✶ capítulo quatro : revivendo memórias.
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A sorte é que John B não morre facilmente. As duas tentativas de homicídio falhas são provas disso.
Depois do socorro chegar, os adolescentes acompanharam até o hospital e somente voltaram para casa quando os médicos confirmaram que o garoto ficaria bem. Quando Ward apareceu, após checar que a filha estava bem, prometeu que levaria Routledge para a própria casa e cuidaria dele até as coisas se resolverem, o que seria um alivio para Isabela, mas ela estava ocupada demais levando bronca da mãe.
Foi praticamente arrastada para casa, pedindo mil desculpas por mentir e mantendo a cabeça baixa a viagem de volta. Sabia que estava errada, e que Stella provavelmente ficou assustada quando soube do ocorrido. Por mais que quisesse se rebelar pela diversão da adrenalina, a Sinclair nunca seria capaz de colocar a mãe sobre tanta pressão.
━━━━ Bom dia. ━━ Stella diz, um pequeno sorriso involuntário em seu rosto quando a filha chega a cozinha. ━━━━ Se sente melhor?
━━━━ Não. ━━ Suspira, sentando na cadeira mais próxima. ━━━━ Me desculpa pelo susto. Prometo não fazer mais isso.
━━━━ Eu agradeceria. Não quero te ver em uma cama de hospital.
━━━━ E não vai.
A mais velha agradece, entregando um copo de café puro para Isabela. É tão fácil entrar em rotina, mesmo depois da bronca da noite anterior. Acima de tudo, Stella prioriza a saúde da filha e, mesmo que estivesse brava, não pode culpar a garota por ser uma adolescente como qualquer outra. Ela mesma teve um passado encrenqueiro — o que a fez cair no colo de Jeffrey Sinclair, um Pogue com mais defeitos do que qualidades.
━━━━ Estive pensando. ━━ A loira murmurou, apoiando os braços sobre a bancada para examinar a filha. ━━━━ Como está Rafe?
━━━━ Mãe. ━━ Isabela resmunga, afundando o rosto nas mãos.
━━━━ Eu só estou perguntando! Ward me contou que ele não estava com vocês e fiquei curiosa, só isso.
Sentiu-se levemente cruel por ter reclamado sem dar a chance da mãe se explicar, mas Isabela força um sorriso e balança a cabeça em negação. Ainda se lembra do erro que o Cameron cometeu na festa.
━━━━ Sei não. Ele saiu com os meninos, nem me deu tchau. ━━ Bebe o resto do café em um só gole, desejando que o efeito fosse tão forte quanto álcool. ━━━━ Eu também não dei tchau, mas achei que ele iria.
━━━━ Como ele saberia que você queria isso?
━━━━ Rafe me conhece.
Melhor do que ninguém. Não havia alguém nessa Terra, além da própria Isabela, que a conhecesse tão bem quanto Rafe Cameron. Ele sabe como ela fica chateada, mas, talvez, não se importe mais.
Será que ele está enjoando dela? Ultimamente tudo em que pensa são festas e drogas, um contraste enorme com o amigo que a visitava quase todos os finais de semana. A loira sabe que ele está crescendo e que a vida comum é cansativa para pessoas ricas como eles, mas esperava mais de Rafe. Enganou-se acreditando que as ondas do mar não o afastariam do litoral, mas agora percebe que está sozinha na beira da praia, balançando os braços e implorando para que ele ou Sarah notem sua presença.
Quem diria que se envolver com a família Cameron a traria tantos problemas?
━━━━ Não é porque ele te conhece, que sabe ler mentes, Bel. ━━ Os dedos delicados de Stella seguram o rosto da filha, seus olhos verdes encarando-a. ━━━━ Converse com Rafe. Acho que vocês dois estão precisando.
O pedido disfarçado de sugestão mexe com Isabela e, mesmo que ainda esteja chateada, sente vontade em fazer o que a mãe diz. Seria injusto sumir sem dar a ele uma chance, não é? Ainda é seu melhor amigo.
━━━━ Mais tarde eu vou. Prometo.
Ela sorri, beijando a testa da filha e subindo as escadas para o quarto com uma breve despedida. Por alguns minutos, Isabela se manteve sentada na cadeira, apoiando-se sobre a bancada.
Sabia que uma hora ou outra acabaria conversando com Rafe sobre o ocorrido, e sabe também que quanto mais cedo melhor, para evitar que os problemas aumentem. Mas isso não a impede de agir como uma adolescente comum, que deseja ser procurada e não procurar. Não é errado desejar, certo?
Com um suspiro cansado, se levanta e vai até o próprio quarto. Espera o tempo passar, pensando e repensando em como conversar com o melhor amigo, além de ligar para Sarah para descobrir o paradeiro de John B, que aparentava estar bem, apesar do incidente. Mesmo que não seja a maior fã do garoto, por motivos infantis, não é sem noção ao ponto de desejar o mal para o Pogue. Já lhe bastava o desaparecimento do pai e a ameaça de ser inserido no sistema, Routledge não precisa de inimigos, muito menos inimigos como Isabela.
━━━━ Sua chamada foi encaminhada para a caixa postal. ━━ A voz robotizada avisa e Sinclair desliga antes que continuasse.
Era a terceira vez que ligava pra Rafe, sem sucesso. O sol atravessa a janela, brilho tão forte que evidencia a passagem de tempo. Já não estava mais de manhã cedo e o "mais tarde" que prometeu a mãe havia batido na porta, insistente.
━━━━ Merda, Rafe. ━━ Resmunga sozinha.
A loira caminha de um lado para o outro, seus pés cansados de tanto nervosismo. Sabia o que deveria fazer, mas a ideia ainda a incomoda.
Na cabeceira do seu quarto, um porta retrato está lindamente posicionado. Ela encara com pesar a fotografia dos Sinclairs ao lado dos Camerons, no mesmo ano em que Antonella chegou ao seu fim e antes do seu pai decidir ir embora. Apesar da amargura, Isabela gosta de manter o retrato por perto, como um lembrete de como as coisas costumavam ser. Ali, um Rafe de nove anos carrega uma Isabela de sete anos nas costas, rindo ao lado de Sarah e Wheezie. Aquele garoto nunca faria o que o Cameron fez na festa, muito menos na frente da melhor amiga.
Aquele garoto é Rafe Cameron, a mais nova só precisa procurar o suficiente que o encontrará novamente, certo?
Decidida, correu escadas abaixo e rapidamente pegou as chaves de casa, subindo na bicicleta e escapando para Tannyhill. Não deixaria que o amigo se afogasse em problema, não o deixaria escapar como deixou o pai. Está exausta de perder quem ama, dessa vez ela vai tomar uma decisão.
Quando finalmente chega ao casarão, é surpreendida ao encontrar o mais velho sentado no chão, segurando o pulso e se contorcendo de dor. Ela rapidamente larga a bicicleta, correndo para ajudá-lo.
━━━━ Rafe, o que aconteceu?
Ele também parece surpreso, por não esperar vê-la aqui, ou agora, mas deixa com que a amiga segure seu pulso. Além de Antonella, a única pessoa capaz de confortar Rafe Cameron tão bem é Isabela. Algo na maneira como ela gentilmente o segura, a preocupação que brilha em seus olhos e a voz doce que usa para acalma-lo é suficiente para desestabilizar toda a maldade que habita no coração do moreno.
━━━━ Não se preocupa, Isa. ━━ Ele nega, mas deixa um grunhido de dor escapar quando ela toca na ferida. ━━━━ Aí! Cuidado, vai acabar me matando.
━━━━ Bem que eu ando querendo. ━━ Brinca, mas toma cuidado mesmo assim. Percebe que a pele dele foi queimada, o que apenas a deixa mais preocupada. ━━━━ Como você fez isso? Seja sincero, Rafe. Por favor.
Quando os olhos pidões de Isabela encontram os dele, ambos sabem que o garoto vai acabar se rendendo. Nunca foi bom em mentir para ela.
━━━━ Foi o Barry, ele veio aqui pedindo o dinheiro que eu to devendo e levou minha moto. Ganhei a porra de uma queimadura de brinde.
Ela quis socar o rosto dele e gritar, revoltada com tanta besteira. Não só Rafe estava devendo um traficante, como se envolveu em uma intriga por causa disso. Apesar da raiva, ela respira fundo, para se acalmar.
━━━━ Poderia ter me contado antes, sabe que eu não hesitaria em te emprestar dinheiro.
━━━━ Não preciso do seu dinheiro. ━━ Rafe rebate, quase ofendido. Mas isso não é sobre o dinheiro, ele sabe disso. Está com raiva porque achou que conseguiria se livrar de um problema sozinho e falhou miseravelmente. Seu pai estava certo, ele era inútil. ━━━━ Eu só precisava de mais tempo, mas Barry é um filho da mãe. Não se preocupa com isso não, Isa, eu me resolvo.
