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━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟱𝟵. 𝗟𝗶𝗻𝗱𝗮 𝗺𝗲𝗻𝗶𝗻𝗮.

4.7K de palavras.

━━ Fairy Vearth, Terra Sem Fim ; Lua.
ᘡEnel, O Deus das Ilhas do Céu. ❪O ponto de vista Dele❫

Eu me lembro de quando havia se passado cerca de um ano e seis meses desde o assassinato de Freyja, e eu me sentia, a cada dia que passava, mais perdido e solitário em meio à vida. Minha mente era um labirinto de confusões, e meus sentimentos pareciam se dissipar sempre que seu nome era pronunciado. Isso se tornava especialmente insuportável nas inúmeras ocasiões em que eu precisava lidar com os choros escandalosos de Elisabette, que lamentava a ausência da mãe e carregava o peso da culpa que o desgraçado de Urouge havia lançado sobre seus ombros - quando, na verdade, o único responsável pela tragédia era eu. Estava tão cego pela sedução do poder em minhas mãos que não consegui protegê-las. Restou-me apenas a dolorosa realidade de me tornar viúvo aos 29 anos. Contudo, o mais devastador foi testemunhar minha filhinha se tornar órfã de mãe em uma idade tão tenra.

Quando a encontrei, agarrada ao corpo sem vida de Freyja, foi como se uma parte da minha própria existência tivesse sido brutalmente arrancada de mim. O desespero refletido em seus olhos azuis era insuportável; seu rosto, suas mãos e suas roupas estavam manchados com o sangue da mulher que mais amei, morta diante dos meus olhos. Era uma visão agonizante: a vista de nossa primogênita sobre o colo da mãe, uma criança que sequer parecia compreender a gravidade do que estava acontecendo ao seu redor.

Desde aquela manhã, não soube mais o que fazer. A única certeza que eu tinha era que Elisabette precisava, mais do que nunca, de mim. Eu tentava me manter firme unicamente por ela, pois, se não fosse por sua presença, eu já teria destruído tudo ao meu redor e encerrado com a minha própria vida. No entanto, por ela, eu precisava manter a cabeça erguida e seguir em frente.

Constantemente, ela permanecia quieta nos corredores do templo, sentada em algum canto, escondida nas lacunas ou enrolada em cobertores enquanto chorava baixinho, chamando pela mãe e pedindo desculpas. Era algo que feria meu coração, um coração que eu sequer sabia que ainda tinha. Tudo o que eu podia fazer era pegá-la no colo e ninar para acalmá-la. Ela já estava crescendo, prestes a completar 10 anos de idade, mas, aos meus olhos, ainda era aquela bebê gorda que sorriu para mim quando me viu pela primeira vez ao nascer.

Eu não queria que Elisabette crescesse, mas, inexoravelmente, ela continuava a fazê-lo. Estava deixando de ser rechonchuda; suas bochechas já não eram mais tão cheias e macias, embora ainda fossem razoavelmente grandes e conferissem ao seu rosto - mesmo sendo fino e comprido - aquelas feições redondas e infantis, que, no entanto, estavam desaparecendo a cada ano. Eu já não a compreendia; ela mudava incessantemente e, sempre que acreditava estar finalmente próximo de entendê-la, ela crescia novamente.

Embora não me arrependesse de torná-la minha preciosa guerreira perfeita, ao completar 14 anos, senti o terror se apoderar do meu corpo novamente, desde o momento em que vi Freyja morta. Durante seus treinamentos, Elisabette, pela primeira vez, morreu. Lembro-me vividamente da cena diante de meus olhos: seu corpo magro encolhido nos braços de Shura, que tentava a todo custo se explicar, afirmando que esperava que ela conseguisse desviar de seu ataque. No entanto, não conseguiu mudar de direção a tempo e foi atingida em cheio, falecendo instantaneamente.

Eu quis gritar, eu quis matá-lo, eu quis destruir tudo ao meu redor, descontando minha frustração em tudo e todos. Queria que todos sentissem a minha dor, pois, mais uma vez, a vida havia me tirado tudo o que restava: minha primogênita e única, minha filhinha querida, minha preciosa guerreira perfeita, minha Elisabette.

