ೋ°|𝗖𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 𝟒𝟕
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Seus olhos se abriram de súbito e rapidamente os fechou quando uma luz forte bateu diretamente neles. Piscou freneticamente tentando se acostumar com a claridade em seu rosto, ainda se sentindo um pouco grogue. Sua garganta estava seca e sua cabeça doia como se centenas de agulhas estivessem penetrando seu crânio.
– Boa noite.
Escutou uma voz rouca e baixa que ecoava não tão longe de onde estava e virou a cabeça lentamente na direção do som.
Sua visão embaçada voltava ao normal devagar, enquanto sua consciência ainda tentava descobrir onde estava e quem era a pessoa ao seu lado. Os cabelos negros curtos, pele pálida que podia ser percebida mesmo com a pouca iluminação naquela parte da sala desconhecida e o olhar penetrante era terrivelmente familiar, Katsuo.
Não. Suas sobrancelhas se franziram e seus olhos se arregalaram quando suas memórias voltaram depois de despertar de seu desmaio. O pesadelo infelizmente não era fruto de seu consciente, aquilo tudo havia acontecido de verdade.
– Droga... K-Kenji. – Sua garganta seca protestou apenas com uma simples palavra e tossiu quando sentiu a sensação de irritação.
– Esse é meu nome. – Ele sorri divertido vendo o olhar furioso que se formava na mais nova, enquanto mantinha os braços atrás das costas – Pensei que não acordaria mais. Shibuya está um caos e é questão de tempo até que ele apareça.
– Sukuna... – Murmurou o que conseguia dizer naquele momento – N-Não... pode.
– Deixa de ser chata, se você fosse mais boazinha, talvez o meu irmão seja mais piedoso com você.
– V-Vai pro inferno! – Sua garganta pareceu se rasgar a cada palavra.
Levantou seus braços em uma tentativa de se levantar da mesa retangular em que estava deitada no meio da sala, mas então percebeu que mal podia mecher suas pernas e braços, estavam presas pela mesmas correntes de antes, só que agora estavam conectadas na mesa, impedindo qualquer possibilidade de se mover.
Sua visão parou em sua barriga saliente e ofegou parando de tentar se soltar, quando se lembrou dos momentos antes de apagar completamente de fraqueza no quinto subsolo. Pensou naquele que sempre estará conectado consigo graças a seu filho.
Satoru.
Seus olhos arderam e as lágrimas insistiam em se formar em abundância, deixando sua visão embaçada.
– Não adianta se esforçar tanto. Lembro de como Katsuo me dizia que a sua vida não seria fácil, Haruna. Que você se arrependeria de insistir em se envolver no mundo jujutsu, que você seria a ruína dos feiticeiros.
– Ele também já me disse isso. – Suspirou – Você deve ter o conhecido bem, já que sabe de tantas coisas sobre ele.
– Fomos amigos por alguns anos, quando soube de um Uchiha que havia abandonado seu clã... não pude perder a oportunidade. – Sorriu, se apoiando na mesa – Ele tinha um ego enorme e era bem narcisista, pessoas assim são fáceis de manipular, mesmo sendo inteligentes e desconfiadas como vocês Uchihas.
– Manipular... – Haruna murmurou com os olhos estreitos.
– Pois é... ele queria dar um fim na família. Digamos que eu dei a ideia de acabar com o mal pela raiz, ele não queria dessa maneira, mas a vontade de vingança que ele tinha só me ajudou a convence-lo. – De divertiu vendo a feição indiferente da mulher vacilar.
– Isso quer dizer que... – Engoliu em seco, olhando nos mesmos olhos negros daquele que matou sua antiga família.
– É isso mesmo, Haruna. Todos morreram porque eu o induzi a fazer isso, ele temia que as maldições reinassem na terra e a filhinha do irmãozinho dele era a chave pra isso. Ele queria ser o mais forte, o próximo líder a prosperar seu sangue raro, nada melhor do que tirar os obstáculos do caminho.
Os lábios pálidos da morena tremeram e seus olhos queimaram, a ardência era quase insuportável, obrigando a fechá-los. Seu coração disparou instantaneamente, suas mãos tremiam e quando voltou a abrir os olhos, apenas viu o sorriso presunçoso do mais velho, que lhe proporcionava nada além de nojo.
– Então foi você...!
– Foi bem difícil, admito. Como eu disse, ele não queria. – Riu – A última pessoa que ele amava neste mundo era seu irmãozinho e matá-lo era extremamente doloroso para ele. Já te deixar viver... digamos que eu tenho algo haver com isso também.
– Seu desgraçado! – Puxou as correntes em vão e grunhiu quando a ardência em seus pulsos começaram.
