𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟑𝟑
┅━━━╍⊶⊰⊱⊷╍━━━┅
Acima da mesa, dividindo espaço entre o telefone e a máquina de escrever, papéis inundavam a visão da Sra. Shelby. Embora soubesse que poderia facilmente deixar aquele serviço para Michael Gray, Amara tinha consciência de que se fizesse isso, sucumbiria aos pensamentos malignos que a assolavam desde o dia do atentado. Cada vez que refletia ou deduzia o que havia realmente acontecido naquele dia, sentia o coração acelerar, a cabeça doer e o estômago revirar. Aqueles não eram bons sinais e infelizmente, Amara sabia que não seriam os últimos.
Tentando limpar os pensamentos, voltou a atenção aos papéis. Os ganhos de Solomons com seus agentes estavam sendo bem repartidos, o judeu cumpria com a palavra e não causava dor de cabeça a ninguém. O jornal era promissor na Europa, mesmo que ainda recebesse críticas cruéis, cujo, Amara tentava não se intimidar. Há algumas semanas havia recebido documentos de Andrea, eram acordos que deveriam ser fechados ainda naquele ano. Amara encarou o telefone ao lado, enquanto estalava os dedos com certa aflição. Talvez devesse ligar para o advogado, mas Thomas estava sendo rigoroso, tomando o dobro de cuidados com ela: sem contato com o exterior, ele cuidaria de tudo, assim prometeu a esposa.
Inferno. Praguejou mentalmente, ao jogar-se para trás. Tentou aliviar os músculos rígidos na cadeira de couro, mas pareceu em vão. Estava quase se sentindo uma prisioneira na própria casa. Desde o atentado, Thomas a mantinha na mansão sob os cuidados de muitos homens armados do lado de fora. Há dois dias ela via seu livre arbítrio ser reduzido a nada. Ao puxar a gaveta, viu duas passagens para Boston que aconteceriam em uma semana. Lembrou-se das palavras de Thomas: Devemos ter cuidado, vamos sair sem que ninguém saiba. No entanto, sua casa ainda se encontrava cheia, os passos de crianças e adultos, além dos empregados, a lembravam constantemente disso.
Um falatório vindo do andar de baixo chamou a atenção de Amara, que por alguns segundos, deixou ser levada pelas preocupações. Na cozinha, Sarah estava com um semblante para poucos amigos, assim como Ariana. Amara não precisou perguntar nada as Lowry, já que Krishna a empurrou sutilmente para o corredor novamente.
— É melhor nem ouvir tudo que aconteceu. — A indiana gesticulou. — Como se sente?
— A Ariana parece brava, ainda tem a ver com o sumiço da Sarah no dia da festa? — Amara olhou por cima do ombro, enquanto era puxada para longe.
— Sarah está naquela fase rebelde que todas nós já passamos. — Krishna disse em um tom experiente. — Ela sumiu ontem no meio da noite e chegou hoje cedo. Claro que a Ariana já a esperava com aquela carranca no rosto, nem o Nick conseguiu controlá-la. Ela estava com o irmão mais novo do Thomas...
— Finn! — Falaram juntas.
Os galhos quebrados no meio da noite com certeza não eram obras de Anúbis. Agora Amara sabia que o que a despertou na madrugada havia sido algo maior e bem mais esperto. Tentou imaginar que tipo de diversão uma garota como Sarah procurava em um jovem como Finn. Quando crianças, costumavam ter brincadeiras pouco saudáveis, e agora que se encontravam mais crescido, provavelmente não estavam fazendo diferente. Provavelmente o medo de Ariana fosse que Sarah descobrisse ainda cedo a anatomia masculina, e que como ela, não conseguisse se afastar tão facilmente de um Shelby. Krishna falou algo quando duas crianças de John atravessaram o caminho. A mansão Shelby era grande, mas a indiana soube acertar o caminho para a sala principal, onde acomodou a amiga em um sofá de três lugares.
— Hoje cedo, os homens lá foram tiveram que colocar alguns repórteres para correr. — Falou Krishna. Amara ergueu as sobrancelhas. Talvez estivesse tão imersa nos pensamentos que não havia se dado conta desse ocorrido.
— O Thomas me alertou sobre eles. — Amara mordeu o canto da boca.
— Eu sei que deve ser difícil. Você não parece saudável ficando presa nessa casa. — Krishna pouso a mão sobre a de Amara. — Você tem grande influência na mídia local, e tudo que aconteceu levantou a curiosidade deles, mas não se preocupe, estamos trabalhando em tranquilizar a todos.
