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║🎃 - Parte II

— HALLOWEEN SPECIAL —
SCREAM: Sombras do Passado

II. FRAGMENTOS DE MEMÓRIA

     Millie fica levemente trêmula enquanto aperta o papel em sua mão, a respiração ofegante tentando raciocinar as palavras que estão expostas ali enquanto reverberam em sua mente, junto com lembranças do passado.

   Ela se lembra dos gritos, da correria, do instante em que os policiais apareceram em sua casa com o mandato de prisão, a crise de pânico que subiu por seu corpo enquanto via os pais sendo algemados, mal conseguindo encará-la. Suas lágrimas começaram a cair, seu corpo começou a tremer, ela viu a casa sendo revirada e então sentiu o toque no seu braço.

— Aqui, vem. — Ele a chamou. Marcus também parecia abalado, mas sempre a olhava com um olhar tranquilizador, os olhos verdes tão assustados quanto os dela, mas firmes

   Millie chorou nos braços do irmão, no canto da sala de estar, o rosto escondido no peito dele se negando a ouvir tudo o que acontecia no exterior. Mark acariciou os cabelos dela a todo momento, dizendo que estava ali, que nada mais importava, pois ele estaria ali, ele sempre estaria ali para ela.

   E agora...

   No presente, Millie escorregou até o chão aos pés do armário, apertando mais forte o bilhete enquanto sentia seu coração palpitar, as lágrimas escorrendo.

   Quem mandara isso?

   Por que estavam fazendo isso com ela?

    Por que agora?

    Quem matou o seu irmão? E por quê? Por quê?

— Você chegou tarde. — Draco murmurou quando viu a porta sendo aberta tempos mais tarde — Passei toda a manhã fora em busca de trabalho, mas... por favor, não fica brava, devo me sair melhor amanhã. Ah, e fiz sopa de legumes. Você tá com fome, né?

   A garota removeu os sapatos, não tinha resquícios de lágrimas no rosto, mas ela continuava abalada, o que não demorou para o primo perceber. Ele se remexeu no sofá pequeno e a encarou, um cigarro entre os dedos.

— Millie, tá tudo bem?

   Normalmente ela teria reclamado do cigarro, ele havia perdido o emprego e ainda continuava gastando com vícios, mas não, a mente dela estava longe.

— Você tá me deixando preocupado. Millie, o que aconteceu?

   Ela suspirou fundo e tirou o bilhete do bolso, logo o entregando.

— Que é isso? — Ele olhou confuso

— Estava no meu armário na locadora. — Ela contou e desviou o olhar — Alguém deixou lá.

   Draco desdobrou o papel e o leu, sua feição mudando enquanto absorvia o que estava escrito ali.

— Parece uma brincadeira de mal gosto.

— Não parece uma brincadeira. — Millie suspirou, o tom trêmulo quando se sentou no braço do sofá que o primo estava — Você não vê? Alguém matou o Mark!

— A polícia disse que foi um acidente.

— A merda da polícia nunca pesquisou a fundo o que realmente aconteceu e você sabe bem disso! — Ela se levanta, a voz ainda mais trêmula

— Millie, você não tá mesmo achando que esse bilhete é sério, né?

   Millie puxa o bilhete das mãos de Draco, impaciente.

— Eu só quero saber! Eu preciso... — E sua voz desce um tom — preciso saber o que aconteceu com o meu irmão.

— Millie. — Draco se levantou e segurou os ombros dela, usando todo o cuidado do mundo — O Mark morreu, não podemos fazer mais nada.

— Mataram ele. — Ela insiste, as lágrimas agora caindo — Mataram ele.

   O loiro puxa a prima para um forte abraço, deixando que ela chore ali tudo quanto tem vontade, ele a aperta forte contra o peito e mexe carinhosamente no seu cabelo.

— Eu tô aqui, Millie. Tudo vai ficar bem.

   Millie assentiu e suspirou, tentando se acalmar, mas mesmo enquanto jantava mais tarde naquela noite e depois tomava um banho pra se preparar para dormir, ela não conseguia parar de pensar nele.

