
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟮𝟵. 𝗙𝘂𝗴𝗶𝗿 𝗷𝘂𝗻𝘁𝗼𝘀, 𝘁𝗼𝗱𝗼𝘀 𝗷𝘂𝗻𝘁𝗼𝘀.
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐃𝐀 𝐀𝐔𝐓𝐎𝐑𝐀
Oiiiie, tudo bem? Sei que ultimamente eu tenho andado um pouco sumida, mas como já falei milhares e milhares de vezes, eu finalmente consegui um emprego com carteira assinada. Tô trabalhando na escala 12x36, e isso tem me deixado bastante cansada por ainda não estar acostumada com a rotina. Por conta desse cansaço mental e físico, eu tenho deixado um pouco de lado tanto a minha conta de artes (me sigam no Instagram: @river.breeze1) quanto minhas fanfics. Embora eu possa demorar para atualizar, isso não significa que vou abandoná-las. Então, quanto a isso, não se preocupem! Apenas respeitem meu tempo, sim? Agradecida desde já! 🤍
━━ Ilhas do Céu, Skypiea ; Memórias...
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Eu estava plantando algumas sementes de abóbora na horta, enquanto Bellamy retirava as ervas daninhas e as colocava em um saco, sempre reclamando de como deixou de ser pirata para se tornar um "agricultor de merda". Eu apreciava nossa convivência, mas suas reclamações constantes, que surgiam nos momentos de maior tranquilidade do dia, eram irritantes. Essas queixas ocorriam especialmente de manhã cedo, para ser mais exata. Sempre acordávamos antes mesmo de o sol nascer completamente, a fim de agilizar nossos afazeres antes do meio-dia e termos o restante da tarde livre para aproveitar tranquilamente, sem nos preocupar com nada além de nosso próprio lazer.
Olhei de soslaio para ele e o vi deitado de costas, com os braços apoiados atrás da cabeça e uma perna cruzada sobre a outra, deixando de lado sua tarefa. Franzi o cenho, levantei-me da horta, limpei os joelhos sujos de terra e caminhei até ele com uma pá. Assim que me aproximei o suficiente, comecei a golpeá-lo com o cabo da pá para despertá-lo de seu sono. Ele me olhou atordoado, agarrou minha perna e me lançou para o lado, fazendo-me cair sobre algumas abóboras e quebrá-las com o meu peso.
- Bellamy! - gritei assim que me levantei, coberta de polpa. - Esse é um jeito muito rude de tratar uma dama!
- Dama, uma ova!
- Que grosseria! - arremessei uma abóbora na direção dele, mas ele a aparou no ar.
- Larga do meu pé, eu tô cansado! - ele se levantou e veio até mim, limpando meu rosto com suas mãos. - Quero dormir. Não tô acostumado com essa rotina que 'cê 'tá me obrigando a ter.
- Pois bem, acostume-se.
- 'Cê tem sorte, hein, menina? - rosnou Bellamy, agarrando meu rosto entre as mãos e apertando minhas bochechas, forçando um beicinho em meus lábios devido ao aperto. - Se não tivesse essa cara redonda e bochechuda, nunca deixaria você impor autoridade sobre mim!
Ele sempre dizia coisas assim para mim, com aquele sorriso largo de escárnio, cheio de provocações, como se eu fosse um animal minúsculo - e, talvez, de fato, eu fosse, uma vez que o Hiena tinha 2,40 metros de altura, enquanto eu estava lutando para sair dos 1,70 metros desde que tinha 15 anos de idade. Eu não odiava suas provocações ou as piadas sobre como eu parecia uma bonequinha delicada e frágil, nem sobre como eu não sabia fazer nada sem transformar tudo em uma bagunça de sons estridentes ecoando pela casa inteira. Afinal, eu gostava de sua companhia e da amizade que havíamos construído em alguns meses de convivência só nós dois.
