exausto e estendeu a mΓ£o para ajudar Celly a ficar de pΓ©. Os recΓ©m-chegados ainda estavam visivelmente atordoados.
β Encarando minha mortalidade β respondeu Cinco, com sua marca registrada de sarcasmo seco. β E nΓ£o recomendo.
Os irmΓ£os Hargreeves trocaram olhares confusos atΓ© que Allison, mais rΓ‘pida, notou algo ao chΓ£o: a maleta. Seus olhos brilharam, arregalados de surpresa.
β VocΓͺs estavam com a maleta? β exclamou, correndo para pegar o objeto como se fosse a chave para resolver todos os problemas do mundo. Suas mΓ£os passaram ansiosas pela superfΓcie, buscando danos ou sinais de uso. β A gente tava procurando por ela!
β NΓ£o precisam mais procurar β disse Cinco, com um leve tom de tΓ©dio. β Essa Γ© a ΓΊltima da Terra. β Ou era a ΓΊltima β corrigiu, em tom sombrio.
β EstΓ£o estragadas, Allie β Celly interveio, com a voz pesada de empatia. Ela sabia o quanto aquilo significava para Allison. Sabia que a maleta era uma chance, talvez a ΓΊnica, de trazer Claire de volta ou retornar para Ray. Allison, porΓ©m, encarava o objeto com uma expressΓ£o de frustração crescente, sua raiva evidente. β As maletas sΓ³ funcionam se o mundo estiver normal β continuou Celly, os olhos se suavizando. β Quem me dera se ainda dessem certo.
A explosão de frustração veio em seguida. Allison bufou, jogando a maleta no chão com um estrondo antes de subir as escadas e se sentar em um dos degraus, o olhar perdido. A Sparrow observava a cena com tensão, os braços ao lado do corpo, como se esperasse uma explosão a qualquer momento.
β VocΓͺs estavam cooperando com o inimigo? β Diego foi o primeiro a quebrar o silΓͺncio, encarando a Sparrow com desconfianΓ§a.
Celly, a Umbrella, virou-se de supetão, ofendida com a acusação.
β TΓ‘ brincando, Didi? β ela disparou, franzindo o cenho. Antes que a outra pudesse responder, passou o braΓ§o ao redor do pescoΓ§o da Sparrow em um meio-abraΓ§o afetuoso. β Ela tava ajudando a gente a salvar o mundo!
Diego fez uma careta, mas não retrucou. Lila, aproveitando o momento, correu até ele, puxando-o para uma conversa particular que parecia envolver um pouco mais do que palavras. A Sparrow, agora um pouco mais relaxada, deu um pequeno sorriso de agradecimento para Celly antes de lançar um olhar preocupado para Allison, ainda encolhida nos degraus. Silenciosamente, voltou-se para Celly como quem pergunta: "Ela vai superar?"
Celly apenas deu de ombros, resignada.
β Espero que sim.
Enquanto isso, Cinco inspecionava a maleta com determinação quase teimosa. No fundo, ele sabia que nΓ£o adiantaria, mas uma parte de si ainda torcia por algum milagre β qualquer faΓsca de funcionalidade que pudesse salvar o dia.
β Γ... tΓ‘ queimada β ele finalmente admitiu, com um suspiro frustrado. A resignação em sua voz era tΓ£o Γ³bvia quanto irritante para ele mesmo. β Que merda!
Do outro lado, a Celeste da Sparrow gesticulou em Libras: "Ela viajou duas vezes mesmo estando estragada". Depois, deu de ombros, como quem diz nΓ£o esperava nada diferente. Cinco respondeu com outra lufada de ar pesada, seu desespero quase palpΓ‘vel, antes de se virar para os irmΓ£os.
β AΓ, seus tagarelas! Calem a boca, tΓ‘ bom? β ordenou, interrompendo a conversa paralela de Luther, Diego e os outros, que imediatamente pararam de murmurar e trocar olhares. β Vamos fazer uma reuniΓ£o de famΓlia agora.
Surpreendentemente, ninguΓ©m contestou. Lila e a Celeste da Sparrow, no entanto, deram alguns passos para trΓ‘s, claramente achando que nΓ£o faziam parte daquele "momento familiar". Antes que pudessem sair, ambas foram puxadas de volta.
β Hum-hum. VocΓͺ tambΓ©m tΓ‘ incluΓda β disse Diego, segurando Lila pelo braΓ§o. Ela revirou os olhos, mas nΓ£o conseguiu esconder o sorrisinho.
β Pode ficar β Celly falou para sua outra versΓ£o, colocando a mΓ£o em seu ombro como um gesto de apoio.
Cinco olhou em volta, avaliando os presentes. Uma ausΓͺncia Γ³bvia o fez erguer uma sobrancelha.
β CadΓͺ o Klaus? β perguntou, intrigado.
Celly seguiu o olhar dele, sΓ³ entΓ£o percebendo que Klaus realmente nΓ£o estava ali. "Por isso essa sala tΓ‘ quieta demais", pensou, tentando abafar um sorrisinho.
Mas antes que pudessem sequer pensar em procurar por ele, Diego se levantou abruptamente.
β Eu jΓ‘ volto β anunciou, saindo em disparada para o outro lado do salΓ£o, a expressΓ£o carregada de preocupação.
β NΓ£o me deixa com os seus... β Lila comeΓ§ou a protestar, mas nem teve tempo de terminar antes de Diego desaparecer.
β Oba! β Cinco debochou, irritado. β Perdi mais um. Γtimo.
β Essa famΓlia tΓ‘ bem unida β Celly ironizou, cruzando os braΓ§os e erguendo as sobrancelhas.
Apesar do tom descontraΓdo, a verdade era que ela estava exausta. Desde que descobrira o tamanho do apocalipse que enfrentavam, parecia impossΓvel ficar em paz. A enxurrada de pensamentos negativos era quase esmagadora, mas ela fazia o que podia para disfarΓ§ar, como sempre.
β Anda! Fala logo, Cinco! β Allison estourou, sua paciΓͺncia hΓ‘ muito esgotada.
β JΓ‘ que perguntou com tanta delicadeza, irmΓ£zinha... β Cinco respondeu com uma ironia que sΓ³ ele sabia fazer soar tΓ£o natural. Ele respirou fundo antes de continuar, com o peso da informação que estava prestes a soltar. β O nosso pequeno paradoxo trouxe pra cΓ‘ a droga do Kugelblitz!
O silΓͺncio foi interrompido apenas por Viktor, que deu um passo Γ frente, confuso.
β E o que Γ© um Kugelblitz? β perguntou, estreitando os olhos.
Celly respirou fundo antes de responder, sua voz tremendo apenas o suficiente para trair o nervosismo. Ela sabia que todos precisavam entender a gravidade da situação, mas não era fÑcil colocar aquilo em palavras.
β Uma espΓ©cie de buraco negro β comeΓ§ou, escolhendo as palavras com cuidado. β Feito de pura energia. Γ como se o universo acabasse com ele mesmo.
O peso daquelas palavras pairou no ar, transformando a tensΓ£o latente em algo quase tangΓvel. As expressΓ΅es dos outros comeΓ§aram a mudar, lentamente, Γ medida que a gravidade do que haviam acabado de ouvir finalmente comeΓ§ava a se infiltrar.
β O contrΓ‘rio da vida. β Cinco completou, a voz sombria enquanto pousava uma mΓ£o firme no ombro de Celly. Ele notou o desconforto estampado no rosto dela, mas continuou, direto como sempre. β Acaba com linhas do tempo, animais, pessoas... tudo se destrΓ³i. NΓ£o sΓ³ a Terra, mas tudo o que conhecemos. O universo inteiro.