   Foi difícil trabalhar no dia seguinte. A concentração de Millie estava muito distante, mesmo que precisasse se concentrar no que ouvia, como quando duas adolescentes que deveriam estar no último ou penúltimo ano do ensino médio apareceram na locadora.

— Filme de terror? — Millie questiona enquanto as atende. Uma das garotas tinha cabelo loiro e comprido, um sorriso vibrante, parecendo mais empolgada com a ideia do que a amiga de cabelos castanhos ondulados e medianos, usando uma blusa curta com estampa de diferentes espécies de dinossauros

— Sim. Terror slasher. — Afirma a loira

   Millie sai do seu balcão enquanto segue na frente das meninas até o corredor de terror.

Blue. Não seria melhor a gente ver um romance? — Cochicha a garota de cabelos castanhos

— Romance no Halloween?! Pelo amor de Deus, né?

— Mas ainda faltam cinco dias para o Halloween.

   Millie solta uma risadinha discreta assim que para na seção de terror. A também seção que menos a atrai naquele lugar, sinceramente, aquele gênero já estava tão batido. Ela observa as capas horrendas, já imaginando que as meninas vão pedir alguma recomendação.

   E, como esperado:

— Você tem algum pra nos recomendar?

   Millie suspira, mas sorri, com simpatia.

— Já viram a trilogia de "Boneco Assassino"? — Pergunta docemente enquanto aponta para a linha de fitas que mostrava aquele horrendo boneco ruivo de sardas e cicatrizes. Millie gostava de o chamar de Rony, combina com Chucky

— Já. — A loira responde — Parece mais comédia do que terror.

— Okay. — Millie assente — E que tal "Halloween"? Michael Myers é um clássico, não é? É uma franquia de sucesso.

— Se torna enjoativo dois anos seguidos. — Retruca a garota — Assim como "A Hora do Pesadelo", "Sexta-feira 13" e "O Massacre da Serra Elétrica".

  Certo. Fregueses difíceis e que gostam do terror. Cadê a Marietta quando se precisa dela? Ela sim é uma mestre do horror, Millie nem gosta desses filmes, mas Marietta está almoçando agora, Virginia está ocupada e Comárc, bom, Comárc é melhor manter bem longe.

— A maioria desses filmes são clássicos. — A loira suspirou — Aquele terror slasher tradicional, temos um assassino, com uma arma, seja qual for, mas que não seja um gancho de carne... "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado" é bizarro de tão ruim, mas bom... um assassino, uma arma, correndo atrás de um grupo de amigos. Assim como mortes tradicionais, todos sabem o que não devem fazer e mesmo assim eles fazem. Sabe, as regras do terror. Não se separem, não vá a um porão ou sótão sozinho, não se tranque em uma sala, não suba uma escada, não transem, e, em hipótese alguma, atenda uma ligação.

— Você entende de terror. — Millie sorri

— É, eu gosto um pouco.

— Por isso deveríamos ver um romance. — A amiga retruca

— Meu Deus, deixa de ser medrosa. É Halloween.

— Quase.

   Millie olha novamente para as fitas expostas.

— Já assistiu "Pânico"? É um terror slasher novo. Ele meio que brinca com o clássico, mas também tem um toque de humor, você pode gostar.

   Ela parece considerar.

— É, parece bom.

   Millie pega duas fitas VHS, uma que mostra o rosto de uma garota muito próximo, uma mão na boca e um rosto assustado, a segunda mostra um grupo de amigos com rostos de tensão, junto com o título "Pânico" e um "2" vermelho sangue, há um recado em cima na mesma fonte do número "Alguém não quer que o pesadelo tenha fim". Seu marketing para vender foi ótimo. Millie nunca nem assistiu esse filme, mas ouvir o que Marietta diz, de vez em quando, a ajudou.

— É o que tem o cara da máscara, não é? — A garota loira pergunta ao receber as duas fitas e virá-las para ler a descrição — Aquela máscara branca que lembra a pintura de Edvard Munch.

