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━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟱𝟰. 𝗦𝗼𝘇𝗶𝗻𝗵𝗼𝘀 𝗲 𝗲𝘀𝗾𝘂𝗲𝗰𝗶𝗱𝗼𝘀.


━━ Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; Memórias...
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫

As chuvas nas Ilhas do Céu costumavam ser mais intensas e violentas do que em qualquer outra parte do mundo, visto que estávamos acima das nuvens, onde as tempestades apresentavam uma dinâmica singular devido à inversão atmosférica. Os trovões ecoavam de maneira ensurdecedora, tão poderosos que rivalizavam com os próprios relâmpagos e raios invocados por meu pai. E eu, aos dez anos de idade, frequentemente me via correndo pelo Jardim Superior, segurando apenas um bastão de madeira em minhas mãos para me defender dos lobos que me perseguiam toda vez que era expulsa do Templo Sagrado para meus treinos.

Eu corria e corria, tropeçando e caindo em alguns momentos, mas jamais podia me dar ao luxo de parar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se à água da chuva, enquanto eu clamava desesperadamente pela ajuda dos Sacerdotes ou de meu pai, que só intervinham se eu fosse de fato atacada e incapaz de me defender.

Meus pés estavam quase sempre feridos, e minhas asas enfraquecidas pelo esforço constante de voar para me manter segura. Meu corpo sempre foi magro e esguio, o que me tornava leve e me permitia esconder com facilidade dentro de troncos de árvores ou em pequenas crateras no solo, torcendo apenas para não ser farejada e devorada antes de conseguir forças para gritar o mais alto que eu podia, implorando pelo socorro de Deus, do meu Deus, de meu pai, Enel, o Deus de Skypiea.

Certo dia, durante o treinamento, eu fazia o possível para desviar dos golpes de seu tridente, que frequentemente atingiam meu rosto e minhas costas, fazendo-me cair ou ser arremessada à distância.

Meu pai era cruel. Não demonstrava piedade ao me machucar.

Ele era bruto e agressivo.

Foram inúmeras as vezes em que fui dormir com o corpo coberto de hematomas, arranhões e, por vezes, queimaduras, após horas incessantes de treinamento. Enel desejava que eu me tornasse o ser perfeito, que meu corpo fosse o mais ágil e resistente possível, e, em sua visão, ele acreditava que conseguiria me moldar conforme suas ambições para sua primogênita e única filha: a perfeição encarnada, após Deus.

Meu pai desejava que eu fosse a maioral, logo após ele, que eu fosse temida pelo povo da mesma forma que ele era. Ele almejava que eu fosse o seu reflexo, e, gradualmente, era exatamente isso que eu me tornava. Eu já estava me transformando em alguém cruel e violenta. Eu era má. Ouvia as pessoas afirmarem isso e já não me importava, pois, no fundo, eu sabia que era verdade. Mesmo sendo apenas uma criança, já compreendia o destino que me aguardava, pois o sangue que corria em minhas veias era o que me tornava filha de Enel e Freyja. Ambos eram cruéis. Não apenas ele, nem apenas ela. Os dois. E eu... eu era a perfeita fusão dos dois.

E, certo dia, acertei o bastão de madeira com força suficiente no rosto de Enel para derrubá-lo. Em seguida, comecei a golpeá-lo repetidamente, com toda a força que meus braços conseguiam reunir, determinado a continuar acertando-o com firmeza. Eu gritava e chorava, pedindo desculpas inúmeras vezes, enquanto via o sangue espirrar de seu nariz em minha direção, tudo enquanto ele permanecia imóvel, com um olhar indecifrável fixo em mim.

