
━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟮𝟭. 𝗢 𝗱𝗲𝘀𝘁𝗶𝗻𝗼 𝗱𝗲𝘀𝘁𝗲 𝘀𝗮𝗻𝗴𝘂𝗲. ❪𝗽𝗮𝗿𝘁𝗲 𝟮❫
━━ Ilhas do Céu ; Skypiea | Meses após a chegada.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫
Meses se passaram e me vi residindo na moradia de Gan Fall, situada em uma área mais distante tanto do Templo Sagrado quanto do centro principal de Skypiea. Ao chegar aqui, pude perceber a magnitude dos desafios que a região enfrentava. Fui informada sobre os esforços em curso para reconstruir partes da cidade principal e revitalizar a Praia dos Anjos. Contudo, uma preocupação emergiu ao descobrir o ressurgimento da Febre das Árvores¹, uma doença temida desde os relatos históricos de sua devastação há 400 anos, quando quase dizimou os shandias de Jaya. A destruição de certas áreas de Upper Yard desencadeou o ressurgimento desse mal, propagado pelo suco da árvore cidra, afetando rapidamente tanto os shandias quanto os habitantes de Skypiea. Embora não seja transmitida de pessoa para pessoa, o mero pensamento de que qualquer alimento ou animal pode ser portador da febre é assustador.
E, ao final, não mais me encontrava sozinha, pois Bellamy - o jovem usuário deAkuma no Mi que conheci na masmorra do Templo Sagrado - agora compartilhava minha residência por um período, enquanto buscava um meio de retornar ao mar azul.
Inicialmente, nossa convivência era difícil. Ele era muito meticuloso, criticava minha falta de habilidade em diversas tarefas e frequentemente nos encontrávamos em discussões na plantação de abóboras, ocasionalmente destruindo algumas delas. Após recebermos reprimendas de Conis, que nos aconselhava a sermos amigos para vivermos em harmonia, acabamos nos aproximando. Sinceramente, não me arrependo de ter cultivado essa amizade.
Bellamy é uma pessoa cativante, apesar de seu humor ácido e orgulho exacerbado. Divirto-me muito com ele e aprecio quando compartilha suas aventuras vividas na Grand Line e até mesmo no Novo Mundo, sob o comando de Donquixote Doflamingo, a quem ele se refere com grande devoção como Jovem Mestre.
Ele é agradável, aprecio sua companhia. Sinto que nossa amizade foi um presente para mim, um dom divino, pois não sei se suportaria ficar sozinha por tanto tempo aqui. Embora Conis visite ocasionalmente para trazer algumas iguarias preparadas por ela e seu pai, realmente não compreendo como podem ser tão gentis comigo. Afinal, fui enviada por Enel para eliminá-la, caso ela descumprisse o acordo estabelecido quando os Chapéus de Palha visitaram as Ilhas do Céu meses atrás. Conis é uma pessoa tão amável, tão gentil e afável, parece desejar compreender-me, aproximar-se de mim, mas... eu sei que a afasto. Não me sinto digna de sua amizade, embora aprecie a ideia de ter uma companhia feminina em meu dia a dia, uma vez que Bellamy é, bem... nada feminino.
Um dia, fomos juntos ao mercado, ele e eu. Era evidente o olhar de desaprovação de algumas pessoas voltado para mim, enquanto outras aparentemente haviam "compreendido" meu ponto de vista após o discurso de Gan Fall. Ele falou sobre como, um dia, eu governaria Skypiea quando ele partisse e que, por isso, precisariam me aceitar e me perdoar, pois apenas agi da maneira que agi por influência de meu pai. Entretanto, se estivesse em seu lugar, também teria olhado com desconfiança, desdém e repugnância. Como alguns poderiam aceitar-me de repente, como se tudo o que fiz nos últimos anos não tivesse importância? Silenciosamente, questionava-me se sentiam medo de mim, temendo que eu me revoltasse e os atacasse novamente, tal como meu pai planejara fazer naquele dia.
- Eles parecem putos. - murmurou Bellamy, olhando-me de soslaio com seus olhos cor de avelã. - Por que todos olham para você dessa maneira?
Aquela pergunta apenas me fez erguer os ombros, sinalizando minha ignorância, mas era uma mentira descarada. Não queria abordar o assunto, e sempre agradecia a ele por não insistir, apenas nos encaminhamos de volta para a casa de Gan Fall.
E assim se passaram muitos dias, que se transformaram em semanas e, por fim, em meses, quase um ano. Eu podia perceber o desespero crescendo em seus olhos sempre que ele ponderava sobre a possibilidade de não conseguir retornar ao Mar Azul. E, caso conseguisse, temia voltar de mãos vazias, decepcionando seu Jovem Mestre. Eu desejava poder ajudá-lo, mas não sabia como. Tudo o que me restava era permitir que ele repousasse a cabeça em meu colo e desabafasse. Às vezes, até mesmo chorava de frustração, o que destacava o quanto nossa amizade havia se tornado íntima em tão pouco tempo de convivência sob o mesmo teto.
