𝐀 𝐓𝐑𝐈𝐏 𝐓𝐎 𝐓𝐇𝐄 𝐏𝐀𝐒𝐓
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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐅𝐎𝐑𝐓𝐘 𝐅𝐎𝐔𝐑
𝐀 𝐓𝐑𝐈𝐏 𝐓𝐎 𝐓𝐇𝐄 𝐏𝐀𝐒𝐓
CINCO OBSERVAVA CELESTE com os olhos arregalados e preocupados, a mente em turbilhão. Vê-la tossindo, o peito arfando em busca de ar, fez seu coração disparar por um instante. Mas essa preocupação se dissipou rapidamente quando ela se levantou com determinação e, segurando o diário com força, deixou a suíte sem hesitar, os passos firmes, mesmo que seus joelhos estivessem fracos.
— Ei! O que você pensa que está fazendo?! — Cinco exclamou, acelerando atrás dela. Agarrando o pulso da garota, tentou pará-la, mas ela se desvencilhou com facilidade, sem ao menos olhar para trás, mantendo o rumo pelos corredores. — Me responde, Celeste!
— Vamos convencer seus irmãos a viajar no tempo conosco. É nossa única chance. — A voz dela soou grave, resoluta. Ela parou de caminhar por um momento, os olhos nublados e cansados. Cinco percebeu as sombras em torno de suas pálpebras e o tremor sutil que denunciava o quanto o terceiro estágio estava drenando suas forças.
— Você acha que só porque caiu no chão e ficou tonta, isso faz parte do nosso destino? — Cinco retrucou, carregando na voz uma mistura de ironia e incredulidade.
— Eu não caí por tontura! — Celeste gritou, golpeando o peito dele com o diário. — Eu vi o que é necessário. Precisamos fazer isso, não temos escolha! — A voz dela era arrastada, cansada, e fraca. Parecia não estar tendo forças suficientes para discutir ainda mais.
Cinco a fitou intensamente, tentando decifrar a sinceridade por trás das palavras dela. Tudo lhe parecia uma mentira, um devaneio. Ele queria acreditar, mas suas esperanças estavam por um fio, oscilando entre o ceticismo e o desespero.
— Não acredita, né? — Ela murmurou, um sorriso irônico e raivoso se formando nos lábios. Antes que ele pudesse reagir, Celeste canalizou eletricidade na ponta dos dedos, apenas o suficiente para sacudi-lo de surpresa. Num instante, ela agarrou seu braço e, em um lampejo, ambos foram transportados para o metrô.
Cinco piscou, atordoado. O coração batia descompassado enquanto seu corpo congelava ao reconhecer o local. Era como se tivesse sido sugado de volta para os anos de solidão, preso naquele inferno que ele não desejava visitar. O suor brotava em sua testa, as mãos tremendo de nervosismo.
— O que você fez, sua idiota?! — Ele gritou, os olhos quase arregalados de pavor. Celeste quase vacilou diante da hesitação dele.
— Não quer acreditar nas minhas visões? Tudo bem, vou te mostrar. — Ela puxou o braço dele com mais força, forçando-o a seguir seus passos. Cinco resistia, mas ao avistar um metrô se aproximando, sentiu-se ainda mais fraco e medroso.
— Você está louca?! Eu não vou entrar nisso nunca mais!
— Confia em mim, Cinco! — Celeste gritou, empurrando-o para dentro das portas metálicas que se fecharam com um estalo atrás deles. O som do trem nos trilhos ecoou, e o mundo ao redor deles pareceu desaparecer na velocidade da viagem.
Cinco deu um passo vacilante para trás, atônito. Não podia acreditar que ela realmente o havia forçado a retornar àquele lugar. As luzes coloridas do túnel corriam do lado de fora das janelas, aumentando a sensação de irrealidade. E então, uma voz familiar e alienígena ecoou pelos alto-falantes.
— "Ramificação 2.36." — Celeste repetiu calmamente. — Segunda linha do tempo, variação trinta e seis.
— Como...? — Cinco começou, a incredulidade na voz. Durante todo o tempo que passara ali, nunca havia conseguido decifrar o idioma. Mas a confiança com que Celeste pronunciou aquelas palavras... Ele percebeu que algo mais profundo estava guiando-a, um sexto sentido que ele não possuía.
Ela não se deu ao trabalho de explicar. Quando as portas do metrô se abriram, Cinco viu uma versão de si mesmo caminhando pelo terminal à frente. Seu olhar endureceu no mesmo instante, e ele se virou abruptamente para Celeste, que mantinha-se ao seu lado.
Sem hesitar, ela foi a primeira a sair do metrô. Depois de um breve momento de hesitação, Cinco a seguiu, ainda em choque. A versão alternativa de Cinco começou a descer as escadarias no final da estação, e, junto de Celeste, o verdadeiro Cinco acelerou o passo, decidido a não deixar aquela versão peculiar escapar.
— Espera aí! — Cinco gritou, a voz ecoando pelo túnel, mas sua outra versão continuou a caminhar, ignorando completamente o chamado.
Celeste mantinha o mesmo ritmo rápido da versão alternativa de Cinco, seus passos firmes e decididos. Ela não parecia se intimidar pelo ambiente estranho ou pelos olhares desinteressados das outras versões de Cinco, que agiam como se aquele metrô peculiar fosse apenas mais um lugar rotineiro. Ao descer as escadarias, com Cinco logo atrás, eles chegaram a uma lanchonete de aspecto acolhedor, iluminada por luzes avermelhadas e douradas. Aquele contraste de tons quentes trazia um certo alívio, apesar da estranheza do local. A outra versão de Cinco entrou na lanchonete sem hesitação, como quem já estivesse acostumado a frequentá-la.
Celeste, com uma determinação feroz, empurrou a porta de vidro, ignorando a leve resistência que encontrou, como se cada segundo contasse em sua missão de convencer Cinco de que ela estava certa. Cinco, por sua vez, hesitou, o coração batendo acelerado. Ao entrar, algo naquele ambiente o fez se sentir desconcertantemente à vontade, como se já conhecesse aquele lugar. O que viu só reforçou essa sensação: múltiplas cópias de si mesmo estavam espalhadas pela lanchonete. Cincos servindo atrás do balcão, cozinhando, atendendo, outros sentados em mesas, bebendo, comendo e conversando. A cena era bizarra e familiar ao mesmo tempo.
Ele respirou fundo, retirou o casaco com um gesto automático e o pendurou no cabideiro ao lado da entrada, ainda processando o que via. Em seguida, seguiu até a mesa onde Celeste já estava sentada, de frente para a versão de Cinco que haviam seguido.
— Eu nunca vi você por aqui — disse a outra versão de Cinco, apertando os olhos como se tentasse decifrar Celeste.