— Estamos? — Amara franziu o cenho com a palavra dita pela amiga. — Você e o Michael? — Deduziu.
— Trabalhamos bem juntos. — Ela balançou o ombro, orgulhosa.
Amara conhecia bem o olhar radiante que recebia de Krishna. Era o olhar de uma garota apaixonada.
— Como ele trata você? — Perguntou a Shelby, curiosa.
Aquela era a primeira vez que tinha esse tipo de conversa com Krishna. Amara se perguntou em que momentos ambos haviam se aproximado tanto. Há algum tempo, a Shelby percebeu uma mudança drástica no jovem Gray. Talvez o convívio mais próximo com os primos o tornou um pouco mais ganancioso e frio — Era difícil não entrar para aquela família e não se corromper um pouco. Michael ainda era um bom advogado, resolvendo tudo que podia de Londres, como o braço esquerdo de Amara nos negócios da empresa Abbott.
— Bem, muito bem... — Ela acenou, não entrando em detalhes.
— ... E eu não quero ouvir você murmurando nada, mocinha! — Era a voz de Ariana, invadindo o cômodo onde as outras se encontravam. Passos pesados foram dados pela escada. O estrondo de uma porta batendo veio em seguida.
Ariana surgiu na sala principal, encarando as amigas dividindo um sofá. Os olhares que recebia eram preocupados.
— Acho que já deve estar fadada da nossa presença aqui. — Ariana olhou diretamente para Amara, que negou com a cabeça - Ela jamais se cansaria da presença dos amigos. — Nick e eu conseguimos passagens para viajar em dois dias.
— Já? Ainda é cedo! — Foi Krishna que falou. Limpou a garganta antes de prosseguir. — Eu acho que ficarei por mais uma semana.
— Tenho certeza de que agora você tem muitos motivos para permanecer em Londres. — Amara emitiu um leve sorriso. — As portas da minha casa sempre estarão abertas para você. — Disse a Krishna. Virou o rosto para Ariana. — E para você.
— Talvez eu peça transferência para o jornal de Londres. — Krishna ponderou a decisão. Amara acenou, começava a se animar com energia ao redor.
— Vai ser um prazer ter você trabalhando aqui pertinho de mim. — Disse Amara.
Ariana mordeu o canto interno da boca. Cruzou as pernas e balançou o pé inquieta.
— Bem, eu não tenho intenção de voltar para cá. Nick e eu decidimos continuar vivendo em Boston depois do casamento. O frio lá é terrível, mas vou me acostumar, nada é pior que Londres. — Ariana abaixou o olhar para a mão, onde uma aliança pesava no dedo. — Você se sentiu nervosa com o seu casamento? — Perguntou diretamente a Amara.
— Foi tudo tão rápido. — Lembrou-se a Shelby. — Mas depois que a ficha caiu, o nervosismo veio como uma avalanche.
— Você casou-se duas vezes. — Krishna comentou. — Então deve ter sentido tudo em dobro.
— E me casaria uma terceira vez se pudesse. Thomas é o homem que eu escolhi amar. — Sorriu afetuosa. — A vida é feita de escolhas, e eu o escolhi. Assim como sei que ele me escolheu.
Foi então que percebeu uma sensação amistosa na barriga, como borboletas voando. Tudo que Thomas fazia era para protegê-la. Ele não era perfeito, estava longe disso e ela sabia, aliás, também não era tão diferente. As promessas feitas anos atrás ainda se mantinham em pé. Independente de tudo, eles tinham um ao outro. Vivendo um dia de cada vez e vencendo os problemas da maneira que podiam.
— Sra. Shelby. — A voz de Mary soou pacífica na sala. — A Sra. Gray está aqui, e ela gostaria de conversar com a senhora... — A governanta desviou o olhar rapidamente para as outras duas mulheres. — Em particular.
┅━━━╍⊶⊰⊱⊷╍━━━┅
— Muito bem! — Nick disse bem-humorado. Levantou o braço de John, checando até onde o Shelby conseguia ir. — Você se recuperou rápido, suponho que já pode voltar ao trabalho, mas claro, tomando cuidado com o ombro.
John rangeu os dentes com as palavras do médico. Voltar para as ruas de Birmingham era o que o Shelby mais queria fazer. John sentia falta do Garrison e da liberdade de andar pelas ruas de Small Heath com autoridade. Viu Nicholas se afastar e guardar os instrumentos que usava em uma bolsa. Eles eram muito diferentes. Vivendo em mundos opostos. Enquanto Nicholas usava bisturi em cirurgias, John usava navalhas para cegar seus inimigos. Talvez esse fosse o motivo dele ser a escolha de Ariana e não o Shelby. John não a julgaria.
