
━━ 𖥔 ، 𝟲𝟰. 𝗢 𝘂́𝗹𝘁𝗶𝗺𝗼 𝘀𝘂𝘀𝗽𝗶𝗿𝗼 𝗱𝗼 𝗔𝗻𝗷𝗼 𝗱𝗮 𝗠𝗼𝗿𝘁𝗲.
𝗖𝗔𝗟𝗟 𝗢𝗙 𝗦𝗜𝗟𝗘𝗡𝗖𝗘, 𝘵𝘳𝘢𝘧𝘢𝘭𝘨𝘢𝘳 𝘥. 𝘸𝘢𝘵𝘦𝘳 𝘭𝘢𝘸.
𝘭𝘢𝘺𝘰𝘶𝘵 𝘣𝘺 𝘯𝘪𝘯𝘢, 𝘢𝘬𝘮𝘢𝘯𝘮𝘪.
❛𝒯𝘶𝘥𝘰 𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘯𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢,
𝘦𝘶 𝘧𝘪𝘻 𝘱𝘰𝘳 𝘦𝘭𝘦. ℳ𝘢𝘴 𝘢𝘨𝘰𝘳𝘢 𝘦𝘭𝘦
𝘧𝘰𝘪 𝘦𝘮𝘣𝘰𝘳𝘢, 𝘦 𝘦𝘶 𝘢𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘢𝘲𝘶𝘪.❜
❛𝓥𝘰𝘤𝘦̂ 𝘦́ 𝘦𝘴𝘱𝘦𝘤𝘪𝘢𝘭 𝘱𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦
𝘯𝘢𝘴𝘤𝘦𝘶 𝘯𝘦𝘴𝘵𝘦 𝘮𝘶𝘯𝘥𝘰.❜
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; País de Zou.
O impacto repentino da água gélida contra suas feridas abertas foi como lâminas invisíveis rasgando sua pele, enviando ondas de dor lancinante por todo o seu corpo. Elisabette abriu a boca em um grito mudo, bolhas de ar escapando de seus lábios e ascendendo à superfície enquanto seu corpo afundava, impotente. Cada centímetro que descia revelava, com um silêncio cruel, quem havia herdado os poderes da Akuma no Mi do Anjo Seraphim.
Paralisada, o fôlego se esvaindo rapidamente, sua visão começou a se turvar. O desespero se misturava à resignação conforme o pensamento se tornava inevitável: ali seria seu fim. Não conseguia se mover, não conseguia ver Wyper ── ele devia ter morrido na queda. E ela seria a próxima.
As correntes violentas a arrastavam sem piedade, jogando-a de um lado para o outro, puxando-a inexoravelmente para as profundezas escuras do oceano. Seus sentidos começavam a falhar, o sal queimando seus olhos, o aperto invisível da água esmagando seus pulmões como um abraço sufocante da própria morte. O destino que sempre tentara evitar finalmente a alcançava, implacável. Não havia para onde correr, não havia mais luta ── somente a escuridão se fechando ao seu redor, fria e inexorável.
Por que aquilo estava acontecendo? Quando, exatamente, ela se perdera daquela maneira?
Elisabette tentava se mover, mas seu corpo recusava-se a obedecer. O desespero se misturava à confusão enquanto seu próprio sangue tingia a água ao seu redor, dissolvendo-se em vermelho profundo. Suas asas... estavam se desintegrando. Montes de penas e penugem flutuavam ao seu redor como restos de algo que já não lhe pertencia, fragmentos de si sendo arrancados sem piedade.
Sua mente era um caos absoluto. Tentava pensar, mas tudo se desfazia em borrões distantes, vozes se distorcendo e se sobrepondo em sua consciência. O frio, antes lancinante, começava a perder efeito conforme seus membros perdiam a sensibilidade. Seus dedos petrificados pareciam não lhe pertencer mais, e, quando sentiu que seu corpo estava prestes a se tornar um com o oceano, uma última dor aguda atravessou seu peito ── não física, mas um aperto sufocante, uma ferida que nenhum corte poderia causar.
De todas as histórias que ouvira, dos contos de fadas que escutara e tentara ler, de todos os amores e amizades que cultivara ao longo de sua jornada no Mar Azul, uma única imagem persistiu na névoa de sua consciência. No meio do turbilhão de memórias que se esvaíam como areia entre seus dedos, um vulto começou a tomar forma. E então, como se rasgasse a escuridão à força, surgiu a silhueta de Trafalgar Law. O Cirurgião da Morte.
Mesmo à beira do fim, conseguia vê-lo. Como se o tempo tivesse parado, as lembranças emergiam com clareza dolorosa: a primeira troca de olhares, o dia em que ele a socorreu após sua derrota para Bartholomew Kuma, o instante em que, sem dizer uma palavra, a levou para comer porque sabia que ela estava horas sem se alimentar. O confronto no convés do Sunny, o olhar penetrante, as palavras cortantes. Mas o que mais brilhava entre as memórias eram os momentos após o reencontro em Punk Hazard.
