70 | CLARICE.
Os cachos nas pontas do meu cabelo estão exatamente do jeitinho que eu quero e dá um charme à mais para a coroa de flores brancas que eu uso no topo da cabeça. A faixa branca que eu uso como top valoriza meus seios e a saia longa com uma abertura lateral também da mesma cor deixa à mostra minha perna direita. Uso acessórios, como argolas pratas grandes, meu cordão com pingente de sol e minha mais nova aliança. Pois é, uma aliança. Logo quando eu acordei no dia seguinte do aniversário da Marilu, ele me aparece com café na cama e duas alianças pratas. Não preciso dizer que surtei e quase derrubei todas as torradas que ele faz pra mim na cama. Foi, definitivamente, algo que me surpreendeu muito.
— Porra, madame! Até tu acabar de se arrumar, já estamos no carnaval. — Nathan grita do andar de baixo e eu bufo.
— Já estou descendo, amor! — O aviso e apenas passo um gloss brilhante em meus lábios para descer.
Todos já estavam prontos e me esperavam na sala de estar. Não acho que demoro para me arrumar, apenas me preocupo em sempre estar linda, se bem que não preciso fazer muito esforço pra isso.
Olho para minhas rasteirinhas pratas com brilho e me sinto extremamente satisfeita comigo mesma. Puta merda, eu sou muito linda mesmo.
Desligo a luz do quarto e pego minha bolsa, checando se tudo estava lá dentro mesmo e desço as escadas lentamente. À medida que piso em cada degrau, ouço as vozes dos meus amigos que conversam entre si sobre algo aleatório e logo quando piso meus pés no chão, minhas bochechas se coram ao perceber que todos estavam olhando pra mim.
— Jesus amado. — Maria deixa escapar enquanto me encara boquiaberta e eu rio, me aproximando ainda mais deles.
— Tá linda demais, amiga. — Johnson me elogia e eu o lanço um beijo no ar. — Se eu não respeitasse muito você e meu irmão, avançava em você agora igual um urso.
— Eu também. — Gilinsky levanta a mão, porém logo abaixa com os olhos encolhidos depois de levar um beliscão de Marilu e um olhar mortal de Nathan. — Tô brincando, galerinha.
— Vocês não prestam. — Digo depois de gargalhar horrores.
Nós nos apressamos em sair logo de casa e irmos separados. Num carro, foi eu, Nathan, Elisa e Johnson e Marilu e Gilinsky optaram por ir de moto. Sim, Maria de Lourdes deixou Jack pilotar sua moto. Temos dezoito anos de amizade e ela nunca me deixou encostar no freio desse maldito veículo. Talvez ela esteja mesmo apaixonada.
Logo quando Nate começou à dirigir, ele pousa sua mão na minha coxa e acaricia a mesma com seu polegar.
— Você tá a mulher mais linda do mundo. Não que não seja todos os dias — Ele me olha. — Mas hoje, você tá um espetáculo.
Meu rosto pega fogo e eu dou um sorriso sem graça. Nem sequer sabia como responder.
— Eu tenho muita sorte de ter você. — Ele diz de forma calma com os olhos passando sinceridade. Eu me desmancho por completo. É tanto amor que não cabe dentro do meu peito.
Coloco minha mão por cima da sua e entrelaço nossos dedos, logo depois beijando os mesmos.
— Eu amo você. — Falo de coração e ele me olha apaixonado. Meu Deus, é como se eu pudesse decifrar cada mínimo gesto dele. Talvez eu tenha gravado suas micro expressões e detalhes ao todo.
— Meu Deus, que nojeira. — Escuto a voz de Johnson atrás de nós e reviro os olhos enquanto rio. Já Nathan, ergue seu dedo do meio para o retrovisor e o loiro ri ao notar o gesto no reflexo do espelho.
Somos definitivamente um bando de crianças.
•••
A praia de Copacabana já estava lotada. O mar azul, que por conta da noite já estava escuro, não era nada comparado ao oceano de pessoas que andavam de um lado para o outro na areia. Todos nos preparativos para o novo ano que viria. E, não sendo diferente, eu também estava.
Na beira do mar, ajoelhada, eu rezava para Iemanjá. Pedia por um ano bom, cheio de paz, felicidade e positividade. Que nessa nova etapa da minha vida, estando ao lado de uma das pessoas que eu mais amo no mundo e tendo minha família e amigos comigo, tudo só andasse para frente. Agradeço por tudo. Pelo ano que daqui à poucos minutos iria embora, por tudo que me aconteceu nos últimos meses, pela experiência incrível e inesquecível que passei fora do meu país e, claro, agradeci por Nathan. Por ter o colocado na minha vida, tornando tudo mais fácil e claro pra mim. Por todos os nossos momentos, risos, choros e até mesmo os momentos difíceis, que serviram para nos mostrar e ensinar muita coisa. De verdade, eu não me arrependo de nada, estando com ele ao meu lado.
Peço por saúde e proteção à minha família. Por mais e mais bençãos na minha vida e que, se fosse possível, esse novo ano me deixasse ainda mais feliz de estar viva e presenciando tanta coisa linda que é a vida.
Eu suspiro e abro meus olhos, encarando o buquê de rosas brancas nas minhas mãos e dando um sorriso.
— Axé.
Eu beijo o caule de uma por uma e jogo as flores no mar, mentalizando tudo que eu queria e agradecendo também. Naquele momento, me sinto revigorada e feliz. Tinha certeza que agora sim, eu poderia começar meu ano bem.