— "O grito". — Recorda Millie, também se lembrando do quão comum essa fantasia bizarra tá se tornando desde o lançamento do primeiro filme. De quem foi a ideia de transformar uma pintura em uma máscara pra um serial killer? — Ele mesmo.

— Ótimo. O primeiro filme é de 1996, é bizarro eu não ter visto antes. E é o mesmo diretor do primeiro "A hora do Pesadelo"! O único bom, porque depois a saga só afundou. É, parece perfeito. — Ela sorriu, cliente satisfeita — Vamos levar esses então.

— Sabe, se meu aniversário é no Halloween, às vezes eu gostaria de eu mesma poder escolher o filme da vez, sabe? — A amiga resmungou casualmente, como quem não quer nada, os braços cruzados

   A loira suspirou.

— Tá. Escolhe dois e eu levo esses dois. Satisfeita?

   Millie desviou o olhar das amigas e sorriu, achando-as fofas e sentindo falta da época na escola, antes de seu mundo ser quebrado. Mas é nesse momento que ela nota algo estranho. Uma das fitas expostas parece um pouco aberta, como se alguém não tivesse fechado direito, e é justamente uma das fitas de "Pânico". Millie apanha o objeto, notando um pedaço de papel entre as dobraduras, que logo ela pega, conseguindo assim fechar a fita normalmente.

   O coração de Millie começa a palpitar assim que ela lembra do bilhete no dia anterior, será que esse teria algo a ver? Será que alguém a está perseguindo?

  Tentando conter sua respiração, Millie abre o papel, logo se assustando ao notar que as palavras estão em latim. Qualquer funcionário do Oásis do Cinema poderia pegar aquele bilhetinho, mas, uma coisa era certa, de uma forma ou outra ele pararia nas mãos de Millie, todos sabiam que ela é a única ali que sabe latim, algo que aprendeu no período do abrigo de menores para se livrar do tédio.

  Ela suspira, desvia o olhar para as duas clientes que ainda estão afastadas, enquanto a de cabelo castanhos escolhe um filme de romance, e então Millie volta a abaixar o olhar para o papel e o lê.

    "Você não quer descobrir quem
matou seu irmão?"

   Millie aperta o papel com força e faz um esforço imenso para não demonstrar reação. Ela enfia o bilhete no bolso da calça e volta a atender as duas garotas com o máximo de simpatia que consegue reunir, mas sua mente não consegue se afastar daquilo, nem um só segundo, quanto mais as horas se arrastam, Millie só consegue pensar mais e mais nisso.

xxx

— Então um maluco está te mandando cartas? — Ginny Weasley pergunta um tanto confusa na hora do almoço naquela tarde. Ela usa um boné da Tottenham e está sentada ao lado de Lisa no Beto's tomando um milkshake. Era raro Ginny estar livre dos treinos de futebol, mas sempre que tinha um tempo livre ela aparecia para almoçar junto com eles, e, por mais que Millie odiasse Rony, ela até gostava bastante de Ginny

— Não sabemos se é um maluco. — Millie retrucou com um suspiro

— Parece um maluco. — Disse Tony

— Um lunático. — Incrementou Isaac Mcintyre, um garoto de rosto redondo e cabelos cacheados que também é um amigo dos três, a quem Millie também gostava muito. Ele é neto de um zoologista famoso e um aluno de medicina veterinária na faculdade, sempre quieto, tímido e um tanto retraído, mas é impossível não gostar dele

— Total. — Acrescenta Lisa — Por que mais alguém te atormentaria com a morte do seu irmão?

— Por que alguém sabe algo que nós não sabemos! — Millie retruca, encarando-os, séria, a necessidade de compreensão no modo como ela fala, implorando pra que alguém alimente a sede de justiça do fundo de sua alma — Alguém matou o meu irmão, é isso.

— Alguém está brincando com você, Millie. — Tony diz, com cuidado, as palavras tentando ser suaves — Eles querem te enlouquecer.

   Millie abaixa a cabeça, tentando forçar as lágrimas para dentro, parecer forte.