A primeira conversa, a primeira risada, o choro sufocado, os braços que a seguraram quando ela desabou. O toque cuidadoso ao tratar das manchas em sua pele, a dedicação silenciosa de quem fazia tudo ao seu alcance para mantê-la viva, mesmo sem prometer nada. Tudo aconteceu de forma tão natural, tão irrefreável, que só percebeu tarde demais ── naquele tapa certeiro que desferira nele, retribuído por um beijo doce e inesperado.
Seu afeto por Law começara de maneira ingênua, como uma vontade pueril de fazer amizade. Mas, sem se dar conta, passou a precisar dele. Da sua presença, do seu olhar, do som da sua voz. E agora... agora, como um nada, como uma poeira insignificante, seria tragada pelo mar e levaria consigo o poder que tanto rejeitara.
A ironia era cruel. Seu ancestral, Magni D. Elohim, passara sua vida inteira tentando manter seus descendentes longe daquela fruta maldita. E agora ela, a bastarda entre todos eles, morreria por causa da Tenshi Tenshi no Mi. Não em batalha, não lutando como uma guerreira, mas de uma forma humilhante ── afogada, agonizando, apagando-se lentamente enquanto o oceano a reclamava para si.
Elisabette sabia que nunca havia realmente vivido. Desde o início, tudo o que fizera fora pelos outros, nunca por si mesma. Não existia, apenas sobrevivia ── servia, obedecia, sacrificava-se. Mas uma força invisível, cruel e implacável, parecia determinada a arrancar qualquer resquício de felicidade que ousasse tocar, por menor ou mais insignificante que fosse. Felicidade não lhe pertencia. E, se não lhe pertencia, então jamais poderia vivê-la por conta própria.
Primeiro, pensou que fora feliz ao lado de seu pai. Depois, conheceu Luffy e tornou-se pirata, acreditando, ainda que ingenuamente, que finalmente estava vivendo. Mas, no fundo, tudo girava em torno dos outros. Aventuras, batalhas, risadas e promessas de glória, enquanto seus companheiros seguiam em busca de sonhos grandiosos ── tornar-se o Rei dos Piratas, o maior espadachim do mundo, mapear todo o planeta, tornar-se um grande guerreiro dos mares, encontrar o lendário All Blue, curar todas as doenças, desvendar os mistérios do século perdido, construir o navio mais resistente que já existira, reencontrar um amigo desaparecido... cada um deles carregava uma ambição ardente, um propósito que justificava suas lutas diárias.
Mas e ela?
Qual era o sonho de Magni D. Elisabette?
Ajudar Luffy? Navegar pelos mares sem rumo? O que, afinal? A verdade, crua e dilacerante, era que nem ela sabia. Não existia um desejo ardente em seu peito, nenhuma ambição que a fizesse lutar até a última gota de sangue. Apenas se deixava levar, seguindo os passos dos outros, preenchendo espaços vazios que não lhe pertenciam.
E agora, nos últimos suspiros, enquanto sentia o próprio corpo afundar na escuridão implacável do oceano, compreendia a verdade terrível ── comparada a eles, era apenas um rascunho malfeito do que deveria ser um ser vivo. Um quase nada. Um peso morto.
Apenas lutava. Mas lutar sem um propósito era o mesmo que não existir.
Em meio ao turbilhão de sensações que se dissipavam junto à vida que lentamente lhe escapava, um sorriso fraco tremulou em seus lábios. Seus olhos, pesados, começaram a se fechar, e a superfície, antes tão próxima, tornava-se um borrão distante, inalcançável.
Ao menos, teriam tido uma última lembrança boa dela, não? Ainda que não tivesse se desculpado com Franky... ainda que não tivesse dito todas as palavras que deveria... os momentos que compartilharam talvez fossem suficientes para que ele se recordasse dela com carinho. Ela havia sido boa o bastante enquanto estavam todos juntos, não havia? Talvez sim, talvez não. Elisabette não sabia. No fim, nada disso importava mais.
O que restava era a quietude esmagadora do oceano ao seu redor. E, envolta naquele silêncio absoluto, ela apenas agradeceu. Agradeceu por ter estado com Law uma última vez antes de tudo ruir. Agradeceu por ter sentido os lábios dele contra os seus, as mãos firmes explorando sua pele, o toque quente e cheio de promessas não ditas. Agradeceu pelo breve instante em que se permitiu existir nos braços dele sem a necessidade de lutar, sem precisar ser forte.
Com Law, Elisabette sentia-se frágil. Vulnerável.
E, pela primeira vez, não temia essa sensação. Pelo contrário, ansiava por ela. Gostava de estar à mercê da proteção e do olhar atento dele. Gostava do jeito que ele a tocava com uma gentileza inesperada, dos cuidados que lhe oferecia sem nunca dizer em palavras o quanto se importava. Gostava das carícias, dos silêncios compartilhados, da forma como ele a fazia se sentir viva, mesmo quando tudo dentro dela parecia morto.