Um dia, decidi revelar meus sentimentos e compartilhar com Bellamy toda a minha história. Desde minha infância em Birka, até o trágico dia em que a ilha inteira foi obliterada por meu pai. Relatei sobre minha mãe, sobre Uroge e sobre as duras provações que enfrentei desde tenra idade, moldando-me na "guerreira perfeita" aos olhos de Enel e dos sacerdotes. Surpreendentemente, Bellamy elogiou minha coragem e habilidades, admirando minha força apesar de minha aparente fragilidade.
No entanto... ele partiu. Acordei um dia e Bellamy havia desaparecido, sem deixar qualquer rastro ou mensagem no nosso Tone Dial. Sua partida repentina feriu meu âmago profundamente, deixando-me magoada e desamparada. Apesar da dor, optei por conceder-lhe sua liberdade, mesmo que isso significasse enfrentar a solidão mais uma vez.
Pelo menos, era o que eu imaginava.
Em uma manhã como qualquer outra, deparei-me com três rostos que não via há meses e sequer sabia que sentia falta até vê-los frente a frente novamente. Os sacerdotes, Ohm, Shura e Satori. A primeira reação que tive ao vê-los foi abraçá-los com força, sendo apenas Ohm e Satori que retribuíram, enquanto Shura limitou-se a dar um tapinha em minha cabeça, expressando sua preocupação.
━━ Ilhas do Céu ; Skypiea | 1 ano depois.
E cá estava eu, passando novamente por todas as provações para me fortalecer. Agora, aos 18 anos de idade completos, os sacerdotes não pegavam mais leve comigo. Vinham com toda a força, e eu, é claro, conseguia dar conta. Meu corpo estava se tornando tonificado novamente, com novos músculos surgindo nos braços e pernas. Minhas asas também não precisavam mais de tanto impulso para voar alto em velocidade extrema. Bastava batê-las com força, e eu já estava nas alturas tão rapidamente que seria necessário um bom atirador ou um usuário de Akuma no Mi talentoso para me acertar em pleno voo.
Aprendi a usar melhor os Dials e fui presenteada por Wyper com uma Burn Bazooka, a qual ele mesmo garantiu que seria bastante útil. Ele gentilmente me ensinou como utilizá-la depois que nos tornamos mais amigáveis um com o outro. Isso resultou em sessões de treinamento, nas quais, ao contrário de Ohm, Shura e Satori, ele não hesitava em me ferir gravemente e fazer-me sangrar. Ele era verdadeiramente bruto, porém cuidadoso, demonstrando atenção especial após os treinos. Eu achava isso fascinante, como ele era agressivo durante nossas práticas e atencioso logo em seguida.
Em uma noite, Ohm me chamou para conversar, e fomos para as margens do Mar Branco-Branco, relembrando os momentos em que eu ia até lá para observar os navios ao longe em silêncio, imaginando-me neles. Entre todos os sacerdotes, ele sempre foi o mais atencioso comigo e até mesmo "carinhoso", se é que posso dizer assim.
Ele compartilhou muitas coisas comigo, ofereceu muitos conselhos e revelou que, embora tenha seguido meu pai desde sempre, não o fez porque concordava plenamente com seus ideais e era verdadeiramente fiel a ele. Em vez disso, Ohm admitiu que, assim como todos nas Ilhas do Céu - inclusive eu -, tinha um medo profundo dele. Esse medo nos fazia fechar os olhos para suas atrocidades e nos calar, deixando que o temor por um Deus renomado nos mantivesse acorrentados, rezando a quem não poderia atender aos nossos clamores. Fiquei surpresa com suas palavras, pois não esperava isso dele, que sempre parecia ser o mais sensato de todos, o mais obediente e fiel aos desejos e comandos de Enel.
Nos aproximamos bastante e foi estranho inicialmente, não só por ele, mas pelos sacerdotes estarem demonstrando certa preocupação comigo, preocupação genuína, não como eles faziam quando meu pai estava conosco, quando estávamos sob seu comando. A presença de Ohm, Shura e Satori havia se tornado... confortável. Já não era mais um incômodo. Era bom, eu aprendi a gostar. Eles eram atenciosos e cuidadosos comigo, mesmo que do jeitinho deles.
Entretanto, no fundo, eu sabia que não era apenas porque eles gostavam de mim ou apreciavam a minha mudança e quem eu era ou costumava ser, era apenas porque, ao ver deles, eu era o que restava de Enel. Ohm poderia não ser completamente devoto a ele, mas era nítido que ele ainda tinha um certo apego e lealdade ao homem que por anos nos governou, assim como os outros dois sacerdotes. Faltava Gedatsu, no entanto não sabíamos nada sobre ele, alguns diziam que ele havia falecido, outros que ele tinha conseguido fugir antes de ser preso e eu preferia acreditar na segunda suspeita.
- Quando Gan Fall falecer, você quem terá de herdar o Templo Sagrado e se tornar o novo Deus. - ele disse, observando o céu noturno ao meu lado. - Exatamente o que seu pai vinha lhe dizendo ao longo dos anos, que um dia você governaria as Ilhas do Céu.
- Eu não vou ficar aqui, você sabe... todos vocês sabem. - retruquei, soltando um suspiro logo em seguida e me encolhendo. - Eu não pertenço a esse lugar. Como vou governá-lo? As pessoas desse país me repudiam, as que me aceitam ainda assim sentem receio.