━━━━ Rafe, ele queimou a sua mão. ━━ Diz Isabela, desacreditada.
Mesmo aqui, sentado no chão na frente da própria casa por causa de um traficante problemático, Rafe não quer admitir que precisa de ajuda. Sua insistência é ridícula.
━━━━ Agradeça que sou eu aqui e não seu pai. ━━ Adiciona, erguendo uma mão para arrumar o cabelo dele. ━━━━ Você tá uma bagunça, nem se quisesse poderia disfarçar o que aconteceu.
━━━━ Não importa o que meu pai pensa.
━━━━ Ele ainda é seu pai.
━━━━ Seu pai também é seu pai e não muda nada. ━━ O garoto responde, voz áspera com raiva e amargura.
Aparentemente, atingiu um nervo.
Quando disse a frase, Isabela estava apenas tentando relembrar o amigo que, não importa o quão crescido seja, Ward ainda paga todas as contas e toma conta da casa. O que significa que Rafe não tem a liberdade de esconder tudo que deseja.
━━━━ Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. ━━ Sinclair resmunga, se levantando e assistindo enquanto ele faz o mesmo, sem oferecer ajuda.
━━━━ Eu sei, me desculpa. Só tô com raiva. ━━ Rafe suspira, segurando o pulso e se aproximando da amiga.
A diferença de altura deixa o mais velho pairando sobre ela, e, mesmo assim, ele se sente estranhamente pequeno.
━━━━ Eu sei disso e eu sinto muito, mas seu pai precisa saber, Rafe. ━━ Apoia as mãos sobre os ombros dele, inclinando a cabeça para o lado e cruzando seus olhares. ━━━━ Ou eu e você vamos atrás dessa moto nós mesmos.
A sugestão faz com que ele rapidamente negue, perdendo todo aquela tristeza e timidez e transformando-a em raiva. Só de imaginar Barry próximo de Isabela o deixava enjoado.
E não é como se o Pogue já não tivesse feito comentários sobre a aparência da Miss Outer Banks antes, ele já deixou bastante claro para Rafe que não se importaria em "dividir" — já que, claro, ele também imagina que há um romance entre os dois.
Em partes, Rafe sabe que ele é culpado pelos rumores. Sempre foi ele o mais apegado, o que exigia que Isabela fosse com ele em todas as festas, que a beija na testa em público, que chama ela de apelidos mais comuns em relacionamentos. Porém, foi tudo pelo bem dela. Quando soube da sexualidade da melhor amiga, se sentiu preso num abismo, entre a verdade e a mentira. Ser lésbica não a tornava diferente, mas o tornava diferente. Agora ele tinha certeza que a amizade deles era verdadeira, afinal, existe muita confiança para revelar algo assim. E Rafe cultivou um medo absurdo de perder a única verdadeira amiga que tinha, então percebeu que não havia maneira melhor de garantir o segredo da Sinclair se não convencer as pessoas do contrário.
Pensou que estava a mantendo segura quando começou essa mentira, e continua acreditando nisso. Enquanto Isabela não se sentir confortável em assumir, ele vai continuar alimentando o rumor. Tudo por ela. Tudo mesmo.
━━━━ Tá maluca? Eu não vou deixar ele chegar perto de você.
Ela ri, desacreditada. Rafe sempre foi protetor, mas estava sendo ridículo. Essa era a única chance que teria de resolver o problema com Barry e mesmo assim estava negando.
━━━━ De onde pretende tirar dinheiro?
━━━━ Do meu pai. ━━ Garante, mas quando percebe o alívio no rosto da mais nova, adiciona: ━━━━ Só que ele não precisa saber.
A felicidade de Isabela cai por terra, transformada em choque e terror.
━━━━ Vai roubar o seu pai? ━━ Indaga, olhos arregalados ao imaginar a cena.
━━━━ Esse dinheiro também é meu, por... Herança, sei lá. Eu tenho direito.
Nem ele acreditava no que falava e isso era claro.
━━━━ Rafe, não faz isso. Vai criar mais problema do que ajuda.
━━━━ Ele só vai saber se você contar, mas você não vai, não é? ━━ Rafe questiona, erguendo a sobrancelha. Quando o silêncio desconfortável reina, ele sabe que precisa tomar uma decisão rápida. ━━━━ Bebela.
É como uma facada. O apelido inventado anos atrás, quando eram apenas crianças ainda ressurge na garota uma chama inconsolável, preenchida de saudade e esperança.
E Rafe sabia disso.
━━━━ Não me chama de Bebela. É golpe baixo.