— Você é um bom médico. — John suspirou. Nick o encarou em silêncio. — É um bom homem.
— Você também é um bom homem. — Disse Nicholas.
John sorriu, algo que foi emitido em um barulho quase perturbador a ambos os ouvidos.
— Não, eu não sou. — Disse enquanto vestia novamente a camisa. — Eu nem tento ser. Quer dizer, eu só preciso ser um bom pai.
— Ser um bom pai é também ser um bom homem. São poucos os homens que assumem essa responsabilidade, ainda mais sozinho.
— Talvez tenha razão. — John levantou-se da cama. Ouviu risadas infantis e latidos do lado de fora. — Ela ama você, e eu a amo.
— Eu sei. — Nicholas fechou o riso. Ergueu o rosto. Um brilho acertou diretamente os olhos azuis do médico. — E sei que a procurou no jardim. Eu vi pela janela.
— Então ouviu...
— Sim. — Nick abaixou o rosto. Voltou a erguer novamente. — Eu a amo também. Eu nunca planejei me meter no meio de um relacionamento, mas pela Ariana, eu partiria para uma guerra.
— Então somos dois. — John ergueu rapidamente uma sobrancelha. — Eu errei com ela. Eu era jovem demais, inconsequente. Meu irmão tentou consertar o erro e isso nos afastou ainda mais. Eu não gosto do que vou dizer, mas você parece ser o homem que ela realmente precisa.
Nicholas engoliu em seco. John o encarou profundamente, dando mais um passo para frente.
— Eu espero que cuide bem dela, que a ame e que nunca, jamais, erre com ela, não como eu fiz. — Disse.
Nicholas abriu os lábios, puxando o ar para os pulmões. Por fim, acenou lentamente.
— Eu jamais a decepcionaria, John Shelby. Eu amo a Ariana e a amarei até o fim da minha vida.
┅━━━╍⊶⊰⊱⊷╍━━━┅
Amara guiou Polly até o escritório. Sentia o olhar da Gray queimar nas costas a caminho de lá. Quando fechou a porta atrás de si, caminhou até a mais velha, abraçando-a com força.
— Minha menina. — Polly murmurou de modo maternal. — Não merece está passando por isso, mas você é forte. Você é uma Shelby.
— A única coisa que quero é paz, Polly. — Amara a encarou novamente.
— Não podemos ter tudo que queremos. — Polly se afastou com um alto suspiro. — Além disso, somos Shelby, paz é algo que não faz parte do nosso dicionário.
— Eu já deveria estar acostumada a isso. — Amara caminhou até uma pequena mesa, enchendo dois copos com uísque. — Alguém quer me matar, e eu não faço ideia do motivo.
— Tenho certeza de que Thomas descobrirá isso logo. — Polly disse ao aceitar o copo de bebida. — Li seu jornal, vi suas críticas a respeito do novo partido fascista. Você os atacou sem piedade. Acho que talvez não devesse se envolver com essas pessoas ou ser um pouco mais cuidadosa.
— A meu Deus! — Amara se recordou do último trabalho feito para o Pacific Modern Diary. A crítica feita ao partido de extrema-direita havia levantado muitas questões dentro e fora do jornal. Amara sabia que seria perigoso, mas precisava abrir os olhos da população antes que o pior acontecesse muito em breve. — Acha que o ataque no dia do evento pode ter sido mandado por um dos membros do partido?
— Políticos são tão perigosos quanto leões famintos. — Polly inclinou o rosto. — Todo cuidado é pouco.
— Mas isso não quer dizer que vou me calar. — Amara bebeu um gole de uísque se sentindo tão amarga quanto a bebida. — Eu sempre vou ser um alvo, Polly. E enquanto eu for ameaçada por aqueles homens, eu vou continuar sendo a maldita pedra nos sapatos deles.
— E isso me preocupa. Todos somos alvos, meu bem, somos ciganos. — Disse. Polly encarou a pulseira de Amara, que pertencera outrora a uma rainha. — Você ainda está usando.
— Ela me protegeu, como você disse. — O olhar da mais nova caiu para a pulseira.
— É claro. — Disse Polly. — Eu vim aqui para vê-la, e para ver John e as crianças. Mas também, estou aqui para saber o que vai fazer.
Amara deslocou o olhar para a janela no fim da sala. Sentiu um leve incômodo na garganta. Polly era muito mais que uma amiga para ela, era quase como uma segunda mãe. Um relacionamento desabrochado e bem preservado com o passar dos anos. Amara sabia que jamais poderia esconder algo da Shelby mais velha e mesmo que tentasse, não sustentaria uma mentira por muito tempo.