O silΓͺncio que se seguiu foi sufocante. Os irmΓ£os trocaram olhares preocupados, como se a gravidade da situação finalmente comeΓ§asse a pesar sobre eles. Celly, por sua vez, sentia que nΓ£o podia ficar ali parada, absorvendo aquelas palavras como se fossem qualquer outra catΓ‘strofe do cotidiano Hargreeves. Sem dizer nada, ela escapou debaixo da mΓ£o de Cinco e foi direto para o balcΓ£o de bebidas.
Com passos rΓ‘pidos, pegou uma garrafa de vodka e comeΓ§ou a preparar um shot. Suas mΓ£os tremiam levemente enquanto o lΓquido escorria no copo, e uma ansiedade familiar apertava seu peito. Desde os eventos de 63, quando sua famΓlia estivera desaparecida, crises assim eram mais frequentes, e o apocalipse iminente parecia trazer de volta velhos fantasmas. Ela respirou fundo, esforΓ§ando-se para manter a compostura. NΓ£o queria transparecer sua fraqueza. NΓ£o queria preocupar ninguΓ©m.
Cinco surgiu ao seu lado como se tivesse sido chamado telepaticamente, e com um gesto casual, puxou-a pela cintura para perto.
β Deixa que eu preparo as bebidas, amor. Vai lΓ‘ se sentar com eles. β Sua voz, calma e firme, soava mais como uma ordem disfarΓ§ada de cuidado.
Celly apenas assentiu, incapaz de falar sem o risco de desmoronar. Caminhou até as banquetas e se sentou ao lado da Celeste da Sparrow. Seu coração batia rÑpido demais, e seus pés batiam no chão incessantemente, como se isso pudesse expulsar toda a angústia que pulsava dentro dela. Tudo parecia fora de controle, e o pior era aquela sensação incômoda: um pressentimento de que as coisas só iriam piorar. Ela não sabia explicar, mas era como se conseguisse sentir cada vibração do mundo ao seu redor, cada peça prestes a se despedaçar.
β EntΓ£o esse Kugelblitz Γ©... β Viktor comeΓ§ou, mas a frase morreu antes de ser concluΓda. Ele sabia o suficiente para entender que a resposta nΓ£o era boa, mas parecia impossΓvel dar voz ao que temia.
β O fim de tudo. β Cinco respondeu com uma tranquilidade quase assustadora. Seu olhar estava nublado, distante. Ele terminou o shot que havia preparado, pausando por um momento para observar as prΓ³prias mΓ£os segurando o copinho vazio. β Cada pedra, cada estrela, cada Γ‘tomo vai ser sugado pra esse buraco negro brilhante.
β Ele destrΓ³i a matΓ©ria aleatoriamente a cada momento, durante toda a existΓͺncia, atΓ© nΓ£o sobrar mais nada β Lila completou, a preocupação evidente na voz.
β Detesto dizer "eu avisei", mas... β Cinco lanΓ§ou, erguendo as sobrancelhas com aquele tom debochado que parecia seu mecanismo padrΓ£o de defesa. Estendeu o copinho vazio para Celly, que o pegou sem hesitar e virou o shot de uma sΓ³ vez.
β VocΓͺ adora dizer "eu avisei" β Viktor retrucou, irritado, revirando os olhos.
Alguns segundos de silΓͺncio se arrastaram, enquanto todos tentavam digerir o que tinham acabado de ouvir. Celly, no entanto, estava afundada em seus prΓ³prios pensamentos. Tudo que ela queria era que aquilo acabasse. O estresse a consumia, e sua mente divagava para um desejo simples: viver intensamente seus ΓΊltimos dias ao lado de Cinco. Parte dela queria desistir, aceitar o fim e aproveitar o pouco tempo que restava com o homem que amava. Mas a outra parte sabia que precisava lutar, que seria muito melhor ter anos, e nΓ£o dias, ao lado dele. A confusΓ£o a corroΓa, incapaz de escolher um lado.
β Γ impressionante. β Lila comentou, cruzando os braΓ§os enquanto absorvia a situação. β Quem matou as suas mΓ£es odiava vocΓͺs o suficiente pra acabar com o universo todo.
β Sobre a pessoa que matou nossas mΓ£es, a gente nΓ£o sabe. β Viktor mentiu sem piscar. Ele sabia exatamente quem era o responsΓ‘vel, mas a lealdade que ainda sentia por Harlan o impediu de compartilhar a verdade.
Enquanto isso, a Celeste da Sparrow parecia cada vez mais desconfortÑvel. Os olhares constantes de Viktor, Luther e Allison a faziam se mexer na cadeira. Viktor e Luther cochichavam como dois adolescentes assustados, enquanto Allison a encarava com um desprezo quase palpÑvel. Ela não sabia o motivo, mas começava a sentir que, na mente deles, ela era mais parte do problema do que da solução.
β NΓ£o interessa quem criou aquela coisa. β Allison falou com um tom amargo e rΓspido, cruzando os braΓ§os. β A gente sΓ³ tem que acabar com ela!
β Γ mesmo? Como? VocΓͺ e o Diego vΓ£o dar um soco no Kugel? β Luther debochou, arqueando as sobrancelhas com um sorriso cΓnico.
A tensΓ£o pairava no ar, mas Allison parecia mais carregada que todos os outros. Na noite anterior, ela e Diego haviam saΓdo, buscando uma vΓ‘lvula de escape para a montanha de emoçáes que a sufocava. No meio de uma briga qualquer, ela descarregou sua raiva e desespero, mas, apesar disso, ainda parecia amarga. A Allison gentil de outros tempos parecia ter desaparecido, substituΓda por uma versΓ£o endurecida e incansavelmente irada.
β O melhor plano Γ© voltar no tempo, eliminar o paradoxo, destruir o que quer que tenha matado nossas mΓ£es e parar o Kugelblitz antes que ele comece. β Cinco interveio, prΓ‘tico, mas claramente frustrado. Ele deu uma olhada para a maleta que segurava, como se tentando invocar uma solução mΓ‘gica. β Mas nΓ£o podemos fazer isso porque a maleta jΓ‘ era.
β E por que vocΓͺ nΓ£o pode tirar a gente daqui, hein? β Allison insistiu, erguendo uma sobrancelha, como se a resposta fosse Γ³bvia. A dor de suas perdas a cegava para qualquer complexidade.
β Da ΓΊltima vez que eu tentei, nΓ³s ficamos presos no tempo. VocΓͺ quer mesmo arriscar tudo isso de novo? β Cinco rebateu, sua voz carregando impaciΓͺncia e exaustΓ£o.
β Infelizmente, nΓ£o Γ© sΓ³ a sua opiniΓ£o que vale aqui. Quando viajamos no tempo, todos nΓ³s perdemos o que havΓamos conquistado aqui. β Celly, a versΓ£o da Umbrella, interrompeu, massageando as tΓͺmporas com os dedos. Ela parecia prestes a explodir, a dor de cabeΓ§a crescendo junto com a tensΓ£o na sala. β NΓ£o podemos levar em consideração sΓ³ o seu pedido, Allie.
β NΓ£o Γ© um pedido. Eu perdi tudo. β Allison murmurou, sua voz diminuindo conforme suas mΓ‘goas escapavam como um desabafo para si mesma. β NΓ£o tenho mais nada a perder, por que nΓ£o tentar novamente?
β E qual Γ© o plano B? β Viktor cortou, tentando mudar de assunto. O peso da conversa era palpΓ‘vel, e ele parecia desesperado por algo mais pragmΓ‘tico.
