Até logo Zyra
Foram noites estranhas que desejei mais do que tudo sonhar com Jorge. Mas a vida é irônica, eu não sonhei por muitos dias, quase rezei, mas tive medo.
Foi um Hanukka silencioso para mim, e mesmo com o insistente interesse da minha avó em entender a minha mente, para compreender o meu humor, eu preferi desviar do assunto.
No último dia em Kiel eu venci meu medo de ficar ao lado do meu pai. Fiquei um tempo segurando sua mão enquanto ele lia a Tora.
- Você acredita em anjo? - Perguntei.
- Sim, acredito. Está interessada em ler um pouco? Eu posso mostrar os pontos em que eles aparecem.
- Não mesmo, pai. - Ele sorriu um pouco triste. - Mas me fala um pouco deles, seu ponto de vista.
- Há diversas sitações sobre eles. Acreditamos que existam vários, servos espirituais de Deus com suas hierarquias e missões.
- O que é um anjo caído?
- Tipo o Diabo?
- Quê?
- É um anjo que se opõe às regras de Deus. Anjos não tem livre arbítrio como nós, e os que se desprendem das regras são classificados como caídos, assim como o Diabo.
- Ah...Um caído pode ascender?
- Acredito que sim. O perdão de Deus se aplica a todas as suas criações. Porque esse interesse agora?
- Acha que um anjo pode conversar conosco?
- Com certeza.
- E isso já aconteceu com o senhor?
- Não. Eu não acredito que seja minha missão. Mas você não me respondeu.
- Ouvi umas coisas.
Ele me olhou pensativo mas sorridente. Fiquei deitada em seu peito lendo alguns os versículos com ele. Não sei como algo tão simples como religião as vezes se transformava em uma discussão ou até mesmo numa guerra. O ser humano era patético.
Vovó estava com uma das suas perucas na sala, penteando-a. Ela parecia pensativa.
- Hernesto gostava dessa peruca.
- Hunf. - Bufou mamãe com deboche lendo um livro deitada no sofá.- Eu jamais se sujeitaria a isso.
- Doutrina não é para fracos. - Disse vovó séria olhando para ela.
Minha mãe as vezes soltava umas frases estúpidas debochando da religião judaica, mas minha avó sempre tinha uma resposta a altura para fazer minha mãe se por no lugar dela.
Eu nunca sabia se minha mãe tinha antipatia por trouxas. Isso nunca ficava claro, e às vezes ela deixava escapar a arrogância dela, mas era interessante como ainda assim, minha mãe gostava da sogra, ou do conforto da casa dela, ou apenas por ser uma referência de mãe.
Kiel ainda era aprotegida por uma magia da elfa Sedna. Essa elfa era boa em encatamentos, deve ser muito poderosa, uma pena ser reduzida a uma simples elfa cozinheira do Castelo.
Dezembro passou rápido demais, isso também me deixava triste. Sophia me mandou cartas todos os dias e disse que iria fazer um duplo para nós duas até janeiro, e ela realmente fez. Não sei porque demorou tanto.
*Jenna*
"15 de janeiro vamos para Dubai novamente. Patrícia me mandou uma carta com os horários da lareira, nós vamos às 12:15. Sinceramente eu preferiria ir a pé ou de vassoura a tentar ir pela lareira, a gente foi muito louca. Patrícia disse que o rei quer pedir desculpas a mim pelo comportamento do Zyan, não sei se isso faz sentido."
*Sophia*
" Então eles nunca desconfiaram de você? Ufa, isso me deixa mais tranquila. Mas qual o seu interesse em ir no casamento dela? Estou começando achar estranho isso, Jenna, a gente não precisa. Eu sei que é incrível e tal, a Patrícia sempre foi uma fofa conosco, mas ainda acho desnecessário. "
*Jenna*
" Vai ser um dia interessante, eu acho. Como você vai sair de hogwarts? "
*Sophia*
" Conversei com nosso amado Horácio e ele convenceu Dumbledore de me deixar sair no sábado de manhã para usar uma das lareiras de Hogsmed para passar em casa antes de ir para o casamento. Mas preciso voltar antes das 5h da tarde para Hogwarts. Você que sabe se quer passar na mansão antes de irmos, a gente pode se divertir na jacuzzi. Eu comprei um novo vestido pra você."
