⤷ capitulo VII
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|A Profecia de Aslam|
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O bosque parecia cada vez mais congelado a medida que os irmãos, juntamente a Nina, seguiam o pássaro. Lúcia os liderava, segurando a mão de seu irmão mais velho, animada para sua aventura. Susana os seguia apressada, com um milhão de pensamentos em sua mente. Nina havia diminuído seu ritmo e alcançou Edmundo, que ficou para trás ao caminhar lentamente, os seguindo com uma expressão rabugenta e as bochechas coradas pelo frio.
— Edmundo, posso te fazer uma pergunta? — A loira foi cautelosa, eles não tinham a relação mais amigável de todas, mas a garota se sentia incomodada, com uma pulga atrás de sua orelha. Edmundo apenas arqueou sua sobrancelha.
— O que foi, Kirke? — A realidade é que a pergunta o tirou de seus pensamentos. Precisava descobrir a direção do castelo... ele havia feito uma promessa e iria cumpri-la.
— Aquele dia... em que nos encontramos aqui. — Edmundo desviou do olhar inquieto da loira. — Eu visitei o fauno Tumnus com a sua irmã, mas não consigo parar de pensar... então o que foi que você fez? Para onde foi?
O Pevensie apressou os passos, evitando os olhos da menina, no entanto respondeu em alto e bom tom.
— Não sei se você percebeu Nina, mas Nárnia é bem grandinha. — A resposta foi irônica, mas ela persistiu. — Caminhei pelo bosque e vocês me encontraram, só isso. Não que isso lhe convenha, eu não devo explicações à você.
Nina não acreditou no menino, mas apenas assentiu. O bosque estava silencioso, só se ouvia os passos apressados das crianças. Ela não iria o pressionar mais ainda sobre aquele assunto, mas isso não significava que iria parar de conversar, aquela floresta lhe dava calafrios, precisava se distrair.
— Como foi... quando você entrou em Nárnia pela primeira vez ? — Edmundo resmungou impaciente ao ouvir a menina, Kirke estava fazendo muitas perguntas. Porém ele estava entediado e resolveu responder.
— Frio, como mais poderia ser? Aqui está sempre frio — a loira riu e o menino a observou confuso, ele não havia feito nenhum comentário engraçado.
— Você é bem vago, Edmundo Pevensie. Pois saiba que, quando eu entrei foi incrível, eu já ouvia escutado algumas histórias sobre um mundo mágico... mas quando Lúcia falou sobre... sobre aqui, eu desejei tanto que fosse real e.. — antes que Nina pudesse continuar sua história, Edmundo parou abruptamente.
— Como assim você já havia escutado histórias de um mundo mágico? — a pergunta saiu quase como uma acusação e Nina divagou por um momento lembrando das histórias de seu pai e de tia Polly. Antes que ela pudesse responder ao questionamento, houve um grito.
Edmundo e Nina desviaram seus olhos para Lúcia.
— Sumiu! O pintarroxo sumiu, o perdi de vista. — a mais nova virou-se aflita.
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Depois de um breve silêncio entre o grupo, Edmundo andou uns passos em direção a Pedro.
— Oh não... o que será que faremos agora? — a pergunta cheia de ironia foi feita por Edmundo, que encarava seu irmão mais velho com um olhar de "Eu avisei".
Antes que qualquer um pudesse reagir, houve um farfalhar de folhas. Pevensie e Kirke se aproximaram mais, instintivamente, uns aos outros.
— Olhem ali... — sussurrou Susana, apontando para um arbusto— Tem uma coisa se mexendo, no meio das árvores. Logo ali.
Olharam todos com atenção, desconfiados. Nina engoliu em seco, derrepente muito nervosa e consciente dos perigos ao seu redor... e se fosse a polícia?
Pedro tomou a frente, se aproximando devagar do arbusto.
— Acho que não quer ser visto. — a afirmação pareceu óbvia. — Pst.. pst!
Em um pulo, um animal saiu de entre os arbustos, assustando-os. Lúcia gritou, Susana ficou branca como neve, Pedro quase caiu, Edmundo se encolheu e Nina piscou algumas vezes, um reflexo, observando o ser na sua frente: focinho peludo, grandes bigodes, parecia espreita-los por detrás das árvores. Curiosamente, não fugiu. Na realidade, levou a pata até a boca como fazem as pessoas quando pedem silêncio.
Pedro aproximou-se novamente, tentando acariciar o castor, levantou sua mão lentamente em direção ao ser. O castor pareceu confuso.
— Meu rapaz, não irei cheirar sua mão... se é isso o que deseja— a afirmação foi casual, feita em uma voz tipicamente humana, o que fez com que todos arfassem. O queixo de Nina caiu, presenciando o que um dia pareceu impossível. — Me desculpe... — falou Pedro com os olhos ainda arregalados. Um mundo verdadeiramente curioso esse no qual pisava, pensou o menino.