Seu corpo estava deitado sobre um altar, para que pudesse ter seus últimos momentos de glória. Durante um ataque de raiva, um de meus raios a acertou, fazendo-a contorcer-se. Como um milagre, o ar voltou para seus pulmões, seu cérebro recuperou o controle sobre seus sentidos e seu coração voltou a bombear sangue por seu corpo. Isso deixou não apenas a mim, mas a todos os meus servos em completo choque. De repente, Elisabette sentou-se e nos olhou confusa, seus grandes olhos azuis cheios de medo e pânico, como se tivesse sido punida ou repreendida por algo, sem sequer perceber que havia morrido e que agora eu havia lhe dado a vida novamente.

E ela morreu novamente, semanas depois. E de novo, e de novo, mais uma vez, outra vez, novamente e de novo; era como se eu não tivesse mais controle sobre sua vida, como se uma força maior já houvesse decidido seu destino, levando-a a morrer de uma forma ou de outra. Entretanto, eu sempre a eletrocutava e a trazia de volta, mesmo que sua cabeça recém-reanimada distorcesse a nossa realidade e entendesse que aquilo - os choques, todos os vários volts percorrendo suas correntes sanguíneas, energizando cada membro de seu corpo - não era nada além de uma punição por algo. De certo modo, eu preferia que ela compreendesse assim, que não sentisse o terror de saber que estava morrendo e escapando dos meus dedos o tempo inteiro.

E tudo isso porque eu não aceitava a morte de Elisabette. Infelizmente, nada que eu fizesse poderia impedir sua morte. Isso se devia ao fato de que o corpo de Elisabette já estava impregnado pela morte, e é por isso que não importava o quanto eu quisesse protegê-la ou torná-la forte; não havia resposta para isso. Esse é um mundo cruel.

Quando Luffy, do Chapéu de Palha, chegou a Upper Yard, acreditei que ele seria apenas mais um estúpido a quem eu demonstraria os poderes da minha divindade, deixando claro ao povo das Ilhas do Céu o quão poderoso eu era. Eu os destruiria e partiria com os meus para a Fairy Vearth, a Terra Sem Fim, onde seríamos livres, grandiosos e, principalmente, quem eu realmente desejava ao meu lado naquele lugar esplêndido era ninguém mais do que meu sangue e carne: minha filhinha, Elisabette.

Todavia, não foi isso que aconteceu, e vi meus subordinados sendo derrotados um por um, até o momento em que senti Elisabette também ser derrotada. Tive a visão do espadachim Roronoa Zoro a devastando em menos de quinze minutos com um único golpe, capaz de deixá-la desacordada.

Não demorei para ir ao seu encontro, pegá-la em meus braços e deixar um beijo em sua testa gelada pelo suor e o sangue, sabendo que, assim que acabasse com a palhaçada daqueles forasteiros, voltaria para buscá-la. Então, deitei-a sobre o chão e a enrolei em seu casaco para mantê-la protegida do calor do sol e dos mosquitos que poderiam atacar sua pele pálida e sensível. Ainda lembro com clareza de nosso último diálogo, quando seus olhos se abriram lentamente e se fixaram em mim com um apelo silencioso e amedrontado.

━━ Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; 2 anos atrás...

Elisabette estava com uma ferida aberta em sua testa, fazendo com que uma quantidade absurda de sangue escorresse por seu rosto enquanto me encarava com um olhar cansado e exausto, o cenho franzido e os dentes da frente quebrados. Sua mão fraca se estendeu em minha direção, tentando me tocar quando me levantei e, fracamente, agarrou a barra de minha calça, fazendo com que eu baixasse o olhar para encará-la.

- Vamos fugir... eles são fortes demais... - sua voz soou quebrada e abalada, como se seu apelo pela fuga fosse uma forma de se humilhar.

- Está duvidando do poder de Deus?

- Não, j-jamais... eu só... - parou, soltando um suspiro seguido por uma tosse com respingos de sangue. - Por favor, n-não vá...

- Preciso dar uma lição naquele pirralho do mar azul e naqueles vira-latas companheiros dele, especialmente naquele espadachim imundo que te deixou assim. - falei em um tom arrogante enquanto puxava minha calça de seu aperto, observando sua mão pender e cair no chão.

