⤷ capitulo XII
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|A Batalha|
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O sol ainda não havia nascido, mas o acampamento estava desperto, imerso no caos da preparação para uma guerra iminente. Enquanto observava a movimentação frenética dos guerreiros para o combate Nina pensou em sua casa, pelo menos seu pai e Tia Marta estavam seguros.
A menina sentia o peso das últimas horas em seus ombros, os olhos estavam inchados e vermelhos, e sua voz rouca depois de passar intermináveis horas explicando o que havia testemunhado na Mesa de Pedra, ela reviveu os horrores enquanto os narnianos escutavam. Nina se sentia vazia.
Suspirando ela sentiu um cutucar em seus ombros, era Edmundo. Ele lhe estendia um copo de água, com um sorriso singelo no rosto, o menino não estava acostumado a vê-la tão para baixo, Nina era radiante, mas a guerra pesava em todos, sem exceção. Grace sorriu, aceitando o copo em silêncio, aquele gesto simples aqueceu seu coração.
— Nina... — começou Edmundo, — você deveria voltar. — a loira bebeu mais um gole de água observando o moreno, ele parecia cansado. A voz do menino soou suave, mas a verdade é que queria a loira longe do perigo— Aqui não é mais seguro, você precisa encontrar Susana e Lúcia.
Pedro, que estava imerso na discussão das estratégias de batalha com os centauros, parou sua conversa para observar o diálogo entre os dois.
— Edmundo está certo, você deve encontrá-las, se tudo der certo nos encontraremos no fim da batalha, fez mais do que o suficiente vindo até aqui nos avisar. — O mais velho falou com seriedade, seus olhos azuis refletindo preocupação. Nina engoliu em seco, sussurrou baixinho sua preocupação, mas todos ouviram: "E se não der certo?"
Pedro respirou fundo antes de sorrir para ela, isso era o seu maior medo. Então ele se aproximou dos dois, que estavam sentados nas almofadas, e respondeu aos sussurros, com uma expressão muito séria:
— Então vocês terão que me prometer que vão voltar em segurança, Edmundo vai encontrar com as três e a sua flauta, Nina, vai mantê-los em segurança. Prometa-me...
— Vou manter elas seguras Pedro, mas não posso prometer que vou te abandonar ! — o sussurro de Nina saiu raivoso, refletindo o medo que sentia. Pedro se sentiu nervoso.
— Você é muito nova para uma batalha Nina, só tem doze anos.
— Ora, Edmundo tem a minha idade! — argumentou a loira, sua voz ainda rouca, "Ei, sou alguns meses mais velho!"— Shiu!
Pedro suspirou, tinha que mantê-los em segurança.
— Ele não vai lutar, ficará na retaguarda junto dos arqueiros. Por favor Nina, essa não é a questão, só... só encontre as minhas irmãs. — ele pediu, tentando transmitir a seriedade da situação. Ela soltou mais um suspiro resignado, sabia que ele tinha razão. Mas só concordou pois fizera uma promessa às meninas, prometeu que iria voltar. Levantando-se devagar da almofada ela foi em direção ao mais velho e abraçou Pedro com força.
— Fique vivo... — sussurrou para ele, e, sem esperar uma resposta, se afastou do abraço. Pedro com seus 16 anos tinha a coragem e a determinação de um bravo General, mas, ainda assim, parecia uma criança no uniforme de guerra. Nina sorriu tristemente para a situação, eles eram todos muito novos para uma batalha.
Então voltou-se para Edmundo, que a observava com uma expressão preocupada. Os olhos de Nina se marejaram antes de o abraçar, ela não sabia em que momento exatamente começou a se preocupar tanto com o moreno.
— Não chore, maluquinha — brincou Edmundo, tentando amenizar a tensão. — Não quero ir buscar mais um copo de água para você.
Nina riu, engolindo o choro enquanto olhava para Edmundo. Os olhos dele a encaravam com carinho, o cabelo preto estava bagunçado, seus olhos vermelhos devido ao pouco tempo que dormiu e o corte na boca não havia se cicatrizado por completo ainda, mas Nina o achou bonito na hora, muito bonito. Com uma súbita coragem, para o choque de todos na tenda, incluindo para a própria Nina, ela se aproximou da boca do menino, depositando nela um suave beijo, durou no máximo poucos segundos, um selinho quase infantil, desajeitado, mas com muito significado.
— Não se meta em confusões, rabugento — ela pediu, com um sorriso envergonhado, antes de se afastar. Edmundo estava boquiaberto, há quem diga que o menino ficou assim por horas, as bochechas queimando e vermelhas. Completamente atordoado, o estômago embrulhado com uma sensação que nunca havia sentindo antes. Pedro riu por alguns segundos, o único breve momento que se permitiu relaxar naquela fatídica manhã.
