𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗𝚝𝚎𝚎𝚗
— Eu nem consigo imagina como deve ser mudar de Tokyo pros Estados Unidos — Kisaki falou, com as sobrancelhas levemente erguidas, em surpresa.
— Lá é bem diferente, mesmo — Você deu de ombros, dando um gole no seu milkshake antes de continuar a falar — Mas você se acostuma.
— Sentiu muita falta daqui?
— Mais do meu irmão. Eu já tinha perdido contato com a maior parte dos meus amigos antes de ir.
— E você sai mais com quem agora?
— Os amigos do meu irmão e do meu namorado — A última parte você falou mais baixo, ainda estranhando o modo como se referia a Draken.
— Você namora? — A atuação de surpresa do loiro era tão convincente que nunca fez você sequer pensar em duvidar dele.
— Faz umas duas semanas só — Você respondeu, tentando evitar o sorriso bobo que ameaçava escapar de seus lábios — Mas, sim, eu namoro.
Você e Kisaki já estavam na lanchonete faziam umas duas horas, conversando sobre assuntos aleatórios da vida um do outro. Mesmo só fazendo duas semanas desde que vocês se conheceram, o loiro tinha sido extremamente prestativo com você nas aulas, além de ser muito engraçado e simpático. Pelo menos, era isso o que ele queria que você pensasse.
Com a ajuda da Valhalla, o comandante fez uma pesquisa a fundo sobre você, depois de lhe vigiarem por muito tempo. O loiro sabia exatamente como se aproximar de você e as habilidades dele em mentir facilitavam ainda mais as coisas.
Mas, então, por que você sentia que alguma coisa estava errada?
Você tentou ignorar esse sentimento durante os dias que se passaram, não sabendo de onde ele estava vindo. Mas todos os seus sentidos apitavam para perigo, principalmente quando você estava na universidade. Não conseguia saber ao certo o que era, mas acreditava que seria porque estava sendo vigiada de longe. Nunca se passava pela sua cabeça que o motivo desse alerta era o loiro que estava sentado na sua frente, dividindo uma batata frita grande com você.
— E você? — Sua pergunta fez os olhos azuis por trás do óculos se voltarem na sua direção — Tem namorada?
— Não — A resposta dele só veio depois de uma risada divertida.
— Nem uma pretendente? — Seu tom brincalhão fez com que o sorriso se mantesse no rosto dele, por mais falso que fosse.
— Tem uma garota, mas é muito complicado ainda — As íris azuis não estavam mais focadas em você, e sim na batata em cima da mesa, ainda na metade.
— De qualquer forma, eu 'tô torcendo por você — Você falou, e seu tom reconfortante foi o suficiente para fazer ele levantar o olhar para você de novo.
— Obrigado.
Você deu um sorrisinho satisfeito e voltou a comer as batatas em cima da mesa. O tempo com Kisaki passava que você nem sentia, sempre arrancando várias risadas sinceras de você e falsas dele. De vez em quando, o loiro pensava em tentar falar alguma verdade, mas sabia que você perceberia a diferença entre verdade e mentira saindo da boca dele, por isso, ele sempre fingia.
— Mas, e aí? — Ele perguntou, levantando a mão para chamar a garçonete — Seu namorado sabe que você 'tá aqui?
— Sabe. Eu avisei que ia sair com um amigo — Você esperou ele acabar de pedir outra porção de comida para vocês dividirem, antes de continuar — Ele vem me buscar mais tarde.
— Você vai pra casa dele?
— É, eu tô passando uns dias lá.
— Por que?
— Meus pais não moram comigo — Você mentiu, como uma profissional — Aproveitei a oportunidade pra passar um tempo com ele.
Kisaki acha incrível o jeito como você conseguia mentir sem deixar transparecer a diferença da verdade. Geralmente, quando uma pessoa mente várias vezes, você consegue distinguir quando a fala é falsa. Por isso, ele só fazia mentir, para você achar que a mentira dele era verdade. Mas, você conseguia fazer os dois parecerem o mesmo, e, se não já soubesse de tudo, ele com certeza teria caído em cada uma das suas mentiras.
— E seu irmão? — O loiro continuou a conversa, assim que percebeu que estava entretido tempo demais com os próprios pensamentos — Como é o nome dele mesmo?
— Takemichi, e ele 'tá com a namorada — Essa parte era verdade, mas não teria como Kisaki saber que todos vocês estavam vivendo na mesma casa para fugir da Valhalla, se ele já não soubesse de tudo.
