
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟯𝟵. 𝗢 𝗢𝗹𝗵𝗮𝗿 𝗱𝗼 𝗔𝗺𝗼𝗿.
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Norte de Dressrosa, Green Bit.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Se fosse possível o sangue de alguém aquecer como fogo, as minhas veias estariam derretendo como ferro nas labaredas escaldantes de um rio que ferve eternamente no inferno. Nunca imaginei que fosse capaz de sentir tamanha ira, tanto ódio, tampouco que esses sentimentos seriam direcionados a uma única pessoa.
Acreditei que nossa relação estivesse melhorando devido ao tempo de convivência, que havíamos finalmente ultrapassado o nível de simples negociantes e aliados, ascendendo ao patamar de amizade. No entanto, percebo agora que fui ingênua, tola. Não sei o que Trafalgar realmente deseja de nós, o que ele de fato planeja em Dressrosa e contra Donquixote Doflamingo, mas desde Punk Hazard tenho notado o quanto ele se torna tenso sempre que qualquer assunto relacionado ao Shichibukai é mencionado. Eu pensava que ele apenas estivesse nervoso por enfrentar um Yonkou, porém... ceguei-me ao acreditar em suas palavras e em sua aparente gentileza para comigo. Desde o início, desde Vergo e as palavras daquela garota com a fruta da arma, era evidente que ele já tinha algo em mente e nos estava conduzindo para um campo minado, visando aumentar suas chances de vitória ou, na pior das hipóteses, garantir que não morresse sozinho.
Meu corpo inteiro implora por descanso, por um copo de água gelada ou um prato generoso de comida para reabastecer minhas energias. Minhas pernas doem, minha asa sangra, e posso jurar que vi a bala alojada nela ser expelida durante um dos momentos em que caí e rolei no chão durante nossa fuga da Marinha e de Doflamingo. Quase vi meus companheiros serem mortos sem que eu pudesse sequer salvá-los, quase fui tocada em um lugar impróprio e, se tudo continuar assim, tenho certeza de que não apenas eu, mas Luffy, Zoro, Usopp, Robin, Franky e Kin'emon seremos mortos durante nossa jornada neste país.
Quando conheci Trafalgar Law há dois anos, nos poucos dias em que convivemos em Sabaody e em Amazon Lily, eu o considerei uma pessoa extremamente inteligente, perspicaz e admirável. Contudo, agora, observando a situação em que ele nos colocou e refletindo sobre todos os obstáculos que enfrentamos - desde guardas reais e piratas até fuzileiros navais acompanhados por um Almirante da Marinha - só consigo enxergá-lo de duas maneiras: irresponsável e egoísta, absurdamente egoísta.
Deus, eu quero tanto machucá-lo. Quero segurá-lo pelo pescoço e apertar. Desejo estourar a cabeça dele. Quero feri-lo, quero ver o sangue dele escorrer pelas minhas mãos e vê-lo implorar por perdão por ter arriscado a vida de todos, como se fôssemos descartáveis ou íntimos o suficiente para morrer com ele.
Sinto minha mão tremer ao imaginar agarrar a cabeça dele e bater várias vezes seu rosto contra uma pilastra. Eu quero tanto, tanto, tanto machucá-lo. Ferir. Eu... eu simplesmente não seria capaz. Quero odiá-lo, sentir raiva, mas não posso. Não devo. Estaria sendo ingrata. Muito ingrata. Sempre sou ingrata com aqueles que cuidam de mim; por quê? Ele... ele passou um mês inteiro cuidando de mim, ajudando-me, não me deixando sozinha quando tudo parecia apodrecer de fora para dentro. Mas... estou com tanta raiva dele, meu Deus. Sei que não deveria... não deveria... ele me ajudou... não posso... é ingratidão... não posso fazer isso novamente... não posso ser ingrata com quem me ajuda, mesmo que me irrite... não posso. Meu Deus. Por que ele sempre me deixa assim, com a cabeça a mil? Eu não quero me sentir assim, não com ele.
Trafalgar estava com sua katana apontada para o pescoço da subordinada de Doflamingo. Estávamos nos encarando, ambos com o olhar de quem estava prestes a desferir o golpe mais poderoso que possuíam. Havia muitas coisas que eu ainda desejava lhe dizer, mais insultos a proferir e, ao julgar pela forma como seus olhos acinzentados estavam fixos nos meus, arregalados e tremendo, com uma veia saliente abaixo de um deles, eu sabia que ele também queria me agredir, e eu não me importaria se o fizesse, pois... eu mereceria.
