🌹↝🧸²¹
capítulo não revisado🤡
se gostarem, comentem o que acharam🎀🧸
•me perdoem pelos erros ortográficos•
Someday We'll Know.
Boa Leitura
As árvores balançavam fortemente durante aquela manhã, suas folhas caíam com pressa no vento forte que atingia a cidade de Busan e levava consigo todo e qualquer resquício de que um dia o verão havia passado por ali. Mesmo com o frio que lembrava o inverno que se aproximava, a cidade continuava extremamente movimentada em todas ruas e avenidas e mesmo as praias se mantinham cheias de turistas e estudantes, visto que aquele era o melhor período para as pesquisas de campo realizadas em grupos. A Busan Tiger fazia parte das escolas que realizavam passeios até as praias mais próximas, a fim de tornar a experiência de pesquisa mais divertida para os alunos, mesmo no frio, os estudantes aproveitavam qualquer oportunidade de sair da escola naquele período de provas.
Ainda que os ventos estivessem fortes, o Sol ainda dava as caras apenas para dizer que ainda estava ali, mesmo que não esquentasse um asfalto sequer, seu brilho ainda refletia na praia de Gwangalli, tornando as fotos, vídeos e relatórios mais divertidos para os estudantes que estavam ali apenas para zoar.
Os alunos foram separados em grupos de até cinco pessoas, assim, não haveria tanta distração e poderiam concluir as coletas de amostras mais rapidamente – pelo menos foi assim que os professores pensaram. Cada grupo tinha uma coleta diferente para fazer e precisavam tomar cuidado para não afetar a fauna e flora do local, mesmo que fosse um tanto impossível pela quantidade de pessoal no lugar, a ideia era não fazer bagunça. Os terceiros anos estavam responsáveis pela coleta de algas e plantas marinhas que estivessem mais próximas às margens, os segundos pelos tipos diferentes de areias que tinham ali e os primeiros na coleta de lixos que foram deixados nos lugares errados, porém, todos estavam se juntando e se ajudando para acabarem mais rápido.
Naquela segunda-feira, o treinador Hwang não havia aparecido para os treinos devido à ida de seu filho ao hospital, então o time de vôlei não teve outra opção que não fosse fazer parte daquela “chatice” que seria ficar atrás de “sujeiras” como porcos. Apesar de pensarem assim quando foram avisados, os atletas foram os primeiros a pularem para fora do ônibus a fim de se encharcar na água cristalina de Gwangalli. Era um grupo extenso, então também foram divididos para que não ficassem só na diversão e também trabalhassem com os outros colegas, porém, um deles parecia um tanto distante das tarefas que foram orientadas, parecia não querer estar naquele lugar com aquelas pessoas, ou com uma pessoa em específico.
Desde o segundo em que pisara na escola, Jungkook não demonstrava nenhum interesse por nada naquele dia, não havia cumprimentado ninguém, nem mesmo Namjoon ou Yoongi, apenas passou reto e se sentou em um dos lugares na arquibancada esperando Hwang aparecer e pareceu ficar pior quando escutou que não teriam treino. Parecia cansado, tinha olheiras fundas e os olhos vermelhos como se tivesse chorado – ou tragado algo –, suas roupas pareciam pijamas e não havia levado nem mochila, estava vazio de alguma forma. Yoongi havia tentado conversar com o Jeon, mas tudo o que recebeu foi um aceno e um pedido para que o Min o deixasse “em paz”, como se fosse um incômodo ou alguém que não gostava e por isso não queria por perto, então ficou sozinho desde aquele último momento. Passou o caminho até a praia em silêncio, enquanto os colegas de time brincavam e cantavam músicas tão infantis quanto as de um bebê, preferiu se encolher em um banco e tapar os ouvidos com um fone no máximo volume do celular.
Gostava de estar sozinho, só não sabia se era a escolha certa naquele momento.
— Ei, Jungkook! – Harry se aproximou do moreno, receoso sobre estar próximo a ele, sem saber o que poderia acontecer. – Posso falar com você?
— Oi, Harry. – Jeon sorriu com o canto dos lábios, se abaixando para colher amostras de areia. – Pode dizer.
Harry brincou com os próprios dedos, sem saber muito bem o que falar ao moreno, mas querendo se aproximar e saber se estava tudo bem.
