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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟒𝟐

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BIRMINGHAM

O lugar barulhento não incomodava. Aliás, era melhor ouvir o barulho de lutas do que tiros. Amara começava a entender o real motivo de tantos socos e sons guturais emitidos pelos homens ao desferir golpes em grandes sacos de pancadas. Não havia jeito melhor de dissipar a raiva acumulada senão daquela forma. Ela gostaria de fazer o mesmo, principalmente em trocar os saltos por sapatos confortáveis, vestidos por shorts e regata, e nas mãos, usar luvas para proteger os dedos. Contudo, não tinha tempo para aquilo, ela deveria focar em outra forma de esvaziar a raiva que sentia. O assobio coletivo só a fez se lembrar que estava em um ambiente dominado por homens, e o odor pungente de suor também deixava isso claro. Thomas lançou um olhar furioso para os demais, enquanto dava passos largos até a esposa. O cigano se perguntava o que diabos ela estava fazendo ali ao invés de estar protegida em casa.

— O que estão olhando? — O Shelby rugiu. Sua voz ecoou facilmente pela academia, fazendo com que os outros homens desviassem o olhar da bela mulher. — O que faz aqui? — Perguntou já próximo dela. Amara revirou os olhos.

Se Thomas Shelby pensava que a manteria presa em casa, estava enganado. Ao sair na porta, foi escoltada por cinco homens, todos bem armados, assim como ela, que carregava uma pequena arma bem presa no coldre na coxa. O dia prometia ser cheio de confrontos, além é claro, daqueles que já travavam com Mancini. Amara não era a mulher que ficava em casa esperando que o marido resolvesse tudo. Ela ia à guerra, estando grávida ou não.

— Passei no seu escritório, Lizzie disse que você havia vindo para cá. — Amara passou pelo marido. Encarou todo o ambiente antes de virar o rosto para ele. — Antes de ir ao encontro de Jessie, eu pensei em ver como ia seu novo negócio.

— Aqui não é um lugar adequado para mulheres. — Thomas disse logo atrás. Parou quando Amara lhe lançou um olhar afiado.

— Qualquer lugar que eu estiver é adequado para mim. — Falou. Thomas bufou, mas por fim sorriu levemente com a audácia familiar da esposa, assim como sentiu uma estranha atração.

— Ora se não é a Sra. Shelby! — Uma voz vinda de longe chamou atenção de Amara. Era um homem de meia-idade, usando um casaco pesado e chapéu por cima dos cabelos longos e grisalhos. — É um prazer finalmente conhecê-la. — Estendeu a mão para ela. Amara apertou, tentando se lembrar do rosto.

— Amara, esse é Aberama Gold. Para todos os efeitos, meu novo sócio. — Thomas disse sem muita emoção nas palavras.

— Ah! Claro, Senhor Gold. — Recordou-se. Sabia que ele seria o responsável por tirar Michael e Krishna da cidade e mantê-los seguros em algum vilarejo cigano. Com o passar do tempo, Aberama se envolvia cada vez mais com os Shelby. — Então, onde está seu garoto de ouro? — Amara ergueu uma sobrancelha. Aberama a chamou com um aceno. Estava animado.

Um jovem não muito mais velho que Finn lutava sobre um ringue. Amara o estudou minuciosamente. Era um garoto bonito e com uma fúria implacável. Gostava de se exibir com seus golpes. E por ser mais jovem que os outros homens, fazia isso para deixar nítido suas pretensões na luta.

— Ele é o meu filho. — Aberama disse orgulhoso. — Aposto que levará o título do campeonato que vai acontecer em alguns dias.

— Se ele continuar assim, é fácil levar o concorrente à morte. — Ela comentou. O garoto batia com força. Amara pode jurar ouvir alguns dentes quebrarem na boca do outro oponente. Thomas pigarreou.

— É, ele tem uma cabeça dura e soco forte. — Aberama falou.

— O importante é deixá-lo preparado para o primeiro desafio. — Thomas levou as mãos para o bolso.

— O que preparou para meu filho? — Aberama quis saber. Amara também mostrou interesse, não podia negar que gostava das emoções das lutas.

— Tem um lutador vindo para a cidade, se chama Golias. — Disse o Shelby.

— Seja quem for, meu garoto irá dar conta. — Sr. Gold falou. Amara sorriu de lado.

— É o que eu espero. — Thomas falou. Acenou para a esposa logo depois.

Amara seguiu Thomas, abrindo caminho facilmente pelos homens suados. Antes que pudesse chegar à porta, teve o pulso segurado pelo marido e os lábios tomados por um beijo quase selvagem. Aquilo a pegou de surpresa, mas ao sentir o volume da ereção tocar a barriga, entendeu o motivo das chamas acesa nos olhos do marido.

— Aqui não, santo Deus... Thomas. — Ela tentou se afastar. Embora um lado da sua consciência dissesse o contrário, aquele lugar não era apropriado para uma rapidinha.

— Tem um armário de vassouras logo ali, e você e eu ainda temos alguns minutos antes de ir enfrentar os leões. — Ele a puxou pela cintura, beijando a pele macia do pescoço. Amara soltou um leve ruído, nem estavam tão longe do pátio principal.

— Nada de armários de vassouras. — Falou ela. Thomas suspirou, decepcionado. — Será que pode me dizer de onde tirou esse outro lutador?

Thomas desviou o olhar para o lado, em silêncio.

— Alfie Solomons. — Disse ele, finalmente. O nome causou uma leve tontura na mulher.

Não era surpresa ver Thomas ainda fazendo negócios com Alfie. O judeu havia deixado de ser um problema para se tornar uma espécie de solução, e se mostrava bem eficiente quando queria. Amara nunca tivera problemas com Solomons em seu Hipódromo, mas não poderia dizer o mesmo nos outros esquemas com o marido, aqueles que ela preferia não se intrometer.

— Também quero apresentá-lo ao meu gin, sei que ele gosta de investir em bebidas. — Falou Thomas.

— Só... Tenha cuidado com seus novos negócios. — Ela o puxou para mais perto. Thomas acenou lentamente, puxando o queixo pequeno dela para cima.

— Eu estou sendo mais cauteloso. — Ele sorriu rapidamente. — E sobre o armário de vassouras, podemos terminar isso em casa mais tarde, na nossa cama. — Afastou uma mecha de cabelo escuro, enquanto seus olhos ainda pairavam sobre os belos lábios rosados da esposa.

— Compromisso marcado, Sr. Shelby. — Amara o provocou com um beijo. Antes de sair em direção ao carro, olhou para trás apenas para ter certeza de que havia deixado o marido ainda mais desejoso do que antes. — Espero que não se atrase, e me traga sorvete de frutas vermelhas, estou desejando isso desde que acordei.

— É claro, Sra. Shelby. — Thomas respondeu firmemente, deixando que o riso deslizasse para o lado de maneira sedutora. Aquele conjunto fazia com que Amara se sentisse molhada e ansiosa para que a noite chegasse mais depressa.

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LONDRES

Vermelho era a cor favorita de Amara, e isso não era mais segredo para ninguém. Essa era uma das poucas cores que ela jamais abusaria de usar, e sabia que o tom de sangue ou bordo estava presente em tudo à sua volta. A definição da cor ia da arte da sedução e paixão, para fúria e poder. No ambiente em que agora se encontrava, sabia que o vermelho tinha uma simbologia maior e marcaria a década com suas vastas revoluções através de um forte movimento. O comunismo apossara-se da cor como um símbolo de força e sangue da martirização da classe operária, e mostrava isso na bandeira, onde um martelo e foice contrastavam em um vermelho escarlate.

Amara permaneceu quieta no fim do imenso salão, esperando que Eden desse seus últimos gritos da revolução. Jessie queimava fervorosamente ao calor dos ouvintes, fazendo com que a Shelby também se sentisse parte daquilo, mesmo quando sua realidade já fosse bem distante daquela. Quando uma salva de palmas encheu o salão, Amara ergueu o rosto e encontrou os olhos de Eden no alto do palco, e acenou para que a mulher viesse ao seu encontro.

— Ela faz me lembrar de quando era eu que participava desses encontros. — A voz de Ada chamou atenção de Amara. — Ela fala bem, sem falar que tem uma presença marcante. Acho que gosto dela.

— O que faz aqui? — Amara encarou a cunhada. Ada sorriu de lado.

— Thomas disse que você estava vindo ao encontro de Eden e que seria bom eu estar junto. Meu irmão acredita que duas Shelby fazem mais tempestades em um copo d'água. — Explicou.

— Thomas tem medo da influência de Jessie. — Amara se aproximou da Ada. — Eu também teria.

— Somos Shelby, não deveríamos ter medo de nada. — Ada balançou o ombro, orgulhosa.

— Olhe em volta. — Amara apontou com o queixo. — De qualquer forma somos inimigos desse povo.

— Não por muito tempo. — Ada respondeu.

Eden desceu do palco, caminhando em direção às duas Shelby em seus trajes caros que pagariam bons salários à classe operária.

— Amara, pensei que eu iria ao seu encontro no jornal e não você que viria até mim. — Jessie falou. — Aliás, sinto muito pelo ocorrido de ontem.

— Ontem já é passado, Jess. Suponho que podemos ir para um lugar mais reservado, sim? — Amara perguntou, evitando entrar em detalhes sobre o ocorrido.

— Aqui perto tem um pub... — Comentou Ada.

— Nenhum bar da região permite mulheres desacompanhadas. — Eden desviou o olhar para Ada, que sorriu calorosamente. — Eu acho que te conheço.

— Ada Thorne ou Shelby, sou a irmã mais nova de Thomas Shelby. Trabalho na empresa de Boston. — Apresentou-se. Ergueu a mão, apertando firmemente a mão de Jessie. — E não se preocupe com os bares, ninguém nos impedirá de entrar onde quisermos.

Os olhos azuis carregavam a arrogância da família. Jessie mentiria se dissesse que não se sentia tentada por eles. Com um aceno, ela saiu com as Shelby, acreditando que o sobrenome era forte o suficiente para abrir qualquer porta que ousasse se fechar. Minutos depois, entravam em um pub. Era cedo, mas já se encontrava cheio de homens com seus cigarros fedorentos e olhares questionadores. Amara torceu a boca, procurando uma mesa afastada da fumaça que se formava ao redor, assim como tentava não se incomodar com os olhares feios que queimava sobre a pele.

— Duas doses de uísque e uma água com limão. — Ada falou alto o suficiente para que as pessoas ao redor se virassem para ela. — O que estão olhando? — Questionou ela. Amara prendeu a respiração, enquanto Jessie se mantinha admirada. Ada encarou o barman. — Eu falei grego? Não demore com as bebidas.

— Desculpe, moças, nós não... — O barman se aproximou. Ada esperou uma conclusão.

— Não o quê? — Ela ergueu uma sobrancelha. O homem puxou um leve sorriso amarelo, recordando-se dos rostos das Shelby.

— Eu sinto muito, irei servi-las em um instante.

— Foi o que pensei. — Ada cerrou os cílios, antes de sentar-se ao lado de Amara. Jessie sentou-se do outro lado da mesa, sorrindo com a situação que presenciara.

— Essa é a sua forma de alcançar igualdade? — Jessie perguntou diretamente a Ada. Ela não estava admirada, mas achou a situação cômica.

— Existem meios mais fáceis, mas eu não costumo ter tanta paciência. — Ada falou. Retirou o casaco pesado, colocando na cadeira ao lado.

— Espero que essa reunião não seja apenas para ver as duas se gabando pelo poder que carregam no sobrenome. — Eden desviou o olhar para Amara. — Nem você ou seu marido não são capazes de me comprar. — Voltou a atenção para Ada. — Ou me impressionar com seu poder de dar medo nos outros com sua arrogância.

Amara passou a língua entre os lábios ressecados. Três copos foram deixados sobre a mesa pelo barman que evitou fazer contato visual. Amie alcançou a água, bebendo quase tudo de uma vez.

— Não estamos aqui para impressionar ninguém ou muito menos comprar você. — Amara voltou a falar.

— Mas eu estou impressionada com seu poder de falar tão bem em público. — Ada foi sincera. — Eu já participei de reuniões assim com meu falecido marido, mas nunca fui capaz de discursar em frente a tantas pessoas. Já deve ter ouvido falar nele, Freddie Thorne.

— É claro. É lamentável ver que um membro assíduo da causa se foi tão cedo. — Jessie disse.

— A companhia Shelby tem feito sua parte em manter a igualdade, e salários iguais para todos os trabalhadores. — Amara foi direto ao assunto. — Achei que tínhamos um acordo, mas ainda vejo seu pessoal nos atacando.

— Um acordo? — Jessie franziu o cenho. — Você me disse uma coisa, mas não sei até quando isso durará.

— Meu irmão é um homem de palavra! — Ada respondeu entredentes. O atrito entre ela e Jessie era palpável para Amara, tornando quase insuportável ter uma conversa civilizada sem que as duas trocassem farpas. — Eu cuido dos negócios em Boston e garanto que lá, ninguém receberá menos que ninguém. Contudo, seu sindicato continua pisando em nosso calo...

— O que ela quer dizer é que você não cumpre com sua parte. — Amara interrompeu a cunhada. Ada puxou o copo de uísque, bebendo o líquido com força. Jessie sorriu de lado.

— Ainda não entendi a troco de que estão fazendo isso. — Eden ergueu o olhar para as mulheres. — Estamos em tempo de crise, pagar salários mais altos que dizer que saíra mais do bolso de Thomas Shelby e sei das inúmeras fábricas que ele possui.

— Estamos fazendo isso a troco de uma coisa bastante comum, Jess. — Amara brincou com o copo. — Direitos iguais para todos.

— Thomas Shelby só pensa no bolso dele. — Eden deu de ombros. Então recordou-se de algo. — É claro, você disse que ele queria se tornar um parlamentar. Um homem do povo. — Sorriu com a ideia. — Ele vai mover multidões sendo visto como aquele que se importa com os pobres. Vai ganhar mais influência do que já tem. Uma mentira deslavada.

— Assim como qualquer outro político. — Amara ergueu uma sobrancelha. Jessie respirou fundo. — Minha obrigação e proposta é válida por um tempo indeterminável. Ada também garantirá que nada disso mudará em Boston. As empresas Shelby vão fornecer salários para que seus empregados tenham uma vida mais digna. E isso não é uma mentira, é um dever nosso com a classe operária.

— Talvez devesse ser você que optasse caminhar pelo meio político, e não seu marido. — Eden disse, sincera. Amara sorriu. Poderia ser, mas a Shelby sabia que era estresse demais para ela. Tinha consciência de todo o desconforto que causava fora da política, dentro então, poderia criar mais inimigos. Definitivamente não era uma boa ideia.

— Devemos entrar em um acordo, Jessie. — Amara estreitou o olhar. — Vamos apoiar você, sua causa. As coisas precisam mudar e a empresa Shelby e meu jornal estão prontos para esse marco. O que acha?

— O seu marido acredita nisso? — Eden quis saber. Arrumou a postura ligeiramente interessada na proposta.

— Thomas é um apostador, ele acredita em muitas coisas, inclusive, mudanças. Eu falo por nós dois, e um pouco mais por mim. — Amara se inclinou para ela, erguendo a mão direita. — Jess, somos mulheres e se não apertamos as mãos e ficarmos do mesmo lado, quem ficará? — Questionou seriamente. — Os homens? Não espere muito deles, meu bem.

Eden engoliu em seco, enquanto sua mente divagava entre os prós e contras daquele contrato. Amara era mais articulada que o marido e sua lábia era tão perigosa quanto a dele. A Shelby tinha uma imagem a zelar e fazia tudo para ser sempre bem vista aos olhos daqueles que não sabiam dos reais esquemas da sua família.

— Isso é sério? — Jessie disse quase em um sussurro. Amara confirmou. — Pois bem, senhoras Shelby 's, estamos agora lutando do mesmo lado.

Jessie deslizou a mão para a de Amara, mas sua atenção se prendera a Ada, que tinha um intenso brilho no olhar e um sorriso satisfeito nos belos lábios. Talvez trabalhar com aquela família trouxesse mais benefícios do que problemas. Assim Eden esperava.

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PACIFIC MODERN DIARY, LONDRES

Ainda era estranho passear pelo jornal sem se lembrar do ocorrido de um dia atrás. Amara dissera a Jessie que o 'ontem' era passado, mas aquilo havia sido apenas uma forma de não mencionar o desastre. Com as mortes, um número significativo de soldados a mando de Thomas formava a segurança do lugar, checando meticulosamente cada pessoa que entrava ou saia. Amara sentia falta de Michael e Krishna, mas sabia que eles estavam bem melhor longe daquele perigo. Se ela os perdesse, jamais se perdoaria, assim como se culpava internamente pela morte dos inocentes do dia anterior.

O luto de três dias fora decretado no jornal, ainda assim, em meio às greves e o ano novo, o jornal não conseguia parar completamente. Entre os sobe e desce de escadas, Amara trabalhou como se sua vida dependesse só daquilo. O estresse dali ainda chegava a ser mais saudável do que o que vivia quando colocava os pés para fora do lugar. Acima da mesa encarou os documentos a respeito dos negócios em Boston e ignorou os outros jornais ao qual faziam questão de estampar na primeira página a confusão que se apossara do Pacific Modern Diary. Andrea sabia exatamente como atingir Amara, causando as mortes propositais no jornal para que ela se visse em um limbo de problemas sem soluções. Talvez não demorasse muito para que uma próxima onda de ataques começasse, mas dessa vez, ela estaria bem-preparada.

— Sra. Shelby. — Hector, substituto de Krishna e assistente Michael, adentrou na sala. Amara retirou os óculos que usava para ler. — Uma moça aqui fora diz que a conhece e quer falar com você.

— Uma moça? Qual o sobrenome? — Amara se afastou da mesa.

Lowry. Ariana Lowry.

Amara sentiu o alívio no peito ao ouvir aquele nome. Uma paz absoluta. Com todos os problemas somando-se a sua volta, quase não tivera tempo para falar com a melhor amiga que vivia em Boston. Segundos se passaram até que Ariana entrasse pela porta usando um vestido rosa, acompanhado de um chapéu pequeno, aquela cor combinava com ela. Seu riso bondoso estava lá, trazendo um conforto e calor amigável e quase maternal para o coração de Amara. A Shelby se levantou da cadeira em um salto, correndo até a amiga do outro lado. Um abraço apertado foi trocado entre elas e ficaram ali por mais tempo do que esperavam.

— Sinto que não vejo você por séculos. — Ariana falou ao afastar-se. Checou a velha amiga dos pés à cabeça.

— Eu sei. — Confessou Amara. — Eu sinto muito, foi culpa minha não ter entrado em contato com você. Tanta coisa tem acontecido nas últimas semanas. Tenho tanta coisa para te dizer. — Amara fungou. Ariana ergueu uma sobrancelha, enxergando por meios dos olhos verdes algo semelhante à dor.

— Não me deixe preocupada. — Ariana se afastou. Amara suspirou se preparando para dar a primeira de muitas notícias. — Já que estou aqui, me conte tudo!

— Eu estou grávida, Ari. Eu vou ter um bebê. — Amara falou. A face de Ariana se iluminou, deixando que o olhar caísse para a barriga da amiga.

— Isso é maravilhoso. Eu sei como você queria ter um filho, parabéns, Amara. Que esse bebê venha com muita saúde, e eu estarei aqui para garantir isso também. — Ela comemorou. Então ergueu o olhar novamente para a amiga, percebendo que algo ainda incomodava. — Mas não é só essa notícia que tem para mim, não é?

— Não. — Amara negou. Passou pela amiga rapidamente, fechando a porta antes que voltasse para perto dela.

— Não me diga que é algo grave, eu não vi a Krishna quando cheguei aqui. Aliás, esse prédio inteiro parece um quartel-general com tantos homens armados na porta. — Ariana falou. Tivera um problema na entrada do jornal quando um homem de boina pediu para revistá-la. A Lowry optou por não discutir, aliás, sua saudade era maior que sua vontade de brigar por algo naquele instante.

— Ele voltou. — Falou. Ariana a questionou com o olhar. — Andrea não morreu, ele está de volta e caçando cada membro da família Shelby. Ele está atingindo cada um a minha volta da maneira que pode. — Amara passou a mão pelo rosto. — Ontem ele esteve aqui e matou dois inocentes. Michael e Krishna partiram hoje cedo, sabe-se lá para onde, mas é melhor assim, não quero vê-los em perigo.

Ariana permaneceu estática no lugar, mas procurou uma cadeira segundos depois. As informações que recebera eram mais cruéis do que imaginava. A Lowry nunca confiou totalmente em Andrea, sabia que algo ruim era exalado do homem, como a inveja, e isso veio se confirmar tempos depois. Ariana acreditava que tudo havia se acabado há meses, quando Thomas e Amara foram sequestrados e lutaram intensamente pelas próprias vidas. Mas a paz parecia não chegar nunca aos Shelby 's.

— Eu não queria encher você com meus problemas... — Amara trouxe a amiga à realidade novamente.

— Eu sou amiga, isso quer dizer que cheguei no momento certo para ficar do seu lado e ajudá-la com o que precisar. — Ariana pousou a mão sobre a de Amara. — Tenho certeza de que logo esse filho da puta vai estar morto.

— Eu tenho a mesma esperança, mas isso não será fácil. — Disse Amara. Ela afastou as sensações ruins para longe. Ariana estava de volta e deveria ter um motivo importante para isso. — O que veio fazer novamente na Inglaterra?

— Bem, depois de muitas conversas e decisões. Nick e eu decidimos que o melhor lugar para o casamento é em Londres. A família dele vive aqui, será melhor para todos.

— Se sente confortável com a ideia? — Amara questionou. — Se bem me lembro, você estava disposta a não voltar mais para cá.

— Não totalmente, mas eu sei que não conseguiria ficar longe desse lugar por muito tempo. Aqui é minha casa e...

— Não há um lugar melhor e seguro do que o nosso lar. — Amara completou, entendendo bem o que a amiga sentia. Ariana acenou. — Eu fico feliz pelo seu casamento. Você e o Nick merecem toda a felicidade do mundo.

— Sim. — Ariana deu um meio sorriso, mas não parecia tão satisfeita com a decisão. — Vamos nos casar depois do ano novo, até lá, espero que tudo esteja resolvido na sua vida. Eu quero ver você me esperando no altar como minha madrinha de casamento.

— Ari... — Amara sorriu, sentindo as lágrimas molharem as bochechas. Está grávida a deixava mais emotiva do que era normalmente. — Vivemos tantas coisas juntas. Você sempre esteve ao meu lado quando mais precisei, é óbvio que estarei no seu casamento.

— E eu sempre vou estar aqui. O destino nos uniu quando colocou você na porta daquele hospital, não vai ser fácil nos separar. — Ariana sentiu um nó na garganta ao proferir aquelas palavras. — É bom estar de volta. Sinto que algumas coisas serão diferentes agora.

— Eu também. — Amara acenou.

Contudo, ambas não saberiam dizer se eram coisas boas ou não.

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SMALL HEATH

Negócios sempre seriam apenas negócios. Thomas era ciente do caráter duvidoso de Alfie, por isso gostava de tratar seus negócios pessoalmente com ele sem envolver mais ninguém. Quando Solomons chegou à destilaria, Thomas já o esperava preparado para qualquer falcatrua do judeu. Um garoto alto o acompanhava, fazendo o Shelby se questionar se Alfie caminhava com o jovem por aí como meio de pôr medo em seus inimigos. Sabia da fama do grande Golias, esse que logo lutaria com o filho de Aberama Gold em alguns dias.

— Boa tarde, Alfie. — Disse Thomas quando Anúbis latiu ao seu lado informando que alguém diferente estava no lugar.

— Quando eu cheguei a esse buraco esquecido por Deus, me perguntei: Onde caralhos estão as pessoas? — Alfie retirou o chapéu da cabeça, deixando visível as feridas que tinha por conta do câncer. — Nunca vi Small Heath tão quieta.

— As pessoas trabalham, Alfie, principalmente as de Small Heath — Thomas respondeu. Alfie deu de ombros e sorriu como se tivesse ouvido uma piada.

— Olha só se não é o cão que eu dei para você e a Amara, ele está bem grande. — Alfie apontou para o animal. — Espero que esteja dando muito trabalho a você.

— Nada que eu não consiga controlar. — Thomas acenou para que Alfie o seguisse. Abriu uma porta e desceu três degraus para chegar na área de armazenamento em barris.

— Onde está sua belíssima esposa? — Alfie disse logo atrás. — Gostaria de prestar meus sentimentos pelas perdas no jornal. — Thomas rangeu os dentes com as palavras. Virou-se para Solomons segundos depois.

— Como eu disse, as pessoas trabalham, mas eu passarei suas condolências à minha esposa. — Disse com escárnio. Alfie sorriu.

— E então, o que tem para mim?

— Isso... — Thomas encheu um copo com Gin. — É uma receita especial do meu pai.

Alfie avaliou a aparência da bebida, tomando um gole generoso logo depois. Fez uma careta ao terminar. O gin possuía um sabor cítrico e picante. O judeu deixou o copo sobre um barril, voltando a atenção para Thomas.

— Particularmente, prefiro rum. Esse sim, é uma bebida apreciada por chefes, pergunte a Amara. — Alfie disse. Thomas evitou revirar os olhos. — Eu ouvi falar que você está precisando de ajuda e digo que só o rum pode te ajudar. Ele nos deixa forte, e você está precisando de força, Tommy Shelby.

— O que você ouviu exatamente, Alfie. — Thomas deu um passo para perto.

— Que tem um italiano por aí marcando sua família e brincando de esconde-esconde. — Deu de ombros. Thomas se moveu inquieto, desviou o olhar do judeu para o cão ao lado, que o seguia como um guarda. — Então é verdade, não é?

Thomas ergueu as sobrancelhas, mas sem responder. Voltou à primeira sala. Alfie o seguiu, ainda intrigado com o que de fato estava acontecendo ao gângster cigano.

— Seus olhos estão fracos. Você não pisca por muito tempo, Tommy. — Alfie percebeu. — Você até está exalando um cheiro diferente, suponho que seja medo.

A palavra 'medo' fez com que Thomas ergue-se o olhar para Alfie, que sorriu chegando à conclusão de que o homem logo a frente estava em péssimos lençóis.

— Você voltou para o seu lugar, Tommy, mas esse lugar não voltou para dentro de você. — Alfie apontou em volta.

— Fala como se soubesse de tudo, Alfie.

— Tommy, eu não vim até aqui para dizer qual o motivo da abelha nunca gastar energia tentando explicar para uma mosca que mel é melhor que bosta. — Alfie puxou uma cadeira quando sentiu o cansaço o abalar. — Mas você deve se perguntar: Você é uma mosca ou uma abelha? — Questionou. Thomas cruzou os braços, e imaginou que tipo de remédios Alfie estava tomando para tanto delírio. — Sobre o gin, os americanos preferem doce. Peça ajuda a sua esposa, ela é americana, sim? E sobre o italiano, o que pretende fazer? Pelo que sei, você não pretende mais sujar as mãos de sangue como antigamente.

— Algumas coisas não mudaram em mim, Alfie. — Thomas acendeu um cigarro ao sentar-se em outra cadeira.

— O italiano tem força por um único motivo, ele se uniu ao Sabini, que até onde sei, ainda guarda muitas mágoas de você. — Alfie estreitou o olhar. — Mas você tem inteligência e pode ter um exército maior do que o dele.

— Como sabe disso? Como sabe que o italiano se juntou a Sabini? — Thomas questionou ao tirar o cigarro dos lábios. Alfie emitiu um ruído impaciente.

— O que eu sei ou deixo de saber, não importa. Mas agora você sabe de onde ele tira tanta informação sobre vocês, Shelby 's. — Solomons falou com segurança.

— E a pergunta premiada vem agora, Alfie. — Thomas tragou o cigarro mais uma vez. Quando a fumaça em seus pulmões se foi, ele perguntou. — Nessa guerra, de que lado você está?

— Do meu, é claro! — Alfie respondeu sem hesitar, depois sorriu com vontade. Thomas bateu o dedo no cigarro, fazendo com que a quantidade de cinzas fosse ao chão, sua atenção estava presa em Solomons. Ele não estava surpreso pela decisão do judeu. — Eu não quero ficar no meio dessa briga, eu tenho meus negócios. Além disso, não é querendo criar qualquer inimizade entre nós dois, mas se você morrer, eu poderei consolar sua viúva com meu bom e velho ombro amigo.

— Eu não vou morrer, Alfie, sugiro que tire esses pensamentos da sua cabeça, e minha esposa também. Caso contrário, será no seu velório que irei! — Thomas apontou para o judeu, ameaçador. Alfie não desfez o sorriso. — Isso tudo que me disse, só me ver que o seu lado é daquele que é mais forte. Diga ao Sabini, que se ele continuar ajudando o Mancini, será ele o próximo da lista que irá morrer ou qualquer um que se colocar no meu caminho ou no da minha esposa. Será que fui claro com você?

— Como água, meu amigo. — Alfie acenou.

— Mancini só é um fodido sem destino, motivado pela raiva e ganância, e que por sorte, conseguiu bons aliados. — Thomas levantou-se da cadeira que estava. — Mas eu sou Thomas Shelby. Eu mando na porra dessa cidade, e não tolero olhares feios ou ameaças! — Ralhou.

— Isso! — Alfie exibiu seus dentes de ouro com um riso largo. — Aí está o Thomas Shelby que conheço. Eu confesso, estou ansioso pelo fim dessa guerra. Aliás, se prepare, a cavalaria de Mancini espera você para um confronto, amanhã!

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Um dia cheio merecia ser finalizado com uma noite regrada de conforto, paixão e prazer. Foi nisso que Thomas Shelby pensou quando mandou que um jantar requintado fosse feito em sua residência temporária. O passar dos dias eram turbulentos desde o primeiro ataque de Mancini, por esse motivo, a intenção de Thomas era deixar a esposa um pouco menos aflita dos últimos acontecimentos. Apesar disso, sabia que todo o estresse acumulado seria ruim para o bebê. Amara e Anthony mereciam um dia de sossego e cabia a Thomas, como líder da família, prover isso. Com Anúbis aos cuidados de John, e a segurança em volta da casa, o casal poderia ter uma noite confortável.

Thomas levou as mãos para o bolso vendo a mesa farta. Estava orgulhoso da visão que tinha. Virou-se para a lareira, mexendo no carvão para que o calor preenchesse a sala mais rápido. Ouviu quando um carro chegou ao bairro, segundos depois viu sua esposa entrar pela porta principal. Caminhou até Amara, ajudando-a a retirar o casaco pesado. Um beijo casto foi deixado no pescoço da mulher, fazendo com que ela soltasse um rápido murmúrio de prazer, enquanto os pelos do corpo arrepiavam com o toque.

— Que cheiro bom. — Ela comentou.

— Mandei preparar um jantar. — Thomas a puxou pela mão. Amara sorriu satisfeita ao se deparar com uma mesa bem montada.

Thomas foi rápido em pegar uma rosa-vermelha, sentindo o sutil aroma dela antes de entregar a esposa.

— Eu estava com saudades das nossas noites românticas, senhor Shelby. — Amara segurou a rosa.

— Eu sei. — Thomas se aproximou dela.

Segurou o queixo pequeno, um hábito amoroso da parte dele. Thomas sentiu o calor vindo de Amara o envolver. Mesmo após anos ela ainda era fascinante e bela. Ele jamais se cansaria de admirar a beleza da esposa e isso ia muito além do que era demonstrado fisicamente. Amara era bondosa, corajosa, feroz e maternal quando podia. Ela possuía um conjunto admirável e invejável de qualidades. Thomas estava feliz por fazer a melhor escolha da sua vida: Casar-se com ela.

— Eu amo você. — Ele disse. Aproximou um pouco mais. Deslizou a mão para a lateral do rosto dela, sabendo o quanto o amor era recíproco.

— Eu te amo. — Ela sussurrou de volta.

O beijo falou o que o coração não poderia dizer: Forjados um para o outro. Thomas não tinha dúvidas de que seu coração sempre pertencera a uma única mulher. Em seus braços, Amara parecia pequena, embora forte, trazendo ao Shelby uma estranha sensação de constantes cuidados e segurança. Ele se afastou apenas para contemplar um pouco mais dos olhos verdes como esmeraldas e os lábios rosados delicados.

— Vem. — A puxou sutilmente pela mão, levando-a para uma cadeira. Quando Amara se acomodou, ele se preparou para servir o prato principal.

— Onde está o Anúbis? — Amara quis saber. Sua atenção se prendeu a Thomas e sua prática com a faca ao cortar o assado. Ela se sentia próximo às nuvens com toda aquela atenção que recebia do marido.

— Mandei para a casa do John. — Falou. Amara arregalou os olhos, mas as crianças de John não eram travessas com animais.

— Ah, sim. — Ela murmurou. Um agradecimento saiu da sua boca quando um pedaço generoso foi colocado no prato. — Eu não tenho tanta fome, Tommy.

— Você precisa se alimentar bem. — Thomas usou um tom paterno quase desconhecido para ele mesmo. Com movimentos rápidos, serviu o prato de Amara com um pouco de cada alimento sobre a mesa. — Nosso filho precisa crescer forte, para isso, a mãe precisa ter uma refeição completa. Coma tudo, como uma boa garota.

— Tudo bem, papi. — Ela o provocou. Thomas esperou que Amara desse uma garfada generosa. — Não vai ficar aí me vendo comer, não é? Não gosto de ser observada.

— Eu poderia ficar observando você pelo resto da minha vida, mas vou acompanhá-la. — Thomas sentou-se do outro lado. — Eu gostaria de abrir um bom vinho, mas sei que bebidas alcoólicas não fazem bem a mulheres gestantes, assim como os cigarros, então não irei fumar em casa, pois percebi que você passou a odiar o cheiro.

— Eu acho adorável quando cuida de mim. — Amara sorriu. Thomas fez o mesmo.

— Eu sempre vou estar cuidando de você e do nosso filho. Aliás, na próxima consulta, eu também irei. Estou ansioso para ouvir o coração do Tonny. — Falou.

— É tão mágico e tão forte e alto. — Amara olhou para baixo, para a barriga. Thomas puxou os lábios para um riso orgulhoso. Se sentia contagiado pela emoção da mulher.

— Como foi seu dia? — Perguntou ele. Estava curioso para saber como havia sido a reunião com Jessie. — Conseguiu convencer a Eden a parar de nos atacar.

— Sim. — Amara bebeu um gole de água. — Chegamos a uma conclusão, não devemos ficar entre o povo e o sindicato. Eu alertei você sobre essas mudanças, não adianta nadar contra a correnteza. Então fiz o que era melhor para todos, vamos nos unir a Eden e apoiar a causa dela. — Amara usava aquele tom de voz que levantava uma pequena chama de prazer no Shelby. Thomas gostava quando a esposa era objetiva e sincera. Alguém na família deveria carregar a sensatez e isso cabia sempre às mulheres. — Além disso, Ariana está de volta, ela irá se casar depois do ano novo, em Londres.

— Que bom para ela. — Thomas murmurou. Saber que Ariana estava de volta era também saber que John ficaria mais vulnerável sentimentalmente. Agora ele teria que manter o dobro de atenção sobre o irmão para que a vinda de um antigo amor não colocasse os Shelby em perigo.

— Está preocupado. — Amara arrancou Thomas dos pensamentos.

— Eu estava pensando no John. — Confessou. — Ele não reagiu bem quando Nick pediu Ariana em casamento, essa notícia pode fazer com que ele se torne mais... vulnerável. E não é tempo para ficarmos assim.

Amara bufou ao abandonar o talher.

— Então não conte a ele sobre a volta dela. — Chegou à conclusão. Thomas ergueu uma sobrancelha. — Agora termine o que tem no seu prato.

Thomas acatou a ordem de bom grado. O jantar se concluiu entre a conversa paralela sobre os negócios e a vida dali em diante. Quando Thomas surgiu com um sorvete artesanal, Amara sorriu e bateu palmas. Estava satisfeita por ver sua sobremesa favorita e, principalmente, saber que seu pedido fora acatado como uma ordem. O tempo estava frio para algo daquele nível, mesmo assim, Tommy foi atencioso em pedir para que o doce fosse feito especialmente para satisfazer a esposa. Sentados no chão em frente a lareira, eles saborearam o sabor acentuado de frutas vermelhas.

— Quando eu tinha seis anos comi todo o sorvete de creme escondido dos meus pais. — Thomas a encarou de forma divertida. Estudou o semblante da esposa enquanto ela falava ao seu lado sobre a infância. Amara tinha olhos brilhantes e brincava com uma bola de sorvete com a colher. — É claro que não me fez bem, mas eu não me arrependo de ter feito isso.

— Você era uma criança levada. — Ele disse. Amara sorriu ao confirmar aquilo. — Bem, eu também tenho histórias da infância.

— Ah! Eu tenho certeza que tem. — Ela se aproximou um pouco mais.

— Certa vez minha mãe pediu para eu comprar algumas coisas para casa. Eu deveria ter treze anos, não lembro ao certo. — Falou. — Ela me deu o dinheiro e eu fui fazer as compras, porém, no meio do caminho eu me distraí. Uma senhora do bairro fazia um doce bom, então eu pensei que poderia comprar o doce e ainda sobraria dinheiro para comprar as coisas que minha mãe pediu. — Thomas sorriu. — Eu estava enganado, comprei todo o dinheiro doce e quando cheguei em casa sem nada do que ela pediu, apanhei.

— Tommy. — Amara sorriu, mas sentiu dó do trágico final, por isso abandonou o sorvete. — Onde estava com a cabeça?

— Eu só queria fazer minha mãe sorrir. — Confessou. — Ela estava triste porque meu pai fugiu com uma puta. Eu pensei, doce faz todos ficarem felizes, e minha mãe merece ser feliz. — Ele sentiu um pequeno vazio ao dizer aquilo. Amara se aproximou mais do marido. — Eu estava errado, e apanhei com uma frigideira.

— Eu gostaria de ter conhecido sua mãe. — Ela falou. Thomas passou o braço em volta do ombro da esposa.

— Eu também gostaria de tê-la aqui. Gostaria que ela pudesse ter a chance de ver o rosto do meu filho e dos filhos dos meus irmãos. — Thomas suspirou. Amara ficou em silêncio. — Ela era uma boa mulher, era amorosa.

— Eu também gostaria de ver meus pais. Contar tudo a eles. Ter o abraço da minha mãe. — Ela bateu os cílios pesadamente. Thomas sentiu um pequeno nó na garganta, mas abraçou a esposa ainda mais. — Às vezes eu imagino como seria nossa vida no futuro.

— Não teria tantas emoções. — Disse ele. Amara sorriu.

— Teríamos paz. — Ela se afastou para encará-lo.

Thomas fitou o fundo dos olhos verdes. Amara dizia aquelas palavras com firmeza. Ele não saberia dizer como reagiria com as situações do futuro. Depois de tudo que ouvira da esposa durante os anos de casamento, havia chegado à conclusão de que sua vida fora feita para viver naquela época e não em outra. Contudo, Thomas sempre estaria disposto a sacrificar tudo para o bem da mulher que amava e agora, pelo filho que esperava.

Ele a puxou para perto novamente, beijando os lábios macios de forma delicada. Sua língua passeou para dentro da boca dela, sentindo ainda o sabor do sorvete. Quando Thomas se afastou, já se sentia rígido, latejando ao imaginar-se entrando na fenda apertada e feminina que logo exploraria. Ele ergueu o olhar novamente para Amara, que tinha olhos verdes brilhantes como faíscas, a face corada dizia o quanto ela queria que ele fosse mais fundo. E ele iria.

— Logo não vamos poder fazer isso. — Ela falou de modo baixo. Thomas passou a língua entre os lábios, enquanto Amara voltava a falar. — Minha barriga vai estar grande e podemos machucar o bebê em alguma posição.

— Vamos sempre dar um jeitinho. — Thomas respondeu.

— O que pretende fazer primeiro? — Amara deitou-se no tapete, levando Thomas para cima. Ele a estudou, sabendo exatamente cada passo que faria.

— Só relaxe, meu raio de sol. — Ele deixou um beijo demorado nos lábios.

Suas mãos grossas foram ágeis em abrir cada botão do vestido, deslizando para baixo enquanto sua boca ainda se encontrava na de Amara. Ela murmurou e se mexeu sob ele. Thomas desceu os lábios para o pescoço, traçando uma linha salgada até um mamilo duro. Os sugou com delicadeza, sabendo que um toque mais selvagem cortaria o tesão da esposa. Amara estava mais sensível por conta da gravidez, mas não menos sedenta pelo toque dele.

Quando viu enfim a esposa livre de qualquer peça de roupa, desceu para o meio das pernas dela. Era uma visão impecável. Amara era tão rosada e carnuda que o deixava com água na boca sem ao menos tocá-la intimamente. Ele ouviu algo sair da boca da mulher, no entanto, premeditava o que iria fazer. Foi então que seus dois dedos rasparam os lábios íntimos. Ela estava molhada. O clitóris começava a inchar devido ao toque. Thomas sabia como provocá-la, enfiando apenas um dedo pela passagem estreita enquanto os outros dois dedos trabalhavam na ponta que trazia o prazer.

— Ah, Tommy, isso é tão torturante. — Disse ela. Estava manhosa, arfando de prazer. Essa era uma das mil formas que Thomas gostava de vê-la.

— Você quer que eu te foda, meu bem? — Ele empurrou um dedo para o fundo. Amara estremeceu.

— Ah por favor, só faça isso logo.

— Não antes de você gozar na minha boca. — Thomas disse.

Um beijo molhado na parte interna da coxa fez com que a mulher erguesse o corpo. Thomas a manteve presa entre o chão e ele, enquanto seus lábios desciam vagarosamente para o ponto principal. Quando o sabor levemente salgado e feminino invadiu sua boca, ele quase se sentiu saciado. Sua língua raspava lentamente no clitóris, em um beijo íntimo e molhado. Afundou as mãos em volta da cintura dela, trazendo-a mais para baixo. Amara arfou, enquanto suas coxas apertavam o rosto do marido.

Thomas olhou para cima quando beliscou o clitóris com os próprios lábios. Amara estava com os olhos fechados, mordendo o canto da boca para que não gritasse de prazer. No entanto, dessa vez, ele queria que ela gritasse e esvaziasse de vez toda a tensão do corpo. Ele se afastou apenas para retirar o colete que usava, seguido da camisa. Amara irradiava calor para ele, que por questão de segundos, não sentia mais o frio. Raspando a língua de baixo para cima ele sentiu o sabor da excitação feminina de forma aguda. Viu quando o tremor se apossou da mulher, sabia que ela estava prestes a gozar principalmente quando teve os cabelos puxados violentamente. Thomas não parou de chupá-la, fazia isso da melhor forma que podia, até que segundos depois, embebedava-se com o inebriante sabor feminino.

Ainda não estando satisfeito, Thomas puxou a mão de Amara, que a essa altura ainda se recuperava do primeiro de muitos orgasmos. Com um olhar, ele deixou claro o que ela deveria fazer. Ele permaneceu de joelhos enquanto via a esposa abrir cada peça de roupa da parte de baixo, até por fim chegar onde ele realmente queria.

O desejo dançando no olhar de Amara era o paraíso do cigano. Thomas puxou o ar para os pulmões quando a mão pequena se fechou em volta do pênis, massageando de uma maneira habilidosa. O Shelby não tinha dúvidas que o mundo ao seu redor sumia quando se entregava ao toque da mulher. A conexão que tinham ia muito além do que muitos imaginavam. Thomas não resistiu ao gemido, soltando-o com toda a força selvagem que tinha. Aquilo servirá de incentivo a esposa, que passou a língua sobre o topo saboreando-o como fizera com o sorvete horas antes.

Abrindo os lábios à procura de mais oxigênio, Thomas sentiu seu pau ser abocanhado, viajando até boa parte da garganta da mulher. Sua respiração se tornou irregular, enquanto os olhos caiam fechados com o prazer inebriante que recebia. Era fodidamente delicioso estar na boca macia de Amara, ela era habilidosa o deixando mais duro e grande a cada engolida. O gosto do pré-orgasmos a deixava mais selvagem, fazendo com que lambesse com mais frequência o topo do pau, ou percorresse os lábios por todo o comprimento, fazendo com que Thomas não aguentasse mais por muito tempo. Mas ele tinha que se controlar.

Eroticamente, Amara ofereceu a melhor visão para ele. Thomas sentiu o gemido reverbera em seu peito enquanto se deliciava nas inúmeras sensações adquiridas com o pau e o olhar. Ela estava de joelhos. A bunda redonda estava empinada para o alto, fazendo que sua cintura ficasse mais marcada, assim como a curva das costas. Thomas afundou a mão nos fios escuros, indo mais fundo ao sentir o orgasmo chegar. Ouviu um leve engasgo, mas Amara não reclamou do primeiro jato, o que fez com que ele acreditasse que ela esperava por mais.

— Eu gosto do seu sabor. — Ela passou a língua pelos lábios, limpando o leite grudento que escorria. Segundo depois limpava a ponta dos dedos, saciando o sabor masculino que restara neles como se fosse mel.

— Tenho algo melhor para você. — Thomas a empurrou para ao chão novamente, enquanto ouvia uma risada rouca.

As penas femininas entrelaçaram em volta da cintura de Thomas. Ele se empurrou facilmente para dentro dela, arrancando um gemido misturado com murmúrio. Amara estava tão molhada que Thomas não teve problemas em chegar até o fim. Ela era apertada e quente, as texturas em volta do pau eram prazerosas ao ponto de fazê-lo gozar novamente antes que pudesse iniciar um coito mais forte. Uma expressão de prazer apossou do rosto de Amara, ela mantinha os olhos bem abertos enquanto o cigano ia fundo em estocadas altas.

— Gosto quando você goza. — Ela o provocou com os lábios. Thomas sorriu sem dizer nada. — Seu rosto fica mais iluminado. Você suar e geme gostoso no meu ouvido. — Falou. Thomas confirmou tudo aquilo em silêncio. Seu coração estava acelerado como de um cavalo, assim como o de Amara. Ele a empurrou para o chão novamente, mas dessa vez, virando-a contra ele. — Se queria me ver de quatro era só pedir.

— Eu quero ver você de muitas formas hoje à noite. — Falou um pouco rouco.

Thomas reconhecia a força que a esposa carregava apenas com suas palavras. Gostava quando ela o provocava e o desafiava. Exatamente como mais cedo, quando o deixou de pau duro no meio de uma academia. Thomas a foderia ali mesmo, mas esperou que fizesse isso de uma maneira decente em casa, onde os dois não seriam presos por atentado ao pudor.

Com os corpos entrando em uma perfeita sintonia, Thomas se preparava para atingir mais uma vez o clímax. Ele se sentia submerso no prazer, principalmente quando Amara começou a se movimentar também. Os movimentos se encontraram rapidamente, o Shelby sentiu as pernas da esposa tremerem assim como a sentiu ainda mais molhada. Acertando um tapa alto no traseiro dela, a ouviu xingar em espanhol, deixando-o mais duro do que já se encontrava. Com o atrito da penetração, Thomas gozou mais uma vez, assim como ela.

— É melhor não querer dormir agora, meu amor, ainda quero te foder de muitas formas. — Disse ele recuperando o fôlego. O suor escorria do rosto para a nuca. Amara o encarou novamente, com a face vermelha e um riso avassalador nos lábios.

— Meu bem. — Ela ergueu uma sobrancelha. — Eu acho melhor você não desistir quando começamos a brincar de verdade.

Thomas encarou aquilo como um desafio. Seu riso iluminou a face marcada pela brutalidade do sexo. Nada mudaria em Amara, ela sempre seria uma fera insaciável. Uma habilidade que o Shelby sempre apreciaria. O melhor de tudo era saber que ela sempre seria dele por inteiro. Quando ele estava dentro dela, todos seus problemas sumiam, recebendo em troca amor e retribuindo com muito mais. Encontrar Amara havia sido não só um milagre na vida de Thomas, mas um refúgio para dificuldades. Ela era a luz que iluminava a escuridão do cigano, e ele era o porto seguro que Amara precisava.

As migalhas de paz de Thomara que temos para hoje, aiai, o que será que vem pela frente?

Capitulo postado dia (10/04/2022), não revisado.

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