007
Peter estava deitado na diagonal da cama dele, com as pernas para fora da cama, enquanto Ned girava na cadeira em frente à escrivaninha.
- O que você está fazendo? - Ned pergunta parando com a cadeira de frente para Peter.
- Nada. - O Parker murmura enquanto rola a tela do celular.
- Não está se remoendo porque a Butterfly te deu um fora, não é? - Ned disse com uma cara de desgosto enquanto esfregava a própria testa. Peter soltou o celular, fazendo o aparelho cair sobre seu próprio peito e bufou.
- Ela não me deu um fora. Ela só disse que estava ocupada hoje. - Ele se senta na cama e olha para Ned, frustrado. - E eu não estou me ''remoendo''
- Mas você está pensando nela, não é? - Ned ri.
- Talvez. - Peter admite dando ombros. - Nós estamos passando muito tempo juntos, sabe?
- Como assim?
- Ah, ela é minha vizinha e minha colega de classe. É normal que passemos bastante tempo juntos.
- Eu não passo muito tempo com meus vizinhos. - Ned ri, erguendo uma sobrancelha em um ato de desconfiança. No começo, ele estava só tentando irritar Peter e provocá-lo, mas agora estava entendo que Peter gostava realmente de Harper. - O que vocês fazem?
- Nada de mais. - Peter dá ombros de novo e faz uma pausa. - Caminhamos até a escola, comemos juntos e depois voltamos juntos, assistimos filmes... Às vezes dormimos no meio do filme.
– Dormem juntos? – Ned pergunta chocado.
– É, mas não de um jeito estranho. - Ele sente suas bochechas ficando vermelhas e olha para o teto. - Lutamos contra mortos vivos. Ela sabe minha identidade secreta... Então conversamos muito... Mas, ao mesmo tempo...
- O quê?
- Ao mesmo tempo, eu não sei quase nada sobre ela. – Peter diz com um biquinho de frustração nos lábios.
Peter pensou em tudo que sabia sobre Harper. Não era quase nada. Ele sabia o nome dela e que ela vinha do Nebraska. Que o pai dela foi médico e morreu quando ela era criança. Que ela era amiga de Lilian e morava sozinha. Disse que não tinha tido nenhuma briga com a família que a fez sair de casa, mas também nunca falou sobre a mãe dela, ou sobre qualquer outra pessoa que tenha cuidado dela.
Ele sabia que ela teve uma amiga fã do homem aranha e que foi daí que surgiu sua curiosidade em descobrir a identidade secreta dele, mas que essa amiga estava morta. Mas também não sabia como e nem quando morreu.
Ele fechou o punho contra a boca e continuou pensando. Ela disse que queria ser jornalista, era boa em descobrir segredos. Ele sabia que ela tinha mencionado um ex namorado, mas nenhum detalhe sobre isso. Harper também sabia a letra da música de dez minutos da Taylor Swift, não era muito sociável, lutava bem, principalmente para uma garota comum e que, até onde ele sabia, nunca teve treinamento. Sabia que às vezes ela falava demais e às vezes falava de menos. Que gostava de comida não saudável e que tinha medo de filmes de terror.
E sabia que ele achava ela linda.
Mas a maioria dessas coisas ele observou e não, de fato, foi ela que o contou. E ele queria que ela confiasse mais nele e queria saber mais sobre ela. Mas tinha medo de estar sendo precipitado, eles nem se conheciam há tanto tempo assim, apenas algumas semanas. Mas parecia mais tempo.
Ele sai dos seus pensamentos quando ouve Ned falar novamente:
- Então, agora, você está com saudades ou... curioso? - Ned pergunta. Peter pensa e chega à conclusão de que as duas alternativas estão corretas. Mas tem algo a mais que apenas isso.
- Preocupado. - Ele levanta e pega o celular novamente. - Essa situação toda de mortos-vivos, de poderes... Esta deixando ela nervosa. E eu não quero que ela se machuque.
- Você disse que ela era fã de super-heróis. Ela deve estar amando essa situação, se sentindo em um filme...
- Ela não está. - Peter interrompe o amigo. - E, além disso, ela não respondeu minhas mensagens a tarde inteira e também não está no apartamento dela. Eu sinto que tem algo acontecendo agora.
- Arrepio do Peter.
- Não chame isso assim.
Harper arrevessou o portal e quando se deu conta, estava no Sanctum Sanctorum. Ela respirou fundo, sentindo, por algum motivo, que aquela conversa não seria das mais fáceis.
- Senhorita Harper Butterfly, certo? - Doutor Estranho perguntou e ela fez que sim com a cabeça. - Sobrenome interessante.
- O seu também... Estranho. - Harper engole seco ao ver que o homem não riu.
- De onde você é? - o Doutor Estranho perguntou depois de um minuto de silêncio, a olhando de cima a baixo, fazendo Harper se sentir como se ele conhecesse e julgasse todos os pecados de sua vida.
- Nebraska. - Ela respondeu enquanto se perguntava mentalmente se já não havia dado aquela informação para ele antes.
- Da onde você realmente é? – O mais velho repete em tom de voz sério enquanto arquea uma sobrancelha, a encarando.
- Perdão, senhor. Doutor Strange. – Ela pigarreia- Não estou entendendo a onde você quer chegar. - Ela cruzou os braços e encostou na parede. Ela estava... Irritada? Irritada não era a palavra certa, ela havia sido atacada por um monstro, minutos atrás, e provavelmente o único motivo por não ter surtado com Strange é que ele foi quem a salvou.
- Vamos lá. - Stephan respirou fundo e se sentou em uma poltrona grande. - Eu faço as perguntas e você responde, mocinha. Tudo bem?
Sem muitas opções, Harper concordou com a cabeça. Quanto mais rápido fizesse, mais rápido terminaria com aquilo.
- Como conheceu Peter Parker?
- Escola. - Respondeu rapidamente. Fácil.
- Certo. Quantas vezes você foi atacada por aquelas... Criaturas?
- Duas. - Ela respondeu, agora com um pouco menos de certeza. - Vi no jornal, acho que... - Ela pensou se revelava ou não, mas depois admitiu. - Acho que o Peter foi atacado por um desses ''mortos vivos''... Depois, vi a Lilian após ter acabado de terminar de lutar com um. Mas eu só vi um ontem, com o Peter e a Lilian, quando o senhor nos ajudou e outro... Hoje... Mas o de hoje era... diferente.
- Sim, era diferente. - ele pausou, analisando Harper e suas explicações com uma sobrancelha arqueada. Ela parecia estar sendo sincera, mas estava nervosa. - Tem alguma ideia de onde surgiram?
- Não. - Ela diz, balançando a cabeça negativamente.
– Você sabe que a Lilian, tem um talento especial e que o Peter... – Doutor Estranho começa, mas Harper o interrompe.
– É o homem-aranha. – Ela diz simplesmente, ele concorda com a cabeça. Já imaginava que ela estava consciente de tal informação. Ele dá um passo a frente, querendo aprofundar aquela conversa, mas não assustá-la.
- Parece nervosa.
- É porque eu estou. - Ela dá uma risadinha nervosa e passa a mão pelo cabelo. - Não sei de onde estão surgindo essas coisas e sim, elas me deixam nervosa... Caramba, fui atacada duas vezes em menos de 48 horas, meus amigos foram atacados e querem ir lutar contra isso sem pensar nas circunstâncias... São mortos vivos... Zumbis, monstros, sei lá! Parece um filme de terror, então, sim. Estou nervosa. - Ela admite e depois respira fundo, tentando se acalmar e olhando para o mais velho novamente. Ele respirou fundo também. A intenção dele não era deixar ela mal com aquela conversa, nunca foi.
- Harper...
- Eu sei.
- Não... Não parece que você sabe... E eu preciso que seja sincera. - Strange responde dando um passo em direção a ela, notando que ela estava inquieta, ele toca o ombro dela com o que é quase um sorriso reconfortante. - Quero te ajudar e ajudar seus amigos. Mas para isso preciso saber de onde você vem, o que você faz aqui... Quem... Quem é você?
- Eu... Eu não sei... Eu... Sou daqui. Sou da terra. Do Nebraska. Não sou um... Alienígena, um extraterrestre... eu sou... Eu. Harper. - Ela diz, ansiosa, ele aperta o ombro dela tentando mostrar que está tudo bem.
- Eu sei que você é humana. Não estou te acusando de ser uma espécie de algo, um alienígena, ou uma daquelas criaturas...
- Mas? - Ela perguntou, enquanto limpava uma lagrima teimosa que estava escapando mesmo quando ela lutava para segurar. Sempre tinha um "mas"
- Mas você não é desse universo... Dessa realidade, certo? - Ele pergunta e a garota faz que sim com a cabeça com outras lágrimas escorrendo de seus olhos e contornando suas bochechas.
Aquilo também era novo para Strange... Desde pessoas de outros universos até adolescentes chorando em sua frente.
- Eu não sei como vim parar aqui... - Ela admite em um suspiro rouco.
- Quando eu te vi entrando aqui, com o Peter, pela primeira vez, eu imaginei que algo estava fora do lugar... Só não sabia que "tão fora do lugar." – Ele tenta fazer uma piadinha para melhorar o clima, mas a expressão facial de Harper, viu que fez efeito contrário. Ele respira fundo e recomeça. – Como era sua vida... lá... na sua casa? - O Doutor Estranho diz, voltando a se sentar. Ela fez o mesmo, sentando em outra poltrona que ele fez surgir atrás dela.
Ele queria ajudar. Ela repetiu isso para si mesma. Então ela precisava falar... E, de certa forma, fazia tanto tempo que ela não falava sobre ela mesmo. Sobre a Harper Verdadeira. E não aquela que ela tomou o lugar. Harper respirou fundo, esticando as costas na poltrona e mexendo no colar em seu pescoço, um pouco ansiosa ainda.
Doutor Estranho respirou fundo, percebendo que a garota não sabia por onde começar. Ele resolveu dar uma ajudinha.
– Colar legal. - Stephan fala para tentar aliviar o clima, para mostrar que está tudo bem e que ela não precisa se desesperar. Mas não obtém resposta, a garota só balança a cabeça e continua manuseando o quartzo. Ele resolve mudar a estratégia e fazer perguntas. - Se você é de outro universo... Suponho que você tenha alguém lá sentindo a sua falta agora... Você tem... Pais?
- Eu tive. Não mais. - Ela responde com uma expressão triste.
- O que aconteceu com eles?
- Meu pai morreu quando eu era um bebê, em um acidente de carro... Minha mãe morreu quando eu tinha... - Ela pensa um pouco. - Seis anos, eu acho.
- O que aconteceu com eles? - Stephan estava sendo cauteloso com as perguntas, aquilo podia ser difícil, ele sabia. Ela apenas balançou a cabeça, querendo evitar aquela pergunta e ele concordou. - Você tem amigos?
- Não sou muito sociável.
- Aqui você é... Tem o Peter e a Lilian...
- Dois amigos. Isso não me faz sociável. - Ela dá uma risadinha e ele também, agora um pouco aliviado pelo assunto estar, pelo menos, um pouquinho mais leve. Pelo menos por enquanto. - Mas não... Não tenho outros amigos esperando por mim lá.
- Namorado? Ou... Namorada talvez. - Ele pergunta ainda tentando ser cauteloso. Agora estava genuinamente curioso sobre ela.
- Eu tive um namorado, mas ele... - Ela suspira e olha em volta, sentindo as lágrimas voltarem. Stephan repassou mentalmente que ele definitivamente não tinha sorte ou talento com adolescentes.
- Te... Traiu? - arriscou.
- Ele... Está morto também.
- Oh... - Ele diz e faz uma careta enquanto se xingava mentalmente. Criando a cada segundo mais empatia com a garota. - Então basicamente... Você estava sozinha lá e não sabe como veio parar aqui. Certo?
- Certo. - Ela balança a cabeça. - E você... Como descobriu?
- Eu... Não sei ao certo. - Ele assume. - Senti algo quando te vi pela primeira vez com o Peter Parker. E depois fiz um feitiço para saber a origem daquelas criaturas... - Strange faz uma pausa.
- E então... - Harper o estimula a continuar. Por Deus, ela não queria ter nenhuma ligação com aquelas criaturas monstruosas, com aqueles malditos mortos-vivos. Não era culpa dela. Não podia ser.
- São o universo manifestando caos... Algo aconteceu que não deveria acontecer... Ou alguém... - Ele está tentando ser meticuloso, tudo que ele não precisa agora é que ela volte a chorar de novo e com certeza ele não quer magoá-la.
- Eu... - Harper suspira como se tivesse montado as peças do quebra cabeça, mas não tivesse gostado do resultado.
- Eu não tenho certeza. Talvez sim, talvez não... Eu particularmente não acho que uma única garota seja capaz de destabilizar o universo... Ao menos que você seja... - ele pensa em uma palavra. - Especial.
- Não, não. Eu não sou especial. - Ela ri. - Eu definitivamente não tenho nada de especial, eu apenas sou uma garota comum que não tem nada de especial. - Ela fala fazendo gestos com a mão como se sua vida dependesse de soar convincente. Stephan ri.
- É claro que você é... Eu nunca conheci alguém que não fosse especial, não quis dizer que você não é importante. - Ele dá uma risada novamente, se perguntando por que tinha tantas dificuldades em encontrar palavras assertivas com Harper. - Só quis dizer que talvez, no caso de você... Realmente ser a responsável pelos últimos acontecimentos, talvez você tenha... Algo a mais. - Ele dá um sorriso amigável. - Algum segredo? Algum superpoder talvez?
Ela pensa. Mas nada lhe vem à mente, por fim ela fala em tom de voz baixo e com sinceridade. Além de ter mudado acidentalmente de universo, não tinha conhecimento de mais nenhum poder ou dom.
- Não. Eu juro que não. Nenhum poder e o meu maior segredo era o de que não sou daqui. - Harper passa as mãos pelos cabelos. - Eu garanto que não estou causando isso. Por favor, acredite em mim...
- Eu acredito no que está me dizendo. Acredito em você, Harper, mas talvez tenha algo que esteja fora do seu controle. Fora do seu conhecimento. E se você concordar... Podemos descobrir.
Ela faz uma pausa. Agora a curiosidade estava martelando em sua cabeça. Mas ela também estava com tanto medo de descobrir algo que não queria que seu estômago chegava a afundar. A cada dia as coisas saíam mais do controle.
Mas e se de alguma forma ela pudesse ajudar? Evitar que aquelas criaturas continuassem a aparecer e atacar, evitar que pessoas inocentes se machucassem, evitar que Lilian e Peter se machucassem. Ela não podia perder Peter. Não de novo.
- Se eu não for uma ameaça... Vou poder ficar aqui? - Ela pergunta. Normalmente, Strange responderia com ''óbvio que não" mas... Ele estava sentindo tanta empatia pela garota, percebendo que pela primeira vez ela tinha amigos e pessoas que se importavam com ela. Mandar ela de volta para a realidade dela sem ninguém, caso ela não apresentasse nenhum risco para aquele universo, seria covardia.
- Eu farei o que for possível para manter você aqui, se for o que você quer. - Ele diz compassivo com um pequeno sorriso no canto da boca. - É uma promessa.
Harper assentiu, concordando. Ela sabia que não deveria confiar em ninguém. Mas de certa forma confiava nele agora. E isso era péssimo, pois ela não planejava se apegar em mais ninguém daquela realidade, ainda mais quando pensava que estava mais perto de ter que voltar do que nunca esteve.
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