Assim que termino de deixar as flores ser levadas pela água, sinto os braços de Nathan abraçarem minha cintura e beijarem meu ombro. Ele não perguntou o quê eu estava fazendo, pois já sabia. Sabia que eu mentalizei para que tudo desse certo para nós.
— Quer fazer também? — Pergunto enquanto olho para as rosas desaparecendo no mar.
— O que? — Nate pergunta. Me viro para o olhar.
— Pedidos. — Eu seguro suas mãos e ele morde o interior da sua bochecha. Parecia ponderar.
— E se não funcionar? — Ele me olha. — Sabe, meus pedidos...
— Nunca saberá se não tentar. — Tombo levemente a cabeça pro lado e encaro seu rosto. Ele permanece em silêncio por alguns segundos e, como o esperado, vejo um sorriso nascer no seu rosto como de quem não conseguia relutar. Eu rio animada e o puxo pra beira do mar novamente, agora, para fazer um ritual diferente.
Eu aperto sua mão e o olho, vendo que ele encarava a água com dúvida.
— Vamos pular sete ondas. Em cada onda, você mentaliza algo diferente. Tudo bem? — O digo e ele assente ainda receoso.
Assim que a primeira onda chega, ele segura minha mão com força e a pula. Molha seus pés e resmunga por ter molhado um pouco sua calça branca, o que me faz rir.
— Porra, vou sair daqui ensopado, amor. — Ele reclama.
— Vem, Nate. — Ignoro seu choramingo e continuo fazendo a tradição.
Após pularmos as seis ondas que restavam, nós voltamos para perto dos nossos amigos, pois faltava apenas cinco minutos para a virada. Os fogos já estavam sendo preparados para iluminar o céu de Copacabana e todos já se demonstravam ansiosos pela chegada do novo ano.
— A Lox tá muito chapada. — Johnson aparece com uma cara de quem tinha acabado de virar babá de crianças e eu gargalho ao ver minha amiga cambaleando com uma garrafa de champanhe na mão.
— Amiga, não deu nem meia noite. — A repreendo e ela estala a língua no céu da boca.
— Imagina se eu morro meia noite? Preciso beber agora e aproveitar. — Ela embola um pouco as palavras e isso me faz rir mais ainda. Todos já estavam bem acostumados com os momentos alcoólicos depreciativos de Mahogany.
A contagem logo começou. Eu senti minhas pernas gelarem e segurei a mão do meu noivo com força. Estava quase na hora. Não faltava muito tempo para que o primeiro de muitos anos ao lado do amor da minha vida chegasse.
— Dez, nove, oito... — A multidão começa à contar e eu e meus amigos acompanhamos.
Nathan abraça minha cintura e cola as laterais do nosso corpo, transmitindo seu calor e me deixando mais calma naquele momento de tensão.
— Sete, seis, cinco... — A regressiva continuava.
Num clique, uma pergunta surgiu na minha cabeça. Eu mordo meus lábios e olho para o rosto de Nate, chegando mais perto de seu ouvido e sussurrando minha dúvida.
— O que você pediu para o próximo ano?
— Quatro, três... — Os números reviravam minha barriga.
Nathan olha para mim sorrindo e, sem demora, aproxima sua boca do meu ouvido e sussurra.
— Você. Cada dia mais.
— Dois, um! — O último número berrou da boca das pessoas e, numa fração de segundos, o céu estrelado de Copacabana foi tomado por milhões, literalmente milhões de luzes de fogos de artifício. As pessoas gritam, se abraçam e choram. Algumas olham pro céu petrificadas, outras ocupam seu tempo abraçando os familiares e amigos e eu, ali do lado do minha melhor definição de paz, eu me sentia em casa.
Eu me viro para ele, como uma adolescente indo dançar com seu par no baile de formatura e coloco as mãos em seu pescoço, sorrindo antes de juntar nossos lábios num beijo calmo e completamente repleto de amor. Nós transbordamos amor. Foi assim desde o dia que eu o conheci, naquela casa, com aquelas roupas largas e essa marra de durão que ele nunca abandona. O Nathan todos os dias me ensina muita coisa. Me ensina como ser uma pessoa melhor, não apontando os meus erros e me pressionando para corrigi-los, e sim mostrando em como a vida é linda quando se vive mais leve. E, ao seu lado, eu sou tão leve como uma nuvem. Nosso amor é leve como um barquinho de papel numa correnteza de água. A paixão que sentimos pelo outro é avassaladora, como um furacão que bagunça tudo, mas nós dois juntos, somos crianças descobrindo o amor. Desde o primeiro dia.
Afundada nos seus braços e totalmente rendida ao seu amor, eu me recordo de tudo. Do nosso primeiro beijo naquela festa, do primeiro sexo, do primeiro toque carinhoso, do primeiro eu te amo e de quando contra nossa vontade, fomos separados para ver se aguentaríamos mesmo ficar longe um do outro.
E adivinha? Não conseguimos.
Isso que é amor. Leveza. Ao lado dele, eu me sinto acolhida como ninguém. Ele me faz rir como ninguém, me faz rir como ninguém, me faz gozar como ninguém...
Na minha vida inteira, achei que muitas coisas fossem o que eu queria ou precisava, mas o que eu descobri no momento que o tive ao meu lado, foi de que o que eu sempre precisei, foi de paz. E com ele, eu tenho a paz, tranquilidade, o amor e a gratitude mais linda existente.
Nathan é o meu abrigo, meu amigo, meu amor desde sorriu pra mim pela primeira vez e nesse novo ano, tudo que eu quero é que cada dia mais eu possa conhecer mais um pouco dele. De nós, de mim.
O meu amor mais lindo e puro.
FIM
brincadeira, vai ter spin off.
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