— Vou para Boston. — Falou em tom baixo. — Thomas e eu...
— Boston? — Polly estava surpresa. — Por quanto tempo?
— Não sei. — Amara deu de ombros. — Tempo suficiente para isso passar. Algo no meu interior diz que outro ataque pode acontecer.
— Com todos aqueles homens armados lá fora, eu duvido. — Polly uniu os lábios em uma linha. — Mas como eu disse, todo cuidado é pouco.
— Eu sou uma Shelby, Polly, eu não devo ter medo de nada, certo?
┅━━━╍⊶⊰⊱⊷╍━━━┅
SMALL HEATH
Thomas não estava tão empolgado quanto Arthur naquele momento, mas evitou deixar que isso transparecesse em seu semblante. Aliás, não era todo dia que via o irmão mais velho tão iluminado como se tivesse sido tocado pessoalmente por Deus. Rapidamente um banco serviu de palco para o Shelby mais velho. Thomas ergueu o queixo, esperando que a inquietação do irmão oferecesse lugar à fala.
— O John não está aqui. — Arthur vagou o olhar pelos rostos conhecidos. — Mas eu darei a notícia mesmo assim.
— É bom ser rápido, tenho uma estátua com o pênis de fora esperando para ser derretida. — Tio Charles disse ao tragar um cigarro.
— E então? O que tem a dizer? — Thomas levou as mãos para o bolso.
Arthur abriu um sorriso largo. Esfregou as mãos como se sentisse frio, mas, na verdade, era o modo que achara para se acalmar. A notícia que tinha para contar era a melhor que recebera naquela semana, tanto, que mal pode esconder o mistério e logo revelou:
— Eu vou ser pai! — Disse alto. Retirou o chapéu. — Eu vou ser pai, porra, minha mulher está gravida!
Arthur pulou para o chão recebendo abraços. Thomas esperou pela vez dele, quieto e pensativo. Se aproximou do irmão quando o caminho ficou livre. Um abraço apertado foi trocado entre eles.
— Eu vou ser pai, Tommy! — Repetiu. Thomas acenou. Apertou o ombro do irmão, orgulhoso.
— Parabéns, você merece ser feliz. — Disse Thomas.
— Eu deveria ter reparado. A Linda está diferente, me refiro ao corpo dela. — Arthur comentou. — Eu sei que... Que esse é um momento difícil, mas irmão, eu queria compartilhar a minha felicidade com você.
— Eu sei. E estou orgulhoso, você vai ser um bom pai. — Thomas sorriu de lado.
Os olhos acinzentados de Arthur brilharam com aquelas palavras. O Shelby mais velho se preparava para ser o pai que o filho precisava, bem diferente do que ele e os irmãos haviam, infelizmente, tido. Ele seria diferente. Seria melhor.
— Um dia nossos filhos vão brincar juntos, Tommy. — Arthur falou. Thomas acenou lentamente.
— Eu espero que sim, irmão. — Thomas disse esboçando um singelo sorriso.
Aquela notícia mudaria tudo. Thomas sabia que um filho na vida do irmão mais velho era a redenção dele. Aos poucos, cada Shelby encontrava seu destino. Enquanto alguns encontravam a felicidade, outros padeciam em dores. Thomas ainda se questionava que tipo de redenção chegaria a ele a esposa.
— Até mais, Arthur. — Foi a única coisa que disse. — Novamente, meus parabéns. Sei que terei um sobrinho abençoado.
Deixou o irmão mais velho para trás com o ar de questionamento. No fim de tudo, Arthur entendeu o que Thomas dissera entrelinhas. Até mais não era um adeus, mas queria dizer que ali se encerrava o ciclo do Shelby mais velho nos esquemas sujos dos Peaky Blinders. Arthur suspirou aliviado. Depois de todos os altos e baixos, vivendo amores e aventuras, finalmente sossegaria e esperaria pelo nascimento do primeiro filho em uma modesta casa de campo. O até mais de Thomas era as boas-vindas de outro ciclo da sua vida ao lado de Linda.
┅━━━╍⊶⊰⊱⊷╍━━━┅
Thomas esperou pacientemente pelo informante. O barco ancorado, o mesmo que havia nascido, balançava conforme a água do canal se agitava. Era impossível não se culpar pelo perigo que Amara estava vivendo nesse momento. Se ele acreditasse em Deus, dobraria os joelhos e pediria perdão pelos pecados. Contudo, tudo que Thomas tinha naquele momento era a raiva em descobrir quem queria a cabeça da sua esposa.