Com um aceno final, Nina partiu com pressa, sem olhar para trás. Correndo, ela atravessou a floresta escura, seus passos ecoando enquanto o sol começava a nascer no horizonte. Ofegante, ela se esforçava para alcançar a colina, as árvores pareciam abrir espaço para ela, entendendo a urgência da situação.
Ao passo que se aproximava da colina, seus passos ficaram carregados de pesar. Com o coração apertado, Nina se aproximou silenciosamente da Mesa de Pedra, onde Susana e Lúcia começavam a despertar. Ela se sentou junto às amigas, o silêncio da manhã envolvendo-as. Mas logo perceberam algo estranho acontecendo ao redor do corpo imóvel de Aslam. Centenas de criaturas cinzentas, movendo-se sobre o corpo do leão. Inicialmente, elas tentaram os afastar, mas notava do o que faziam elas só observaram em silêncio quando pouco a pouco, os ratos roíam as cordas que o aprisionavam, sua expressão parecia mais serena.
No bosque, atrás delas, ouviram passarinhos cantar. Durante horas, o silêncio tinha sido tão completo que as meninas pularam de susto. Envolvida pela melodia suave, Nina sentiu a tensão dissipar-se do seu corpo. Mas a calmaria ao redor pareceu lhe lembrar de algo que estava ignorando, um frio terrível penetrava seus ossos.
— Estou morrendo de frio... —confessou Nina, seus dentes batendo de leve. Susana concordou com um aceno.
— Eu também. E se a gente andasse um pouquinho ? — sugeriu Lúcia, esfregando suas mãos.
As três se abraçaram, buscando calor e apoio uma nas outras, e levantando-se com dificuldade. Mal conseguiram dar alguns passos quando, de repente, um estrondo assustador. Nina lembrou do som de um prato se partindo ao meio, mas dessa vez só poderia ter sido um prato gigante. As meninas se viraram alarmadas, observando em choque a Mesa de Pedra: estava partida em duas por uma grande fenda, que ia de lado a lado.
— Cadê o Aslam? — a pergunta de Lúcia ecoou o questionamento das três ao verem a mesa vazia. Elas se aproximaram lentamente.
— Como é possível..? — Nina sussurrou, tocando na grande rachadura. Não demorou muito para uma sensação quentinha preencher as três, fazendo com que olhassem para cima.
No topo da colina, em toda a sua grandiosidade, estava Aslam, a juba voando ao vento. As três exclamaram de surpresa e de alegria, correndo até ele. Ao o alcançarem, não puderam conter as lágrimas que inundaram seus olhos. Num gestos de puro amor, elas se jogaram no Leão, abraçando-o com força como se nunca mais quisessem soltá-lo.
— Mas nós vimos o punhal... a feiticeira... — começou Susana, sua voz embargada pela emoção.
— A feiticeira pode conhecer a Magia Profunda, mas desconhece de outra mais profunda ainda, crianças. —Aslam explicou suavemente. — Sob os sete ventos deste mundo, sussurrou-se que se uma vítima voluntária, inocente de traição, fosse executada no lugar de um traidor, a mesa estalaria e a própria morte poderia ser revogada e assim foi feito.
Nina se arrepiou com a magnitude da verdade, Aslam era um ser de alma pura, cheio de astúcia e sabedoria, livrando Edmundo de um destino cruel. O Leão renasceu, mas os outros não sabiam disso, os outros marchavam rumo ao campo de batalha.
Portanto, Nina sussurrou com lamento, a realidade pesando sobre ela: — Eu fui avisar de sua morte... Pedro e Edmundo já foram para guerra.
A atmosfera ao redor pesou com as palavras da menina, o clima de reencontro evaporou e a angústia preencheu o coração das meninas.
— Iremos ajudá-los. — Aslam tranquilizou-as com serenidade. — Mas precisamos de reforços. Subam em minhas costas, o caminho é longo mas nosso tempo é curto... tampem os ouvidos, crianças.
Elas obedeceram prontamente, cobrindo os ouvidos enquanto se preparavam para o rugido. Quando Aslam abriu a boca e seu rugido ressoou pela floresta, as árvores curvaram-se diante de sua majestade. As meninas se acomodaram sobre as costas do Leão, agarrando-se a juba dourada.
Com um salto poderoso, Aslam partiu, e Nina sentiu como se estivessem voando. O vento cortada seu rosto enquanto ela se segurava firme, uma sensação de liberdade. Do alto da vertente escarpada, as meninas vislumbraram um castelo distante. Suas torres se destacavam contra o céu, mas à medida que Aslam descia a encosta em alta velocidade, o castelo crescia em proporções. Era o palácio da Feiticeira Branca.
