𝒇𝒐𝒖𝒓
"And when I felt like I was an old cardigan
under someone's bed, you put me on and said I was your favorite"
Cardigan - Taylor Swift
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Eu definitivamente não era uma pessoa sortuda.
A noite que deveria ter sido agradável foi um show de clima tenso entre Chris, Gwen e minha irmã, mesmo que os três se recusassem a admitir ou fingiam que nada estava acontecendo, uma das garçonetes tropeçou no pé de Matthew e acabou me banhando de suco de laranja, até agora conseguia sentir seu aroma em mim, fora a mancha enorme que ficou na minha blusa, e ele mal olhou na minha cara desde então. No jogo eu e Ceci só não perdemos de lavada porque Nick era muito ruim e sua dupla Matt não estava dando conta de levá-los sozinho mesmo sendo um ótimo jogador, pelo menos eu e minha irmã éramos medianas que pontuavam e por fim, a discussão sem fim na volta que provavelmente me renderá uma dor de cabeça enorme mais tarde porque um dos Sturniolo se negava a perder e Chris não demonstrava nem um pingo de humildade depois de acabar com a gente, ele e Gwen faziam tantos strikes que senti uma leve vontade de bater na cabeça deles com um pino sem perder a amizade.
— Eu exijo um VAR! — Nick gritou, apontando com o indicador. — Você e sua amiguinha roubaram no jogo!
— Para começar, ela é sua melhor amiga — Chris riu, olhando seu irmão ao meu lado por cima do ombro. — E vocês são péssimos no boliche, lidem com isso. Se eu ganhei, foi porque eu mereci.
Cecilia, na outra janela, observava a cena com os lábios comprimidos e me deixou a dúvida se ela queria apenas rir ou gritar para calarem a boca por cinco minutos. Eu queria questioná-la ali mesmo sobre o que diabos estava acontecendo, desde que ela foi para a faculdade alguma coisa tinha mudado e ninguém se deu o trabalho de me contar, talvez Nick também não soubesse, mas já estava ficando sem paciência para esperar sua boa vontade de me contar. Nunca tive segredos com Cecilia e não esperava que fossemos ter a essa altura da minha adolescência e início da sua fase adulta onde já compartilhamos informações até demais.
Escutei Matt suspirar de leve em meio aos gritos de Nick e Chris, ligando a seta para esquerda antes de entrar no posto de gasolina sem proferir uma palavra sequer.
— Por que estamos parando? — Ceci diz pela primeira vez.
— Preciso abastecer — Matt responde como se fosse óbvio, arqueando a sobrancelha. — Aproveitem para passar na conveniência e comprar alguns doces pra mastigarem o resto do caminho, porque eu não aguento mais ouvir vocês brigar.
— Uhh, Mattitude — Christopher zombou, mas seu irmão saiu do carro sem responder. — Eu honestamente vou seguir o conselho do meu garoto Matt e ir comprar alguma coisa pra tomar.
— Você acabou de comer!
— Quando você morrer eu vou jogar latinhas de pepsi no seu túmulo — digo com um riso breve, Chris para no meio da porta e se vira para mim com o maior sorriso que eu já vi naquele rosto.
— Puxa, Wen, você nunca me disse algo tão bonito e olha que a gente se conhece há milênios, Tinker Bell — ele colocou a mão no peito, forçando emoção e secou algumas lágrimas falsas.
Antes que eu pudesse refutar, ele saiu correndo do carro e fechou a porta para nem mesmo ouvir meu protesto do quanto odiava aquele apelido. Ao contrário de Nick, eu e Chris nem sempre fomos exatamente amigos porque ele era uma criança atentada demais e vivia gritando comigo do outro lado da cerca o quanto eu era "maluca" por ficar alimentando bicho do jardim, lembro-me de que isso começou quando meu pai me chamou para ajudar a construir casas de passarinho e até mesmo montar fontes para eles tomarem banho, Chris inspecionou pela janela cada segundo como um falcão. Nos outros dias ele também estava lá como um pequeno e silencioso maníaco apenas observando o jeito que eu dava frutinhas para os esquilos, brincava com as minhocas ou rolava no chão com o Baloo, nosso cachorro. E nossa primeira interação oficial foi quando estava brincando com Nick no seu jardim e Christopher veio correndo em nossa direção com minhocas na mão fazendo Nick correr gritando, ele sempre me via brincando com as minhocas e mesmo assim ficou surpreso quando as tomei de sua mão e coloquei dentro da sua jaqueta. Lembro de como ele ficou enfurecido por segundos antes da sua risada escandalosa soar junto da minha.
Desde então ele usava apelidos idiotas para se referir à mim com todo seu carinho, coisas como "Branca de Neve" me perseguiu por anos até Cecilia dizer que ele havia se tornado um dos meus anões por ser mais alta na época.
— Eu também vou pegar algumas coisas, Cecilia você vem comigo?
Quando minha irmã abriu a boca para me responder, o ronco da moto de Gwen soou aproximando do carro, em segundos a feição de Ceci se fechou e ela apenas negou com a cabeça. Reviro os olhos disfarçadamente e saio do carro no mesmo instante que Matt está voltando para abastecer, eu o encaro por alguns segundos antes dele levantar o olhar e desvio como uma tonta para qualquer outra coisa, que acabou por ser Gwendolyn. Ela retirou o capacete e balançou levemente os cabelos negros para soltá-los.
— Agora você até me fez duvidar da minha sexualidade — comento arrancando uma risada dela. — Vamos lá dentro, quero comprar uns salgadinhos para assistir filme mais tarde.
— Eu sei que sou muito gostosa, Archilla — a Rys deu os ombros, ela colocou o capacete em cima do banco da moto e me estendeu a mão e não hesitei em segurá-la.
Nós entramos juntas na loja de conveniência e Chris já estava passando sua compra de inúmeros pacotes de salgadinho todos do mesmo sabor, ele sorriu quando avistou Gwen e levantou uma mão para um high five.
— E ai, vencedora, o que faz na companhia dessa plebeia do segundo lugar?
— Ela vai me comprar algumas barras de Milka para compensar esses anos de amizade.
— Nem emprego eu tenho! Pede pro youtuber...
— Chr- filho da puta! — antes que Gwen pudesse terminar de chamar pelo Sturniolo, o garoto abraçou seus pacotes de salgadinho e correu pela porta sem nem olhar para trás.
Dou risada da expressão indignada da minha amiga e começo a procurar o que eu queria, apesar de ter enchido a barriga com um hamburguer enorme no boliche tinha total intenção de maratonar todos os filmes de Crepúsculo com minha irmã mais tarde e provavelmente sentiria fome então juntei no cestinho alguns pacotes de batatinhas sabor cebola e salsa, cookies, chocolates e balinhas de caramelo. O tempo todo eu pegava as coisas na velocidade de uma tartaruga esperando que Gwen enfim abrisse a boca sem que eu precisasse iniciar o assunto, ela me acompanhava com passos inquietos e a vi mordiscar a boca pelo menos três vezes antes de perder a paciência.
— Você não me parece nada a garota confiante com quem estudei a vida inteira, então é melhor abrir o bico, Gwendolyn Rys — murmuro com a voz suave, soando bem menos ameaçadora do que gostaria.
— Eu não sei do que você tá falando...
— Vamos começar pelo fato de que agora você e o Chris se tornaram super amigos, com piadinhas internas e tudo, está agindo estranho com a Cecilia antes mesmo dela voltar de New York e agora está do meu lado toda nervosa como se a gente fosse se beijar pela primeira vez — listo no dedo. — Então aproveita que eles parecem distraídos e vai contando enquanto passamos no caixa.
Olho pela porta apenas para ter a visão de Matt para fora do carro puxando Nick do banco de trás pela touca do moletom enquanto Christopher e Cecilia gritavam algo pelas janelas.
— Chris e eu sempre fomos amigos, Wen, mas confesso que nos aproximamos mais depois que a Cecilia se formou e ele tem me apoiado bastante com a banda que fez a proposta.
Gwen tocava guitarra desde que a conhecia porque sonhava em seguir os passos do pai, ela era muito talentosa para a idade que tinha e um potencial gigante, mas sua mãe vinha pegando no seu pé para ela deixar essa "ideia estúpida de lado e fazer uma faculdade de verdade" com nosso último ano da escola chegando. Há algumas semanas ela recebeu uma proposta de uma banda de garotas e ficamos felizes demais com a notícia, mas o contra é que ela se mudaria para Califórnia para terem mais chances e até mesmo poderia entrar em tour quando desse tudo certo
— Ugh, você ainda está cheirando a laranja — ela reclama torcendo o nariz.
— Não desconverse.
— Talvez a minha amizade com sua irmã deu o que tinha que dar — Gwen explica de forma sucinta. — Em alguns dias ela volta pra faculdade de qualquer forma.
Decido ficar em silêncio enquanto guardo as compras nas sacolas plásticas, era estranho pensar que meses atrás eu, Gwen, Ceci e Nick não vivíamos sem o outro e agora as duas não pareciam suportar respirar do mesmo ar sem se olharem feio, mas não queria ser tão invasiva para matar minha preocupação e curiosidade, apenas deixo no ar que estou disposta a ouvi-la sempre que precisar.
— E você e o Matt, ein? — ela pergunta levantando uma das sobrancelhas. — Já que ele não tem culhões, você pode bem arrumar e chamá-lo pra sair...
— Cala a boca — resmungo sentindo minhas bochechas esquentarem e Gwen apenas gargalha alto.
— Vem, vamos colocar essas coisas no porta-malas.
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matthew's point of view
— E quando você vai chamar ela pra sair?
É a primeira coisa que Nick pergunta quando entro novamente no carro para esperar Wendy e Chris, engasgo com a saliva por alguns segundos arregalando os olhos para meu irmão no banco de trás, alternando o olhar afobado entre ele e Cecilia, que ria da minha cara.
— Por favor, Matty B, todos nós sabemos que você quer beijar a minha irmã há anos, não precisa fingir — ela diz como se fosse nada, estampando um sorriso enorme. Sinto minhas bochechas, pescoço e orelhas esquentando de vergonha.
As palavras me escapam, sinto apenas uma vontade gigantesca de mandar Nick se foder pela saia justa que me colocou na frente da cunhada que eu queria ter, mas apenas nego com a cabeça tentando contornar a siuação.
— Eu não sei do que você está falando, Nick — enfatizo o nome com um olhar de "calado, pelo amor de Deus" que apenas o faz rir mais. — Por que eles tão demorando tanto, ein?
Escuto Nick e Cecilia sussurrarem algo um para o outro, mas nem me dou o trabalho de prestar atenção ou me incomodar com suas risadinhas. Olho pela janela e vejo Chris, Gwen e Wendy conversando por alguns segundos, eu não gostava do sentimento que me acometia sempre que via os dois juntos, mesmo que estivéssemos suspeitando de um "romance" entre ele e a Rys, talvez era porque meu irmão fosse mais confiante e a fazia rir com facilidade enquanto eu sempre pareci um idiota perto dela. Wendy deve me achar esquisito até demais.
— Próxima semana eu vou ter um compromisso, você vai me levar né, Matt? — Nick diz me tirando dos devaneios um pouco perigosos.
— Nem fodendo — respondo sem pensar.
— Qual é, Matt! Eu estou sem dinheiro pra Uber.
— Pede pras suas amigas, cara! A Gwen não vai?
— Vai, mas eu não quero andar de moto! Você já viu aquela maníaca pilotando?! Ela acha que a vida é um grande Velozes e Furiosos — ele reclamava sem respirar. — Você quer mesmo me deixar ir com a Gwendolyn?
— Se isso significa que eu vou ficar em casa, sim!
— Desalmado!
Somos interrompidos pela porta do carro abrindo e Chris se joga no banco do passageiro.
— Sua passanger princess está de volta, já pode parar de chorar.
— A princesa dele está lá dentro ainda, não se iluda, Christopher.
— Cala a boca, Nick — suspiro frustrado e meio envergonhado, apertando o volante do carro entre os dedos. Percebendo meu ato, Chris coloca a mão sobre a minha por um instante e ao levantar o olhar percebo Cecilia me observando pelo retrovisor. Ótimo, porque eu já não tinha passado vergonha suficiente essa noite.
Desde que a moça tropeçou no meu pé e fez Wendy se banhar em suco de laranja eu não conseguia nem fitar seus olhos azul céu por dois segundos. Não consigo contar nos dedos quantas vezes pedi desculpas mesmo ela sorrindo e dizendo que estava tudo bem, ela até mesmo afagou meu braço de leve para me tranquilizar, mal ela sabe que o simples ato quase me fez derreter e confessar tudo ali mesmo.
— Por que você não ensina o Nick a dirigir? — Cecilia sugere, se fazendo presente na discussão pela primeira vez.
— Tá maluca?!
— Ele não consegue nem mesmo colocar o carro naquela vaga sem causar um estrago — digo apontando para o local marcado.
— EI! Claro que consigo, não tem nenhum carro ali! Não tem nenhum outro carro aqui a não ser o nosso — ele se ofende, colocando a mão sobre o peito dramaticamente.
— Nick não inventa — Chris pede, mas o sorriso que brilhava em seu rosto era provocativo suficiente para deixar Nick incomodado. — Você sabe que não consegue!
— Ensina ele, Matt — a Archilla diz rindo.