– Antes de tudo, contei sobre você, esse foi o gatilho para que ele cedesse. Ele sempre acreditou que te ganharia e ficaria ainda mais perto de subir de nível com sua Kekkei Genkai, só eu sabia que isso não aconteceria. Mas uma coisa ele estava certo, Katsuo sempre dizia que se você vivesse... – Se aproxima até seus rostos estarem a poucos centímetros de distância – ...você perderia tudo o que construiu durante seus anos depois do massacre. Seu marido está selado, seus alunos... nem sei se estão vivos e seus outros amigos, devem estar no mesmo caminho.
– Quieto...
– Mas sabe de uma coisa? Mesmo que Katsuo não admitisse nem pra si mesmo, eu sentia o pequeno laço de afeição que ele criou mesmo sem querer por você. – Sorriu vendo o olhar confuso da mulher – Ele queria te matar? Sim. Mas em seu último suspiro, até hoje desde que tomei o corpo dele pra mim, sinto a pitada de orgulho que ele possuiu vendo a pessoa que levantaria o clã, com um bom caráter e imenso poder como o seu.
– Isso é mentira! – Engoliu em seco negando com a cabeça – Katsuo nunca gostou de mim, ele sempre deixou bem claro... desde que eu o matei, a única pessoa que ele já se importou na vida, foi o meu pai...
– E você também, oras... você é a filha da pessoa que ele mais amou. Olhar pra você é como olhar no reflexo dos olhos de Tatsuo Uchiha. – Continuou – E mesmo sabendo que você é uma ameaça, ele teve afeição a você e orgulho por ter conseguido um poder que ele nunca conseguiu. É até engraçado...
– O que é engraçado?
– Como seu tio disse, sua vida será difícil. Todos que se aproximam de você morrem, até ele morreu! – Soltou uma gargalhada vendo a feição deria dela vacilar.
– Quieto... – Fechou os olhos, virando a cabeça de um lado para o outro, sentindo as palavras dele perfurarem seu peito como a mais afiada das armas.
– Você está sozinha, Haruna. – Levou seu olhar maldoso até o ventre dela – Bem... logo realmente estará totalmente.
– E-Eu disse pra você ficar quieto!
– O seu filho já está com os minutos contados.
– Mas até agora você não conseguiu fazer nada! – Olhou nos olhos dele – A única coisa que você sabe fazer é fugir e fazer ameaças!
– Eu já te disse que eu nunca gostei de lutar, esse é o gosto do meu irmão. Bom... você esteve dormindo por tempo o suficiente para que eu pudesse pensar, nisso que eu sou bom. – Mostra a mesma lâmina negra em que segurava com uma das mãos, que estavam atrás das costas.
– Você e Sukuna realmente são irmãos, são dois desgraçados...
– Olha, se serve de consolo somos só meio-irmãos. A mãe dele era só uma prostituta qualquer do meu pai. – Riu da feição amargura da mulher – Mas ainda assim... ele foi o unico que esteve ao meu lado e nunca me julgou pelos meus atos, então eu nunca o julguei por fazer o que ele queria.
– Deve ser por que você também é um idiota. – Engoliu em seco, olhando de relance para a lâmina negra.
– Bom... mudando de assunto. Seu filho é realmente impressionante, eu sempre gostei de conhecer novos talentos extraordinários, então acho um desperdício não ter a chance de vê-lo já nascido e um Feiticeiro completo.
– E você não vai, eu vou matar você antes mesmo do meu filho nascer! – Engoliu em seco vendo ele fazer bico e girar a faca entre os dedos.
– Hum. Ele conseguiu suportar bons segundos, mas... quanto tempo você acha que ele aguenta com o poder dessa arma em você novamente?
Haruna mal teve tempo de reagir, em um piscar de olhos, o moreno penetrou a lâmina em sua barriga de súbito. Um grito agudo se soltou da garganta dela com o susto e desespero, a dor se alastrou por poucos segundos e logo depois, a arma brilhou em um azul intenso que obrigou ambos a fecharem seus olhos.
O calafrio que seu corpo sentiu a trouxe devolta de seu choque, o frio começava a penetrar as paredes lentamente, a mesma sensação que teve na primeira vez em que Kenji usou a arma na intenção de matar seu filho. Mas dessa vez, Kenji não mostrou surpresa e sim, a mesma indiferença que sempre mantinha em sua face quando estava concentrado em algo.
– Tira, tira isso de mim!
Engoliu em seco vendo aquilo em sua barriga, sentindo o desconforto de estar naquela situação. Digamos que ver uma arma de mais ou menos vinte centímetros inserida em você não é lá muito confortável e pior, sendo que estava diretamente em seu bebê.
– A energia amaldiçoada dele se ativa de imediato. É bem diferente da sua, mas ao mesmo tempo... devo admitir que é realmente impressionante. – Ele dizia, enquanto sua respiração saia como uma nuvem de fumaça, pela baixa temperatura – Uma perfeita mistura dos pais, e devo dizer que ele puxou a sua teimosia, Haruna.