Abri meus lábios, minhas mãos finalmente soltando o colarinho de seu sobretudo, e dei um passo para trás. Meu olho ardeu e senti lágrimas se formando. Odiava aquela sensação de impotência diante dos meus próprios erros irreparáveis. Eu não deveria ter batido nele. Não deveria ter sequer cogitado a ideia de socar seu rosto. Tanto na primeira vez, há dois anos, quanto agora. Ele me ajudou e eu retribuí com ferimentos em seu rosto. E o pior de tudo: não foi sem querer; foi porque eu quis. Eu quis machucá-lo. Eu ainda quero machucá-lo. E quero que ele me machuque de volta.
Eu estava prestes a falar, prestes a gritar mais uma vez, a repreendê-lo para, em seguida, me humilhar como um lixo em busca de seu perdão. Todavia, fomos surpreendidos pelos sons de passos ecoando na neblina que cobria o restante da ponte e por uma presença com uma aura maligna que se aproximava de onde estávamos. Deixei de lado todos os meus pensamentos sobre a nossa situação pessoal e engoli em seco ao reconhecer a silhueta que emergiu da fumaça branca: um dos Sete Corsários, o Rei de Dressrosa - Donquixote Doflamingo. Apertei Inazuma com uma mão e retirei um Impact Dial de meus seios, preparando ambos para o caso de precisar defendê-lo novamente.
Não posso deixá-lo se ferir. Meu coração ainda está com ele. Todas as suas dores refletem em mim. Eu não quero morrer. Eu não posso morrer. Eu preciso viver. Preciso permanecer viva. Preciso salvar Skypiea. Preciso honrar a promessa que fiz a Gan Fall, mesmo que ele já não esteja vivo; devo respeitar sua memória de alguma forma. Tenho que sobreviver. Preciso ficar em pé. Preciso ser forte. Sou a guerreira perfeita; sou rápida como uma águia e resistente como a mais dura rocha. Preciso encontrar as plantas e buscar a Tenshi Tenshi no Mi em Zou. Não posso morrer. Preciso resolver isso. Devo fazer isso; é meu dever. É minha forma de me redimir após tudo o que fiz. Eu... eu preciso. Não posso deixá-los na mão, não agora, não depois de tudo o que fiz. Eu... eu não posso morrer.
- De que adianta deixar metade dos Chapéus de Palha fugir? O restante permanece em Dressrosa. Se eu fizer os que ficaram de reféns, os que foram retornarão para entregar Caesar. - disse Doflamingo em um tom convencido e arrogante, nos observando como se fôssemos nada além de meros insetos.
- Achei que você soubesse que há muitas pessoas que já os subestimaram e se deram mal. - respondeu Trafalgar, com a mesma entonação de sempre, mas com uma confiança que eu jamais imaginei ser possível.
Apenas o encarei de lado, surpresa com suas palavras. Apesar de tudo, nunca pensei que tais coisas pudessem ser proferidas por ele e... isso sempre me fará ficar dividida em relação a Trafalgar Law, se devo odiá-lo completamente ou ainda mantê-lo perto como se fosse meu amigo.
- Receio que, por ora, precise romper minha aliança com os Chapéus de Palha. - novamente, fui pega desprevenida por sua declaração, fazendo-me arregalar os olhos e deixar meu dial cair no chão devido ao choque. - Quando me aliei a eles, meu único propósito era destruir a fábrica de SMILE. Posso não conseguir matá-lo agora, mas Kaido o fará, cedo ou tarde, quando você não puder mais produzir SMILE.
- Sei. Então você vai se sacrificar para me matar.
- Quero ver o caos que o mundo enfrentará após sua morte e, sobretudo, quero que você pague pelo que fez há treze anos. Joker!
Virei-me para encará-lo novamente, a confusão evidente em meu olhar enquanto processava todas as informações que ele havia compartilhado. Minha cabeça girava com a quantidade de dados recebidos de uma só vez, sem que eu tivesse recebido qualquer aviso prévio para me preparar. Como ele se atreve a querer se sacrificar assim, logo após tudo o que aconteceu? E "romper a aliança por ora"? O que ele pensa que conseguirá com isso? O que espera obter ao agir de forma tão imprudente? Sua vitória? A derrota de Doflamingo? O que realmente aconteceu há treze anos? Por que falam tanto sobre isso? O que ocorreu com você naquele tempo? Eu só queria saber para entender pelo que, de fato, estamos lutando.
- Elisabette-ya.
