
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟰𝟮. 𝗖𝗼𝗿𝗮-𝘀𝗮𝗻. | ♥️
━━ Em algum lugar do North Blue ; Memórias...
ᘡTrafalgar Law, Cirurgião da Morte. ❪O ponto de vista dele❫
Havíamos atracado em uma ilha de clima outonal há algumas horas, por volta das seis ou sete da manhã, quando chegamos ao porto e nos dirigimos ao hotel mais próximo da estrada. Cora-san estava dormindo, e já era quase três da tarde quando acordei. Eu havia tomado um banho, arrumado a cama onde tinha dormido e começado a preparar algo para comermos. Eu sabia que ele ainda insistiria em me levar a outros hospitais e, pelo que percebi, havia dois na região. Pareciam ser hospitais públicos, acessíveis à população, uma vez que a ilha era pequena e monótona. Por isso, acreditei que o dinheiro não seria um problema naquele momento, ao menos enquanto estivéssemos ali.
Ainda me parecia confuso e estranho lidar com aquele idiota me acompanhando a todos os lugares, fazendo o possível e o quase impossível para me levar a todos os hospitais do North Blue - aquele tolo desmiolado havia me levado até a tribos indígenas, na esperança de que os curandeiros pudessem tratar minha doença, mas nem eles conseguiram. Eu já havia aceitado meu destino, reconhecido que minha vida não duraria mais um ano e que meu corpo estava fadado a perecer pelo Chumbo Branco. Apenas Cora-san não havia aceitado essa realidade, e insistia em me salvar a qualquer custo. Bobagem. Era perda de tempo, e ambos sabíamos disso.
Assim que terminei de preparar nosso café, ouvi um baque e o som de coisas caindo vindos do quarto onde Cora-san estava. Não demorei a revirar os olhos, já imaginando que o desastrado havia tropeçado em algo e derrubado todos os objetos ao redor, sendo sorte dele se não tivesse, por acaso, colocado fogo em alguma coisa.
Pouco depois, ele apareceu na cozinha e se sentou de maneira desajeitada e despreocupada à mesa, me observando com um sorriso no rosto, enquanto eu colocava os ovos mexidos nos pratos e servia o café para nós dois. Eu detestava assumir o papel de dona de casa, mas não podia confiar nele para cuidar da alimentação, já que ele mal sabia ferver água sem derramar a panela sobre si mesmo. Sinceramente, às vezes eu me perguntava como ele havia chegado à idade adulta com todos os membros no lugar e sem uma única cicatriz profunda.
- Bom dia, Law! Como você dormiu esta noite? - ele sorriu de forma assustadoramente larga, e eu me encolhi atrás da mesa, observando-o com desconfiança.
- Eu... dormi pouco.
- Ora, mas você é apenas um garotinho minúsculo e magrinho, parece um gato de rua, sabia? Você precisa dormir bem para crescer forte e alto, igual a mim!
- Eu não quero ser igual a você! - retruquei, cruzando os braços e franzindo o cenho. - E eu não sou magro! Nem minúsculo!
- Claro que é, veja só! - sem qualquer aviso, ele agarrou minha mão, me levantou no ar, ergueu um pouco minha camisa e começou a cutucar minhas costelas, visivelmente marcadas na pele. - Só pele e osso!
- Ah! Pare com isso, seu idiota!
Cora-san sempre tentava amenizar minha situação com piadas toscas de gente mais velha ou fazendo alguma palhaçada que, querendo ou não, às vezes me fazia rir. Era um ciclo ao qual eu já havia me acostumado. Eu não dormia à noite, passava grande parte do tempo acordado, processando tudo o que havia acontecido, ainda tentando lidar com o luto e com a fase de negação da qual eu me recusava a sair para avançar rumo à aceitação. O ódio que ainda me consumia servia como combustível para a chama da vingança que eu ainda desejava contra tudo e todos que me cercavam, mesmo aqueles que nada tinham a ver com o que aconteceu em Flevance e com seus habitantes.