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Lá dentro, a atmosfera era gélida e tensa. Milhares de estátuas de pedra pareciam adornar o local, uma coleção de vítimas petrificadas. A loira engoliu em seco, se sentindo enjoada com as expressões de medo sobre as criaturas. Ao passo que adentravam o castelo, o silêncio pairava como uma cortina pesada, interrompido apenas pelo eco de seus passos. Todos tinham ido para a batalha, eles estavam sozinhos.
Nina observou com expectativa quando Aslam se aproximou da estátua de uma águia e soprou suavemente sobre ela. Inicialmente, nada parecia acontecer, e a estátua parecia imóvel, tão rígida quanto antes. No entanto, após alguns segundos, algo mágico começou a acontecer. Um leve tremor percorreu o corpo de pedra, como se estivesse despertando de um longo sono. Gradualmente, a cor cinza de mármore começou a se transformar, cedendo lugar a penas macias e brilhantes. Os olhos antes fixos e vazios ganharam um brilho vivido, as asas, antes estáticas, começaram a se mover. Finalmente, a águia deu um pequeno salto e saiu voando assustado e alegre. Nina soltou a respiração que não percebeu que segurava, era como testemunhar um milagre.
— Nina... — chamou o Leão, ela virou-se para olhá-lo. — O que acha de tocar uma melodia? As criaturas vão acordar agitadas.
Nina sorriu, levando seus instrumentos aos lábios enquanto se preparava para tocar uma melodia. Suas notas fluíram suavemente pelo ar, ecoando pelo salão frio do castelo. À medida que Aslam soprava vida sobre as estátuas, elas despertavam lentamente, sobre o som de uma música alegre. Suas notas melodiosas acalmavam os corações agitados, trazendo paz para aqueles que há tanto tempo estiveram presos em estado de torpor.
Com o tempo, criaturas de todas as formas, cores e tamanhos dançavam ao seu redor, o pátio estava repleto de vida. Enquanto isso, Susana e Lúcia corriam por todo o castelo em busca de mais estátuas petrificadas.
— Depressa, depressa! — exclamou Lúcia, com urgência. — Achei o Sr. Tumnus.
Nina se aproximou emocionada e testemunhou o abraço entre seus amigos, a expressão de alívio estampada em seus rostos. Aos poucos, a menina parou a melodia, pondo de lado a flauta para correr até seu amigo fauno.
— Sr. Tumnus! — Nina o envolveu em um abraço, sorrindo alegremente. Em seguida, foi a vez de Susana. Antes que mais palavras pudessem ser ditas, Aslam se aproximou com um exército de milhares de criaturas ao seu encalço.
— O dia ainda não acabou. Se quisermos derrotar para sempre a feiticeira antes de anoitecer, teremos de encontrar já o campo de batalha — Aslam explicou com determinação, as criaturas urraram com as palavras.
Todos concordaram, saindo apressados do castelo. Nina sabia que jamais se esqueceria o som de milhares de criaturas correndo em uníssono. Era como uma caçada, porém muito, muito, maior. O rugido de Aslam ecoava poderosamente, impulsionando-os para frente. Ao passo que se aproximavam da última curva, um ruído se destacava entre os outros: gritos, uivos e o choque de metal contra metal. Eles haviam chegado à batalha.
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As três desmontaram de Aslam, observando o campo de batalha. Estátuas petrificadas estavam espalhadas por toda parte, testemunhas silenciosas do poder da feiticeira. Agora, porém, ela não lutava com sua vara, mas sim com um facão de pedra, em um embate feroz com Pedro. Onde estava Edmundo, pensou. A fúria dos dois era tão intensa que Nina mal conseguia acompanhar seus movimentos. O facão e a espada se cruzavam com uma rapidez assustadora. O confronto acontecia no centro do campo de batalha, cercados por fileiras de combatentes de ambos os lados.
Susana, ao seu lado, sacou seu arco e flecha preparando-se para ajudar na luta. Nina sentiu um breve momento de nervosismo, mas logo puxou sua flauta aos lábios. Mesmo que não pudesse deter diretamente o inimigo, poderia pelo menos desacelerá-los e confundi-los. E assim, a melodia começou a fluir pelo campo, se misturando com os gritos e click de metais, ao mesmo tempo que um rugido fez tremer a terra de Nárnia, do lampião às praias do Mar Oriente, Aslam se atirou na Feiticeira Branca. O exausto exército exultou com o reforço, e os inimigos guincharam, criando um estrépito no bosque. Nina fechou os olhos por um momento, absorvendo a cena violenta que se desenrolava diante dela.
