
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟯𝟬. 𝗖𝗼𝗻𝘁𝗮𝗴𝗲𝗺 𝗿𝗲𝗴𝗿𝗲𝘀𝘀𝗶𝘃𝗮.
𝗡𝗢𝗧𝗔 𝗗𝗘 𝗘𝗫𝗧𝗥𝗘𝗠𝗔 𝗜𝗠𝗣𝗢𝗥𝗧𝗔𝗡𝗖𝗜𝗔: O conteúdo a seguir contém cenas envolvendo sangue e ferimentos graves/abertos. Caso haja algum tipo de sensibilidade, recomendo que pule diretamente para os parágrafos finais para evitar qualquer desconforto ao ler.
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; em algum lugar do mar.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Tral-san nos informou que nosso próximo destino seria o Reino de Dressrosa, e isso fez meu corpo inteiro gelar, ficando totalmente paralisado no lugar enquanto o encarava com os olhos arregalados. Desde que retornei para o Mar Azul, aquela ilha já era o local para onde eu precisava ir e não sabia como convencer meus companheiros a seguirmos tal rota, mas agora tenho a desculpa perfeita para irmos até lá. Posso finalmente alcançar Green Bit e procurar pelas plantas que produzem a cura para a Febre das Árvores! Está tudo correndo tão bem, tudo conforme eu não havia conseguido planejar. Entretanto, se está certo, isso é o que importa.
Já havíamos nos distanciado quilômetros de Punk Hazard de forma que sequer conseguíamos sentir o fervor do mar ao seu redor ou o frio de sua nevasca, nem mesmo o som de crianças brincando e rindo ou da gritaria de homens bêbados se divertindo uns com os outros.
Estávamos reunidos para discutir nossos próximos passos, o nosso plano para derrotar Donquixote Doflamingo e tirá-lo da jogada para enfim derrubarmos o Yonkou Kaido, das Cem Feras. Era nítido desde nossa primeira conversa sobre alianças que os capitães piratas tinham concepções diferentes de uma aliança; enquanto Luffy acreditava que Tral-san era seu amigo e nosso novo colega temporário de bando, ele apenas nos via como ferramentas para juntos derrotarmos um dos Quatro Imperadores do Mar. Isso foi algo que até mesmo surpreendeu Sanji, que ainda estava confuso com a presença de Caesar Clown em nosso navio, vez ou outra lhe dando alguns chutes por seus comentários desagradáveis ou ameaças que jamais seriam cumpridas.
- Por isso, Luffy falava toda hora em "captura", coisa que nunca faz. Se ele tivesse me aparecido com esse carneiro estranho e me pedido para cozinhar, eu não ia saber o que fazer. - nosso cozinheiro disse, parando próximo ao cientista que estava acorrentado e sendo tratado pela pequena rena.
- Miseráveis... isso não vai ficar assim. - ele praguejou de cabeça baixa, antes de erguer o olhar e nos encarar com ódio. - Gente muito influente vai caçar vocês! Idiotas! Vão perceber o tamanho da idiotice que fizeram! - e um chute foi o suficiente para fazê-lo cair.
- Ô, Sanji! Ele estava em tratamento! - Chopper gritou em desespero, indo impedir o loiro de desferir mais golpes contra Caesar.
Revirei os olhos, dando um sorriso ao ver a preocupação do nosso pequeno companheiro com o nosso refém, que já estava machucado o suficiente para receber mais algumas pancadas secas. Sentei-me de joelhos no chão ao lado de Zoro, que cochilava como sempre fazia, e voltei minha atenção ao Cirurgião da Morte, que nos explicava sobre Doflamingo e sua grande influência como um dos maiores traficantes do submundo, vulgo mercado negro, também nos revelando que não só os leilões que ocorrem no Arquipélago Sabaody, mas todos os leilões de escravos espalhados pelas ilhas são patrocinados por ele, que investe nesses leilões e na venda de pessoas como escravos para aqueles que querem e podem comprá-las como se fossem meras mercadorias.