Em uma noite como qualquer outra, estávamos no barco que utilizávamos para navegar. O mar estava calmo, e o vento soprava levemente, mas o suficiente para me fazer tremer. Eu estava com febre e já havia vomitado sangue algumas vezes, sendo salvo por Cora-san, que soube como me acalmar e me ajudar naquela situação, evitando que eu ficasse ainda mais apavorado do que já estava.
Eu detestava chorar na frente de desconhecidos. Na verdade, odiava chorar diante de qualquer pessoa, não importava quem fosse. Não era porque eu já era uma pessoa reservada - eu sempre fui assim, mesmo antes de perder minha família e amigos. Esse sempre foi meu modo de agir.
Eu tinha amigos. Brincava e ria com eles, amigos de escola com quem interagia até fora dela. Tinha minha irmã, com quem convivia desde o nascimento dela; ela era uma parte de mim. O mesmo se aplicava aos meus pais, que sempre estiveram ao meu lado, desde os meus primeiros passos, primeiras palavras, desde tudo. Agora, assustado e sem mais ninguém no mundo, Donquixote Rosinante era a pessoa a quem eu me agarrava naquele momento, sabendo que, em um mundo injusto e cruel onde eu havia nascido e era obrigado a viver, ele era o único que permanecia ao meu lado.
- Ei, Law... você já ouviu falar da lenda das Ilhas do Céu?
- Ilhas... do Céu?
- Sim, exatamente! As Ilhas do Céu, Skypiea! - ele disse entusiasmado, enquanto acariciava gentilmente minha barriga, coberta pelo lençol grosso que me protegia do frio. - Nunca ouviu falar?
- Não...
- Dizem que existe uma ilha no céu, acima das nuvens que vemos daqui debaixo. - enquanto falava, ele apontou o indicador para o alto, sorrindo. - As pessoas que habitam lá são como anjinhos, com asinhas nas costas e vozes delicadas, que te ajudam a relaxar. Ah! E também há histórias de que os anjos da guarda vêm desse lugar! Será que o seu anjo da guarda não está lá?
- Esse anjo da guarda é um imbecil que está fazendo um PÉSSIMO trabalho... - murmurei, encolhendo-me sob o lençol ao sentir a febre arrepiar meu corpo e o frio se intensificar. Eu estava uma confusão de calor e frio, sem nem saber mais se estava realmente acordado conversando ou apenas delirando.
- Ei, não diga isso! Seu anjinho da guarda deve ser uma criança como você; talvez esteja perdido e sem saber como ajudá-lo. - ele riu. - Quem sabe ele apareça aqui algum dia, querendo recompensá-lo pelo tempo em que deixou você na mão.
- E eu vou encher ele de porrada...
- E se for uma menina? Você vai bater em uma menina?
- Não! - respondi rapidamente, franzindo o cenho. - Talvez! Se ela for barulhenta e chata! Eu arranco a cabeça dela fora!
E ele simplesmente riu. Riu como um tolo, como se sua risada pudesse dissipar a dor que pairava no ar. Ele sempre ria. Sempre. Em todas as ocasiões, estava ali, sorrindo para mim, tratando-me como se eu fosse um bebê, seu bebê. No entanto, eu não era. Eu não era filho dele, e ele não era meu pai.
Mas... eu ficaria feliz que fosse.
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Reino de Dressrosa.
Atualmente.
Quando me dei conta, Mugiwara-ya já havia formado praticamente trinta aliados de uma só vez, sem sequer propor tal ação aos terceiros. Os competidores do Coliseu Corrida, que haviam sido transformados em brinquedos e salvos pelo "Deus Usopp", decidiram por conta própria retribuir a atitude heroica do artilheiro dos Chapéus de Palha, que, de alguma forma, os transformou novamente em pessoas. Entretanto, essa aliança tornou-se nada mais do que uma disputa sobre quem possuía o ego mais inflado: Mugiwara-ya, Roronoa, Elisabette-ya ou os competidores. Todos estavam decididos a espancar Doflamingo e matá-lo, algo que, sem sombra de dúvidas, eu também desejava - obviamente.
Estávamos os quatro em cima de um touro, Moocy, acompanhados por mais dois esquisitos cujas identidades eu sequer conhecia, mas que deixaram evidente sua lealdade a Mugiwara-ya.
Nosso caminho em direção ao Palácio parecia cada vez mais complicado à medida que nos aproximávamos. Seja Pica tentando nos atingir, os lacaios de Doflamingo atirando contra nós ou pessoas fazendo tudo ao seu alcance para nos eliminar e conquistar as recompensas por nossas cabeças. Estressante. Irritante. Uma combinação de infortúnios enquanto eu era jogado de um lado para o outro como uma boneca de pano, com os membros do bando do Chapéu de Palha revezando-se para ver qual dos três demonstrava menos cuidado ao me carregar como se eu fosse um pedaço de bosta seca.
No entanto, dentre os três, quem ainda parecia ter o mínimo de atenção ao me segurar era Elisabette-ya. E eu sei que isso não se deve a um genuíno cuidado por parte dela, mas sim ao fato de que essa ordinária sente, de forma literal, as minhas dores - algo que eu sequer sabia ser possível. Quero dizer, antes eu imaginava que, se eu morresse, meus poderes seriam desfeitos e seu coração ficaria desprotegido, o que levaria a uma morte imediata. Nunca imaginei que até os danos que eu sofria eram repelidos em seu corpo, pois, se eu soubesse disso, teria me ferido intencionalmente várias vezes apenas para torturá-la por todas as vezes em que ela me fez passar raiva há dois anos, no Arquipélago Sabaody.
- Eu sinto Inazuma... mas não consigo chamá-la! - ouvi a voz fina e estridente de Elisabette-ya relinchar acima de mim, quando ela simplesmente se sentou em meu colo, sem mais nem menos. - Como o Anjo da Morte vai lutar sem a foice!?
- Se você fosse mais atenta, não teria perdido sua arma! - retrucou Roronoa, dando um cascudo na cabeça dela.
- Eu não perdi! Doflamingo a escondeu!
- Então grite mais alto, gênio!
- Eu não sou um gênio! Eu sou uma birkan!
Às vezes, ainda me surpreendia com a maneira como ela parecia tão desatenta, alternando, em um piscar de olhos, entre a pessoa mais insensata da face da Terra e uma assassina de sangue frio, desprovida de qualquer piedade, nem mesmo por um inocente animal. Essa faceta fragmentada de sua personalidade revelava-se ainda mais intensamente sempre que seu pai era indiretamente mencionado ou, como ocorreu mais cedo, quando ela se entregou a minutos de gritos desesperados por ele. Não eram chamados de uma criança anseando pelo conforto daquele que lhe deu a vida, mas sim clamor de um ser angustiado em busca de salvação.
Elisabette-ya era um enigma que me confundia profundamente. Não desejo entender sua essência, e não sei se deveria, mas à medida que o tempo avança, sinto-me cada vez mais enredado por ela e pelas tribulações com as quais lida dia após dia, noite após noite.
Recordo-me do momento em que perdeu seus companheiros em Sabaody, desolada e ferida, prestes a ser capturada pela Marinha - um destino provavelmente não muito diferente do que aguardou os Punhos de Fogo naquele fatídico dia. E quando percebi, já me via cuidando de seus ferimentos, proporcionando-lhe banhos revigorantes, oferecendo roupas minhas para que pudesse vestir-se e penteando seus cabelos para que não despertasse em um estado precário.
Tudo começou com um simples desejo de obter uma informação e, de repente, encontrei-me comprando alimentos para ela, lendo uma carta e, por fim, a parabenizando pelo seu aniversário. Seria estupidez afirmar que ainda recordo daquela data? Certamente. Seria uma estupidez dos infernos.
Ao mesmo tempo em que anseio por desvendar os mistérios que envolvem sua pessoa, por compreender as nuances de seus sentimentos e o que realmente a define, uma sombra de receio permeia meu ser. Temo que, ao criar um vínculo com ela, me encontre aprisionado em uma teia da qual não conseguiria me libertar, um entrave que se tornaria um fardo não apenas para mim, mas também para ela. E, mesmo diante das desavenças que nos separaram e ainda persistem, frutos de nossas personalidades tão diametralmente opostas, eu... eu hesito em aceitar a ideia de partir e deixá-la sozinha. É um dilema angustiante, pois mesmo ciente de que ela possui a força necessária para enfrentar o mundo, a ideia de sua solidão me atordoa.