Passos sobre os pedregulhos chamaram atenção do Shelby. Um homem baixo e robusto, usando um bigode fino e chapéu redondo na cabeça, se aproximou. Em um salto, chegou perto do cigano. Thomas desviou o olhar quando acendeu um cigarro. Ouviu o pigarreio do homem.
— E então, o que descobriu? — Thomas perguntou. Sentado em uma cadeira, cruzou as pernas e esperou o que o homem tinha a dizer.
— Os políticos estão furiosos. Principalmente o novo partido. — Falou. — Ouvir o nome da sua esposa ser dito várias vezes nas reuniões. O que foi dito no jornal deixou aqueles homens atordoados como se alguém tivesse pisado em um formigueiro e matado a rainha.
— Eu a alertei sobre isso, mas minha esposa dificilmente me ouve. — Thomas encarou o cigarro.
— Estive pesquisando sobre o atirador. Ele não é daqui. — O homem levou a mão para o bolso. — É irlandês. Não lutou na guerra e não tem família.
— Um fantasma.
— Bem, agora é, não? — Perguntou o homem ao retirar o chapéu.
— Preciso de informações mais concretas. — Thomas levantou-se. — Preciso saber quem está por trás disso, é a vida da minha mulher que está em perigo. E você, me deve esse favor. Não esqueça que eu salvei sua vida na guerra.
— Isso é algo que você nunca vai permitir. — O homem deu um passo para a direção de Thomas. — Quando me procurou, achei que finalmente estaria pensando em entrar para a política. É um homem com uma visão crua e realista do mundo, conhece de perto o que é viver na merda. — Olhou em volta. — Eu vou ver o que descubro. Se eu fosse você, ficaria de olho em um homem chamado Oswald Mosley, ele fala da sua esposa como se a conhecesse de outros tempos e está tão insatisfeito com o que ela tem feito do que qualquer outro político. — O homem entregou um jornal a Thomas, onde um político com olhar egocêntrico estampava a capa.
Thomas rangeu os dentes com aquelas últimas palavras. Oswald Mosley, o Shelby guardaria esse nome na cabeça, talvez fosse útil em breve.
┅━━━╍⊶⊰⊱⊷╍━━━┅
Dessa vez, Anúbis estava na porta quando Thomas chegou. Recebido com lambidas e latidos, Thomas se ajoelhou para poder dar mais atenção ao cão. Do lado de dentro da casa, ouviu algo cair e se espatifar. A voz de John veio em seguida, enquanto Thomas caminhava até lá. Encontrou dois sobrinhos, Gypsy e Henry. Imaginou se em algum momento da vida estaria dando bronca ao próprio filho por quebrar algo valioso. A raiva era sempre momentânea, mas o Shelby sabia que seria rigoroso com os filhos e os prepararia para uma vida de jornadas árduas e os amaria incansavelmente.
— Quando ela vê... — John olhou para o vaso, murmurando aquelas palavras. — Para cima, os dois, agora!
— John! — Thomas chamou quando os sobrinhos passaram por ele. — Deixa isso aí, a Mary irá mandar alguma empregada limpar.
— Eu já estou abusando da sua hospitalidade. Tenho que ir para casa. — John chutou um caco do vaso. Jogou-se na poltrona, rangendo os dentes quando uma almofada atingiu o machucado.
— Você ainda está se recuperando. — Thomas deu alguns passos em direção ao irmão. — Além disso, é bom ter gente aqui em casa.
— Quem manda ter uma casa grande? Hein.
— Talvez queira saber que nosso irmão será pai, a Linda está grávida.
— Puta merda! — John disse surpreso. — Arthur sendo pai. — Passou a mão pelo rosto. — Isso é incrível. O momento que sabemos que geramos algo é indescritível. É um momento único... — John falou. Voltou a atenção para Thomas, que tinha uma linha dura nos lábios e encarava o nada. — Eu não quis dizer... Eu... — John limpou a garganta. Ainda se lembrava da vez em que Thomas havia dado aquela notícia com uma animação sem igual, um pouco depois do casamento em Londres. Semanas depois, ele deu outra: Amara havia pedido o bebê. — Você ainda vai ter seus filhos.
— Eu não tenho pressa. — Thomas falou, mas não era bem isso que refletia em seu rosto.
— Se quiser tanto um filho, posso te dar um dos meus. — John tentou animar o irmão. Levantou-se da cadeira. — Eu tenho que subir e checar se o Henry não está colocando fogo nas suas cortinas. Deus me livre ter que enfrentar a Amara furiosa por ter cortinas caras queimadas.