E quando ele mencionou Kaido, tanto Kin'nemon quanto seu filho Momonosuke pareceram ficar aflitos, totalmente atordoados com o nome dito, tanto que o menino sumiu em uma nuvem de fumaça laranja e reapareceu na forma de dragão rosa outra vez, atraindo nossos olhares para a dupla de samurais. Porém, nos desfocamos da tensão deles quando o mais velho se assustou com a transformação do garoto, não sabendo que aquele era seu próprio filho.
Fiquei em silêncio, observando a interação familiar entre os dois, novamente me fazendo sentir uma pontada de inveja no peito, trazendo à tona lembranças dos inúmeros momentos bons que vivi ao lado do meu pai, do meu Deus, antes de tudo se tornar... diferente.
Ainda me sinto uma tola por pensar tanto nele, por ainda sentir tanto a sua falta. Mas o que poderia fazer? Como eu seria capaz de odiá-lo, quando ele é tudo que eu tenho na vida? A única família que me resta. Eu... eu quero tentar sentir raiva de sua ida sem uma despedida, sem um aviso de volta ou ao menos o porquê de ter me deixado para trás, no entanto, eu não consigo. Eu não consigo odiá-lo, nem sentir mágoa. De certa forma, me sinto culpada. Talvez... eu só tenha sido fraca. Fraca porque não fui capaz de lidar com Zoro e seguir meu pai, fraca porque não acordei a tempo de impedir a sua derrota ou fraca porque não pude ser capaz de alcançá-lo quando se foi com a arca.
- Vou dormir. - falei, levantando-me e batendo nos joelhos para tirar a grama.
- Agora você vai ter trabalho dobrado, hein, Lis? - Usopp gargalhou, apontando para o cientista que trouxemos de Punk Hazard. - Cuidar do Sunny e vigiar aquele patife ali.
- É moleza. Ele é inofensivo enquanto estiver algemado, certo?
- Só não vai cair na conversa dele, pomba lesa. - Zoro sorriu de canto.
- Como se cai na conversa de alguém? - coloquei as mãos na cintura, inclinei a cabeça para o lado e arqueei uma sobrancelha. - Essa frase nem faz sentido.
- Oh, Lis... - Nami se aproximou, me abraçando e, devido à nossa diferença de altura, seu rosto descansou em meus seios. - Não escute esse imbecil. Apenas faça seu trabalho de sentinela bem certinho, sim? Você arrasa, garota.
- Ninguém vigia esse navio melhor que eu.
- É, disse a pessoa que foi rendida por 100 caçadores de recompensas que roubaram todo o nosso tesouro guardado na despensa do Sunny. - declarou o atirador do nosso bando, pontuando a mentira que eu havia contado sobre o sumiço do nosso dinheiro. Eu engoli em seco e encarei nosso aliado rapidamente, notando um sorriso de escárnio em seus lábios.
- Bem... - cocei a garganta e sorri nervosa. - Eu estava ferida e assustada! Nunca fiquei sozinha no Mar Azul, o que queriam que eu fizesse? Eu estava vulnerável! - fiz um beicinho e encarei nossa navegadora, sabendo que aquilo sempre funcionava com ela.
- Oh, pobrezinha...
- É ruim, hein?
- Pega visão! - apontei minha foice para Zoro e um raio caiu em sua cabeça, deixando seu corpo com algumas queimaduras.
Escutei a risada dos meus companheiros enquanto me afastava deles com o nariz erguido. Passei por Tral-san, lançando-lhe um olhar de soslaio e estreitando os olhos ao encontrar os dele, que ainda sorriam. Achei que ele havia mudado, mas me enganei. O sorriso de deboche ainda estava lá, zombando de mim mentalmente. Magrelo esquisito, você tem sorte de estar com meu coração e minha vida depender de você. Caso contrário, eu o jogaria deste navio só para vê-lo se afogar e implorar que eu pulasse na água para resgatá-lo... e eu o resgataria, porém morreríamos juntos, pois eu não sei nadar.
Caminhei para o interior do Sunny, espreguiçando-me enquanto seguia para o quarto das meninas. Não demorou para eu pegar minha toalha, que estava perfeitamente dobrada sobre a cama de Robin, acompanhada de um bilhete com seu nome e um rostinho piscando. Provavelmente era um sinal indireto de que ela havia dobrado a toalha e a deixado ali para eu usar após o banho.
Bocejei e cobri a boca com uma mão, enquanto com a outra coçava o abdômen por cima da blusa, sentindo algo pinicando ali. Deixei isso de lado e tirei minhas roupas, ficando apenas de calcinha, dobrando-as e colocando-as no cesto de roupa suja. Depois, me envolvi na toalha e saí do quarto, encontrando imediatamente Nami apresentando o Thousand Sunny para Momonosuke, que parecia encantado com nosso aquário onde guardávamos os peixes que pescávamos para comê-los bem frescos. Sanji sempre diz que peixe grelhado fresco é melhor do que congelado, e eu acredito nele com toda a confiança possível quando se trata de comida.
Chegando ao banheiro, tranquei a porta e pendurei a toalha no cabide, mas fui pega de surpresa por um pingo de sangue no chão, que logo se transformou em várias gotas. Arregalei os olhos e corri até a pia, olhando-me no espelho e notando meu nariz sangrar novamente, além de uma mancha vermelha na região das costelas, um pouco abaixo do meu seio esquerdo. Passei a mão ali e senti uma sensação de queimadura, recuando imediatamente o toque e voltando a encarar o espelho. Estava tão distraída com o banquete e as crianças que esqueci de falar com Chopper sobre a alergia, e agora está se tornando algo sério... oh, céus.
Balancei a cabeça para afastar os pensamentos e desviei a atenção do espelho quando comecei a ver um vislumbre de Enel em meu próprio rosto, apesar do olho roxo e da expressão cansada depois de um dia tão cheio como o de hoje.
Dirigi-me para o chuveiro e liguei a água, sentindo o calor começar a deslizar pelo meu corpo ainda afetado pelo tempo que fiquei exposta ao frio miserável. E... embora tenha me machucado um pouco - devo admitir, por minha própria culpa -, a neve é tão bonita, eu queria tê-la visto antes. O sangramento havia parado, mas eu ainda sentia que algo estava errado.
Peguei o sabonete e o espalhei pelo corpo, deslizando cuidadosamente as mãos pelas minhas curvas e pelo meu abdômen. Senti um arrepio ao passá-lo levemente sobre a vermelhidão na costela, deixando escapar um gemido fino dos lábios, então encostei as costas na parede. Soltei um suspiro e apertei os olhos, abrindo-os devagar apenas para ver minha visão ficar turva rapidamente. Apoiei-me com as mãos na parede para me equilibrar. Fiquei quieta, inspirando e expirando até que tudo voltasse ao normal, observando o sabonete escorrer pelo ralo enquanto ainda deslizava pelas minhas coxas e pernas.
- O que é isso agora..? - sussurrei para mim mesma, desligando o chuveiro e estendendo a mão para pegar a toalha.
Sequei meus cabelos com cuidado, em seguida bati as asas para sacudi-las e secá-las. Depois, envolvi meu corpo novamente com a toalha e dei uma última olhada no espelho, observando o hematoma roxo no olho. Toquei suavemente a pele machucada ao redor com uma mão, enquanto a outra segurava a toalha para não cair.
Por fim, vi meu pai em meu próprio reflexo, olhando-me com algo como... decepção. Ele certamente ficaria desapontado ao me ver em tal estado deplorável. Machucada, sofrendo como uma humana normal, como uma pessoa fraca e frágil, quando não foi para isso que ele me criou, quando não foi para isso que ele me abençoou com o dom da força, da agilidade e da crueldade que só existe no meu sangue. Eu sou a guerreira perfeita. Foi para isso que nasci, foi para isso que ele me criou. Para ser forte. Para ser perfeita. Para ser... a filha de Deus. Carne da tua carne, sangue do teu sangue, como ele me disse e como sempre irei repetir para mim mesma quantas vezes for preciso.
Para lembrar de onde eu vim.
Lembrar de quem eu sou.
Para o que fui moldada.
Soltei um chiado entre os dentes e virei o rosto bruscamente, recusando-me a olhar nos olhos dele, no rosto dele, no rosto de Deus, que tanto me observava de uma maneira angustiante. Senti ardência na bochecha, no antebraço e na costela, um lembrete de quão fisicamente frágil eu havia me tornado ao me deixar perturbar por simples alergias, como uma garotinha chorona. Olhei novamente para o espelho e o golpeei com força, vendo-o estilhaçar em vários pedaços e ferir meu punho.
Depois disso, abri a porta e me deparei com Luffy, que piscou ao me ver e olhou para o espelho quebrado, fazendo um beicinho e me encarando novamente antes de dar um peteleco na minha testa. Franzi o cenho ao encará-lo de volta. Ele entrou no banheiro para avaliar a situação e cruzou os braços, balançando a cabeça em negação com uma expressão engraçada e pensativa, certamente tentando encontrar uma solução antes que Nami visse e me desse um cascudo. Não era a primeira vez que eu descontava minhas frustrações com minha aparência quebrando espelhos, seja no banheiro ou no quarto das meninas.
- Caramba, 'cê quebrou outro espelho? Ninguém nunca te disse que isso dá azar, mulher!?
- Não gostei do que vi nele.
- E o que você viu? - ele me olhou confuso, coçando a cabeça por cima do chapéu de palha.
- Eu.
O olhar do mais baixo se endureceu e vi seu semblante escurecer ao me encarar, ciente do meu específico problema com a aparência. Luffy sabia que eu também me achava parecida com meu pai, algo que ouvi desde a infância e que, mesmo que não concordasse, a semelhança era inegável. Meus companheiros acham que sou muito parecida com ele fisicamente, eu também penso assim, e isso... é algo que ao mesmo tempo que me agrada, também me assombra profundamente.
- Estou indo dormir para passar a noite de sentinela. Meia-noite eu acordo. - murmurei, prestes a me retirar quando senti ele segurar minha mão livre e virei para encará-lo nos olhos.
- Espere. - ele disse.
- Sim, capitão?
- Sua beleza nunca me assustou.
Ao ouvir as palavras de Monkey D. Luffy, meu coração deve ter dado um salto. Surpreendida e confusa, senti uma mistura de emoções se agitando dentro de mim. Era raro ver Luffy tão sincero e perceptivo sobre algo que não envolvesse comida ou batalhas. Seus olhos sinceros e seu tom simples, porém direto, tocaram profundamente o meu âmago. Pela primeira vez, percebi que ele notava mais do que apenas a minha força ou habilidade em combate; ele via algo que até eu mesma tinha dificuldade em aceitar. Um sorriso tímido brotou em meus lábios enquanto uma onda de calor me envolvia.
Era reconfortante saber que, apesar de todas as minhas inseguranças e da minha busca incessante por ser forte, o Chapéu de Palha via além disso. Seu comentário simples, mas genuíno, era como um raio de sol perfurando todas as inseguranças, embora sem forças o suficientes para afastá-las de vez.
✦ . ⋆ ˚ ☆
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━ ᘡNarrador. ; ❪O ponto de vista do Leitor❫
Elisabette despertou com um bocejo que escapou de seus lábios rosados. Ao olhar ao redor, percebeu que o quarto já estava escuro, com suas companheiras e Momonosuke dormindo serenamente. A jovem de cabelos platinados esticou os braços e as asas num gesto de alongamento, erguendo-se da cama para buscar uma camisola em seu baú de roupas, uma vez que tinha o hábito de dormir desnuda. O tecido de seda fina, num tom azul claro, delineava suas curvas suaves, deixando o contorno de seus seios perceptíveis. Bocejando novamente, ela pegou sua foice que repousava ao lado da cama e saiu do quarto.
Seus cabelos platinados caíam como fios de prata sobre um de seus ombros, enquanto a outra parte estava jogada para trás, balançando-se sobre suas asas brancas que, pela primeira vez em dias, estavam calmas, suas penas alinhadas e tranquilas como se não fossem mais iguais aos pelos de um gato arisco assustado com a própria sombra.
Ela caminhava com passos leves, um rebolado natural, como uma modelo desfilando na passarela. Elisabette exibia postura e classe. Era a imagem da mulher bela e desejada pela sociedade, embora não tivesse suficiente amor próprio para reconhecer-se assim, como verdadeiramente era, quem deveria ser. A seus próprios olhos, azuis como o céu ou o mar que abraçava cada pedaço de terra ao redor do mundo, ela se via apenas como uma cópia imperfeita de Enel, seu pai, seu mestre, seu Deus.
Para não acordar seus companheiros com o ranger da porta, a birkan a abriu com cuidado, também tendo cautela ao fechá-la atrás de si, suspirando em alívio por ter conseguido passar para o lado de fora do navio sem ruídos.
Um arrepio percorreu seu corpo, coberto apenas pela camisola, sua pele imediatamente se arrepiando ao sentir a brisa noturna brincar suavemente com seus cabelos e asas, soltando algumas penas ao vento. Magni envolveu-se em um abraço consigo mesma e dirigiu-se à amurada em busca de Zoro, ciente de que o espadachim estaria por ali dormindo, aguardando apenas sua chegada para assumir o turno como sentinela da tripulação dos Piratas do Chapéu de Palha. Contudo, ao olhar ao redor, não encontrou o esverdeado; apenas viu Caesar Clown roncando num canto do convés, enquanto o Cirurgião da Morte permanecia silencioso nos bancos junto ao mastro do navio.
A jovem o olhou confusa, arqueando uma sobrancelha antes de voar até ele, pousando elegantemente em sua frente e capturando a atenção de Law, que ergueu seus olhos acinzentados para os dela. Permanecia como sempre, sério, com um olhar indiferente e um ar de superioridade diante dela, o que provocou apenas um suspiro vindo da moça. Ela se desfez do próprio braço, estufou o peito e colocou as mãos na cintura, adotando uma pose de autoridade. No entanto, seu beicinho e olhos grandes fixos no rosto dele apenas o fizeram pensar: "Maldita, pare de agir como se fosse fofa."
- Se veio aqui para cobrir o Zoro, já pode ir dormir. - disse ela, desfazendo o cruzamento dos braços e recuando as mãos para trás, acompanhado de um sorriso gentil.
- Volte a dormir. Eu fico de olho no Caesar.
- A sentinela do navio sou eu, não você. Além disso, só obedeço às ordens do meu capitão.
- Não me importo. Quero ficar aqui e vigiá-lo. Não dá para confiar em alguém que foi rendida por 100 caçadores de recompensas e deixou todo o tesouro do navio ser levado. - provocou Trafalgar, sorrindo debochadamente. O chapéu em sua cabeça sombreava seus olhos, dando-lhe um ar sombrio.
- Seu...! - o Anjo da Morte fechou a cara e cerrou os punhos, formando um beicinho nos lábios. ‐ Você quem me rendeu! Arrancou minha cabeça e me deixou como uma barata!
Ao dar-se por vencida, Elisabette simplesmente virou as costas para ele e dirigiu-se até onde o cientista estava adormecido, roncando tão alto quanto ela era capaz. Ela parou em frente a ele e chutou-lhe o rosto para acordá-lo, observando o homem ficar atordoado e começar a gritar por misericórdia enquanto olhava de um lado para o outro, deparando-se com a sentinela e sorriu diabolicamente. Desde que a avistara, Caesar Clown não pôde evitar sentir um enorme interesse por aquela jovem mulher, em como seu corpo era forte, resistente e, acima de tudo, capaz de suportar eletricidade e até mesmo perpetrar as atrocidades que testemunhara através dos Den Den Mushi transmissores de vídeo, que lhe proporcionaram a visão de Magni D. Elisabette massacrando seus capangas em questão de poucos minutos.
Ele havia ouvido falar dela, seja por rumores que escutava pelos corredores de seu laboratório, falados por seus homens, seja pelas informações que Monet coletava ao ler jornais e contar para ele, ou ainda através de seu próprio chefe, Joker - Donquixote Doflamingo. O Shichibukai havia descoberto informações valiosas sobre a platinada, desde as coordenadas de como chegar às Ilhas do Céu sem sofrer danos até a existência de Shandora, a lendária cidade de ouro mencionada em muitos livros sobre mitos e lendas transmitidos de geração em geração.
Elisabette era uma peça-chave para essa cidade, sua sabedoria sobre Skypiea era mais valiosa do que um diamante. Elisabette, sem sequer saber disso, havia despertado um grande interesse nos olhos do Corsário. Afinal, o homem tinha conhecimento de que seu sangue era "azul", quase nobre. Ela era jovem, bonita... estava no mesmo nível. Donquixote Doflamingo era um pirata temido, um Shichibukai, um Tenryubito - apesar de renegado - com influência. Era um Rei. E todo Rei precisa de herdeiros.
E quem melhor do que ela? Jovem, bonita, forte, poderosa... quase uma rainha perfeita. Ele tinha um conhecimento básico de sua personalidade, mas se considerava capaz de domar seu lado selvagem e transformá-la em seu passarinho obediente.
Entretanto, a atenção de Caesar foi desviada para uma mancha no rosto da birkan. Ele arqueou uma sobrancelha, mantendo o sorriso e um olhar curioso, direcionando o olhar para o antebraço dela e soltando uma risada alta que também chamou a atenção do moreno de pele tatuada. Este imediatamente os encarou com cautela, tentando descobrir sobre o que estavam conversando. Em silêncio, Trafalgar se levantou e caminhou até eles, parando ao lado de Elisabette e encarando o cientista, ciente de que ele iria dizer algo que poderia ser tanto uma ameaça desesperada por clemência quanto uma informação relevante.
- Sabe, eu já soube de muitos casos assim, mas por terem ocorrido há centenas de anos, nunca tinha visto com meus próprios olhos! - falou ele com animação em sua voz grotesca, olhando-a com um brilho nos olhos. - Você é realmente uma criatura surpreendente! Shurororo!
- Do que você está falando? - Elisabette arqueou uma sobrancelha, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.
- Ignore esse idiota, tudo que sai da boca dele é besteira. Ele só está tentando te incomodar.
- Ah, mas ela precisa saber, não precisa? Você é médico e não percebeu essa coisa no rosto dela!?
- Que coisa? - ao virar-se para olhá-la, Law arregalou os olhos ao notar uma pequena mancha verde em sua bochecha direita, logo abaixo do olho roxo.
A mais jovem entre eles os encarou confusa, seu olhar alternando entre o Cirurgião da Morte e o cientista, que ria diante da confusão dela e do choque nítido nos olhos acinzentados do moreno de pele tatuada. Sentiu-se estranha, sua visão ficando turva novamente, e percebeu o nariz sangrar. Deu alguns passos para o lado, apoiando uma mão na amurada enquanto a outra ia para o local do sangramento, sentindo seu corpo inteiro entrar em estado de agonia e desespero. Elisabette olhou assustada para eles, apavorando-se ainda mais com a forma como ambos a encaravam: um rindo e o outro demonstrando algo que ela jamais imaginara que ele poderia sentir, pânico.
- Que coisa!? O que tem no meu rosto!?
- Essa mancha verde no seu rosto... é Febre das Árvores, não é? - Caesar Clown sorriu, fitando-a com desdém e escárnio.
- Mancha... verde...? - a jovem de cabelos platinados arregalou os olhos azuis, suas pupilas diminuindo de uma forma que quase desapareceram em suas órbitas. - Não... você... você só está querendo me incomodar, como o Tral-san disse... - murmurou ela, a voz falhando enquanto o sangue pingava de suas narinas.
- Eh? Você não se olha no espelho, sua tonta? Basta olhar para esse seu braço musculoso que você vai ver sua pele apodrecendo!
Elisabette sentiu tudo ao seu redor desaparecer, como se tudo se tornasse um vazio e restasse apenas ela e Caesar frente a frente um com o outro. Ela olhou imediatamente para o antebraço e, vendo o local que antes estava vermelho, agora coberto por uma mancha verde que parecia ter aumentado de tamanho desde a última vez que havia a visto. Sua respiração começou a ficar artificial e sua pele empalideceu, enquanto suor frio começava a escorrer por sua testa ao finalmente se dar conta do que estava acontecendo consigo, do que de fato não eram apenas alergias inofensivas, nas quais tanto quis acreditar.