Gostava dele.
Não.
Ela o amava.
Amava com tudo que havia nela, com cada cicatriz, com cada sombra de seu passado que a condenava a uma vida de escuridão. Amava sem reservas, sem desculpas, sem promessas de um futuro que sabia que nunca teria.
E, por mais que sua existência fosse um erro, por mais que seu coração estivesse corrompido e sua alma fosse um campo de batalhas perdidas, ainda assim, ela ousava acreditar ── mesmo que apenas por um instante fugaz ── que também havia sido amada de volta.
Entregando-se completamente ao seu destino inevitável, Elisabette deixou o corpo relaxar, os músculos cedendo à exaustão enquanto suas pálpebras, pesadas como chumbo, se fechavam lentamente. Finalmente aceitava que não havia mais volta. Não havia salvação.
Até que algo a puxou de volta à realidade.
Um aperto firme, desesperado, envolveu seu braço com força suficiente para fazê-la estremecer em um espasmo involuntário. O choque percorreu cada fibra de seu corpo, mas antes que pudesse compreender o que acontecia, sentiu-se sendo arrastada para cima. Seus olhos se arregalaram ao ver Wyper ── o guerreiro Shandia, ferido, exausto, mas ali, segurando-a com força, recusando-se a soltá-la.
Ele passou ambos os braços ao redor de seu tronco frágil e começou a nadar em direção à superfície, ignorando a dor evidente que o consumia. Elisabette, no entanto, permanecia imóvel, assustada demais para reagir, incapaz de acreditar que ainda estava ali ── que ele ainda estava ali.
O oceano negro a chamava, as correntes ainda tentavam puxá-la de volta para o abismo, mas Wyper lutava contra elas, avançando com dificuldade, os músculos tensionados pela força que fazia para mantê-la segura. O tempo parecia distorcido, arrastando-se cruelmente enquanto ambos subiam, cada metro percorrido sendo uma batalha contra a própria morte.
Então, romperam a superfície.
O ar invadiu os pulmões de Wyper em uma lufada violenta, seu peito subindo e descendo enquanto buscava desesperadamente por oxigênio. E então, como se apenas naquele instante percebesse o quão próxima estivera do fim, Elisabette inspirou bruscamente, sugando o ar como se ele fosse sua única âncora para a vida.
Seu corpo estremeceu com o impacto da respiração abrupta, a sensação de queimor em seus pulmões misturando-se ao pânico e à incredulidade. Ela não havia morrido. Não ainda.
E tudo isso porque Wyper havia se recusado a deixá-la afundar.
- Wyper...! ─ ela gritou, a voz fraca e trêmula, o corpo debilitado pelo contato com o mar. - O que... o que está fazendo...?!
- Temos... uma aposta... e eu... venci...
- Wyper... nós vamos morrer... ─ resmungou, quase inaudível, enquanto sentia as mãos dele segurando sua cintura com firmeza, mantendo-a junto a si, as costas pressionadas contra seu peito.
- Não... o Deus do Sol não vai permitir... ─ a voz de Wyper também estava enfraquecida, mas havia uma convicção inabalável em suas palavras, suficiente para fazê-la franzir levemente o cenho.
Wyper a segurou com mais firmeza, reunindo as últimas forças nas pernas para nadar em direção ao Thousand Sunny, que seguia à deriva, movido pela correnteza enquanto era arrastado pelo caminhar errante de Zunesha sobre o oceano. O esforço para se manterem à tona era desesperador, mas, com a ajuda do pássaro de Gan Fall, foram lançados sobre o convés do navio, seus corpos feridos e exaustos colidindo pesadamente contra o gramado que cobria o piso. O impacto arrancou-lhes o pouco de ar que ainda tinham nos pulmões, e, finalmente, cederam ao cansaço avassalador.
O mundo girava ao redor de Elisabette. A cabeça latejava como se estivesse sendo esmagada, e cada fibra de seu corpo parecia desfalecer sob o peso da exaustão. Ainda encharcada, sentia a água do mar se misturar ao sangue que escorria de seus ferimentos, tornando a sensação de fraqueza ainda mais cruel. O céu acima dela escurecia lentamente, mas seus olhos turvos mal podiam distinguir o horizonte.
"Então é assim que se sente?" pensou, ofegante, enquanto seu peito subia e descia de forma irregular, lutando para absorver oxigênio suficiente antes que seu corpo cedesse de vez.
Instintivamente, sua mão deslizou até o peito, encontrando apenas o vazio esmagador que ali se alojava. O tecido molhado de seu vestido grudava-se à pele, marcando sua silhueta de maneira humilhante, expondo sua vulnerabilidade de forma cruel e irrefutável. Naquele instante, Elisabette soube que havia perdido tudo. Sua vida, sua felicidade e, acima de tudo, o pouco que lhe restava de liberdade.