O castor observou o grupo em sua frente, parando os olhos na menor.
— Lúcia Pevensie? — O Sr. Castor questionou, virando sua cabeça em dúvida. A menina assentiu, aproximando-se dele. O castor estendeu a ela um delicado pano, Nina tinha a impressão que já havia o visto antes.
Nina se aproximou, assim como os outros, para observar a cena.
— Esse é o paninho que eu dei ao senhor Tumnos... — a menina sussurrou.
O castor desviou o olhar, assentindo. Ele parecia tão arrasado quanto Lúcia.
— Ele me entregou, antes de o levarem... — o castor pareceu aflito e virou-se, como se fosse sair dali— Sigam-me... rápido.
E ele desapareceu. Não precisou de muito para que Nina, Pedro e Lúcia caminhassem um passo em sua direção, antes de serem parados por Susana.
— Agora vamos seguir um castor !? Por favor, que tal voltarmos... já deve estar na hora de jantar— a morena choramingou, ela estava nervosa, sussurrava seus receios aos irmãos.
Edmundo aproveitou-se para comentar.
— Concordo, nem sabemos se ele é confiável. — Nina o observou, ele parecia agitado.
Os irmãos e a Kirke levantaram o olhar, o castor, agora já atrás das árvores, acenava para eles o seguirem.
— Venham, ele conhece o fauno!— Pedro comandou. — Vamos ver no que vai dar, não deve haver muito perigo... é só um castor.
Susana suspirou, mas concordou. As crianças, então, prosseguiram caminho, todos muito juntos. Um escudo em meio a tanto gelo.
— Mais para frente, mais para frente! Ali na clareira era meio perigoso. — o ser falante explicou simplesmente.
Lúcia concordou, sussurrando para seus companheiros:
— As árvores escutam! — Nina tremeu, lembrando das histórias de Tumnus. Pobre, Sr. Tumnus.
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Caminharam um pouco mais, até se aproximarem de um grande ninho, feito por madeiras. Um dique de castores. Era majestoso, seria quase real, não mágico, se não fosse pela chaminé e a porta que adornava aquele habitat tão natural. Estava coberto de gelo, mesmo com o calor que emanava do abrigo. As crianças observaram, mais uma vez fascinadas.
— Que gracinha! — comentou Lúcia, sorrindo para o Sr. Castor. O ser estufou o peito e sorriu orgulhoso.
— Sim, sim... o dique está quase pronto! — explicou se aproximando de sua casa. — Deu uma trabalheira danada que vocês não imaginam.
Nina sorriu para o castor, ele era uma figura muito simpática. Todos desceram o pequeno morro até chegarem a porta do ninho. Em sua espera havia um outro castor, que observava tudo com alegria.
— Crianças, entrem por favor... a Sra. Castor os espera. — ele sorriu, abrindo a pequena porta, convidando eles para dentro.
Nina se abaixou bem, a porta era minúscula, ao se encolher apropriadamente a loira passou. Seus olhos piscaram, acostumando-se com a luz interna, a Sra. Castor estava perto de um fogão a lenha, e sorriu emocianada ao ver os convidados.
— Chegamos, querida! — anunciou o Sr. Castor e ela sorriu. Saiu de perto do fogão e puxou as cadeiras para que as crianças se acomodassem à mesa.
— Finalmente! — disse ela, juntando as patas enrugadas. — E pensar que eu ainda iria viver para ver este dia! As batatas estão cozinhando, será que o Sr. Castor poderia arranjar uns peixinhos?
Nina se sentia dentro de um conto de fadas, observando os móveis em miniatura enquanto Pedro e o Sr. Castor saíram em busca dos peixes. Prontamente as meninas ofereceram ajuda a Sr. Castor.
— A senhora tem um belo dique — Nina sorriu enquanto descascava as batatas. Era realmente adorável, principalmente com o cheiro do delicioso jantar, mas era, de fato, muito diferente da caverna de Tumnus, não haviam livros, nem pinturas. A barriga das meninas roncou, bem na hora que os peixes chegaram.
Cada um puxou o banquinho e sentaram-se observando o banquete a sua frente. Após a Sra. Castor terminar de fritar os peixes, todos se serviram, saboreando o alimento fresco. Depois de algum tempo, quando todos já estavam satisfeitos, Lúcia fez seu questionamento.
— O que aconteceu ao Sr. Tumnus? — pediu Lú.
A loira observou a feição entristecida dos castores.
— Não há dúvida que foi levado pela polícia, quem me contou foi um passarinho que assistiu a cena. Uma triste história.
Susana ergueu a sobrancelha, tomada por curiosidade.