— Draco acha a mesma coisa.

— Olha só. — Lisa solta uma risadinha — É a primeira vez que eu concordo com o seu primo.

   Millie não responde, nem se atenta ao assunto que se segue logo após, eles não querem ajudá-la, Draco não quer ajudá-la, mas Millie não vai deixar isso no lugar, nunca conseguiria. Se alguém matou Mark, essa pessoa precisa pagar, pagar caro por acabar com a vida de alguém tão incrível quanto o seu irmão.

   E se para isso for preciso tomar medidas drásticas, ela vai tomar medidas drásticas.

xxx

   Ele atendeu a campainha ao primeiro toque, já passava das 19h, Millie sabia o quanto era inconveniente aparecer na casa de alguém a esse horário, mas o que mais poderia fazer? Acabara de largar do trabalho, era o único horário que tinha.

   O garoto estava sem sapatos, usava calça moletom e uma camisa lisa de cor suave, os cabelos loiros um tanto fora do lugar, e parecia realmente surpreso com sua visita.

— Eu juro que não acreditei quando o porteiro disse que era você. — Ernest Macmillan fala, como se isso fosse algum tipo de cumprimento, talvez seja, um cumprimento secreto dos alunos de Relações Internacionais

— E mesmo assim você mandou ele deixar a pessoa subir? — Ela questiona o oferecendo um sorriso

— Sou um cara esperançoso. — Ele sorri, mas logo nota o seu rosto, ele a conhece o suficiente para entender que algo não está certo — Aconteceu alguma coisa, não é? Algo que não tem nada a ver com minhas esperanças?

   Millie suspira.

— Você está ocupado?

— Pra você? Nunca. — Ele diz, logo se afastando da porta para abrir caminho pra ela — Entra aí.

   O apartamento de Ernie é enorme, o que Millie já esperava, só o hall de entrada é maior que todo o espaço medíocre que Millie divide com Draco. Ela o segue até a sala de estar, onde as grandes janelas com uma visão panorâmica da cidade se destacam dramaticamente, era uma visão linda, principalmente à noite.

   Millie não evita reparar nos móveis, tudo bastante sofisticado, há dois sofás de couro escuro e algumas poltronas cercando o centro do ambiente, onde tem uma mesinha de vidro, com alguns livros espalhados junto com cadernos abertos e um notebook, o que a faz pensar que ele deveria estar estudando antes de atender a porta. Seus olhos passeiam pelas estantes, admirando o número de livros e actions figures dispostos ali, objetos que combinavam perfeitamente com a personalidade do garoto loiro que Millie conheceu aos onze anos, e que, evidentemente, ainda estava ali aos dezoito.

— Você quer beber alguma coisa? — O garoto pergunta parecendo um pouco sem jeito, mas sorrindo

   Ela nega, sentando na poltrona de frente para ele quando o garoto se senta no sofá.

— Preciso da sua ajuda. — Ela suspira, torcendo os dedos e olhando para o chão, sem conseguir encará-lo

— O que aconteceu? — Ele se mostra preocupado

  Millie retira do bolso os dois bilhetes que havia encontrado e entrega-os ao garoto, deixando que ele mesmo leia e interprete. Ernie lê o primeiro bilhete e não diz nada, antes de partir para o segundo, que ele também consegue ler facilmente, considerando que sabe latim. Então ele levanta o olhar para Millie, que logo se adianta, antes mesmo que ele fale.

— Draco diz que pode ser uma brincadeira de mau gosto. Lisa, Tony e Isaac acham o mesmo. — Fala depressa, segurando as lágrimas — Nenhum parece entender que eu preciso saber o que realmente aconteceu. A polícia nunca deu uma resposta clara, todos acham que foi um acidente, mas eu sei que não foi, alguém matou o meu irmão, e eu preciso saber quem foi.

  Ernie assente com a cabeça. Ele parece ter o mesmo pensamento que o primo e os amigos de Millie, mas não é isso que ele diz.

— Você quer ajuda pra investigar?

   Ela confirma com a cabeça.