Engoliu em seco, sentindo um nó sufocante apertar-lhe a garganta. Seus lábios tremeram antes que os mordesse com força, a ponto de sentir o gosto metálico do próprio sangue. O desespero sussurrava para que fechasse os olhos e aceitasse o fim, mas algo dentro dela se recusava a ceder.
Ela ainda não podia cair.
Luffy ainda precisava dela. Seus companheiros ainda precisavam dela.
Ela... ainda precisava lutar.
Elisabette virou o rosto para o lado, seu olhar encontrando o semblante igualmente exausto de Wyper. O sangue escorria de seu nariz e da ferida aberta no centro da testa, tingindo sua pele com vestígios de dor. A visão lhe arrancou um suspiro trêmulo, um som que mais parecia um soluço sufocado, um eco silencioso de tudo o que não conseguia dizer.
Aquela ferida, percebeu, jamais deixaria de sangrar. E não se referia apenas aos cortes visíveis.
Trêmula, sentindo cada fibra do próprio corpo ceder ao peso da exaustão, tentou reunir forças para se erguer. Seus braços fracos, tão frágeis quanto sua própria existência naquele momento, mal suportavam seu peso. As mãos feridas tremiam sob a pressão, e, ainda assim, recusou-se a permanecer caída.
Ao seu lado, Wyper fez o mesmo. E, quando finalmente se encararam, ambos se viram refletidos um no outro. Dois corpos cansados, consumidos pela dor, marcados por cicatrizes invisíveis que jamais se curariam. Exaustos. Feridos. Destruídos. Por dentro e por fora.
- Wyper... eu não posso voltar ainda... ─ murmurou com a voz rouca pela fraqueza, o olhar consumido pela dor e pelo cansaço. - Eu... eu ainda preciso... lutar aqui...
- Fizemos uma aposta, Elisabette. Cumpra. ─ a voz dele carregava firmeza e autoridade. Erguendo-se diante dela, Wyper a observou de cima, e, naquele momento, ela pareceu tão pequena e vulnerável que, se ele decidisse matá-la ali mesmo, não encontraria resistência.
- Eu vou cumprir... eu vou voltar... só preciso de mais um tempo. Por favor...
- Por que eu deveria te dar um tempo? ─ Wyper questionou, os olhos afiados cravando-se nela como lâminas.
- Há um país... de um amigo... ─ sussurrou, desviando o olhar. - E há um homem... Kaido... Ele está fazendo com aquele lugar o mesmo que meu pai fez com as Ilhas do Céu...
- E ajudar a salvar esse país vai aliviar sua culpa?
- Não sei.
- Onde estão as plantas? ─ o tom dele suavizou, tornando-se quase compreensivo. Elisabette arregalou os olhos, confusa com a mudança repentina.
- Na minha bolsa... ─ murmurou, erguendo a mão trêmula. A bolsa pendia de seu punho, e Wyper a pegou sem hesitar.
- Você trouxe... o Extol¹?
- Trouxe. ─ ele revirou os olhos antes de lhe lançar um último olhar severo. - Agora pague pelo seu coração... e pare de fazer acordos tão estúpidos.
Assim que seu olhar se fixou com mais atenção na figura da birkan diante de si, Wyper sentiu um engasgo prender-se em sua garganta, os olhos se arregalando em absoluto choque. Algo que antes lhe passara despercebido agora se revelava diante dele com uma clareza aterradora. O olho outrora cego de Elisabette havia adquirido um tom dourado incandescente, com cintilações alaranjadas que pareciam se mover como brasas vivas. No centro, um espiral brilhante se desenhava ao redor de uma estrela de seis pontas branca, pulsando como se fosse dotada de vida própria. O cenho de Wyper se franziu, confusão e atordoamento se misturando em sua expressão, mas o verdadeiro terror o golpeou quando seu olhar deslizou para as costas da jovem.
Ele congelou. O ar esvaiu-se de seus pulmões, e um frio cortante percorreu sua espinha, tornando-o pálido. Engolindo em seco, sentiu um calafrio subir por sua nuca. As asas de Elisabette... haviam desaparecido.
O que diabos havia acontecido?
Com um gesto nervoso, passou a mão pelos cabelos, os dedos trêmulos se embrenhando nos fios úmidos, enquanto dava passos incertos, como se tentasse racionalizar o que via. As queimaduras haviam sumido, o olho cego fora restaurado, mas ── meu Deus ── ao custo das asas?
Recuperar a visão e ter a pele restaurada talvez pudesse ser considerado uma bênção para qualquer outro. Mas perder as asas? Para ele, para qualquer shandia comum ou skypiean, aquilo não teria tanta importância. Afinal, eles nunca puderam voar. Mas ela... ela podia. Ela voava. E agora... não mais.