Magni D. Elisabette havia sido contaminada com a Febre das Árvores. A contagem regressiva para o fim de sua vida havia começado quando menos esperava. Ela já estava em seu limite. Não havia mais nada que pudesse fazer além de chegar o mais rápido possível em Dressrosa antes de ser consumida pela doença e sucumbir a ela. Onde quer que estivesse seu pobre coração, estaria disparado.
A birkan engoliu em seco e sentiu seus olhos arderem e um nó se formar em sua garganta. A ideia da morte ainda lhe era insuportável e ela não queria partir, não antes de obter suas respostas, de descobrir quem era e para o que veio. Um suspiro entrecortado escapou de seus lábios quando saiu correndo, dirigindo-se para aparte de trás do navio em busca da torneira onde Nami e Usopp costumavam conectar a mangueira para lavar suas plantas. Chegando lá, praticamente jogou-se de joelhos, rasgou um pedaço de sua camisola, abriu a torneira e mergulhou seu braço ali.
Num ato de desespero avassalador, Elisabette começou a esfregar seu braço com violência, como se de alguma forma pudesse eliminar aquela mancha indelével. Seus olhos estavam marejados e ela tremia descontroladamente, repetindo insistentemente a palavra "saia", sem obter resultados além do sangue que começava a escorrer ao ferir-se pela fricção impiedosa do tecido em sua pele já sensibilizada pela contaminação. Ela mordeu os lábios com fúria, ignorando tanto a dor quanto o líquido escarlate que começava a brotar, prosseguindo a esfregar com rapidez e toda a força que possuía em sua mão, numa tentativa desesperada de se purificar da mancha, de se livrar dela e de vislumbrar novamente a saúde.
Seus olhos começaram a derramar lágrimas abundantes de puro pavor, seu nariz voltou a sangrar, encharcando seu rosto e busto com o líquido que pingava incessantemente. Sua respiração tornou-se entrecortada e ela engasgava com sua própria saliva, passando o tecido rasgado em sua bochecha também, enquanto tremia e soluçava, ignorando todas as vezes em que afirmara que chorar era coisa de criança.
- Chega! - com aspereza, Law segurou seu pulso com firmeza, a ponto de causar-lhe dor, mantendo-o preso com força.
- Não... eu... preciso... retirar... - ela murmurou, desesperada e com a voz trêmula, seus olhos refletindo pavor e angústia.
- Não será removido com essa agressividade! É burrice e imprudente!
- Eu... não posso... recorrer ao Chopper, senão... senão... senão vou contaminar ele também... - seus olhos se encheram de mais lágrimas enquanto tremia e o fitava.
- É contagioso..? - ao sentir um frio familiar em seu âmago, o Cirurgião da Morte afastou-se quase abruptamente dela.
- Não de humano para humano... apenas de animal para humano e de humano para animal... - sua voz vacilou, suas mãos agarrando sua camisa de maneira desesperada. - Você é médico, não é!?
Quando ela se lançou sobre ele, para evitar a queda em seu colo, Trafalgar segurou-a pela cintura e a manteve à certa distância, permitindo-lhe apenas a proximidade necessária para manter as mãos em sua camisa. Ele a fitou com uma mescla de surpresa e apreensão. Não era o medo dela que o assombrava. Era o receio de reviver o mesmo desespero que há anos o consumira, quando se viu sozinho e à beira da morte pela doença do Chumbo Branco. As lágrimas, o medo, o desespero, as lágrimas, o muco escorrendo pelo nariz em decorrência do pranto de angústia e pavor.
Tudo aquilo ele já enfrentara e, embora aquela mulher não passasse de uma simples aliada, não pôde deixar de se compadecer dela ao testemunhar sua aflição, uma vez que já havia experimentado tal tormento, embora, ao contrário dela, tivesse alguém a quem recorrer. Ou melhor dizendo, alguém que o salvou.
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