Antes que Cinco pudesse responder, Diego, Klaus e Stan apareceram no salΓ£o. Stan veio correndo, pegou um suco de laranja na bancada e saiu novamente, equilibrando alguns itens de limpeza. Klaus, por outro lado, estava longe de passar despercebido.
β Me dΓ‘ isso aqui. β Klaus disse, arrancando o copo de vodka da mΓ£o de Celly, que, surpreendentemente, jΓ‘ estava no terceiro shot.
β Ei! β Celly protestou, mas nΓ£o conseguiu esconder a surpresa.
β O que aconteceu com vocΓͺ? β Cinco perguntou, claramente atordoado ao notar Klaus cambaleando.
β SΓ³ levei um arpΓ£o no peito. β Klaus respondeu com sua costumeira ironia, mas o tom despreocupado fez parecer piada. Celly ergueu uma sobrancelha, tentando decidir se ele falava sΓ©rio. β Nada de mais.
β O que a gente perdeu? β Diego perguntou, preocupado, seu olhar saltando de um rosto para o outro.
β O universo tΓ‘ acabando, e todos nΓ³s vamos morrer. β Lila respondeu com um sorriso teatral, como se estivesse anunciando uma festa, nΓ£o o fim do mundo.
β O quΓͺ?! β Diego exclamou, sua expressΓ£o se transformando em puro choque.
Antes que qualquer um pudesse processar o que estava acontecendo, uma onda de energia azulada atravessou o prédio com força. Celly deu um salto, arregalando os olhos ao perceber que muitos dos outros hóspedes haviam desaparecido como fumaça no ar.
Ao olhar pela janela, viu que o Kugelblitz estava expandindo rapidamente, engolindo construçáes e causando um caos que parecia impossΓvel de deter. O salΓ£o mergulhou em um silΓͺncio tenso.
Celly sentiu seus pelos se eriΓ§arem como se um aviso instintivo percorresse seu corpo inteiro. Um calafrio subiu por sua espinha, e, por um momento, ela achou que seria desintegrada junto com a onda de energia azul. Quando percebeu que ainda estava viva, deixou escapar um suspiro de alΓvio, embora seus mΓΊsculos permanecessem tensos. Era idΓͺntico Γ onda que haviam enfrentado no carro mais cedo, mas dessa vez parecia muito mais poderosa.
β Merda β murmurou, quase sem acreditar, a voz tremendo.
β O que foi isso? β Luther perguntou, confuso, olhando ao redor como se esperasse que alguΓ©m resolvesse tudo imediatamente.
Celly virou-se para ele, ainda aflita.
β Foi uma onda do Kugel. β Sua voz soava tensa, mas firme. Ao lado dela, Celeste, a Sparrow, engoliu em seco. Seus olhos danΓ§avam nervosamente pelo salΓ£o, e a preocupação por sua prΓ³pria famΓlia estava estampada em seu rosto.
"A gente tΓ‘ ficando sem tempo", sinalizou Celeste em Libras, os movimentos rΓ‘pidos e carregados de urgΓͺncia.
β Hum, tΓ‘ ficando pior β murmurou Cinco, o cenho franzido enquanto parecia fazer cΓ‘lculos invisΓveis no ar.
β Quanto tempo temos? β Luther perguntou, tentando manter a calma, mas as sobrancelhas arqueadas traΓam sua preocupação crescente.
Cinco abriu a boca para responder, mas comeΓ§ou a se alongar em explicaçáes tΓpicas de um gΓͺnio do tempo.
β Nesse tipo de crescimento, se vocΓͺ calcular o-
β Quanto tempo, Cinco?! β Luther gritou, sua paciΓͺncia evaporando junto com o desespero que lhe apertava o peito.
Para Luther, o momento nΓ£o era sΓ³ sobre salvar o mundo; era sobre salvar o amor que finalmente encontrara, o sentimento de ser visto e amado por quem era, nΓ£o pelo que representava. A iminΓͺncia do apocalipse era insuportΓ‘vel.
β Quatro, talvez cinco dias antes do resto da existΓͺncia ser destruΓda β respondeu Cinco, direto, com a voz sombria.
Luther bateu as palmas na mesa, em um gesto de frustração.
β A gente devia ter entregado o Harlan.
β Luther! β Viktor o repreendeu, sua voz cheia de decepção e raiva contida.
β O que tem o Harlan? β Diego perguntou, erguendo uma sobrancelha, sua expressΓ£o ficando mais atenta e desconfiada.
β Os Sparrows disseram que, se a gente entregasse ele, poderΓamos trabalhar juntos para salvar o mundo. Mas se nΓ£o-Β β Luther comeΓ§ou a explicar, mas foi cortado bruscamente por Viktor.
β NΓ³s tentamos fazer as pazes! β Viktor explodiu, sua voz se elevando o suficiente para fazer todos pararem de respirar por um segundo. β E aΓ os meios-irmΓ£os do inferno atacaram!
A acusação fez Celeste, a Sparrow, arregalar os olhos, ofendida. Diego lanΓ§ou um olhar analΓtico para ela, como se soubesse de algo que ela mesma desconhecia. Viktor continuou, sua indignação crescendo:
β Te sequestraram e tentaram nos matar. NΓ³s nΓ£o podemos confiar neles! Trabalhar juntos seria como tentar desarmar uma bomba com gasolina. SΓ³ vai fazer tudo explodir mais rΓ‘pido!
β O que aconteceu? β Celly perguntou, sua voz carregando uma curiosidade desconfiada. Algo importante havia ocorrido, e estava claro que ninguΓ©m queria compartilhar.
Celeste, a Sparrow, também percebeu que havia algo sendo escondido. Seus olhos estreitaram-se enquanto ela cruzava os braços, nervosa. Os irmãos da Umbrella se entreolharam, trocando olhares silenciosos que pareciam pesar toneladas.
β Acho melhor vocΓͺ voltar para o seu buraco, Celeste. Vai procurar o que sobrou da sua famΓlia. β Allison interrompeu, cortante, antes de se afastar do bar com um copo de whisky na mΓ£o, o olhar duro como pedra.
Celeste ficou parada, confusa e magoada. Algo terrΓvel havia acontecido enquanto estava longe, mas ninguΓ©m parecia disposto a contar. Durante sua ausΓͺncia, seus irmΓ£os invadiram o hotel, e a maioria deles foi morta por uma onda de energia liberada por Harlan. O garoto, que carregava os poderes que absorvera de Viktor desde 1963, havia perdido o controle novamente.
A garota levantou-se rapidamente da banqueta, o corpo tenso e os passos firmes. Sem olhar para trΓ‘s, saiu do hotel, determinada a encontrar sua famΓlia e obter respostas. Ela nΓ£o presenciara o que havia acontecido, e a sensação de estar Γ s escuras a corroΓa.
Os Hargreeves ficaram estÑticos, nem sequer tiveram tempo de reprovar a falta de compaixão de Allison. As palavras dela ainda ecoavam no ar quando ela desapareceu pela porta, deixando-os sem reação.
Celly, Lila e Cinco, que tambΓ©m nΓ£o estiveram presentes durante o ocorrido, trocaram olhares preocupados. O silΓͺncio no ambiente era sufocante, e todos sabiam que algo terrΓvel havia acontecido. Mas ninguΓ©m ousou perguntar.
Tentando quebrar a tensΓ£o, Klaus abriu a boca:
β A gente nΓ£o precisa daquela coisa grande, malvada e brilhante que tΓ‘ no porΓ£o deles? β Ele gesticulou, como se aquilo fosse a coisa mais Γ³bvia do mundo. β Sem a ajuda da Celeste, agora sim as coisas complicaram.