- Mostre a eles que você não é igual ao seu pai.
- O que garante que não sou?
- Isso é algo que somente você vai saber responder. - Ohm respondeu em um tom calmo, mantendo sua postura séria.
- Ajudou muito... - sorri com ironia, revirando os olhos e apoiando o queixo sobre os joelhos, abraçando as pernas.
Governar Skypiea foi algo que nunca, de fato, passou pela minha cabeça, mesmo quando ouvia tais palavras vindas de meu pai, que vez ou outra afirmava isso para mim, como uma verdade absoluta, um fato consumado. Todavia, nunca acreditei que ele estivesse falando sério; sempre pensei que eram apenas metáforas sobre algo trivial, algo que eu não entendia, não que ele estivesse realmente dizendo uma verdade. Não sei se nasci para isso, para cuidar de um país inteiro, especialmente considerando que por muitos anos eu infernizei, maltratei e até mesmo tirei vidas.
Desconheço as expectativas que colocam sobre mim, não sei se esperam que eu seja essencial e prestativa como Gan Fall, ou se temem que eu seja uma tirana como Enel foi. Não desejo que criem expectativas, que olhem para mim e vejam um vislumbre daquilo que não sou. Não quero que esperem de mim que aja como um deles, mesmo sabendo que o melhor a se fazer seria ser tão majestosa quanto Gan Fall e manter distância de Enel, pois assim estaria apenas decepcionando-os e jogando as lascas de confiança que dizem ter em mim diretamente no lixo.
Por muito tempo - bem antes mesmo do meu nascimento -, Skypiea costumava ser uma grande potência militar. O Exército Celestial era extremamente poderoso e temido; não era qualquer pessoa que conseguia fazer parte, que tinha capacidade física e mental suficiente para manter-se firme e forte em sua posição como soldado. Não quero falar bobagens, pois há anos eles deixaram de existir, mas acredito que a força do Exército Celestial poderia se igualar ao poderio militar da própria Marinha e Governo Mundial, se não fosse ainda mais forte.
No entanto, já não existem mais; seus resquícios são os Boinas Brancas, um pequeno grupo de apenas 100 homens atualmente. Eles têm força e potência, contudo, não é o suficiente para combater qualquer ameaça que venha de fora. Sinto que, em algum momento, isso será posto à prova.
Se os Chapéus de Palha conseguiram chegar até aqui e Bellamy também, quem garante que outros piratas também não conseguirão? Nem todos serão amigáveis como meus companheiros ou ficarão vulneráveis por conta de ferimentos, como foi o caso do Hiena. Portanto, não posso afirmar se os Boinas Brancas ou os shandias seriam capazes de lidar com outros piratas poderosos do Mar Azul, nem mesmo se seriam fortes o bastante para combater o Governo Mundial, caso descubram sobre a existência de uma parte de Jaya e sobre o Poneglyph que está aqui... não sei o que esperar de inimigos em potencial contra o meu povo, esse povo.
- Por que o Exército Celestial não se reergue? Sabe, se uníssemos forças com os shandias... talvez fôssemos fortes novamente.
- O Exército Celestial? - Ohm me olhou de canto, abaixando os óculos escuros para me encarar com mais clareza.
- Eu tenho pensado... precisamos ser fortes, estar preparados para o que der e vier, sabe, não sabemos se algum dia ele... - engoli as palavras, virando o rosto, mas estava claro a quem eu me referia. - Uma hora ele poderá voltar.
- Bem... sim, ele poderá voltar.
- Eu quero vê-lo novamente... tenho tantas perguntas. - sussurrei, suspirando logo em seguida. - Mas sei que, apesar de tudo que eu sinto e desejo, sei que a volta dele não seria de agrado a todos e nós dois o conhecemos o suficiente para sabermos que ele não voltará para fazer as pazes. - finalizei, sentindo ele passar o braço em volta dos meus ombros e me puxar para perto, colocando minha cabeça apoiada nele, por fim afagando meus cabelos.
- Você tem medo por eles ou por você? - ele perguntou, fazendo-me olhar para ele.
- As duas coisas.
Ohm me olhou e ficou em silêncio, depois voltou a olhar para o céu e eu fiz o mesmo, ambos contemplando a lua, a tão misteriosa Fairy Vearth - a Terra Sem Fim. Sabíamos que meu pai estava lá, que ele havia conseguido chegar onde todos iríamos juntos, para vivermos sobre um novo lugar, governando a quem quer que estivesse ali.
E eu sempre irei me questionar, eu sempre irei me amaldiçoar por isso, por que ele foi e me deixou para trás? Por que ele não me procurou para me levar junto? Eu deveria odiá-lo, querê-lo longe, agradecer por tê-lo afastado de mim e pelo livramento que é não vê-lo mais, no entanto não consigo. Nada me faz odiá-lo. Nada. Nada. Nada. Eu me sinto uma tola por isso, ao mesmo tempo em que me sinto ingrata em concordar que o que ele fez foram apenas atrocidades. Eu só queria que ele voltasse, não por Skypiea ou por vingança, mas... por mim, que sou sua filha, como ele mesmo disse. Somos pai e filha, somos sangue, somos família. Carne da tua carne, sangue do teu sangue.