*Jenna*
" Isso é tão desnecessário. "
*Sophia*
" Eu não tenho com que gastar. Mas estava pensando em comprar um Dragão ou uma Acromântula para futuros trabalhos. O que acha?"
*Sophia*
" Porque não adota um cachorro?"
*Sophia*
" Não dá para aproveitar nada deles para as porções. E parece que eu tenho condições de dar amor e atenção pra alguma criatura? Mal dou conta de você. Mas me diz, qual a cara que o Fred fez mesmo?"
*Jenna*
" Não gosto de lembrar disso."
*Sophia*
" Ótimo. Enquanto o lerdo do Jorge falhar com você eu ganho tempo acertando ao seu lado. Desculpa me manter na sinceridade contigo."
*Jenna*
" Não precisa mudar, deixa bem claro pra mim que você é grossa."
*Sophia*
" :3 "
- Então vocês fizeram um outro duplo? - Disse Junior nas minhas costas.
Eu estava muito concentrada na minha mesa de estudos, não o vi entrar.
- Porque está sendo sorrateiro comigo?
- Você é cheia de segredos. As vezes eu acho que seria legal ser vidente, queria saber o que você sabe.
- Não suportaria.
- Então o Fred viu você com o Jorge?
- Não vamos ter essa conversa, já que você não me conta nada sobre a Keilah. Seu preconceito estúpido com ela passou?
- Eu ainda não sei o que pensar.
- Já foi ver ela?
- Não. E sinceramente, nem preciso.
Era assim que me sentia até agarrar o Jorge. Sonhar não chegava aos pés de viver.
- Vi você no profeta.- Prosseguiu Junior sentando na minha cama.- Papai não gostou nada disso.
- Ele não me disse nada.
- E faria diferença?
- Não.
- Me diz uma coisa?
- Hum?
- Como consegue ficar sem pensar no Jorge? Eu tô tentando parar de pensar nela mas...
- Eu não consigo. Eu me distraio por aí com alguns orgasmos.
Ele arregalou os olhos pensativo.
- Me diz uma coisa Gustav? Porque Gina disse que havia uma chance de se casar com você?
- Ela disse?- Perguntou ele curioso olhando para mim.
- Não exatamente. Mas não tive a chance de perguntar ainda porque ela citou seu nome. O que aconteceu?
- Ah, bom... - Disse ele coçando a cabeça com um sorriso acanhado.
- Vai... conta. - Insisti.
- É que... Participamos do jogo das varinhas.
- Como é que é? Que jogo é esse?
- Duas varinhas rodando... Como não conhece esse jogo?
- Acredite, tem muita coisa que eu não conheço.
- Bom, não chamamos ninguém da Sonserina. Mas foi uma galera na Sala Precisa jogar... o objetivo é beijar entende? Acho que ela gostou então, mas ela não faz meu tipo.
E alguém "precisa" beijar? Esse Castelo era muito louco.
- Hum... Muito jovem, não é?
- Não é isso.
É sim!
- Ah, que bobagem. Tudo isso pra beijar? Eu sou a moda antiga, eu chego e já era. Mas... - E fiquei chateada. - O Phillip me chamou de depravada.
- Acho que ele ficou estranho no último ano, amargurado, invejoso. Não sei o que aconteceu.
- Pelo o que vi, ele parou no tempo e vai usar da religião para justificar seus preconceitos. Toma cuidado com ele.
- É, infelizmente eu estou um pouco sozinho agora, os primos dele até que são legais mas não sei mais em quem confiar.
- Você sabe, Gustav, você sabe.
- O que tá rolando entre você e o Neville?
- Nada.
Ele riu.
- Você é insubestimável.
- Não entendi.
- Você pode não ser interessada profundamente em livros ou estudos como eu, mas não existe tempo oscioso com você. Seus passos são mais intuitivos e sensíveis que os meus. Eu sou muito racional.
Acho que isso foi um elogio. Acho que o melhor elogio que já recebi. Eu não sei o que isso tinha haver com Neville mas não quis me aprofundar e acabar falando demais. Mas eu entendi o ponto de vista do meu irmão, ele tinha razão, eu sempre estava buscando um jeito de melhorar seja como bruxa, seja como ser humano, não necessariamente intelectualmente. Como sempre diz Sophia, eu agia pelo coração.