— Mas para onde é que o levaram afinal?
— Bem, iam em direção ao norte, quando o viram pela última vez — a Sra. Castor se levantou para recolher os pratos. — Infelizmente, todos sabemos o que isso significa.
Nina o interrompeu.
— Nós não sabemos... — a loira sussurrou observando a expressão sombria do Sr. Castor.
— Ele está na casa dela, no Castelo. — Nina ergueu a sobrancelha. — São poucos os que entram lá e de lá conseguem sair. Estátuas! Dizem que está tudo cheio de pedra. Seres que ela transformou... — o castor estremeceu— Seres que ela transformou em estátuas de pedra.
A atmosfera de repente estava muito mais fria, Nina sentiu seu corpo todo se arrepiar. Tinham que ajudar o pobre fauno.
— Mas... Sr. Castor, não podemos... quero dizer, temos de fazer algo para salvá-lo. É tão terrível... e é por minha culpa! — Lúcia sussurrou aflita.
Nina segurou a mão de Lú, ela também tinha culpa. Haviam confraternizado com o fauno e agora ele estava preso.
— Acalmem-se... ainda há esperança! Ainda há esperança filhas de Eva.— disse a Sra. Castor, o Sr. Castor deu um último gole em sua cerveja concordando animadamente.
— Claro que há, Aslam está a caminho!
Nina piscou, sentindo os braços se arrepiarem, era uma sensação reconfortante, era um nome bastante poderoso, podia sentir. Edmundo que até então não havia dito uma única palavra, manifestou-se. O nome havia feito seu estômago embrulhar.
— E quem seria esse Aslam? — a pergunta pareceu muito engraçada aos olhos dos castores que começaram a rir. Ou melhor, a gargalhar. Os olhos dos demais brilharam em curiosidade, o nome os preenchia com um sentimento bom.
— Vocês realmente não sabem? — exclamou o Sr. Castor, depositando seu copo de cerveja, agora vazio, na mesa.
— Não estamos aqui a muito tempo... — defendeu Pedro. O castor assentiu e suspirou como se estivesse se preparando para uma importante história.
— Aslam é o rei. O verdadeiro Senhor dos Bosques, embora esteja há muito tempo ausente. Desde o tempo de meu avô, na realidade. Agora chegou notícia de que ele vai voltar, que já está em Nárnia formando acampamento. Ele dará um jeito na Feiticeira Branca e Tumnus será salvo. Todos nós seremos salvos.
Edmundo ainda não parecia convencido de sua grandiosidade, portanto prosseguiu.
— E se a feiticeira o transformar em pedra antes? — Os castores gargalharam novamente.
— Transformar ASLAM em pedra? Duvido que ela tenha a força de o encarar nos olhos, filho de Adão. Aslam vai botar as coisas nos eixos, ele os aguarda.
Nina encarou o castor boquiaberta, os irmãos não estavam muito diferentes.
— Nos esperando...? — o sussurro confuso de Lúcia pareceu o estopim para o pobre castor.
— Escutem... a profecia vai os iluminar, é um velho poema cantado de geração em geração:
O mal será bem quando Aslam chegar,
Ao seu rugido, a dor fugirá,
Nos seus dentes, o inverno morrerá,
Na sua juba, a flor há de voltar.
— Quando vocês virem Aslam, entenderão tudo! — afirmou a Sra. Castor. As crianças pareciam ainda mais confusas, estavam tão perdidas em pensamentos que não notaram a ausência de um Pevensie.
Nina travava uma batalha em seus pensamentos, Aslam? Profecia? Mesa de pedra?
— E iremos vê-lo um dia ? — questionou Susana. Ela se sentia a cada hora mais nervosa. Nem um mundo escapava da guerra. O castor sorriu.
— Mas é claro, filha de Eva. Foi para isso que eu os trouxa aqui, vou guia-los até ele... Aslam os espera!— proclamou simplesmente.
As crianças se entreolharam, o Rei de Nárnia os esperava por que?
— E Aslam é um homem? — perguntou Pedro.
— Homem? Aslam não é um homem, meu jovem — sorriu o Sr. castor — Ele é o Senhor dos Bosques, o Rei da floresta... ele é um Leão... O Leão.
— E só ele pode ajudar o fauno? — perguntou o Pevensie admirado.
— Aslam é a nossa esperança — Sr. Castor disse enquanto segurava a pata de sua esposa. — Mas vocês são de igual importância, filhos de Adão e Eva.... como eu disse... ele os espera.
Quando a carne de Adão,
Quando o osso de Adão,
Em Cair Parável,
No Trono sentar,
Então há de chegar
Ao fim a aflição.
— Por isso que ele já chegou — prosseguiu o castor— E vocês também chegaram, tudo se encaminha para o fim.