━━ Ilhas do Céu ; Skypiea | 2 anos depois.
Finalmente, os dois anos de espera se passaram e eu não poderia me sentir mais ansiosa para finalmente reencontrar meus companheiros. Ainda faltavam alguns dias até que eu pudesse finalmente ir ao encontro deles, mas já estava arrumando alguns dos meus pertences e, caramba... tanta coisa aconteceu nesses últimos anos. Tantas coisas que eu levaria dias para listar em ordem, então será melhor se eu pontuar apenas os eventos mais importantes! Me sinto ansiosa, animada e... um pouco receosa, confesso. Será que eles mudaram também? Será que cresceram? Com certeza estão mais fortes, assim como eu!
Primeiramente, o Exército Celestial voltou a existir há alguns meses, embora ainda estejam recrutando alguns soldados e construindo uma academia para treinamentos profissionais. Eles usam Upper Yard como campo de treino e não só skypieans estão se tornando membros, mas shandias também. Unimos nossas tecnologias e nosso conhecimento para criarmos armas mais potentes e sistemas de defesa mais eficazes na entrada das Ilhas do Céu. Além disso, diminuímos o preço da taxa de visitantes para que não tenhamos mais problemas com calotes ou mal entendidos, como ocorreu com meus companheiros.
Segundo, há pouco tempo iniciaram-se a construção de uma aeronave, um dirigível ou zepelim, para ser mais específica. Soube que o projeto existia há anos, porém nunca havia sido colocado em prática até o dia em que Enel foi derrotado e começaram a estudar mais sobre como dar forma àquele projeto e fazê-lo voar. Também foi criada uma nova tecnologia de comunicação usando a forma como um Den Den Mushi funciona, utilizando o meu como base na construção do Call Dial. O que me impressionou foi o fato de ter dado certo, e as ligações funcionarem perfeitamente em enormes distâncias, dependendo do quão menor for a concha usada para construí-lo.
Eu nunca imaginei que as Ilhas do Céu pudessem ser tão desenvolvidas tecnologicamente. Sempre fui tão isolada em meu próprio mundo que não tive a oportunidade de conhecer mais sobre meu país, sobre minha cultura. Foi um choque de realidade descobrir todas essas coisas.
Por fim... eu! Eu mudei bastante, para ser sincera. Cresci alguns centímetros em altura e meu corpo, bem... é, agora sim eu me sinto tonificada. Meus cabelos estão um pouco mais curtos do que costumavam ser, agora na altura do meu quadril, quando antes passavam do meu bumbum. Também notei que algumas mechas loiras começaram a aparecer e ficar mais visíveis no meio dos meus fios prateados. Meus seios agora estão bem mais fartos do que quando eu tinha 16 anos, meus braços e pernas possuem músculos mais fortes do que antigamente, e meu abdômen está trincado. Como papai costumava dizer... "a guerreira perfeita".
Apesar de algumas pessoas ainda não me aceitarem, outras começaram a me engolir aqui, mesmo que fosse à força. Alguns falavam comigo quando eu passava, passeava ou ia ao mercado; já outros... me xingavam, me jogavam pedras, e minha vontade era de esganar todos eles, até não sobrar nenhum! Mas não posso. Sou uma nova mulher, graças a Deus... mas, ah... se eu pudesse... eles não escapariam.
Eu estava lavando algumas louças na pia, pois, mais cedo, Conis, seu pai e Aisa-chan vieram almoçar comigo. Eu adorava a companhia deles e como eram gentis comigo, sempre me tratando bem e trazendo alguns temperos, decorações e até roupas. Conis costumava me presentear com roupas que dizia ter comprado ou costurado para mim, já que somos do mesmo tamanho e suas roupas cabiam em mim. Eu a acho adorável. Sim, ela é fofa e amável. Perto dela, sinto-me da mesma forma que me sentia com a Camie-chan. Acredito que nós três seríamos grandes amigas se pudéssemos passar mais tempo juntas... oh, Camie-chan, sinto saudades dela! Fico me perguntando como ela está e se também sente minha falta.
- Elisabette, é você?
- Existe outra de mim aqui, por acaso? - olhei por cima dos ombros, me deparando com Gan Fall.
- Que menina desbocada! - ele me deu um cascudo e imediatamente levei as mãos até a cabeça, choramingando e largando os pratos na pia.
- Ai! O que foi!? - quando finalmente o encarei melhor, pude notar algumas manchinhas verdes no seu rosto e outras no pescoço, o que me fez engolir em seco. - Estão aumentando...
- Não se preocupe com isso, eu já sou um homem velho, não tenho medo da morte.
- Já faz 2 anos e nada de encontrarem a maldita cura! Eu já disse milhares de vezes, vão para o Mar Azul! Vocês encontrarão em alguma ilha o remédio para tratar e curar os enfermos contaminados com a Febre das Árvores. - bati o pé no chão, cerrando os punhos e olhando para ele com o rosto vermelho de raiva. - O que custa!?
Ele permaneceu em silêncio, fitando-me intensamente. Seus olhos exibiam um cansaço profundo, uma exaustão palpável, e sua pele tão pálida, com aquelas manchas verdes se espalhando como a própria praga. É difícil conceber que, ao longo dos anos, tenha eu mesma o afastado, apenas para, quando finalmente buscarmos a proximidade, testemunhar sua lenta deterioração diante de meus olhos, incapaz de mover um único músculo para deter a morte que o levará deste mundo, deixando-nos apenas com memórias do que um dia ele foi.
Juntos, dirigimo-nos ao exterior de sua residência, sentando-nos nos bancos dispostos diante do jardim. Ali permanecemos, em silêncio, contemplando a paisagem diante de nós.
As abóboras reluziam em um tom laranja vibrante, os tomates igualmente radiantes, e as cenouras que eu própria havia plantado começavam a brotar. Em breve, seria hora da colheita. No entanto, uma inquietação se apodera de mim ao pensar que, ao retornar aos meus companheiros, talvez ninguém cuide do meu jardim e da minha horta, tão viçosos e exuberantes. Eles exalam o doce aroma das flores e dos vegetais, uma fragrância que permeia o ar.
- Existe um reino no Mar Azul que contém a cura para a Febre das Árvores... - disse ele em seu tom cansado, fazendo-me virar com surpresa.
- Verdade!? Qual o nome? Eu... eu posso ir lá! Nem que eu tenha que socar alguns fuzileiros navais e enfrentar guardas reais, mas eu posso-...
- Dressrosa. Há uma pequena ilha próxima ao país, chamada Green Bit. Lá se encontram as plantas que produzem o remédio para tratar e curar esta doença.
- Dressrosa... - sussurrei, desviando meu olhar do dele. Eu me recordava bem desse nome, desse país; Bellamy me contou algumas coisas sobre o reino governado pelo seu Jovem Mestre. - Por que só está mencionando isso agora? Já informou aos seus servos? Eles poderiam ir procurar, senão eu mesma irei.
- Eu quero que você vá, porque há também... algo que eu preciso que você recupere para mim. - disse Gan Fall, olhando-me de soslaio com expressão séria, e eu fiz o mesmo.
- Está tão velho que anda perdendo suas coisas até fora do Mar Branco-Branco? - levei um cascudo. - Ai!
- Preste atenção, Elisabette! O que vou dizer agora é confidencial e crucial, algo que pode salvar este país da disseminação devido ao solo contaminado em Upper Yard.
- Desculpe...
- Por muitos séculos, todos os governantes das Ilhas do Céu guardaram uma Akuma no Mi que sempre esteve trancada a sete chaves, para evitar que fosse roubada por conta de seu poder, que requer grande sabedoria para ser utilizado. O nome desta fruta é Tenshi Tenshi no Mi, modelo Serafim. É uma Zoan Mística. - explicou Gan Fall, parecendo refletir sobre suas próximas palavras enquanto olhava para o alto e depois para mim. - Esta fruta contém uma habilidade que pode purificar qualquer ambiente ou ser vivo, desde uma pequena formiga até um solo infértil. Porém, há alguns anos, entreguei-a a um velho amigo quando percebi que as Ilhas do Céu não eram mais um lugar seguro, uma vez que piratas e viajantes começaram a encontrar maneiras de chegar até aqui.
- Espera, se você entregou a um "velho amigo" porque forasteiros estavam vindo para Skypiea, então você está querendo dizer que essa pessoa... está no Mar Azul? - arregalei os olhos, confusa com aquela conversa, embora estivesse entendendo o que ele queria que eu fizesse.
- Sim, ele é do Mar Azul.
- E quem é? Onde ele vive? Você acha que ele irá me entregar a fruta assim, tão facilmente só por eu dizer que é você quem quer?
- O nome dele é Nekomamushi, ele vive em um país chamado Zou... mas acredito que será uma tarefa difícil de se realizar, pois está localizado no Novo Mundo. - ele suspirou, trazendo sua mão até meu rosto e acariciando minha bochecha, o que me fez prender a respiração e enrijecer o corpo. - Pode ser que eu já tenha sucumbido à Febre das Árvores até o momento em que você estiver com posse da Tenshi Tenshi no Mi.
- Não diga asneiras! Eu vou encontrar esse tal Nekomamushi antes mesmo disso acontecer, eu prometo! - agarrei uma de suas mãos com as minhas duas, olhando para ele com seriedade.
- Só prometemos aquilo que sabemos que poderemos cumprir.
- E eu vou cumprir! - garanti a ele, um sorriso largo se espalhando pelo meu rosto. - Eu lhe enviarei a fruta pelo Pássaro do Sul e você mesmo quem irá comê-la e purificar Skypiea.
Gan Fall ficou em silêncio, apenas olhando nos meus olhos enquanto eu fazia o mesmo, mas sorrindo para ele na esperança de lhe passar algum conforto através de meus gestos e palavras carregadas de confiança. Há dois anos que ele tem me ajudado em tudo, cuidado de mim e me protegendo de ataques de revolta de alguns cidadãos. Eu devo muita coisa a ele e o mínimo que poderei fazer por ele é encontrar esse homem, Nekomamushi, e pegar a Akuma no Mi e, caso ele se negue, não pensarei duas vezes antes de partir para a violência.
Embora eu ainda sinta a falta de Enel e deseje vê-lo novamente, reconheço o mal que ele fez a todos de Skypiea e até mesmo a mim. Sempre soube que ele não era alguém genuinamente bom. Se ele realmente era Deus, como se intitulava, nunca foi justo e benevolente como deveria ser. Nem mesmo ajudava verdadeiramente seu povo; e eu apenas contribuía para o sofrimento.
É por isso que sinto o dever de salvá-los, mesmo que seja para retribuir. É uma responsabilidade que assumo. Se um dia eu tiver que governar este país, espero ter feito algo de positivo por eles antes de tudo. Não quero que continuem sofrendo com esta praga. Todos os dias, rezamos enquanto comemos, pedindo a Deus para que não estejamos ingerindo nada contaminado e que nossos animais não estejam infectados. Até mesmo oramos pela nossa proteção, para que o vírus não sofra mutações que o tornem transmissível de pessoa para pessoa. Apenas o pensamento disso me causa arrepios, pois temo pela vida dos... amigos que fiz.
Wyper, Conis, Pagaya, Laki, Aisa-chan e todos os outros que têm tentado me aceitar aqui, os sacerdotes que têm estado comigo e cuidado de mim da maneira deles... são eles quem eu sinto o dever de proteger e salvar da Febre das Árvores.
Posso não ser a mais esperta, nem mesmo ser quem eles querem que eu seja, no entanto, farei o que for preciso para ajudar, sem hesitar. É minha obrigação, é meu dever, é o que devo fazer! Meu pai provavelmente me chamaria de tola, diria mil coisas sobre como ajudar meros mortais é perda de tempo e... talvez... só talvez... talvez seja, mas não me importo. Se eu não fizer nada, sinto como se estivesse agindo com ingratidão com todos eles, principalmente com Gan Fall que, embora ainda seja estranho dizer, ele é meu avô e sinto a necessidade de ajudá-lo a se recuperar. Não pouparei esforços na minha busca e farei o possível e o impossível para obter a Tenshi Tenshi no Mi para purificar Skypiea.
• ʚĭɞ •
Alguns dias se passaram e finalmente chegou o grande dia... o dia em que vou retornar para o Mar Azul, seguindo o Vivre Card do Rayleigh para encontrar meus companheiros no Arquipélago Sabaody. Nem acredito que dois anos se passaram e logo estarei com eles novamente! Mal vejo a hora de revê-los dentro de algumas horas.
Sinto minhas veias eletrizando cada centímetro do meu corpo e tenho certeza de que meu coração está saltitando onde quer que esteja. Me pergunto se Trafalgar-san presenciou todas as vezes em que ele acelerou de alegria, desespero e ansiedade... certamente, ele é um cara bem estranho. Ainda não sei como conseguirei recuperar o meu órgão, sendo que não juntei nem uma centena de berries, quem dirá 1 bilhão delas. Precisarei encontrar uma maneira de pegar meu coração sem precisar pagá-lo. Talvez até peça ajuda aos meus companheiros, mas não, isso é uma péssima ideia! Eles não podem descobrir que todo o tesouro do Sunny foi entregue de bandeja a ele, senão a Nami vai acabar comigo e a confiança deles em mim como sentinela estará arruinada.
Estou bem mais forte e consegui criar novas habilidades com Inazuma, até mesmo replicar um golpe do meu pai. Foi difícil? Sim, bastante. Várias vezes fiquei com os pelos faciais queimados por conta das ondas extremamente fortes de eletricidade que precisei usar. Entretanto, no fim, deu tudo certo e me encho de orgulho ao dizer que El Thor agora pode ser reproduzido por mim! Que ironia... quase fui morta por esta habilidade e agora eu a tenho em minhas mãos para usá-la contra quem eu desejar, sem causar muitos danos no meu corpo.
Arrumei três bolsas: uma com roupas e meus pertences, outra com meus "brinquedinhos" novos, todos presentes de um construtor de Skypiea, que modificou inúmeros Dials para que eu possa usá-los com mais maestria durante as minhas próximas batalhas. A Burn Bazooka eu levarei pendurada nas costas junto com Inazuma. Sei que ambas serão úteis quando necessário, especialmente porque aprendi a manusear tão facilmente a ponto de meus tiros serem tão ágeis quanto minha velocidade em pleno voo.
Carreguei minhas malas nos braços e saí andando da casa de Gan Fall, dando uma última olhada na residência e sorrindo ao lembrar de tudo o que vivi aqui no tempo em que estive morando neste lugar. Talvez sinta falta desses dias que se tornaram semanas, que se transformaram em meses e, quando dei por mim, já eram dois anos inteiros e completos.
Respirei profundamente e tranquei a porta atrás de mim, dando as costas para aquela casa tão pequena e confortável. Em seguida, afastei-me em passos lentos em direção à cidade principal de Skypiea, onde me encontraria com Gan Fall, os sacerdotes e os outros que fizeram questão de me acompanhar até as margens do Mar Branco-Branco.