— E como é o nome do seu namo-
Mas, antes que o loiro conseguisse acabar a pergunta, seu celular tocou em cima da mesa, fazendo ele parar de falar na mesma hora. As íris azuis desviaram para o aparelho vibrando, por tempo suficiente para conseguir ler o nome ali escrito.
Ken.
— Eu preciso atender, mas é rápido — Você falou, pegando o aparelho e se levantando do sofá.
— Fica a vontade — Ele respondeu, com um sorriso simpático no rosto.
Enquanto você saia, Kisaki não tirava os olhos de você, analisando cada uma de suas reações. De todas as informações que a Valhalla havia conseguido, a que mais intrigava o comandante era o fato de você e Draken estarem tendo um caso, que agora, aparentemente, tinha virado namoro.
Mesmo com todas as evidências, o loiro ainda não conseguia imaginar como alguém como Draken conseguiu ficar com uma garota como você. Além disso, as informações que ele tinham era de que seu passado lhe fazia querer ter distância de gangues, fazendo ele se perguntar o porquê de você estar namorando um gângster mesmo assim.
— Oi, Ken — Você disse, assim que atendeu a chamada.
— Que demora pra atender, já tava quase indo pra aí — O comentário dele arrancou uma risada divertida sua.
— Deixa de exagero.
— Quer que eu passe aí de que horas?
— Daqui a uns vinte minutos 'tá bom.
— Certo — A voz dele tinha um leve tom de insegurança, mas você já sabia do que se travava, nem tendo tempo de falar sobre, já que ele continuou — 'Tá tudo bem por aí mesmo?
— 'Tá sim, não precisa se preocupar — Ele não respondeu, fazendo você suspirar fundo antes de continuar — Sério, Ken, pode ficar tranquilo. Mesmo que alguma coisa aconteça, eu sei me virar.
— Eu sei que sabe, [Nome] — Foi a vez dele de respirar fundo — Mas você não tem noção de como o comandante da Valhalla é. Se Hanma já deu trabalho, você não quer nem imaginar o que aquele puto pode fazer.
— Tenho certeza de que esse cara 'tá muito longe agora, relaxe.
Mal você sabia que "esse cara" estava sentado na sua frente a segundos atrás, dividindo uma porção de batatas fritas grande, enquanto conversavam como grandes amigos.
— Beleza, então — Finalmente, o tom dele voltou a ficar, relativamente, despreocupado — Te ligo quando tiver chegando.
— Certo. Beijos.
— Beijos, princesa.
Seus olhos se arregalaram levemente ao ouvir como ele havia lhe chamado, mas nem deu tempo de reagir, já que ele desligou a chamada logo em seguida. Você passou alguns segundos encarando o celular em mãos, ainda raciocinando o que tinha acontecido, se sentindo uma adolescente de quinze anos de novo, extremamente feliz porque seu namorado lhe chamou de princesa.
— Caralho — Draken falou, dando um leve tapa na testa, assim que desligou o telefone.
— 'Tá assim por causa da preocupação com ela ou por que acabou de chamar ela de "princesa"? — Baji perguntou, brincalhão, ainda gastando inúmeras notas, tentando pegar um bichinho de pelúcia de dentro da máquina com a garra metálica.
— Os dois, eu acho — O mais alto respondeu, tirando a mão no rosto e encarando o amigo — 'Tá tentando pegar isso por que, mesmo?
— Sei lá — O moreno deu de ombros, indiferente — Deu vontade.
— Você vai gastar seu dinheiro todo aí e não vai conseguir-
— Consegui! — Ele praticamente gritou, fazendo todos perto deles os encararem.
— Porra, qualquer dia desses você ainda me mata de vergonha — O loiro falou mais baixo, se virando para o amigo e continuando a andar pelos corredores do shopping, deixando Baji para trás, que não demorou muito para alcançá-lo de novo.
Os dois tinham vindo para a cidade lhe deixar na faculdade de manhã e aproveitaram para comprar algumas coisas para a casa, como jogos novos para o PlayStation 5 deles. Enquanto esperavam você acabar de sair com Kisaki, os dois acabaram resolvendo passar o tempo no shopping, sem terem nem ideia de com quem você estava se encontrando.
— Como era mesmo o nome do amigo de [Nome]? — Draken perguntou, assim que você tomou conta dos pensamentos dele de novo.
— Não lembro — A indiferença de Baji era notória, mas o loiro ainda estava com uma pulga atrás da orelha.