- Trafalgar. - respondi, dando um passo à frente e ficando a poucos centímetros dele, de modo que pude sentir sua respiração ofegante soprando em meu rosto.
- Vá atrás do Mugiwara-ya e avise sobre o rompimento temporário da aliança. Destruam a fábrica e fujam. Encontrarei vocês depois. - ele falou no mesmo tom ríspido e autoritário de sempre, mas sua ordem apenas fez meus olhos se arregalarem ainda mais.
- Do que... você está falando? Eu não vou deixá-lo aqui sozinho, não nesse estado, não com aquele homem!
- Pare de ser teimosa e faça o que estou pedindo ao menos uma vez na vida!
- Certo, eu farei. Mas e então? Ele te mata e eu morro na hora. E aí? Eu não quero morrer! - senti minha própria veia saltar na testa e meu olho esquerdo tremer. - Você não ficará sozinho aqui. Eu disse que iria te proteger e garantir a minha vida.
De repente, com o braço livre, Trafalgar envolveu-me em um abraço apertado, puxando-me para seu peito. Contudo, eu o conhecia o suficiente para perceber que aquele gesto estava longe de ser um simples abraço. Entrando em seu jogo, agarrei-me a ele como se minha vida dependesse daquele contato, e, honestamente, parecia que de fato dependia. Meu rosto repousou sobre seu peito nu, e pude ouvir o descompasso acelerado de seu coração, enquanto sentia sua cabeça inclinar-se sutilmente para o lado da minha, aproximando-se de meu ouvido e despertando em mim a expectativa por suas palavras.
- Pare de dizer que sua vida depende da minha. - sussurrou ele, a rouquidão de sua voz revelando uma tensão subjacente. - Ele pode usar isso contra nós dois.
- É inevitável não mencionar isso quando você está praticamente correndo em direção à morte e me arrastando junto.
- Não sou alguém que faz promessas impossíveis de cumprir, porém sou um homem de palavra e lhe ofereço a minha. - respirou profundamente, seu aperto ao meu redor intensificando-se. Era como se quisesse que eu fosse embora dali ao mesmo tempo em que temia me deixar partir. - Eu prometo que não vou morrer, não enquanto sua vida estiver presa à minha.
Assim que Trafalgar terminou de falar, seu braço se afastou de mim, empurrando-me suavemente para longe, como se me instasse a partir. Permaneci em silêncio por um momento, perdida na profundidade de seus olhos cinzentos - que, por algum motivo inexplicável, sempre evocavam a imagem do céu prestes a desabar em tempestade. Não sabia ao certo o que deveria fazer ou dizer; ainda sentia a raiva fervilhando em minhas veias, enquanto meu coração, mesmo à distância, começava a encontrar uma calma diante do tumulto que havíamos enfrentado juntos. Não queria deixá-lo sozinho; era como se estivesse abandonando uma parte de mim mesma, destinada a sofrer. À luz das circunstâncias, ele havia se tornado uma parte indissociável de mim, e eu dele; meu coração mantido refém de suas habilidades ligava meu corpo e minha alma à sua mercê.
Apenas assenti em silêncio e me voltei para ele, ciente de que um sorrisinho vitorioso se formava em seus lábios ao perceber que eu havia cedido às suas ordens em vez de continuar a protestar. Respirei fundo, sentindo uma força inexplicável me puxar em sua direção - uma urgência que pulsava em minha mente e implorava para que eu permanecesse ali, para mantê-lo seguro e salvar a mim mesma... mas não podia. Precisava cumprir meu papel naquele momento.
Mesmo com uma das asas feridas, as abri com determinação e dobrei levemente os joelhos para ganhar impulso. Antes de partir em busca dos meus companheiros, voltei-me para lançar um último olhar ao Donquixote Doflamingo, que sorria e desfrutava da situação, já pressentindo que seria ele quem riria por último no final - no entanto, Luffy não permitiria isso. Por fim, voltei a olhar para Trafalgar; o contato visual parecia mais uma despedida de almas que nunca mais se encontrariam do que um simples "até logo". Fechei os olhos com força, esforçando-me para crer em sua promessa e, então, levantei voo rumo a Dressrosa.
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Reino de Dressrosa.
Eu atravessei o país inteiro o mais rápido que pude até chegar ao Coliseu, mas pela posição do sol, eu tinha certeza de que estava naquela "correria" há pelo menos uma hora. Sentia o sangue que jorrava da minha asa escorrer conforme eu as batia em total desespero, tentando chegar em alta velocidade até onde Luffy estava. Entretanto, minha fraqueza pela falta de sangue e nutrientes estava me impedindo de voar rapidamente como de costume, restando-me apenas me atirar e planar de prédio em prédio para chegar até ele e avisá-lo sobre o que havia acontecido. Eu ainda temia pela vida de Trafalgar, sabendo que, se qualquer coisa acontecesse com ele, eu seria afetada pelo dano de maneira imediata e não haveria nada que eu ou ele pudéssemos fazer para impedir que o golpe nos levasse à morte.
Quando estava prestes a me aproximar do Coliseu, notei que Zoro e Kin'emon já estavam ali. Também pude ver meu capitão do lado de dentro, preso por grades que, pela coloração, pareciam ser de kairouseki. Isso me fez compreender imediatamente que ele estava mantido refém lá dentro, assim como Doflamingo disse que faria ao mencionar que ele já estava preso na armadilha que havia preparado.
Trinquei os dentes e agarrei Inazuma, lançando um raio estrondoso para o alto para anunciar minha presença. Vi meus companheiros olhando na minha direção. Rodopiei no ar antes de pousar desajeitadamente próximo a eles. O espadachim do bando me encarou com o cenho franzido, observando-me dos pés à cabeça para avaliar meus ferimentos. No momento em que ele se aproximou e agarrou meu ombro com sua mão pesada, eu o interrompi ao dar um passo para trás e adotei uma postura mais séria e ereta para fornecer a eles as informações sobre o rompimento temporário de nossa aliança com o Shichibukai Trafalgar Law.
- Elisabette, o que aconteceu!? Onde está o Tral? - Roronoa bateu seu peito contra o meu e logo suas mãos agarraram meu rosto, virando minha cabeça de um lado para o outro para analisar os ferimentos naquela região. - Quem fez isso!?
- Doflamingo! Mas não é disso que vim falar! - afastei suas mãos do meu rosto e dei outro passo para trás, girando o corpo para encarar o horizonte. - Precisamos destruir a fábrica imediatamente e ir embora de Dressrosa o mais rápido possível. Há um Almirante da Marinha nos seguindo e... nossa aliança com Trafalgar Law foi desfeita por ora.
- EH!? O Tral desfez a aliança!?
- É temporário.
- Não podemos sair de Dressrosa; ainda não encontrei Kanjuro! - Kin'emon se impôs, o suor escorrendo de sua testa deixava claro seu desespero naquele momento.
- Procure por ele e deixe o restante conosco! - falei, olhando para o capitão, que assentiu ao meu comando.
De repente, nos pegando desprevenidos com a rapidez da situação, prédios começaram a se partir em dois e o som de explosões ecoou por todo o país. A fumaça das construções destruídas nos cegava enquanto olhávamos ao redor, tentando descobrir o que estava acontecendo e o que se aproximava de onde estávamos. Agarrei Inazuma com força; ela começou a soltar faíscas de eletricidade, e meu corpo inteiro arrepiou com os elétrons percorrendo minhas veias e atravessando do cabo de minha foice direto para meu interior. Estávamos em perigo, e isso era claro. Qualquer pessoa naquele momento poderia representar uma ameaça em potencial, e teríamos que lutar com todas as nossas forças.
Eu sentia o suor escorrer pelo meu rosto e meu coração disparar, mesmo que eu não pudesse senti-lo em meu peito; ainda tinha a sensação de seu palpitar em desespero sempre que me via ameaçada e correndo algum risco.
Foi então que algo aterrissou de forma brusca e violenta bem à nossa frente, a apenas alguns metros de distância do Coliseu. A queda foi tão brutal que formou uma cratera no chão e disparou pedaços do solo em nossa direção, fazendo-nos desviar deles, pois, pela velocidade com que eram arremessados, poderiam atravessar nossos corpos como balas de chumbo das mais potentes.
Assim que a poeira assentou, pude reconhecer o corpo da pessoa e senti meu sangue gelar, quase congelando em minhas veias ao perceber que se tratava do nosso, até então, ex-aliado, Trafalgar Law. Meus olhos se arregalaram e quase senti-os saltar para fora do rosto ao vê-lo cair debilitado e sem forças no chão, enquanto Doflamingo se aproximava dele com uma arma de fogo. Seus passos eram lentos, e o som dos saltos tocando no chão ecoava por todo o ambiente, em virtude do silêncio ensurdecedor causado pelo choque de todas as pessoas ao presenciar tamanha brutalidade.
Um tiro. Dois. Três. Donquixote Doflamingo disparou três vezes contra o corpo quase desfalecido do Cirurgião da Morte e, quase no mesmo instante, senti minhas pernas fraquejarem e a visão embaçar por alguns segundos ao perceber a vida dele esvaindo-se com os tiros certeiros no corpo esguio do moreno tatuado. Levei a mão ao peito e senti minha respiração descompassar ao vê-lo revirar os olhos no chão, restando apenas a parte branca visível, denunciando seu desmaio.
Mas ele prometeu que não morreria. Ele me prometeu. Ele me deu sua palavra e afirmou que não morreria enquanto nossas vidas estivessem interligadas.
Quando Zoro e Kin'emon partiram na direção de Doflamingo, eu os segui, os três se preparando para lutar contra o Corsário com todas as nossas forças.
Eu estava fraca, faminta e morrendo de sede; meu corpo estava debilitado e ansiava por minha cama quentinha e meu cobertor para dormir de forma confortável e aconchegante. No entanto, naquele momento crítico, eu não poderia me dar ao luxo de pensar em coisas banais que não fossem a nossa vitória. Trafalgar estava com sua vida por um fio e eu não poderia deixá-lo morrer ali, daquela forma humilhante e miserável; não enquanto eu pudesse morrer também e... talvez, no fundo, mesmo que meu coração não estivesse com ele, eu quisesse salvá-lo de qualquer maneira. No fundo... eu desejava que ele vivesse não apenas por mim, mas também por si mesmo.
- Elisabette, Kin'emon, peguem o Tral! - O Caçador de Piratas nos ordenou, fazendo-me aumentar a potência dos raios elétricos acumulados na lâmina da foice.
- Entendido! - dissemos em uníssono.
Quando Zoro estava prestes a atacar Doflamingo, o Almirante Fujitora apareceu e impediu o ataque de meu companheiro, exercendo pressão sobre seu corpo e afundando-o por metros de profundidade no chão em que pisávamos. Engoli em seco e, assim que cheguei até onde Trafalgar estava, ajoelhei-me ao seu lado e o puxei para meus braços, apoiando sua cabeça em meus seios e levando uma mão até seu rosto para tocá-lo. Acariciei suavemente sua pele, sentindo o sangue fresco de suas feridas abertas molhar a ponta de meus dedos. Então inclinei minha cabeça até seu peito, suspirando aliviada ao sentir seu coração batendo na caixa torácica; mesmo fraco, ainda pulsava e ainda lhe bombeava vida, o que significava que ainda tínhamos chances de sobreviver os dois.
Entretanto, na mesma velocidade em que toda a minha esperança retornou ao meu peito, ela se dissipou da mesma forma. Donquixote acertou um chute certeiro no rosto de Kin'emon, que estava com a guarda baixa, fazendo-o ser arremessado para longe de mim; restando apenas eu e Trafalgar ali.
Olhei para o homem de pé à minha frente e pude sentir seus olhos me queimando através dos óculos escuros. Sua aura era potente, tenebrosa e perigosa, como se ele fosse o próprio Diabo na terra, pronto para infernizar e destruir a vida de quem estivesse em seu caminho - e, neste momento, quem estava em seu caminho sou eu.
Meus braços em volta de Trafalgar se apertaram, trazendo-o para mais perto, enquanto eu fechava minhas asas à frente de meu corpo para lhe oferecer, de forma estúpida, alguma proteção diante daquele miserável que tanto já lhe havia ferido. Permaneci apenas encarando o maior nos olhos; a forte luz do sol tornava seus olhos minimamente visíveis devido à iluminação que refletia nas lentes vermelhas. Pude ver quão aterrorizantes eles eram. Donquixote Doflamingo... era o próprio mal encarnado. Se pudesse existir alguém tão cruel e impiedoso quanto ele, eu seria capaz de decepar minha própria cabeça. Mas ele... esse homem... ele exala maldade e sua alma não foi corrompida - já nasceu assim, suja.
Presa em meus pensamentos e deixada levar pela sensação de impotência e medo, fiquei desatenta aos outros perigos ao meu redor. Um fuzileiro naval me acertou com toda a sua força com uma barra de ferro, atingindo-me em cheio na cabeça, fazendo-me cair para o lado. No entanto, consegui manter meus últimos momentos de consciência para transferir todas as minhas forças para meus braços e manter Trafalgar preso ao meu peito. Eu queria mantê-lo seguro. Eu... queria tê-lo com vida.
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