Jadis estava morta.
Não demorou muito para que o campo de batalha ficasse em silêncio, o exército inimigo derrotado, enquanto a música de Nina parecia cantar vitória. No entanto, a melodia cessou abruptamente quando as meninas correram até Pedro, que gritava nervoso:
— Edmundo foi até a feiticeira, não consegui impedi-lo, ele destruiu a varinha mágica. Foi crucial.... depois disso mais nenhuma criatura foi petrificada, mas... — O coração de Nina deu um nó ao ouvir as palavras de Pedro, um calafrio percorreu sua espinha enquanto ele descrevia, com a voz embargada, o sacrifício de Edmundo. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela correu junto aos outros até o local que Pedro apontava. Ao se aproximar, o corpo de Edmundo coberto de sangue fez com que seu coração se apertasse mais ainda.
Por um momento, ela se sentiu petrificada, com um esforço tremendo, Nina conseguiu se mover, correndo até Edmundo enquanto lágrimas escorriam de seus olhos. Cada passo era uma luta contra o desespero que ameaçava consumi-la. Ela chegou ao lado dele e se ajoelhou, segurando sua mão com ternura, enquanto seus irmãos se jogavam sobre seu corpo frio e choravam. O menino respirava com dificuldade, seu rosto pálido e frágil contrastando com o vermelho do sangue que o cobria, ele segurava uma ferida perto de seu coração.
Nina notou as mãos trêmulas de Lúcia enquanto ela tirava de seu cinto um pequeno frasco. As mãos da mais nova tremiam tanto que ela mal conseguia abrir o vidrinho. Quando finalmente tirou a rolha, deixou cair umas gotas do líquido rosado nos lábios do irmão.
Nina prendeu a respiração, esperando que algo acontecesse. De repente, magicamente, a cor de Edmundo voltou às bochechas e ele começou a respirar com tranquilidade, abrindo os olhos lentamente. A menina deu espaço para que os irmãos se abraçassem, mas continuou segurando a mão do menino, sorrindo aliviada. Antes que a loira pudesse se afastar, Edmundo lhe puxou para si, abraçando-a com força, seu coração pulsando rápido e o estômago mais uma vez embrulhado. Nina era como o sol e, quando pensou que ia morrer, acreditem, Edmundo jurou que não contaria isso para ninguém (sinta-se privilegiado caro leitor), mas quando a feiticeira o acertou... ele lembrou-se do sorriso da loira e isso fez com que lutasse para continuar vivo. Eles foram interrompidos pela voz de Aslam:
— Há outros feridos — disse Aslam, enquanto as crianças se afastavam do abraço. Lúcia ainda encarava Edmundo com os olhos marejados.
— Filha de Eva... há criaturas morrendo. — Lúcia pareceu despertar com o sussurro de Aslam. — Grace, acompanhe-a, os narnianos acordarão assustados. Deixem que Edmundo se recupere.
Com muita dificuldade, a loira largou a mão do moreno, depositando um beijo em sua bochecha enquanto ria de alegria. A bochecha de ambos pegaram fogo, envergonhados.
Lúcia e Nina se levantaram apressadas e correram atrás de Aslam. Realmente o campo estava cheio de feridos, algumas estátuas e o sentimento ruim parecia o preencher. Aos poucos o Leão soprava vida sobre as estátuas, em seu alcanço estava Lúcia, curando os feridos, e Nina os acompanhava com uma melodia suave, trazendo paz aos aflitos. Era uma cena bonita e mágica, as crianças com o Leão.
Depois de pingar umas gotas em um fauno ferido, Lúcia levantou o olhar olhando para a loira em sua frente, um sorriso travesso no rosto da mais nova:
— Você beijou Edmundo. — afirmou Lúcia, rindo da cara da amiga. Nina levantou uma sobrancelha em sua direção — E está toda vermelhinha!
Nina a encarou com uma careta, não conseguindo respondes enquanto ainda tocava uma suave melodia na flauta. Por um segundo, ela errou as notas com a provocação, mas rapidamente retomou o controle. Lúcia continuou rindo, enquanto cantalorava: "Nina e Edmundo sentandos em uma árvore... se.. beijandoo". A loira correu atrás da mais nova, enquanto sentia um peso sair de suas costas, depois de tanta aflição ela se sentia genuinamente feliz.
A batalha chegou ao fim.
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i. Arrepiante, caros leitores! .•*
ii. Não seja um leitor fantasma, apoie a história com algum comentário e um voto ⭐️.
Joy
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