Dei alguns passos hesitantes e, quando estava prestes a transformar meu corpo em eletricidade, Elisabette se lançou sobre minhas pernas, agarrando-me com o que restava de suas forças. Imediatamente, parei de me mover, encarando-a com os olhos arregalados. Embora tentasse manter uma fachada inexpressiva e inabalável, não consegui evitar o aperto no peito ao ver quão frágil ela parecia. Seu corpo, marcado por hematomas, com um corte na testa e os dentes quebrados, olhava para mim como se eu estivesse prestes a abandoná-la.

Aquela visão de Elisabette, tão pequena e encolhida, era como uma viagem ao passado, um retorno àquela garotinha que me seguia por todos os lugares, chamando-me de "papai" ou "paizinho", implorando por colo ou me convidando para brincar. Era doloroso. Complicado.

No entanto, eu sabia que precisava partir; precisava lutar e pôr fim a tudo isso para que pudesse levá-la ao conforto de um lar pacífico onde ela realmente seria feliz.

Voltei-me para Elisabette e, com um gesto carregado de ternura, coloquei-me de joelhos, envolvendo-a em um abraço apertado. Senti seu rosto repousar sobre meu ombro, enquanto ela me olhava de canto com aqueles olhos azuis, tão belos e doces, que, apesar de todas as adversidades, ainda refletiam um brilho amável de ingenuidade. Ela possuía tão pouco conhecimento sobre o mundo; pouco lhe interessava o que existia além das Ilhas do Céu, além de Birka, além de Skypiea, além do Jardim Superior... Nunca demonstrara interesse por nada que não fosse a minha atenção voltada para ela.

Elisabette era uma menina encantadora, tão querida. Minha filhinha era preciosa, dotada de uma amabilidade ímpar. Ela era o único bem que ainda possuía, e não poderia permitir que aqueles que ousaram ferir seu rosto lindo, arranhar sua pele delicada ou rasgar seu vestido favorito saíssem impunes.

"Feche os olhos, não tenha medo... o monstro foi embora, ele fugiu e o papai está aqui... linda, linda, linda, linda menina..."

Cantarolei suavemente em seu ouvido, sentindo o corpo dela relaxar em meus braços enquanto um sorriso fraco surgia em seus lábios rosados, manchados de sangue. Seus olhos encontraram os meus com aquele olhar de sono e diversão, como a menina travessa que costumava ser na infância, quando dizia que não queria dormir para brincar de boneca com Freyja.

- O S-senhor... vai voltar para me buscar?

- Obviamente. - retruquei, voltando a deitá-la no chão. - Não se esqueça, Elisabette: você é carne da minha carne, sangue do meu sangue.

- Promete? - sussurrou, seus olhos quase se fechando à medida que a exaustão começava a dominar seu corpo.

- Se isso faz com que sua mente frágil se sinta menos barulhenta, então sim, eu prometo.

Mais uma vez, dei-lhe as costas e transformei meu corpo em um raio azul intenso, o som do trovão ecoando por todas as nações das Ilhas do Céu. Partindo de onde estava na literal velocidade da luz, meu objetivo era encontrar meu adversário, Monkey D. Luffy, o fedelho que afirmava que se tornaria o Rei dos Piratas. Eu tinha plena certeza de que o derrotaria sem dificuldades, pois, mesmo sendo feito de borracha, eu o desgastaria, nem que fosse à base de socos.

E eu a perdi. Cheguei a Fairy Vearth sem meus subordinados e fiéis sacerdotes, cuja ausência não faria falta alguma, mas também cheguei sem a única pessoa que realmente desejava ali, naquele lugar, ao meu lado: minha Elisabette. Não sabia o que havia acontecido com ela após a minha derrota, tampouco se ainda estava viva, e a dúvida me destruía lentamente por dentro. Apenas tinha certeza de uma coisa: um dia eu iria para o Mar Azul para destruir aquele maldito garoto com chapéu de palha.


━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Algum lugar do mar.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫

Depois que havíamos falado com Luffy, não demoramos muito para vê-los chegando ao porto e rapidamente fomos ao encontro do Going Luffy-senpai para retornarmos à nossa rota rumo a Zou. Fiquei feliz em rever meus companheiros, mesmo que tivéssemos estado apenas três dias longe deles; ainda assim, senti falta da companhia de todos, principalmente de Luffy. O dia também havia sido tranquilo: comemos, bebemos, cantamos e dançamos. Quando a noite caiu, todos se recolheram para dormir, cabendo a mim novamente a missão de proteger o navio enquanto a tripulação descansava após um dia inteiro de muita agitação.