— Okay, eu vou com você.

— Você vai? — Ela o fita com olhos brilhando de lágrimas

— Claro. — O garoto sorri — Pode contar comigo.

xxx

   Foi uma imensa sorte que o dia posterior fosse domingo, era exatamente disso que Millie precisava, uma folga do trabalho. A garota saiu cedo, antes mesmo que Draco sequer sonhasse em levantar, e seguiu, encontrando com Ernie já a esperando no carro bem em frente ao prédio que ela vivia.

   A garota se sentou no banco de passageiro e colocou o cinto, tentando não ficar nervosa com a presença dele e como isso podia mexer com ela.

   Sua mente precisava se concentrar em outra coisa.

— Então Mark trabalhava em um posto de gasolina em Greenwich? — O garoto pergunta enquanto começa a dirigir

— Sim. Mercury. — Millie confirma — Ele não falava muito do local em que trabalhava, mas...

— É um bom ponto de partida. — Completa o garoto

   A viagem até Greenwich era curta, considerando que os bairros ficavam próximos, então Millie não teve muito tempo para desviar a mente enquanto Ernie dirigia. Eles logo avistaram Mercury, que parecia maior do que Millie esperava, afastado uma boa distância da rua principal do distrito e contando com uma tradicional loja de conveniências.

— Vamos só tentar não ir direto ao ponto, tá? — Pede Ernie enquanto direciona o carro até o posto

   Millie suspira sem jeito, mas assente, concordando.

   Ernest parou o carro no ponto de frente ao abastecimento e abaixou o vidro de seu automóvel, assumindo aquele sorriso simpático e aquele olhar que faria qualquer um cair em seus pés.

   Imediatamente um funcionário, usando macacão jeans e uniforme, se aproxima sorrindo. O cara parecia jovem, não demonstrando ter mais que vinte e cinco anos.

— Bom dia, chefia. — Saudou ele, e Millie notou o modo como olhava para o carro

   Ele sabia que Ernest tinha dinheiro, funcionários normalmente não são tão simpáticos se sabem que você não tem grana.

— Bom dia. — Cumprimentou Ernie — Eu gostaria de dez litros de Unleaded, por favor.

— Certo! — Diz o atendente. Millie nota o nome no cartãozinho na camisa "Robert" — Fica vinte libras, chefia.

— Pode colocar. — Ernie lhe dá mais um de seus sorrisos simpáticos

   Robert começa a trabalhar, pegando a bomba de abastecimento para encher o tanque. Millie dá um soco discreto no braço de Ernie para o apressar.

— Hey, é Robert, não é?

— Isso. — O homem não o olha

— Você trabalha aqui há muito tempo, Robert?

   O homem observa Ernie, mas não parece achar a pergunta muito estranha.

— Tá pra mais de uns quatro ou cinco anos. — Ele coça o queixo com uma barba rala

   Millie se remexeu no assento, atenta.

— E você conhece todo mundo que trabalha ou já trabalhou aqui? — Ernie perguntou

— Ah — O homem estreita os olhos —, sim. Não tem muitos funcionários, então todo mundo se conhece.

— E você lembra de Marcus Yaxley? — Millie atira, se inclinando um pouco, sem conseguir se conter

   O homem, pelo visto, foi pego de surpresa. Ele pisca os olhos, um tanto confuso.

— Mark. — O homem murmura — É, como esquecer? Quando alguém com um sobrenome conhecido assim aparece atrás de um emprego, é difícil não notar, não é?

— Desculpe. — Ernie suspira — Só queremos saber tudo que você puder dizer sobre ele, é possível?

   Robert sorri, e aquele sorriso malandro parece dizer muito mais que qualquer palavra.

— Ah, chefia, eu não sei se me lembro, já faz um longo tempo, né?

— Só faz um ano! — Millie esbraveja com impaciência 

— Muita coisa acontece em um ano.

   Ernie solta o ar pela boca, parece conhecer bem esse tipo de pessoa. Ele olha para Millie que não entende bem seu olhar quando o garoto o desvia e abre o porta-luvas do carro, a garota se assusta ao notar a bolada de notas de libras ali dentro, muito mais do que a garota ganharia em um mês na locadora. Mas Ernie não se importa em pegar um bolo considerável de notas de cem libras e erguer para mostrar à Robert.

— Isso refresca sua memória?

   Os olhos do homem brilharam.

— Com certeza, chefia, refresca muito.

   Robert estende a mão para o bolo de dinheiro, mas Ernie o afasta e ergue uma sobrancelha.

   O atendente suspira.

— Mark conseguiu emprego aqui há três anos, pouco antes de sair do abrigo de menores onde passou parte da adolescência. Primeiro era trabalho de meio período com um salário mixuruca, mas ele conseguiu convencer o patrão a lhe contratar de verdade, o que o ajudou a alugar um quarto em uma pensão, garoto bom de lábia como nunca vi. — Robert cruza os braços — Ele fazia sucesso com a clientela, principalmente com mulheres, às vezes apareciam aquelas ricassas de carros chiques, com desculpinha só pra ver ele. Era bom pros negócios, o patrão gostava dele, todo mundo gostava, ou parecia gostar.

— O que você quer dizer com "parecia"!? — Millie pergunta exasperada

   Robert lhe oferece um sorriso sarcástico.

— Ora, se ele não tivesse inimigos não teria aparecido morto, não é?

— A polícia diz que foi um acidente! — Millie esbraveja, furiosa com aquele sorriso sarcástico e idiota

— Vocês não acreditam nisso. — O homem sorri ainda mais — Não estariam aqui perguntando se não achasse que há algo estranho no modo como o garoto simplesmente morreu, né?

— O que mais você sabe? — Ernie pergunta sério — Amigos do Mark? A pensão que ele vivia? Os policiais vieram aqui depois que ele morreu?

— Por que os policiais viriam aqui? — Robert questionou — O corpo dele foi encontrado no apartamento, não é? Ele teve uma overdose, trágico. A polícia disse que encontrou muita droga no quarto dele, drogado, um traficante, possivelmente, algo bem estranho.

— Mark odiava drogas. — Millie grunhiu — Armaram uma cena do crime.

Bingo. — Robert riu — Um crime perfeito. Se os pais foram acusados de tantos crimes, óbvio que a polícia não investigaria a fundo, por que investigaria? Se era tão mais fácil acreditar que ele se matou. Que ele teve uma overdose. Que foi tudo um patético e triste acidente!

   Millie sente as batidas no coração ficarem pesadas enquanto escuta as palavras tão cruéis e sádicas.

— Quem poderia ter feito isso? — Ernie pergunta — Você não respondeu se ele tinha amigos. Você conhecia alguém? Sabia onde ele morava?

— Se aquele garoto tinha amigos, ninguém aqui nunca soube, mas ele tinha alguém. — Robert sorriu — Ela sim deve saber onde ele morava. Garoto esperto, garoto esperto. Óbvio que ele não dava bola pra nenhuma das ricassas que apareciam aqui, ele tinha o próprio diamante dele, a brilhante namorada.

— Marcus não tinha namorada! — Millie exclamou o fitando

— Tinha sim. — Robert retrucou com firmeza — Raramente a vi, claro, ela só apareceu aqui uma vez, mas ele falava dela às vezes, a doce bonequinha de luxo. Damian, o outro cara que trabalhava aqui, perguntou uma vez do jogo que Mark fazia, se ele estava brincando pra pegar dinheiro da bonequinha de luxo. Mark ficou transtornado, ele afirmou que eles se amavam de verdade, que nunca pediria dinheiro a ela, que iria trabalhar duro até merecer ela de novo.

— De novo. — Ernie repete e sussurra — Como já mereceu uma vez. — Ele se vira para Millie — Ele tinha uma namorada antes, não era? Antes de tudo o que aconteceu? 

— Savannah. — Millie responde, então olha para Robert do outro lado — Ele já disse o nome dela? Era Savannah? Nana Fontainelles?

— A bonequinha de luxo francesa com cabelos cacheados e olhos de chocolate. Sim, acho que era exatamente esse nome.

   Millie e Ernie se entreolham.

— É tudo que eu sei. — Robert sorriu e estendeu a mão

   Ernie entregou o bolo de dinheiro pra ele, ao qual o homem começou a contar, sorrindo.

— Muito bom conversar com você, chefia, precisando.

— O tanque. — Lembrou-o Ernie

— Ah, sim. — Robert se adiantou para fiscalizar e retirar a bomba — Acho que passou um pouco mais de dez litros.

   Ernie dá um suspiro de impaciência e puxa cinquenta libras do bolso.

— Obrigado, chefia. — Agradece o homem enquanto pegava o dinheiro

   Logo Ernie volta as mãos ao volante do carro, pronto para afastá-lo dali. Millie não olha pra ele enquanto sua mente é atormentada por tudo que ouviu.

   Ela estava certa, não foi um acidente, claro que nunca foi um acidente.

— Desculpa. — Ernie pede — Não quis tomar medidas tão drásticas.

   Millie apoia o rosto na mão sem olhar pra ele.

— Tudo bem, obrigada.

— Não me agradece. — O garoto suspira — Você sabe que eu moveria céus e terra por você.

   Ela não consegue evitar as bochechas de corarem e um revirar no estômago.

— O que faremos agora? — Ernie pergunta

— Temos que encontrar a Savannah Fontainelles.

xxx

    Robert Hawking sorria deliberadamente enquanto passava os dedos pelas notas de libra, mal acreditando em sua sorte. Evidentemente, não havia nada melhor do que pegar dinheiro de adolescentes riquinhos e bobos, sempre jogando ao vento o que muitos batalham tanto pra conseguir.

    Robert se mexe, se adiantando em sair rapidamente de seu posto enquanto corre até o armário de funcionários, guardando muito feliz o dinheiro que já estava ansioso para gastar. Entretanto, Robert vê seus pensamentos serem interrompidos ao ouvir o toque do celular do posto, algo que ignora, era trabalho do boboca do Eric Murley atender o telefone, não dele. Robert apenas fecha seu armário e abre a porta, voltando para o seu lugar, largando-se em um banco enquanto observava o movimento deserto com uma revista de mulheres de biquíni na mão, apenas esperando novos clientes.

   Mas o toque continua, o que começa a irritar Robert. Era só o que faltava, aquele paspalhão ter saído de seu posto de novo pra flertar com a moça da loja de conveniência.

   Ele se levanta e vai até a sala onde o telefone ficava, se irritando mais ao perceber o lugar vazio, sem sinal algum de Eric. Robert apenas suspira e tira o telefone do gancho.

— Alô. — Ele murmura — Posto de Gasolina Mercury, bom dia.

   Do outro lado da linha, Robert percebe um suspiro estranho.

— Robert. — Disse a voz, mas não parecia uma voz comum, de algum modo parecia distorcida

— Quem tá falando?

— Aceitar suborno em troca de informações não é nada legal, Robert. — Acrescenta em um tom sinistro

   O comentário deixa Robert em alerta, ele olha para os lados, confuso, mas então ri.

— Eric. — Ele murmura — Você tá na loja de conveniência, né? Quer me dar um susto? — E deu uma risadinha de escárnio — Você viu, não é? Eu não vou dividir com você.

— Eu não sou o Eric.

   Robert se mexe puxando o telefone e indo até a janela para olhar o lado de fora do posto.

— É claro que não. Que brincadeira patética, o chefe não vai gostar de saber que você está se engraçando com a Elora de novo.

— Eu já falei, não é o Eric. — O modulador de voz começa a irritá-lo — Que tal jogarmos um jogo, Robert?

— Eu estou trabalhando. — O homem suspira já impaciente — Não tenho tempo pra brincar.

   Ele leva o telefone de volta, querendo desligar, mas o grito a impede.

— Não desliga! Não desligue na minha cara!

— Que merda você quer? — Robert grita

— Só me responde uma pergunta.

— Hum?