— Que fim? — Nina sussurrou. A Sra. Castor sorriu bondosamente para a loira.
— É que existe uma outra profecia. Lá embaixo, em Cair Parável, lá existem cinco tronos. Há quem afirme que, quando dois Filhos de Adão e três Filhas de Eva se sentarem nos cinco tronos, então será o fim, o fim da feiticeira e de seu reinado de gelo. Vocês irão derrotar a Feiticeira Branca, restaurando a nossa paz!
O Sr. Castor continuou, sorrindo para sua esposa. Suspirando, olhou para as crianças.
— Foi por isso que fui cauteloso... se ela souber que estão aqui, correrão um perigo enorme. Ela tem ouvidos em todos os lugares... espiões que trabalham para ela. Mas Aslam os aguarda, juntamente a um exército.
Susana se levantou abruptamente. Ela não permitiria que sua família nem que sua amiga estivessem em perigo.
— Acho que já ouvimos o suficiente, somos só crianças! — a menina agarrou Lúcia, levantando-a da cadeira. — Agradeço a hospitalidade, mas temos que voltar para casa...
— Os senhores devem ter nos confundido, não somos heróis... — falou o mais velho, enquanto Susana concordava.
— Somos de Flinchley e Nina deve retornar ao pai! — exclamou a mais velha. Os castores se entreolharam preocupados.
Grace engoliu em seco, Nárnia era um mundo perigoso, mas seu pai sabia disso. Contudo ele havia lhe contado histórias, do dia em que ainda havia paz.
— Mas o Senhor Tumnus! — Lúcia se agarrou a Nina que parecia absorta em pensamentos.
— Susana está certa Lúcia, mamãe não nos tirou da guerra para que caíssemos em outra... vamos Nina— o mais velho gentilmente pousou a mão em seu ombro e virou-se confuso.
— Onde está Edmundo? Ed!— os olhares cruzaram a sala em busca do menino.
Pedro respirou fundo, fechando os olhos. Um silêncio terrível.
— Quem foi o último a vê-lo? — Nina sussurrou nervosamente, havia gastado os últimos minutos absorta nas histórias dos castores, assim como todo mundo aqui.
Correram todos para a porta. Lá fora, a neve caía, não se podia enxergar nada muito além do que singelos metros a frente. Era um inferno congelado, Edmundo estava fora de vista.
— EDMUNDO! — o grito repentino de Lúcia assustou alguns pássaros próximos que voaram para longe.
— SHIUUUUUU criança. — o castor se jogou em frente aos humanos desesperados. "Temos que procurá-ló", insistiu Pedro— Procurar? Filho de Adão, seu irmão não está perdido. Digam-me essa não foi sua primeira visita a Nárnia, ou foi?
Nina observou o castor atentamente, as engrenagens em sua mente trabalhando... "Oh não", pensou. Susana e Pedro observavam a situação confusos.
— Não estão entendendo? Foi encontrar-se com ela, a Feiticeira Branca. Traiu-nos. Ele a visitou da última vez.
Lúcia soluçou enquanto Pedro começou a dar passos firmes na direção do distante Castelo.
— Vou ir buscar ele então. — antes que pudesse prosseguir mais ainda o castor segurou seu pulso firmemente. — Me largue, se algo acontecer a culpa será minha. Ele é nosso irmão, um pouco imbecil, mas ainda assim nosso irmão. E, pensando bem, apenas uma criança.
Lúcia estava chorosa, aflita, segurava os braços de sua irmã em busca de consolo.
— Pedro está certo, não podemos simplesmente abandoná-lo! — A voz de Nina foi firme, mas seu corpo tremia, não tinha certeza se era por conta do frio.
O castor observou a situação tristemente.
— Ela irá os matar, compreendem isso? Vocês ameaçam seu reinado. É a profecia, agora ela já tem um dos cinco. A feiticeira fará de tudo para chegar até vocês... não posso... não posso permitir.— sussurrou o Sr. Castor.
Susana estava com lágrimas nos olhos.
— O que sugere então? — a Pevensie mais velha só queria voltar para casa, em segurança, junto a seus irmãos, junto a Nina.
Todos olhavam o castor com expectativa.
— Só Aslam pode salvar seu irmão agora, filha de Eva.— Nina estremeceu ainda mais com a gravidade da situação. Edmundo havia conhecido Jadis, enquanto ela e Lúcia tomavam chá com Tumnus. E agora ele estava em perigo.
O grupo se entreolhou, todos em concordância mútua e silenciosa.
— Então nos leve até Aslam, senhor.
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i. Ai, ai esse Edmundo. O que não fazemos por um docinho? .•*
ii. Não seja um leitor fantasma, apoie a história com algum comentário e um voto ⭐️
Joy
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