β Klaus, vocΓͺ sabe onde tΓ‘ o Kugelblitz? β Cinco perguntou, franzindo a testa. Sua expressΓ£o parecia gritar: "Por que esse idiota nΓ£o contou antes?!"
β Eu sei, eu vi. β Klaus respondeu com a tranquilidade de quem fala sobre o tempo. Deu de ombros, sem nem se importar com os olhares incrΓ©dulos ao redor.
Celly suspirou, exasperada.
β Quando fui visitar o papai. TΓ‘ naquele quarto de entulho onde a mamΓ£e guardava nossas malas.
β Por que vocΓͺ nΓ£o falou pra ninguΓ©m?! β Diego explodiu, a voz quase um rugido de indignação.
β Eu falei pra vocΓͺ!
β VocΓͺ fala um monte de besteira o tempo todo! Como eu ia saber que isso era importante?!
β Apareceu no mesmo lugar que a gente β Cinco murmurou, tentando organizar os pensamentos enquanto a discussΓ£o ao seu redor escalava. Ele permanecia irritantemente calmo, mesmo com os gritos de Diego e Klaus ecoando pelo salΓ£o.
Celly, por outro lado, parecia Γ beira de perder a paciΓͺncia. Seu olhar fixo nos dois brigΓ΅es deixava claro que ela estava segurando o impulso de intervir.
A discussΓ£o entre Klaus e Diego sΓ³ aumentava, com ofensas e frases atravessadas voando para todos os lados. Os outros irmΓ£os suspiravam, rolavam os olhos ou simplesmente se afastavam, cansados do mesmo teatro de sempre. Viktor, jΓ‘ sem paciΓͺncia, saiu em silΓͺncio, e Luther o seguiu pouco depois.
Apesar de todo o caos, havia algo quase familiar na briga. Era tΓpica deles. Uma briga "saudΓ‘vel", se Γ© que se pode chamar assim β cheia de gritos, mas sem grandes mΓ‘goas.
Enquanto o tumulto continuava, Cinco, sempre atento, percebeu Luther e Viktor conversando no centro do saguΓ£o. O espaΓ§o, que antes era cheio de vida e hΓ³spedes, agora parecia desolado, tomado pelo silΓͺncio deixado apΓ³s a onda de energia. SΓ³ restavam eles e Chet.
Curioso, Cinco deixou o balcão de bebidas e começou a se aproximar dos dois. Sua movimentação chamou a atenção de Celly, que ergueu as sobrancelhas ao perceber o motivo. Levantou-se e o seguiu, mantendo uma expressão desconfiada.
Luther estava falando, a voz carregada de irritação:
β β¦ele tΓ‘ influenciando vocΓͺ. Para de dar cobertura pra ele.
β Dar cobertura pra quΓͺ? β Cinco interrompeu, surgindo ao lado deles. Sua entrada abrupta trouxe a conversa Γ tona, atraindo a atenção dos outros irmΓ£os, que naturalmente se juntaram ao grupo.
Celly cruzou os braços, o cenho franzido. Algo estava acontecendo ali, algo que ela não gostava nem um pouco. "O que eles estão escondendo?", pensou, enquanto observava com atenção cada movimento.
β O que foi? β Cinco insistiu, o tom impaciente.
β Ele nΓ£o queria machucar ninguΓ©m β Viktor respondeu, sua voz cansada, quase um sussurro, enquanto tentava defender o indefensΓ‘vel. O desgaste emocional estava estampado em seu rosto.
Celly foi a primeira a perceber onde aquela conversa estava indo, e a verdade bateu como uma onda gelada: Viktor estava defendendo⦠Harlan? Ela soltou um suspiro, uma mistura de cansaço e incredulidade estampada no rosto.
β SΓ©rio? Quando ele fez isso aΓ? β Luther apontou para o corte em seu rosto, a expressΓ£o cheia de ressentimento. Ele achava absurdo Viktor proteger alguΓ©m que o havia atacado de forma tΓ£o covarde.
β Espera aΓ. O Harlan fez isso? β Cinco perguntou, estreitando os olhos, claramente preocupado.
β Quando ele chegou aqui? Como ele nos encontrou?! β Celeste interveio, confusa, erguendo as sobrancelhas.
β Vou acabar com ele β Diego rosnou, jΓ‘ se preparando mentalmente para agir.
β Olha, eu sei o que parece, mas o Harlan nΓ£o queria isso! β Viktor retrucou, mantendo a voz calma, mas havia algo de desesperado em seu tom. β Se a gente nΓ£o tivesse ido pra 1963, se eu nΓ£o tivesse salvado ele-
β Ele matou a Jayme e o Alphonso, nΓ£o vocΓͺ! β Luther rebateu, irritado.
A revelação caiu como uma bomba.
β Espera aΓ! Como Γ© que Γ©? NinguΓ©m achou que seria bom contar isso pra Celeste enquanto ela estava aqui?! β Celly explodiu, incrΓ©dula. Viktor e Luther trocaram olhares constrangidos, sem saber como responder. Celly bufou, claramente frustrada.
β Ele Γ© o motivo de estarmos nessa confusΓ£o β Luther insistiu, a raiva fervendo sob a superfΓcie. Viktor sabia que, lΓ‘ no fundo, Luther estava certo, mesmo que ele odiasse admitir. β E ele Γ© a nossa ΓΊnica saΓda.
β O Luther tΓ‘ certo β Cinco comentou, seco, com um dar de ombros indiferente. β Se a gente quiser alguma chance de sair vivo disso, precisamos ter acesso ao Kugelblitz.
β Eles sΓ£o sΓ³ quatro agora. Somos mais fortes que eles β Diego afirmou, com aquela autoconfianΓ§a tΓpica.
β E arriscar perder alguns de nΓ³s no processo? β Cinco perguntou, claramente exasperado. Para ele, aquilo nΓ£o fazia sentido. Celly engoliu em seco, odiando o rumo da conversa. Ela detestava quando os conflitos ficavam tΓ£o sΓ©rios assim. β O Harlan Γ© insignificante.
β Uma vez vocΓͺ me disse que ninguΓ©m era insignificante β Viktor respondeu, desafiador.
β NΓ£o podemos fazer isso com o Harlan β Celeste declarou de repente, sua voz firme e decidida. Cinco virou-se para ela abruptamente, bufando, jΓ‘ prevendo mais um embate.
β NΓ£o pode estar falando sΓ©rioβ¦
β Eu tΓ΄. β O tom de Celeste era convicto, inabalΓ‘vel. Viktor quase suspirou de alΓvio. Finalmente alguΓ©m o apoiava.
β O Harlan Γ© importante para ele. NΓ£o podemos-
β Sabe quem tambΓ©m era importante pra mim? β Allison cortou, sua voz carregada de mΓ‘goa e raiva. β A Claire e o Ray. Todos nΓ³s perdemos algo nessa busca idiota contra os apocalipses!
β Mas dessa vez podemos evitar! β Celeste gritou, tentando ser ouvida acima da tensΓ£o crescente. Sua voz estava carregada de emoção. β Quantas pessoas mais vΓ£o morrer por nossa culpa? NΓ£o Γ© porque o Ray e a Claireβ¦ β Ela hesitou, as palavras saindo a contragosto enquanto engolia o nΓ³ na garganta. Era difΓcil dizer aquilo na frente de Allison. β β¦morreram, que podemos simplesmente mandar o "foda-se" e matar mais gente!
β O Harlan pode ser a chave pra impedir o apocalipse agora! β Cinco argumentou, os olhos brilhando de lΓ³gica fria. Era difΓcil contestar sua lΓ³gica implacΓ‘vel.