No dia 15 sem demora eu me adiantei logo cedo para ir à Mansão Rosier.
- Você vai de novo naquele lugar onde o Lammont tentou te enforcar!? - Disse Junior chocado mas rindo de nervoso no café da manhã.
- Zyan é mais inofensivo do que você pensa. E agora eu posso fazer magia, então está tudo bem.
- Não deveria estar tudo bem. - Insistiu meu irmão. - Oh mãe, isso não é muito estranho?
- Eu não me importo. - Respondeu ela com desprezo.
- Pai?
- O que!? - Disse ele levantando a cabeça de traz do Profeta Diário.
- Não está vendo absurdo?
- Não.
Papai por algum motivo raramente dizia "não" pra mim. Na verdade, eu não me lembrava dele ter se negando a nada.
Às 11 horas eu estava plena na lareira da mansão da Sophia. Ela me arrancou de lá de dentro e me beijou com vontade, apertando minha cintura.
- Não vai acontecer. - Disse eu me afastando dos seus apertos. Eu estava fingindo aborrecimento, com a expectativa dela melhorar com suas patadas grosseiras.- Njal tem falado de como está Keilah?
- Hum. - Resmungou ela irritada. - Njal. - Chamou-a.
- Srta. Gibbon. - Disse a elfa em cumprimento após aparecer.
- Como está?
- Já estive melhor.
- Quando?
- Sobre a menina não bruxa. - Disse a elfa ignorando minha pergunta.- Ela está bem, mas ficou chateada por ter tirado nota 9 em uma matéria chamada "antropologia". Me convidou para um chá e conversamos sobre o mundo mágico dos não bruxos, muito intelectual, aprendi muito sobre os humanos não mágicos.
- Que interessante. - Eu queria ter participado dessa conversa.
- Ta bom, agora vamos subir. - Disse Sophia de má vontade.- A gente tem que se arrumar.
Pra mim não fazia diferença os vestidos que ela me dava. Eu não tinha um estilo próprio, na verdade, desde criança eu usava o que me davam, eu pouco opinei. Eu era quase que, literalmente, uma boneca na mão daqueles que me admiravam. No fundo eu até gostava, era instigante, mas eu não me sentia tão autêntica nesse sentido.
- Esse vestido parece o que a Patrícia usou no noivado. - Com cordas e fenda mostrando as pernas. - Ficou interessada, não foi?
- Eu disse que queria ver você neles, faz todo sentido pra mim.
Esse raciocínio nunca fez pra mim. Sophia comprou um conjunto para si de roupa árabe de tecido fino verde, porém cheiro de bordados em prata.
Às 12:14 estávamos na frente da lareira com Sophia segurando meu rosto fitando meus olhos com profundidade e tocando levemente seus lábios nos meus murmurando:
- Não morra, mas também não mate ninguém. - Eu tentei não sorrir enquanto sentia o valor do seu hálito. - Fique calma diante das diferenças, beba pouco, mesmo eu sendo um péssimo exemplo. Se mantenha segura e vigilante, você é única e especial.
Ela estava se esforçando para ficar tranquila, realmente ela não estava muito bem. Eu até poderia mandar ela parar de fazer as experiências doidas dela mas duvido muito que me ouviria, porque pedir eu já vi que não fazia diferença.
- Vai dar certo. - Disse com carinho tentando tranquilizá-la.- E para de tentar me enfeitiçar.
- Ah, nem era isso.
Era.
Assustador mesmo era sair de uma lareiras ao ar livre. O tempo em Dubai estava perfeito, ensolarado e não muito quente com uma brisa leve, nem se comparava a um dia de neve em Londres ou a nevasca que caía em Gales.
A funcionária apareceu novamente com uma pena e o pergaminho flutuante, com a mesma expressão de tédio, indiferente a quem éramos. Achei que por uns instantes ela fosse se assustar com a presença da Sophia, mas parecia nem se lembrar dela - ou tinha sido obliviada?
- Autorização para mudança de roupa de Gibbon e Rosier?
- Vai a merda! - Esbravejou Sophia para a funcionária que saiu às pressas para além das outras lareiras.
- Relaxa. - Disse para ela. - Tá tomando alguma coisa pra ficar com esse humor instável?
- Talvez. - Disse ela pensativa.