Thomas também se levantou de onde estava, mas caminhou até o escritório. Encontrou Amara sentada à mesa, escrevendo algo em um pequeno caderno. Um suspiro insatisfeito foi emitido por ele, enquanto se aproximava da esposa.
— Sabe, algumas vezes pensei que eu seria o viciado em trabalho e seria você que me tiraria do escritório. — Falou parando ao lado dela. Amara ergueu o rosto, abrindo um singelo sorriso.
— Eu gosto de trabalhar, Tommy. Tem coisas que somente eu posso fazer na administração do jornal e das instituições. — Ela falou. Thomas sentou-se na mesa, encarando o caderno que Amara escrevia. Aquele não era o Watson.
— O que é isso? — Perguntou.
— Um diário. — Amara encarou o caderno. — É bom colocar as emoções em algum lugar.
— Geralmente eu faço isso de outra maneira. — Disse de modo suave. Amara ergueu o rosto, recebendo um olhar brilhante e um pouco safado.
— E de qual forma sugere que eu possa aliviar minhas emoções, senhor Shelby? — Foi atrevida em perguntar.
Thomas se levantou da mesa, passando para trás da esposa. Ela ficou quieta enquanto sentia as mãos grossas e ágeis do marido percorrerem os ombros, massageando suavemente. Em meio a rendição do toque, soltou um suspiro de prazer. Uma das mãos desceu para o seio dela, circulando um mamilo com delicadeza. Thomas sorriu ao perceber que a esposa não usava a peça íntima por baixo do vestido fino, sentindo rapidamente a resposta do toque — mamilos duros e macios. Amara abriu os olhos, encarando o marido logo acima. Naquele ângulo, a luz não iluminava totalmente o rosto de Thomas, mas ainda era possível notar os intensos olhos azuis e os ossos angulares das bochechas dele. Thomas era belo de uma maneira selvagem e perigosa.
— Você pode descer mais um pouco? — Perguntou ela. Thomas sorriu de lado.
— Se você for uma boa menina. — Acenou rapidamente.
— Ah, eu tenho sido bem obediente e isso nem é da minha natureza. — Ela mordeu os lábios como provocação. — Preciso de uma distração grande...
— O que mais? — Thomas aproximou o rosto.
— Grosso...
— Está ficando interessante. — Ele ergueu uma sobrancelha. Desceu a mão para baixo, passando pelo abdome feminino até pousar no meio das pernas dela.
— Você nem faz ideia. — Falou quase em um sussurro. Thomas agora massageava o local ideal, mesmo que fosse por cima de uma peça íntima.
Amara puxou o rosto de Thomas para um beijo. Porém, a porta foi aberta e o casal separado rapidamente. Mary abaixou o rosto, constrangida. Havia entrado após suas batidas não serem respondidas e agora entendia bem o motivo.
— Me perdoe por está atrapalhando algo. — Ela falou. — Mas o jantar está servido.
— Tudo bem, nós vamos... — Thomas encarou Amara, que tinha a face vermelha devido ao constrangimento. Então voltou a encarar Mary que não estava tão diferente. — Estamos indo.
Mary acenou, saindo rapidamente do cômodo. Amara sorriu, tendo atenção do marido novamente.
— Isso me lembrou quando ela nos flagrou na cozinha. A intenção era fazer um bolo, mas fizemos bem mais que isso. — Amara levantou-se da cadeira. Passou por Thomas, indo em direção à porta. — E na escada, porque estávamos com tanto tesão depois daquele evento que não conseguimos alcançar o quarto.
— Por isso aumentei o salário dela. — Thomas respondeu logo atrás. — É preciso ganhar mais para suportar certas coisas.
┅━━━╍⊶⊰⊱⊷╍━━━┅
Thomas estava sentado na cabeceira e Amara ao lado direito. John sentou-se ao lado esquerdo do irmão, enquanto os filhos nas demais cadeiras ao lado. Ariana e Nicholas estavam sentados lado a lado, próximos de Amara — comendo em silêncio — e Sarah, brincava com a comida do prato, ligeiramente entediada.
A tensão entre John e Ariana era quase palpável. Amara sentiu falta de Krishna e logo deduziu onde a amiga estava. Talvez a vinda de Polly Gray até Warwickshire tinha também outros motivos e isso incluía o relacionamento da amiga com o Michael, algo que estava deixando de ser segredo para a família. Polly era uma mulher maternal e extremamente ciumenta. E como uma leoa, protegia muito bem as crias.
— O que vai ter de sobremesa? — Sarah perguntou. Ariana lançou um olhar feio a irmã.