Até que ele me agarrou com ambas as mãos, ergueu-me à sua frente e se levantou, enquanto minhas pernas se encolhiam, e eu chorava baixinho, aterrorizada, encarando-o. O sangue escorria por seu rosto, e seu nariz, levemente torto e ensanguentado, intensificava meu desespero. Meu coração disparou. Eu havia ferido meu próprio pai. O machucara. Meu pai. Meu Deus. Eu havia ferido a Deus. O fizera sangrar. Estava pecando. Eu pequei. Eu o feri. Fiz o que ele havia ordenado, mas... não era isso que eu queria. Eu não desejava machucá-lo e... ele sorriu.

- Jamais peça desculpas por fazer o que é certo. - disse Enel, em um tom de voz que me arrepiou dos pés à cabeça. - Minha menina perfeita. Você é perfeita, Elisabette. Perfeita.

- Eu... machuquei o Senhor, papai... - murmurei ainda chorosa, meus olhos fixos nos dele, enquanto eu tremia.

- Isso porque somente você é capaz disso.

- O quê...?

- Você, Elisabette, é a única capaz de me derrotar. A única capaz de libertar este mundo das minhas mãos. - ele falou, com um sorriso macabro brincando em seus lábios, enquanto me colocava no chão e se ajoelhava para ficar à minha altura.

- Eu jamais faria isso com o Senhor! - protestei, e, quando tentei abraçá-lo, ele me impediu, segurando meu queixo.

- Exatamente. Você nunca faria isso. E jamais fará.

Assenti às suas palavras e, então, meu pai me pegou no colo, abraçando-me com força e deixando alguns beijos em meu rosto antes de se virar e começar a caminhar em direção ao Templo Sagrado. Enquanto ele caminhava, pude observar o local onde estávamos treinando momentos antes. O sangue fresco de meu pai ainda manchava o chão, assim como as marcas de meu suor que permaneciam espalhadas ao redor, juntamente com o bastão de madeira, largado descuidadamente em um canto.

Era reconfortante estar em seus braços, deitada com a cabeça apoiada em seu ombro, observando tudo ao nosso redor como se estivesse sendo levada ao meu ápice, enquanto contemplava o que um dia compartilhamos.

Meu pai sempre foi assim: distante, e ao mesmo tempo, presente. Nunca compreendi o motivo, mas aprendi a lidar com sua indiferença, não apenas em relação a mim, mas também a todos à nossa volta: os Sacerdotes, nossos servos e as pessoas que vinham ao Templo Sagrado, sobrevivendo às Provações para implorar por uma bênção ou pela cura de algum mal que os consumia.

Acredito que, no fim, era isso que me fazia não me importar com as vezes em que ele me feria, pois, ao final de tudo, ele sempre me carregaria e me demonstraria amor. Enel me machucava, mas depois cuidava de mim, embalava-me, beijava meu rosto e dizia que eu era tudo o que ele tinha na vida, que eu era "sua menina perfeita", até o dia em que atingi o ápice da perfeição que, desde meu nascimento, ele havia planejado para mim: a Guerreira Perfeita. Nunca compreendi exatamente o que isso significava, mas sabia que era algo que o agradava. O sorriso em seu rosto, a satisfação em seus suspiros e o orgulho em seu olhar eram o que me mantinham firme, além de suas severas repreensões sempre que eu falhava em meus treinamentos.

Em uma noite estrelada, após a ceia, eu me encontrava deitada na cama de meu pai, envolta em seus lençóis, aguardando pacientemente seu retorno do banho. Meus olhos, pesados, já começavam a ceder ao cansaço, minha visão turvando-se aos poucos, quando finalmente o vi regressar. Sua pele já estava seca, e ele se deitou ao meu lado, sem dar muita atenção à minha presença, virando-se de costas para mim. Os tambores localizados nas costas de seu corpo logo chamaram minha atenção, e, movida pela curiosidade, estendi a mão e toquei um deles. Um arrepio percorreu todo o meu ser ao sentir uma leve onda de choque.

No mesmo instante, Enel voltou-se para mim, seu olhar pousando em minha figura encolhida, enquanto eu segurava o dedo na boca, com os olhos marejados e o cenho franzido. Um sorriso fraco brotou em seus lábios, e ele se virou de frente para mim, segurando delicadamente meu rosto. Com um gesto que eu conhecia tão bem, começou a puxar minhas bochechas para cima e para baixo, esticando-as de um lado para o outro, enquanto eu o fitava com um leve traço de raiva. Sempre detestei quando ele me tratava assim, beliscando minhas bochechas como se eu fosse uma bebê gorda.

Apesar de meu desagrado, havia algo de reconfortante e familiar naqueles gestos, algo que, no fundo, me fazia sentir que, mesmo em meio à sua frieza, havia um tipo de afeto reservado para mim, ainda que fosse expressado de uma maneira tão peculiar.

- Elisabette. - chamou, mantendo-se em silêncio por alguns segundos ao sentar-se e me colocar entre suas pernas, acariciando meus cabelos e enrolando os dedos nas mechas prateadas. - Você sabe por que é especial?

- Não sei. Por quê?

- Porque você é minha filha. Você é especial porque é filha de Deus. - disse ele com firmeza e autoridade, suas mãos agarrando meus ombros e mantendo meu olhar preso ao dele. - Repita isso.

- Eu sou especial porque sou filha de Deus.

- Outra vez.

- Eu sou especial porque sou filha de Deus.

- E, mesmo sendo a filha de Deus, a criatura perfeita e forte que é, ainda é sangue do meu sangue e carne da minha carne. Portanto, Elisabette, esteja ciente de que, sempre que perceber uma ameaça à qual não conseguirá enfrentar, nunca hesite em me chamar. Eu sou teu pai; te concedi o dom da vida e cabe somente a mim decidir quando e se deve partir deste mundo. Não importa onde você esteja, com quem estejas ou quais e quantos inimigos te cercam; eu, unicamente eu, teu pai, irei ao teu socorro e te salvarei. - ele finalizou sem mais palavras a acrescentar, inclinando-se para tocar minha testa com um beijo terno, seguido de um abraço apertado que quase me fez perder o fôlego, deixando-me surpresa e, ao mesmo tempo, emocionada.


━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Algum lugar do mar.
ᘡNarrador. ; ❪O ponto de vista do Leitor❫

Atualmente.

Elisabette estava sentada de frente para Law, que examinava seu olho com atenção e cuidado, utilizando a lanterna de pupila para o exame. Ele buscava alguma reação do seu olho ferido e, como esperado, não encontrou nada além do previsto: a bala havia causado um dano irreversível à retina dela, o que resultaria na cegueira permanente do olho direito.

Esse diagnóstico também era esperado por ela, que não pareceu se abalar imediatamente pelo que lhe fora dito. Ao contrário, a jovem Birkan apenas soltou uma risada fraca, pontuando que já imaginava que aquilo aconteceria, uma vez que o tiro fora certeiro o suficiente para matá-la, mas não o fez.

- Pelo lado bom, talvez isso melhore meu Mantra. Quem precisa de olho quando se pode ver sem ele? - ela sorriu de maneira zombeteira enquanto girava na cadeira e se olhava no espelho. - O que acharam?

- CÊ FICOU MANEIRASSA, LIS!

- Eu estou, né? - com as mãos nos quadris, Elisabette estufou o peito em uma pose orgulhosa.

- Você vai usar um tapa-olho ou algo do tipo, Lis? Ficaria incrível em você. Combinará com toda essa atitude, ficará ainda mais impressionante! - Usopp sugeriu com um sorriso, tampando um dos olhos com a mão para imitar o uso de um tapa-olho.

- Existe tapa-olho feito de ouro?

- Acredito que não.

- Então, não! - ela retrucou com um tom rude, empinando o nariz em uma expressão arrogante.

Law observava com atenção e em silêncio a interação entre os Chapéus de Palha, a animação e a algazarra que faziam em relação à recuperação de sua companheira. Até ele próprio se sentia contente com a rapidez com que ela havia se recuperado de seus ferimentos, estando quase em perfeito estado, não fosse pela cegueira e pelo uso da muleta para se locomover.

Ainda era estranho para ele vê-la com aquelas marcas de queimadura nos braços e a camada branca que havia se formado em seu olho devido à perda da visão. No final das contas, aquela ainda era ela, não era? Ele quase podia ter certeza de que sim, embora tivesse a impressão de que ela estava... mais cansada do que o normal. Ele não sabia ao certo. Talvez fosse o seu jeito estabanado que parecia ter se aquietado, com as olheiras naturais agora mais visíveis, escuras de sono e exaustão.

Desde que a conhecera, Law imediatamente notou seu comportamento hiperativo e agitado, como se ela fosse uma máquina programada para passar o dia todo em movimento, fazendo barulho e falando, evidenciando sua presença. Contudo, de uns dias para cá, ela se tornara mais fechada e silenciosa. Ele frequentemente a via dormindo novamente, encostada por aí, encolhida nos cantos, jogada no ninho do corvo, adormecida com os braços escorados para fora do navio e quase com o corpo inteiro suspenso. Em todas as ocasiões em que a viu nessa situação, Elisabette não estava apenas embriagada; estava completamente bêbada.

Não foram poucas as vezes em que ouviu Robin e Franky a chamarem de canto para conversar, atento à leitura labial para entender que sempre estavam tentando chamar sua atenção em relação à sua bebedeira.

Entretanto, agora ela parecia um pouco mais radiante em comparação ao início da viagem para Zou, apresentando um pouco mais de vida. No entanto, uma aura e uma sensação estranha ainda a rodeavam, como se algo ruim emanasse dela, como se estivesse prestes a surtar, a gritar ou a explodir. Ele não sabia ao certo, mas sentia - como um sexto sentido o alertando para ficar de olho nela, permanecer perto dela e não deixá-la sozinha.

- Ei, Luffy-senpai! - Bartolomeo interrompeu os pensamentos de Trafalgar ao entrar de repente na enfermaria mal organizada de seu navio, chamando a atenção de todos para si. - Nós vamos precisar fazer uma parada para abastecer o nosso armazém e comprar algumas coisas! Há algum problema?

- Claro que não, pô! O navio é seu! - ele sorriu amplamente, cruzando os braços sobre o peito.

- Espera... Luffy-senpai... você está... me deixando... no comando!? - os olhos do Canibal se arregalaram, lágrimas grossas surgindo e imediatamente rolando por seu rosto, acompanhadas de ranho.

- Achei que cê já tava, Galinho!

Era por volta das duas da tarde quando o Going Luffy-senpai atracou em uma pequena ilha próxima de onde estavam. O local era ideal para que os Piratas do Barto-Club pudessem realizar suas compras necessárias, além de ser um bom lugar para passear, devido às diversas lojas e praças presentes na cidade principal da ilha. Apesar de ser bem pequena e ter uma população ainda menor, era bastante acolhedora e visualmente agradável - com casas bem decoradas e ruas pavimentadas com pedras brancas, era como passear em uma cidade imperial, tamanha elegância que ali se encontrava.

Elisabette estava caminhando cuidadosamente com sua muleta pela feira, a sacolinha de moedas amarrada à cintura, enquanto observava atentamente as casas e tudo ao seu redor: as pessoas, as construções. Ela estava encantada com tudo e, ao mesmo tempo, confusa, perguntando-se como uma ilha tão minúscula poderia ser tão próspera quanto aparentava.

"Ei, Trafalgar, você vai lá também?"

"Pretendo. Por quê?"

"Se você for, se importa de ficar de olho na minha maninha? Ela sempre acaba se perdendo quando sai para fazer compras."

Aquelas foram as exatas palavras usadas por Franky antes de praticamente expulsar Law do navio para colocá-lo contra sua vontade - ou não - como babá de Elisabette. Agora, ele se encontrava a alguns metros de distância dela, observando-a em silêncio enquanto ela caminhava mais à frente. Apenas se ouvia o som de seus passos sobre os pedregulhos que formavam o asfalto esbranquiçado abaixo de seus pés, o tilintar das moedas em seu quadril e as conversas das pessoas ao redor: alguns eram comerciantes, outros compradores e civis passeando pela feira.

- Não é porque o Franky pediu para você vir comigo que você tinha que vir, sabia? Você poderia, sei lá, fazer outra coisa, comprar algo? Do que você gosta? De coisas de médico? Seringas com sangue? Bisturis? - ela o encarou de soslaio, parando de caminhar e se apoiando na muleta para se virar de frente para ele.

- Não tenho mais nada interessante para fazer, então tudo que me restou para não morrer de tédio naquele navio grudento e fedido foi vir com você, passarinho - retrucou em um murmúrio rouco, como se não quisesse admitir aquilo.

- Se você diz. - sorriu, dando de ombros e voltando a andar. - Estou atrás de um caderno novo; o meu acabou as páginas. Uma lixa de unha e esmalte também estão na minha lista. Veja! - Elisabette entregou a ele uma folha com alguns rabiscos de palavras desordenadas.

Law ergueu uma sobrancelha, tentando não deixar transparecer sua surpresa ao ver que ela realmente havia escrito uma lista de compras, mesmo que à sua maneira:

- Você escreveu isso sozinha?

- Sim! - a jovem olhou para ele com expectativa, orgulhosa de si mesma e aguardando algum elogio que, obviamente, ele não teve outra alternativa senão dar a ela.

- Muito bem. Parabéns.

Elisabette riu para ele, agarrando sua mão e o puxando pela feira, garantindo que não o perdesse de vista e que não se afastassem, o que resultaria em um atraso para procurá-la pela ilha. Isso provavelmente acabaria com mais um tripulante perdido, caso se envolvesse nas buscas: Roronoa Zoro.

Law a seguia com uma serenidade que lhe era peculiar, permitindo que ela o guiasse - ou melhor, o puxasse - para onde desejasse ir, sem se preocupar, ao menos não da mesma forma que antes. Seus olhares se cruzavam ocasionalmente ao longo dos caminhos que percorriam, e as mãos permaneciam entrelaçadas, unidas como se tivessem sido destinadas a nunca se soltar. Assim, seguiam o fluxo daquelas pequenas preciosidades que aquele final de tarde lhes oferecia.

À medida que os minutos se desenrolavam lentamente, como se o tempo tivesse decidido se estender em uma eternidade, Trafalgar permitia-se contemplar a figura dela, jamais deixando-a fora de seu campo de visão ou de seu alcance. Cada passo que ela dava, cada leve salto, cada bater de asas quando seus pés escorregavam devido à muleta tocando um piso irregular - nada escapava à sua atenção. Ela já não era um mero detalhe em sua jornada; há muito havia ultrapassado essa condição. Talvez fosse seu sorriso torto, seu comportamento quase infantil ou sua insistência em estar sempre ao seu lado, persuadindo-o a permanecer com ela, que o havia feito ceder à doçura de sua voz, ao brilho encantador de seus olhos e, pior ainda, àquele sentimento avassalador que começava a florescer dentro dele.

Era uma tarefa árdua compreender a profundidade de seus sentimentos; era desafiador entender a si mesmo, pois, enquanto tudo parecia um território inexplorado, havia também uma familiaridade inquietante - um carinho nostálgico que, ao mesmo tempo em que o envolvia em um manto de segurança, o deixava apavorado, à beira do pânico. Ele desejava sentir, mas temia essa intensidade, receando experimentar algo que transcendesse o que acreditava ser aceitável. Afinal, ela era tudo, exceto uma presença com a qual pudesse lidar e esquecer. Elisabette sempre estaria ali, próxima o suficiente para atormentá-lo, mantendo-o naquela linha tênue entre a razão e a loucura.

Quanto mais desejava afastá-la de sua vida, mais ardentemente a queria por perto. A mera ideia de vê-la distante era insuportável; não suportava imaginar-se longe de seu toque suave, dos sermões que tanto o provocavam e das trocas de olhares que, mesmo sem palavras, carregavam o peso do que ambos guardavam em seus corações. Aqueles olhares eram capazes de expressar emoções profundas e intensas, mesmo que ela estivesse alheia a isso e ele se esforçasse para manter seus sentimentos à distância, ciente do desfecho trágico que poderia advir dessa doença sem cura que aquele sentimento poderia levá-los.

Não se tratava de que ela fosse boa demais para ele ou que ele fosse ruim demais para ela; ambos carregavam seus próprios pecados e crimes, um histórico e um passado que lhes eram verdadeiros tormentos. Contudo, para Law, essa situação representava um sofrimento, uma sensação de sufocamento, como se estivesse lutando para respirar.

Elisabette era diferente, distinta de tudo o que ele conhecera até então. Ela não se assemelhava às mulheres com quem havia interagido anteriormente, aquelas que tentaram algo com ele e que, devido à sua falta de experiência, deixara escapar. Ela não era como Monet, que lhe havia revelado o prazer carnal e, apesar das circunstâncias adversas, lhe proporcionou momentos de paz nas raras ocasiões em que se viram vulneráveis em meio à nudez em uma cama apertada e estreita.

- Você quer? - a voz dela soou tranquila, fazendo com que ele voltasse sua atenção para ela, afastando-se de seus pensamentos assim que a ouviu.

- Um esmalte?

- Sim, você quer? - ela sorriu, exibindo a pequena embalagem e balançando-a.

- Não. Eu já tenho.

- Então comprarei apenas para mim. - bufou, fingindo impaciência, mas era evidente que seu único desejo era atrair a atenção dele. - Qual cor devo escolher? Existem tantas opções!

- Acho... que aquele rosa. Combinará com você.

- Rosa claro ou rosa bebê?

- Qual é a diferença?

- Dois.

- Dois o quê? - ele franziu o cenho.

- Dois que não sabem.

Law permaneceu em total silêncio, apenas observando-a enquanto Elisabette esboçava um sorriso inocente. Se pudesse, ele teria a socado para que deixasse de ser tão besta, mas sabia que, caso o fizesse, seria o mesmo que provocar um vespeiro. Revirando os olhos, ele a puxou para longe da loja de cosméticos assim que a compra dela foi finalizada e a bendita lixa de unha e o esmalte foram finalmente adquiridos. Restava apenas um caderno para que ela pudesse rabiscar ou escrever palavras desconexas que apenas ela entendia, e ele, após quase explodir a própria cabeça, conseguiu compreender.

- Vá devagar; não se esqueça de que seu joelho ainda está em processo de recuperação. - Law a orientou, fazendo-a diminuir o ritmo dos passos.

- Sendo honesta com você, Tral-san, estou quase caindo, pois meu joelho está latejando tanto que sinto vontade de arrancá-lo fora assim que tiver um objeto pontiagudo em mãos. - ela choramingou, fazendo beicinho.

- Está latejando?

- Muito!

- E por que não disse isso antes? Pare. - antes que ela pudesse protestar, o moreno tatuado a agarrou pelos ombros e a fez parar. ‐ Cacete! Por que você ficou calada todo esse tempo? Seu joelho está inchado como se tivesse acabado de se machucar.

- POIS PODE ARRANCAR FORA!

- Pare de ser maluca.

Sem cerimônia ou aviso prévio, o Cirurgião da Morte a agarrou e a lançou sobre suas costas, passando as mãos por debaixo das coxas dela e mantendo-a firmemente presa a ele. Ela o olhou confusa, com uma sobrancelha arqueada e um enorme ponto de interrogação estampado em sua testa.

- Olá, gostaria?

- Vamos logo atrás desse caderno maldito e voltar para o navio do Tosaka-ya. - ele resmungou, saindo em frente com ela em suas costas, que apenas se deu por vencida e se deixou levar.

Elisabette passou os braços ao redor do pescoço de Law e ficou trocando murmúrios com ele ao longo do caminho, com os assuntos variando a cada esquina que viravam em busca de uma papelaria. As conversas iam desde reclamações dele sobre ela ser pesada até elogios dela, que afirmava que a pele dele era bem mais macia que a sua, arrancando um bufar de disfarce para um riso que quase lhe escapou.

- Já anoiteceu. - ela sussurrou perto do ouvido dele, apontando para o céu. - Temos que voltar já?

- Suponho que sim.

- Mas ainda não comprei o meu caderno! - retrucou, fazendo força para fazê-lo se inclinar para a frente.

- Compre em Zou ou, caso o navio precise parar novamente, o que não parece uma possibilidade tão distante devido ao apetite e à falta de responsabilidade daqueles caras. - Trafalgar falou em um tom irônico, revirando os olhos enquanto endireitava a postura.

- Vai demorar muito.

- É só esperar.

- Oh, não diga? - ela estreitou os olhos enquanto apertava os ombros dele. - Vamos andar mais um pouco pelo menos; não quero voltar ainda.

- Seus companheiros vão achar que eu a sequestrei, passarinho.

- Tral-san, não seja iludido, certo? Posso estar cega e com o joelho fraturado, mas não esqueça que, em questão de força física, meu caro aliado... - Elisabette passou um braço em volta do pescoço dele e fez pressão, fazendo-o engasgar. - Eu sou mais forte que você.

Law deu um beliscão forte nas coxas dela, envolvendo suas mãos com a carne dela, e recebeu apenas um grito de susto e surpresa próximo ao seu ouvido, o que, por alguns segundos, o deixou atordoado e distraído com o som agudo que ecoou por um tempo, quase sentindo seus tímpanos vibrarem em decorrência do berro.

Foi então que, tirando-os de suas distrações e fazendo-os parar por um momento, começaram a cair pingos de chuva e logo uma tempestade se formou, pegando-os imediatamente de surpresa. Eles apenas se olharam e, sem pensar duas vezes, Trafalgar começou a correr sem rumo com a platinada em suas costas, agarrada a ele como uma tábua de salvação, enquanto sentiam seus corpos ficando molhados e encharcados pela chuva que parecia se intensificar a cada instante.

Depois de tanto correr, encontraram uma gruta onde não demoraram a se refugiar para escapar do temporal.

Delicadamente, Law a colocou sentada no chão, tomando todo o cuidado possível com sua perna ao deixá-la ali. Seu olhar percorreu o corpo dela com atenção, buscando algum arranhão, algum hematoma novo ou qualquer coisa que pudesse indicar descuido de sua parte em relação a ela. Para seu alívio, ela estava no mesmo "perfeito estado" em que haviam atracado naquela ilha - joelho fraturado e caolha; que maravilha. Um suspiro escapou dos lábios dele ao se afastar dela e passar a mão na cabeça, sentindo o chapéu extremamente molhado. Isso o forçou a tirá-lo e deixar que seus cabelos caíssem sobre seu rosto pela umidade das madeixas negras.

*Purupurupurupuru* *Purupurupurupuru*

*Kachak*

"Oi, Tral!" Luffy falou do outro lado da linha, animado, mesmo em meio àquela tempestade que parecia prestes a sacudir a ilha.

- Mugiwara-ya.

"Cara, cê não vai acreditar no que aconteceu!"

- O que foi que aconteceu, Mugiwara-ya? - sua voz já soava impaciente, temendo o que ouviria em seguida.

"Então... é que pensávamos que a Lis 'tava dormindo escondida em algum canto do navio..." ele murmurou, com o den den mushi imitando seu beicinho mentiroso e enrolado. "E achávamos que você 'tava nos fundos..."

- Mugiwara-ya... - Law murmurou, a simples ideia do que imaginava ser aquele desfecho fazendo seu olho tremer.

"Bem... resumindo! Shishishishi! Esquecemos vocês na ilha e estamos perdidos em algum lugar do mar porque o bando do Galinho não tem navegador, e a Robin ainda está resolvendo isso!" disse o Garoto com Chapéu de Palha. Aquela frase inteira foi suficiente para fazer seu aliado apertar os lábios e arregalar os olhos, com uma veia saltando em sua testa.

- Vocês o QUÊ?

"Relaxa! Em dois ou três dias a gente busca vocês! Você cuida da Lis? Ela ainda 'tá meio dodói! Falou!"

- ESPERA, MUGIWARA-YA!!! - Trafalgar gritou, enraivecido, seu rosto vermelho como uma pimenta prestes a pegar fogo.

Elisabette estava quieta, encolhida, enquanto encarava Law com um olhar curioso e assustado ao notar a vermelhidão em seu rosto, ciente de que aquele rubor estava longe de ser causado por constrangimento ou timidez. Ela engoliu em seco e se colocou na defensiva ao vê-lo se aproximar, batendo os pés com força no chão, uma gota de suor escorrendo por sua testa enquanto trincava os dentes com uma expressão apavorada. Deus, aquele homem ainda causava certo pânico nela quando estava com aquele semblante sombrio.

- AI! EU NÃO FIZ NADA!

- Como? - ele franziu o cenho e a encarou confuso.

- Você não vai brigar comigo? - seus olhos se estreitaram enquanto o fitava com desconfiança.

- Por quê? O que você fez?

- Eu não fiz nada.

- Então, por que eu deveria brigar com você?

- Não sei.

Law nada respondeu, apenas revirou os olhos como resposta e sentou-se perto dela com as mãos no rosto, sentindo-se frustrado. A aliança com os Chapéus de Palha tinha seus prós e contras, e a lentidão do capitão deles era seu maior contra em meio a tudo aquilo. Claro, estava agradecido e seria eternamente grato pelo que Luffy havia feito em Dressrosa, mas ainda assim... pelos céus, se ele continuasse assim por muito tempo, iria desfazer a aliança cheio de linhas de expressão e cabelos brancos devido ao estresse de ter que lidar com aquele bando de malucos desgovernados.

- Quando a chuva passar, vamos procurar um lugar para ficar na cidade. - murmurou irritado, olhando-a de soslaio. - O que você tem aí?

- Não sei, veja você... - ela disse, entregando-lhe a sacola de moedas. - Aliás, "procurar um lugar para ficar"? Por quê? Não consegui entender a conversa.

- Nos esqueceram.

- O QUÊ?

- Pois é, minha reação foi a mesma. - o moreno retrucou, bufando.

- E quanto você tem?

- O suficiente. - Law abriu sua carteira molhada e mostrou a ela algumas notas; havia muitas e isso a fez erguer a sobrancelha e torcer o nariz.

- Se você tem tanto assim, por que fica me cobrando!? - ela perguntou indignada, encarando a carteira nas mãos dele.

- Assim funcionam as dívidas, passarinho. - respondeu debochado, sorrindo de canto para a mais jovem, que apenas fez um beicinho. - Vamos juntar e procurar uma pousada ou hotel; tanto faz, qualquer lugar que dê para dormir sem ser o chão ou um sofá velho se desfazendo.

Elisabette apenas assentiu em silêncio e suspirou, encolhendo-se ainda mais ao sentir o vento gélido e chuvoso soprar contra seu corpo molhado, fazendo sua pele arrepiar e sua mandíbula começar a tremer devido ao frio. Seriam três longos dias, três longos dias para retomar a viagem até Zou, três dias de atraso. As divindades realmente não pareciam interessadas em ajudá-la, apenas em atrapalhá-la, pelo visto.

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