Quer dizer... eu apreciava tudo o que tínhamos. Valorizava a paz que reinava em nosso canto em Skypiea, embora às vezes fosse difícil lidarmos um com o outro devido aos nossos comportamentos tão semelhantes, o que acabava nos levando a aceitar nossos momentos de irritação mútua por coisas que fazíamos, dado que éramos tão parecidos.
Sempre fui uma pessoa calma e paciente, mesmo em situações com meus companheiros. No entanto, Bellamy parecia ter o dom de me tirar do sério com seus movimentos mínimos, resultando frequentemente em brigas intensas: atirando-nos objetos, agarrando-nos pela casa e rolando pelo chão enquanto puxávamos o cabelo um do outro. Porém... ele sempre parecia evitar me machucar de fato, enquanto eu o agredia para infligir dano, resultando em diversas ocasiões em que deixei marcas de mordidas, tufos loiros de seu cabelo espalhados pelo chão, ou até um dente perdido. Por outro lado, ele apenas me segurava com firmeza, nunca me ferindo de verdade.
- Ei, Bellamy.
- O que foi agora? - ele franziu o cenho, retirando a última semente de abóbora do meu cabelo e virando minha cabeça de um lado para o outro, procurando por mais vestígios da fruta.
- Eu gosto muito de você.
- O quê!? Como assim?
- Como assim "como assim"? Estou dizendo que gosto muito de você. Nami sempre diz que devemos expressar nossos sentimentos, então estou sendo sincera. Gosto muito de você. - arqueei uma sobrancelha e cruzei os braços, observando-o se afastar ligeiramente. - O que foi?
- Nada, você só fala besteira demais às vezes.
Revirei os olhos e então virei as costas para ele, seguindo à frente enquanto sentia a brisa matinal novamente, que soprava suavemente em minhas narinas o ar fresco das oito da manhã. Respirei fundo e sorri, sentindo minhas asas se moverem delicadamente com a brisa leve.
- Elisabette!
- Sim? - virei-me para ele, abaixando-me para pegar o saco de sementes do chão.
- Olha, escute aqui! Que isso fique entre nós! - ele disse, aproximando-se e segurando meus ombros. - Eu também gosto muito de você, 'tá bem!?
- 'Tá bem sim!
- Pare de sorrir assim!
- Tudo te incomoda! - mostrei a língua para ele.
- Vou arrancar sua língua com os dentes! - ele abriu a boca, como se fosse realmente me morder.
- Não vai não!
Se eu soubesse que aquele momento seria o último em que nos veríamos, certamente teria tentado elucidar melhor nossos sentimentos. Naquela época, eu percebia meu "gostar dele" como algo similar ao carinho que nutria por meus companheiros do bando, uma forma inocente de afeto. É doloroso reconhecer minha ingenuidade naquela época, incapaz de reconhecer meus próprios sentimentos, de não ter podido confessar a Bellamy que, na verdade, estava profundamente apaixonada por ele. Quem sabe, apenas quem sabe... ele não teria partido na manhã seguinte e escolhido estar comigo.
━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Punk Hazard.
Atualmente.
O rosto de Bellamy sorrindo para mim foi a última visão borrada que tive antes de acordar de uma lembrança que mais me pareceu um sonho agridoce. Senti meu corpo mole, preso a algo firme que imobilizava meus braços e busto. Algo me fazia vibrar levemente e, quando abri os olhos - ou apenas um deles -, olhei em volta e pude notar que ainda estava na fábrica. Um suspiro doloroso escapou de meus lábios, pois não queria acreditar que talvez tivesse sido capturada mais uma vez. Tentei mover os braços e acabei batendo a lateral do rosto em algo metálico, soltando um choramingo acompanhado por um beicinho ao sentir um calombo crescer no lado da cabeça.
- Precisamos mesmo disto? - ouvi uma voz grossa e potente falar, atraindo minha atenção. Imediatamente arregalei os olhos ao reconhecer quem era o dono da voz.