Ao perceber a expressão no rosto de Wyper, Elisabette apenas se encolheu, desviando o olhar para as próprias mãos feridas, sujas e apoiadas no chão. Já sabia que suas asas haviam desaparecido ── havia as visto se desfazendo enquanto afundava nas águas, reduzindo-se a nada, fragmento por fragmento. Mas, por um breve instante de desespero, quis acreditar que aquilo não passava de uma alucinação, um delírio causado pela falta de oxigênio. Quis, com todas as suas forças, convencer-se de que não era real.
Contudo, ao encarar o olhar de Wyper, ao ver o pânico estampado em suas feições, o choque paralisando seus gestos, soube.
Oh, céus, soube.
Um soluço preso na garganta a fez levar a mão até as costas, os dedos trêmulos buscando por algo que já não existia. Encontrou apenas pele lisa, vazia, sem vestígio algum do que um dia fora sua essência. Fechou os olhos, soltando um suspiro pesado, carregado de resignação.
As asas, para um pássaro, são o símbolo máximo da liberdade. Mesmo enclausurado, um pássaro sabe que, se um dia as grades de sua gaiola se abrirem, poderá voar para longe, escapar, redescobrir o céu. Mas... e quando não há mais asas?
Quão cruel era o destino para arrancar-lhe justamente aquilo que a definia?
Irônico.
Tantos a haviam comparado a um pássaro ao longo da vida. Luffy, com sua inocente crença de que ela era um "passarão"; Zoro, sempre chamando-a de "pomba lesa"; Law, com seu costume de referir-se a ela como "passarinho"; seu pai, que a elogiava por sua velocidade, dizendo que era ágil como uma águia. Sempre foi vista como uma criatura alada ── uma mulher-pássaro, indomável, um espírito que pertencia ao céu.
Mas agora...
Agora não passava de um pássaro sem asas.
E um pássaro sem asas jamais será livre. Jamais.
Uma risada escapou de seus lábios, amarga, vazia, carregada de uma ironia que apenas ela poderia compreender. Não havia mais céu para onde fugir. Não havia mais liberdade a ser almejada. Havia apenas o vazio. Um beco sem saída.
- Acho que agora não há mais saída... ─ ela sorriu largo, um sorriso amargo, quase resignado, enquanto as mechas de cabelo, encharcadas de água e sangue, grudavam em sua pele pálida. - Acho que não poderei ver o Chapéu de Palha se tornar o Rei dos Piratas...
- Elisabette... ─ Wyper murmurou, aproximando-se para ajudá-la a se levantar. - O quão importante é para você salvar aquele país?
- Tanto... que me sinto uma hipócrita.
- Pierre, vamos levá-la de volta.
- Wyper... ─ Elisabette o fitou, confusa, embora soubesse que devia estar agradecida pelo tempo que ele lhe concedia.
- O que Enel fez com o povo das Ilhas do Céu é imperdoável, e é algo que eu não desejaria a ninguém, Elisabette. ─ ele disse, segurando-a com cuidado pela cintura antes de colocá-la sobre o dorso do pássaro, que agora assumira a forma majestosa de um pégaso. - Seis meses. Esse é o prazo que te dou antes de ir atrás de você outra vez e, honestamente... eu vou te agarrar tão forte que você não terá como fugir.
- Prometa.
- O quê?
- Nada... Vamos. ─ sussurrou, deixando o corpo tombar sobre o pescoço de Pierre, que, sem demora, ergueu voo, levando-a para longe.
Quando os pés de Elisabette tocaram o chão, foi como se estivesse dando seus primeiros passos pela segunda vez na vida. Cada movimento era desajeitado, um tropeço inevitável, um equilíbrio frágil que a fazia oscilar entre cair para frente ou para trás. O mundo ao seu redor girava, o corpo sentia-se leve demais, quase etéreo, como se faltasse um peso essencial para mantê-la ancorada à realidade. A ausência de suas asas não era apenas uma perda física ── era como se seu próprio sistema tivesse sido reconfigurado, obrigando-a a reaprender a caminhar, a existir.
Ela cambaleava descontroladamente, jogando o corpo para trás sempre que sentia a gravidade puxá-la para o chão, os ombros se projetando instintivamente para frente e depois para trás, numa busca desesperada por um equilíbrio que já não existia. O pânico sussurrava em sua mente, mas ela o sufocava, apertando com força o casaco de plumas negras contra si, como se aquilo pudesse devolver-lhe o que havia sido arrancado.
Então, à sua frente, as ruínas de Zou emergiram como um presságio de sua própria decadência. Pior do que isso, seus companheiros estavam ali, reunidos, seus olhares fixos, carregados de expectativa e inquietação. Eles esperavam por alguém. Eles esperavam por ela.
Ferida. Exausta. Mutilada. Cada passo era uma batalha, cada movimento drenava suas forças, tornando a caminhada um desafio insuportável. Nunca havia precisado se esforçar tanto para algo tão simples. Caminhar... algo que deveria ser natural, instintivo, agora se tornava um tormento, uma lembrança cruel de que, mesmo de pé, ela já não era a mesma.
Todos os olhares se voltaram para ela, congelados em uma mistura de espanto e horror. O choque era palpável ── cada um deles reconhecia, sem precisar de palavras, que Elisabette havia lutado com tudo o que tinha. Lutado até os ossos, até o último fôlego, e sua aparência era um testemunho cruel do massacre que havia sofrido. Seu corpo exibia marcas de violência implacável, cicatrizes recém-abertas, feridas que pareciam contar, por si só, a história de um sofrimento inimaginável.
Enquanto seus companheiros permaneciam paralisados pelo choque, os olhos de Elisabette passaram por cada um deles até se fixarem em Franky. Assim que o olhar metálico do carpinteiro encontrou o dela, algo dentro dela se rompeu. O peito apertou em um espasmo doloroso, e o nó que sufocava sua garganta se desfez em um soluço irreprimível.
Lágrimas espessas e quentes desceram em torrentes por seu rosto, queimando sua pele como fogo líquido. Mesmo sem o equilíbrio que um dia fora seu, ela largou o casaco de plumas e correu, ou ao menos tentou, em direção ao ciborgue. Seu corpo vacilava, os passos eram trôpegos, mas a urgência a impulsionava. Num salto desajeitado, atirou-se contra ele. Franky a agarrou sem hesitar, envolvendo-a em seus braços robustos no instante em que o corpo dela cedeu.
O rosto de Elisabette afundou em seu peito como o de uma criança buscando refúgio no colo do pai. Ela tremia, soluçava alto, sua respiração entrecortada por palavras desconexas ── tentava se justificar, se explicar, mas nada fazia sentido, nada era coerente. E Franky, com o coração pesado e os olhos marejados, apenas a segurou com firmeza, sem dizer nada, sem pedir explicações. Apenas a acolheu, como se, naquele momento, ela fosse exatamente isso: sua menina, seu bebê, perdida, machucada, buscando conforto nos únicos braços que ainda podiam protegê-la.
- Lis! O que aconteceu!? ─ Nami indagou, com desespero na voz, encarando as costas dela com os olhos arregalados e horrorizados.
- O que é isso no seu olho? ─ Zoro segurou o rosto dela com uma das mãos, forçando-a a olhar para ele. - O que você estava fazendo no Sunny!?
- Lis, você estava lutando na entrada de Zou!? Contra quem!? ─ Usopp alternava o olhar entre o rosto choroso dela e a direção da qual ela havia vindo.
- Saiam de perto dela! Ela precisa de cuidados! ─ Chopper interveio, assumindo sua forma humanoide para puxá-la dos braços de seu companheiro e segurá-la com cuidado pelos ombros, seus olhos percorrendo toda a sua silhueta para averiguar os ferimentos. - Não se preocupe, Lis! Eu cuidarei bem de você!
Elisabette nada disse. Apenas permitiu que o médico de seu bando a erguesse nos braços, carregando-a nas costas com delicadeza. Seu corpo, fragilizado e marcado pelo sofrimento, foi envolto no casaco de plumas negras, uma tentativa inútil de ocultar o desastre que havia se tornado. Ela sabia que, se seus aliados vissem seu estado deplorável, o alarde seria inevitável. E, por mais que soubesse que não poderia esconder a verdade por muito tempo, ao menos poderia ganhar alguns minutos antes que o caos irrompesse.
Os Minks eram generosos e atenciosos, sempre receptivos. Haviam acolhido os Piratas do Chapéu de Palha com hospitalidade e calor, e, em retribuição, o grupo não desejava lhes trazer mais incômodo ou preocupação. Mas os ferimentos de Elisabette eram profundos, as marcas da batalha se espalhavam por seu corpo como cicatrizes de guerra ainda abertas, e aquilo não era algo que pudesse ser ocultado para sempre.
Tentando evitar olhares curiosos, os membros do bando se dispersaram, tentando distrair os samurais, os Minks e os Piratas de Copas. No entanto, a tentativa de encobrir a verdade foi frustrada pelo olhar clínico e afiado do Cirurgião da Morte. Law observou de relance a cena e, no mesmo instante, algo o fez parar. Seu olhar pousou sobre o casaco de Chopper e, no meio das plumas, uma mão escapava ── pálida, trêmula, suja de sangue fresco que escorria lentamente.
Ele congelou. O raciocínio se alinhou em segundos.
A ausência dela durante a tarde. O silêncio incomum. As explosões na entrada. E, agora, aquilo.
Algo estava errado. Horrivelmente errado.
Law prendeu a respiração e moveu-se com rapidez, sua postura rígida e determinada. Dirigiu-se à cabana onde Chopper havia entrado, abrindo a porta com violência, o estrondo ecoando pelo pequeno espaço. O pequeno médico se sobressaltou, os olhos arregalados em pânico, mas Law percebeu de imediato que o medo não era dele. O medo era pela situação.
Não demorou para que Luffy e Robin surgissem logo atrás. Seus olhares se voltaram para Law com confusão, mas não questionaram. Não precisavam. Bastou um único segundo para que seus olhos pousassem na figura jogada sobre a cama improvisada construída pela Tribo Mink. E então, o mundo pareceu parar.
- O que aconteceu com ela? ─ Law questionou, esforçando-se para manter a expressão neutra e a voz sob controle, embora sua mente estivesse um turbilhão de pensamentos ao analisar os ferimentos à distância. - Quem fez isso?
- N-Não sabemos! Ela não disse... Ou melhor... não conseguiu dizer... ─ Chopper respondeu, a aflição evidente em sua voz trêmula enquanto suas patas ágeis limpavam os ferimentos de Elisabette, sentindo uma leve fraqueza devido ao contato com a água do mar ainda impregnada em sua pele. - Ela está encharcada... o corpo dela está frio demais... ela entrou em hipotermia... ─ o pequeno médico engoliu em seco, os olhos se movendo freneticamente entre os sinais vitais da sentinela. - Ela deve ter caído no mar. Não sei... O que ela estava fazendo no Sunny? ─ murmurou, enquanto seu focinho franzia em preocupação ao observar o tom arroxeado nos lábios de Elisabette. - Cianose²... a respiração está fraca e irregular... droga, ela está completamente exausta...! ─ a conclusão o atingiu como um choque. - A Lis não sabe nadar...! ─ a voz dele se ergueu em um tom esganiçado. - Ela deve ter ficado tempo demais se debatendo na água, tentando voltar para o navio!
E então, no instante seguinte, Chopper congelou.
Seus olhos arregalaram-se em pavor quando ele pressionou o casco contra o peito dela mais uma vez, a boca entreaberta em puro espanto.
- Eu... eu não estou sentindo os batimentos cardíacos dela...!
O silêncio que se seguiu foi esmagador.
- Mas ela ainda está respirando... Como isso é possível?!
Trafalgar cerrou os punhos e trincou os dentes, sentindo o peso esmagador da culpa desabar sobre si como um golpe certeiro na coluna. Era óbvio que Elisabette jamais contaria aos seus companheiros sobre o destino de seu coração ── se tivessem conhecimento disso, teriam, no mínimo, tentado negociar sua devolução antes de aceitar a aliança às cegas. Afinal, por mais ingênuo e impulsivo que fosse o capitão dos Piratas do Chapéu de Palha, seu afeto, preocupação e lealdade para com sua tripulação eram inquestionáveis.
Law inspirou profundamente, lutando para manter a compostura enquanto observava Chopper continuar os exames. A rena médica trabalhava com precisão, colocando compressas de água morna sobre o corpo ferido de Elisabette, tomando o máximo de cuidado para não agravar ainda mais seus machucados. Mas então, algo lhe chamou a atenção do ── ele percebeu a ausência das asas dela. O espaço onde antes se prendiam agora era apenas pele lisa, sem cicatrizes ou sinais das queimaduras causadas pelo El Thor. Um calafrio percorreu sua espinha.
Permanecendo em silêncio, confuso e aflito, Law lutou contra o impulso de questionar, de exigir respostas que talvez nem ela tivesse. Em vez disso, conteve-se e se ofereceu para ajudar Chopper, que, sem hesitar, aceitou de bom grado. Elisabette precisava de todos os cuidados possíveis, de cada gota de atenção e precisão médica, se quisessem evitar que sua condição se tornasse ainda mais crítica.
━━ Trafalgar Law, Cirurgião da Morte. ❪O ponto de vista dele❫
Já haviam se passado horas desde que Elisabette-ya fora trazida de volta para sua cabana para ser tratada. Tony-ya e eu passamos um longo tempo limpando seus ferimentos e envolvendo-os com ataduras. Por precaução, tomei para mim a responsabilidade de cuidar da área de seu busto, evitando que mais uma bomba estourasse e causasse um choque ainda maior entre os Chapéus de Palha. Ela ainda estava pálida, mas, ao menos, os tons arroxeados em seus dedos e lábios haviam desaparecido, retornando a uma coloração mais natural. Ou melhor, natural demais.
Não apenas eu, mas todos ali ainda se viam intrigados com a mudança drástica que ela sofrera em questão de uma única hora longe de nossas vistas. Como se tivesse morrido e renascido como uma nova pessoa. As cicatrizes de queimadura em seus braços e ao redor do olho haviam desaparecido, substituídas por uma pele lisa, restaurada como se nunca tivesse sido marcada pelo fogo. Entretanto, o mais desconcertante fora o momento em que, durante seus delírios, provocados pelo tempo excessivo sem oxigênio, seus olhos se arregalaram e seu olho cego brilhou. A coloração leitosa se foi, dando lugar a um dourado intenso, cintilante, com espirais alaranjadas que se desenhavam ao redor da íris.
Era algo... magnífico. Mas, ao mesmo tempo, estranhamente aterrador.