Não era hora de discutir. A festa estava muito mais acalorada. Música mais alta, mais enfeites e roupas mais sofisticadas.
- Vamos procurar as meninas? - Perguntou Sophia.
- Tanto faz, eu quero comer.
Ninguém foi nos recepcionar dessa vez. Acho que Zyan não iria se mostrar, nem sei se ele estava por perto. Mas não demorou para vermos as mesmas figuras do noivado. Zury estava de branco, e cumprimentou Sophia com mais entusiasmo e intimidade com um beijo no rosto.
- Está muito elegante, como sempre, Sophia. - Elogiou ela com carinho.
- Eu tento. - Respondeu a amiga um pouco tímida se sentando. Eu a acompanhei.
- Jasmine está com um tal conde por aí. - Justificou ela a ausência da prima.
- Ela é corajosa. - Disse eu para Zury, iniciando uma conversa.
- Ele não é um Lammont, é um Shaqif.
- Isso que é pensar grande. - Debochou Sophia.
- É besteira, mas ela não se ilude, é mais fácil o contrário.
- Isso também é perigoso. - Mexer com a nobreza, só pode ser louca.
- Pois é. - Disse ela abaixando a cabeça.
- Zyan fez algo contra seu pai? - Perguntei.
- Ah... Não, Gibbon, mas ele nem precisou, St. Mungus está um caos, tem até trouxas sendo tratados por nós, os ataques dos Comensais estão cada dia piores. - Ela parecia realmente temerosa.
- Desgraçados. - Resmungou Sophia.
- Achamos que o St. Mungus é o ponto "ético" deles.
- Ético? - Perguntei.
- Eles não atacam o hospital porque no fundo não pretendem matar a todos, querem deixar um aviso largando os feridos pelo caminho.
- Não é tão vantajoso matar, eles querem servos úteis. - Disse eu pensativa.
Sophia estava nos observando com tristeza.
- Exatamente. - Disse Zury séria. - Não estou reclamando, mas isso serve como um alerta de comportamento, aconteceu na primeira guerra esses ataques crescente até explodir para algo muito maior, de certo ocorrerá novamente a mesma coisa.
- Poxa. - Disse Sophia com uma taça na mão. - Eu queria saber o que fazer sobre isso.
- Ninguém sabe, Sophia. - Respondeu Zury tocando gentilmente no braço dela. - Apenas nos mantendo precavidas, em alerta constante, mas não vejo nada acontecendo por aqui, e confesso que venho nessas festas para esquece o caos que está no Reino Unido.
Era uma observação muito séria, mas não previa ali a calmaria que ela achava que tinha. Os Lammont eram sorrateiros também.
- Gibbon. - Seguiu Zury largando Sophia e se servindo de uma bebida também. - Me permita perguntar uma coisa: Porque Zyan agrediu você?
- Não faço ideia. - Eu não estava nem um pouco afim de conversar sobre isso. Mas Zury me olhou com desconfiança, ela não era boba, mas eu não devia justificava alguma a ela, por um segundo comecei a achar que eu estava sentindo ciúmes dela tão próxima da Sophia.
- Com licença. - Falei.
Levantei-me e fui até o jardim onde bruxos e trouxas conversavam animadamente. Com um copo de champanhe na mão, encostei-me numa pilastra ornamentada e observei as pessoas ao meu redor. Embora algo nessa cultura me atraísse, a sutil maldade presente me incomodava.
Eu observei que o altar estava diferente com uma grande mesa, na verdade agora estava Patrícia e seu futuro esposo em uma das poltronas destinadas a nobreza, conversando. Rachid não estava amarrado, acho que isso já era um avanço, mas ele estava com expressão de poucos amigos que mudou significativamente quando Patrícia rindo passou a mão em sua perna falando muito empolgada seja lá o que fosse.
De longe ela me viu e se levantou, veio rapidamente ao meu encontro. Seu vestido hoje era tão estranho quanto da última vez, só que verde, verde Sonserina. Parecia uma homenagem mas quando ela foi se aproximando, comecei a achar que era para reafirmar seu poder. Vi uma imensa fenda que começava praticamente na cintura e estava com alguns adornos na coxa ou seria no quadril? Estava um pouco demais pra mim. Ok, ela estava tão atraente como ela sempre foi, mas ainda sim extremamente inadequada.