β A gente tΓ‘ escolhendo entre salvar uma pessoa ou bilhΓ΅es aqui β Lila interveio, incrΓ©dula, o tom sarcΓ‘stico de sempre tingindo suas palavras. β Γ sΓ©rio que isso ainda tΓ‘ em discussΓ£o?
β Ei, inglesinha, vocΓͺ nΓ£o vota aqui β Viktor cortou Lila, irritado, sua paciΓͺncia claramente no limite.
β A Lila vive nesse universo tambΓ©m β Klaus interveio com seu tom leve e despreocupado, dando de ombros. β AlΓ©m disso, ela Γ© da famΓlia agora. Mais ou menos.
β Ah, valeu, gatinho β Lila respondeu com um sorriso irΓ΄nico, mas sincero.
β Eu nΓ£o tΓ΄ nem aΓ pros Sparrows β Diego afirmou, direto, apontando o machucado na testa de Viktor. β Mas eu nΓ£o vou deixar o vovozinho sinistro acabar com vocΓͺ.
β HΓ‘ cinco dias ele era sΓ³ um menininho β Viktor rebateu, a voz trΓͺmula, carregada de emoção. β E agora eu tenho que decidir se ele vai viver ou morrer?
β Passamos os ΓΊltimos vinte dias brincando com as linhas do tempo e, quando algo dΓ‘ errado, culpamos pessoas que nΓ£o eram para ter nenhuma relação conosco? SΓ©rio? β Celly interveio, incrΓ©dula. Mesmo que estivesse do lado de Viktor e Harlan, ela reconhecia que a outra perspectiva tambΓ©m fazia sentido. β Tem que haver outra forma de resolver isso.
β Viktor, isso aqui Γ© uma decisΓ£o Γ©tica, tΓ‘ bom? NΓ£o tem como salvar todo mundo β Cinco argumentou, num tom frio e pragmΓ‘tico. Ele lanΓ§ou um olhar para Celly, que mantinha o punho cerrado e o maxilar travado, a tensΓ£o irradiando dela. β A melhor opção vence, querida.
Luther deu um passo Γ frente, assumindo a pose de lΓder que sempre irritava os outros.
β VocΓͺ sempre quis fazer parte da equipe, Viktor. Γ assim que funciona. Salvar o mundo significa tomar decisΓ΅es difΓceis. β Ele fez uma pausa, entΓ£o se virou para Celly, com aquele tom de superioridade que a fazia ranger os dentes. β Me admiro vocΓͺ concordar com isso, Celly. VocΓͺ deveria saber como Γ©. Serviu ao estado, foi uma arma desde pequena, e ainda nΓ£o aprendeu nad-
β NΓ£o fala de mim assim, Luther β Celly o interrompeu, a voz baixa, mas carregada de fΓΊria contida. Ela deu um passo Γ frente, o olhar flamejante. β Acha que eu gostava de matar? Eu prometi a mim mesma que nΓ£o me envolveria mais nessas merdas! O Harlan nΓ£o precisa fazer parte disso!
β Ele jΓ‘ faz parte disso! β Luther retrucou, quase gritando. Celly fechou os olhos por um instante, tentando se controlar, mas suas mΓ£os se cerraram ainda mais. Ela queria bater nele ali mesmo. βQual Γ© o problema desse cara?!β, ela pensava, tentando engolir a raiva.
β Desde que ele matou dois membros da Sparrow, ele jΓ‘ estΓ‘ envolvido β Luther continuou, como se fosse Γ³bvio.
β Eu odeio isso β Viktor admitiu, a voz baixa, trΓͺmula. Apesar da calma aparente, era evidente o quanto aquilo estava o consumindo.
β Γ, eu sei β Luther respondeu, mais sΓ©rio desta vez. Por um momento, parecia que finalmente entendia o peso da situação. EntΓ£o, respirou fundo e decretou: β Eu vou lΓ‘ buscar ele.
Celly soltou um suspiro audΓvel de frustração, claramente cansada de nΓ£o ser ouvida. Luther comeΓ§ou a subir as escadas, mas Viktor o interrompeu antes que ele fosse longe.
β Espera, nΓ£o. Deixa que eu vou. β Viktor argumentou com calma fingida, o rosto ainda carregando uma expressΓ£o de dor contida. Luther hesitou, mas finalmente assentiu com um suspiro pesado. O silΓͺncio que se seguiu era denso, quase sufocante. β Ele confia em mim. Eu posso convencer ele a vir numa boa β Viktor explicou, quase num sussurro.
Os irmΓ£os nΓ£o protestaram, talvez porque, no fundo, sabiam que ele estava certo. Viktor passou por Luther e subiu as escadas com passos firmes, mas a tensΓ£o em seus ombros traΓa sua suposta tranquilidade.
Celly permaneceu onde estava, os punhos ainda cerrados. Sua mente fervia enquanto seus olhos vagavam pelo ambiente, buscando qualquer coisa β uma janela, as paredes, Cinco β algo que pudesse lhe dar esperanΓ§a de que Harlan nΓ£o seria sacrificado. Ela respirou fundo, mas a ansiedade nΓ£o diminuΓa. "Isso nΓ£o pode terminar assim", pensou.
β NΓ£o precisava ser assim β Celly lanΓ§ou um olhar cheio de mΓ‘goa para Cinco, a raiva fervendo dentro dela. Era doloroso perceber que, mais uma vez, eles estavam em lados opostos. Sem esperar por resposta, ela virou nos calcanhares e saiu do saguΓ£o, os passos firmes e carregados de fΓΊria. Antes de desaparecer pelo corredor, berrou irritada: β O SANGUE DELES VAI FICAR NAS MΓOS DE VOCΓS!
As palavras ecoaram como um golpe seco, atingindo os irmΓ£os em cheio. Alguns trocaram olhares desconfortΓ‘veis; outros abaixaram a cabeΓ§a, como se tentassem escapar do peso da acusação. Cinco engoliu em seco, dividido entre a vontade de segui-la e o bom senso de deixΓ‘-la esfriar a cabeΓ§a sozinha. No fim, optou por nΓ£o interferir β talvez fosse melhor assim.
Celly continuou a caminhada, cada passo mais pesado enquanto a adrenalina e o desespero a consumiam. Quando chegou Γ sua suΓte, fechou a porta com forΓ§a e deixou-se desmoronar. A sensação de impotΓͺncia era sufocante, e cada pensamento parecia uma faca cravada em sua mente: o apocalipse iminente, a possibilidade de Harlan ser sacrificado, as memΓ³rias de Samantha β porque, de alguma forma, ela via a garotinha em Harlan.
Tudo isso a corroΓa por dentro.
Enquanto trocava de roupa, os sentimentos a dominaram por completo. Ela sentou na beira da cama e, sem resistΓͺncia, comeΓ§ou a chorar. O soluΓ§o vinha em ondas, acompanhado pelo tremor em seus membros, a lΓngua e os pΓ©s formigando. A ansiedade a atingia como um tsunami. Era insuportΓ‘vel.
E entΓ£o, veio o espasmo.
Seu corpo se arqueou involuntariamente, e a visΓ£o tomou conta. Era algo que ela nΓ£o experimentava havia anos, mas nunca deixou de temer.
A imagem surgiu: uma porta colorida se abrindo, revelando uma luz azul forte e quase ofuscante. O corredor do hotel Obsidian estava lÑ, mas algo novo, algo poderoso, emergia. Um vulto humano em uma armadura dourada, o capacete escondendo cabelos brilhantes. Ela não conseguia ver o rosto, mas sentia a força esmagadora daquela presença.