— Não faço parte da sua linha do tempo — respondeu ela com um leve encolher de ombros, mantendo-se calma e confiante. Quando o Cinco original se sentou ao lado dela, um tanto relutante, sua versão alternativa pigarreou, cruzando as mãos sobre a mesa.
— Que lugar é esse, Celeste? — Cinco perguntou, a tensão evidente em sua voz.
— Um posto de gasolina — a outra versão respondeu sarcasticamente, revirando os olhos. — O que parece? É uma lanchonete. — Ele deu de ombros, e as outras versões espalhadas pelo lugar começaram a rir. Era como se todos ali compartilhassem a mesma piada interna.
Antes que pudessem continuar a conversa, um dos Cincos, vestido como garçom, aproximou-se da mesa, equilibrando uma bandeja cheia de pratos na mão esquerda. Ele começou a distribuir os pedidos com precisão.
— Um café e... dois pastrames. — Ele colocou os pratos à frente das outras versões de Cinco, que pareciam habituadas àquela rotina. Quando o garçom notou Celeste, seu rosto franziu levemente, mas ele não disse nada. — E pra senhorita?
— Nada, obrigada. — Celeste sorriu, mas sua expressão revelava um cansaço profundo, como se o simples ato de sorrir já fosse um esforço. Quando o garçom se afastou, o Cinco sentado à frente abriu o sanduíche e fez uma careta ao ver o recheio.
— Eles sempre colocam pouco chucrute, não é? — Cinco comentou, como se estivesse sentindo o desgosto de sua outra versão.
— Está no cardápio — a versão respondeu, aborrecida. — Eu sempre reclamo, mas ele nunca me ouve.
— Foi mal — disse Cinco, endireitando-se na cadeira, um tanto desconfortável, mas tentando se ajustar à situação.
— Não é sua culpa.
— Tecnicamente, é sim — murmurou, dando de ombros enquanto pegava a xícara de café. Quando estava prestes a levar a xícara aos lábios, a versão alternativa o interrompeu:
— Você não vai gostar disso.
Cinco parou no mesmo instante, soltando a xícara de volta na mesa, um tanto alarmado pela advertência. Antes que ele pudesse pensar em uma resposta, a outra versão se voltou para Celeste, seu olhar afiado.
— Por que ela está aqui? — Ele perguntou, inclinando levemente a cabeça na direção de Celeste, claramente esperando uma explicação. Cinco abriu a boca, mas hesitou, sem saber como explicar. Se fosse sincero, teria que admitir: "Ela me arrastou até aqui".
— Você é muito teimoso — disse Celeste, sem rodeios, provocando um aceno compreensivo da outra versão, que parecia entender exatamente do que ela estava falando.
— Então... vocês já entenderam o sistema do metrô a essa altura, certo? — a outra versão de Cinco mudou de assunto, pegando o pastrame com uma mão firme e abocanhando com vontade.
— Versões alternativas do mesmo momento no tempo? — Cinco perguntou, a confusão evidente em seu rosto.
— Isso mesmo. — A versão respondeu com a boca cheia, mastigando sem pressa. — Você ficaria surpreso se soubesse quanto tempo alguns de nós demoraram pra sacar isso. Todos aqui somos você... só que de linhas do tempo alternativas. A maioria já desistiu de tentar consertar o problema. — Ele deu de ombros, como se aquilo não fosse grande coisa. Cinco e Celeste trocaram um olhar rápido, mas, diferente dele, a garota parecia completamente à vontade com a explicação.
— Que problema? — Cinco perguntou, franzindo o cenho. A outra versão deu um gole no café, fazendo uma careta de desgosto, mas continuou.
— A linha do tempo partida, cara. Era pra ter só uma. — Ele falou como se fosse o óbvio, e Cinco se sentiu um pouco tolo por não ter percebido isso antes.
— Não tô entendendo... eu...
— Olhe ao redor, Cinco. Isso parece certo pra você? — O outro Cinco fez um gesto vago com a mão, apontando para as cópias idênticas que se moviam pela lanchonete.
— Não, mas...
— Você acha que o Einstein estava pensando nisso quando descobriu a relatividade? Sem chance. Isso aqui teria feito a cabeça dele explodir.
— Tá bom. E quem fragmentou a linha do tempo original?
— Não foi "Quem", mas "O quê". Vou te dar três chances pra adivinhar. — Ele sorriu, levantando três dedos no ar, como se fosse uma charada.
De repente, o som agudo do sino no balcão ecoou pela lanchonete, e o Cinco churrasqueiro gritou animadamente:
— A Allison matou o papai antes do tempo!
A voz ressoou alto o suficiente para que todos pudessem ouvir, e a versão de Cinco sentada à mesa fez uma careta, claramente irritado.
— Por que você sempre estraga tudo, Cinco churrasqueiro?! — Ele protestou, abrindo os braços em frustração. O Cinco churrasqueiro apenas deu de ombros, com um sorriso travesso, se divertindo com o incômodo que causara.
Cinco voltou sua atenção de volta para sua outra versão, a testa franzida de confusão.
— Mas... por quê? Por que a Allison ter matado o papai criou... tudo isso? — Cinco perguntou, tentando ligar os pontos.
— Ah... é. Bom, tinha uma linha do tempo quase perfeitinha... mais ou menos. — Ele fez uma careta. — A linha do tempo em que nós precisávamos chegar ao Oblivion e reiniciar tudo. Era pra ter só três apocalipses. Aquele em que a lua cai na Terra, o dos mísseis e aquele que o kugelblitz destrói tudo. Mas quando chegamos no Oblivion, a Allison não deixou o papai configurar a máquina completamente e, boom, linha do tempo fragmentada. Agora, temos várias linhas alternativas, todas presas num loop infinito. E enquanto nós tentamos salvar o mundo... quantas vezes mesmo? — Ele virou o rosto para a versão de Cinco sentada na mesa ao lado, escondida atrás de um jornal.
O Cinco leitor abaixou o jornal um pouco, apenas o suficiente para espiar por cima.
— 145 mil 412 — respondeu calmamente, antes de voltar a se esconder atrás das páginas.
— É isso aí... muita coisa. Aquele ali é obcecado por números. — O Cinco à mesa deu mais um gole no café, enquanto o outro Cinco voltava a se esconder atrás do jornal, alheio ao restante da conversa.
Cinco esfregou a testa, sentindo o peso das informações. O mundo, sua realidade, o tempo... tudo estava fragmentado de formas que ele mal conseguia entender.
— Aliás, dá uma olhadinha nessa arte — a versão disse, gesticulando com os braços para chamar atenção de Cinco para a parede. Ela estava coberta de retratos detalhados, cada um representando um desastre diferente. Celeste, mesmo que imaginasse o que estava exposto, pareceu se interessar pelas figuras. — São todas as formas que fizemos o universo explodir depois do reinicio. Nota dez pela consistência, né?