— E-Eu… Eu queria saber se você está bem… se está tudo bem…
O mais velho sorriu sem graça e soltou o ar pelo nariz, encarando a areia enquanto colocava algumas partes dentro do saquinho de colheitas. Lembrou da sexta-feira à noite, quando havia deixado a casa da família Kim e uma mensagem do filho mais novo chegou em seu celular, uma nota de preocupação e um pedido para que ficasse bem e procurasse se acalmar e entender os motivos de todo o suspense da menina loira.
Sabia que o garoto provavelmente estava pensando que seria ignorado, mas Harry não havia feito nada além de proteger a irmã, ainda que fosse mais novo, só estava ajudando a menina a se sentir mais segura. Não havia motivos para tratá-lo como um ignorante.
— Estou tentando entender, como você me pediu. – se levantou, olhando o menino mais novo em sua frente, notando como ele era extremamente parecido com a própria mãe, quase idêntico. – Acho que ficar sozinho vai me ajudar um pouco mais, refletir sobre o que aconteceu e as palavras que ouvi e disse.
— Se precisar, pode… pode falar comigo. Eu conheço ela desde pequeno, mas imagino como pode ser estranho saber assim do nada. – o garoto sorriu, tentando parecer menos nervoso do que estava. – Pode ser difícil entender, mas se você procurar além do que vê e viu, pode tentar enxergar as pessoas que são como ela e estão à sua volta, mas você não vê.
— Como assim?
— Taehye não é incomum, Jungkook, pessoas como ela estão em todos os lugares. Ela só não é como as outras, nada é como ela. Só precisa ver.
Jeon observou o Kim sorrir e se afastar, tentando absorver as últimas frases proferidas pelo mais novo, voltando a se concentrar no que fazia. Olhou para a areia e para a água e observou o movimento mas ondas sumindo quando chegavam mais perto da areia, indo e voltando sem parar.
Jungoo sempre gostou de ir à praia, comer em cada foodtruck, tirar fotos até mesmo da areia, jogar vôlei e principalmente passar horas com os ombros debaixo d'água, ficar sozinho no meio do mar e sentir a brisa batendo apenas em seu rosto. Gostava da sensação gostosa que as ondas deixavam depois que saia da água, como se ainda estivesse lá e mesmo depois de um banho demorado, sentir que as ondas ainda o levavam para frente e para trás. O lugar era um conforto estranho e diferente para os outros, mas Jungkook sentia que todos os sentimentos ruins e todos os pensamentos negativos, iam embora junto com a água salgada e as ondas que sumiam na parte da noite. Gostava porque se lembrava dos momentos bons com Hansung, quando o irmão mais velho ainda era a pessoa que o Jeon conhecia desde sua primeira fala ao primeiro passo e às primeiras brincadeiras, quando ainda eram um do outro e Jungoo podia contar com ele para tudo, independente de qual fosse a situação.
Jungkook gostava daquela relação. Não eram só irmãos, eram parceiros, melhores amigos, os melhores do mundo e acreditava que nunca deixaria de existir, mas Hansung escolheu as pessoas erradas para fazer amizade quando entrou no ensino médio e quando chegou a vez do mais novo, jurou que não seria nada perto do que o irmão mais velho foi e daria o seu melhor para Junghan. Ainda existiam todos os sentimentos amargos, toda a raiva, toda a frustração e o medo quando o dia chegou, mas o filho do meio manteve sua palavra ao irmão mais novo. Se tornou alguém melhor do que já poderia ser, se tornou o melhor amigo que queria ter e compartilhou todos os momentos com o caçula, mesmo que fosse novo demais para entender, sempre fazia o possível para incluir Junghan em tudo e fazê-lo ver que ele não precisava de ninguém para ser o que quisesse ser e ser feliz. Jungkook não era a mesma pessoa na escola e nem nas ruas, quando estava com os amigos, mas era o melhor irmão que Hanie poderia ter e teve isso dito pelo próprio, então acreditava ser o seu melhor mesmo.
Jungkook queria ser o exemplo que nunca teve e estava tentando o seu melhor todos os dias.
Enquanto o garoto colhia algumas amostras sozinho, tentando se distrair e tirar a noite de sexta-feira da cabeça, não muito longe dali e ao mesmo tempo, Jimin o observava, curioso pelo desejo estranho de ficar sozinho e pelo fato de Taehye sequer ter se aproximado do garoto na escola. Seokjin estava ao seu lado, seguindo o exemplo de anotação que o professor havia passado, já que sabia exatamente o que tinha acontecido e estava rezando para que o Park não fizesse nenhuma pergunta, já que não sabia mentir e certamente ficaria perdido assim que o loiro começasse a falar qualquer coisa.