Quando fixo meu olhar nos olhos dela, que reluzem com um azul profundo, semelhante a milhares de safiras lapidadas para adornar as mulheres da elite, e que cintilam com a vivacidade do mar sob a luz do sol radiante, perco-me na confusão dos meus próprios sentimentos. Pergunto-me se ainda é simpatia provocada pela Febre das Árvores ou se, na verdade, é algo mais intenso e proibido. Um sentimento que poderia nos destruir ou apenas a mim, dado que ela parece tão distante e alheia ao meu tormento.
O que sei com certeza é que não desejo vê-la mais uma vez com aquele olhar de dor. Não quero continuar a contemplá-la na incerteza de que nada se resolverá e que um dia ela simplesmente não despertará. Não anseio por passar as horas solitário no convés, lidando com a realidade de que ela não estará ali à meia-noite em ponto, surgindo como um espectro sonolento, com o rosto marcado pelo travesseiro e os cabelos desordenados ou amarrados em um rabo de cavalo feito às pressas.
Minha única súplica é: não quero mais testemunhar seu choro silencioso, seu sofrimento oculto enquanto tenta engolir suas dores sem clamar por socorro aos seus companheiros. Ela teme perturbar os planos que elaborei - não os deles - e isso me dilacera como uma broca no peito.
Estava tão absorto em meus pensamentos que, após observar o Mugiwara-ya desferir socos contra Pica, com seus punhos envoltos pelo Haki do Armamento, tudo o que percebi foi Roronoa, de repente, permanecer para trás. Elisabette-ya se remexeu em meu colo, apoiando as mãos em meu peito para encontrar equilíbrio e encará-lo com um olhar que mesclava confiança e preocupação. A relação entre eles lembrava a dinâmica de dois irmãos; ele parecia o mais velho, preocupado em colocar a caçula encrenqueira nos trilhos. Contudo, ambos eram igualmente bagunceiros e barulhentos... isso me remete a algo de muitos anos atrás, a ponto de não recordar com clareza.
- Zoro nunca perde. Ele me disse isso e eu acredito. - sussurrou ela enquanto observava os homens que nos acompanhavam, que temiam a derrota do Caçador de Piratas.
- Ele fez um voto de nunca ser derrotado! - complementou Mugiwara-ya, com seu típico sorriso despreocupado estampado no rosto.
Senti os olhos de Elisabette-ya sobre mim e percebi algo que havia notado há muito tempo. Era ressentimento, um lampejo fraco de raiva, como se ela dissesse: "Veja o que você está nos fazendo passar". Engoli em seco, soltei um suspiro entrecortado e olhei para as nuvens no céu que formavam a gaiola que nos aprisionava em Dressrosa. Lembrei-me de tudo o que havia enfrentado há treze anos, da dor e da mágoa que se acumularam dentro de mim como um bolo de lodo tóxico, adoecendo-me pela sede de vingança contra Doflamingo, algo que não consigo acreditar que seria capaz de realizar completamente sozinho.
Foi há dois anos que vi quem seria capaz de virar o mundo de ponta-cabeça e causar um caos total. Afinal, quem teria a audácia de socar um Tenryubito, mesmo ciente da punição que se seguiria? Ninguém, absolutamente ninguém. Ninguém jamais havia tomado tal atitude, até que o idiota com um chapéu de palha apareceu na casa de leilões da maneira mais inusitada possível, para salvar uma sereia de se tornar escrava.
No fim, creio que isso já estava destinado a acontecer. Meu caminho já havia sido predestinado a se cruzar com o Mugiwara-ya, mesmo que de forma aleatória, como em um conjunto de ilhas, onde eu o veria enfrentar a maior potência mundial apenas para vingar um amigo. O que ele fez em Marineford pode ter sido considerado por muitos uma loucura, um ato suicida, uma vez que era um simples novato problemático no meio de grandes nomes tanto da Marinha quanto da Pirataria, motivado apenas pelo desejo de salvar o irmão, e acabou da maneira que acabou. Dias depois, ele retornou ao local para prestar suas condolências a todos que se foram naquele dia. É estranho admitir, mas Monkey D. Luffy está mais próximo de se tornar o Rei dos Piratas do que qualquer outro em todos os mares.
- Ei, Mugiwara-ya.
- Hã?
- Sei que precisamos matá-lo se quisermos sobreviver... já tomei minha decisão. O plano que sugeri derrubaria Doflamingo indiretamente. Mas, para ser sincero, desejo causar-lhe mal diretamente. Fui derrotado antes, mas agora será diferente! - falei com a voz carregada de determinação e certeza; queria ser firme em minhas palavras.
Eu estava exausto, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Tudo me atingia como um balde de tijolos e, desta vez, não tinha mais a quem me agarrar, não havia mais quem me consolasse e dissesse que tudo ficaria bem. Ele não estava mais aqui e não voltaria. Não importava o quanto eu quisesse ou implorasse a Deus e ao mundo. Cora-san havia morrido. Ele nunca voltaria.
- Treze anos atrás, Doflamingo matou... um homem que era tudo para mim. Seu nome era Corazón. O ex-executivo da Família Donquixote.
- O quê!? Ele era um companheiro dele?
- Sim, era. Ele salvou minha vida... e era... - respirei fundo, sentindo os olhos arderem, mas não me permitiria chorar por isso, nunca mais, tampouco na frente das pessoas. - Irmão biológico do Doflamingo!
Assim que terminei de falar, Mugiwara-ya ficou em silêncio, não demonstrando nenhuma reação, assim como Elisabette-ya, que apenas me encarava em silêncio, assim como seu capitão. Os únicos sons que ouvíamos eram os cascos do touro galopando, as pessoas gritando nos quatro cantos do reino e as explosões. Também permaneci em silêncio, alternando meu olhar entre os dois até o momento em que ela o olhou de lado e ele fez o mesmo, soltando apenas um suspiro enquanto ela esticava os braços e os estalava, saindo de cima de mim e ficando de pé sobre o touro. Ela levantou uma mão, fechou os olhos, franziu o cenho e pareceu se concentrar.
Paralelamente a isso, Mugiwara-ya estalou o pescoço e os dedos de ambas as mãos, colocou o chapéu de palha na cabeça e ajustou a cordinha para que ficasse firme e não saísse voando. Os dois pareciam ter chegado a um acordo silencioso, como se aquela simples troca de olhares tivesse funcionado como um diálogo completo sobre os prós e contras da nossa situação atual.
- INAZUMA! - de repente, um raio de brilho azulado atravessou o céu, rasgando o ar, enquanto a foice de Elisabette-ya surgia em sua mão. - Tch. Que demora!
- Você precisa ser mais gentil com sua arma, fia!
- Eu não sou sua filha!
- Shishishishi! Você ainda diz isso! - o idiota riu, e ela apenas fez um beicinho... adorável.
Após a revelação de minhas palavras, a confissão de minha verdadeira motivação em relação ao desejo ardente de testemunhar a queda de Donquixote Doflamingo, percebi que ambos começaram a encarar a situação com uma seriedade renovada. Mesmo que os sorrisos zombeteiros ainda adornassem seus lábios, havia uma mudança palpável no ar, como se o peso da realidade começasse a se instalar entre nós.
O futuro era incerto, e eu não sabia o que nos aguardava. Contudo, nutria a esperança de que tudo se resolveria, de que Doflamingo encontraria seu fim e eu teria a oportunidade de honrar a memória de Cora-san. Era um anseio profundo, um desejo de retribuir a ele tudo o que havia feito por mim: todas as histórias sussurradas sob as estrelas, cada carícia que aquecia meu coração e, acima de tudo, o fato de ele ter enxergado em mim alguém digno de ser salvo. Essa dívida com sua memória me impulsionava, como uma chama ardente em meio à escuridão que me engolia aos poucos.
- Capitão! - Elisabette-ya exclamou repentinamente, cortando ao meio um de nossos inimigos que tentara atacar o garoto com chapéu de palha por trás. - Há muitos deles aqui!
- Vamos derrotá-los juntos!
- Sim! ♡
Assim, lado a lado, os dois começaram a repelir nossos adversários, afastando-os de nós enquanto protegiam o touro que nos transportava em suas costas e, claro, me protegendo também - mesmo que eu estivesse balançando como uma minhoca em uma frigideira com sal. Os competidores do Coliseu Corrida também estavam presentes, enfrentando outros soldados e abrindo caminho para o Mugiwara-ya, impedindo que nossos inimigos o atingissem. Apesar da aparência pouco convencional da estratégia, estava se mostrando extremamente eficaz e nos poupou mais tempo do que havíamos imaginado.
De repente, um homem surgiu. Um homem cuja aparência me desagrada profundamente, especialmente pela forma arrogante com que se dirigia a nós. Ele se apresentou como Kelly Funk, afirmando ter sido oponente do Mugiwara-ya na Chace C. Chegou com toda a pompa, proclamando saber um atalho para o Campo de Flores em frente ao Palácio e exigindo que o seguíssemos. Se dependesse de mim, não iríamos acompanhá-lo e seguiríamos pelo caminho que eu havia indicado; no entanto, ninguém prestou atenção às minhas palavras. Essa desconsideração apenas alimentou minha indignação, embora eu estivesse em um estado de total vulnerabilidade, à mercê de qualquer inimigo que ousasse se aproximar. A frustração me consumia, impotente diante da situação.
- Ei, Mugiwara-ya. Quando você pretende remover essas algemas? - perguntei impaciente, já sem paciência para aquela situação e para a despreocupação do Chapéu de Palha. - Com essas algemas de Kairouseki, sou um alvo fácil para o Doflamingo.
- Hum... bem, vamos dar um jeito! Vamos lá!
- Como você pode ter tanta certeza!? Volte imediatamente para o Planalto!
- Hein? Por quê? - Elisabette-ya franziu o cenho e torceu o nariz em frustração.
- Eu vou procurar a chave! Essa luta será uma questão de vida ou morte!
- Se você está tão agoniado, eu quebro com os dentes. - ela disse com um sorriso largo, apontando para a boca enquanto me olhava com aqueles olhos idiotas.
Apenas revirei os olhos diante da proposta absurda feita por Elisabette-ya. Deveria ter esperado que ela soltasse algo desse tipo, e ainda me pergunto por que insisto em ter expectativas de que, em algum momento, ela dirá algo realmente inteligente ou, no mínimo, não tão burro como agora e em quase todas as nossas conversas noturnas, quando compartilhamos um espaço em algum canto do convés do Thousand Sunny.
Não demorou para que chegássemos ao tal atalho e adentrássamos naquele túnel sem mais nem menos. Entretanto, assim que entramos, notei Elisabette-ya se tornando mais reclusa e até mesmo arisca, com um olhar estreito estampado em seu rosto enquanto observava todos os lados como um gato desconfiado de tudo e todos. Confesso que não pude deixar de também ficar atento, mesmo sabendo que logo encontraríamos Nico-ya, que estava com as chaves das minhas algemas para finalmente me libertar, pois, sinceramente, eu não aguentava mais a sensação de impotência e de ser tratado como gato e sapato, sendo largado de um lado para o outro.
- Estamos descendo! - ela disse de repente, com os olhos arregalados enquanto suas asas se eriçaram.
- Pare! Ele está pisando em água!
- O quê? Mas ele disse que era um atalho para o Campo de Flores... - Mugiwara-ya murmurou, olhando ao redor. - Não tem saída!
- Diga para o touro dar a volta!
Não demorou muito para que Moocy entrasse em pânico e começasse a se debater, quase derrubando os três de suas costas. Senti meu sangue gelar ao ouvir passos e ver Elisabette-ya se arrepiar ao olhar para trás. Os olhos dela... era como se ela estivesse vendo o verdadeiro terror.
- Luffy. É uma armadilha.
Meus próprios olhos se arregalaram ao ver Doflamingo anunciando que o caminho que seguíamos levava diretamente a um poço de água. Estávamos totalmente em apuros. Eu estava algemado e ao nosso redor havia água por todos os lados. Não tínhamos mais salvação.
Pelo menos, era o que eu pensava.
- Capitão. Eu cuido disso. - foi tudo o que ela disse antes de agarrar a foice entre as mãos e saltar para a água.
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