Cinco fitou os quadros, o rosto tomado por uma expressão de exaustão. Cada uma das imagens mostrava um fracasso diferente, um colapso do qual ele, ou melhor, todas as suas versões, faziam parte.
— Nós temos que ajeitar isso — ele falou, a determinação em sua voz contrastando com os olhos, que ainda carregavam dúvida e cansaço.
— Ah, pode acreditar que tentamos — respondeu a versão à sua frente, agora mais séria. — Um de nós até criou a Comissão, lembra? A ideia era desfazer as linhas do tempo fragmentadas e voltar à linha única. Mas... isso nunca deu certo porque...
— O reinício falhou. Sem a configuração completa, estamos presos num mundo em que as linhas do tempo nunca foram verdadeiramente unificadas — Cinco completou, já entendendo onde aquilo iria parar.
— Bingo — uma outra versão de Cinco, sentada em uma mesa ao lado, murmurou de forma desanimada, e a versão à frente repetiu com a boca cheia: — Bingo!
Celeste, até então silenciosa, observava tudo com uma expressão de análise minuciosa. Ela empertigou-se no assento, um pequeno sorriso surgindo em seu rosto. Ela então falou, sua voz soando com uma leve malícia:
— E vocês nunca tentaram voltar no tempo e consertar o reinício?
A versão de Cinco à mesa franziu o cenho, parando de mastigar o sanduíche por um instante. Olhou ao redor, como se tentasse processar a ideia. Então, levantou a voz para os outros:
— Alguém aqui já tentou viajar no tempo e consertar o reinício?
Algumas das versões ao redor pareceram refletir, trocando olhares entre si. Finalmente, alguns responderam em uníssono:
— Acho que não.
— Seria loucura. — O Cinco sentado deu de ombros, voltando ao seu sanduíche.
Cinco, o original, olhou confuso para o outro:
— Está me dizendo que tentaram salvar o mundo 145 mil 412 vezes e em nenhuma delas pensaram em reconfigurar o mundo?
A versão à frente deu mais uma mordida no pastrame, mastigando devagar antes de responder:
— Olha, se por algum milagre você conseguisse convencer nossos irmãos e o papai a voltar no tempo... talvez isso faça sentido. Nenhum de nós tentou ainda. — Ele deu de ombros mais uma vez, despreocupado.
— Você disse que tudo isso é um loop infinito, certo? — Cinco insistiu, sua mente agora acelerando com as possibilidades.
— Sim, exatamente. Inclusive, essa ideia... é diferente. Talvez, só talvez, isso quebre o loop. — A outra versão sorriu de leve, como se a hipótese fosse tão absurda quanto tentadora.
Cinco assentiu lentamente, processando tudo. Quando virou-se para Celeste, viu algo nos olhos dela que o fez acreditar, de verdade, pela primeira vez. A firmeza em sua expressão, o fogo de quem sabia que estava certa.
— Vamos resolver isso — ele disse, a voz baixa, mas cheia de convicção.
Celeste sorriu de volta, um sorriso pequeno, mas vitorioso.
— Sinceramente, se não fosse pelo sexto sentido, achei que você não fosse me ouvir — ela respondeu, levantando-se da cadeira com uma nova energia, como se o próprio peso de suas dores tivesse diminuído. — Mas agora precisamos agir. E rápido.
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A viagem até o terminal principal havia sido uma corrida contra o tempo, um turbilhão de ansiedade que crescia com cada passo. O coração de Cinco martelava no peito enquanto seguia Celeste, agora guiada por seu sexto sentido. Quando finalmente alcançaram os corredores da mansão, tudo parecia acontecer num piscar de olhos. Não havia tempo a perder. A urgência os impulsionava a correr por cada cômodo, desesperados para alertar suas famílias. Cada segundo que passava, a sensação de que estavam à beira da Purificação se tornava mais sufocante.
A tensão estava no ar. Cada degrau, para Celeste, parecia um desafio monumental, como se o mundo estivesse afundando sob seus pés. A Purificação se aproximava, e com ela, a perda da única chance que tinham de reverter o curso do desastre iminente.
— Vai ter que nos teleportar. — Celeste pediu com a voz fraca, quase um sussurro. O esforço de correr pela mansão a estava exaurindo, os efeitos do terceiro estágio drenando suas forças rapidamente.
— Não posso! Não consegui até agora! — Cinco respondeu entre arfadas, enquanto ainda corriam. Ao chegarem ao pátio, Celeste parou abruptamente. Ela o agarrou pelo colarinho, os olhos fervendo de desespero, e o empurrou com uma força que só o medo poderia dar.
— Você não está entendendo?! VAI TER QUE NOS TELEPORTAR!
— EU NÃO CONSIGO! — Cinco se defendeu, afastando-se da intensidade da raiva dela.
— Se vire! Nesse exato momento, Ben e Jennifer estão destruindo a avenida! Se nos atrasarmos, seus irmãos vão acabar com tudo, alimentando aquela coisa ainda mais! — Celeste gritou, batendo o diário com força no peito dele. — Se concentre!
O pânico de Celeste era contagiante, e Cinco sabia que não poderia escapar dessa responsabilidade. Fechou os olhos, tentando acalmar o caos que fervia dentro de si. Tentou, com todas as forças, canalizar seu poder e realizar o teleporte. Celeste se agarrou a ele, e num piscar de olhos, se encontraram a uma certa distância dali. Não era o suficiente, mas foi o bastante para que Cinco sentisse uma fagulha de esperança. Eles poderiam continuar se teleportando até chegarem onde precisavam.
Apesar das falhas constantes e do tempo escorrendo como areia entre os dedos, começaram a se mover mais rápido. Cada tentativa de teleporte era um tiro no escuro, e cada erro fazia Celeste gritar em frustração. Cinco sentia a pressão esmagadora de cada segundo perdido. As bofetadas com o diário e as reclamações incessantes de Celeste não ajudavam. Ele chegou a cogitar deixá-la para trás, mas sabia que, sem ela, e o seu sexto sentido, tudo poderia ser em vão.
Na última tentativa, Cinco falhou novamente e acabou sozinho no metrô. Enquanto ele resmungava de raiva, Celeste, exausta, correu pela avenida, deixando-o para trás. Tão exausta que mal conseguia ficar de pé, caiu de joelhos na esquina de um prédio. Apoiando-se em suas mãos, a sensação de fraqueza era esmagadora devido ao terceiro estágio. Quando Cinco chegou, arfando, fez uma tentativa de alívio com: "Você é tão teimosa quanto eu".
Ele a ajudou a se levantar, enquanto a multidão ao redor deles parecia entrar em pânico. O caos era palpável. A avenida estava sendo destruída por um monstro gigantesco, e os Keepers, que deveriam proteger o local, estavam se dispersando, agora que a Purificação já havia tomado seu rumo.