- Jenna! - Disse ela me abraçando e eu sentindo novamente o impulso assustador de beijá-la. - Achei por um segundo que não teria coragem de retornar para o casamento, mas a Jenna Gibbon não ter coragem? Fala sério!
- Do que é feito aquele óleo que você me deu?
- Ah! - Ela sorriu com malícia. - Já usou? Sei que não precisa mas fala a verdade, é muito poderoso. Dizem que extraem de uma pequena flor de um lago no norte, de onde nascem as veelas, mas acho que é seiva de algum crustáceo, e quem sabe? Minha fornecedora é misteriosa.
Tive medo de perguntar mais, desejei não ter o sacrifício de nenhuma criatura inocente.
- Eu não usei ainda.
- Deveria. Eu consigo tudo que eu quero graças a ele, qualquer desejo, de verdade.
Fazia todo sentido. Isso me soava um pouco ilegal, mas tudo bem, eu estava curiosa sim para saber os efeitos mesmo morrendo de medo.
- Bom. - Prosseguiu ela suspirando. - O rei queria se desculpar contigo pessoalmente por causa do Zyan mas vem cá. - Disse ela se aproximando e eu me afastando porque aquele perfume estava me incomodando. - Eu conheço você, sei que ficou furiosa com príncipe por causa do jeito dele. Não quero que fique encrencada se você surtar com o rei. Eu estou acostumada com a educação deles, ou a falta dela. Não é formal ou discreta como a nossa, mas preferi poupa-lo de um possível fim agonizante. Eu disse que me desculparia por ele e que estava tudo bem, ele não ligou muito, afinal você não é tão impactante para o rei, mas o príncipe Rachid ainda está estranho, ele não perdoou o Zyan , mas dizem que ele veio. Deve estar por aqui se lamentando, mas não o vejo desde aquele dia.
- Irrelevante.
- Ótimo! - Exclamou com as sobrancelhas arqueadas, aparentemente satisfeita. - Não preciso me alongar com você. - E olhou para o lado. - Sophia!
Ela cumprimentou a amiga e eu voltei meus olhos para o jardim novamente. Dessa vez eu decidi andar por entre as mesas. Tudo bem que uma boa parte parece ter me reconhecido e ficou cochichando entre eles, mas não liguei, eu estava pensativa, tinha um ar de cinismo no ar que era complicado de entender.
- Jenna. - Disse uma figura atrás de uma pilastra. - Porque está aqui?
- Nunca vim por você, Zyan.
Zyan estava tentando ser discreto o mais distante possível do altar, tinha algo nele que sempre me causava pena e naquele contexto se intensificou. Ele estava com uma bata dourada em conjunto com a calça, não estava nada discreto - lindo e elegante como sempre - mas ele estava se esforçando para se esconder.
- Eu sei, mas você nunca dá um passo sem motivo.
- É o que sempre me dizem. Mas você não deveria estar se escondendo.
- Quanto menos perguntas me fazem melhor.
A sensação nostálgica era inevitável. Acho que Zyan nunca soube do quanto eu me importava com ele, se soubesse com certeza ou se iludiria mais ou se sentiria seguro ao meu lado.
- Te vi tão pouco esse último semestre.
- Isso quer dizer que você queria me ver mais?
- Não mais, mas, melhor.
- Não deveria sentir compaixão por mim.
- Acho que é mais do que isso, eu nunca quis o seu mal, eu sempre compreendi você.
Parecia que eu estava encerrando um ciclo que confusão entre nós, e na verdade, eu estava.
- Também nunca quis o seu, Jenna.
Ele parecia bem fisicamente, sua expressão era tranquila apesar do olhar temeroso para o jardim. Isso era tão errado. Era a casa dele, era a família dele, ele não deveria temer, ele não deveria se esconder.
Eu estendi a mão para ele.
É, eu estendi a mão para o cara que meses atrás surtou comigo e pensou - na verdade não - em me estrangular. Se tinha uma coisa que eu aprendi com o Zyan, e com mais ninguém aquilo tinha ficado claro, era que uma educação com base em ameaças era extremamente nociva, ele no fundo só queria aprovação e ser amado.
Talvez pela legilimência crescendo em meus poderes ou apenas empatia eu sabia que ele precisava daquilo, ele precisava ser aceito por alguém, e o perdão era o caminho. Sua mãe sozinha não era capaz de suprimir o seu vazio.
