ORION REALMENTE TENTAVA ENTENDER A IRMÃ QUANDO ERA PEQUENO, mas conforme o tempo passou o garoto apenas aceitou que ela era do jeito que era por querer.

Talita não mudaria e ele tinha que aceitar isso.

— Bom dia, meus irmãos favoritos. – Miguel falou enquanto chegava com um sorriso, Talita estava batendo os dedos na mesa com ansiedade clara em seus olhos.

Sua franja estava maior do que a última vez, caía em seus olhos quase impedindo de ver o olhar intenso da garota no prato de café da manhã em sua frente, ela teria treino hoje, ela precisava ser a melhor dos melhores.

— O que rolou com ela? – A resposta de Orion para o amigo apenas foi um simples dar de ombros, às vezes Talita refletia mais sobre a vida do que realmente vivia.

— Vai assistir nosso treino? Só ir escondida, Talita por um motivo estranho chamou Hermione também, não entendi direito e… – O mais novo foi interrompido com a cabeça da irmã batendo contra a mesa, assustando os alunos em sua volta, principalmente Draco, que se tremeu achando que talvez a garota tivesse escutado seus comentários maldosos sobre ela.

— Sério, ela tá mais estranha do que o normal. – Miguel reclamou, mas a única resposta que recebeu dos irmãos foi o silêncio.

— Ok, joga as cartas na mesa, por que chamou a Hermione pro treino? – A pergunta foi baixa, ninguém podia escutar, porque se escutasse, a briga ali seria feia.

— Eu não sei…

— Tá afim dela?

— Eu não sei…

— Quer fazer finalmente amizade?

— Eu não… Eu não sei… – A garota choramingou, ela estava enlouquecendo, as palavras de Dumbledore em sua cabeça e o maldito dia da torre de astronomia fazia ela quase enlouquecer.

— Eu sou seu irmão, pode contar comigo pra tudo.

— Eu sei, eu sei, Orion, cala a boca. – O mais novo ficou em silêncio.

A mais velha levantou a cabeça da mesa, mas logo se arrependeu quando viu na mesa da Grifinória a garota que está atormentando seus pensamentos rindo com os amigos.

Hermione era linda, a mais velha beijaria ela sem problema algum, a Black se aceitava, mas talvez ela deveria pensar mais em como seu tio estava solto.

Como Snape estava pegando no pé dela depois do que aconteceu na aula de poção, de como Minerva estava sempre constantemente a ajudando ficar cada vez melhor em transfiguração, em como Dumbledore parecia estar empurrando ela pra Hermione e…
Não, ela mudou os rumos dos pensamentos.

A mais velha só foi notar que se desligou da realidade quando Miguel passou a mão em frente de seus olhos, tampando a visão da Granger rindo com os amigos.

— Os gêmeos Weasley chamam a gente para fazer algo hoje, para você conhecer mais eles, sabe como é. – Não, a Black não sabia.

— Sei?

— Ela sabe e ela vai. – Orion se intrometeu.

— Você quer ir pra onde? – A pergunta da mais velha fez o irmão ficar vermelho de vergonha.

— Nada, mas você tem que fazer amizades.

— Péssima desculpa.

Não foi a exata resposta que Talita queria, mas teria que se conter com o: Mais tarde eu te conto. De Orion.

Marco apenas apareceu para chamar o time para o treino, a garota Black não se importou o suficiente para escutar ele, a morena apenas tomava seu café em silêncio.

Por incrível que parecesse, Marco esperou paciente a garota terminar de tomar café, quando ela terminou a mais alta apenas pegou sua bolsa e saiu acompanhada pelo irmão.

Orion parou no meio do caminho, ele que esperaria Hermione para a garota ir assistir o treino.

Pela barba de Merlin, por que ela chamou Hermione para assistir o treino? Claro, foi indiretamente, mas não deixou de ser chamado.

As roupas de Talita eram fina demais para o frio que ameaçava chegar. O vento batia em seu corpo e entrava por sua roupa, quando ela foi pro ar com a vassoura piorou, inverno chegaria mais cedo, dava para notar.

Orion demorou pouco tempo para aparecer, os olhos da mais velha, mesmo que discretamente, procurou Hermione e a encontrou nos pequeno campo onde ficava sentado os reservas do jogo, Miguel também estava ali, ninguém não perguntaria nada, já que pra todos ali, tirando Orion e ela, a Lufa-lufa era fraca em questão de quadribol, algo que era tolo de se achar e eles sabiam que Hermione Granger não era muito fã de quadribol, assim a fazendo não saber muita coisa.

Eu já assisti muitos jogos de quadribol ao decorrer dos dois anos que eu estudo em Hogwarts, já vi Harry jogar, ele era um ótimo apanhador, o mais novo a entrar no time, não estou falando isso por ele ser meu amigo, era algo que até mesmo o professor Snape teve que admitir.

Então quando eu falo que Orion tinha algo superior como apanhador eu não estou mentindo, sua velocidade, garanto que não era por causa da vassoura ou então era, mas não parecia, parecia que seu corpo era perfeito para isso, ele passava e mal dava para notar ele passando. Talita não ficava atrás, era uma ótima artilheira, não posso falar a melhor, porém era melhor que alguns garotos da Grifinória que eu já vi.

Orion era rápido, conseguiu pegar uma vinha minúscula que estava enfeitiçada com uma facilidade incrível, eu apenas via que ele tinha pegado depois de já está em sua mão. Como eu tinha falado antes, Talita era boa, talvez ela seja um ótimo para sua posição, mas não um… épico, como Orion em sua própria posição.

Quando o treino acabou, todos saíram do campo devagar. Apenas Orion e Talita ficaram, Miguel, acho que é assim o nome dele, ainda estava ao meu lado, mas ele dormia, até parecia que ele tinha assistido tantas vezes os dois jogar que ficou no tédio e foi dormir. Logo o campo de quadribol fica totalmente vazio e os dois irmãos começaram a andar em minha direção. Orion estava animado, falava e gesticulava muito rápido, sua irmã apenas escutava em silêncio, foi algo que notei em Talita, ela era mais na dela, preferia o silêncio do que conversar como o irmão, aquilo no mínimo era… fofo.

Quando os dois ficam ao meu lado, a mais velha solta o cabelo, seu cabelo era lindo, parecia macio, ele parecia brilhar.

— Mione, o que achou do treino? – Orion perguntou animado, sua animação era contagiante enquanto seu corpo se apoiava no de Talita. A mais velha não reclama, apenas chuta a perna de Miguel que acorda em um susto.

— É pra ser sincera? –  O moreno concorda. — Vocês dois são incríveis.

Por um breve e rápido momento, vi os olhos de Talita brilhar como se ela estivesse rindo, Orion comemorou.

— Aqui o treino é leve, no Castelobruxo é mais complicado, sempre tinha o saci que acabava atrapalhando, ele bem chato, mas era ótimo em arrumar confusão, às vezes tinha as caiporas que jogava lixo na gente obrigando a todos desviar enquanto treina. – Orion argumenta, Miguel apenas o encarava com tédio.

— Tirando o clima. – Talita falou baixinho, eu apenas escutei porque eu a encarava.

— Bom, vocês dois são incríveis. – Declaro com um sorriso.

— Nosso jogo vai ser contra a Corvinal, não tenho uma análise sobre eles, então eu aposto em Orion para pegar o querido pombo de ouro.  – Miguel levanta uma sobrancelha.

— Você cedeu o lugar de apanhador para Orion? – Miguel perguntou revelando que não prestou atenção no treino.

— Ele é melhor que eu. – A mais velha dá de ombros, o cacheado parecia querer rebater, mas não falou nada.

— Irei torcer para vocês. – Interrompo, estava na cara que começaria um bate boca infinito. — Porém não para sonserina. - Talita solta um leve suspiro, como se fosse risada, Orion apenas sorria tranquilamente.

— Vamos galerinha, estou morrendo de fome. – Miguel se levanta, seus olhos em Talita que se mantinha parada como uma parede, Orion ainda se apoiando em seu corpo.

Talita se manteve em silêncio, não falou nada, suas sobrancelhas estavam juntas, em pura confusão e até parecia raiva, talvez dor, a garota estava séria demais pra quem estava tranquila a pouco tempo atrás.

Orion se afastou e Miguel apenas empurrou Talita pro banco, a fazendo cair sentada, a morena não reclamou, apenas desviou o olhar de Miguel que a encarava sério demais.

A mais velha apenas dá de ombros enquanto se levanta, seus olhos param em mim. Era intenso, intenso demais para manter contato visual. Desvio o olhar para meus dedos, mas minha visão é interrompida pela mão da mais velha, seus dedos eram longos e sua mão era muito bem cuidada, meus olhos seguiram sua mão.
Das pontas dos dedos de sua mão até seus olhos, ela não demonstrar nem um pingo de emoção me deixava louca, isso era humanamente impossível, sempre vai ter algo, sempre vai demonstrar, mesmo que você tente.

A única maneira que fazia eu acreditar que ela estava viva e não era um robô era suas pupilas dilatadas e sua respiração leve e tranquila.

— A água. – Sua voz era rouca, fazendo eu sentir minhas bochechas esquentar, rapidamente entrego a garrafa pra ela.

Orion já estava já se deitando, mas antes que ele se deite Miguel já o levantava pela blusa.

— Vá pegar as bolsas. – Ele declara irritado fazendo o mais novo resmungar e sair.

A franja de seu cabelo cai sob seus olhos, tapando aqueles castanhos tão intensos, Orion resmungou quando levantou e apenas se virou para poder pegar suas coisas logo dentro do vestiário do campo.

E lá estava nós, olho pro chão, pra arquibancada, pros aros de gol, para as vassouras, para o céu, até mesmo para Miguel que olhava ao redor, para tudo, menos pra ela, mas eu olho pra ela, a mais velha olhava pro céu azul, seu cabelo caindo sob seus olhos a impedindo de ver como esse dia estava lindo.
Meus dedos foram automáticos, eu fui automática, apenas estendi minha mão e tirei os fios rebeldes da frente de sua visão, o bom é que ela não me olhou, o lado ruim é que ela não me olhou.

Mas também tinha o lado bom que eu poderia encarar ela sem ela me olhar de volta, ou foi isso que eu pensei.

Talita me encarou, apenas deixou a cabeça tombar pro lado e me encarou, meu coração acelerou e minha barriga deu cambalhotas, eu sentia meu corpo formigas sob seu olhar e eu pensei que iria desmaiar ali mesmo, naquele exato momento, mas para o bem da minha sanidade Miguel interrompeu.

— Vamos para a enfermaria daqui, aquele balaço te detonou. – Encaro confusa o mais velho que puxava Talita para se inclinar e levantou sua blusa.

As costas da mais velha tinham uma marca roxa horrível. Deve ter sido na hora que o corpo dela foi acertado em cheio pelo balaço, mas como ela não teve nenhuma reação eu pensei que não tinha acertado com tanta força.

— Isso não é nada. – Ela sussurrou.

— Não me importo, não estou te dando opção.
Silêncio, era constrangedor ficar ali entre os dois.

Talita ainda me encara, eu ainda a encarava, Miguel estava de costas pra nós, a mais velha desceu a blusa e não desviou o olhar para depois voltar a me encarar. A morena solta um suspiro antes de abrir a boca para falar algo, mas logo Orion chegou fazendo eu olhar pro céu e Talita olhar o chão em nossos pés.

Talita pegou sua bolsa e apenas falou um vamos logo enquanto andava.

Talvez fosse por sua altura, já que isso significa que suas pernas seriam grande, na verdade é, mas ela parecia andar normal e já estava longe, Miguel conseguia a acompanhar tranquilamente, ele falava e gesticulava irritado, talvez com a resposta dela sobre o machucado.

— Ignore ela, às vezes Talita consegue mexer com a cabecinha fraca de vocês, adolescentes. — Orion comenta ao meu lado enquanto tocava em minha testa, encaro ele sem entender.

— Temos a mesma idade.

— Na verdade eu sou um ano mais velho, eu também repetir de ano, mas eu também sou um pré-adolescente que está ganhando hormônio, não caía nesse papinho dela, esse jeitinho sem-vergonha dela, pelo amor de Merlim. – Encaro ele sem entender.

— Por que está falando isso? Até parece que eu tô afim dela. – Zombo fazendo o mais novo me encarar, seus olhos é tão parecido com os de Talita, mas… não era nada igual.

— Você não tá? – Nego. — Então que encaradas foram aquelas? Por que nervosismo se não tá afim dela? – Fico em silêncio, era exata, eu nunca pensei em nenhuma garota assim… na verdade, só teve uma vez e acabou, mas era bobagem, não era nada nessa proporção.

— Nunca pensei em garotas com segunda intenções. – Ele concorda e encara o chão enquanto caminhamos em direção ao Castelo.

— Apenas perguntei porque me preocupo com você, aliás você é minha amiga, certo? – Orion abre um sorriso, retribui seu sorriso.

— Claro que somos amigos, você é um dos únicos sonserinos gente boa que eu conheci, além da sua irmã, apenas quero ser amiga dela. – Orion fica em silêncio.

— Sabe, vou ser sincero com você, estou apenas dando um conselho, mas eu acho que Talita não tá pronta pra ter amizade, claro, é bom começar, eu sei a reputação dos gêmeos Weasley, mas eles podem ser um começo, quero que ela tenha amigos, no Castelobruxo Talita se concentrou demais em mim para focar no próprio futuro. – O mais velho tinha um sorriso labial se formando, um sorriso meio agradecido. — Não quero que ela faça isso novamente.

— Ela parece uma boa irmã.

— Ela é a melhor que eu poderia ter, às vezes super protetora, mas é o jeitinho dela que muitos questionam. Sabe, somos só nós dois a anos, claro, tem minha mãe, mas ela é um caso perdido, agora que tio Sirius apareceu… até mesmo parece que ela entrou em curto, quando nosso pai morreu, eu era jovem demais para me lembrar, mas ela não, se não me engano ela tinha quatro ou cinco anos.

— Ela é cinco ou seis anos mais velha do que eu? – Pergunto surpresa.

— Cinco pra ser exato. – O cacheado rebate.

— Tão demorando demais. – Miguel aparece em nossa frente e começa a empurrar a gente pelo ombro.

— Ei, calma ainda. – Ele não escuta e continua a nos empurrar, Orion e Miguel começam uma pequena briga.

Talita estava mais a frente. A mais velha estava perto de uma árvore, com uma coruja que só reconheço como sua porque me lembro dela no vagão de trem quando estávamos vindo.

Seu dedo estava no bico da ave que parecia estar adorando a atenção da dona, seu olhar era suave, a mais velha até sorriu pra coruja de forma carinhosa.

Nem parece a garota que bateu no Malfoy por causa de Orion.