— Eles devem estar lá dentro! — Cinco gritou, tentando se fazer ouvir em meio ao rugido da multidão e da destruição.
— Estão! E nada do que fazem está funcionando! Usar os poderes da calêndula só o alimenta ainda mais! — Celeste respondeu, a voz carregada de desespero.
Quando ela sentiu seus joelhos ficarem menos trêmulos, usou sua determinação para voltar a correr pela avenida, sendo seguida por Cinco. Cada segundo parecia um passo mais próximo do fim. Sem perder mais tempo, correram juntos em direção ao prédio, o monstro devastando tudo ao seu redor sem se importar. Abriram as portar com uma urgência monumental, agora que os Keepers nem sequer importavam-se em proteger a área.
Depararam-se com um monstro de quase dez metros de altura, e cada tentativa dos Hargreeves de matá-lo, o monstro crescia um pouco mais. De relance, ambos conseguiriam notar os rostos de Jennifer e Ben na pele incomum e descoberta do monstro. Era como se ambos houvessem se unido, e formado uma só coisa. Tal que purificaria tudo.
Lila, cujos poderes eram os mais cruciais naquele momento, lutava para usar seu raio-laser e cortar o monstro, mas seus esforços eram inúteis. Allison e os outros corriam pelo prédio em pânico, cientes de que o monstro estava destruindo tudo ao redor. A qualquer momento, o edifício inteiro poderia desmoronar sobre eles.
— Achamos a resposta! — gritou Cinco ao entrar, mas seus irmãos estavam totalmente imersos na luta pela sobrevivência.
— O que estão esperando?! — Allison berrou de volta, sua voz tomada pelo desespero. — Façam alguma coisa! Esse monstro é impossível de matar!
Cinco e Celeste trocaram um olhar cúmplice, sem precisar dizer nada. Ele pegou o diário das mãos dela enquanto a garota disparava para fora. Seus olhos seguiram o monstro, que avançava pelas colunas e parapeitos, destruindo qualquer coisa em seu caminho.
— Não ataquem ele! — Cinco gritou. Lila, que estava se esforçando para retardar o monstro, parou de repente.
— Tá brincando?! Se não fizermos nada, ele vai nos devorar em minutos!
— Eu sei! — Cinco retrucou, mas vendo que seus irmãos não se aproximavam, forçou seu corpo a usar seus saltos espaciais, torcendo para que funcionassem como esperava.
Ele reapareceu perto deles, e seus irmãos o olharam, surpresos e confusos. Cinco sorriu, satisfeito com a precisão de seu salto, enquanto Allison gritava: "Desde quando consegue fazer isso?!". Klaus, que estava próximo de Cinco quando ele apareceu, levou a mão ao peito, ofegante com o susto. Apenas Diego, Lila e Viktor permaneciam afastados, focados em deter a destruição iminente e impedir a Purificação.
— Escutem! — Cinco falou, segurando os ombros de Allison, que estava à beira de um colapso, implorando para que saíssem dali.
— Escutar o quê?! Já vimos que nada funciona! — ela rebateu, tentando se soltar, enquanto o monstro se aproximava, batendo contra o mezanino. O chão começou a rachar sob seus pés.
— Tá vendo?! Temos que dar o fora! — Allison gritou, se desvencilhando de Cinco e correndo pelo lugar, com Klaus logo atrás.
Cinco bufou, frustrado. Ele sabia que precisava convencê-los de seu plano, mas não tinha certeza se o aceitariam. Saiu apressado enquanto Allison gritava para Viktor, Diego e Lila: "O chão aqui em cima está desmoronando! Temos que sair!"
Em menos de um minuto, Allison, Luther, Klaus e Cinco estavam fora do prédio, ofegantes pela corrida. Cinco estava visivelmente ansioso, nervoso.
Ele olhou para trás, procurando Celeste e seus pais, e os encontrou próximos a um banco, envolvidos em uma conversa.
— Essa foi por pouco! — Luther resmungou, apoiando as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego.
— Sim, mas os outros ainda estão lá dentro! — Allison respondeu, tensa.
Antes que ela pudesse correr de volta para dentro, Viktor e os outros surgiram correndo. O piso superior desabou com um estrondo, e a poeira começou a escapar pelas portas enquanto as paredes externas começavam a ruir. Com o perigo iminente, todos dispararam, correndo como podiam. Suados e ofegantes, tentavam escapar do colapso. Cinco, com o coração disparado, gritou um: "Segurem nas mãos uns dos outros, agora!". Primeiro, acabou gerando confusão, mas eles não protestaram. Ele agarrou Viktor, que era o mais próximo dele, e em um ato desesperado, os teleportou. A ideia, seria somente fazê-los reapareceram consigo para longe da destruição, mas o seus poderes os levaram todos juntos para a estação de metrô. Quando ele notou, deu de ombros. Talvez a calmaria do metrô realmente ajudasse.
— Que merda foi essa?! — Diego reclamou, visivelmente irritado.
Todos estavam confusos, e Lila soltou um suspiro exasperado, como se não quisesse voltar para ali.
— Cinco, onde estamos? — Allison perguntou, ainda surpresa.
— Meu Deus... — Klaus murmurou.
— Uau. — Luther sussurrou.
Eles pareciam perdidos na surrealidade do lugar, ainda processando o fato de que escaparam por um triz do desabamento.
— Eu não lembro de ter um metrô perto do lugar que estávamos... — Viktor murmurou, visivelmente confuso.
— Temos que voltar! Se não fizermos algo, aquilo vai destruir o mundo! — Allison falou com determinação, seus olhos carregados de desespero.
Os irmãos começaram a discutir, alguns movidos pelo medo de morrer, outros, como Lila, Allison e Diego, angustiados pelas vidas que amavam, seus filhos. Cinco, cada vez mais frustrado por não ser ouvido, viu suas mãos tremerem diante da possibilidade de seu plano ser ignorado. De repente, ele gritou, exigindo atenção.
— TEMOS QUE VIAJAR NO TEMPO!
O silêncio caiu, e todos o encararam com expressões perplexas, como se ele tivesse contado uma piada.
— Ah, é? E acabar separados em Paris dessa vez? — Diego ironizou, um sorriso cínico nos lábios, cruzando os braços diante da situação absurda.
Cinco respirou fundo, buscando controlar a avalanche de emoções que o dominava. Seus irmãos continuavam a olhá-lo, esperando por uma explicação que fizesse sentido.
— Olha... — ele começou com um tom mais calmo, mas a tensão era palpável — eu estive aqui dentro por um ano e três meses. Sozinho.
Viktor e Allison se entreolharam, enquanto Lila, surpresa, arqueou as sobrancelhas. Ela sabia que Cinco havia ficado sozinho, mas não por tanto tempo.
— Do que você está falando, Cinco? — Luther perguntou, a confusão evidente em seus olhos, tentando entender o que o irmão queria dizer.
— Esse lugar... — Cinco lutava para encontrar as palavras corretas. — Ele só existe porque o reinício falhou.
— Falhou, é? — Allison perguntou, ainda mais confusa. — Celeste... não a nossa Celly, esteve com o papai todos esses anos. E não querendo ser babaca, mas já sendo, o acordo que fiz com ele deu certo.
— Acha que é "dar certo" as linhas do tempo vazando umas nas outras, Allison? — Cinco rebateu, cruzando os braços com impaciência.
Ela ficou em silêncio por um momento, assimilando a crítica. No fundo, sabia que ele estava certo.
— Esse lugar nos permite viajar entre as linhas do tempo — Cinco continuou, seu tom grave. — Pouco antes de eu conseguir sair daqui, testei uma teoria: posso viajar no tempo com exatidão agora. A calêndula inverteu tudo. Eu era bom em saltos espaciais, mas um desastre em saltos temporais. Agora, é o oposto.
Os irmãos começaram a se concentrar ainda mais, suas expressões revelando um misto de curiosidade e preocupação. O ar parecia mais denso, carregado pela tensão crescente.
— Eu viajei no tempo para uma dessas linhas, antes do reinício. E... deu certo. Algo que eu nunca achei que fosse possível.
— Deve ser porque as linhas do tempo estão colapsando — Lila sugeriu, claramente tentando entender a situação.
— Possivelmente.
Agora, todos pareciam mais atentos, absorvendo cada palavra de Cinco com uma intensidade maior. Ele sentiu uma fagulha de esperança se acender dentro de si.
— O Oblivion deveria ter costurado todas as ramificações das linhas temporais. Era pra existir só uma. Mas... quando a Allison matou o papai, isso impediu que a "costura" fosse concluída.
— Tá dizendo que a culpa é minha? — Allison rebateu, com a voz carregada de indignação.
— Estou — Cinco disse, dando de ombros. Allison fechou a cara, irritada.
— Certo, Cinco — Diego falou, com um tom mais sério. — O que exatamente você quer que façamos?
— É, não pode estar achando que vamos voltar pro Oblivion só pra morrer de novo, e aí, depois de seis anos, ver tudo dar errado de novo — Luther protestou, a frustração evidente.
— Isso é loucura! — Klaus murmurou. — Você nem saberia como reconfigurar aquela máquina esquisita.
— Por isso, vamos levar o papai junto — Cinco respondeu prontamente.
— Está brincando, né?! — Allison perguntou, incrédula, com a voz elevada.
O burburinho recomeçou, e os irmãos começaram a discutir acaloradamente. Ninguém parecia acreditar que Cinco poderia sugerir algo tão absurdo, especialmente depois de tê-los espalhado em Dallas anos antes. Cinco soltou um suspiro longo, já exasperado com a crescente confusão e o peso da situação. Ele sentiu sua paciência se esgotando rapidamente, junto com a ansiedade que começava a dominá-lo.
— Querem calar a boca?! — Cinco berrou, e seus irmãos congelaram imediatamente. O silêncio que se seguiu foi pesado, enquanto ele ajustava nervosamente o paletó. — Eu... passei trinta anos sem ela. Depois, deixei-a sozinha por seis. E, desde o reinício, estou sem ela de novo.
Todos abaixaram a cabeça, envergonhados, o desconforto pairando no ar. Eles sabiam exatamente de quem Cinco falava: Celly.
— Depois de sete anos, eu finalmente encontrei um jeito de trazê-la de volta! E eu não queria ter que pedir isso pra vocês. Sério, eu odeio ter que engolir meu orgulho e meu ego, mas eu PRECISO de vocês agora. Querem que eu implore?!
— É que... isso é uma loucura — Viktor murmurou, sua voz baixa e hesitante.
— Eu sei, Viktor! Até eu fiquei incrédulo. — Ele falava. Sua voz carregada de seriedade, enquanto os olhares penetrantes dos irmãos, fazia tudo ficar mais tenso e estranhamente silencioso. — Mas Celeste está dizendo que esse é o nosso destino, e mesmo que eu desconfie, eu quero acreditar que meu destino é vê-la de novo. Nem que seja pela última vez, antes de falharmos. — Sua voz falhou no final, quase um sussurro.
— Como você quer que façamos isso? — Diego perguntou, claramente o mais disposto a seguir o plano.
— Vamos voltar ao Oblivion e reconfigurar tudo. Impediremos que Allison mate o papai antes dele concluir as configurações.
— Mas ele traria Celeste Hale de volta, não sua Celly — retrucou Diego, com a voz firme.
— Nesse exato momento, Celeste está tentando convencê-lo do contrário.
— Duvido que isso vá funcionar — Klaus resmungou, cético.
— Eu sei. — Cinco murmurou, os olhos buscando os rostos dos irmãos, esperando por uma resposta, uma fagulha de esperança.
— E nossas famílias? — Lila perguntou, a voz vacilante, deixando claro o medo e a insegurança no assunto. — Se reiniciarmos tudo de novo, elas... elas não vão mais existir.
— Elas vão existir — Cinco afirmou, sua voz firme. — Podemos configurar isso. Se elas tiveram consciência desses últimos seis anos, se viveram neste período após o reinício, elas estarão lá quando tudo for reiniciado. Celly... ela é a exceção, porque não esteve com a gente. Mas eu acredito que ela vai voltar. Pra ela, vai parecer que estamos saindo do Oblivion pela primeira vez.
— Quer que acreditemos que nossas famílias existirão mesmo depois de reiniciarmos tudo? — Diego perguntou, incrédulo.
— Quero. Preciso que acreditem em mim.
O silêncio que se seguiu foi esmagador, interrompido apenas pelo barulho distante dos trilhos do trem. Todos ponderavam as palavras de Cinco, o peso da decisão que precisavam tomar.
— Eu tô dentro — Klaus disse, dando de ombros. — Faz tempo que não vejo aquela pirralha. Sinto falta dela.
— Eu também — Luther concordou. — Preciso pedir desculpas por tê-la chamado de mesquinha.
— Eu apoio — Viktor acrescentou, sem hesitar.
Lila e Diego se entreolharam, um pedido de permissão silencioso entre eles. Relutantes, finalmente chegaram a uma conclusão.
— Vamos fazer isso por você — Lila disse, firme.
— É, você merece, irmão — completou Diego.
Allison observou todos aceitarem o plano, mas seu olhar parecia perdido, lutando com um conflito interno. Finalmente, ela direcionou seus olhos a Cinco, baixando a cabeça, envergonhada.
— Eu... preciso me desculpar com você. Toda essa bagunça foi minha culpa — ela sussurrou, sua voz frágil. — Vou ajudar você, mas preciso que me prometa que Claire estará aqui quando reiniciarmos tudo.