Zyan levou pelo menos um minuto para aceitar pegar na minha mão. E de novo fomos andando pelo jardim virando alvo novamente de dezenas de olhares quase que inconformados.
Uma cena incomum se apresentou na nossa frente, uma jovem de longos cabelos castanhos claro e vestido todo rendado cor rosa claro, se sentou próxima do centro de apresentação, com um jovem fazendo massagens em sua mão e braços, só que ele não se sentou, ficou de joelhos. O rapaz vestia túnica branca em um tecido totalmente inferior aos tipicos de luxo, me lembrou até um elfo doméstico.
- Jenna. - Disse Zyan em ato de apresentação. - Essa é Soraya Lammont, minha irmã mais nova.
- Então você é a complicada? - Disse a jovem em tom de desprezo, ela tinha um sotaque estranho. - Pelo menos é bonita. - Disse ela me medindo da cabeça aos pés.
A jovem tinha o olhar mais arrogante que eu já tinha visto. Umbrigde parecia um pelúcio perto dela. Ela era linda, mas medonha. Não sei porque temiam Patrícia, aquela garota parecia muito pior.
Ela disse algo em seu idioma típico e o jovem parou de fazer massagens em suas mãos e foi para um dos pés. Ele retirou a sandália dela e fez um carinho sútil. Aquela cena me soou familiar, Zyan já tinha feito algo do tipo em mim, que de fato, foi extremamente relaxante. A diferença foi quando o servo ao olhar pra cima, para mim, com um dos piores olhares que já vi, eu fiquei em choque. Até o cansaço do Draco não parecia tão grande perto daquele jovem, ele clamava por misericórdia.
Se aquela situação não se manifestasse na minha frente como se deu, as situações subsequentes nunca aconteceriam.
Eu consegui ler a mente do jovem, ele era um trouxa e pelo que notei, estava sendo escravizado. Ele não queria estar ali e pelas cenas que vi ele queria se matar, estava planejando isso mas também queria matar a irmã do Zyan antes do ato, era uma mente caótica e sofrida. Eu não entendia seu idioma materno mas com certeza as várias cenas que vi não precisavam ser traduzidas, ele estava sofrendo todo tipo de abuso.
Puxei Zyan para um canto, eu queria entender mais sobre aquilo.
- O que é aquele jovem?
- O trouxa de estimação dela?
- Estimação!? Você sabe o que ele representa pra ela?
- Ah, você fala da maldição? É, a gente sabe, mas não podemos fazer nada.
- Sabe o que ele está pensando? O quanto está sofrendo?
- A gente não gosta de bisbilhotagem mas ele é um trouxa, não tem como ele executar nada contra nós.
- Legilimência não é legal, escravidão sim?
- Jenna, olha pra mim, - Apontou ele para si desanimado. - eu tenho menos poder que um escorpião no meu próprio reino. Eu não posso fazer nada.
- Então eu vou fazer. - Ele me olhou com os arregalados. - Esse inferno travestido de paraíso acaba agora!
Eu agi por impulso, obviamente. Fui no centro de apresentação com Zyan me seguindo confuso. Todos estavam em seus mundos rindo como se nada tivesse acontecendo. Rachid pai estava conversando com suas esposas descontraído como se nunca tivesse matado alguém na vida, o rei nem cheguei a ver. Sophia de longe me seguia com os olhos negando com a cabeça, ela sabia que eu ia fazer algo quando eu tirei a lâmpada da bolsa. Sophia murmurou um "não, Jenna!" que eu só poderia ler em seus lábios.
- Isso é uma..?
- Lâmpada, é. E isso... - Falei abrindo ela. - É um Djinn.
Zyra saiu de dentro na lâmpada mais empoderado do que o normal virado de frente para o altar, de certo sabia o que iria acontecer.
Ele olhou para trás sorrindo e encarou Zyan com atenção.
- Não entendo porque você acha que esse moleque é uma vítima, e aquele ali. - Disse o Djinn apontando para o príncipe. - Não.
Zyan estava atônito, com a boca aberta, provavelmente chocado sem saber o que dizer.
- Ele não matou ninguém.
- Mas tem esse potencial.
- Todos nós temos.
