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โ”โ” ๐–ฅ” ึด เผ‹ ุŒ๐Ÿฐ๐Ÿฐ. ๐—ก๐—ฎ๐˜€๐—ฐ๐—ถ๐—ฑ๐—ผ๐˜€ ๐—ฝ๐—ฎ๐—ฟ๐—ฎ ๐—บ๐—ผ๐—ฟ๐—ฟ๐—ฒ๐—ฟ.

โ”โ” Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Reino de Dressrosa.

Tudo o que Elisabette conseguia sentir era um desespero avassalador, um pavor que lhe consumia a alma e, acima de tudo, um pรขnico insuportรกvel. Era como se o fardo do mundo estivesse sendo lanรงado mais uma vez sobre seus ombros, como se toda a responsabilidade recaรญsse unicamente sobre ela. Seu olhar atรดnito e aterrorizado permanecia fixo no rosto desolado de Bellamy, que se apresentava em um estado deplorรกvel, coberto por um mar de sangue que escorria de sua testa, lรกbios e narinas. Os hematomas manchavam sua pele em tons sombrios de roxo e vermelho, enquanto lรกgrimas de vergonha e desamparo deslizavam por suas bochechas, refletindo a dor de sua situaรงรฃo desesperadora.

Seus olhos se encontraram, e ali, naquele instante trรกgico, Elisabette percebeu que desde o inรญcio ele sabia que ela estava em Dressrosa, mas jamais poderia imaginar que seu reencontro se daria em meio a tal calamidade.

Ela trincou os dentes com uma forรงa descomunal, abaixando a cabeรงa para evitar que seus olhares se encontrassem, recordando-se do que um dia compartilharam e de como tudo entre eles havia se desenrolado atรฉ culminar naquela situaรงรฃo em que se viam, praticamente como... inimigos? Nem mesmo eles sabiam ao certo. O Hiena tinha plena consciรชncia de que nรฃo conseguiria trair Doflamingo, apesar de tudo; assim como ela sabia que nรฃo seria capaz de abandonar seu capitรฃo para ir ao encontro dele.

As palavras de Donquixote eram cruรฉis, proferidas com a intenรงรฃo de ferir o ego e a dignidade do rapaz, agora colocado em uma posiรงรฃo humilhante diante deles. Ele nunca soltou as cordas que imobilizavam a platinada contra o chรฃo, enquanto ela se recusava a escutรก-lo, a lhe proporcionar o prazer de testemunhar sua humilhaรงรฃo sem que pudesse fazer nada para impedir. Todo aquele cenรกrio... fez com que ela desejasse explodir em milhรตes de volts, obliterando cada canto daquele lugar opressivo e insuportรกvel. O desespero pulsava em suas veias, clamando por libertaรงรฃo.

- Faรงa o que fizer, continuarรก sendo um brutamontes barato, Bellamy! - o Shichibukai gritou com um sorriso maligno, gargalhando alto, sem esperar que alguรฉm protestasse contra suas palavras.

- O que estรก dizendo? O Bellamy mudou! - Luffy retrucou, sua voz ressoando repleta de raiva e indignaรงรฃo.

- Tudo bem... jรก basta. Mate-me de uma vez... - Bellamy murmurou com fraqueza, quase inaudรญvel, seus olhos castanhos fixando-se nos do garoto de chapรฉu de palha, que parecia se indignar ainda mais com toda aquela cena.

Doflamingo gargalhou alto com o apelo angustiado e miserรกvel de seu "fiel" seguidor, deixando Luffy tรฃo enfurecido que nรฃo hesitou em gritar, enraivecido, e esticar um chute poderoso na direรงรฃo de seu adversรกrio. Entretanto, quando seu pรฉ estava prestes a tocรก-lo, o homem mais velho entre eles foi rรกpido o suficiente para puxar a birkan com suas cordas e lanรงรก-la ร  frente do golpe, sendo atingida em cheio e arremessada contra a parede devido ao impacto.

- EITA, PREULA! DESCULPA, LIS!

- Awwn... - a jovem grunhiu, esparramada no chรฃo enquanto se apoiava nos cotovelos e, de repente, se viu surgindo atrรกs do Cirurgiรฃo da Morte.