— Você está de castigo, nada de sobremesa. — Falou. Sarah se retraiu, ofendida.
— Isso é tortura. — Virou o rosto para Nicholas. — Nick...
— É a decisão da sua irmã, querida. — Ele respondeu.
— Amara? — Sarah a encarou, mas Amara negou silenciosamente. — Que merda, ninguém do meu lado nessa casa! — Disse enfurecida. — Thomas, John?
— Sarah! — Ariana bateu com o punho na mesa.
A adolescente bufou enquanto os adultos voltavam a conversar como se a presença dela ou das crianças não fosse importante. A noite passada ainda latejava na cabeça dela com uma sutil dor de cabeça. Talvez tenha abusado um pouco do licor e se deixado levar pelo sabor doce da bebida. Ao menos, havia se divertido bastante com Finn e Isaiah. Além de ter se metido em algumas confusões que Ariana ou qualquer outra pessoa naquela mesa jamais deveriam saber.
Em um determinado momento, Thomas mencionará a novidade para os demais: Arthur iria ser pai. Um brinde foi feito em nome do Shelby mais velho e as especulações do nome da criança geraram algumas apostas. Horas depois, quando todos da mansão haviam se recolhido em seus devidos quartos, Thomas encarava a esposa sentada em frente ao espelho. Era hipnotizante vê-la na pequena rotina da noite, quando cuidava da pele com cremes importados — aqueles que deixavam o perfume suave de rosas marcados em lençóis e vestidos. Thomas suspirou, afastando o lençol para o lado e saindo descalço da cama. Puxou do paletó o jornal de mais cedo. Amara espiou o marido pelo espelho.
— Sem sono? — Perguntou ela.
— Não enquanto não souber de uma coisa... — Thomas se aproximou.
Um jornal foi deixado acima da penteadeira. Amara franziu o cenho ao encarar a fotografia que Thomas insistiu em tocar com um dedo.
— Oswald Mosley. — Thomas falou. Amara ergueu o rosto e encarou o marido.
— Ele faz parte do partido fascista. Eu o conheço. — Disse ela. Se levantou da cadeira em seguida.
— O quanto o conhece? — Aquela pergunta fez com que ela parasse no meio do caminho.
Amara se virou para Thomas. Tentou decifrar que tipo de olhar recebia naquele momento: raiva? Preocupação ou curiosidade? Ela não saberia dizer. Caminhou novamente até ele, e se inclinou para pegar o jornal na penteadeira. Aquele sorriso. Amara jamais esqueceria o riso que a seduziu facilmente no navio, há alguns anos. Amie o conhecia bem melhor do que pretendia. Em alguns anos Mosley havia deixado o partido trabalhista e se aliado aos fascistas, isso não iria durar por muito tempo, mas seria o começo de algo cruel.
— O que quer saber exatamente? — Amara estreitou o olhar com o do marido.
— Uma fonte segura me disse que sua publicação deixou muitos políticos enfurecidos. Mosley, principalmente. — Thomas deu um passo para frente. — Ele também fala como se a conhecesse bem.
— Talvez sim. Achei que ele não fosse se lembrar do meu rosto. — A voz saiu tranquila, quase em um murmúrio.
— O que está dizendo? — Thomas franziu o cenho com as palavras que ouvia.
— Que o desempenho dele na cama é tão rápido que mal tive tempo de pensar em que roupa usaria quando saísse daquele navio. — Disse. Amara percebeu como Thomas se retraiu naquele momento.
— Você trepou com esse homem?
— Foi há muito tempo! — Ela disse, exasperada. — Não tínhamos nada, e eu era solteira. Acontece que eu me deixei levar pelo charme, e mal me recordei do nome dele de tão ruim que foi. É claro que depois de um tempo, com a popularidade dele, o reconheci.
Thomas engoliu um sabor amargo com aquela declaração. Deu passos até a janela, fixando o olhar na lua cheia. Amara suspirou, tudo que ela não queria naquele momento era uma crise de ciúmes, principalmente de algo que aconteceu há anos. No entanto, talvez não fosse o fato dela ter transado com Mosley no passado que incomodava Thomas. Era nítido que outra coisa o afligia e talvez isso respondesse à pergunta anterior: O olhar de Thomas era de preocupado. Ela se aproximou do marido.
— Acha que foi ele? — Questionou. — Polly veio aqui, ela me disse para ter cuidado com essas pessoas.
— Pode ser que sim. Pode ser que não. — Thomas se virou novamente para ela. Os olhos estavam caídos, exibindo um semblante cansado. — Isso só quer dizer que é melhor sairmos do país.