Talvez fosse apenas paranoia por querer manter você segura o tempo todo, por mais que você já tivesse discutido inúmeras vezes para ele parar com toda essa superproteção. Mas, era inevitável. Se alguma coisa acontecesse com você, Ryuguji nunca se perdoaria. Não só ele, como quase todos os capitães da Touman, incluindo o comandante.
— Liga pros caras pra saber se eles querem que a gente leve alguma coisa pra eles comerem — O moreno falou, tirando Draken dos pensamentos.
O loiro assentiu e pegou o telefone novamente, não demorando quase nada para achar o contato de Mikey e clicar em "ligar". Como de costume, o mais baixo demorou quase que a linha toda para atender, deixando um grunhido irritado escapar dos lábios de Ryuguji.
Em menos de cinco minutos, ele e Baji já estavam na fila da McDonald's, com os pedidos anotados no bloco de notas do celular. A fila demorou mais tempo do que eles imaginavam, então saíram quase que correndo em direção ao estacionamento, assim que pegaram os sacos de comida para viagem.
Com Draken dirigindo o Audi A3 cor petróleo, diversas multas de velocidade acima do limite foram adicionadas na placa dele, que não poderia ligar menos para isso.
— Ei, princesa — Baji falou, em um tom sarcástico, assim que você atendeu o celular. Ele não conseguia lhe ver, mas podia imaginar perfeitamente você revirando os olhos — Já 'tamo chegando.
— Certo. Já 'tô indo pra calçada.
Não precisou de muito para vocês de despedirem e você desligar o aparelho em mãos novamente, levantando o olhar para Kisaki. O loiro tinha as íris azuis focadas em algo no celular, só olhando para você quando percebeu o seu olhar sobre ele.
— Você já tem que ir? — Ele perguntou, guardando o aparelho no bolso.
— Já, mas podemos marcar outro dia, se você quiser — E era exatamente isso que ele queria ouvir.
— Claro, sem problemas — Ele respondeu, se levantando, do mesmo jeito que você — Eu também tenho que ir. A gente se vê próxima semana na aula.
Você assentiu com a cabeça, ainda com um sorriso caloroso no rosto. O loiro se virou de costas e começou a andar em direção ao fundo da lanchonete, fazendo você franzir levemente as sobrancelhas e se perguntar o porquê de ele não ter saído pela porta da frente.
Mesmo assim, você não teve muito tempo para ficar imersa em seus pensamentos, já que, segundos depois, ouviu a buzina do carro de Draken. Olhando pela grande janela do estabelecimento, conseguiu ver Baji acenando para você. Sem perder tempo, você pegou sua bolsa e saiu da lanchonete, sem precisar se preocupar com a conta, que vocês já tinham pagado mais cedo.
— Não sabia que vinte minutos agora era uma hora — Você brincou, assim que entrou no carro, se referindo ao fato de Ryuguji ter dito que te buscaria em vinte minutos, mas acabou demorando uma hora.
— A gente passou na McDonald's pra comprar comida pros meninos — Baji respondeu, depois de revirar os olhos — A gente trouxe um hambúrguer pra você também.
— Hmm... obrigada — Assim que acabou de falar, você abraçou o moreno, com o banco entre vocês, e se inclinou um pouco para o lado para conseguir depositar um beijo na bochecha do loiro — E obrigada por me buscarem também.
— Sem problemas — Foi Keisuke quem respondeu, enquanto roubava algumas batatas, ainda quentes, da sacola.
Draken tinha o olhar fixo na estrada, mesmo que a mente dele estivesse um pouco distraída. Ele queria perguntar sobre o que você fez durante a saída com o amigo da faculdade, mas não queria acabar fazendo perguntas demais e te sufocar. Atualmente, Ken tem ficado bastante no seu pé por medo de a Valhalla aprontar alguma coisa. Por isso, ele resolveu ficar calado.
Como de costume, o caminho até a casa de campo demorou um pouco mais, já que ficava relativamente afastada da cidade. Mas vocês três foram conversando sobre assuntos aleatórios todo o trajeto, enquanto tambem ouviam música. Acabou que vocês nem sentiram o tempo passar e, quando perceberam, já estavam passando pelos portões da mansão.
— Trouxeram a comida? — Mikey perguntou, assim que vocês saíram do carro, na garagem.
— Sim — Baji levantou os pacotes, que foram rapidamente pegos pelos comandante, que disparou para dentro da casa, nem esperando para ouvir o grunhido de raiva do moreno — Eu vou lá no quarto, já já eu desço de novo.