A noite estava bonita, e o céu estrelado me proporcionava um banho refrescante de luz da lua. Fazia algum tempo desde que eu não parava para admirar Fairy Vearth, trazendo à minha memória lembranças de quando eu fazia o mesmo com meu pai, deitados sobre o gramado de Upper Yard para contemplá-la.

Ele nutria uma profunda admiração pela lua. Olhava para ela com um olhar que transparecia uma paixão desmedida, como se a contemplação lunar lhe oferecesse um consolo nas horas sombrias que se seguiram à morte da mamãe. Passávamos horas deitados no chão ou em seu quarto, que possuía uma imensa janela com uma vista deslumbrante do céu noturno e estrelado. Era uma visão esplêndida que eu havia apreciado durante toda a infância, especialmente nos momentos em que evitava permanecer em meu próprio quarto para desfrutar da sua companhia. Assim, nos perdíamos no tempo, admirando a chamada "Terra Sem Fim".

Ele me contava inúmeras histórias, narrativas que eu nunca havia me dado ao trabalho de investigar suas origens, mas que me fascinavam profundamente. Eu simplesmente adorava ouvi-lo contar, e amava observar como seus olhos brilhavam intensamente e como seu sorriso se alargava à medida que as histórias se desenrolavam, transformando-se em relatos hipnotizantes e irresistíveis. Eram fábulas sobre Deus, descrito como aquele que possuía tambores ressonantes anunciando Sua presença; falava-me de um Deus capaz de segurar raios, imensamente poderoso, e afirmava que Fairy Vearth era o único lugar digno de Sua grandiosidade.

Saber que, apesar de tudo o que ocorreu há dois anos, ele conseguiu cumprir seu objetivo de alcançar a lua com a Arca Maxim traz-me uma certa tranquilidade, pois me concede ao menos a mínima noção de que ele está vivo. No entanto, essa mesma revelação também provoca em mim uma profunda sensação de traição, solidão e abandono; ele não retornou para me buscar como havia prometido. A última imagem que guardo de seu semblante é a de sua derrota nas mãos de Luffy, um instante que me deixou desolada e perdida, sem saber qual caminho seguir. A realidade cruel é que não havia mais ninguém em Skypiea para mim - os sacerdotes haviam desaparecido, os servos se foram e não restavam aliados que pudessem vingar sua memória ao meu lado. Eu era a última sobrevivente do exército que ele havia construído naquele jogo mortal.

Uma pontada aguda em minha cabeça fez-me inclinar-me e apoiar uma mão no corrimão do navio, enquanto a outra foi levada até o local da dor, permitindo que um suspiro escapasse de meus lábios. Desviei o olhar do céu e encarei o chão com um semblante dolorido e o cenho franzido.

Aquelas dores estavam se tornando constantes; nem mesmo os remédios que Law-san havia adquirido para que eu tomasse surtiram efeito. Havia momentos em que eu mal conseguia permanecer quieta, tamanha era a intensidade da dor. Law-san mencionara que eu estava estressada e precisava relaxar, evitando perder a paciência com bobagens. Contudo, essa tarefa tornara-se cada vez mais desafiadora desde que Wyper revelara a bomba sobre os acontecimentos nas Ilhas do Céu. Eu desejava sinceramente encontrar tranquilidade, dormir aconchegada ao travesseiro e ter sonhos leves; no entanto, pensar em tudo aquilo ocorrendo indiretamente por minha causa deixava-me inquieta.

- Ei, Pomba Lesa! Seu turno acabou. Entre no navio! - a voz de Zoro despertou-me dos meus pensamentos, atraindo minha atenção para sua direção.

- Acabou? Não devem ser nem três da manhã. - ergui uma sobrancelha e cruzei os braços enquanto encostava o quadril na amurada, tentando fingir que estava tudo bem.

- Não são. Acabou de dar uma e meia. - ele disse, aproximando-se de mim e, quando se colocou em minha frente, sua sombra cobriu-me. - Mas eu quero que você arraste essas suas asinhas para a cama e durma.

- Eu sou a sentinela; esse é meu trabalho!

- Sim, e você faz um ótimo trabalho, tenho que admitir. - ele revirou os olhos enquanto segurava minha bochecha. - Porém, ainda quero que você vá dormir. Você precisa descansar. Você ainda não está completamente recuperada!

- Ah, eu estou bem recuperada. Você nem imagina como descobri isso... - dei uma risada baixa e seca, sentindo minhas bochechas ardendo.

De repente, um arrepio frio percorreu minha espinha e uma gota de suor rolou por meu rosto ao sentir o olhar de Zoro intensificar-se e queimar bem no meio da minha testa, como se fosse uma bala disparada naquela região. Engoli em seco e comprimi os lábios em uma linha reta; dei um sorriso apavorado para ele e murmurei, trêmula:

- Z-Zorinho?

- O que você quis dizer com isso? - ele falou em um tom ameaçador que fez minhas pernas ficarem bambas, quase fazendo-me sentir a alma sair do meu corpo. - Responda!

- Boa noite, Zoro! - falei, abrindo as asas e voando de forma desajeitada até colidir contra a porta que levava para o interior do navio, forçando-a a abrir com o impacto. Por fim, levantei-me rapidamente e a fechei antes de ser fatiada como presunto.

Assim que coloquei os pés na parte interna do navio, a escuridão do ambiente não me cegou devido à pouca luz lunar que entrava pelas frestas da porta e pelos buracos de ventilação presentes nela. Comecei a caminhar aleatoriamente em direção à cozinha, guiando-me pelo que parecia ser o cheiro de água sanitária e carne queimada, parando apenas quando tropecei no batente da entrada da cozinha, quase caindo ao chão. Fui salva pelos meus reflexos, que me ajudaram a agarrar a borda e usar o joelho como apoio para não ceder e evitar uma queda.

Dirigi-me até a geladeira e peguei o jarro de água, colocando um pouco em um copo e bebendo, sentindo uma agonia irritante entre a testa e o nariz devido à temperatura extremamente gelada, o que me fez arrepiar a pele e soltar um sopro de ar gélido. Em seguida, guardei tudo e lavei rapidamente o copo, deixando-o no armário repleto de chicletes - uma visão assombrosa que me fez franzir a testa e sentir algo semelhante, embora não tão intenso quanto o nojo.

"Você vem por bem ou eu te trago arrastada pelos cabelos!"

As palavras de Wyper ainda ressoavam claramente em minha mente, como se apenas alguns segundos tivessem se passado desde nossa discussão acalorada, enquanto eu me encontrava escondida no banheiro, acreditando que Law-san não acordaria. Fui pega de surpresa ao sentir sua presença do outro lado da porta, provavelmente ouvindo tudo o que estávamos gritando um com o outro, apesar de ter me segurado ao máximo para não explodir e evitar bater a língua nos dentes. Entretanto, ele deve estar desconfiado de algo; alguma coisa o deixou atônito, pois desde que subimos novamente a bordo do Going Luffy-senpai, ele não falou comigo.

Não que eu tivesse interesse em conversar com ele; longe disso! Afinal, por que eu me importaria se ele deseja falar comigo ou não? Nós dois... somos apenas aliados; nem amigos somos. O que ocorreu em Porzellanpuppen foi apenas o resultado da tensão sexual em um quarto vazio, com um homem e uma mulher jovens, cujos hormônios estavam à flor da pele. Não é como se o que aconteceu entre nós dois tivesse significado algo para ele, mesmo que... ele tenha me olhado daquela forma e me tocado com tanta... adoração.

O fato é que... eu não sou uma mulher para ele. Quando eu era adolescente, prestes a completar 16 anos, meu pai me contou que, um dia, eu precisaria me casar e dar continuidade à linhagem da nossa família. Ele ressaltou, no entanto, que eu deveria encontrar a pessoa certa e ter cuidado com aquele com quem uniria meu corpo. Ele dizia que alguns homens não levam as mulheres a sério, tratando-as apenas como diversão, um passatempo que ajuda a esquecer o estresse do dia a dia.

Meu pai nunca teve outra mulher além da minha mãe; ela sempre foi a única em sua vida desde que ambos eram crianças. É verdade que ele teve uma dessas diversões passageiras que quase mancharam o sangue da nossa família, mas eu tomei uma decisão e, mesmo que ele tenha surtado com o que fiz, foi por uma boa causa e ele sabe disso. Eu apenas o protegi de uma criança que cresceria e tentaria algo contra ele, uma vez que aquela situação se desenvolveria entre a ralé da cidade principal de Skypiea.

Entretanto, não é sobre isso que desejo refletir; não devo perder tempo e sobrecarregar minha mente com aquele bastardo e aquela mulher. Eles não me interessam mais; ambos estão mortos porque eu os matei! Não são... mais importantes. Quero dizer, nunca foram. Nenhum deles, nem ela, nem o menino.

Entrei em silêncio no quarto onde todos estavam dormindo, fazendo passos lentos e cuidadosos para não acordar ninguém enquanto me aproximava do meu saco de dormir, que estava ao lado de Usopp, que roncava alto e arrancou um sorriso fraco dos meus lábios. Deitei-me quieta, tomando cuidado para não acordar nem ele nem ninguém. Então, aconcheguei-me, aninhada ao calor do meu próprio corpo, enquanto olhava para a pequena escotilha estreita na parede, que deixava a luz da lua incidir sobre o meu rosto. Mais uma vez, era como olhar não apenas para Fairy Vearth, mas também para o meu pai.

Pergunto-me, quase sempre, desde que soube que ele, na verdade, estava vivo, se ele sabia que eu também estava. E, caso não soubesse e acreditasse que eu estivesse morta, se ele teria sofrido e chorado por mim, mesmo que um pouco.

Reconheço que é tolice da minha parte, uma teimosia e falta de amor próprio pensar nele; contudo, o que posso fazer? Apesar de tudo, Enel ainda era meu pai - ainda era aquele que cuidou de mim, que me ensinou tudo o que sei e, consequentemente, aquele que fez com que eu me tornasse tudo o que sou. Se sou o ser mais forte das Ilhas do Céu, aquela que vale por um exército inteiro e é reconhecida como a Guerreira Perfeita, isso se deve a meu pai. Pois foi dele que vim; foi ele quem me deu a vida e foi ele quem me tornou quem sou. Se sou forte, se sou poderosa, se consigo proteger meus companheiros e aliados da maneira como protejo - com unhas e dentes - é porque, antes deles, Enel me tornou forte.

Gostaria de poder compartilhar com eles o que sinto, como tudo isso representa para mim, como dói e me machuca. Sou grata a todos eles, aos meus companheiros, por terem me acolhido, por terem me aceitado no grupo como uma deles - mesmo que eu mesma não me considere parte - e agradeço, principalmente, ao garoto com chapéu de palha, Monkey D. Luffy, por ter estendido sua mão para mim, apesar de tudo que eu havia feito, e de todas as vezes em que tentei não apenas matá-lo, mas também seus companheiros.

O problema é que sei que eles nunca me entenderiam e jamais tentariam compreender, pois, para eles, Enel era o vilão, o inimigo. Enel foi visto sob a perspectiva deles, do povo de Skypiea e Shandora, e não pela minha ou pela dos Sacerdotes.

Isso me destruía lentamente. Os dias se passaram, transformaram-se em meses e, finalmente, em dois anos - dois anos com tudo isso entalado em minha garganta, estilhaçando meu peito, deixando-me dolorida e sufocada, como se a qualquer momento eu fosse explodir. E se eu explodisse, se eu liberasse tudo que está preso dentro de mim, tudo que tento segurar com todas as minhas forças, eles nunca entenderiam. Não compreenderiam que eu amo meu pai, que ele é meu pai, que é a única família que tenho. E... todos os dias, sempre que estou com eles, em cada instante em que olho para Luffy - mesmo sentindo gratidão - um gosto amargo se alastra pela minha língua, um sabor insuportável que me faz querer vomitar. Porque sempre que o vejo, sempre que ele sorri para mim e consegue me fazer rir, lembro-me de que estou navegando sob a bandeira do homem que destruiu tudo o que conhecia; lembrei-me de que me tornei leal àquele que derrotou meu pai.

Virei-me para o lado, afastando o rosto do luar e, ao erguer o olhar, pude ver Luffy adormecido na rede, com os braços e as pernas para fora, enquanto o restante do corpo estava deitado em uma posição torta, fazendo com que um leve sopro de riso escapasse de meus lábios.

Será que ele ainda me aceitaria na tripulação se soubesse que não sou essa menina bonita que ele acredita que eu sou?

O que você acha?

Quando todos haviam acordado e tomado café da manhã, reuniram-se, evidentemente, no convés para mais um dia inteiro de bebedeira e comilança incessante. Eu estava sentada em um canto, tentando remendar as rachaduras na lâmina de Inazuma, mas tudo o que isso me causava era mais estresse. A lâmina, extremamente afiada e amolada, cortava todas as bandagens que eu enrolava; até mesmo as fitas isolantes grossas não conseguiam se manter firmes por muito tempo. Honestamente, minha paciência já estava se esgotando, e faltava pouco para que eu mesma terminasse quebrando minha foice.

Notando a evidente ruga de irritação entre minhas sobrancelhas, Franky se aproximou de mim com seu semblante brincalhão habitual e parou próximo a onde eu estava, cruzando os braços robóticos sobre o peito enquanto me encarava de cima com um sorriso largo.

- Ei, maninha! Quer ajuda? Você parece estar prestes a enfiar Inazuma no rabicó de alguém. - ele riu, sentando-se perto de mim.

- Não precisa. Eu resolvo isso sozinha. - falei, meu tom ríspido deixando claro que não desejava ser incomodada naquele momento.

- Tem certeza? Você está aí há um tempo.

- E qual é o problema? - retruquei, franzindo o cenho e encarando-o irritada. ‐ Eu posso resolver meus problemas sozinha, tá legal?

- Oh, calma lá! Eu não quis te chatear. - Franky arrumou a postura com um beicinho, coçando a nuca enquanto me observava.

- Preciso de concentração. Vá lá com a Robin e me deixe em paz. - falei novamente, desviando o olhar e voltando a atenção para Inazuma.

Entretanto, quando pensei que nada poderia piorar, algo completamente inesperado aconteceu e me deixou pálida de susto, pois nunca havia ocorrido antes: levei um choque.

- AI, FILHA DA PUTA!

- O que foi!?

- Levei choque! - engoli em seco, encarando a foice com os olhos arregalados. Eu nunca havia sido eletrocutada por Inazuma, nem por qualquer outra onda de eletricidade que não provenha do meu pai.

- Choque? Mas você não era imune?

- Eu não era, eu sou! - gritei, sentindo uma gota de suor escorregar pelo rosto. Ao agarrar com a mão a lâmina da foice, senti eletricidade percorrer meu braço inteiro, causando-me desconforto. - Inazuma! Pare!

- Ei, Lis, é melhor você parar de tocar aí. - Franky tentou tomar a arma da minha mão, mas me esquivei e agarrei com firmeza o cabo. - Elisabette, me dá.

- Não. É temporário. Eu vou consertá-la, certo? Não se meta.

- De modo algum! Você viu como ficou? Está levando choque! Aquilo que você fez em Dressrosa foi uma prova de que seu corpo não aguenta mais! - ele insistiu, agarrando o cabo e puxando-o das minhas mãos.

- Claro que aguenta! Eu sou forte!

- Sim, eu sei que você é forte, mas até seu corpo tem limites e claramente você ultrapassou todos eles.

- Devolve! - trinquei os dentes, meu olhar escurecendo enquanto tomava Inazuma dele. - Não se meta! Eu ainda estou me recuperando; é por isso que estou levando choque!

- Elisabette, eu só estou...

- Pare de agir como se você fosse meu pai! Você não é meu pai!

Minhas palavras pareceram ter surpreendido Franky, que apenas desfez a expressão séria para me encarar com os olhos arregalados e o cenho franzido em confusão, como se eu tivesse dito o maior dos absurdos, quando, na verdade, havia apenas falado a verdade: Franky não era meu pai - nunca foi e jamais seria, pois não éramos uma família. Ele não me respondeu; permaneceu calado, olhando para mim com seus olhos fixos nos meus, como se estivesse se contendo para não rebater o que eu havia lhe dito, embora ambos soubéssemos que eu não estava mentindo.

Ele, então, apenas assentiu em silêncio e deu as costas, saindo em passos silenciosos e me deixando para trás... sozinha.

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