— Por um momento achei que estivesse com ciúmes. — Amara puxou Thomas para ela. — Eu jamais trairia você, Tommy. Você é o único homem que amo.
— Eu sei. — Então a beijou.
Amara sentiu o calor de Thomas, deixando-a sensível entre as pernas. O beijo foi intensificado quando ele abaixou as alças da camisola, fazendo com que o cetim deslizasse suavemente para o chão. Amara se afastou, mordendo os lábios. Olhou para baixo. Thomas usava apenas uma cueca, onde um volume agradável marcava o pano.
— Você é o único homem que pode me tocar profundamente. — Raspou os lábios levemente dos dele. — É o único homem que me ver de joelhos.
Thomas abriu os lábios quando Amara se ajoelhou. Ligeiramente maravilhada, ela estendeu o braço para agarrar a ereção dura e macia. O Shelby arfou com o toque e quando olhou para baixo, percebeu que a esposa se sentia excitada da mesma forma que ele. Audaciosa, ela colocou a ponta da língua no topo do pênis, sentindo as primeiras gotas da excitação masculina. Era saboroso, estranhamente bom. Com uma maestria sem igual, ela o engoliu por completo, indo até onde podia. Amara sabia exatamente a velocidade que usar para ver o marido demorando em sua boca, e assim fez.
— Amie, você é meu estopim. — Falou ofegante. Amara ergueu o rosto com a boca ainda cheia. Os olhos verdes pareciam sorrir com um brilho malicioso.
— Não, Tommy. Eu sou a sua confusão inteira. — Disse ao levantar-se.
Aquela era uma verdade que Thomas não negaria.
As mãos dele percorreram para as costas dela, empurrando a caminho da cama. Amara passou a mão pelos bíceps rígidos de Thomas. Ele era esbelto, mas tinha um corpo definido com sutis músculos ganhados durante a guerra, além de tatuagens e cicatrizes adquiridas em confrontos. Amara poderia pernoitar contemplando o corpo do marido, mas naquele instante, só queria ser fodida duramente para que assim esquecesse de vez os acontecimentos ruins dos últimos dias.
Ela fechou os olhos quando os lábios de Thomas alcançaram os seios sensíveis. Ele os sugou com vontade, molhando-os com saliva para que a língua deslizasse suavemente pela auréola e o mamilo. Um gemido brusco saiu dos lábios de Amara quando Thomas se acomodou rapidamente entre as pernas dela. Os quadris femininos foram seguros de maneira selvagem, levantando-a um pouco da cama.
— Me fode, com força. — Ela suplicou quando puxou o cabelo do marido.
Ele acenou em silêncio. Aquilo era uma ordem em seus ouvidos. A penetrou sentindo a cavidade apertada se abrir lentamente para recebê-lo e acomodá-lo até o fim. Amara entrelaçou as pernas em volta da cintura do marido, beijando-o de modo lascivo cada vez que o sentia o movimento de vai e vem. Thomas prendeu a mão na colcha da cama, como se aquilo servisse para aliviar a possessividade que sentia, mas não foi o que Amara permitiu.
Ela puxou a mão, colocando sobre o próprio pescoço, permitindo que ele apertasse. Thomas investiu mais fundo, completamente imerso em prazer enquanto a esposa se contorcia embaixo dele, abrindo as pernas para que o recebesse de modo confortável. Ele tremeu com a quantidade de prazer que estava recebendo, mas trocou de posição.
Amara foi para cima em um movimento tão rápido, mas não foi capaz de separá-los. Ela abriu os lábios, mas não emitiu nenhum som, era quase como se tivesse esquecido como se fazia isso. Thomas rangeu os dentes quando controlou os movimentos da mulher, apertando a cintura fina. Ela se moveu somente com a força das coxas, aumentando a velocidade das estocadas. Thomas ergueu o tronco, afundando a mão no cabelo da esposa, que começava a absorver o suor.
O olhar doloroso causado pelo puxão de cabelo apenas o deixou mais duro. Então a beijou com força, fazendo com que os dentes se chocassem brevemente. Se sentiam como dois animais selvagens. Era um sexo duro e quase enfurecido, mas gostavam assim. Aquele era um jeito peculiar de aliviar as emoções acumuladas durante o dia. O fogo parecia percorrer ambos os corpos em um ritmo eletrizante, explodindo em um clímax quase no mesmo instante. Apenas se soltaram quando os corpos protestaram de cansaço. No fim de tudo, ainda eram dois humanos saciando os desejos carnais da única maneira que conseguiam.
Cadê as teorias? Quero ler as teorias!
Capitulo postado dia (13/02/2022), não revisado.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro