008
Strange guiou Harper até o porão do templo. Ela engoliu seco, vendo as runas nas paredes.
Deus, ela estava indo conscientemente para o porão com um homem/médico/bruxo. Ela deveria ter enlouquecido e perdido completamente a razão. Pelo menos era isso que corria em sua mente enquanto ele fazia um gesto com a mão e puxava um fio de energia dourada.
- Vai doer? - Ela pergunta instintivamente e ele dá uma risada surpresa.
- É claro que não, você não vai sentir nada. Não vou encostar em você, só vou acessar suas memórias. - Ele explica ainda continuando a puxar o fio mágico que vai ficando cada vez mais comprido.
- E se tiver algo muito particular que eu não queira mostrar. - Ela ergue a sobrancelha. Strange não sabe bem o que responder.
- Achei que concordamos com isso. Mas não se preocupe. Estou no controle do feitiço, só vou ver o que preciso. E se eu ver algo estranho? - Ele para. - Bem, não vou te julgar.
- Isso me parece uma péssima ideia. - Ela revira os olhos.
- Quer desistir? - Ele pergunta sério, interrompendo a criação do fio mágico, disposto a parar se ela quiser. Mas ela nega com a cabeça e então ele continua. - Concentre-se Harper, e não fique nervosa.
O Doutor Estranho começa a levitar, sentado no ar com as pernas cruzadas, o fio de energia dourada agora está a envolvendo, crescendo à sua volta, mas sem de fato encostar em si. Ela respira fundo.
Era a coisa mais estranha que fez na vida, mais do que mudar de universo. Como se concentrar e não ficar nervosa?
De repente, ela sente um arrepio em seu corpo, como se fosse um vento gelado. Mas ali, era o porão, não havia realmente uma corrente de ar. Ao olhar para o Doutor Estranho, ele continua levitando com as pernas cruzadas e olhos fechados, em uma posição de meditação.
Ela respira fundo novamente, em mais uma tentativa de se concentrar. Harper fecha os olhos, e quando os abre novamente, eles estão brancos. Assim como sua consciência.
Menos de um minuto depois, sua visão começa a focar novamente, ela vê o fio mágico desaparecer e Strange voltar a si próprio. Pisando no chão e caminhando em direção a ela.
- Acabou? Foi só isso? - Ela pergunta, sentindo que tudo foi só uma sensação ruim e que não durou nem um minuto inteiro. No entanto, o homem à sua frente parece pálido, em uma mistura de desconfortável e choque. Ele engole seco e põe a mão no ombro dela novamente.
- Eu sinto muito Harper. Eu... - Por um minuto, ele não sabe o que dizer. Cinco minutos atrás, ele nem tinha certeza de que o feitiço funcionava. Mas havia funcionado e, mesmo que para ela tenha sido menos de um minuto, ele havia visto grande parte da vida de Harper. E foi uma vida complicada, no mínimo.
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𝗧𝗘𝗥𝗥𝗔 𝟮𝟮𝟭𝟮
17 Anos atrás
Nebraska
12 ᴅᴇ ᴀɢᴏsᴛᴏ
- Você não pode dar isso para ela. - Rebecca diz. A mulher estava exausta, o que não era surpresa. Havia acabado de dar à luz a uma criança prematura.
O bebe com menos de vinte e quatro horas de vida estava em uma encubadora. Vestindo um macacão rosa que por mais que fosse minúsculo ainda ficava grande e folgado na criança que mal pesava um quilo e meio e isso preocupava os pais.
- É só um colar. - O homem tentou se justificar, mas a mãe do bebê argumentou.
- Não é só um colar. É um... - Ela respirou fundo. - É perigoso. Você sabe. Eu não gosto dessa coisa ou do que ela faz.
- Vai proteger ela.
- De qualquer forma. Não pode colocar isso no pescoço de um recém-nascido, é pesado demais para ela. - A mulher disse e ele assentiu. Ela tinha um ponto, esse ele não podia negar.
- Então vou deixar com você. Você coloca no pescoço da Harper assim que ela estiver forte o suficiente.
- Não vamos chamá-la de Harper. - A mulher diz, um pouco séria e bastante cansada. Mas, no fundo, contendo um sorrisinho, já que a essa altura já estava quase convencida a pôr esse nome no bebê.
- Por que não? É delicado, bonito... E lembra você, você tocava harpa na escola. - Ele ri. Ele gosta muito do nome e realmente espera que ela concorde. - Além disso, é muito mais bonito que Perséfone.
- Perséfone significa...
- Assassinato.- Ele arregala os olhos tentando convencer a mulher de que aquela era uma péssima ideia. - Na mitologia, é a esposa de Hades, deus do submundo.
- É a deusa da vegetação...
- E se sua filha odiar vegetação? E se odiar mitologia? Vamos lá, Rebecca, você sabe que a minha ideia é melhor. Vamos chamá-la de Harper. - Ele pausa. - Por favor.
A mulher suspira. Ele havia a convencido, seus argumentos eram bons. Mas o que irritava ela era que ele era sempre controlador demais e sempre precisava estar certo. Mas, por fim, ela se dá como vencida e aceita. Afinal, Harper era um belo nome, e talvez ele estivesse certo e ela odiasse mitologia quando crescesse.
- Ok. Você venceu. Vamos chamá-la de Harper. - Rebecca sorri e o homem acompanha, tocando o ombro dela em um gesto de carinho e colocando o colar na mão dela.
- Perfeito. Agora me prometa que vai colocar isso nela assim que ela estiver forte o suficiente.
- Stephen...
- Por favor. - Ele pede novamente e por fim ela balança a cabeça concordando, ele sorri e se aproxima, dando um beijo na testa dela.
17 ᴅᴇ ᴀɢᴏsᴛᴏ
Stephen sorriu sozinho enquanto parava o carro no farol. Ele estava exausto. Havia pegado um voo de 6 horas de Lincoln - Nebraska até Nova York. E agora estava dirigindo para o hospital onde trabalhava, pois precisava realizar uma cirurgia.
Sua vida estava uma bagunça, mas ele estava começando a se acostumar. Oito meses atrás ele havia ido em um trabalho voluntário no Nebraska. Onde reencontrou sua melhor amiga dos tempos de escola, Rebecca.
Depois de uma noite de bebedeira e desabafos, de repente os dois estavam esperando um filho.
É claro que isso não estava nos planos de nenhum dos dois, eles nem estavam juntos, e também não pretendiam ficar. Não tinham sentimentos um pelo outro. Mas resolveram que iam lidar com a situação da melhor forma possível.
Stephen ficou o máximo de tempo que conseguia no Nebraska, ajudando Rebecca. Pelo menos os dois se davam muito bem. O plano deles era que ela se mudasse para Nova York antes de o bebê nascer, afinal Rebecca não tinha uma rede de apoio em casa e Stephen não podia deixar o emprego dele.
Tudo já estava encaminhado, estavam mobilizando o futuro apartamento dela, que era no mesmo prédio que ele vivia e em poucos dias tudo estaria pronto. No entanto, sem avisos, o bebe nasceu prematuro.
Ele piscou com força, dando partida com o carro novamente quando o sinal abriu e voltando a dirigir. Stephan ele estava feliz que o bebê estava ganhando peso e indo bem. Ele acreditava que Harper seria forte e estava satisfeito e orgulhoso dela realmente estar sendo.
Ele fez uma curva e depois outra, as ruas estavam vazias, o sol ainda estava nascendo. Mas seus olhos ainda estavam pesados, ele bocejou.
O celular de Stephen tocou, ele olhou de relance e viu uma chamada de Rebecca, ele colocou o dedo na tela, atendendo e deixando no viva voz.
– Ei. – Ele diz casualmente, com a voz cansada enquanto continua a dirigir.
– A Harper vai ter alta hoje, o médico disse que ela já pode ir para casa. – A mulher diz na chamada, Stephan estreita a sobrancelha.
– Tem certeza? Isso não faz sentido. – Stephan diz, cismado.
– O quê? – Rebecca parece não ter gostado do tom de voz dele. Ele ouve a mulher resmungar do outro lado da linha. – Não está feliz que sua filha vai poder ir para casa? Que tipo de... – Ela ia falar, mas ele o interrompe.
– Eu sou médico, esqueceu? Eu trabalho em um hospital, eu... – Agora ela o interrompe.
– Sim, eu sei. Mas essa não é sua área de atuação!
– Independente! Eu vejo os bebês prematuros ficando em observação por quase um mês, às vezes até mais. Não é preciso nem ser médico para saber que o bebe precisa atingir um peso específico antes de ser liberado e a minha filha continua abaixo do peso.
– Claro, porque você é o único médico que se preze nos Estados Unidos, não é? – Ela fala irônica, Stephen revira os olhos, pisando no freio e acelerando, a essa altura o sol já havia nascido. Ele não queria culpar Rebecca por estar agindo assim, ela havia dado à luz há poucos dias e claro que estava sensível e hormonal, mas ela estava o irritando agora.
— Olha... – Ele respira fundo. – Só estou pedindo para verificar isso. Não acho que seja uma boa ela ir para casa agora, pode haver complicações futuras. Pesquisa na internet por cinco minutos e vai ver que eu não estou falando besteira.
– Me irrita como você quer sempre estar certo... – Foi a última coisa que ele ouviu antes de pisar no freio com força. Rebecca só ouviu o barulho do carro batendo e capotando várias vezes, sendo jogada para longe e o barulho de vidro quebrando.
Ela chamou o nome dele algumas vezes, mas não obteve retorno. Rebecca chamou uma ambulância, mas esqueceu-se de que estava em outro estado e isso atrasou um pouco. Horas mais tarde, todos os noticiários transmitiam a notícia da morte por acidente de carro do jovem neurocirurgião brilhante, prestigiado pela comunidade médica, Stephen Strange.
11 Anos atrás
Queens
Harper tinha se mudado para o Queens com sua mãe e seu padrasto, Billy, que estava casado com sua mãe há alguns meses.
Era aniversário de seis anos dela, e sinceramente, ela não parecia nada animada para uma criança fazendo aniversário.
A garota era bem quieta, sempre fora, mas depois que se mudou, se tornou ainda mais.
Os poucos amiguinhos que tinha, ficaram no Nebraska. Ela não fez novas amizades naquela vizinhança ou na nova escola. Sem mencionar que ali sua mãe trabalhava muito mais tempo que no Nebraska e ela acabava tendo que ficar muito tempo com Billy e com as tarefas domésticas da casa.
O que, ao menos, no futuro, a faria bem independente.
Era uma sexta-feira, quando ela chegou da escola, não tinha ninguém em casa. Ela tirou uma soneca e, quando acordou, tomou um banho e foi preparar o jantar.
Harper começou a descascar batatas para fazer um purê, depois colocou na panela com leite e manteiga, depois colocou alguns pães de alho no forno, fritou algumas asas de frango e abriu uma lata de legumes enlatados.
Por volta das sete da noite, enquanto ela finalizava a comida, sua mãe chegou, ela desligou o fogão e correu para abraçar Rebecca.
– Ei, bebe – A mulher se ajoelhou ficando da altura dela e abraçou, depois colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela e deu um beijo em sua testa. – Feliz aniversário, docinho.
– Obrigada, mamãe. – A garota sorriu e abraçou a mais velha novamente, que se levantou com ela no colo. – Eu fiz o jantar.
– Sério? Isso é incrível, porque eu trouxe nossa sobremesa. – Ela sorri e pega uma pequena caixa que deixou sobre a mesa quando chegou e entrega para Harper.
Harper desfaz o laço vermelho e abre a caixa, revelando um pequeno bolo de aniversário. A garota sorri.
– Obrigada, mamãe. – Ela diz e Rebecca sorri, bagunçando o cabelo da filha e colocando o bolo na mesa.
A mulher serve dois pratos para que elas jantem, as duas se sentam e começam a comer conversando coisas aleatórias, mas no geral não falam muito.
– Vou procurar algumas velas. – Harper ouve sua mãe dizer enquanto tira os pratos vazios da mesa e põe na pia e começa a procurar as velas, até finalmente encontrar algumas velinhas e colocar em cima do bolo, que a essa altura já derreteu um pouquinho.
As horas passam rápido, enquanto elas cantam parabéns para você e comem o bolo rindo. Harper estava finalmente animada, tentando aproveitar cada instante da noite, mas ainda estava tendo um pressentimento ruim.
– Hora de ir para cama. – A mãe dela diz, parando de rir. – Vai se preparar para dormir, eu vou lavar a louça e vou levar algo para você antes de dormir.
– Um presente de aniversário? – Harper sugere um pouco brincalhona, Rebecca ri.
— É, você pode chamar de presente de aniversário.
Harper concorda com a cabeça e vai para o quarto dela, ela veste pijamas de ursinho, escova os dentes e penteia o cabelo irritada, fazendo caretas de dor com os nós presentes nos fios.
Por fim, ela desiste, faz um rabo de cavalo, boceja, indo para cama esperar a mãe dela e seu suposto presente de aniversário.
Depois de poucos minutos, Rebecca finalmente entra no quarto, Harper observa, um pouquinho decepcionada, já que não vê a mulher trazendo nada.
– Você já está pronta para dormir, muito bem. – Rebecca se senta na beira da cama e sorri, passando a mão nos cabelos da filha e dando um beijo na testa dela, que sorri. – Você está tão grande, Harper.
– Eu sou a menor da minha turma. – Ela diz fazendo uma careta e a mãe dela ri.
– Para mim, você é grande. – Ela tira do bolso um colar com uma pedra vermelha e coloca no pescoço da garota. – Aqui.
– O que é isso? – A garota pergunta, olhando o colar.
– Seu presente de aniversário, era do seu pai. Agora é seu. – Rebecca explica e Harper arqueia a sobrancelha.
– Mas eu queria um gato.
– Eu sei. – A mais velha ri. – Mas acabamos de nos mudar, vamos nos adaptar primeiro, quem sabe ano que vem, okay? – Ela diz e Harper concorda com a cabeça, antes de se deitar. Rebecca a cobre com um cobertor e sorri. – Boa noite, filha.
– Boa noite, mamãe.
– Eu te amo, okay, borboletinha? – Harper ri enquanto a mulher se levanta, desliga as luzes e sai do quarto, a deixando-a sozinha.
(...)
Algumas horas mais tarde, Harper acordou ouvindo um barulho um pouco alto da cozinha. Ela olhou em volta, levantou da cama e calçou as pantufas, decidiu checar o que estava acontecendo, então saiu do quarto e desceu a metade da escada.
Se sentou em um degrau, olhando de relance, mas já sabendo do que se tratava. Billy provavelmente chegou bêbado e estava brigando com a mãe dela, de novo.
Isso acontecia pelo menos uma vez na semana, normalmente aos fins de semana, e Harper não sabia por quê. Ela respirou fundo e inclinou para ver o que estava acontecendo.
O homem xingava a mulher e ela o xingava de volta, um constantemente tentando superar a altura do tom de voz do outro, parecia uma competição de gritos.
– Cala boca, sua vadia nojenta. – Billy disse mais alto, Harper sentiu os olhos lacrimejando, ela queria fazer algo, mas não tinha coragem.
Billy foi para cima de Rebecca, segurando em seu pescoço e a pressionando contra a geladeira. Harper tapou a boca com a mão para impedir que saia algum som enquanto assistia sua mãe se debatendo tentando se soltar do aperto.
Rebecca acertou um chute no meio das pernas de Billy, que a soltou e levou as mãos até a área atingida. Harper respirou aliviada por um momento, vendo sua mãe pegar uma panela para se defender.
No entanto, antes que ela tivesse a chance de utilizar o objeto, Billy tirou uma arma da cintura, destravou e atirou três vezes contra a mulher, que caiu já sem vida.
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