- Sim. Usam este contêiner para transportar SAD. Vamos transportá-los nisto aqui. - também vi Tral-san; ao lado dele estava o Caçador Branco. - O laboratório desmoronará em breve. Precisamos fugir imediatamente.
Fiquei quieta, olhando para eles, sem saber para onde estávamos indo, mas sabia que poderia confiar neles para o que viesse a seguir. Descansei a cabeça, observando as amarras de fumaça que me mantinham suspensa no ar e me traziam junto deles, não me deixando nem tão perto, tampouco longe. Meu corpo ainda estava dolorido pela luta com Vergo, e não precisava ser uma profissional da área para identificar que tanto Tral-san quanto o Caçador Branco estavam tão exaustos quanto eu; bastava olhar para a forma como andavam, quase se arrastando pelo corredor.
Minha bochecha coçou novamente e senti uma agonia perturbadora percorrer minha espinha ao não poder arranhar com as unhas a coceira latejante que desde cedo me incomodava, tanto naquela região do rosto quanto no pulso. Não sabia a causa, mas algo me dizia que poderia ser resultado do contato direto com o veneno daquele homem-peixe polvo, que espirrou seus fluidos em mim para tentar me enfraquecer.
E o sangue... lembro bem de ter me distraído por um momento ao ver sangue escorrendo de meu nariz, mesmo sem ter sido ferida naquela região. Pergunto-me se deveria verificar se é algo sério, algum dano causado pelo veneno, ou se meu nariz criou ferimentos internos por conta do frio, resultando em feridas que se abriram e causaram o sangramento. Não vejo outra explicação. Assim como não vejo outro motivo para essas brotoejas. Só pode ser o veneno. Tem que ser. Precisa... ser.
- Ei... você poderia me colocar no chão, por favor..? - murmurei timidamente, olhando para o vice-almirante da Marinha, que imediatamente me encarou com desdém.
- Sente-se melhor?
- S-sim! - senti meu rosto arder, com as bochechas ficando rosadas ao ter os olhos dele fixos nos meus.
- Certo! - a nuvem de fumaça se desfez e imediatamente caí de pé no chão, não tardando em começar a voar no mesmo ritmo em que eles corriam.
Queria saber como meus companheiros estão, se estão bem de verdade como meu Mantra indica. Há muitas baixas. Dezenas de pessoas já morreram desde que aquela coisa chegou aqui, mas ainda não posso afirmar se as vidas que sinto são deles ou de fuzileiros navais e lacaios de Caesar Clown. Isso não me é claro, e por não ser claro, me deixa atordoada. Peguei um Impact Dial do meio dos meus seios e o encarei. Algo me dizia que eu precisaria usá-lo e, se as coisas apertassem, deveria recorrer ao Reject Dial, mesmo sabendo das consequências que isso poderia trazer ao meu corpo.
O manuseio de um Reject Dial requer muita força física e energia vital concentrada para não perder a consciência ou o movimento do braço, já que o impacto causado é várias vezes mais forte que um simples Impact. Só o usei uma vez e quebrei o braço e as costelas do lado esquerdo no processo. O que poderia acontecer se eu o usasse em um estado como este? Lembro bem de quando Wyper o usou contra meu pai, há dois anos, causando a "morte" de Enel e quase a sua. Posso imaginar que meu corpo não suportaria uma segunda vez, portanto devo usá-lo somente em emergências. No entanto, toda essa situação em Punk Hazard me acende gritos na cabeça, todos mandando que eu use o Reject Dial na primeira oportunidade desesperadora que surgir.
Pai... você acha que eu deveria usar aquele dial, mesmo sabendo que é do mesmo tipo que quase lhe tirou a vida? Seria um desrespeito com sua pessoa? Há anos eu não sei o que fazer sem antes consultá-lo. Entretanto, agora que te perdi, me vejo sem saber o que fazer com minha própria vida, me vendo sob ordens de um pirata do Mar Azul, que eu sei que me salvou de você, embora eu nunca tenha pedido ou agradecido por isso. Porque, ao mesmo tempo que me sinto aliviada, ainda não me sinto livre, como ele garante que sou.