Usei o Scan para examiná-la melhor e, por fim, minhas suspeitas se confirmaram: Elisabette-ya havia se tornado uma usuária de Akuma no Mi enquanto esteve longe. Quando revelei isso aos seus companheiros, eles trocaram olhares confusos e atordoados, pois nem mesmo eles sabiam qual fruto ela ingerira ou o motivo para tal decisão.
Toda aquela situação fez minha mente viajar até a noite anterior, em minha cabana. O momento em que ela me confessou, com lágrimas carregadas de desespero e tristeza, cada detalhe de seu passado trágico. E então tudo começou a se encaixar. As ligações feitas às escondidas durante a madrugada. A Febre das Árvores. O fato de ela, de certa forma, carregar a culpa pela propagação do vírus. Pontos soltos que agora se entrelaçavam e fortaleciam minha teoria.
Contudo, eu precisava esperá-la acordar. Não apenas para entender o que realmente havia acontecido, mas porque ela também teria que dar explicações a seus companheiros. Eles estavam inquietos, preocupados com seu estado, e até mesmo o próprio Mugiwara-ya se via em um conflito interno entre permanecer em Zou até que Elisabette-ya se recuperasse ou seguir para Whole Cake e impedir Kuroashi-ya de se casar com uma das filhas de Big Mom.
Tony-ya dormia em uma rede que havia amarrado no centro da cabana, enquanto eu permanecia sentado ao lado da cama de Elisabette-ya, em silêncio, imerso em meus próprios pensamentos. A lamparina estava apagada, mergulhando o ambiente em uma penumbra sufocante. Eu odiava aquilo.
Odiava cada detalhe daquela situação. Odiava vê-la naquele estado. Odiava testemunhar sua destruição tão absoluta. Mas, acima de tudo, odiava a mim mesmo por compreender aquele que a ferira.
Porque, se ela realmente fora o demônio em forma de mulher que se pintara sem hesitação, sem gaguejar ou vacilar, então quem quer que tivesse feito aquilo possuía seus motivos. O tal Wyper ── em quem eu desconfiava ── compartilhava da mesma dor que um dia eu senti. A dor de ver tudo o que se ama ser reduzido a cinzas pelas mãos de outra pessoa.
E era isso que me consumia. Porque eu não queria entender a dor dele. Nem seu ódio.
Eu queria entender a ela.
Soltei um suspiro pesado e exasperado, passando as mãos pelo rosto enquanto uma única pergunta ecoava em minha mente: em que momento eu havia me permitido envolver mais do que o necessário com os Chapéus de Palha e, sobretudo, com Elisabette-ya?
Talvez fosse o destino, uma força inevitável que nos entrelaçava pelo D. em nossos nomes. Talvez fosse a simples convivência, um laço que se estreitava sem que eu percebesse. Eu não sabia ao certo. Mas todas as vezes que pensava nela, que meus olhos encontravam os dela... o mundo ao nosso redor parecia cessar, suspenso em um instante que pertencia apenas a nós dois.
E a culpa era minha.
Minha por sempre ter compreendido o que eram aqueles sentimentos. Minha por reconhecer desde o princípio o frio que percorria meu estômago, a inquietação sutil ao estar próximo a ela ── que, em vão, tentei disfarçar sob o véu do mau humor e da indiferença. Desde a primeira vez que senti o rosto arder, soube exatamente o que significava. E, ainda assim, fui incapaz de resistir.
Permiti que tudo evoluísse... De olhares prolongados para abraços demorados. De toques hesitantes para carícias suaves em sua pele. Do roçar de nossos lábios para um beijo, de um beijo para inúmeros outros ── até que, por fim, nos entregamos por completo, consumidos pelo desejo e pela necessidade de transformar em corpo o que nossos corações já sabiam.
Cuidadosamente, levei a mão até seu rosto, deslizando os dedos por sua pele adormecida, ainda marcada pelas dores que persistiam, mesmo após as doses generosas de antibióticos e anti-inflamatórios que havíamos administrado. Seu corpo ainda lutava, febril, aquecido pela inflamação dos ferimentos que insistiam em não cicatrizar.
Deixei que meu polegar traçasse pequenos círculos sobre sua bochecha, num gesto inconsciente de conforto, até que, num ímpeto de delicadeza, inclinei-me em sua direção e depositei um beijo suave em sua testa. Um suspiro escapou dos meus lábios, e, sem me dar conta, deixei que minha própria testa repousasse contra a sua, sentindo sua respiração trêmula contra minha pele.
Aos poucos, sua expressão de dor pareceu suavizar, como se, ainda que adormecida, ela sentisse minha presença. E então, rendido por aquele instante de vulnerabilidade, pelo aperto sufocante que se instalava em meu peito ao vê-la tão frágil, permiti-me sussurrar contra sua pele, sem sequer pensar:
- Eu te amo.
━━━━━━━━━━━━━━━━━━
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro