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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐒𝐈𝐗

𝐀 𝐂𝐀𝐋𝐌 𝐉𝐎𝐔𝐑𝐍𝐄𝐘

DEPOIS DE PASSAREM HORAS no quarto debatendo, discutindo e especulando sobre o enigmático documento de Hale, o tempo pareceu voar para Celeste e Cinco. Durante aquela conversa, Celeste descobriu algo que a deixou profundamente abalada: seu aniversário não era, como sempre acreditara, no dia 1º de outubro, junto com o de seus irmãos. A verdade sobre seu nascimento e criação parecia nebulosa, quase inexistente. Quando realmente nascera? Ou... fora criada? Não fazia ideia. Sentia-se como se toda sua vida tivesse sido uma grande mentira.

Esse pensamento a atingiu em cheio. Será que tinha, de fato, 36 anos? Ou seria mais jovem? Talvez mais velha? A dúvida corroía sua mente. Por um instante, se perguntou se a outra versão dela, a tal Sparrow, saberia responder. Mas rapidamente afastou a ideia; entrar em contato estava fora de questão.

De estômago vazio e raciocínio prejudicado, decidiram descer dos quartos até o salão de entrada. O relógio já passava do meio-dia, e era hora de comer. Enquanto exploravam o buffet, Cinco não conseguiu conter sua preocupação:

— ...mas como o papai conseguiu uma substância alienígena? — perguntou, franzindo o cenho enquanto levantava as tampas dos pratos. Ao se deparar com as opções, fez uma careta. Voltou ao assunto, pensando na Gestora: — Não sei, não... isso tem cara de armação daquela velha psicótica.

— Reggie é bilionário. — Celeste respondeu com uma naturalidade quase cínica, como se isso fosse justificativa suficiente. — Ele consegue qualquer coisa para seus projetos com um pouquinho de investimento.

Ela começou a se servir, mas logo parou, como se algo a atingisse. Uma dúvida desconfortável emergiu. Será que isso a tornava... menos humana?

— Ah, não, Cinco! — resmungou, decepcionada. Cinco a olhou, confuso com sua súbita frustração. — Isso significa que eu sou uma E.T.!

Ele parou por um instante, depois soltou uma gargalhada sincera, seus olhos brilhando de diversão.

— Adorável da sua parte pensar assim. — comentou, tentando tranquilizá-la. — Mas acho que essa substância era só para dar poderes.

— Hm? — Ela ergueu as sobrancelhas, confusa com o palpite.

— Bem... se eu estiver certo, todos nós temos essa coisa. A Hale tinha poderes, não tinha? — Ele continuou, explicando. — E ela também tinha essa substância. Nenhum de nós é totalmente humano. Somos super-heróis, mesmo que isso seja... ridiculamente absurdo.

Celeste encarou o vazio, derrotada, enquanto assimilava as palavras. Porém, antes que pudesse responder, um apagão repentino engoliu o prédio. Os dois se entreolharam no escuro por dois segundos. Então, a luz voltou, como se nada tivesse acontecido. Celeste deu de ombros, despreocupada.

— Tá aí... o universo parece concordar com você. — comentou em tom brincalhão, sugerindo que o apagão fora um sinal divino.

Mas antes que pudessem continuar a conversa, Klaus surgiu sorrateiramente, com aquele jeito característico de quem trazia uma ideia absurda.

— Ei. Que tal a gente dar o fora daqui, hein? — sugeriu casualmente, como se fosse um convite para algo trivial. — Meter o pé na estrada.

Celeste e Cinco se entreolharam, confusos.

— Do que você tá falando? — Cinco perguntou, já impaciente com a interrupção.

— O que você tá aprontando agora? — Celeste estreitou os olhos, desconfiada.

— Estou falando de umas férias no interior! — Klaus respondeu, gesticulando com entusiasmo. — Como Rony, Harry e Hermione atrás das Horcruxes!

— Eu não chamaria aquilo de férias, não. — Celeste rebateu, franzindo o cenho. — Tava mais para tortura a longo prazo.

— Talvez. Mas eles enfrentaram tudo juntos! — Klaus insistiu, colocando a mão no ombro dela, tentando convencê-la. Se a convencesse, sabia que ela faria o mesmo com Cinco. — Me escuta... eu quase morri ontem à noite por causa dos peidos do Luther. — Seu tom era de puro drama, mas a sinceridade arrancou uma careta de Celeste e um olhar desgostoso de Cinco. — Nós precisamos respirar ar fresco.

— Você precisa respirar ar fresco. — corrigiu Celeste, enfatizando a palavra. — A gente está bem. Dormimos super bem, aliás.

— É. É bem agradável dormir com ela. — Cinco comentou casualmente, como se fosse algo irrelevante, arrancando um sorriso de triunfo de Celeste.

Klaus suspirou, derrotado. Mas não desistiu.

— Tá bom, vou ter que perguntar. — Cinco finalmente quebrou o silêncio, curioso. — Por que nós, Klaus?

— Porque você vive dizendo que está aposentado, e a Celeste não para de falar que quer conhecer o mundo, mas nunca sai do lugar. — Klaus respondeu com um sorriso provocador.

Celeste abriu a boca, ofendida.

— Você não disse isso! — Celeste exclamou, incrédula. Levou a mão ao peito, como se tivesse acabado de ouvir uma blasfêmia. Klaus, por sua vez, apenas assentiu com um sorriso presunçoso, como quem dizia sem palavras: "Você sabe que estou certo."

— Eu disse, sim. Vocês dois merecem se divertir um pouco. Nem que eu fique como vela o dia inteiro...

— Tá sem lagosta. — Cinco interrompeu, cortando a conversa com uma observação completamente fora do contexto. Ele estava parado, perplexo, olhando para o aquário no salão. Klaus e Celeste se viraram para ele, confusos. Cinco parecia intrigado.

— Como é? — Klaus perguntou, levantando uma sobrancelha, visivelmente irritado por ter sido interrompido.

— Tinham três lagostas no tanque há um minuto.

O tom de Cinco era sério, como se tivesse descoberto uma conspiração. Celeste o observou, franzindo o cenho. "Ele tá ficando maluco." O pensamento passou pela mente dela como um trovão silencioso.

— Vai ver o Chet usou elas pra fazer um milk-shake matutino. — Klaus deu de ombros, desinteressado. Seu objetivo era claro: voltar a convencer os dois de sua ideia maluca.

— É. Ou o pirralho do Stan pegou pra avacalhar. — Celeste acrescentou com o mesmo tom despreocupado, já começando a se desviar do assunto.

Com a questão das lagostas deixada de lado, o trio se afastou do buffet. Embora Celeste estivesse quase convencida a participar da proposta de Klaus, a fome falava mais alto. Não importava o quão absurda fosse a aventura, ela não ia começar de estômago vazio.

Sentaram-se em uma mesa no salão. Cinco resmungou baixinho, balançando a cabeça como quem não acreditava no talento manipulador de Klaus.

— Você é um idiota. — Ele riu de forma desajeitada, colocando o prato sobre a mesa e se acomodando na cadeira. A disposição era simples: uma mesa quadrada, com Celeste de frente para Cinco e Klaus estrategicamente posicionado no meio, de frente para os dois. — Mas eu topo sua ideia.

— Uhul! — Klaus celebrou, erguendo as mãos para o alto, como se tivesse acabado de ganhar um prêmio. Ele então olhou para Celeste, que devorava a comida como se fosse sua última refeição. Cinco observava, tentando conter o riso. Já Klaus fez uma careta dramática antes de lançar sua próxima cartada, piscando inocentemente para ela: — E você, lindinha?

Celeste parou de mastigar e o encarou com um olhar gelado que dizia claramente: "Não-me-chame-assim-novamente." Após engolir, respondeu com a mesma intensidade:

— Eu vou só pra não te dar o gostinho de falar novamente que eu vivo procrastinando.

Klaus sorriu como quem acabara de vencer uma guerra.

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O calor na estrada era quase sufocante. Celeste começava a se arrepender de ter vindo de calças, já tendo abandonado a blusa xadrez há muito tempo. O sol castigava o carro, e o único alívio era o vento que entrava pelas janelas abertas.

Cinco dirigia calmamente, como se aquele trajeto fosse a coisa mais natural do mundo. Celeste estava no banco do passageiro, distraída com a paisagem. No banco de trás, Klaus falava sem parar, seu entusiasmo não sendo abalado nem pelo calor sufocante.

Já estavam há mais de meia hora fora do hotel, seguindo por estradas que pareciam não levar a lugar algum. Para a surpresa de todos, Cinco estava em silêncio. Ele parecia, de fato, estar curtindo a viagem, algo raro para alguém sempre tão tenso. Celeste também não reclamava. Observava as árvores passarem, desaparecendo ao longe conforme o carro avançava.

— Na verdade, isso não é tão ruim. — Cinco comentou, dando de ombros. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

Klaus, que parecia sempre atento a qualquer chance de ser validado, interrompeu seu falatório para lançar um olhar convencido.

— Viu? Eu te falei. — Ele replicou, com um tom satisfeito.

Celeste, entretanto, continuava absorta na paisagem, sem dar muita atenção à interação. Só notou algo diferente quando Cinco voltou a falar. Era o tom dele. Ela conhecia bem aquele tom. Um disfarce de despreocupação, mas que sempre precedia um desabafo.

— Se parar pra pensar, durante minha vida toda fui pressionado. — Cinco comentou, o tom carregado de exaustão. Celeste virou o rosto para ele, atenta, assim como Klaus, que parou sua tagarelice por um instante. — Missões pro papai, trabalhei pra Comissão, tentei sobreviver no apocalipse... Eu sempre tive que tomar cuidado em cada esquina, esperando sempre pelo pior. — Ele deu de ombros, deixando escapar um suspiro pesado antes de mostrar um sorriso raro, quase libertador. — É bom relaxar um pouco.

As palavras dele pairaram no ar, mais pesadas do que qualquer silêncio. Klaus e Celeste trocaram um olhar rápido, ambos impactados de maneiras diferentes. Ela não era boa com palavras, sabia disso, mas o jeito vulnerável de Cinco a fez engolir em seco. Ele merecia ouvir algo, qualquer coisa, para aliviar o peso que carregava.

— Isso é ótimo, cara. — Klaus disse, com uma felicidade quase ingênua. Ele deu de ombros, claramente mais focado na parte positiva do que no desabafo em si. — A aposentadoria vai te fazer bem.

— É. — Celeste concordou, com um sorriso pequeno, mas encorajador. — Estamos oficialmente longe do apocalipse, longe da Comissão, e finalmente curtindo a vida.

Klaus assentiu energicamente, enquanto Cinco deu outro pequeno suspiro e um leve aceno de cabeça. A conversa parecia ter atingido um ponto de entendimento silencioso. Mas, fiel ao seu estilo, Cinco rapidamente mudou de assunto, como se quisesse afastar qualquer sensação de vulnerabilidade.

— Ah, beleza. — Ele resmungou, de repente mais animado. Com os olhos fixos na estrada, cutucou Celeste levemente no braço. — Pega pra mim o mapa, Sunshine.

Ela arqueou a sobrancelha, desconfiada, mas não hesitou. Atravessou o corpo para pegar o mapa dobrado ao lado da porta dele.

— Olha só, eu marquei todas as atrações de beira de estrada no caminho. — Cinco anunciou com um tom orgulhoso.

Celeste abriu o mapa, ajeitando-se no banco para desdobrá-lo. A folha estava coberta de círculos vermelhos exagerados. Klaus, que observava por cima do ombro dela, soltou um suspiro de frustração.

— Nossa. — Celeste murmurou, desanimada. Embora reconhecesse alguns pontos, o entusiasmo sumia à medida que os círculos pareciam multiplicar-se. "Que raio de pontos turísticos são esses?", pensou, desgostosa.

— Não sei se vai dar tempo. — Klaus deu sua desculpa, preguiçoso, apoiando o cotovelo na janela. Celeste lançou-lhe um olhar cúmplice, claramente na mesma vibe, enquanto Cinco começava a tagarelar animado.

— ...tem a moeda de Brownsville. Ah, e a padaria do Ricky, que tem tortas premiadas...

— Se deixar eu explicar... — Klaus tentou intervir, mas foi interrompido pelo monólogo empolgado de Cinco.

— ...e esse círculo de vacas aqui. Muita coisa bacana pra fazer!

Celeste bufou baixinho. Quando dizia que queria viajar e conhecer lugares novos, tinha em mente a Torre Eiffel ou o Muro de Berlim, não pontos turísticos duvidosos no meio do nada.

— Cala a boca um pouquinho, tá bom? — Klaus pediu, impaciente, gesticulando dramaticamente. Cinco soltou um suspiro frustrado, claramente ofendido. "Só eu estou animado aqui?", pensou irritado. — Rapidinho, tá? — Klaus insistiu, tentando ganhar a atenção de ambos.

— Fala logo, chato. — Celeste resmungou, cruzando os braços. Aquele empurra-empurra entre os dois estava começando a testá-la.

— Eu sou todo ouvidos. — Cinco replicou, com uma pitada de sarcasmo, mas mantendo o olhar atento à estrada.

Klaus fez uma pausa dramática, respirando fundo. Celeste o observava com uma mistura de irritação e curiosidade, enquanto Cinco lançava olhares rápidos pelo retrovisor.

— Nós vamos pra Pensilvânia pra achar... — Klaus começou, hesitando por um instante antes de deixar escapar: — ...a minha mãe biológica!

O silêncio no carro foi instantâneo. Cinco e Celeste se entreolharam, ambos claramente processando a revelação. Klaus, por sua vez, soltou um "Ê!" tímido no banco de trás, sacudindo as mãos como se estivesse comemorando.

Celeste estreitou os olhos, o rosto traindo uma mistura de irritação e surpresa. "Ele nos arrastou até aqui com essa história de Harry Potter… pra isso?", pensou, indignada.

— Isso não se trata de "passar tempo com a gente"?! — Celeste rebateu, a voz carregada de impaciência e descrença.

Klaus deu de ombros, completamente despreocupado.

— Como é que é? — Cinco perguntou, o tom tão irritado e traído quanto o de Celeste.

— Foi mal, foi mal. — Klaus levantou as mãos em um gesto de rendição, embora não parecesse realmente arrependido. — Eu só precisava que alguém viesse me dar apoio emocional.

— Ah, apoio emocional? — Cinco devolveu, incrédulo, a indignação evidente. — Tipo um Schnauzer?!

Por um breve momento, Celeste e Cinco compartilharam um mesmo pensamento: "Poderíamos ter ficado no hotel… juntos… aos beijos".

— Sério, Klaus?! — Celeste explodiu, a raiva crescendo rapidamente. Agarrando a caneta vermelha que Cinco usava para marcar o mapa, ela a lançou contra Klaus com toda a força que tinha. O objeto atingiu-o de leve no ombro, mas foi tão ineficaz quanto um mosquito. Klaus apenas olhou para ela, um brilho divertido no olhar. — Seu mentiroso, manipulador, frouxo, nojento…

— Eu sabia que, se eu contasse... — Klaus começou, elevando a voz para abafar os insultos de Celeste, mas era inútil.

Ela cruzou os braços, o rosto virado para a janela, claramente irritada demais para dar atenção ao irmão.

— ...vocês não viriam, então...