Liberdade. O que é liberdade?
Pai, o que é ser livre? Eu sou mesmo livre? Ser livre é viver como eu vivo? Eu não sei o que é ser livre, como poderei ser?
Luffy diz que sou livre. Mas eu sou? Eu não sei.
Balancei a cabeça, tentando desesperadamente afastar aqueles pensamentos para não sucumbir à amargura, especialmente em um momento em que preciso focar na minha sobrevivência, na dos meus companheiros e... na de Trafalgar Law. Por mais que eu relute, minha vida agora depende, literalmente, da dele. Não se trata de algo sentimental ou de um eufemismo, como nos romances que Robin lê para mim - é algo literal. Por ironia do destino, minha existência está na palma das mãos dele, e eu sequer sei como resolver isso. Tudo o que me resta... é aceitar.
Quando chegamos ao local onde todos estavam reunidos, vi-o dirigindo-se imediatamente ao meu capitão para perguntar sobre Caesar Clown, enquanto eu pousava no chão e me recostava na parede, levando a mão ao olho roxo ainda latejante em meu rosto. Aquele maldito Vergo conseguiu quebrar meu ego em milhões de pedaços ao me deixar com um hematoma em uma área tão visível aos olhos dos outros.
Olhei em volta e notei que nem todos os meus companheiros estavam presentes; ainda faltavam Franky, Chopper, Brook, Usopp e o samurai, assim como uma das crianças, a garotinha gigante chamada Mocha. Eu não sabia onde estavam, contudo ainda sentia a presença de cinco deles no laboratório, apenas não sabia quem eram. Engoli em seco ao ouvir murmúrios sobre um gás venenoso que havia dizimado soldados e lacaios e que se aproximava de onde estávamos. Um arrepio percorreu minhas asas ao imaginar que o pior poderia acontecer com todos nós, incluindo as crianças.
- Minha anjinha! - Sanji aproximou-se bruscamente de mim, segurando meu rosto entre as mãos e acariciando minhas bochechas com os polegares. - O que aconteceu? Quem fez isso com você? Trafalgar! Por que deixou que ela se ferisse assim, seu palerma!?
- Sanji... - murmurei, sentindo ele dar vários beijinhos no meu rosto, arrancando-me algumas risadinhas.
- Meus beijos milagrosos vão curar suas feridas, minha doce Elisabette! - ele disse, abraçando-me com força e ainda segurando meu rosto, apertando minhas bochechas e forçando um beicinho nos meus lábios. - Como pôde deixá-la se machucar assim, hein!? Olhe para o rostinho dela, está todo machucado!
- Eu não sou babá dela.
- Como... como pode ser tão rude com as damas!?
- Tch. - Tral-san estalou a língua e deu de ombros.
- Não se preocupe, Sanji! Eu pedirei ao Chopper para cuidar de mim assim que voltarmos ao navio.
Sanji apenas suspirou em resposta e depositou um beijo em minha testa, deixando mais algumas carícias em minhas bochechas antes de se afastar e correr em direção a Nami, lançando suas costumeiras cantadas, arrancando-me algumas risadas ao vê-la retribuir com cascudos. Desviei minha atenção deles e olhei para o lado, encontrando Tral-san que conduzia as crianças para um grande carrinho, dizendo-lhes que aquela seria nossa única chance de fugir e não sermos soterrados.
Por um momento, ele me olhou e, no instante em que seus olhos encontraram os meus, foi como na primeira vez em que nos vimos. Contudo, desta vez, ele não exibia o mesmo ar de deboche daquele dia, nem o sorriso sarcástico. Trafalgar Law, desde o nosso primeiro encontro, sempre me pareceu um enigma fascinante, não por seu codinome de pirata, Cirurgião da Morte, ou pela sua fama de homem sádico que sente prazer em aterrorizar e torturar suas vítimas como se fossem meros ratos. Era ele em si que me deixava confusa e curiosa. Melhor dizendo, intrigada. Ele... mudou? Não sei, mas algo em mim insiste que sim, que mudou.