- De certo. - Disse ele pensativo. - Faça seu pedido.
- O que!? - Disse Zyan temeroso.
- Não sei se sabe, Zyan, acho que nunca soube, mas seu pai matou o meu avô e a vidente que ajudou ele era a minha avó. A maldição da sua família está se alastrando a cada filho que nasce, isso tem que acabar.
- Ele matou o seu avô!? E você quer vingança, vai matá-lo?
- Não exatamente. Eu quero que ele viva e sofra muito, mas não é esse meu pedido, Zyra! - Conclui vendo a cara do Djinn.
- Então... - Disse o djinn.
Sophia se aproximou.
- Zyan... - Suspirei. - meu último desejo é que toda maldição dos Lammont causada por uma elfa e suas consequências sejam desfeitas.
Zyra levantou a sobrancelhas com um leve sorriso maldoso.
- Isso é muita coisa você não acha?
- Você está a muito tempo esperando por isso, vai questionar agora?
- Certo, vou fazer o meu melhor.
- NÃO!
Não adiantou Zyan gritar, agora estava feito. O Djinn se voltou para o altar novamente com um sorriso ainda mais maldoso. Ele sabia com quem estava lidando, era visivel sua raiva pelo homem que destruiu a vida da filha da Hannah.
Zyra em um movimento semelhante a uma prece lançou o feitiço. Obviamente só eu, Sophia e Zyan vimos, certo? Mas todos sentiram. Por algum motivo que eu não entendi na hora, e que também não sabia ao certo o que esperar, sentimos o chão tremer.
- Jenna, você pediu um terremoto!? - Disse Sophia cambaleante.
- Não!
Também fiquei confusa.
O Djinn olhou para mim com um sorriso irônico.
- Sabe quantos anos tem essa maldição e o que existe encima dela?
- Não.
- As consequências será como diz vocês: "um efeito dominó".
- Merda! A gente vai morrer, Jenna! - Gritou Sophia em pânico.
- Não posso permitir. - Disse Zyra com visivel preocupação, mas tranquilo.
Zyan parecia chocado olhando para todo jardim e os convidados todos de pé assustados. Percebi que tinha ido longe demais quando algumas árvores começaram a cair.
- Está desmoronando...
- Mas é claro moleque, essa ilha é artificial. - Disse o Djinn tranquilamente fazendo Zyan começar a chorar.- Ela vai afundar.
É, pra desfazer algo desse nível eu fui realmente longe demais, mas se eu me arrependeria desse momento? Nunca.
- Zyan, pegue sua mãe e saia daqui agora! - Ordenei ao amigo .
- Mas e você?
Nessa hora eu percebi que Zyan não ficou com raiva de mim, muito pelo contrário, ele sentiu alívio.
- Eu levo ela de volta em segurança. - Disse o Djinn.- É o mínimo que posso fazer agora. - Disse o Djinn sorrindo pra mim. - Você tem um papel ainda a cumprir. Quando chegar a hora eu volto, mas preciso te contar uma coisa.
- Jenna! - Gritou Sophia ao ver que as pilastras começaram a ruir. - Temos que ir agora!
- Seu pai provavelmente vai partir durante a guerra, - Prosseguiu o djinn a mim. - não se preocupa, darei a ele dias bons, sei que era um dos seus desejos. Viver com você esse tempo foi interessante e muito importante pra mim. Foi bom ver os conflitos e a evolução de vocês humanos, Hannah tem sim orgulho de você, Jenna.
- Obrigada Zyra.- Agradeci emocionada. Ele falou o meu nome! - Mas quero fazer uma coisa antes de você nos levar.
O pai do Zyan estava no topo do seu altar vendo todos desaparatarem e sair às pressas da festa, ele estava em choque.
Eu me aproximei dos degraus e ele me olhou lá se cima, notou a minha presença um pouco tarde demais.
- Achou que eu não fosse descobrir, seu assassino desgraçado!?
- Eu sempre soube que fosse! Eu estava esperando por isso! - Gritou Rachid. - Você foi mais longe do que pude imaginar! Nunca acreditei nela de verdade. Sosie disse que uma ancestral iria acabar com tudo que ela começou! O que foi que você fez!?
- Eu acabei com a sua maldição antes dela arruinar o nosso mundo! Deveria me agradecer!
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