Sem esperar uma resposta, ele subiu a escadaria, entrando no corredor do andar de cima logo em seguida. Você e Ken se entreolharam por um segundo, mas deram de ombros e andaram até a sala de estar, onde encontraram com o resto do pessoal.
— Finalmente vocês chegaram — Kazutora foi o primeiro a falar, completamente jogado no sofá — 'Tava morrendo de fome.
— Tem comida na cozinha — O loiro ao seu lado respondeu, se sentando em uma das poltronas e puxando você para se sentar no colo dele, como sempre faziam.
— Mas tinha que preparar — O homem com a tatuagem no pescoço reclamou, manhoso, enquanto pegava um hambúrguer com Mitsuya e agradecia a ele.
— Cadê o Chifuyu? — O platinado perguntou, olhando para os lados.
— Chifuyu 'tá aqui? — Você perguntou, recebendo um aceno de cabeça em resposta — E o meu irmão?
— Saiu com Hina e com Emma.
— Minha irmã não cansa de ser vela, não? — Mikey perguntou, arrancando uma gargalhada por parta de todos vocês.
Fazia um tempo já que você não falava tanto com o seu irmão. Certo que a faculdade estava ocupando bastante do seu tempo, mas, até nas horas vagas, você estava passando mais tempo com os amigos dele do que com ele, e você odiava essa situação.
Você tentou tirar esses pensamentos da cabeça, focando em aproveitar o tempo livre que tinha, antes de ter que começar a estudar para as primeiras provas.
— Eu vou lá ver onde o Baji tá — Draken falou, dando uns tapinhas de leve na lateral de sua coxa, em um sinal para você se levantar. Assim que ficou de pé, o loiro também se levantou e lhe deu um selinho rápido — Eu já volto.
— Eu vou com você — Mitsuya disse, também se levantando — Vou procurar o Chifuyu.
— Peguem meu celular lá no meu quarto — Foi a vez de Mikey falar, ainda comendo o terceiro hambúrguer da noite.
— Pega você — Draken respondeu, ignorando o pedido do comandante e já subindo as escadas.
O comandante suspirou fundo e se levantou, com muito esforço, se apressando para alcançar os outros dois, que já estavam entrando no corredor do andar de cima. Acabaram só sobrando você e Kazutora, que não tiveram nenhuma dificuldade em começar uma conversa descontraída.
Você achava o garoto de cabelos negros meio maluquinho, mas isso era uma das coisas que você mais gostava dele, além de você se sentir estranhamente confortável ao lado dele e sempre lhe render as risadas mais sinceras.
— Você já foi da Valhalla? — Seu tom de surpresa era inevitável, ao mesmo tempo em que sua você abria, fazendo um "O" perfeito.
— Já — Ele respondeu, rindo da sua reação — Foi em uma época que eu briguei com os meninos, mas nos resolvemos depois e eu voltei pra Touman.
— Ainda bem que deu tudo certo.
— Pois é — Kazutora desviou o olhar, quase como se estivesse com vergonha — Eu tava passando por uns problemas na época, mas eles me ajudaram a enxergar algumas coisas.
Um sorriso involuntário e exatamente feliz tomou conta de seus lábios. Realmente, a amizade eles era muito linda e você não podia agradecer mais por seu irmão ter amigos tão maravilhoso quanto esses.
Sua boca se abriu levemente para responder, até que um grito vindo do andar de cima lhe interrompeu.
— Mas que porra!?
Você e Kazutora se entreolharam por apenas um segundo, antes de se levantaram de onde estavam e subirem as escadas correndo, o mais rápido que conseguiam. Assim que entraram no corredor, conseguiram ver os três parados, estatelados, olhando para dentro de um dos quartos.
As ideias de que a Valhalla pudesse ter feito alguma coisa já consumiam a sua mente, só até você chegar perto o suficiente para conseguir olhar no quarto. Mas, sinceramente, preferia que a outra gangue tivesse feito alguma coisa.
Dentro do quarto, Chifuyu estava sem camisa, deitado na cama, com Baji por cima dele, também sem camisa. A parte inferior do corpo dos dois estava coberta pelos lençóis, mas ninguém ali era criança o suficiente para não entender o que estava acontecendo.
O olhar de Keisuke exalava medo e desespero. Por tanto tempo, ele teve receio da reação dos amigos se ele assumisse que era gay, que nunca nem imaginou o quão pior seria se eles descobrissem sem ele nem tentar contar.
— Ai caralho — Você sussurrou, completamente apreensiva com o que os outros iriam falar.
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