— Pois é! — Cinco interrompeu, os olhos faiscando de raiva. — E o pior é que você tá certo. Eu não teria vindo, Klaus. Sabe por quê? Porque era pra eu estar aposentado! Junto com a Celly! No hotel...

— Tá, eu sei... eu sei!

— Era pra essa ser uma viagem relaxante! — Cinco exclamou, a frustração tão intensa que ele nem percebia que estava acelerando o carro cada vez mais.

— Mas a gente pode fazer ser, tá bom? — Klaus argumentou, com a paciência de quem achava que os dois estavam exagerando. — Só se mantém no caminho.

E então, como se o universo estivesse conspirando contra Klaus, uma placa apareceu à esquerda. "A maior bola de barbante do mundo", ela anunciava. Cinco estreitou os olhos, vendo ali uma oportunidade.

— "Bola de Barbante"? — Cinco murmurou, como se o nome tivesse algum poder hipnótico.

Quando começou a virar o volante, Klaus literalmente se jogou do banco de trás, agarrando o volante com força.

— Para! — Klaus gritou, em desespero. "Meu Deus, por que eu não chamei o Luther ou o Diego? O que eu fui fazer chamando esses dois?!", ele pensou, irritado consigo mesmo.

— Para, Klaus! É uma das mais legais! — Cinco berrou, tentando empurrar Klaus para trás.

— Sai!

Celeste, perplexa com o caos repentino, levou alguns segundos para reagir. A gritaria deles e o som das buzinas de motoristas irritados finalmente a trouxeram de volta à realidade.

— Klaus, para! Vamos bater! — ela gritou, estapeando o braço do irmão para que ele soltasse o volante.

Mas Klaus estava decidido. Ele não ia deixar o carro sair da rota por algo tão trivial quanto uma bola de barbante.

Sem ver outra opção, Celeste tomou uma decisão drástica. Fechou os olhos por um instante, concentrando-se, e drenou a energia de Klaus. Ele desabou imediatamente, o corpo mole caindo entre os bancos.

Por um momento, o carro oscilou na pista antes de Cinco retomar o controle. Ambos respiraram fundo, tentando se recuperar do susto.

— Ah… valeu. — Cinco murmurou, ainda meio abalado.

Celeste suspirou, o olhar cansado.

— Vamos ver a bola de barbante. — Ela disse, resignada, mas com um tom que deixava claro que não tinha mais paciência.

— Aham. — Cinco concordou, aliviado, mas sabendo que ela estava detestando.

Ela se virou para ele com a expressão firme.

— Depois, mais nada!

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Foram mais dez minutos até chegarem à famosa bola de barbante, dirigindo por uma estrada secundária deserta. Durante o trajeto, Klaus começou a despertar, resmungando como se tivesse sido arrastado para o purgatório.

— Não acredito que vocês estão me levando pra esse lugar horrorosamente entediante. — Ele murmurou, claramente azedo.

Celeste lançou-lhe um olhar de compreensão. Ela também achava aquilo um absurdo completo.

Quando finalmente desceram do carro, o impacto da visão foi... decepcionante. Celeste fez uma careta automática.

— Sabe de uma coisa? Não sei por quê, mas achei que seria muito maior. — Klaus comentou, com um tom de deboche que parecia enraizado em seu DNA. Ele deu de ombros como se estivesse resignado.

Celeste, por outro lado, apenas concordou mentalmente. "Quase morremos na estrada por isso?", ela pensou, incrédula.

— Pra mim, parece bem grande. — Cinco disse, com a confiança de quem queria impressionar. Ele lançou um olhar de canto para Celeste, esperando apoio.

— Não parece, não. — Ela respondeu sem hesitar, mãos na cintura e olhos estreitos contra o sol. — É bem pequena.

Cinco piscou, mudando de opinião com uma rapidez cômica.

— Verdade. Bem pequena.

Por alguns segundos, os três ficaram ali, olhando para a bola gigante feita de barbante. O silêncio era tão entediante quanto o próprio ponto turístico. Finalmente, Cinco quebrou a monotonia, virando-se para Klaus.

— Agora o mistério de verdade: como você sabe que sua mãe biológica está na Pensilvânia?

Klaus suspirou, com aquele ar dramático que só ele conseguia fazer.

— Bom, porque… — Ele começou, dando de ombros como se fosse contar um segredo importante. — …eu fiquei na mão do palhaço depois de duas semanas de loucura e nem sei dizer a data exata, porque estávamos chapados de Xanax e outras coisas. Mas a Amy Winehouse estava no topo, então... isso foi quando? No meio de agosto passado?

Celeste se pegou pensando em Back to Black e em como gostava daquela música na época. Klaus continuou, ignorando as divagações dela.

— Aí eu entrei no escritório do papai atrás da chave do cofre, porque ele mandou o Pogo trancar tudo que tivesse valor. Mas, em vez disso, achei um tesouro: a história da nossa família contada por talões de cheque antigos.

Celeste, ao ouvir isso, se perguntou imediatamente se Klaus tinha encontrado algo sobre sua mãe ou sobre ela mesma. Mas então, o pensamento trouxe de volta a amargura familiar: ela era só um experimento nojento, sem família. Ela desviou o olhar, tentando esconder o incômodo.

— Eu estava muito chapado pra fazer algo a respeito e, honestamente, com medo demais pra procurá-la. Mas, no fundo, sempre me perguntei por que ela me vendeu por três mil dólares. Tipo... qual é? Não podia ter pedido cinco? Ou seis?

— Você viu alguma coisa sobre a minha mãe? — Cinco perguntou, interrompendo o fluxo de Klaus e apertando a mão de Celeste em um gesto silencioso de conforto.

— Ver? Sim. — Klaus deu de ombros. — Mas não lembro. A única que não tinha talões de cheque era a família da Celly.

Celeste arqueou as sobrancelhas, como se dissesse um sarcástico "Sério isso? Por que será?". Cinco suspirou discretamente, tentando mudar de assunto, mas ela foi mais rápida.

— Por que agora?

— Dã! — Klaus retrucou, irônico, dando tapinhas no ombro dela. — O papai nos renegou, a Grace não é a Grace, o Ben já se foi… Agora parece tão bom momento quanto qualquer outro para descobrir quem eu poderia ter sido, caso não tivesse crescido nessa família idiota.

Cinco resmungou, fazendo uma careta. Ele olhou para a bola de barbante e puxou Celeste mais para perto.

— Dá mesmo pra chamar o que nós temos de "família"? — Ele perguntou, pensativo.

Klaus soltou um riso sarcástico.

— Pois é, tá mais pra…

— Um instituto de delinquentes sarcásticos. — Cinco completou, irônico. — E nem somos bons nisso.

Celeste suspirou, observando os dois com um toque de diversão. "Malucos", pensou ela.

— Mas o que é uma família? O quê? — Klaus perguntou de repente, gesticulando para a bola de barbante como se aquilo fosse a resposta. — É tipo uma bola de barbante gigante que nunca pode ser desenrolada.

— Uma bola gigante de obrigações… e responsabilidades. — Cinco deu de ombros, sua expressão meio distante.

— Quanto mais velho você fica, maior ela fica. — Klaus completou, fazendo uma careta dramática. — Você tenta desenrolar…

— …e fica olhando ela rolar colina abaixo de novo e de novo… — Cinco murmurou, com uma sinceridade inesperada.

E assim, os dois ficaram ali, contemplando a metáfora e a bola de barbante, enquanto Celeste os observava, meio divertida, meio exausta.

— E pra quê? — Klaus perguntou, com aquele tom retórico que só ele sabia usar. Celeste abriu a boca para responder, mas, ao ver o desenrolar da conversa, decidiu que era melhor deixar os dois resolverem. No fundo, achou graça das analogias malucas. — Quer saber? Tô feliz que vieram comigo. — Klaus disse, deixando escapar um pequeno sorriso. Ele olhou para Cinco, que tentava disfarçar a satisfação, e para Celeste, que mantinha a clássica expressão julgadora. — Saibam que vocês são bons irmãos.