A visão se dissipou tão repentinamente quanto veio, deixando Celly de volta ao quarto. Mas agora, ela estava coberta de cortes profundos, o sangue escorrendo por seu corpo. Fazia tanto tempo que não tinha visáes⦠Por que aquilo estava sendo tão brutal? O pÒnico tomou conta. Ela tentou entender, mas não havia lógica, apenas dor. A queimação dos poderes dentro dela parecia prestes a consumi-la.
β Merda! β ela gritou. Levantou-se de onde estava e correu para o banheiro, agarrando-se Γ pia enquanto o lugar girava Γ sua volta. O sangue manchava suas roupas, o chΓ£o, tudo. Ela mal conseguia respirar. Desesperada, ligou o chuveiro na Γ‘gua mais gelada que conseguiu suportar. A sensação gΓ©lida aliviou a queimação, mas a dor das feridas era excruciante.
O desejo de fugir a inundou. Fugir de tudo: das visΓ΅es, dos poderes, dos apocalipses, dos julgamentos constantes de seus irmΓ£os. Ela queria ser outra pessoa, alguΓ©m que nΓ£o tivesse de suportar aquele peso.
Enquanto Celly tentava se recompor, o barulho de passos apressados ecoou pelo quarto. Cinco havia entrado, movido por uma preocupação que ele raramente demonstrava. Ao ver o sangue no carpete claro, seu coração quase parou.
β Celly! β ele chamou, correndo atΓ© a porta do banheiro. A visΓ£o do sangue tingindo o ambiente o enchia de uma mistura de medo e culpa. β Esse sangue Γ© seu?!
Ele bateu na porta repetidamente, o tom carregado de urgΓͺncia. A porta estava irritantemente trancada, para o desespero dele.
β Celeste, vocΓͺ estΓ‘ bem? β perguntou, a voz um pouco mais baixa, mas ainda cheia de desespero. Do outro lado, sΓ³ conseguia ouvir os gemidos baixos de dor da namorada. Isso fez o pΓ’nico crescer. Cinco nΓ£o era de se desesperar, mas naquele momento, a ideia de perder Celly de forma tΓ£o repentina o aterrorizava. β Me responde, por favor!
β Me deixa sozinha, Cinco β ela pediu, a voz abafada pelos soluΓ§os. Estava encurralada pela dor fΓsica e pela exaustΓ£o mental. AlΓ©m dos cortes que a castigavam, uma dor de cabeΓ§a pulsante parecia querer explodir seu crΓ’nio. Tudo dentro dela gritava, uma sobrecarga cruel, como se o "sexto sentido" de antes tivesse ultrapassado qualquer limite. Celly nΓ£o queria conversar. NΓ£o queria ninguΓ©m ali.
β Amor, eu posso te ajudar. Deixa eu te ajudar, tΓ‘ bom? β Cinco insistiu, sua voz carregada de uma preocupação confortΓ‘vel. Ele parou, respirando fundo, tentando alcanΓ§ar alguma resposta. Mas nada. NΓ£o era por mal, ele sabia disso. Ela simplesmente nΓ£o conseguia reagir. Cada palavra era um esforΓ§o alΓ©m de suas forΓ§as. β VocΓͺ teve uma visΓ£o, nΓ£o foi? Abre pra mimβ¦ e a gente dΓ‘ um jeito. Vamos achar os curativos, sΓ³ deixa eu entrar.
Celly fechou os olhos com força, abraçando os próprios joelhos. O frio do chão de cerÒmica misturava-se com o calor de suas lÑgrimas. Ela só queria que tudo sumisse. Queria ser normal, queria dormir e acordar em um mundo onde apocalipses e visáes não existissem.
Respirando fundo, ela se levantou com dificuldade, os gemidos de dor escapando de seus lÑbios sem controle. O "clique" da fechadura soou, uma rendição silenciosa.
Cinco abriu a porta devagar, como se o mΓnimo movimento pudesse quebrΓ‘-la ainda mais. Ele nΓ£o sabia o que esperar, mas o que encontrou o atingiu como um soco no estΓ΄mago. O chΓ£o manchado de sangue, o box com a Γ‘gua tingida de vermelho... E entΓ£o ele a viu.
Celly estava ali, de pΓ©, os braΓ§os encolhidos ao lado do corpo como se quisesse se esconder. As roupas Γntimas e a regata branca que usava estavam manchadas de sangue fresco, quase brilhante contra o tecido. O corpo dela parecia um mapa de feridas: cortes profundos e superficiais espalhados por toda parte, atΓ© o rosto. Havia um no supercΓlio e outro nos lΓ‘bios, ambos ainda pingando sangue. Cinco sentiu o coração apertar.
β Desculpa por issoβ¦ β ela murmurou, sem coragem de encarΓ‘-lo. A voz soou pequena, frΓ‘gil. Ela nΓ£o olhava para os ferimentos; sua preocupação era outra. NΓ£o estava devidamente vestida diante dele. β A roupa estava machucandoβ¦
E então ela desabou, os soluços sacudindo seu corpo novamente. As lÑgrimas se misturavam ao sangue seco em sua pele, e ela parecia ainda menor do que antes, como se quisesse desaparecer.
Cinco engoliu em seco, lutando para manter a calma. Ele nΓ£o podia vacilar agora. Respirou fundo e comeΓ§ou a revirar os armΓ‘rios, procurando qualquer coisa que pudesse servir como curativo.Β
β Vai ficar tudo bem β ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela, enquanto suas mΓ£os tremiam ligeiramente. "Precisa ficar bem", pensou. E faria o que fosse necessΓ‘rio para garantir isso.
ο½’Β· Β· β’ β’ β’ βοΈ β’ β’ β’ Β· Β·ο½£
Cinco passou longos minutos cuidando de Celly. Ele suturou seus ferimentos e aplicou curativos em cada corte que a visΓ£o havia causado. Seu corpo ainda doΓa, em alguns lugares mais do que em outros, e ela sΓ³ queria se encolher em seu canto e esquecer de tudo por um momento. A dor de cabeΓ§a, que antes era insuportΓ‘vel, foi diminuindo gradualmente, mas o silΓͺncio entre os dois parecia mais pesado a cada segundo. Eles nΓ£o haviam trocado uma palavra. Cinco sabia que ela ainda estava brava com ele, depois da discussΓ£o que tiveram. E Celly... Bem, ela tambΓ©m nΓ£o queria conversar. Estava grata por ele tΓͺ-la ajudado, mas nΓ£o estava pronta para se abrir, para explicar tudo o que sentia.
Sentada na cama, abraΓ§ando os prΓ³prios joelhos, Celly estava perdida em seus pensamentos. Colocou a roupa mais confortΓ‘vel que tinha, mas atΓ© ela parecia apertada demais, como se todo o seu corpo ainda fosse um campo de batalha. Era estranho estar no mesmo quarto que Cinco, e nΓ£o dizer nada. Ela se preocupava com Harlan... Afinal, ele nΓ£o seria morto, seria? Celly tinha a sensação de que havia outras maneiras de resolver aquilo. NΓ£o achava que Harlan deveria ser julgado, especialmente quando Viktor tinha grande parte da culpa. NΓ£o queria, de forma alguma, que o irmΓ£o fosse responsabilizado por isso. Estava tudo tΓ£o confuso, tΓ£o imprevisΓvel. Ela queria acreditar que havia uma saΓda.
Cinco estava ali ao lado, assistindo tevΓͺ, o som da comΓ©dia romΓ’ntica "Como Perder um Homem em 10 Dias" preenchendo o ambiente. Era um daqueles filmes de romance que Celly adorava β sΓ³ perdia para "O DiΓ‘rio de Uma PaixΓ£o". Mas agora, com os ferimentos e a mente agitada, aquilo parecia nΓ£o significar nada. Cinco olhou de soslaio para ela, pensando em alguma forma de quebrar o silΓͺncio que os envolvia.
Mas ela nΓ£o estava disposta a falar. Sim, ele a tinha ajudado, mas os dois sabiam que, em muitas situaçáes, Cinco parecia ter mais poder e influΓͺncia do que qualquer outro. Ela sΓ³ queria ter sido apoiada. Quem sabe, assim, Harlan nΓ£o estaria em perigo agora.
β Celly... β Cinco a chamou, a voz suave, quase como um convite. Ela olhou para ele, a raiva evidente em seu olhar. Por um momento, ele sentiu o peso daquilo, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ela desviou o olhar, como se tentasse escapar das palavras que ele queria dizer.
β O que foi? β ela respondeu, com a voz fria.
Cinco soltou um suspiro pesado, cansado.
Quando estava prestes a perguntar sobre Harlan, ela quase saltou da cama. Com uma rapidez que o surpreendeu, Celly pegou o casaco verde que tinha comprado β o ΓΊnico que nΓ£o machucava seus ferimentos β e se dirigiu Γ porta.
β Onde vai? β Ele perguntou, preocupado, se levantando ligeiramente da cama, mas nΓ£o fazendo movimento para impedi-la. Sabia que ela precisava de espaΓ§o.
β Beber. β Ela deu de ombros, segurando a maΓ§aneta. Cinco franziu o cenho e, antes que pudesse pensar, se teletransportou ao lado dela, com o olhar fixo. β Com Klaus, Viktor, ou qualquer um dos nossos irmΓ£os, enquanto Harlan vai ser entregue Γ decapitação.
Cinco quase revirou os olhos, quase impaciente. Quase. "Pelo amor de Deus", pensou, tentando nΓ£o perder a paciΓͺncia. Ele pegou o blazer preto que estava jogado sobre a cadeira e, sem mais nem menos, seguiu para a porta. Celly destrancou-a, ainda visivelmente irritada, a raiva suprimindo atΓ© os prΓ³prios ferimentos.
β Eu vou junto. β Ele afirmou, simples, sem hesitar. Ela nΓ£o o respondeu, apenas o ignorou com amargor.
Desceram atΓ© o andar debaixo, Γ procura dos outros. Encontraram apenas Klaus e Luther na cozinha. Celly se sentou em uma das banquetas e pegou uma cerveja gelada, comeΓ§ando a beber em silΓͺncio.
Cinco andava de um lado para o outro, tentando ocupar a mente enquanto Klaus tagarelava para si mesmo. Luther, sΓ©rio como sempre, aguardava impaciente pela chegada dos outros, ansioso para finalmente levar Harlan aos Sparrows. O clima na cozinha estava tenso, e parecia que, naquele momento, apenas Celly se importava realmente com o destino de Harlan. Isso, de alguma forma, a impulsionava ainda mais a beber.
Celly nΓ£o se importou em tomar mais um gole da bebida β desta vez de forma mais moderada β quando se viu cercada por perguntas de Klaus e Luther: "O que aconteceu com vocΓͺ?", "VocΓͺ estΓ‘ bem?". Cinco, por outro lado, manteve um silΓͺncio carregado de culpa, como se tivesse algo a ver com tudo aquilo. Ela apenas repetia a mesma frase: "NΓ£o quero conversar fiada."
Quando Viktor finalmente apareceu no saguão, Cinco se aproximou imediatamente, perguntando sobre Harlan, ansioso para dar continuidade ao plano, mas com receio de piorar ainda mais a situação com Celly.
β Oi. TΓ‘ na hora. β Ele falou, esfregando as mΓ£os. Celly o olhou com uma expressΓ£o fulminante e deu outro gole na bebida. β CadΓͺ o Harlan?
β Ele foi embora. β Viktor admitiu, dando de ombros. O clima de frustração no ambiente foi palpΓ‘vel. Klaus soltou algumas risadinhas, Luther bufou e Cinco fez o possΓvel para manter a paciΓͺncia.
β VocΓͺ deixou ele fugir, nΓ£o foi? β Luther perguntou, quase revirando os olhos de raiva. Viktor ficou em silΓͺncio, e entΓ£o Luther olhou para Celly, que havia sido a ΓΊnica a apoiar Viktor no debate. β E vocΓͺ, Celly, teve parte nisso?
β E se eu tivesse? β Ela perguntou, estreitando os olhos. Estava blefando, nΓ£o fazia ideia do que Viktor havia feito. Cinco soltou um suspiro e Celly, com um ar desinteressado, deu de ombros. β Eu estava no quarto o tempo todo, pra sua informação.
Ela e Viktor se entreolharam, e algo silencioso passou entre eles. Celly percebeu o quanto ele havia se transformado. NΓ£o era mais o mesmo Viktor ingΓͺnuo de duas linhas do tempo atrΓ‘s.
β A morte do Harlan nΓ£o vai parar o Kugelblitz. β Viktor falou, sΓ©rio. Cinco, irritado, saiu de perto e comeΓ§ou a andar, passando a mΓ£o pelos cabelos. β Vai ser sΓ³ mais uma tragΓ©dia em cima de outra. E nΓ³s podemos achar outro... eu vou achar outro jeito.
β Meus parabΓ©ns, Viktor β Luther debochou, claramente frustrado. β VocΓͺ conseguiu destruir tudo. De novo.
β Achei que vocΓͺ fosse mais inteligente β Cinco falou, amargo. Viktor engoliu em seco. Sabia que seria criticado, mas nΓ£o se arrependia, nem por um segundo.
Para nΓ£o explodir, Cinco se afastou, caminhando em cΓrculos, enquanto Viktor se retirava. Ele nΓ£o queria ficar ouvindo o sermΓ£o dos irmΓ£os.
Klaus, que observava Celly e Cinco lado a lado, de forma cômica, notou a diferença entre os dois. Ele estava irritado, estressado, enquanto Celly parecia estar mais tranquila por saber que Harlan tinha escapado. Klaus pegou uma garrafa de bebida do outro lado do balcão e saltou para sentar ao lado dela na banqueta. Celly quase soltou uma bufada de desgosto.
β Ai, olha... isso foi Γ³timo β Klaus resmungou, meio alegre, estendendo a garrafa de bebida para Cinco. β Toma. Vamos lΓ‘.
Cinco não protestou. Com um movimento rÑpido, atravessou o braço pelo balcão, estendendo o copo para que Klaus o enchesse de vodka. Quando o copo ficou cheio, Cinco agradeceu, voltou o braço para o seu lugar e, finalmente, deixou de invadir o espaço de Celeste.
β Valeu. β Cinco agradeceu, e o silΓͺncio que se seguiu nΓ£o foi desconfortΓ‘vel, mas aquele tipo de silΓͺncio conhecido, carregado de pensamentos. NinguΓ©m precisava falar muito. Cinco finalmente quebrou o silΓͺncio, com um tom pesado: β Eu vi o meu futuro eu morrer.
Celeste olhou para baixo, observando a garrafa de cerveja em suas mΓ£os. "Antes ele nΓ£o parecia tΓ£o abatido assim". Klaus nΓ£o conseguiu evitar um sorriso.
β Que loucura! Aconteceu quase a mesma coisa comigo. SΓ³ que eu nΓ£o morri...
β Quando estava morrendo...
β Na verdade, eu morri...
β ...ele falou pra eu nΓ£o salvar o mundo. O que vocΓͺ acha que isso quer dizer?