Assim que cheguei, algumas pessoas me olharam com desdém, cochichando umas com as outras enquanto discretamente apontavam os dedos para mim, temendo que eu percebesse e tomasse alguma ação contra eles. Mesmo sentindo o impulso, optei por não fazê-lo, não lhes dando ainda mais motivos para me temer, pois eu... eu não... talvez um pouco... só um pouco... eu... talvez eu seja alguém de natureza questionável, mas... não a um extremo... não sou uma boa pessoa, contudo também não sou mal... não sou? Eu... eu sou eu, e não sei se ser eu é sinônimo de algo bom ou muito mau. Ainda assim, os olhares deles, a forma como falam, como às vezes seguram pedras e ficam atentos à minha presença, prontos para agir se necessário... isso... me magoa? Eu não sei.
- Lis-nee-chan! - Aisa-chan veio em minha direção e me abraçou com força, ainda surpreendendo-me com o quanto ela cresceu nos últimos dois anos. - Eu trouxe um presente para você!
- Um presente? Meu aniversário foi há uma semana. - dei um cascudo nela, mas logo retribuí o abraço.
- Isso doeu!
- Era para doer!
- Vocês duas agem como crianças. - Laki interveio, acertando um soco em nossas cabeças.
- Eu ainda sou uma criança! - a menina entre nós protestou, cruzando os braços com um beicinho adorável nos lábios.
- E eu não sou mais. - mostrei a língua para Laki, que agarrou minhas bochechas e começou a esticá-las para cima e para baixo, de um lado para o outro. - Ah!
- Suas bochechas são gordinhas como as de uma menininha fofa e rechonchuda.
- Mas eu não sou criança há muitos anos. - agarrei os pulsos dela e afastei suas mãos do meu rosto. - Sou uma mulher.
- Lis-nee-chan, seu presente. - Aisa-chan retirou uma caixinha de dentro de sua bolsa e entregou em minhas mãos. Curiosa, fui abrir.
- Oh, um Vision Dial²... que atencioso da sua parte, Aisa-chan! Muito obrigada. - sorri para ela, depois comecei a dedilhar o objeto em minhas mãos, encantada e ansiosa para tirar inúmeras fotografias com ele.
- Tire várias fotos com ele e me mostre quando voltar!
- Com certeza! Mas isso vai demorar, hein? Uns 5 anos ou mais. - dei risada e ela fez um bico.
- É muito tempo, você não acha?
- Não é.
Suspirei profundamente enquanto caminhava lentamente ao lado de Aisa-chan, Laki e os outros em direção às margens do Mar Branco-Branco. O vento suave de Skypiea brincava com meus cabelos, trazendo consigo lembranças e pensamentos que pareciam se entrelaçar com as nuvens que pairavam sobre nós. Cada passo que eu dava ecoava uma mistura de sentimentos dentro de mim, um misto de saudade e ansiedade pelo futuro incerto que se desenrolava diante dos meus olhos.
A sensação de deixar para trás um lar, mesmo que temporário, era esquisita. Passei a mão pela caixinha do Vision Dial que a menininha havia me dado, sentindo sua textura suave sob meus dedos. Cada passo parecia ecoar as memórias dos últimos dois anos que passei aqui, os sorrisos, os desafios, as lágrimas. Fechei os olhos por um momento, permitindo que a brisa celestial acariciasse meu rosto, enquanto deixava que as lembranças viessem em minha mente. No fundo, sabia que esse capítulo de minha vida estava chegando ao fim, e embora ansiasse pelo reencontro com meus amigos no Mar Azul, não pude evitar uma sensação de melancolia ao novamente deixar para trás Skypiea, este lugar cheio de mistérios e encantos que agora se despediam de mim enquanto me afastava em direção ao horizonte branco e infinito.
Olhei para eles, que me encaravam com um misto de seriedade, afeição e, principalmente, expectativas, com um fio de esperança em seus semblantes. Todos eles - com exceção de Aisa-chan - sabiam sobre a Tenshi Tenshi no Mi e sobre minha ida à Dressrosa em busca da planta que produz a substância capaz de criar um remédio para tratar da Febre das Árvores e também preveni-la. Sinto medo de não corresponder às expectativas que têm de mim, receio de não encontrar uma desculpa convincente para persuadir meus companheiros a irem até Dressrosa e depois à Zou. Não desejo envolvê-los em minhas responsabilidades... é algo meu, uma questão pessoal que devo cuidar sozinha.
Wyper se aproximou de mim junto com Gan Fall, ambos me encarando como se eu fosse realmente a última pessoa em quem deveriam apostar, e isso me fez gelar, engolir em seco. Sabia que meu coração estava acelerado pelo desespero que sentia naquele momento. Desespero pelo medo de falhar, desespero pelo medo de não encontrar a Akuma no Mi a tempo e desespero por ter que lidar com algo assim pela primeira vez. Isso é tão... irônico. Há dois anos atrás, todos aqui me temiam e me odiavam; agora toda a confiança deles está depositada em mim.
- Aqui, guarde isso com você. - disse o shandia, entregando uma folha de papel em minhas mãos e arrancando um pedaço. - Fiz este Vivre Card para você, é seu.
- E por que eu iria querer que vocês soubessem para onde estou indo? Que medo...
- É apenas para casos de emergência, para sabermos onde procurá-la caso você enfie o nariz onde não deve.