Cinco ergueu uma sobrancelha, mas, no fundo, parecia feliz com o reconhecimento. Celeste, por sua vez, deixou de lado a cara de julgamento por um momento, abrindo um sorriso leve e cheio de confiança. Com os braços cruzados, parecia mais satisfeita consigo mesma do que com o elogio de Klaus.

— Tá legal, agora é a parte que vocês falam de mim. — Klaus incentivou, estendendo as mãos como quem espera ser exaltado.

Cinco e Celeste se entreolharam rapidamente. O olhar compartilhado dizia tudo: "Nem ferrando!"

— Vamos logo atrás da sua mãe idiota. — Cinco mudou de assunto, batendo no ombro de Klaus antes de se afastar. Celeste soltou uma risada divertida, claramente achando graça da cena, e seguiu em direção ao carro.

Klaus observou os dois com um sorriso convencido no rosto. Ele sabia que o amavam, mesmo que nenhum deles fosse admitir tão cedo.

— Ah, eu te amo, meu pequeno dançarino! — Ele gritou para Cinco, colocando toda a dramaticidade que conseguia na voz. — E te amo também, minha pequena Celly!

Celeste, já no carro, não conseguiu segurar a gargalhada. Abriu a janela e gritou, com um sorriso estampado no rosto:

— Também te amamos!

— Nem pensar! — Cinco rebateu de imediato, com a expressão de quem tinha acabado de ouvir uma blasfêmia. Apesar do cenho franzido, o sorriso brincalhão estava ali. — Fale por si mesma!

O carro arrancou em meio às risadas, deixando para trás a bola de barbante e aquele momento caoticamente familiar.

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Os pinheiros altos e robustos margeavam a estrada, criando uma sombra agradável que bloqueava o sol e tornava a viagem mais fresca. A brisa leve, combinada com o cenário bucólico, dava um toque relaxante à jornada. Para Celeste, o ambiente era até reconfortante, especialmente quando o rádio do carro tocava músicas animadas e Cinco acompanhava o ritmo fingindo tocar bateria no volante. Ele acertava o ritmo com uma precisão irritante, transformando sua impaciência em uma performance descontraída.

Apesar de claramente não querer estar ali, Cinco já havia aceitado o destino e buscava qualquer distração para aliviar a sensação amarga de ter sido manipulado por Klaus.

Quando finalmente chegaram, a tranquilidade do vilarejo chamou a atenção. Algumas mulheres com roupas simples caminhavam apressadas, o som de seus passos misturando-se ao ambiente sereno. Tudo era estranhamente aconchegante. Celeste saiu do carro, franzindo o cenho, desacreditada. Ela deu a volta no veículo, observando o cenário com uma mistura de perplexidade e incredulidade. Cinco, mais discreto, também examinava tudo. Klaus, por outro lado, parecia à vontade.

— Mas que porra... — Celeste resmungou, quase em choque. Bateu a porta do carro e, ao cruzar o olhar com Cinco, os dois pareciam ter exatamente o mesmo pensamento. Quase sincronizados, disseram em uníssono:

— O Klaus é amish!

— Isso explica tudo. — Klaus afirmou, com um sorriso prepotente. Respirou fundo, claramente se sentindo no seu elemento.

— Como isso explica alguma coisa? — Cinco rebateu, a ironia pingando de cada palavra.

— Porque olha ao redor! — Klaus gesticulou com entusiasmo, abrindo os braços como se estivesse apresentando o cenário. Celeste cruzou os braços, tentando não rir ao notar como Klaus era o oposto absoluto de toda a cultura amish. — É tudo o que não tive na infância.

O lugar era inegavelmente bonito. O campo verde pontilhado por vacas leiteiras, as cercas rústicas, e as pequenas casas simples, mas acolhedoras, davam um ar de tranquilidade. Celeste suspirou, sua expressão deixando claro que, embora reconhecesse a beleza, ainda não estava convencida da teoria de Klaus.

Sem esperar mais, Klaus começou a caminhar em direção às construções, embora hesitasse ligeiramente, talvez por nervosismo.

— Ei, Cinco. — Celeste chamou, aproximando-se com um olhar que misturava diversão e preocupação. — Me responde uma coisa... — Ela estreitou os olhos, baixando o tom de voz enquanto espiava Klaus, que já estava à frente. — Não tem o risco do Klaus encontrar a outra versão dele e-

— Bem lembrado! — Cinco interrompeu, exasperado. Fez uma careta, quase se xingando por não ter pensado nisso antes. — Klaus! — Ele correu para alcançar o irmão, colocando a mão em seu ombro para pará-lo. Klaus virou-se, confuso, com a sobrancelha arqueada.

— Oi?

— Espera aí um pouquinho. — Cinco pediu, olhando ao redor como se esperasse que outro Klaus saltasse de algum canto. Celeste também se aproximou, intrigada. — Checagem de doppelgänger — Cinco anunciou, com uma seriedade que parecia deslocada no meio do vilarejo tranquilo. — Tá se sentindo estranho?

— Coceira? Suor? Gases? Raiva? — Celeste acrescentou, arqueando uma sobrancelha e olhando para Klaus como se ele fosse uma bomba-relógio prestes a explodir.

Os dois se entreolharam, compartilhando uma expressão de desconfiança. Klaus, por sua vez, franziu o cenho, mas manteve a calma, claramente achando tudo aquilo uma grande perda de tempo.

— Não, tô ótimo. — Klaus deu de ombros, com aquele ar despreocupado típico dele.

"Negação?", pensou Celeste, desconfiada. Apesar disso, era evidente que ele não estava apresentando nenhum dos sintomas que temiam.

— Fora aquela coceirinha de sempre. — Klaus resmungou com um sorriso divertido, arrancando um suspiro aliviado de Celeste. — Mas fazer o quê...

Sem esperar mais, ele virou-se e começou a caminhar em direção ao local. Celeste e Cinco, naturalmente sincronizados em suas decisões não faladas, deram as mãos.

— Beleza. — Cinco murmurou, beijando de leve as costas da mão de Celeste, como se quisesse transmitir um pouco de calma. Observando Klaus se afastar, ele desejou: — Boa sorte.

— Se cuida, Klaus. — Celeste disse, com um tom que misturava carinho e seriedade. No fundo, ela sabia que ele preferiria ter companhia, mas também entendia que essa era uma jornada pessoal.

Klaus parou no meio do caminho, virando-se para os dois com o cenho franzido, claramente sentido.

— Ué? Vocês não vêm? — Ele perguntou, quase magoado. Era evidente que não queria encarar aquilo sozinho.

— Você tem que fazer isso sozinho. — Cinco respondeu, com um leve dar de ombros, como se fosse óbvio.

Klaus bufou, quase revirando os olhos.

— Sozinho? Tá, tá bom. — Apesar do tom de falsa bravata, era visível o nervosismo em sua postura. Ele respirou fundo antes de continuar o trajeto. — Eu vou conseguir.

Enquanto ele desaparecia no horizonte, Celeste e Cinco trocaram um olhar cúmplice.

— Vamos te esperar na saída! — Celeste gritou, e Klaus ergueu a mão em um joinha sem olhar para trás.

Virando-se para Cinco, ela murmurou, um pouco apreensiva:

— Espero que ele seja bem recebido.

— Acho que tudo vai dar certo. — Cinco respondeu com um dar de ombros, a tranquilidade estampada no rosto.

Cinco segurou a mão de Celeste com firmeza, mas de um jeito tranquilo, conduzindo-a até o carro. Ele estacionou o veículo próximo à saída, onde o amplo campo verde, salpicado de vacas pastando, criava uma atmosfera acolhedora. Algumas poucas árvores proporcionavam sombra agradável, o que o fez abrir as janelas do carro para arejá-lo, enquanto os dois permaneciam lado a lado, observando o cenário em silêncio.