Os dois começaram a falar suas histórias ao mesmo tempo, causando uma confusão em Celly. Bem, ela jÑ conhecia a história de Cinco. Mas a de Klaus⦠mesmo que provavelmente fosse bobagem, despertou uma enorme curiosidade nela.
β NΓ£o era pra vocΓͺ saber? β Klaus perguntou, erguendo uma sobrancelha.
β NΓ£o era pra eu saber sobre... β Cinco comeΓ§ou a argumentar, mas parou, dando de ombros de forma despreocupada. β TΓ‘ legal.
β Se fode aΓ. β Klaus se divertiu com a reação de Cinco, mas a situação ainda estava longe de ser resolvida.
Cinco, imerso em seus pensamentos, levantou o copo de vodka para cima. Com um tom leve, atΓ© alegre, observou Celeste de soslaio.
β Um brinde β Cinco falou, tentando, de alguma forma, aliviar o clima tenso. Mesmo que, no fundo, ele estivesse contra vontade, recusar um brinde seria feio. Celeste, mesmo sem vontade, ergueu sua garrafa de cerveja, e Klaus fez o mesmo. Ela estava mais silenciosa do que nunca, e ele sabia bem o que aconteceria quando ela finalmente explodisse de raiva. Cinco deu um gole na bebida, pensativo, enquanto Celly o observava de soslaio, sem querer manter contato visual. Klaus, por outro lado, estava totalmente entretido. β Eu dediquei minha vida inteira a impedir o apocalipse. "Apocalipses", no plural. β Cinco falou, com uma ponta de amargor, sem entender bem o que estava acontecendo. β E ele vem me dizer queβ¦ isso Γ© o quΓͺ? Sem sentido?
Cinco ainda nΓ£o conseguia compreender o que a outra versΓ£o dele queria dizer. Para ele, nΓ£o fazia sentido nenhum.
β Olha, eu nΓ£o sei de nada, masβ¦ β Klaus tentou intervir, mas Cinco continuou desabafando.
β Talvez esse seja o jeito dele de me dizer pra nΓ£o me tornar ele, masβ¦
β VocΓͺ realmente tΓ‘ bolado com isso, nΓ©? β Klaus interrompeu, estreitando os olhos, se ajeitando na cadeira. Celly queria se envolver na conversa, mesmo que, no momento, estivesse meio desgostosa com Cinco.
β Talvez ele sΓ³ nΓ£o tenha mais motivos pra continuar. E ache melhor que vocΓͺ aproveite seus cinco dias β Celly deu de ombros, como se fosse simples. Ela estava ainda confusa sobre qual partido tomar. Mas, de verdade, era tentador desligar tudo e parar de lutar. Estava cansada demais para isso.
β Mas ele sobreviveu β Cinco falou, com expressΓ£o confusa. Ele olhou para ela, como se buscasse respostas. Ela manteve o olhar por alguns segundos, antes de voltar a se concentrar na bebida. β Por que ele nΓ£o teria motivos pra me dizer "continue, salve o mundo"? Eu passei tanto tempo tentando enganar a morte... β Ele olhou para as prΓ³prias mΓ£os, com amargura. β Mas no final, eu morro com um braΓ§o sΓ³, num pesadelo em um quarto burocrΓ‘tico infernal que eu mesmo criei, e semβ¦ a pessoa que eu amo.
β Alerta de spoiler! β Klaus ironizou, tentando aliviar a tensΓ£o, mas o humor nΓ£o conseguiu suavizar a angΓΊstia no ar.
β Isso tudo sem mencionar a tatuagem tosca β Cinco murmurou, tirando a pele de seu outro eu do bolso e jogando-a na mesa. Celly fez uma careta de nojo. A visΓ£o daquilo era repugnante, para dizer o mΓnimo.
β Argh! β Celly exclamou, tentando afastar os olhos daquilo.
β Essa Γ© sua pele? β Klaus perguntou, visivelmente enojado. Ele parecia tΓ£o incomodado quanto Celly, e os dois se entreolharam, compartilhando o desconforto.
β Nunca que eu faria uma tatuagem vagabunda dessas, nΓ©? β Cinco resmungou, incrΓ©dulo, um sorriso discreto comeΓ§ando a se formar nos lΓ‘bios.
Klaus resmungou de volta.
β Se vocΓͺ nΓ£o quer terminar igual aquele cara, por que nΓ£o tenta algo diferente? β ele sugeriu, um pouco desanimado. β Totalmente diferente!
β Ah Γ©? Tipo o quΓͺ? Mudar para o norte e comeΓ§ar a criar alpacas? β Celeste respondeu com uma ironia cortante. Klaus fez um bico, visivelmente triste e ofendido.
β Γβ¦ mais ou menos isso que eu ia sugerir.
β Em cinco dias? β Celly perguntou, bebendo um gole profundo. β Em cinco dias, o mΓ‘ximo que vai acontecer Γ© eu querer me jogar de um penhasco.
β Mas eu poderia fazer isso β Cinco interveio, sua voz brevemente se animando com a ideia. Parecia atΓ© razoΓ‘vel, uma solução aceitΓ‘vel. β A linha do tempo Γ© maleΓ‘vel. JΓ‘ provamos isso. Eu posso tentar quebrar o ciclo, mas...
β TΓ‘. β Klaus interrompeu, soltando um pequeno sorriso. β SΓ³ nΓ£o deixe seus braΓ§os e outras extremidades perto de objetos afiados, e evite se juntar ao MΓ£es da Agonia.
Celeste e Cinco se entreolharam, seus olhares tΓ£o semelhantes que parecia uma cena ensaiada. Ambos franziram o cenho, surpresos, claramente confusos.
β O quΓͺ? β Cinco perguntou, ainda sem entender. Celeste estreitou os olhos, mas optou por nΓ£o perguntar nada.
β A tatuagem Γ© o sΓmbolo de uma gangue de motociclistas β Klaus explicou, dando de ombros. β MΓ£es da Agonia.
β VocΓͺ conhece? β Cinco perguntou, erguendo uma sobrancelha e pegando novamente a tatuagem para examinΓ‘-la com mais atenção.
β Ah, hΓ‘ umas duas linhas do tempo, eles eram... β Klaus tentou organizar os pensamentos, procurando a melhor forma de explicar. β Como eu posso dizer? Eram... meus farmacistas.
Celeste soltou uma risada nasalada, um sorriso divertido brincando em seus lΓ‘bios. "Klaus Γ© impossΓvel mesmo. Quem diria que esse tonto ajudaria em algo, no final", ela pensou, achando graΓ§a da situação. Cinco, por outro lado, se levantou, murmurando um "que beleza", ainda meio perplexo. Ele tocou, de maneira estratΓ©gica, no ombro da garota β sabia que ali, naquele ponto exato, ela nΓ£o estava machucada β, chamando sua atenção.
Ela olhou para cima, franzindo o cenho.
β Vamos conversar. β Ele disse, seu tom firme.
Celeste bufou, mas largou a garrafa de cerveja. Cinco colocou a pele tatuada de volta no bolso do paletΓ³, agradeceu rapidamente a Klaus e, sem mais palavras, saiu.
Os dois desapareceram do hotel e reapareceram na escuridΓ£o da noite.
Mais um capΓtulo! E as visΓ΅es voltaram sΓ³ pra ferrar mais ainda com a vida da Celly KKKKKKKL nΓ£o Γ© nem o comeΓ§o q dΓ³.
Amo vocΓͺs! Votem e comentem!
revisΓ£o concluΓda βοΈπ
BαΊ‘n Δang Δα»c truyα»n trΓͺn: Truyen247.Pro