Não tive a oportunidade de conhecê-lo de forma mais profunda, não nos tornamos íntimos, e acho que sequer poderíamos dizer que nutrimos algum vínculo de amizade nos dias em que convivemos tanto no Arquipélago Sabaody quanto em Amazon Lily.
Ele parecia ser mais presunçoso, de certa forma. Sorridente. Não que ele fosse do tipo que gargalhava ou sorria constantemente, mas desde que nos reencontramos, tudo o que vejo nele é uma carranca, um olhar mais... sombrio.
É como se ele tivesse se transformado em outra pessoa, como se houvesse se entregado aos desesperos que assombram seu coração. E eu sei, eu sei que seu coração está repleto de amargura, arrependimento e, acima de tudo, culpa. Ele se sente culpado por algo, desesperado para obter algo. Sinto isso perturbando seu interior desde a primeira vez que o vi, até mesmo na última vez em que nossos olhares se encontraram antes de nos reencontrarmos novamente aqui, em Punk Hazard. Isso envolve Vergo, posso garantir apenas pelo que os ouvi conversar e, embora relutante em admitir, isso também me fez pensar em Bellamy, a quem tanto tento afastar dos meus pensamentos para não sucumbir à dor da saudade.
Tral-san mencionou um tal de Joker, a quem Vergo se referiu como Jovem Mestre, e eu me lembro bem das vezes em que Bellamy se referiu ao seu "chefe" por esse apelido. Seriam os dois a mesma pessoa? Joker e Jovem Mestre... são Donquixote Doflamingo? Se for assim, isso significa que ele é o responsável por essas crianças estarem nessa situação? E Bellamy sabia disso? Se sabia, ele apoiava? Ele concordava com essas atrocidades? Quais outras monstruosidades aquela maldita hiena conhecia? Bellamy... você me causa dor de cabeça e insônia.
Um suspiro escapou de meus lábios enquanto eu voava até onde meus companheiros estavam, pousando próximo a eles e me colocando em prontidão, assim como todos os outros. O restante da tripulação ainda não havia chegado, assim como os fuzileiros navais e a menina gigante. Precisávamos esperá-los. Era nosso dever, éramos leais uns aos outros, e eu, assim como meus amigos fariam por mim, os esperaria até no inferno se necessário fosse.
Foi então que o alarme começou a ecoar e, ao longe, pudemos ver uma fumaça roxa se aproximando em alta velocidade. Não tememos, nem nos afastamos; pelo contrário, permanecemos parados, à espera de Brook, Usopp e Chopper. Em breve, eles estariam conosco. Em breve, seríamos os Piratas do Chapéu de Palha reunidos novamente. Era nós contra o mundo e o mundo contra nós; nada nos faria desistir de nossa união, nem mesmo um gás venenoso e a iminência da morte. Pois, unidos, a ideia de morrer não nos assustava, sabíamos que lutaríamos com força e garra para manter nossa segurança e sanidade.
A porta estava prestes a fechar, e o veneno gasoso de Caesar Clown quase adentrava o local onde estávamos em prontidão, quando escutamos a voz de Chopper gritando pelo nosso capitão. Um ar de alívio tomou conta de todos nós. Contudo, nossa alegria foi breve ao notarmos que eles não conseguiriam chegar a tempo antes que as portas se fechassem completamente, o que gerou tumulto novamente. Crianças gritando, soldados em desespero e lacaios correndo de um lado para o outro, todos temendo pela vida daqueles que ainda estavam do lado de fora.
- Elisabette. - Luffy murmurou, fazendo-me olhar atentamente para ele. Era sempre arrepiante quando ele me chamava pelo nome e não por "Lis".