— Qual o seu filme de terror favorito?

   Robert revira os olhos, sem acreditar na infantilidade. Era um trote? Eric e Elora estavam brincando com ele, é claro.

— Não esse, com certeza. Você anda vendo muito filme de terror, Eric, tchau.

    E bateu o celular de volta no gancho, começando a se afastar na direção da porta, mas ele mal a tinha alcançado quando o celular tocou de novo. Robert se irrita, mas vai atender.

— NÃO DESLIGA NA MINHA CARA! — A voz reverbera no seu ouvido — Se você desligar de novo, eu vou te estripar como um peixe, assim como eu fiz com seus amigos idiotas!

    Robert trava momentaneamente, a mão trêmula enquanto segura o telefone, sem saber o que responder, o que raciocinar.

   Era uma brincadeira.

   Tinha que ser uma brincadeira.

— Você vai encarar... Robert?

— Eu não tô achando graça. — Ele diz, tentando manter a voz firme

— E quem disse que eu tô brincando?

— Se você não parar agora, eu vou ligar pra polícia.

   Há uma risada de escárnio do outro lado da linha.

— Eles não chegariam a tempo.

    Robert vai até a janela, observando o movimento do lado de fora, mas está tudo tão deserto como sempre, silencioso, silencioso até demais.

— Você quer sair? Quer investigar lá fora? Tenta me achar, vai.

   Ele não responde, levando a mão à maçaneta e a girando, logo saindo para o lado de fora, mas segurando o telefone sem fio com ele.

— Que tal um jogo? — A voz parece animada — Você já brincou de "quente" ou "frio", né? Quer adivinhar onde eu tô?

   O coração de Robert começa a palpitar, ele vira para os lados, mas não há sinal de ninguém, não há som de passos, nenhum sinal de vida.

   Ele sente uma súbita onda de ansiedade quando se move na direção da loja de conveniência.

— Tá ficando quente. — É uma voz divertida, quase sádica — Queeeente.

   O medo começava a inundar seu corpo, não parecia mais engraçado, ou irritante, seus passos ficaram mais firmes e Robert empurrou a porta da loja, ouvindo-a ranger insuportavelmente.

— Esquentou mais.

   Robert passeia seus olhos pelo local, mas eles depressa vão diretamente até o caixa, e é nesse momento que seu grito de horror entala na garganta.

   Lá estão Eric e Elora.

   Os cabelos loiros da mulher estão sobre o balcão do caixa e não é possível ver seu rosto, mas Robert vê o sangue escorrendo, suas mãos esticadas para fora enquanto o corpo está para o outro lado, impossibilitado de ser visto. Eric jaz no chão em frente, jogado numa poça do próprio sangue, inúmeros cortes em sua camiseta do uniforme.

   A luz fluorescente do ambiente piscava, refletindo o sangue que se espalhava pelo piso de linóleo.

   Robert começa a arfar em profundo terror.

Achou! — A voz gritou

    Uma dor latejante nas costas o fez saltar, mas o ataque não parou.

   Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis...

   Robert gritou a cada novo ataque, a cada vez que a faca entrava e saía rapidamente de seu corpo, como se ele não fosse nada além de um pedaço de carne.

   Ele gemeu em profunda agonia quando caiu no chão, sentindo o momento que seu assassino o virou, permitindo que Robert o visse.

   Aquela máscara branca em um grito eterno, a capa e o capuz preto tradicional.

— P-puta... merda. — Ele gaguejou

   O assassino o prensou no chão, atravessando a perna para o outro lado e ficando bem acima dele.

— P-por favor, não... por favor... — Robert implorou

   Ghostface não se importou, levantou a faca afiada e longa que segurava, encharcada com sangue, antes de dizer sua frase final.
  
— Tá se sentindo um pedaço de carne, Robert?

   E investiu novamente, atravessando sua garganta a sangue frio, acabando com qualquer esperança que um jovem patético e interesseiro poderia ter de sobreviver.

LEVEL UP

você acaba de passar de nível

a parte três

será liberada

em breve

✨🎮

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