Mas ele não ligava. Na verdade, estava torcendo por isso. Queria que ela concordasse com o plano maluco, mesmo sabendo que as chances de funcionar são baixas, seu ego o convence de que, se existe alguém no mundo capaz de enganar Ward Cameron, esse alguém é ele.
O que é uma enorme mentira.
━━━━ Você é minha melhor amiga. ━━ Insiste, pegando na mão dela com o braço livre de machucados.
Por alguns longos segundos, ela fica quieta o encarando. Sua mente grita para que faça a coisa certa, mas aqueles olhos pidões funcionam tão bem nela quanto funcionam com ele. Estava perdida, arrastando a si mesma na lama junto dele.
━━━━ Eu te odeio, Rafe. ━━ Dá por vencida, resmungando baixinho. ━━━━ Vamos, antes que eu mude de ideia.
Ambos vão juntos para a casa, discretamente subindo as escadas até o escritório do patriarca. Obviamente, ela ficou de observar a porta enquanto Rafe destroçava o local na procura do dinheiro guardado no cofre do pai. As mãos de Isabela suam de nervosismo, não sentiu tanto medo quando procurava pelo mapa com Sarah, mas isso era diferente. Estava roubando Ward. Roubando dinheiro. Se fosse pega, era capaz dele chamar à polícia e mandar prendê-la por furto.
Assim como tanto temia, Ward subiu as escadas, estranhando a garota posicionada à sua porta como um guarda costas desajeitado.
━━━━ Isa, não sabia que estava aqui. ━━ Ward sorri, semicerrando os olhos.
Ela se torna visivelmente tensa e sorri, claramente sem graça, o que apenas alimenta a desconfiança do mais velho.
━━━━ É, bom, eu vim ver o Rafe. O que é totalmente normal, e eu to sempre aqui mesmo. Não é uma surpresa. Quer dizer, você tem total direito de estar surpreso, né, já que eu não avisei. Sabe de uma coisa? Vou começar a avisar sempre, pra ser mais educada. Sabe como é, né, adolescente é tão rude às vezes. A gente nem percebe mais, só acontece.
━━━━ O que Rafe está fazendo no meu escritório? ━━ Ward interrompe o embaralhar da loira antes que piorasse, já confuso nas palavras que ela dissera mais cedo. Algo sobre adolescentes e surpresas? Estava mais preocupado com o que o filho estava aprontando. ━━━━ E não minta, você já se entregou quando tagarelou demais.
Só conseguia pensar que estava ferrada. Totalmente ferrada e acabada. É o fim. Ward Cameron vai chamar a policia e mandar ela tomar no cu e a história vai aparecer nos jornais, arruinando a chance dela de ter um futuro bem sucedido.
━━━━ Me desculpa, senhor. ━━ Murmura, saindo de frente da porta e engolindo em seco quando ele adentra o cômodo.
Sentia nojo de si, por entregar o amigo e por tentar furtar alguém.
Como um cachorrinho maltratado, Sinclair ficou calada escutando a briga entre o pai e filho. Estava deslocada, envergonhada e sozinha. Tinha momentos que considerava abrir a boca e defender Rafe, mas sempre acabava mordendo a língua. Espera que ele não fique com raiva dela depois, até porque tentou avisar que não daria certo e ele decidiu não ouvir. Ela não tem culpa. Ou tem? Seria tudo isso culpa dela?
Senhor amado, Ward precisa ser tão cruel? Era tudo que pensava, ouvindo cada farpa que deixava a boca do homem. Talvez sentia pena por conhecer Rafe tão bem, ou por saber que ele nunca falaria assim com Sarah, seja o que for, apenas a deixa mais desconfortável.
━━━━ Eu vou tomar conta disso. ━━ Decide, virando-se para Sinclair como se lembrasse que ela existe. ━━━━ Vá pra casa, Isabela. Você não tem que resolver as irresponsabilidades dele.
Não conseguia ver Rafe de onde estava, então apenas sorriu sem nenhum animo, concordando com a cabeça.
━━━━ Estarei aqui para o que precisar. ━━ Diz, olhando para Ward mas direcionando-as para o melhor amigo.
Com passos apressados, desce as escadas e vai para casa. Sentia-se um monstro por largar ele com tanta facilidade, mas sabia que não adiantaria de nada ficar. Só iria piorar a situação.
Assim que chega em casa, pega o celular e manda uma mensagem para Rafe, pedindo que ele a notificasse assim que tudo chegasse ao fim. Queria o abraçar e dizer que tudo ficaria bem, mesmo que seja mentira. Mesmo que não saiba se vai ou não.
Quase no mesmo instante, seu celular é bombardeado de mensagens de Sarah, dizendo que precisava conversar e que o plano seria cancelado. Ela não hesita em ligar, preocupada com a razão por trás daquilo.
━━━━ O que aconteceu?
Do outro lado da chamada, a garota revira os olhos e ri seco.
━━━━ Adivinha? A querida não me quer lá. ━━ Responde, e Isabela rapidamente entende de quem estão falando.
━━━━ Kiara?
Falar o nome dela era como proferir o nome de Voldemort. Sentia um enjoo só de pensar. Alguns anos atrás, Kiara Carrera era sua melhor amiga, a garota que mais admirava, até ser provada errada e desistir da amizade. Ela sabe que a morena ainda a odeia, mas, ao menos, o sentimento é mútuo.
O lado positivo é que nunca mais vai precisar conversar com ela, certo? Mas se Sarah e Kiara virarem amigas, então seus planos de ignorar a existência da Carrera se tornam impossíveis. Porém, Isabela conhece a amiga que tem, e sabe que para a amizade entre as duas voltarem, vai exigir mais do que uma caça ao ouro. O que é ótimo, visto que Isabela planeja nunca mais voltar a olhar para Kiara e agradeceria se sua melhor amiga pudesse fazer o mesmo.
━━━━ A própria! ━━ Cameron confirma, bufando de raiva. ━━━━ Acredita que ela mandou o John B escolher entre eu e ela?
━━━━ Que ridícula. ━━ Resmunga, apesar de não ter direito de criticar o ciúmes da arquirrival. ━━━━ O que ele disse?
Uma parte de Sinclair esperou que John B houvesse feito a decisão, dito ao mundo que preferia os Pogues acima de qualquer Kook. Contudo, ela sabe que de nada adianta esperançar.
A verdade sempre vem e destrói todos os seus sonhos.
━━━━ Que não iria escolher. Depois soube que ele disse que só tava me usando pelo mapa.
━━━━ Que? Mas e o beijo? Achei que ele gostasse de você. ━━ Isabela tenta não soar animada, sabendo o quão babaca isso seria.
Mas Sarah está ocupada demais consigo mesma para perceber as emoções da amiga no outro lado do telefone. Tudo que consegue pensar é naquele momento, na briga com Kiara e nas palavras de John B. Por tanto tempo, quis pertencer. Um pensamento bobo, mas que a moldou a vida inteira. Ela pertencia em todos os lugares, mas, mesmo assim, sentia como se não tivesse lugar nenhum para estar.
Não queria viver e morrer como a mãe. Não queria ser só mais uma pessoa no planeta. Sarah Cameron quer fazer a diferença, quer ser grande, quer explodir o plástico bolha e jogar longe. Ela é grande demais para ser uma Kook em Outer Banks. Sabe disso.
Mas não são todos que a entendem.
━━━━ Pelo visto não. Nem sei. ━━ Ela dá de ombros, mesmo sabendo que Isabela não a enxerga. ━━━━ Acho que ele falou isso pra convencer a Kiara de que não éramos nada, mas foi uma burrice.
━━━━ Definitivamente. Vai falar com ele?
━━━━ Não sei, mas se ele fazer essa loucura e escolher a Kiara, acabou tudo. O plano, eu e ele, o ouro. Tudo.
Uma parte de Isabela se sentia grata, esperançosa e ansiosa pela possibilidade de voltar ao normal. A outra, entretanto, sentia como se uma faca tivesse a atravessado o peito. Por mais que temesse, estava disposta a enfrentar desafios e ser uma pessoa diferente, e estava mais do que contente em ver os sorrisos no rosto da Cameron.
━━━━ Vai dar tudo certo. ━━ Decide, mesmo que incerta. As palavras parecem ser suficientes para Sarah, que concorda em sussurros cansados. ━━━━ Depois eu te ligo, pode ser? Tive um dia longo.
A amiga rapidamente concorda e elas se despedem. A culpa de não ter revelado os acontecimentos do dia pesam nos ombros da Sinclair, mas sabe que fez a melhor decisão. Eventualmente, Sarah descobriria, com ou sem a ajuda dela, então não faria mal nenhum ficar calada.
Tudo que sabe é que espera que esse ouro acabe logo, seja em sucesso ou derrota, e que seus amigos resolvam seus problemas — mas que isso não custe nenhuma amizade. Não sabe o que seria dela mesma sem Rafe ou Sarah.
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