- Às suas ordens, capitão.
- Segura aquela merda. - ele disse com firmeza, me dando apenas o tempo necessário para assentir e pegar impulso no chão para voar em alta velocidade.
Coloquei-me entre as portas que se fechavam, abrindo as pernas e os braços, usando ambos como apoio para impedir que se fechassem enquanto esperava que o restante dos meus companheiros atravessasse a última passagem para sua sobrevivência contra o gás. Senti meus ossos sendo pressionados, meu quadril doendo e os ossos das minhas costas rangendo. Tentava ignorar a dor e o desgaste físico do meu corpo após a luta contra a mulher-pássaro e Vergo, que tanto me feriram e cansaram.
Olhei para trás, vendo que eles ainda estavam longe e quase sendo alcançados pela nuvem de fumaça roxa. Fiz mais força nos membros para manter as portas bem abertas, tentando a todo custo impedi-las de se fechar.
Porcaria. Se eles demorarem mais um pouco, não só serei esmagada, como eles também serão mortos, asfixiados ou soterrados. Qualquer dessas alternativas é terrível. Preciso aguentar. Só mais um pouco, Elisabette. Só mais alguns minutos. Aguente. Aguente firme. Por favor. Por eles. Pelos seus companheiros. Respire fundo. Respire fundo e pense neles. Eles precisam viver. Tudo isso vale o seu esforço físico. Você é forte, não é? Mostre para que treinou, mostre que seu corpo é muito forte. Mostre. Aguente. Por favor. Só mais um pouco. Só mais um...
Senti o braço de Luffy se erguer ao redor da minha cintura e me puxar bruscamente, trazendo-me em sua direção. Caí sobre suas mãos, que me seguraram firmemente enquanto eu o olhava atordoada. Virei o rosto imediatamente para encarar a passagem se fechando, mas dando brecha suficiente para Brook, Usopp, Chopper e os outros passarem com segurança. Suspirei aliviada antes de me esparramar sobre o colo do meu capitão, sentindo a exaustão tomar conta do meu corpo e agradecendo mentalmente por ele ter me puxado. Caso contrário, eu teria sido esmagada antes mesmo que eles chegassem onde estávamos.
- Você mandou bem! - Luffy falou com uma gargalhada, não tardando em sorrir para mim. Ah, esse sorriso. Esse bendito sorriso. - Valeu por segurar para eles!
- Tudo que faço, faço por você. - sorri fracamente ao Chapéu de Palha, que logo me colocou no chão.
- Certo! Vamos, pessoal! Esse lugar vai desmoronar!
Todos assentimos ao pedido de nosso capitão com sorrisos determinados e presunçosos no rosto, correndo para os carrinhos que nos ajudariam em nossa fuga. Não sabíamos se daria certo, se conseguiríamos atravessar o gás sem sermos mortos ao termos contato com ele ou se tudo sairia conforme o planejado, resultando em nossa vitória.
Precisávamos apenas confiar em Trafalgar Law. E eu não sei se ele, de fato, é alguém confiável, apesar do meu Mantra gritar para que eu confie cegamente nele.
Por fim, todo o nosso desespero havia sido substituído por paz e risadas, acompanhadas por cantoria, pessoas dançando, crianças brincando e outros apenas aproveitando a deliciosa sopa quentinha e saborosa que Sanji havia preparado para nós. Havíamos conseguido novos casacos para nos aquecer e, embora eu estivesse bem aquecida nas minhas plumas negras, aceitei de bom grado algumas mantas e um casaco novo oferecidos pelos fuzileiros navais, recusando apenas as botas que insistiam que eu usasse para proteger meus pés de queimaduras pelo gelo. Expliquei que não gostava de usar sapatos, e eles pareceram compreender, mesmo demonstrando relutância em me deixar sem nenhuma proteção nos pés.