Com o mapa da viagem em mãos, Cinco começou a rabiscá-lo, concentrado em buscar novos destinos para explorarem em breve. Ele fazia anotações meticulosas, pensando em lugares que poderiam visitar — fosse com o consentimento de Klaus ou não.

Apesar de parecer distraído, sua mente estava dividida. Ele não podia deixar de pensar em Celeste. Cinco sabia que ela estava se segurando. Sabia que ela não queria estar ali, visitando bolas de barbante ou moedas estranhas. Mas ele estava determinado a mudar isso.

"Nem que eu tenha que arrastá-la até uma cafeteria e convencê-la a provar o melhor café acompanhado de um croissant de chocolate", pensou, com um meio sorriso no rosto. Era uma pequena missão pessoal: arrancar um sorriso sincero dela, mesmo que precisasse insistir. Não queria que ela pensasse que sair com ele pela estrada fosse uma perda de tempo.

Celeste, por outro lado, estava entediada. Apesar da música agradável no rádio, sentia uma necessidade crescente de conversar. Ela olhava pela janela, abraçando as próprias pernas, tentando conter a inquietação.

Cinco percebeu o desconforto. Parou de rabiscar o mapa e a observou de canto de olho, curioso.

— Está inquieta. — Ele concluiu, com aquela precisão quase irritante. — O que houve?

— Quero conversar. — Ela respondeu diretamente, dando de ombros.

— Sobre o quê? — Ele perguntou, abandonando completamente o mapa e voltando toda a atenção para ela.

Celeste pensou por um momento, tamborilando os dedos, em busca de algo interessante. Uma ideia surgiu de repente.

— Perguntas. — Disse, como se fosse um jogo.

— Perguntas? — Cinco franziu o cenho, claramente confuso.

— É… sabe como é, o ser humano muda de opinião conforme vai crescendo. Queria saber mais sobre você agora. Da última vez que perguntei sua cor favorita, você tinha dezesseis anos — disse Celeste, dando de ombros e se ajeitando no banco, com um sorriso leve e descontraído.

Cinco ergueu as sobrancelhas por um momento, pensando no que ela disse, mas logo pareceu gostar da ideia.

— Tudo bem. Uma pergunta para cada um. Você começa.

— Okay, vamos começar simples. Qual sua cor favorita? — perguntou Celeste, com os olhos brilhando de curiosidade. Ela estava empolgada para ver o que havia mudado nele. — Da última vez, o verde parecia ser bastante agradável.

— É... o verde ainda é legal, mas ultimamente tenho curtido mais o preto — respondeu Cinco, dando de ombros enquanto se acomodava no assento do carro. Ele parecia tão empolgado quanto ela, apesar de já saber o quão previsível Celeste poderia ser. — E você? Seu gênero literário favorito?

— Romance, com certeza — respondeu Celeste, sem hesitar.

— Isso não mudou, né? Imaginei — Cinco sorriu de canto, com aquele sorriso de quem acha que já sabe de tudo.

— Minha vez — disse Celeste, com um brilho de travessura nos olhos. Ela parou para pensar por um momento e, então, fez uma pergunta simples, mas interessante: — Se você pudesse se mudar para qualquer lugar do mundo agora, para onde iria?

— Para uma praia qualquer — respondeu Cinco com simplicidade.

— Praia? — Celeste arqueou as sobrancelhas, surpresa. Ela nunca havia imaginado Cinco em uma praia. A única vez que ele usou bermuda foi com o uniforme da Umbrella Academy, ainda combinado com meias altas para esconder os joelhos. A ideia dele só de bermuda a fez soltar uma risada. — Você? Usando só uma bermudinha? — Ela riu, divertida com a cena que se formava na cabeça dela.

— É... pensando bem, talvez a praia não seja para mim — Cinco riu junto com ela, percebendo como a situação era engraçada.

Celeste riu tanto que seu abdômen começou a doer. Quando olhou para ele, notou que Cinco parecia realmente se divertir na companhia dela, apesar de as perguntas não serem nada extraordinárias.

— Okay, sua vez — disse Celeste, finalmente conseguindo se recompor e respirar com mais calma. Cinco estava até um pouco corado, provavelmente envergonhado por não ter pensado muito na resposta anterior. "Nunca consigo pensar direito com ela me olhando assim", ele pensou, meio desconcertado. Se fosse realmente parar para refletir, teria escolhido o Circuito de Silverstone para assistir a uma corrida de Fórmula 1. Ela o observava com aquele sorriso encantador enquanto ele fazia sua expressão típica de quem estava tentando pensar: franzindo as sobrancelhas e abaixando o rosto.

— Sua memória favorita. Pode ser qualquer uma. Não precisa ser comigo — perguntou Cinco, a curiosidade evidente em seu tom.

Ele imaginou que ela pudesse mencionar o "dia do lixo" da infância, quando, aproveitando a ausência de Reginald, encomendaram tantas pizzas que acabaram passando mal.

Mas Celeste não hesitou nem por um segundo.

— Nosso primeiro beijo.

— Compreensível — Cinco respondeu, sorrindo de canto, claramente satisfeito com a resposta. — Foi ótimo mesmo.

— Minha vez — anunciou ela novamente, a dinâmica descontraída e divertida. — Qual a parte que você mais gosta em si mesmo?

A pergunta pegou Cinco de surpresa, mas ele achou graça na forma despretensiosa como ela a lançou. "De onde vem tanta criatividade, hein?", pensou, rindo internamente.

— Fisicamente ou... na personalidade? — questionou ele, para ganhar tempo.

— Fisicamente — respondeu Celeste, inclinando-se um pouco, como se quisesse analisar sua resposta.

Cinco a olhou diretamente nos olhos, umedecendo os lábios de forma deliberada. O silêncio entre eles parecia pesado, como se os pensamentos dele pairassem no ar, quase audíveis. "Meu pau", ele pensou, com um sorriso malicioso se formando no canto dos lábios. Ao notar a expressão no rosto de Celeste, os lábios dele se curvaram para cima, e a cor subiu imediatamente nas bochechas da garota. Não era preciso mais do que um olhar para ela entender exatamente o que ele queria dizer. "Que pervertido!" ela pensou, incrédula. Estava quase rindo de nervosa, mas se controlou, querendo mudar de assunto o mais rápido possível.

— Okay… mudando de pergunta! — disse ela, ansiosa para escapar daquela situação um pouco mais quente. O coração dela disparava sempre que ele a olhava daquele jeito.

Cinco, no entanto, não deixou o ritmo escapar. Ele a olhou intensamente, sem quebrar o olhar, e perguntou com uma expressão descontraída:

— O que você mais gosta em si mesma?

Celeste arqueou uma sobrancelha, incrédula com a falta de criatividade na pergunta, e cruzou os braços.

— Sério? Que criatividade... — ela ironizou, mas ele deu de ombros, sem se importar.

— Fisicamente ou na personalidade? — ela completou, tentando manter a calma, mas com uma leve tensão no tom de voz.

— Fisicamente.

— Ah — Celeste hesitou por um momento, tentando não deixar sua resposta soar maliciosa como a dele. — Meu cabelo.

— Você realmente não mudou nadinha — comentou Cinco, um sorriso de canto no rosto enquanto colocava a mão em sua coxa. Aquele olhar safado de sempre fez Celeste quase derreter.

— Isso era para ser triste — disse Celeste, fazendo um biquinho manhoso e cruzando os braços.

— Eu gosto disso. Quer dizer que ainda te conheço. — Ele deu de ombros, tranquilo. — Sua vez, minha querida.

— Tudo bem… hm… — Ela pensou por um instante, sua mente rápida para bolar algo inteligente. De repente, teve uma ideia e sorriu, orgulhosa de si mesma. — Cite três coisas que você gosta em mim. Só as favoritas.

Cinco olhou para ela, sorrindo, sem perder tempo na resposta.

— Sua bondade… personalidade no geral, na verdade — ele corrigiu, com um olhar carinhoso. — Seu sorriso e sua bunda.

Celeste ficou vermelha instantaneamente, o calor subindo pelas suas bochechas. Tentou falar algo, mas as palavras saíram emboladas, e ela gaguejou miseravelmente. Quando se recompôs, deu um tapa fraco no braço de Cinco, o que só fez ele sorrir ainda mais. Ela já tinha julgado Diego como superficial por falar sobre as pernas de Patch, mas agora, estava pagando com a língua. Aquela foi, sem dúvida, o melhor elogio que alguém poderia lhe dar. E vindo de Cinco... Bem, ela acabaria por se vangloriar disso por um bom tempo. Mesmo assim, não ia admitir.

— E-eu… Não pensou em nada mais profundo para falar sobre mim? — Ela perguntou, erguendo as sobrancelhas, com aquele ar de quem estava tomando o controle da situação, tentando deixá-lo sem graça. Mas Cinco apenas sorriu, malicioso, e a observou. "Pensei, na verdade", ele pensou, divertido.

— A parte profunda que eu falaria eu ainda não experimentei para poder citar.

Celeste arregalou os olhos, engasgando com o nada, como se o ar tivesse desaparecido por alguns segundos. Ela desviou o olhar do dele, sentindo a cor subir em suas bochechas. "Meu Deus" pensou, "ele conseguiu me deixar ainda mais envergonhada do que antes." Ela abriu a boca, tentando falar alguma coisa, mas as palavras simplesmente não vinham. Estava incrédula. "Desde quando ele consegue me deixar assim, sem palavras?" pensou, a mente girando.

— Você é terrível. Um completo pervertido! — ela resmungou, a voz embargada de vergonha, mas com uma pontada de impaciência. — Você... — Ela parou por um momento, ainda processando. Ele não era mais o garoto de dezesseis anos que ela conhecia. Agora, com seus quarenta e seis anos, era claro que ele não tinha mais medo de soltar essas baixarias. E, sinceramente, ela estava adorando. — Você está completamente impossível!

— Desculpa. — Ele disse com um sorriso de canto, ainda cheio de si. Estava como se tivesse vencido o campeonato, todo satisfeito por vê-la tão desconcertada.

Sua mão apertou a coxa de Celeste de forma quase despretensiosa, enquanto seus olhos permaneciam fixos nos dela. Era impossível não perceber como ele estava curtindo vê-la daquele jeito. E, por mais que Celeste se irritasse por perder o controle, uma parte dela se entregava completamente. Contudo, sua voz soou mais magoada do que pretendia, e o arrependimento foi imediato.

— Tem que parar de fazer isso. — Ela falou emburrada, o tom de voz mais frágil do que o esperado. Não era como se ela não tivesse gostado, claro. Ela adorava ter o controle, mas esses momentos em que Cinco prevalecia faziam-na se render totalmente. Ele percebeu o que havia feito e, preocupado, pensou "Passei dos limites". Imediatamente, retirou a mão da coxa dela, sentindo que tinha ido longe demais.

— E-eu…

— Não é isso, Cinco... — Celeste o acalmou, sua voz mais suave agora, deixando claro que ele ainda poderia tocá-la. Cinco quase soltou um suspiro de alívio. — Tem que parar de me deixar tão envergonhada. Estou quase desmaiando com esse olhar, seu idiota. — Ela resmungou, cruzando os braços, o rosto um pouco mais vermelho enquanto olhava para a paisagem. Quando voltou a encarar Cinco, viu o mesmo olhar safado, aquele que a fazia derreter por dentro. — Está fazendo de nov-

Antes que ela pudesse continuar, ele a puxou pela nuca, interrompendo suas palavras com um beijo urgente. Celeste arfou contra os lábios dele, mas logo se separaram. Seus olhares se encontraram enquanto ele umedecia os lábios, e o silêncio entre eles foi carregado de algo que não precisavam mais explicar.

Ela o amava. O amava de uma maneira que palavras não conseguiam capturar. Cada toque, cada gesto, cada sorriso dele fazia seu coração bater mais rápido. E ele, claro, sentia o mesmo, de forma intensa e incondicional.

Celly tomou a frente, voltando a selar seus lábios, mas dessa vez logo deu passagem para a sua língua. Ele apertava a coxa dela, como um convite silencioso para que ficassem ainda mais perto. Era como se tudo estivesse ficando calor de repente. Celeste sentia uma necessidade enorme de tocá-lo. Parecia que só o beijo não era contato físico o suficiente. Era como se o calor explodisse no ambiente.

Não pensou duas vezes antes de sair do seu assento, pondo cada uma das suas pernas ao lado do seu quadril e montando-o urgentemente.

O garoto segurou com firmeza em sua cintura, depositando beijos demorados no pescoço da garota. "Eu definitivamente amo o pescoço dela", ele pensou, excitado. As mãos de Cinco desceram sorrateiramente para a bunda de Celeste.

As mãos a apertaram. Ele parecia sentir a necessidade de tocá-la. Ambos estavam naquele jogo de proibições. A maneira que ele encontrava para se satisfazer: tocar o corpo dela. E a maneira dela: deixá-lo tão instigado ao ponto de ouvi-lo gemer. E ela conseguiu. Conseguia sentir a ereção proeminente sobre si. Aquilo foi como um estímulo natural. Se esfregou nele, sentindo a ereção de Cinco estimular ela indiretamente. Cinco soltou um suspiro, que saiu um pouco mais alto que o normal. Estava ficando maluco com ela em cima dele. Poderia congelar no tempo e viver aquele momento por anos sem reclamar. "Quem sabe ficar voltando no tempo diversas vezes, hm?", ele pensou, traiçoeiro.

— Você vai fazer eu perder o controle, Sunshine. — Ele falou, quase em um sussurro. Era incomum a maneira como ela o deixava. Já estavam nublados de luxúria.

As mãos de Celeste ficavam na nuca dele, e revezavam em invadir sua camiseta para tocar em seu corpo. Era incrível como cada toque nele surtia uma reação diferente. Aquela altura, ela já estava conseguindo decifrá-lo: sabia que ele gostava de ouvi-la arfar, gostava de sentir ela arranhando sua nuca e definitivamente adorava sentir ela se esfregando nele.

Ela estava ficando com mais calor, e seu corpo ansiava mais pelo seu toque — se é que isso era possível. 

— Deveríamos ter ficado no hotel — Cinco afirmou de forma arrependida. Quase amaldiçoou Klaus por essa busca maluca por sua ancestralidade. "Se eu tivesse ouvido meus pensamentos, meu Deus", Cinco pensou. Adorava a ideia de ficar no hotel com ela. À essa altura, quem sabe, adoraria poder ver os peitos dela se a garota deixasse.

— Não quer dizer que não podemos nos divertir aqui — ela sorriu de canto, sentindo suas mãos subirem por dentro da blusa dela. Ela ofegou. Aquilo, para ele, foi como um incentivo, dizendo "vá em frente, continue". Cinco subiu ainda mais as mãos, naquele jogo de provocações incessantes. Quando ele olhou para ela, Celeste queria tanto o toque dele que somente concordou com a cabeça. 

Cinco subiu mais as mãos, ainda com a blusa dela sobre o corpo e o sutiã os cobrindo. Mesmo assim, as mãos de Cinco pararam nos mamilos dela. Rígidos, pontudos de excitação. Cinco soltou um suspiro. "Eu os colocaria na boca agora mesmo", ele pensou, maliciosamente. Os dedos ficaram ali, roçando, circulando… brincando com os seios dela, ainda sem os ver por completo.

Era como se ali estivesse calor demais. Como se a qualquer momento, os dois tivessem de se tornar uma pessoa só para que se sentissem satisfeitos com o toque físico. Era loucura. Era como se tocar-se não fosse o suficiente. Não naquele momento. Ele beijou o pescoço dela. Ora brincava com seus mamilos, ora puxava a blusa dela. E Celeste, estava amando tanto que ele estava no controle, que poderia se acostumar perfeitamente com aquilo.

Cinco levou a mão até os cabelos dela. Os dedos se enroscaram nas ondas douradas, as puxando. Ele queria deixar o pescoço dela mais exposto, e conseguiu. O garoto levou a boca até a pele clara dela, carregado de uma urgência absurda por tocá-la.

— Minha. — Cinco sussurrou. Era para aquilo ter sido só pensado. Mas saiu de uma forma tão natural de dominação que Celeste conseguiu sentir sua intimidade pulsar. "Que porra. Era para mim estar no controle", ela pensou, franzindo o cenho.

E então, sentiu os lábios dele chupando. Estava deixando-a marcada. Celeste gostaria de dizer para ele que não era boa ideia que a marcasse. Foi como se o pensamento dela tivesse sido passado mágicamente para ele. Cinco beijou delicadamente o pescoço dela, e então, foi descendo até a gola da regata branca da garota. 

Ele puxou a blusa branca, o suficiente para expor a pele clara do seio dela, mas sem ver seus mamilos. A garota poderia ter certeza que aquela era uma visão celestial: Cinco estava deixando um chupão bem em seu seio. O indicador puxava o tecido branco para baixo, naquela maneira provocante que a fazia delirar. 

Celeste fechou os olhos, tentando gravar aquela cena na memória. Era algo que ela não queria esquecer. Mas, de repente, algo no ar mudou. Uma onda magnética invisível passou por eles, fraca, mas o suficiente para perceberem que a blusa branca de Celeste havia escapado dos dedos dele, mesmo que ela ainda permanecesse no corpo da garota. Ela abriu os olhos, ainda confusa com o que estava acontecendo, mas claramente indignada por Cinco não ter continuado.

Sem que falassem, os dois olharam simultaneamente para fora do carro.

O campo, que antes estava repleto de vacas, agora estava completamente vazio. Um arrepio percorreu a espinha de Celeste. "Merda", pensou, sentindo o peso da situação. De repente, salvar o mundo parecia muito mais urgente do que continuar se entregando àquela química insana com Cinco. Ela odiava o fato de ter nascido com poderes. Se não fosse por isso, poderiam ficar ali, sem preocupações, apenas se pegando no carro, sem pensar no apocalipse. E, com isso, levantou-se, determinada.

— Mas o que… — Cinco reclamou, claramente não entendendo a pressa dela. Ele, ao contrário dela, adoraria fazer o apocalipse esperar.

Celeste caminhou pela grama, ainda um pouco desconcertada, sentindo o calor no corpo. Quando notou que não havia mais nenhum animal ali, soltou um suspiro exasperado. "Definitivamente, isso não é normal." Cinco, com os ombros caídos, saiu do carro, avaliando a situação, e quando percebeu a gravidade, passou as mãos no rosto, visivelmente irritado.

— Ai, eu não consigo tirar um maldito dia de folga! — esbravejou, sem acreditar na reviravolta.

— Apocalipse? — Celeste perguntou, já cansada. Ela estava tão exausta de tudo aquilo que estava prestes a desistir.

— Provavelmente, querida.

Aquelas palavras caíram sobre ela como um soco no estômago. Ela já tinha desconfiado que as coisas estavam boas demais para serem verdade, mas o apocalipse novamente? Celeste bufou, voltando para dentro do carro. Pegou a caneta vermelha e a atirou para Cinco, que, sem perder tempo, começou a fazer rabiscos no vidro do carro.

Ela odiava não poder fazer mais nada. A frustração crescia, e até a música "Rude Boy", de Rihanna, foi desligada de forma quase agressiva. Ela estava tão mal-humorada que se sentia à beira de um ataque de nervos. Tudo parecia um jogo, mas estava cada vez mais difícil manter a calma. Podia até tentar agir de forma impassível, mas não conseguia. Sabia que aquilo não estava ao alcance dela, mas o fato de estar tudo tão perfeito e, de repente, ter que correr novamente para salvar o mundo era extremamente cansativo. O pior de tudo? Eles nem sabiam por onde começar.

Cinco, imerso em cálculos, estava no vidro do carro há alguns minutos, tentando entender o que estava acontecendo. As canetas, que não funcionavam direito, o deixavam ainda mais frustrado. Ele estava calculando possibilidades, tentando entender como o sumiço de centenas de vacas e, mais cedo, o desaparecimento das lagostas, se conectava a algum fenômeno apocalíptico. E o que viria depois? Pessoas? Celeste? Ele? Sua família? Não poderia permitir que isso acontecesse.

Foi quando, para piorar ainda mais a situação, um grito desesperado de Klaus ao longe fez os dois virarem abruptamente.

— Cinco! Celly! — Klaus gritou, distante, desesperado. Celeste, com os braços cruzados, olhou rapidamente para o lado, mas Cinco, focado nos cálculos, nem percebeu.

"Mas o que diabos…", Celeste pensou, amargurada.

Ela saiu do carro rapidamente e contornou o veículo, parando ao lado de Cinco. Quando ele finalmente notou algo estranho, parou de rabiscar. Aí foi quando Celeste, com um olhar mais atento, viu Klaus correndo por uma colina íngreme, sendo perseguido por uma multidão de amish com ancinhos e enxadas.

Celeste ficou sem palavras, incrédula.

— Cinco! — Ela gritou, impaciente, apressando-o. Ele terminou seu cálculo, sem se apressar, mas quando finalmente viu o que estava acontecendo, foi ao seu lado rapidamente. — Entra no carro agora! — Ela ordenou.

Cinco, boquiaberto, não pensou duas vezes. Jogou a caneta vermelha para dentro do carro pela janela. Klaus estava sendo perseguido por uma multidão enfurecida de amish, e a cena era tão absurda quanto irritante. Cinco resmungou, furioso. Ele queria desvendar o apocalipse e, agora, Klaus estava atrasando tudo.

— Celly! Liguem o carro, rápido! — Klaus gritou enquanto se aproximava, desesperado para escapar.

— Por que você não consegue se dar bem com as pessoas?! — Cinco perguntou, irritado, entrando no carro contra a própria vontade. Celeste seguiu rapidamente, correndo para o veículo.

— Eu não consigo! Eu tentei, é sério!

Quando Klaus chegou perto, bateu no vidro de trás. A porta estava trancada. Celeste, resmungando, estendeu o braço, quase empurrando Cinco para destravar a porta. Klaus estava ofegante, cansado, e parecia completamente desesperado. Quando finalmente conseguiu entrar no carro, pediu, sem fôlego:

— Espera aí!

— Não dá pra bater papo agora! — Celeste gritou, desesperada, enquanto a multidão se aproximava. Uma mulher amish chamou a atenção de Klaus, e ele parecia curioso, mas não tinham tempo para mais atrasos.

— Só um pouco! — Klaus pediu apressado.

E então, sem hesitar, ele correu em direção à mulher. Cinco e Celeste se entreolharam, furiosos, tão ansiosos pela fuga que mal perceberam o que estava acontecendo entre Klaus e a mulher. Cinco ligou o carro, a ansiedade estampada no rosto. Não podia acelerar sem Klaus, mas também não podia esperar mais. O tempo estava se esgotando, e o grupo de amish se aproximava rapidamente.

— Não podemos usar nossos poderes contra um grupo de amish! — Celeste gritou, irritada, colocando a cabeça para fora da janela do carro.