Quando Law olhou para trรกs e encontrou o profundo abismo azul de seus olhos, uma onda de frio percorreu seu estรดmago, arrepiando sua alma. Ele a viu mordendo os lรกbios com intensidade - um gesto que, embora nรฃo tivesse compreendido plenamente, ele sabia que revelava a luta interna dela para conter as lรกgrimas. Algo no ar lhe dizia que nรฃo apenas ela, mas tambรฉm Luffy, haviam vivenciado experiรชncias marcantes com aquele homem, Bellamy. De fato, os dois haviam enfrentado situaรงรตes distintas e dolorosas.

Enquanto seu coraรงรฃo se contorcia com a ideia de que ela estava tรฃo prรณxima e รญntima de outro homem, uma sensaรงรฃo de aperto se instalou em seu peito ao testemunhar a angรบstia e o desamparo refletidos em seu olhar, como se estivesse ร  espera de tudo, menos daquela realidade cruel.

Que diabos Elisabette havia feito com ele? Em um dia, seu desejo era apenas que ela devolvesse tudo o que havia sido furtado; no dia seguinte, uma atraรงรฃo avassaladora o dominava, como se um รญmรฃ invisรญvel o puxasse em direรงรฃo a ela, cada vez mais forte e irresistรญvel. E mesmo que tivesse a opรงรฃo de resistir, ele sabia que se recusaria a fazรช-lo.

Ele sabia que, se qualquer outra pessoa estivesse naquela situaรงรฃo, com a vida ร  mercรช da sua, completamente vulnerรกvel por causa dele, nรฃo hesitaria em aceitar a morte ou se ferir, mesmo ciente de que isso poderia trazer consequรชncias ร quela pessoa. No entanto, quando se tratava dela, de Elisabette... Law desejava tudo e nada ao mesmo tempo. Queria o caos, ansiava por ferir seus inimigos, vingar aquele que habitava seu coraรงรฃo com uma intensidade avassaladora, fazer justiรงa por sua famรญlia e amigos de Flevance. Queria causar dor e desgraรงa a todos ao seu redor... exceto a ela.

Ele desejava a morte, almejava apenas a paz, mas essa paz nรฃo poderia ser alcanรงada enquanto houvesse qualquer possibilidade de danificรก-la.

Um espectro de assombro o envolvia. Seu passado o perseguia; o presente o aprisionava e, principalmente, o que poderia ser seu futuro o atormentava. Mais fracassos? Novas vitรณrias? Trafalgar nรฃo sabia; nรฃo tinha sequer uma pista. Contudo, uma certeza pulsava em seu รญntimo: ele nรฃo desejava um mundo onde suas aรงรตes a conduzissem inexoravelmente para a morte injusta.

Foi entรฃo que, sem aviso prรฉvio, Luffy decidiu agir ao iniciar um ataque com seu Gomu Gomu no Red Hawk, avanรงando com toda a forรงa em direรงรฃo a Doflamingo. O garoto com chapรฉu de palha estava enfurecido tanto pelas condiรงรตes em que o Shichibukai havia deixado Bellamy quanto por ter sido persuadido a ferir sua companheira involuntariamente. Naquele momento, Law trocou de lugar com Doflamingo, deixando-o ร  mercรช do ataque e, em seguida, dirigiu-se diretamente a Trebol, utilizando o Radio Knife, que resultou no maior sendo fatiado em vรกrias partes.

Porรฉm, era esperado que nada conseguisse ferir Doflamingo a ponto de fazรช-lo recuar, e ele nรฃo tardou a criar mais um clone para lutar contra o Chapรฉu de Palha. Utilizando Bellamy, sob seu controle, para contra-atacar sempre que o moreno cicatrizado se aproximava dele, Doflamingo nรฃo se furtou a golpeรก-lo de volta, satisfeito ao observar o olhar fulminante nos olhos do garoto. Law e Elisabette lutavam juntos contra Trebol, que tentava a todo custo prendรช-los com suas gosmas viscosas (N/A: OH NOJEIRA, PODE IR ME TIRANDO ๐Ÿ˜ญ๐Ÿ’€); no entanto, os dois jovens mostravam-se capazes de lidar com toda a meleca proveniente do executivo.

A jovem de cabelos platinados sentiu um fraquejar nas pernas e nรฃo tardou a tropeรงar nos prรณprios pรฉs, caindo de joelhos no chรฃo. Ela nรฃo teve tempo de proteger o Cirurgiรฃo da Morte de um ataque certeiro, o Strong Light, que partiu das mรฃos do Shichibukai e atingiu agulhas afiadas de cordas no ombro do tatuado, fazendo-o cair imediatamente ao chรฃo. Os olhos dela se arregalaram, e ela usou todas as forรงas em suas asas para defender Luffy ao vรช-lo sendo golpeado e arremessado na direรงรฃo de Bellamy, que estava com espadas apontadas para ele.

Colocada entre a cruz e a espada, Elisabette encarou Law e, em seguida, seu capitรฃo, sentindo a cabeรงa latejar em confusรฃo devido ร  adrenalina. Antes que pudesse pensar, lanรงou-se ร  frente de Luffy e recebeu dois cortes no peito, caindo logo depois. No mesmo instante em que viu sua companheira caรญda no chรฃo, nรฃo muito longe de seu aliado, Luffy sentiu tudo ao seu redor estremecer. Quando avanรงou novamente contra Donquixote, foi puxado pelas gosmas de Trebol e socado brusca e fortemente contra o chรฃo, formando uma cratera prestes a se romper abaixo de seu corpo.

- Acham que conseguiriam vencer? Apenas de pensar que trรชs pivetes como vocรชs se permitiram acreditar, mesmo que por um momento, que podiam me derrotar รฉ uma humilhaรงรฃo insuportรกvel! - disse o loiro de forma zombeteira, esboรงando um sorriso de escรกrnio em seus lรกbios. - Escutem bem. Eu descendo de uma das mais nobres linhagens do mundo... os Tenryubito!

"Somos superiores simplesmente por termos nascido. Eu possuรญa o mais raro dos poderes do mundo."

"Entretanto, meu pai abandonou esse poder supremo no mundo em que nascemos, e nรณs quatro viemos morar neste mundo de esterco!"

"Que se dane esse discurso de 'viver como humanos!' Meu pai era um imbecil! O que acham que aconteceu?"

"Ao completar dez anos, eu jรก havia visto o cรฉu e o inferno! Foi quando matei meu pai, o responsรกvel por tudo, e retornei a Mariejois com sua cabeรงa! Mas... os Tenryubito do paraรญso jamais aceitariam uma famรญlia de renegados!"

"Eu sabia que nรฃo havia como fugir do inferno... e naquele instante, jurei... jurei que destruiria tudo o que eles dominam neste mundo!"

"A minha vida foi completamente diferente da de vocรชs! Eu nรฃo tenho tempo para brincar com crianรงas!"

แ˜กTrafalgar Law, Cirurgiรฃo da Morte. โชO ponto de vista deleโซ

Por fim, minhas deduรงรตes estavam, de fato, corretas. Doflamingo nรฃo era apenas um desgraรงado que sentia prazer e satisfaรงรฃo em fazer as pessoas ao seu redor sofrer; ele tambรฉm era um Tenryubito - o que acabou por justificar todas as vezes em que se comportou de maneira abominรกvel com aqueles que demonstravam o mรญnimo de felicidade que nรฃo fosse decorrente de suas artimanhas. Tudo estava em um caos, um caos diferente daquele que eu desejava causar. Mugiwara-ya estava praticamente rendido, com as mรฃos atadas nas costas, enquanto precisava lutar contra Bellamy e um clone, ao mesmo tempo em que Elisabette-ya tentava, a todo custo, evitar que Doflamingo continuasse a me causar danos fatais.

Quando Mugiwara-ya finalmente atravessou o chรฃo e foi lanรงado para o piso abaixo de onde estรกvamos, Elisabette-ya tambรฉm foi rendida ao ser agarrada pelas gosmas de Trebol, que nรฃo tardou a jogรก-la ao meu lado, fazendo com que a garota rolasse vรกrias vezes atรฉ parar, batendo as costas contra o pequeno muro. Naquele momento, percebi que tudo estava perdido e que todos os anos de planejamento e cรกlculos haviam sido em vรฃo.

Eu nรฃo me importava com mais nada, nem com as respiraรงรตes ofegantes de Elisabette-ya, nem com a decepรงรฃo que Doflamingo dizia sentir, tampouco com os poderes milagrosos da Ope Ope no Mi. Nada mais importava e, mesmo assim... eu nรฃo conseguiria ficar parado sem fazer nada. Eu precisava lutar.

Por mais que eu odiasse admitir, uma parte de mim ainda pertencia ร  Famรญlia Donquixote. Nรฃo importava o quanto eu tentasse negar; eu sabia que fazia parte deles e sentia meu estรดmago embrulhar ao ter que aceitar esse fato. Se sou o que sou, foi porque eles me moldaram e me fizeram ser quem sou hoje. Querendo ou nรฃo, eles eram uma parte de mim. Se eu sabia esgrima, era graรงas a Diamante; se eu sabia lutar, era pela arte marcial de Lao G; e se minha mira era perfeita, era devido ao Gladius. Tudo o que aprendi foi com eles, mas... se estou vivo, รฉ pelo sacrifรญcio de Corazรณn.

- Sou muito grato a vocรช! Com todo este poder, poderei derrotรก-lo! - gritei, sentindo o peito queimar em raiva e desespero, desejando a todo custo acabar com tudo isso de uma vez por todas.

As lรกgrimas dos meus pais, da minha irmรฃ, da madre e as de Corazรณn serรฃo todas enxugadas quando eu acabar com esses malditos que tentam se sobressair sobre o sofrimento dos mais fracos politicamente. O choro de cada um deles serรก ouvido quando tudo isso finalmente terminar, e eu preciso pรดr um fim a isso. Deixou de ser apenas um desejo; tornou-se uma necessidade que nรฃo posso ignorar. Nรฃo importa quanto tempo leve ou quantas vidas sejam perdidas no processo, os Tenryubito um dia cairรฃo, e a queda deles comeรงarรก com um de seus renegados: Donquixote Doflamingo.

Cora-san, finalmente serei livre... quando realizar o seu sonho! Quando eu deter Doflamingo!

Minha luta contra ele estava quase em pรฉ de igualdade, nรฃo fossem algumas quedas frequentes de ambas as partes, nas quais, em determinados momentos, eu conseguia levรก-lo ao chรฃo sem dificuldades, enquanto ele me arrastava com facilidade. Por outro lado, Elisabette-ya parecia ter todas as vantagens a seu favor, uma vez que, apesar das pernas aparentemente enfraquecidas pela Febre das รrvores, ela ainda demonstrava estar tรฃo veloz quanto de costume, o que lhe conferia uma vantagem para escapar das amarras de Trebol e acertรก-lo nas partes nรฃo cobertas de gosma.

O fato de os trรชs termos um D. em nossos nomes era o que me proporcionava aquele fraco lampejo de esperanรงa. Os membros do clรฃ D. sรฃo inimigos jurados dos Deuses, o que nos tornava, de certa forma, uma ameaรงa para o Governo Mundial, que tanto defende os "descendentes" dos Deuses - os Tenryubito. Nรณs trรชs รฉramos uma ameaรงa de grande potencial para Doflamingo, e eu sequer sabia o porquรช, mas compreendia o quanto isso poderia afetรก-lo. Nรฃo estava disposto a utilizar todas as cartas na manga apenas para vรช-lo se perder na prรณpria loucura e insanidade.

- Meu verdadeiro nome รฉ Trafalgar D. Water Law.

- D.? - escutei o murmรบrio alto da sentinela, notando seu olhar azulado e assustado fixo em mim.

- Vocรช รฉ um D.? ร‰ esse o seu nome secreto? Estรก me dizendo que รฉ seu destino estar aqui!? - foi dito e feito: Doflamingo veio em minha direรงรฃo como um zangรฃo carregado de fรบria.

Ele havia sido estรบpido e ingรชnuo o suficiente para se deixar levar pela raiva e ficar ao alcance dos meus poderes, oferecendo-me a oportunidade perfeita para abrir uma Room que englobasse apenas nรณs dois, permitindo-me atingi-lo em cheio com um Injection Shot no abdรดmen. A princรญpio, isso nรฃo pareceu surtir efeito algum. Doflamingo saltou, e eu fui em sua direรงรฃo com um Counter Shock, mas ele desviou, embora eu tenha sido rรกpido o bastante para abrir outra Room e cortar uma parte da torre com o Takt.

Havรญamos novamente iniciado outra troca de golpes que pareciam nรฃo ter fim, nem mesmo um รบnico ou minรบsculo sinal disso. No entanto, eu nรฃo me importava; tudo o que eu queria era ferir e desgastar aquele bastardo o mรกximo que pudesse. Eu desejava vรช-lo gritar de dor e chorar por se sentir ร  beira da morte. Eu apenas queria que Doflamingo sentisse na pele tudo o que um dia experimentei por culpa dele e de seus semelhantes.

Contudo, quando estava prestes a lhe arrancar o coraรงรฃo com o Mes, ele conseguiu agarrar meu pulso com forรงa e me deter no ar.

- Vocรช nรฃo consegue enxergar a situaรงรฃo de fora. Preocupa-se tanto com os detalhes que nรฃo consegue aproveitar o momento. Vocรช ainda nรฃo puxou o gatilho. - disse ele, sorridente, olhando em meus olhos com prazer ao me ver ร  sua mercรช. - Na verdade, ainda nem pรดs o dedo no gatilho. Quanto mais fraca a pessoa รฉ, mais permite que a dor alheia a destrua. Se quisesse realmente me matar, deveria continuar incitando o conflito entre Kaido e eu.

Cada palavra proferida por Doflamingo era como uma martelada na cabeรงa ou um tiro no peito. Eu nรฃo me importava com nada, ou pelo menos tentava nรฃo me importar. Passei anos da minha vida usando a mรกscara de uma pessoa fria e calculista que nรฃo se importava com nada nem com ninguรฉm, enquanto, no fundo, eu nรฃo sou merda nenhuma. Nรฃo sou um homem; sou um menino. Sou apenas a porra de um menino assustado e sem rumo algum na vida.

Doflamingo entรฃo esticou a perna para o alto e pousou a panturrilha em meu braรงo, comeรงando a se lanรงar na direรงรฃo do chรฃo, comigo preso a ele. Entretanto, ao chegarmos ao solo, nรฃo pude evitar sentir uma dor insuportรกvel e dilacerante no mesmo instante em que meu braรงo foi decepado pelas cordas afiadas dele, fazendo-me gritar desesperadamente e agonizar de dor ao sentir o sangue comeรงar a escorrer pelo ferimento agora aberto em meu corpo. Meu pรขnico apenas aumentou quando o vi novamente sacar uma pistola e apontรก-la para mim.

Escutei Trebol rir enquanto Elisabette-ya apenas ficou paralisada, me encarando em choque, seus olhos alternando entre observar meu rosto e meu braรงo cortado, agora caรญdo ao meu lado, enquanto eu tentava conter o sangramento de forma falha e miserรกvel. A determinaรงรฃo de Doflamingo nรฃo diminuiu nem mesmo quando o corpo de seu clone foi arremessado do andar em que o Mugiwara-ya estava lutando, fazendo-o apenas rir diante da situaรงรฃo.

Tentei aproveitar um momento de distraรงรฃo de Doflamingo para pegar Kikoku e tentar novamente atingi-lo com um Counter Shock, o que, por um breve instante, pareceu funcionar atรฉ eu me dar conta de que nรฃo havia surtido efeito. Fui retribuรญdo com uma enxurrada de cortes nos ombros e no abdรดmen, nรฃo vendo nada alรฉm de clarรตes cegantes e meu sangue voando como รกgua no ar. Fui jogado contra o muro de forma brusca e bati as costas na parede baixa de tijolos, sendo capaz de escutar o estalar de cada osso que formava minha coluna. Novamente, Doflamingo apontou a pistola para o meu rosto, quase a pressionando contra minha testa.

- Sua morte รฉ inevitรกvel. Morrerรก em vรฃo, como um vira-lata! Mas, se vocรช vai mesmo morrer, por que nรฃo tiramos proveito disso? - ele murmurou ao tocar meu peito, aproximando-se de meu ouvido para sussurrar mais baixo, embora ainda audรญvel. - Serรก bom para nรณs dois. Sรณ vou dizer isso uma vez. Preste atenรงรฃo, Trafalgar D. Water Law. Execute em mim a tรฉcnica suprema da Ope Ope no Mi... a Cirurgiรฃo da Juventude Eterna. E depois, morra. Em troca, garantirei um desejo seu, seja ele qual for. - pude notar um sorriso ladino nos lรกbios dele ao lanรงar um olhar de canto para a pirralha do bando do Chapรฉu de Palha, que ainda nos encarava atรดnita e atenta.

- Se vai mesmo fazer isso... รฉ uma รณtima ideia! Serรก bom para nรณs dois. Certo, eu aceito!

No momento exato em que terminei de falar, vi a expressรฃo de choque de Elisabette-ya mudar para desespero e pรขnico. Ela podia ser lenta para entender as coisas a ponto de se tornar ineficaz, mas era esperta o suficiente para compreender toda a nossa conversa desde que tudo comeรงou a envolver morte e vida eterna.

- Entรฃo, traga Corazรณn de volta ร  vida, agora! Depois disso, vocรช deverรก beijar os pรฉs de cada pessoa deste paรญs! - sorri de volta, observando os dois homens engasgarem. - Nรฃo adianta acreditar nele? Sรณ pode estar de brincadeira! Quem nรฃo tem noรงรฃo do perigo รฉ vocรช, Doflamingo! Os Chapรฉus de Palha jรก realizaram diversos milagres. Vocรช nรฃo serรก capaz de derrotar o Mugiwara-ya! Tampouco conseguirรก recuperar o Caesar dele!

- Law! Como se atreve a dizer isso ao Doffy!?

- ร‰ o seu futuro que estรก por um triz... - e fui baleado.

- TRAL-SAN! - escutei o grito dela, mas nรฃo tive forรงas para encarรก-la.

- O que estรก escrito em suas costas... "Corazรณn"? Estรก tentando zombar de mim? - ele bradou, sua voz carregada de indignaรงรฃo. - Quem vocรช pensa que รฉ para chamar seu bando de Piratas de Copas!? - dois tiros ecoaram. - Vocรช sequer assumiu o tรญtulo de Copas! Por que ostenta o naipe!? - Quatro tiros seguiram-se.

Sete disparos foram suficientes para me fazer tombar de bruรงos, quase desfalecido no chรฃo, a vida escorrendo de meu corpo em um mar de sangue. Mesmo enquanto a consciรชncia se dissipava, ainda podia ouvir o som do gatilho sendo puxado, um aviso sombrio de que, mesmo sem balas, Doflamingo ainda desejava me ferir, contido apenas pela falta de muniรงรฃo. Ouvi um grito distante, vindo de Elisabette-ya, atรฉ que a senti agarrar-me e virar meu corpo para fitรก-la.

Minha visรฃo estava turva e a sensaรงรฃo de que minha vida se esvaรญa tornava-se cada vez mais palpรกvel; no entanto, eu nรฃo poderia partir. Nรฃo enquanto a dela ainda estivesse em minhas mรฃos. Seus olhos estavam arregalados, e seu semblante refletia um pรขnico absoluto, enquanto ela me balanรงava e clamava por mim, alheia ao fato de que o movimento frenรฉtico do meu corpo apenas intensificava minha hemorragia. Conhecendo-a como conheรงo, sabia que ela nรฃo tinha consciรชncia disso; mas mesmo se tivesse, continuaria a me agitar na esperanรงa desesperada de me trazer de volta ร  realidade. Afinal... ela sempre foi assim.

Nรฃo desejava assustรก-la, mas era imperativo que Doflamingo e Trebol acreditassem que eu estava prestes a sucumbir. Caso contrรกrio... teria feito tudo o que estivesse ao meu alcance para acalmรก-la, mesmo que fosse apenas por um momento fugaz. Sabia que isso poderia ser suficiente para dissipar o medo profundo que estampava seu olhar.

"So don't make me sad, don't make me cry
Sometimes love is not enough and the road gets tough
I don't know why..."

Senti-a colocar-me no chรฃo e, em seguida, ela apanhou sua foice, nรฃo demorando a liberar faรญscas tanto de seu corpo quanto da lรขmina prateada. Elisabette-ya parecia tomada por uma fรบria desesperadora em razรฃo da minha situaรงรฃo, ciente de que eu estava praticamente morrendo e que, assim, nรฃo poderia evitar o desfecho trรกgico que tambรฉm resultaria em sua prรณpria morte. Ignoro o que ela planeja ou o que acredita ser capaz de realizar; apenas sei que, independentemente de suas aรงรตes, elas nรฃo poderรฃo nos salvar. Porque eu nรฃo consegui nos salvar.

Foi entรฃo que vi, de relance, Doflamingo pegar uma pequena caixa de muniรงรตes feitas de chumbo e carregar uma รบnica bala em sua pistola, enquanto me encarava no chรฃo com um olhar sรฉrio - nem mesmo havia um vislumbre de seu sorriso ladino e debochado. Elisabette-ya o observava, atenta a cada movimento, atรฉ o momento em que, ao tossir sangue, ela se virou para me encarar, assustada, largando tudo para vir atรฉ mim mais uma vez. Um erro.

"Keep making me laugh, let's go get high
The road is long, we carry on
Try to have fun in the meantime..."

- Elisabette-ya... fuja... para longe... - tentei murmurar, mas tudo o que ela fez foi morder os lรกbios com forรงa e franzir o cenho.

- E te deixar aqui para morrermos? Sem chance!

- Eu... eu nรฃo vou... eu nรฃo vou morrer... eu prometi... que nรฃo ia... deixar... vocรช... morrer...

- Nรฃo รฉ o que estรก parecendo! - teimosa como sempre, ela tentou me carregar, mesmo fraca. - Vou tirar vocรช daqui!

Doflamingo entรฃo deu um passo ร  frente, apontando a arma para ela; no entanto, ela pareceu nรฃo perceber, e eu estava sem forรงa ou energia para nos teletransportar para longe.

- Eu vou tirar vocรช daqui, tudo bem? Eu sei que รฉ difรญcil, mas vocรช pode confiar em mim? - ela sorriu.

- Desde o momento em que a vi, fiquei verdadeiramente encantado com sua beleza e aparรชncia... contudo, o que mais chamou minha atenรงรฃo foi esse casaco de penas que vocรช estรก usando... me lembra alguรฉm que eu nรฃo suporto pensar. - disse Doflamingo. No instante em que ela se virou para encarรก-lo...

Ele disparou contra o rosto dela.

Senti o peso do corpo dela caindo contra o meu peito, e, utilizando as poucas forรงas que me restavam, ergui a cabeรงa para encarรก-la. O que vi me paralisou: sangue escorria do buraco da bala em seu olho direito, e nรฃo tardou a jorrar em grandes quantidades. Doflamingo, com um gesto frio, a empurrou lentamente com o pรฉ, fazendo-a rolar para o meu lado. Ela ainda estava viva, encarando-me com seu olho esquerdo, que, pouco a pouco, parecia perder o brilho da vida.

"Come and take a walk on the wild side
Let me kiss you hard in the pouring rain
You like your girls insane..."

Meu coraรงรฃo acelerou enquanto ela me olhava com um misto de pavor e desespero, sua sanidade se esvaindo a cada segundo que passava, incapaz de gritar ou mesmo pronunciar uma palavra diante da dor insuportรกvel que a consumia.

Ela mordia os lรกbios e cerrava os punhos, enquanto seu olho comeรงava a cintilar, lรกgrimas finas e pequenas se formando e escorrendo por seu rosto.

รamos morrer. Eu e ela.

Nรฃo havia mais nada que eu pudesse fazer, nem por mim nem por ela. O desespero se apoderava de mim, e a impotรชncia se tornava uma sombra inescapรกvel em nosso destino trรกgico.

"Choose your last words, this is the last time
'Cause you and I
We were born to die..."

Por fim, os olhos dela comeรงaram a se fechar lentamente, e pude perceber que seu corpo, antes vibrante de vida, estava perdendo todas as forรงas. Foi nesse momento que ela pareceu apagar-se de vez. A incerteza me consumia: estaria ela morta ou apenas ร  beira da morte? O รบnico pensamento que consegui processar foi a amarga constataรงรฃo de que... eu falhei. Foram dias e mais dias em que a ouvi falar desesperadamente, entre risos nervosos e promessas de que nรฃo sucumbiria ร  Febre das รrvores, apenas para vรช-la partir, sacrificando-se na tentativa de me salvar.

Porra!

Mais uma vez!

E de novo.

Sempre haverรก aqueles dispostos a morrer por mim, sem que eu tenha pedido ou sequer ponderado sobre o que realmente desejava.

Impulsionado por um desespero avassalador, levei minha mรฃo atรฉ a dela e apertei-a com toda a forรงa que me restava.

Se o nosso destino era a morte, que enfrentรกssemos esse fim juntos.

โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”โ”


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