– Tira... tira isso...do meu filho! – Fechou os olhos e seus dentes batiam uns nos outros e seus pelos se arripiavam sentindo o frio se formar diretamente de dentro de sua barriga – Eu preciso... eu preciso sair...
– É engraçado, sabe? – Ele se apoiou na mesa, vendo a mulher suar frio enquanto murmurava palavras desconexas – Você realmente é uma feiticeira muito forte, mas sem a sua energia amaldiçoada... não é nada mais que um fardo.
– Eu preciso sair daqui...
– Você não vai sair. – Sorriu animado vendo que ela já delirava enquanto voltava a cair na inconsciência – Só depois de sabermos quanto tempo o garotinho aguenta, então depois vamos esperar o meu irmão voltar. Vai ser bem divertido, não acha?
– Não...
– Mas você vai mesmo assim. – Acariciou os fios negros dela enquanto ela fechava os olhos.
...
O vento gelado acariciava sua pele, fazendo seus pelos se arrepiarem. Franziu a testa tentando entender como havia chegado naquele lugar, mas o reconheceu quase de imediato. Estava na entrada da propriedade principal da antiga família Gojo.
Sabia que estava sonhando, a última vez que tinha pisado naquele lugar foi em seu casamento. Mas as árvores de cerejeira que arrudiavam o jardim da frente não estavam afloradas de suas belas flores de pétalas rosadas como naquele dia.
Não se importou, naquele momento, preferia estar dormindo e sonhando com um lugar como aquele do que estar presa e indefesa, enquanto seu filho a protegia ao invés do contrário. Enfraquecendo aos poucos, não sabendo até quando ele suportaria aquela tortura.
Levou sua mão quase ele imediato até sua barriga e se assustou quando não sentiu sua pequena protuberância, abaixou sua cabeça vendo que estava lisa como sempre foi antes de estar grávida, vestida com seu antigo uniforme de feiticeira jujutsu.
Engoliu em seco e seu coração acelerou, sua cabeça começava a criar hipóteses do motivo de não estar mais com seu filho em seu ventre, mas negou imediatamente, não queria acreditar.
Era um sonho, aquele lugar não era real.
Já estava acostumada com esses sonhos estranhos, onde era levada a lugares aleatórios, uma forma que seu subconsciente usava para proteger sua saúde mental desde que se entendia por gente. Ou quando era alertada de que algo ruim estava para acontecer, se esse era o motivo, seja lá quem estivesse tentando avisá-la, estava bem atrasado.
Seus pés seguiam quase no automático para dentro da propriedade, não se questionou de não ter controle de suas próprias ações, apenas se deixou levar. Rapidamente pode avistar um lago com águas cristalinas bem no meio do jardim de árvores de cerejeira.
Mais um motivo para saber que era um sonho, esse lago não existia naquele lugar.
Seus passos cessaram e seus olhos se levaram para o outro lado da margem do lago desconhecido. Suas mãos suaram e seus olhos negros opacos brilharam quando se prenderam a atenção em uma silhueta que permanecia sentada em um banco de madeira escura.
Mal pode perceber, mas já andava lentamente até o desconhecido e aos poucos, pode reconhecer a famíliar cabeleira albina.
– Satoru... – Seus olhos lagrimejaram e seus passos aceleraram de imediato até ele.
Assim que chegou a poucos metros de distância, não teve dúvidas, era ele. Seus lábios pálidos tremeram e se transformaram em um sorriso de alegria enquanto se aproximava ainda mais dele. Não pensava em mais nada, só queria tocá-lo, queria acabar com aquele sentimento de medo e desespero que sentia desde que ele se fora, mesmo que soubesse que ele não passava de uma criação de sua mente.
Sua visão estava embaçada pelas lágrimas, nunca gostou de chorar, tanto que as poucas vezes que o fez poderia contar nos dedos, mas naquele momento, não se importava.
Ele permanecia sentado, com os olhos fechados, provavelmente aproveitando a brisa fresca que fazia tanto seus fios brancos quanto os cabelos negros dela balançarem.
Mas de um segundo para o outro, seu sorriso vacilou e seus passos cessaram. Ele abriu seus olhos e virou o rosto devagar na direção dela com a feição neutra.
– Olá.
Estremeceu.
Aquela voz não era dele.
Esfregou os olhos com a mão direita, retirando as lágrimas e fazendo sua visão voltar ao normal. Era quase inacreditável, o rosto, o cabelo e o corpo era quase identificos, mas os olhos, não eram o azul infinito que tanto amava. Eram negros, tão profundos quanto os seus.
– Quem... quem é você? – Perguntou com a voz baixa.
– É bem triste não ser reconhecido por você, mesmo que seja bem óbvio. – Ele desviou o olhar devolta para o lago – Mas não a culpo, eu nem mesmo nasci ainda.
– Você... – Haruna estreitou os olhos e então pode jurar que seu coração havia errado uma batida – Você é...
– Me chamo, Toya. – Se levantou, andando lentamente com as mãos nos bolsos de uma forma despreocupada a olhando de cima, ele era tão alto quanto ele – Significa, A pequena luz que ilumina nossos arredores. Foi o pai que escolheu, porque foi o que vocês disseram que eu significava pra vocês, lembra?
– Toya... – Seus olhos voltaram a se encher de água com tamanha emoção – Você é mesmo... o meu bebê?
– Você precisa voltar agora. – Ele tocou o rosto dela delicadamente – Queria apenas te dizer que eu sempre vou te proteger, mãe.
Ele podia se parecer com o pai de uma maneira exagerada, mas os gestos cuidadosos, o tom de voz sério e feição neutra com toda a certeza não foram puxadas de Satoru.
Seu coração dolorido acelerou com o toque frio da mão dele em sua bochecha e sentiu sua garganta se fechar. Os sentimentos que seu interior transmitia estavam embaralhados, mal podia acreditar que seu filho estava bem na sua frente, mesmo sabendo que não era real, queria acreditar que sim.
– E-Eu...
– Não diga nada, você tem que voltar agora, não podemos deixar alguém como Kenji fazer isso com você, mãe. – Ele a soltou dando um passo para trás – Somos mais fortes que ele. Somos membros do clã Uchiha, não desista, não abaixe a cabeça.
– Eu não consigo... – Engoliu o caroço que se formava em sua garganta.
– É claro que consegue, você pode fazer o que quiser. Sempre foi assim, não é agora que vai mudar. – Diz estreitando seus olhos negros – Se você não pode usar sua própria força, então use a minha, você não precisa fazer tudo sozinha, mãe. O pai sempre te achou forte, e eu também. Você é forte porque perder nunca esteve no seu vocabulário e é teimosa demais pra isso.
Ele sorri levemente enquanto dava alguns passos para trás.
Ela fechou os olhos sentindo uma lágrima quente descer em sua bochecha e quando os abriu novamente, ele não estava mais lá.
Já havia acordado. Estava na mesma sala escura. Seus pulsos e tornozelos presos pelas correntes, o suor frio e o peso do olhar de Kenji em seu rosto, além do ar gelado e da arma em sua barriga protuberânte.
O medo que sentia começou a desaparecer, a única coisa que sentia naquele momento era apenas raiva, sentimento que começava a se alimentar de seu medo e crescer em seu corpo. Suas mãos tremiam levemente, tentou se mover outra vez com um único pensamento.
Precisava salvar a vida de seu filho imediatamente. Ele era uma das únicas coisas que lhe restou, não poderia deixar que o tirassem dela assim.
Não podia desistir e deixar tão fácil se abater para alguém como Kenji. Sentiu vergonha de ter desistido a tempos, mesmo que antes não quisesse admitir.
O sentimento de perder Satoru fez com que desistisse fácil demais, mas seu filho ainda dependia de sua força e estava lutando para viver nesse exato momento.
Preciso sair.
Preciso sair daqui.
– Eu já disse que não adianta, essas correntes foram feitas exatamente pra você. Sua energia está sendo selada nelas, então você não pode usá-la.
Eu preciso sair.
A voz dele estava a irritando ainda mais, isso era a única coisa que ele sabia dizer, que não adianta, que ela não conseguiria, que era melhor desistir. Talvez essa persuasão tenha funcionado no começo, mas agora não.
Precisava lutar ao máximo que podia para salvar seu filho, da mesma forma que seus pais fizeram para a salvar.
– Eu preciso sair daqui...
– Eu já disse que...
– Eu não me importo com o que você diz! – Exclamou fazendo o rosto do homem se fechar – Aqueles que poderiam ter alguma autoridade comigo estão mortos, você os matou! Você arruinou minha família e vai pagar caro por isso!
– Olha como fala comigo, gracinha.
– Eu sou Haruna Uchiha, você acha que alguém manda em mim?!
– Você não deveria ser tão arrogante nessas condições.
– Eu quero sair daqui... – Puxou as correntes com o máximo de força que conseguiu sengindo elas apertarem seus pulsos ainda mais – Eu quero sair!
Sua garganta soltou um gemido de dor quando sentiu suas forças serem drenadas e resmungou quando seus olhos queimaram, junto com a sensação de sufocamento.
Chamas azuis estranhamente tão frias quanto gelo surgiram de suas mãos. Parecia que sua barriga estava dentro de um freezer, fazendo seus pulmões terem a sensação de se encherem de água fria. Fechou os olhos e gritou quando sua pele ardeu como se gelo queimasse cada milímetro de sua carne.
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