Cinco sentiu o peso dessa promessa, e, hesitante, respondeu:
— Eu prometo, Allison.
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⛈︎彡 𝐀𝐥𝐠𝐮𝐧𝐬 𝐦𝐢𝐧𝐮𝐭𝐨𝐬 𝐚𝐧𝐭𝐞𝐬
Quando Celeste disparou para fora do prédio em busca dos pais, o som da destruição ecoava a poucos metros de distância, deixando claro que o monstro, lá dentro, estava evoluído o suficiente para causar aquele caos.
Aproximando-se deles, algo em seu instinto lhe dizia que estavam em um conflito. Seus poderes, aguçados pela evolução recente, quase permitiam que ela ouvisse as palavras trocadas entre eles. Seus passos vacilavam, o corpo tremendo sob o peso da ansiedade que a esmagava. Sentia-se correndo contra o tempo, com uma certeza amarga de que conseguiriam, mesmo que algo ruim estivesse reservado para ela. Seria arrogância imaginar que seu destino era morrer ali? Ou seria loucura pensar que toda sua vida se resumia àquele momento?
Queria acreditar que não, mas no fundo sabia que o destino não poderia ser evitado. Seu ego insistia que tudo se resumia a Celly e Cinco, mas, olhando de forma mais ampla, Celeste sabia que eram apenas grãos de areia em um oceano vasto. Seu verdadeiro destino era consertar as linhas do tempo, e aquilo não podia ser coincidência.
Correu mais rápido, o peito arfando com o cansaço de tantas experiências acumuladas em tão pouco tempo. Quando finalmente avistou a mãe, agora mais perto, notou algo ao lado dela — uma máscara. Não demorou a reconhecer que era uma... máscara de Gene.
Sua mente trabalhou com uma rapidez assustadora. Tudo parecia se encaixar, como se aquela fosse a peça final do quebra-cabeça. Sabia que os pais nunca foram humanos. Sabia que a aparência do próprio pai sempre fora roubada para poder permanecer em sociedade. Até onde sua mãe havia ido para contrariar os planos deles?
— Mentiu para nós? — perguntou. Já estava a alguns metros dos pais, que se olhavam de forma diferente. Reggie, antes sempre carinhoso, agora observava Abigail com pura confusão. Celeste desviou o olhar para a máscara jogada no banco, enquanto sua mãe a olhava de forma cautelosa.
— Celeste, querida-
— Por quê? — A dor e a raiva faziam seus olhos tremerem. Ela queria chorar de frustração ali mesmo. Sabia que sua mãe nunca aceitara completamente o retorno à vida, mas... por que arriscar tudo? Por que ajudar na Purificação? Tudo o que fizera, todo o treinamento absurdo para ajudar o pai... fora em vão? Quanto ingratidão cabia ali?
Sentiu um peso esmagador sobre os ombros, embora não fosse físico. O olhar da mãe recaía sobre ela, enquanto Reginald permanecia fixo na esposa. O silêncio entre eles era sufocante, mas Celeste precisava de respostas. O tempo continuava passando, mas a necessidade de falar com a mãe era maior.
— Vocês não me deram escolha — respondeu a mulher, com uma serenidade quase sobre-humana. Seus olhos eram de pura compaixão, os olhos de alguém que tinha aceitado o inevitável. — Morrer é a consequência por ter criado algo tão mortal. — Sua voz era firme, inabalável, cheia de convicção. Abigail olhou para o prédio não muito distante e notou que os irmãos Hargreeves, antes presentes, já haviam desaparecido. Celeste, no entanto, não percebera. Abigail contemplou a destruição com uma tranquilidade perturbadora. — A Purificação... — ela murmurou, olhando a devastação ao redor — ver o nosso mundo destruído não foi o suficiente? Por que liberar a calêndula aqui também?
Antes, suas palavras eram voltadas para a filha, mas, no final, seus olhos se fixaram no marido, Reginald, esmagado pelo peso da culpa.
Reginald a encarou, seus olhos cheios de dor e arrependimento. Ele queria desesperadamente acreditar que estava certo, embora soubesse que, diante dela, estava sempre errado. Baixou a cabeça, sua mente retornando ao passado, há muitos anos, quando Abigail ainda estava doente, quando seu mundo estava à beira da ruína.
— Porque eu estava tão só sem você... — ele murmurou, a voz grave e melancólica.
— Eu nunca pedi para ser trazida de volta — respondeu Abigail, fria. — E... muito menos para envolver uma criança nisso!
— Foi por amor! — exclamou Reginald, com os olhos implorando. Ele se inclinou para frente, sua linguagem corporal revelando o quanto estava imerso na discussão. — Eu...
— Você está sendo ingrata, mãe! — Celeste gritou, interrompendo-o. Finalmente, Abigail voltou seus olhos para a filha, e pela primeira vez, a frustração ficou evidente em seu rosto. Celeste mantinha as mãos ao lado do corpo, tremendo de raiva. — Eu... todo esse sacrifício foi em vão?! Eu nem a conhecia, e sacrifiquei minha vida por você! Eu era só uma criança! Enquanto outras meninas brincavam de boneca, eu treinava, usava meus poderes para trazer de volta à vida uma pessoa que nem sabia quem era!
— Celeste, minha querida... — Reginald tentou falar, mas fora interrompido sem demora.
— Eu sei, pai! Sei que você sempre diz que aprendeu a amar crianças comigo, que fui uma exceção. Mas... — ela riu, uma risada amarga e dolorosa — no fundo, nós dois sabemos que você só me manteve por perto porque eu era útil.
O silêncio caiu pesado entre eles. Reginald abaixou a cabeça, envergonhado.
— Se ao menos me deixasse explicar...
— Explique! — exigiu ela. — Quero ouvir, sim! — Mas ele permaneceu calado. — Eu aprendi a amar a minha mãe depois que a conheci. Aprendi a perdoar, mesmo quando as pessoas continuavam me machucando. O senhor sempre disse que o amor é demonstrado nas ações. E, por mais estranho que seja... você me trouxe de volta junto com ela, então quero acreditar que você, pai, me ame como uma filha, e não como uma arma.
Celeste sentiu as lágrimas quentes escorrerem pelo rosto. Sua voz vacilava. Finalmente, estava desnudando sua alma, algo que nunca havia feito antes. O caos ao redor continuava, com o prédio se despedaçando e o monstro avançando pela avenida. Reginald olhou para a filha, seus olhos cheios de uma ternura dolorosa.
— Você disse que aprendeu a amá-la, e eu... eu aprendi a gostar de você, minha querida. — Sua voz saiu baixa, suave como uma pluma. A esposa o olhava com uma curiosidade evidente. — Eu sou velho... muito velho — ele soltou uma risada amarga —, e mesmo assim, continuo errando. Mas se há algo em que acredito com todas as minhas forças, é que o amor se demonstra nas ações. Se você acha que todo esse tempo estive ao seu lado apenas por causa de seus poderes... vou encontrar um jeito de provar que está errada.
Ela o olhou, tentando absorver aquelas palavras. Talvez ali estivesse a resposta para convencê-lo.
— Eu errei.
— Foi arrogância — Abigail completou, os olhos agora carregados de julgamento. — Suas ações tiveram consequências muito maiores do que você poderia imaginar.
— Tiveram... — Reginald concordou, olhando para a destruição iminente. — Eu queria ter encontrado uma forma de descansar. Lamento por ter dado a vocês uma vida que não desejavam. — Ele falou primeiro para Abigail, que esboçou um sorriso cansado, depois para Celeste, que parecia desesperada para encontrar as palavras certas.
O silêncio voltou a dominá-los por breves segundos, enquanto os olhares entre Reginald e Abigail se tornavam mais intensos, como se o perdão estivesse sendo formado ali. Celeste, sentindo o que o tempo se esvaia como areia em suas mãos, com coragem renovada, quebrou a quietude.
— Você disse que queria consertar as coisas... disse que queria provar que eu estava errada. — Suas mãos tremiam, ela fechou os olhos e completou: — Quero que viaje no tempo.
Abigail franziu o cenho, alarmada. A ideia parecia absurda demais.
— Como disse? — Reggie perguntou. Parecia não ter ouvido direito.
— Eu encontrei seu diário — Celeste revelou, fazendo com que o olhar de Reginald ficasse mais severo. — Você planejava viajar no tempo, não é? Cinco já consegue fazer isso. Não precisa de uma máquina-do-tempo maluca. Não temos que envolver a Teoria das Cordas, nem o Multiverso nisso tudo... só preciso que confie em mim... e no Cinco.
— Não, você não entendeu... aquilo era para resolver tudo... — Reginald tentou falar. Parecia incrédulo, não tinha palavras.
— Pensei que havíamos concordado em não tentar mais nada! — Abigail exclamou.
— Não chegamos a nenhum consenso — Celeste rebateu. Seu sexto sentido a avisou, naquele momento, que Cinco e seus irmãos estavam ali perto. Logo atrás dela, eles voltavam da estação, todos correndo de onde haviam saído antes, se aproximando.
— Seja rápida — pediu Reginald, sua voz ansiosa, como se soubesse que algo estava prestes a mudar.
Celeste inspirou profundamente, reunindo toda a força que tinha. O tempo estava contra ela, e, como sempre acontecia quando ficava nervosa, temeu que atropelasse as palavras.
— Celeste! — Cinco chamou, com a urgência estampada na voz. Todos os irmãos haviam finalmente se aproximado, ofegantes. Eles acreditavam que Celeste já tinha convencido seu pai. Mal sabiam que ela nem tinha começado. Fechando os olhos, ignorou a presença deles ao seu redor e declarou:
— Meu terceiro estágio envolve saber o destino... é uma espécie de fusão dos outros dois.
— Você nem explicou nada ainda?! — Cinco explodiu, o rosto crispado de irritação. Ele não conseguia acreditar. Achava que estavam correndo contra o tempo, então o que diabos ela esteve fazendo até agora?
— Vê se não amola! — Ela retrucou, tentando manter o controle. Respirou fundo, enquanto os outros observavam a tensão crescer. Cinco parecia prestes a se sentir traído, sua confiança escorrendo pelas frestas da urgência. — Eu sei que temos que viajar no tempo. Meu destino é costurar as linhas temporais através do Oblivion, porque, desde que você não completou a configuração, as linhas do tempo deixaram de se unificar, e agora tudo está colidindo naquela onde você começou. — Sua voz era calma, um contraste gritante com o turbilhão de emoções. — Você vai configurar a máquina exatamente como eu disser.
— Eu... eu não... — Reginald gaguejou, incapaz de processar a gravidade da situação.
— Não existiríamos mais — Celeste concluiu de maneira tão rápida que até ele precisou de alguns segundos para entender.
Abigail ficou boquiaberta, mas se conteve. Viktor franziu o cenho, acompanhando Diego e Lila, que também pareciam desconfortáveis.
— Espera aí, Cinco! Você não nos contou essa parte! — Lila resmungou, confusa. Celeste fechou os olhos com força.
— E-eu... ela não me contou essa parte. — Cinco tentou se justificar.
— Você está me pedindo para ajudar a... apagar nossa existência... assim, sem mais nem menos...? — Reginald perguntou, a incredulidade pesando em cada palavra.
— Sim.
— Eu não posso acreditar nisso. — Ele riu, incrédulo, como se estivesse ouvindo o maior absurdo de sua vida.
— Isso é loucura — Luther interveio. — Eu também quero muito ver minha irmã de novo, mas tem certeza de que essa é a melhor opção?
— É o que meu sexto sentido está dizendo. — Celeste deu de ombros, como se aquilo fosse uma resposta suficiente.
— Então ele está pirando. — Lila alfinetou.
— Eu não sei o que vai acontecer lá dentro, okay? — Celeste gritou, finalmente cedendo ao desespero que crescia em seu peito. Nem ela queria que aquilo terminasse assim, mas não via outra saída. — Mas eu não estou vendo outra forma. O que quer que aconteça, vocês têm que fazer tudo certo, se quiserem morrer de velhice, e não em outra Purificação!
Um silêncio pesado caiu sobre o grupo. Ela respirou fundo, tentando se preparar para o que vinha a seguir. Foi Viktor quem quebrou o silêncio:
— Pode nos explicar por que Reginald e ela não poderiam estar lá após o novo reinício? — Ele perguntou, olhando para Abigail. Celeste não hesitou. A resposta veio rápida, como se já estivesse na ponta de sua língua.
— Porque eles não pertencem a este mundo. Eles trouxeram a calêndula, e a calêndula trouxe a destruição 145 mil 412 vezes em diferentes linhas do tempo. Não podemos arriscar-
— Isso não é possível! — Reginald interrompeu, seu rosto tenso.
— Estou falando sério, pai! — Celeste gritou, a voz transbordando desespero. A explosão dela pegou todos de surpresa. Os irmãos, ao redor, sentiram o impacto de sua frustração. — Com todo o respeito, mamãe não quer mais viver! Você quer que todo o meu esforço seja em vão? Quer que esse monstro nos destrua sem mais nem menos?! Eu cheguei no meu limite, e o maldito terceiro estágio está sugando minha energia! É sinistro, sabia?! — Sua voz estava cada vez mais frenética, quase à beira de um colapso. — Parece que a calêndula está magicamente saindo com meu suor, mesmo que isso seja impossível! Estou implorando para que me ouça, pai! Passei minha vida acreditando que meu propósito era ajudá-lo, e agora talvez... eu tenha um propósito ainda maior!
Reginald a observava, atônito. O peso de suas palavras recaía sobre todos. Eles sentiam que estavam diante de algo além de um simples desabafo.