- E este é meu, pegue. - Gan Fall me deu um pequeno pedaço de papel que queimava na ponta, indicando seu estado atual. - Entregue ao Pássaro do Sul para que ele possa trazer as plantas e o fruto sem se perder.
- Espero que este bicho saiba ser obediente. Não quero tê-lo me incomodando ou infernizando o bando. - encolhi os ombros e suspirei, vendo o enorme animal voador pousando ao meu lado e soltando um berro.
- Que barulhento! - dissemos os três ao mesmo tempo.
- Por que não dá um nome para ele? Seria melhor do que chamá-lo apenas de "Pássaro do Sul". - sugeriu o mais velho entre nós, acariciando o bico do animal.
- Talvez pense nisso em outro momento.
- De qualquer forma... já está na sua hora. - ele proferiu suavemente em sua voz cansada e sonolenta, passando a mão pelo meu rosto e acariciando. - Não se esqueça que você tem um lugar para voltar, um lar para chamar de seu.
Senti a falta de Gan Fall sabendo da minha dificuldade com despedidas. Ele simplesmente se afastou, sem proferir mais uma palavra. Junto dele, partiram Laki, Aisa-chan, Conis, seu pai e os sacerdotes. Satori fez um gesto de coração com as mãos, Shura acenou com a cabeça e Ohm abaixou seus óculos escuros para me olhar uma... última vez, por assim dizer. Eu lhe sorri fracamente, mas não fui correspondida; então ele virou as costas. Ambos sabíamos que nos despedir não era algo que dominávamos. Era estranho pensar que eu e Ohm sempre estivemos tão fisicamente próximos um do outro, mas foi preciso a derrota de Enel para que eu enxergasse a verdadeira pessoa por trás daquela postura séria e do olhar oculto por trás das lentes escuras, que me impediam de ver seus olhos cor de âmbar, tão acolhedores.
Por fim, restou apenas eu e Wyper, que ficamos em silêncio, contemplando as suaves ondas brancas batendo em nossos pés descalços. Estávamos ali, em silêncio, sentindo a brisa soprar, fazendo as penugens de nossas asas voarem com o vento. Parecia que éramos os únicos existentes no mundo - no nosso mundo. Apesar das nossas desavenças no passado, hoje me alegro em tê-lo ao meu lado e por tê-lo me acompanhado durante esses dois anos, ajudando-me a aprimorar minhas habilidades e mantendo uma confiança inabalável em minha força, sempre me incentivando.
Não sei ao certo o que ele pensa sobre mim, mas acredito que ele compartilhe dos mesmos sentimentos. Sei que ainda há certo grau de desconfiança da parte dele, assim como de todos aqui, mas também sei que ele estaria pronto para vir ao meu socorro se necessário. Não me surpreende que tenha feito um Vivre Card meu, como uma forma de "me procurar" se algo acontecer. Sorri bobamente ao pensar nisso, afinal, quem poderia imaginar? Depois de tantos anos quase nos destruindo, terminamos ambos caídos um de um lado e outro do outro, e agora aqui estou, sendo escoltada por ele. Como dizem, o mundo realmente dá voltas.
- Você sabe que, mesmo que eu encontre o tal Nekomamushi e recupere a Tenshi Tenshi no Mi, não significa que também irei voltar, não é? - sussurrei, virando-me para encará-lo nos olhos. Ficamos em silêncio por um momento, até que ele se aproximou de mim e trouxe sua mão até minha bochecha.
- Não só sei disso, como não concordo nada com a sua decisão.
- Bem, pelo menos a decisão é minha.
- Elisabette. - Wyper inclinou-se um pouco para a frente, o que me fez recuar imediatamente com sua aproximação, confusa com sua atitude repentina.
- ...s-sim?
- Pedir ajuda não é irresponsável, não pedir é. - ele disse, afastando-se de mim e suspirando. - Não tente fazer tudo sozinha se perceber que não consegue. Não seja imprudente. Lembre-se da importância de encontrar a planta e a fruta. Não poupe esforços e não rejeite reforços. - finalizou, dando-me as costas e afastando-se.
O observei se afastar de mim em silêncio, enquanto ponderava sobre suas palavras e suspirava com elas, ciente de que, apesar da maneira como foram expressas, eram certas e verdadeiras. No entanto, reconheço que sou obstinada o suficiente para continuar me recusando a envolver meus companheiros nisso. Era uma questão pessoal da qual eles não precisavam se envolver, especialmente quando têm seus próprios interesses a perseguir. Luffy deseja se tornar o Rei dos Piratas, Zoro almeja ser o melhor espadachim do mundo, Nami tem o objetivo de desenhar um mapa mundial, Usopp sonha em se tornar um bravo guerreiro dos mares, Sanji busca pelo All Blue, Chopper procura a cura para todas as doenças, Robin quer desvendar a verdadeira história por trás do século perdido, Franky aspira navegar em um navio que alcance a última ilha, Brook anseia reencontrar Laboon e eu... eu desejo, verdadeiramente, ser livre de todas as amarras que ainda me ligam a Enel.
- Vamos... Kaminari. - sussurrei, fazendo um sinal para que o Pássaro do Sul levantasse voo ao meu lado, traçando o caminho em direção ao Arquipélago Sabaody.
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