Kin'nemon - o samurai de antes - havia, pelo visto, reencontrado seu filho, um menino chamado Momonosuke, que estava transformado em um pequeno dragão rosa, alternando entre essa forma e a humana. Não pude evitar sorrir ao ver a emoção deles ao se reencontrarem, o que despertou em mim uma sensação de angústia. Queria, de certa forma, que algo assim tivesse acontecido comigo, que meu pai me procurasse, se arriscasse para me encontrar e chorasse ao me ver, que me abraçasse. Eu só queria me sentir segura ao seu lado outra vez, mas... sei que ele não me quer por perto, ou quer? Nem eu mesma sei as respostas para minhas próprias perguntas.
Eu estava sentada sobre uma caixa de madeira que o cozinheiro do nosso bando havia separado para distribuir mantimentos e alimentos aos soldados do G-5, observando todos se divertirem. Luffy brincava com Usopp e Chopper, jogando bolas de neve uns nos outros; Nami e Robin estavam com as crianças; Zoro bebia com os marinheiros; Sanji e Brook estavam com o samurai e seu filho; enquanto Tral-san permanecia quieto em um canto mais afastado, acompanhado do vice-almirante Smoker, parecendo estar em uma conversa séria.
Senti um frio na barriga ao lembrar de suas palavras, de que eu morreria caso ele morresse. Não quero que isso aconteça. Eu não quero morrer. Recuso-me a morrer. Eu... não posso. E, goste ele ou não, não permitirei que seja morto ou que tire a própria vida, não enquanto meu coração estiver sob seus cuidados, envolto por sua proteção.
- Ei, Lis!
- Luffy...
- Vem brincar com a gente! Você nunca brincou na neve, né? - meu capitão pulou em meu colo, passando seus braços e pernas ao meu redor, pressionando sua testa na minha.
- Não... eu não gosto da neve.
- Por quê?
- Machuca meus pés! - falei com autoridade, franzindo o cenho e cerrando os punhos.
- É só você colocar sapatos, ué. - ele fez um beicinho e levou ambas as mãos até minhas bochechas, as esticando para cima e para baixo. - Mas se o problema são só seus pés, eu posso te carregar para você brincar com a gente e não ficar sozinha! Que tal?
- Luffy... eu não sei se... - antes mesmo que eu pudesse terminar de falar, ele me agarrou com as pernas e deu uma cambalhota de costas, virando-se rapidamente para me colocar montada nele.
- Não vou te deixar sozinha! Nunca!
Dei um grito assustada quando ele começou a correr comigo em suas costas, pulando na neve, desviando de bolas e rolando no chão, cobrindo-nos de neve. Mas, para minha surpresa, eu gostei. Foi divertido. Estava sendo divertido. A neve era gelada, mas macia. Luffy pulava de um lado para o outro comigo, entregava bolinhas em minhas mãos para que eu jogasse em Usopp e Chopper, e eu o ajudava a desviar dos tiros deles. Construímos bonecos de neve e fazíamos anjos no chão. Minha risada era alta, e até mesmo lagrimei algumas vezes. Sentia-me como uma criança novamente, ou melhor dizendo, eu deixava a criança em mim se divertir como nunca pôde antes.
A Elisabette de 8 anos estaria feliz, alegre no meio de tudo isso, brincando e se divertindo com os amigos que ela nunca soube que precisava até tê-los ao seu lado.
Por um momento, ao virar o rosto enquanto Luffy saltitava feito um coelho de pedra em pedra, notei o olhar do Cirurgião da Morte fixo em mim. Um sorriso se formou em meus lábios ao cruzar meus olhos azuis com os seus acinzentados, que sempre me lembram o céu antes de uma tempestade: escuro, mas ainda claro. Trafalgar Law é como um pacto não totalmente consumado. Ao mesmo tempo em que não temos nenhuma ligação, ainda somos atraídos um para o outro de alguma forma. Deve ser o meu coração ligado a ele, que preciso recuperar.
Enquanto meu coração estiver com ele, não poderei abandoná-lo nunca.
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