— Você disse que queria provar que eu estava errada, então, por favor, volte e configure aquela máquina! Deixe-nos descansar e faça o que deveria ter feito desde o início. — Sua voz caiu para um sussurro, quase suplicante. Ela olhou para suas mãos, que agora tremiam, magras pela exaustão. Viktor se perguntou o que ela queria dizer com "deixe-nos descansar", e os outros irmãos, sentindo o peso do momento, começaram a entender a profundidade de sua frustração. — Configure um mundo sem a Calêndula, sem Durango... sem alienígenas, sem poderes malucos, e sem você. Sem nós três.
Cinco deu um passo à frente, posicionando-se ao lado de Celeste. Todos aguardavam o último pedido dela. Quando ela ergueu os olhos novamente para o pai, ele soube que não podia recusar.
— E, principalmente... traga Celly de volta. Deixe suas vontades de lado, só desta vez, e não se preocupe com nós duas. — Sua voz vacilou no final. Ela olhou para o chão, mas, sentindo a mão de Cinco em seu ombro, encontrou forças para continuar. Seus olhos, agora determinados, voltaram a fitar o pai. — Eu garanto que estaremos cumprindo nosso destino.
Reginald hesitou. Suas sobrancelhas se franziram, uma ruga se formando em sua testa. Ele olhou para Celeste, depois para sua esposa, que mantinha uma tranquilidade perturbadora. Respirou fundo, questionando a si mesmo se deveria mesmo seguir aquele caminho.
— Há seis anos você me disse que... me ajudaria — Cinco falou, sua voz trêmula ao se lembrar do passado. Reginald, atento, sentiu o peso das palavras do garoto. — Que se eu estivesse disposto a me sacrificar para que desse certo... você atenderia meu pedido.
O monóculo de Reginald brilhou, revelando a sinceridade absoluta de Cinco. Nunca antes ele havia enxergado tanta convicção em alguém. Cinco havia mudado. E para melhor, pensou Reginald, enquanto o monóculo, com seu poder de revelar o verdadeiro caráter das pessoas, pulsava de alarme. Ele reconhecia em Cinco a disposição inabalável para salvar Celly, uma semelhança assustadora com ele próprio. Desde que perdera Abigail, cada ato de Reginald havia sido por ela. E agora, olhando para Cinco, era como se visse uma versão de si mesmo no espelho, mas sem tantas cicatrizes.
Ele se levantou, sua decisão firme como uma lâmina. Olhou para Abigail, que abaixou a cabeça, resignada.
— Conserte tudo, querido — disse Abigail. Ela se levantou e o abraçou com uma saudade devastadora, sabendo que aquele seria seu último abraço. Lágrimas quentes desciam por seu rosto, enquanto Celeste, que antes aguardava ansiosa pela resposta de seu pai, agora sentia um alívio esmagador.
Mas, apesar do momento de emoção, o monstro criado por Ben e Jennifer se aproximava com uma força aterradora.
— Temos que ir. Rápido! — Celeste gritou, sua voz lutando contra o caos e os gritos de desespero que preenchiam o ambiente.
Abigail soltou o marido e se voltou para Celeste, sua filha adotiva, que em seis anos se tornara alguém extremamente especial para ela. Pega de surpresa, Celeste foi envolvida por um abraço caloroso. Seu corpo, antes tenso e rígido pela urgência, relaxou momentaneamente. Era como se, por um breve instante, a angústia do tempo fugisse.
— Foi um prazer lhe conhecer, Celeste — sussurrou Abigail ao seu ouvido. Em meio ao caos, aquelas palavras deram à garota um conforto que ela nunca havia sentido. Aquilo, mais do que qualquer outra coisa, validava todo o seu esforço. Seu propósito de trazer Abigail de volta não havia sido em vão.
Quando o abraço se desfez, o monstro estava perigosamente próximo.
— Temos que ir! Dêem as mãos, rápido! — Celeste ordenou.
Todos os irmãos se uniram em um círculo, entrelaçando as mãos. Reginald respirou fundo, lançando um último olhar para sua esposa, antes de entrelaçar seus dedos com os de Celeste, que já segurava a mão de Viktor.
— Você vai ter que combinar o salto temporal com o espacial — disse Celeste, seus olhos revelando a urgência do momento. Cinco franziu o cenho.
— Você só me fala isso agora?!
— Tem que confiar em mim!
— Não, a gente tem que confiar nele — Diego interveio.
— Exatamente! — Cinco concordou, embora o nervosismo estivesse estampado em sua voz. — Eu nunca fiz isso antes!
— Vocês não haviam chegado a um acordo?! — Viktor gritou, a tensão aumentando a cada segundo.
— Esses dois? — Klaus zombou, sarcástico.
— Meu Deus, que surpresa... — Allison murmurou, revirando os olhos.
— Confie em mim, Cinco! — Celeste gritou, seu desespero crescendo à medida que o monstro se aproximava. — Nos leve para o quarto do Búfalo Branco há seis anos, quatro meses e dezoito dias atrás. — Ela falou. Respirou fundo, olhando para o monstro, que parecia chegar cada vez mais perto. Seu coração estava tão acelerado que poderia sair pela boca. — 3... — Ela começou a contagem, forçando-se a manter a calma. — Se concentre!
O monstro estava ainda mais perto.
— 2... — A aura esbranquiçada começou a envolver o grupo, irradiando de Cinco enquanto ele reunia todas as suas forças para ser exato e perfeito na mudança de tempo.
O perigo se avolumava, o monstro quase os tocava.
— 1... — Celeste sentiu seu braço começar a desaparecer, mesmo sabendo que ele ainda estava lá. Fechou os olhos, enquanto Cinco se esforçava ao máximo para não errar.
Os irmãos estavam em silêncio, suas mentes presas na esperança de que tudo desse certo, temendo que fossem espalhados em épocas diferentes. A sensação era surreal, como se estivessem rodopiando em um abismo escuro. E então, no último segundo, quando o monstro estava prestes a engolir todos eles, apenas Abigail permaneceu. Com um sorriso tranquilo e uma expressão de pura aceitação, ela encarou o destino de frente, permitindo que Celeste e Reginald cumprissem o deles.
Esse aqui foi trabalhoso, juro.
E AÍ??!! estão gostando do final??? 😰
Prometo finais felizes (sim, no plural), muito drama e um epílogo bem procrastinado.
Na verdade, estou realmente pensando entre fazer um final feliz ou um final mais sofrido pq a vida não é um morango KKKKKK, mas isso aí vcs só vão saber no epílogo né 😜😜
O último capítulo já está pronto, mas só vou postar ele quando o epílogo estiver escrito (pq vou publicar os dois juntos 🤙)
É isso, gente. Já tô sentindo saudade de escrever. Bjos e VOTEM!
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