— Eu vou embora se ele não vier agora! — Cinco berrou, a voz carregada de urgência, na esperança de que Klaus ouvisse e se apressasse. — Entra no carro, Klaus!

Mas Klaus parecia totalmente alheio aos gritos. Ele estava imerso em algo com a mulher, e aquilo estava deixando Celeste mais irritada do que o normal.

— Meu Deus, você é uma barata-tonta! Eu vou te fazer desmaiar e te carregar à força, se for preciso! — Celeste resmungou, quase fora de si.

— É agora ou nunca! Vem logo! — Cinco repetiu, sua paciência se esgotando enquanto o grupo amish se aproximava com rapidez.

Relutante, Klaus finalmente deixou a mulher, mas de forma desengonçada, e correu para o banco de trás do carro. Trancou a porta assim que entrou, e os homens, já próximos, começaram a correr atrás deles pela estrada.

O carro arrancou com força, levantando uma nuvem de poeira que obscureceu a visão dos amish, que, impotentes, logo desistiram da perseguição, sabendo que não os alcançariam com um veículo.

— Essa foi por pouco! — Celeste sibilou, irritada, ainda sentindo o estresse da demora de Klaus. Todos estavam ofegantes, o ar carregado de tensão.

A velocidade aumentava conforme o carro se aproximava da estrada asfaltada, mas Klaus parecia alheio ao perigo, como se estivesse se divertindo.

— Essa linha do tempo toda está tentando enganar a gente — Klaus disse, com um sorriso irônico, enquanto se inclinava do banco de trás e abria um pequeno livro de colagens que a mulher amish havia dado a ele. — Olha só, minha mãe morreu antes mesmo de eu nascer.

Cinco freou o carro de maneira brusca, o coração batendo forte enquanto encarava Klaus com uma expressão de choque. Celeste, incrédula, virou-se lentamente para olhar o livro.

— O que você disse? — o casal perguntou em uníssono, a surpresa visível em suas vozes.

｢· · • • • ⛈︎ • • • · ·｣

O tempo de viagem foi reduzido pela metade. Cinco estava tão apressado — e, admitidamente, um pouco desesperado — para resolver o novo problema, que nem sequer percebeu o nervosismo de Celeste com a alta velocidade.

Chegaram ao Hotel Obsidian antes mesmo do pôr do sol, entrando no salão com passos largos, enquanto Cinco continuava a maquiná-los os problemas em sua mente.

— Tá bom, gente. Reunião! — Cinco chamou a atenção dos irmãos presentes.

Viktor estava bebendo, assim como Diego e Allison, e logo perceberam o nervosismo de Celeste e Cinco quando se aproximaram. As sobrancelhas deles se levantaram, curiosos e desconfiados.

Quando Cinco percebeu que nem todos os irmãos estavam ali, soltou um suspiro frustrado.

— Hm? Cadê? — Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha. Celeste olhou ao redor, procurando por Luther, mas ele definitivamente não estava por perto. — Cadê o Luther?

— Não vi ele — Allison deu de ombros, indiferente.

— Quem sabe? — Diego respondeu, sem interesse.

Celeste, com um misto de incredulidade e irritação, pensou: "O tonto do Luther está fora do hotel desde cedo e ninguém se importa em procurá-lo?". Mas sabia que, no fundo, o problema maior era outro, mais urgente.

— Temos mesmo que procurá-lo? — Ela perguntou, erguendo uma sobrancelha enquanto cruzava os braços, impaciente. Klaus, logo atrás deles, roía as unhas, visivelmente nervoso.

Cinco bufou, claramente exasperado. Finalmente, cedeu, resmungando.

— É, temos problemas maiores pra resolver agora — disse, com um tom irritado, ainda contrariado.

— Tipo o quê? — Allison perguntou, sua voz vazia de emoção. Ela estava pronta para ouvir qualquer coisa. A perda de seu marido e filha a deixara imune a qualquer outra notícia. Para ela, nada seria mais angustiante do que sua própria situação.

Cinco respirou fundo e abriu o livro que a mulher amish havia dado a Klaus.

— Isso — Cinco apontou, batendo o dedo na página nove. Uma foto de uma mulher estava ali, com uma folha de jornal arrancada. Cinco parecia prestes a suar frio. Celeste, por sua vez, já sabia que aquilo era grave, embora não tanto quanto ele, o que a deixava mais nervosa.

Cinco começou a folhear as páginas, repetidamente. Ele mostrava uma manchete de uma mulher após a outra. Todas mulheres. Nenhuma com a mesma idade, mas todas variando entre vinte e quarenta anos. De lugares e etnias diferentes. Os irmãos se entreolharam, confusos. Allison parecia calma, mas os outros pareciam mais atentos.

— Quem são elas? — Viktor perguntou, erguendo uma sobrancelha.

— Essas são as nossas mães — Cinco respondeu, sem rodeios. Os irmãos se olharam, alguns parecendo agora mais interessados, mas ainda sem entender a gravidade da situação.

Cinco estava prestes a mostrar outra página, mas Klaus o interrompeu, dolorosamente. Cinco olhou para ele, irritado, sem entender por que não podia mostrar tudo.

— Essa é a minha — Klaus murmurou, tocado. E então, Celeste, impaciente com a demora, falou sem rodeios.

— Todas estão mortas — disse, direta. As sobrancelhas de todos se ergueram. Alguns pareciam achar normal. Outros, visivelmente, entristeceram. — Morreram no primeiro de outubro. No dia em que nascemos.

— É o nosso aniversário. E daí? — Allison deu de ombros, sem compreender a gravidade da situação. Celeste engoliu em seco, sentindo a tensão crescer. Cinco tirou a mão de Klaus de cima do livro e começou a folhear as páginas de forma desesperada.

— Não é mais o nosso aniversário. — Celeste falou, a voz baixa, tensa, como se aquelas palavras fossem pesadas demais para sair. Os irmãos se entreolharam, confusos. — Todas elas morreram antes da gente nascer.

— Isso é idiotice. — Diego resmungou, dando de ombros e quase revirando os olhos, com um tom de prepotência. — Se não nascemos, como podemos existir?

— Aí que tá a questão — Celeste disse, o tom sombrio e grave. Engoliu em seco, desejando que fosse Cinco a continuar a explicação. Ela tocou o ombro dele, como um pequeno incentivo.

Cinco estava tão nervoso que quase sussurrou.

— O que você quer dizer? — Viktor perguntou, os olhos fixos neles, claramente sem entender.

— Eu quero dizer que, quando viemos pra cá, não criamos um paradoxo temporal. Mas não é um paradoxo qualquer. — Cinco falou, suas palavras carregadas de tensão. Todos os irmãos se olharam, ainda mais inquietos. — Estamos lidando com o Paradoxo do Avô.

— Tá, mas… — Klaus perguntou, um pouco mais pensativo. — …o que é esse Paradoxo do Avô?

Aquelas palavras, o Paradoxo do Avô, soaram como um peso insuportável. Algo que jamais conseguiriam deter. Não sem a maleta. Talvez este fosse o pior apocalipse que enfrentariam. A sensação de falha, mais uma vez, os atingia com força.

Enquanto isso, algo começava a se formar no porão da Sparrow Academy. Uma anomalia. Uma anomalia poderosa, que liberava sua energia conforme crescia, gerando ondas de poder que faziam desaparecer seres aleatórios. Desde os menores, como animais, até humanos — sua intensidade aumentava a cada momento.

E o único jeito de consertar o que haviam causado? A mais insana das ideias. O plano mais absurdo e repleto de coragem que poderiam imaginar.

O Paradoxo do Avô será explicado futuramente! Até o próximo capítulo, vote e comente!💖
Esse capítulo ficou tão 🫦🫦

revisão concluída ☑️💚