— Me deixa colocar o carro ali, Matt!
— Você vai estragar a minivan, Nicolas!
— Me deixa colocar o carro ali ou eu conto pra Wendy que você quer ter filhinhos com ela, Matthew — disse no mesmo tom de repreensão que eu usei há pouco.
— TÁ LEGAL!
Sem mais paciência para seguir essa discussão, saio do banco e arranco meu irmão do banco de trás pela touca do seu moletom, Nick protestava aos gritos que eu estava o tratando como no GTA, mas não dei a mínima, empurro ele pela porta e ainda consigo ouvir o "toc" que sua cabeça faz no teto do carro.
— Chris, pro banco de trás — mando, ele obedece prontamente, por algum milagre divino.
No banco do passageiro, consigo guia-lo sobre como fazer e talvez puxar o volante para impedir que algum acidente muito pior aconteça. Rapidamente vou mostrando no que ele deveria prestar mais atenção: acelerador, embreagem, câmbio etc. Honestamente se ele ou Chris aprendessem a dirigir me dariam um enorme alívio, muitas vezes eu não reclamava de verdade sobre levá-los por aí e quando percebiam que eu estava de saco cheio pediam carona ou um Uber, mas ter um deles dirigindo no meu lugar de vez em quando seria ótimo, não seria o único a esperar a moleza de Nick para arrastar a bunda pra fora do carro.
— Agora vai soltando a embreagem devagar e pisando devagar no acelerador.
Tinha tudo pra dar certo, absolutamente qualquer coisa, mas me passou despercebido quando Nick mexeu no câmbio e ao invés do carro ir pra frente, ele deu ré. O grito foi coletivo quando fomos para trás de repente, mas mais ainda quando o barulho de algo sendo atingido chegou aos nossos ouvidos.
— WENDY! — a voz de Gwen gritou.
Não perco mais um segundo dentro do carro e corro para a garota loira no chão atrás da minivan, sua face estava contorcida em dor e os olhos azuis brilhavam, segurando as lágrimas. Fico em pé na sua frente sem saber o que fazer, como ajudar. É claro que eu ajudei a atropelar a garota que gosto, tinha que ser.
— Wendy, você está bem? O que está doendo? — Cecilia me empurrou de leve para o lado, vendo que eu não conseguia reagir. — O que está doendo?!
— Acho que quebrou meu pé — ela murmurou entredentes, seu rosto já adquiria a tonalidade vermelha de dor. Era possível ver seu esforço para não chorar e tenho que admitir que eu queria chorar junto. — Puta merda, acho que quebrou meu pé! A roda passou em cima!
— Coloca ela no carro, vamos pro hospital — Cecilia diz exasperada, segurando sua irmã por um dos ombros enquanto Nick ajudava a ergue-la do outro lado. — Matt, vamos!
Escutei ela me chamar, mas não conseguia fazer nada, estava apenas parado sem conseguir, como um completo idiota. Minha respiração foi aos poucos se tornando ofegante ao mesmo tempo que tudo pareceu parar ao meu redor, pude notar Cecilia falar mais alguma coisa antes colocar Wendy no banco de trás do carro, mas ao invés de entrar ela deu a volta e assumiu o banco do motorista. As mãos de Chris e Gwen me despertaram levemente do estado catatônico me ajudando a entrar no banco de trás, bem ao lado da pessoa que eu havia machucado. Nick estava dirigindo, mas eu era o responsável, era minha culpa.
Ela não pareceu com raiva ao me olhar, só que tudo o que seus olhos transmitiam naquele momento era dor. E se depois Wendy nunca mais quisesse me olhar na cara? E se nunca mais ela deixasse a janela aberta?
— Matt, respira — ouvi Nick murmurar antes de fechar a porta.
Wendy e eu fomos completamente calados o caminho todo até o hospital.
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author's notes
Primeiramente, gostaria de me desculpar pela demora, mas estive em época de prova e foi impossível pra mim escrever nesse período (pra ser bem honesta eu ainda tenho uma sub pra fazer e nem deveria estar aqui agora.......), mas eu estava doida pra voltar e poder publicar esse capítulo.
Segundo: eu vou confessar aqui uma vergonha, assim como meus ídolos queridos admirações da minha vida Nick e Chris Sturniolo eu não sei dirigir!! Tentei "aprender" o básico para escrever esse capítulo, mas se tiver algo errado me perdoem, eu sou apenas uma adolescente de 22 anos que nunca tirou carta.
Por fim, me digam o que acharam. Eu vou amar conversar com vocês! ❤️
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