Taehye estava do outro lado, junto de Mingyu e, pelo olhar do Park, os dois pareciam felizes demais, muito diferente do Jeon. Queria muito saber o que estava acontecendo e descobriria logo.
— Então… já 'tá sabendo como foi o jantar dos dois? – o loirinho perguntou, fingindo estar distraído com as suas amostras, entregando-as para Seokjin anotar. – Eles estão estranhos, não acha?
Seokjin olhou por alguns segundos e rapidamente voltou a escrever, tentando disfarçar seu nervosismo.
— E-Eu não sei não, não estava em casa. – sorriu nervoso, dando as costas para o Park, tentando fugir.
— Não estava em casa? Mas Hoseok e Yoongi estavam lá em casa jantando com os meus pais, com quem você saiu? – Jimin continuou, achando tudo muito estranho.
— Com… com o Harry, fomos procurar um bom lugar para as fotos do trabalho de artes e ele queria dar uma volta, algo assim. – o Kim revirou os olhos, fugindo dos olhos curiosos do melhor amigo.
— “Algo assim”? Seokjin, o que aconteceu? Onde você estava e com quem?
— Ai, Jimin, eu estava com o Harry! Pode perguntar, e-eu… nós… merda! Vai perguntar para ela, não sei de nada. – o Kim fugiu, correndo para ficar ao lado de Hoseok que estava sentado junto de alguns amigos.
Jimin cerrou os olhos e colocou as mãos na cintura, insatisfeito com as respostas que havia recebido e ansioso por uma conversa com a loirinha, sem querer chamar atenção ali, apenas olhando para os lados sem muito o que fazer. Observava de longe aquele que depois de um final de semana já deveria ser um casal, mas aparentemente, não havia mudado nada ou quase nada.
— Depois é só colocar para secar no laboratório, ficarão melhores de desenhar depois de secas. – Taehye se aproximou falando com Mingyu, que parecia muito mais feliz que o normal.
— Será que vai mudar alguma coisa? Digo, vamos analisar com elas ainda molhadas assim e depois secar? – o garoto perguntou confuso, olhando para a garota loira.
— Sim, o senhor Song não irá se incomodar, acredito. Afinal só temos que registrar o que vimos com elas no microscópio, não depois. Pode usar. – a loirinha ergueu os ombros, sorrindo com os lábios grudados para o mais alto. – Vão ficar bonitas com giz de cera.
— Tudo bem. Obrigada, Tae-ah, vou entregar para o Seokjin. – o Kim se afastou e deixou a garota na companhia de Jimin, que estava mais estranho do que já era considerado.
Taehye cerrou os olhos para o melhor amigo e o ignorou por alguns segundos, tirando o celular de dentro do bolso da bermuda bege, abrindo a câmera para tirar uma rápida foto da praia, desligando o aparelho e colocando de volta no lugar antes de dar sua atenção ao Park curioso. Se aproximou do mais velho – alguns meses – e sorriu para o loiro, tentando entender o que se passava na cabeça do garoto que não parava de encarar desde que chegaram na praia.
— O que foi…? 'Tá esquisito hoje.
— Não acha que esse shortinho está muito longe do outono não? Estamos perto do inverno e você com essa bermudinha. – Jimin encarou a menina dos pés à cabeça, tentando não perguntar tudo de uma vez.
— Eu me arrumei no ar-condicionado e quando tentei me trocar depois de tomar café, papai já estava saindo com o carro. E tem um solzinho hoje, Jiminie, 'tá tudo bem. – Tae balançou os ombros, começando a andar pela areia limpa, bem próxima a água que ia e voltava, quase em seus pés. – Lembra quando vínhamos aqui com os pais do Bogumie? Eram os melhores domingos da vida.
Jimin sorriu, se lembrando um pouco dos domingos em que acordava cedo e ia para a casa da melhor amiga para esperar os pais do amigo que era alguns anos mais velho. Eram os melhores domingos, sempre tomavam café na praia e passavam o dia e a tarde toda dentro e fora da água, brincando e às vezes nadando na água rasa, sempre cobertos de risadas e sorrisos que jamais poderiam ser medidos, tamanha felicidade que jamais poderia ser encontrada em outras crianças. Passavam horas brincando na água e quando saiam, pareciam peixes, cheios de sal e grudentos pela água cheia de sal e algas coloridas. Todos os domingos estavam daquela forma, era quase como uma tradição passar o dia todo na praia, comendo tudo que era oferecido e brincando de todas as brincadeiras possíveis.
Sentia saudades e não era pouca.
— Era especial. Estávamos sempre juntos, eu, você, Jin-hyung e o Bogum. – Park riu, se lembrando de mais algumas coisas. – Você só brincava de sereia, só queria ser sereia, mesmo quando estávamos fora da água. Eram bons tempos, Tae-ah.
— Os melhores que já tive, mesmo com tudo que passei, vocês melhoravam tudo todos os dias.
Tae riu feliz, parando de andar ao notar que chegava perto de um certo moreno, este que estava agachado, com as mãos dentro do moletom, encarando a água em sua frente. Mordeu o lábio e apertou as mãos juntas, contendo sua vontade de querer correr até lá e abraçá-lo como se fosse seu último dia na Terra.
— Ele está estranho, não está? – Jimin apontou, parando ao lado de Taehye, ambos olhando para o Jeon.
A loira balançou a cabeça positivamente e se virou para encarar o mar, tentando ver o que o moreno via também, mesmo que estivessem distantes.
— Aconteceu alguma coisa sexta-feira? Vocês estão bem? – o menor perguntou, também olhando para a água, procurando não ser muito invasivo e incômodo.
— Bem, nós… nós conversamos. E-Eu… E-Ele foi lá em casa, de noite e nós conversamos. – Tae engoliu um soluço, sem notar uma pequena lágrima escorrer em sua bochecha esquerda.
Mas Jimin notou.
— Vocês brigaram, Tata?
— Não, não. Nós… nós conversamos mesmo, e-eu falei… e-eu contei para ele. – sorriu sem ânimo, encarando o horizonte distante. – Eu contei a ele quem eu sou… o que sou.
Jimin abriu a boca em choque, olhando na direção de onde vinha o Jeon rapidamente, passando para a trilha que dava para fora da areia, ignorando completamente a existência do garoto e mais ainda da garota, que sorriu sem graça e passou as mãos nos olhos, tentando secar e afastar as lágrimas que já caíam como uma cachoeira.
— Ele… ele me ama, Jiminie. – a menina disse com uma risada, já soltando o seu primeiro soluço.
O garoto encarou por alguns segundos antes de finalmente abrir seus braços e apertar a garota contra seu peito, passando a mãos em seus fios mesclados entre loiro e rosa, sentindo o desespero e a dor da melhor amiga quando sentiu seu corpo tremer e os soluços se tornarem mais altos, num choro desesperado. Taehye o apertava, como se pedisse para nunca soltar e nunca sair dali, apertava tão forte quanto podia e descarregava todo o seu medo e toda a sua tristeza, chorava desesperadamente, perdendo seu equilíbrio e se entregando ao braços do loirinho que procurava olhos para pedir ajuda. Sem palavras e nenhuma pergunta, apenas tentava confortar a melhor amiga com o silêncio de quem não sairia dali mesmo que fosse implorado para isso.
De longe, o Jeon da história observava tudo, escondendo as mãos trêmulas dentro dos bolsos de seu moletom, segurando todas as lágrimas que conseguia, sentindo seu peito cada vez mais acelerado, quase o deixando sair pela boca junto ao todos os sentimentos ruins que rondavam sua mente e seu interior. Queria mais que tudo correr até a Kim e abraçá-la, muito mais forte do que Jimin estava fazendo naquele momento, queria apertá-la e dizer que estava tudo bem, que ele estaria ali para sempre e que nada ruim poderia acontecer, que sempre estariam juntos e que ela estava segura. Mas não conseguia, mesmo que quisesse muito, suas pernas não se moviam e sua mente dizia que não, ainda que seu coração gritasse por toda a atenção da garota, não podia se mover, mesmo que apenas um músculo fosse erguido. Estava preso.
Jungkook amava Taehye, mas não conseguia entender o que estava acontecendo e para aquilo, precisaria de um tempo.
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O moreno fechou a porta atrás de si e deixou suas chaves em cima de sua cômoda, se jogando no colchão da cama ainda com a mochila das costas e as mãos no bolso do moletom, testando para ver se sua respiração desaparecia rápido, mas voltando à sua “sanidade” quando uma voz falou em sua mente. Sentou-se na beirada da cama e tirou a mochila das costas, jogando o objeto e tudo que tinha dentro, no chão que estava sempre limpo e brilhando. Tirou o celular e os fones do bolso e colocou dentro da gaveta ao lado da cama, voltando a se deitar na cama, colocando um dos braços na testa, encarando o teto branco e quase reluzente de tão limpo.
Mesmo que tentasse esquecer, Jungkook sempre voltava para a noite de sexta-feira, quando teve sua mente bagunçada e seus sentimentos misturados em um turbilhão de coisas e um furacão de acontecimentos. De todas as coisas que esperava escutar de sua garota, nenhuma delas incluía ela dizendo que um dia não foi quem era agora, que já havia sido outra pessoa, que já havia sido um homem.
Desde que havia começado o ensino médio, Jeon havia perdido o estranhamento que tinha ao ver pessoas do mesmo sexo juntas, era algo simples de entender: haviam diferentes amores para diferentes pessoas e diferentes pessoas para amar. Porém, Jungkook não foi o tipo de garoto que teve curiosidade em saber como era, não sentia atração pelo que sabia que não gostaria e sempre negava, de forma desajeitada, um pedido íntimo de alguém do mesmo gênero, não tinha interesse nenhum pelo que pessoas iguais a si tinham para oferecer. Perdeu seu estranhamento, se aproximou mais dos melhores amigos, se tornou alguém de mente mais aberta e até mesmo ajudou algumas pessoas que pareciam estarem tristes quando via, mas jamais quis algo diferente do que já havia testado e estava tudo bem.
Jungkook sabia que haviam pessoas como Taehye, pessoas trans, pessoas que não se identificavam com quem eram ao nascer e que mudavam de alguma forma e não se importava nenhum pouco para o que aquelas pessoas eram antes, sabia que era igual ser uma mulher ou um homem ao nascer e que havia toda uma preparação e preconceito por trás de quem aquelas pessoas se tornavam. E estava tudo bem também, de verdade, não tinha nenhum tipo de aversão. O que lhe incomodou, foi a confiança que Tae não teve, o medo de ser tratada como ninguém, o medo de apanhar, o medo de não ser aceita por ele, que já a amava desde o primeiro dia.
Imaginava todas as coisas pelas quais a garota havia passado, todas as formas de bullying e preconceito que havia recebido, toda a vergonha que já havia passado e principalmente a negação de outros garotos sobre ela. Mas Taehye era uma mulher e Jeon entendia isso, havia entendido assim que a garota havia dito, mas por que não confiou desde o início? Por que se escondeu? Por que se negou? Por que mentiu? Por que não o amou?
Jungkook jamais seria capaz de machucá-la, jamais entregaria um segredo tão complicado, jamais a deixaria exposta a mais bullying e mais preconceito, nunca se aproximaria para zombar e negá-la como todos os outros pareciam ter feito, muito pelo contrário, a confortaria muito mais e levaria todo o amor que podia dar. Jeon já a amava há muito tempo para se tornar o merda que parecia ser.
Jeon só queria entender.
Jungoo soltou um suspiro desconfortável e observou sua porta quando viu alguém mexendo na maçaneta, prestando atenção em quem entraria, tendo a visão de Hansung com várias sacolas na mão e uma blusa sobre os ombros largos. Mordeu o lábio e observou o irmão se aproximar dentro do quarto escuro, esperando que ele notasse sua presença antes de deixar o cômodo. Quem sabe o mais velho não o ajudaria de alguma, qualquer, forma.
Hansung resmungou um palavrão ao tropeçar no que parecia a bolsa do irmão mais novo e começou a esvaziar as sacolas ainda na escuridão, finalmente se aproximando para acender a luz, se assustando ao ver o garoto de piercing o encarando com os olhos bem abertos e vermelhos, como se não estivesse dormindo há dias ou apenas havia experimentado algo diferente – como ele fez um dia.
— Jungkook! Que susto! Achei que estaria na escola agora, não tem treino hoje não? – o maior ergueu a sobrancelha esquerda, voltando a esvaziar as sacolas. – Trouxe algumas coisas do shopping, levei Junghan e Sungchan, e trouxe algumas coisas para dividirmos.
— Hyung, você já gostou de alguém que te escondia segredos importantes?
Hansung abriu bem os olhos, procurando a certeza de que, pela primeira vez depois de muito tempo, Jungoo havia o chamado de hyung. Piscou os olhos algumas vezes e voltou para a pergunta do mais novo, tentando não parecer animado demais com aquela primeira palavra simples.
— Hm, como assim? O que quer dizer? – juntou seus lábios, sentando na ponta da cama, mexendo em uma das sacolas mais uma vez.
— Já namorou com alguém que não confiava em você? Ou nos seus sentimentos? – Goo perguntou novamente, se sentando em posição de borboleta. Segurando seus pés bem juntinhos.
— Hm… já. Mas não por ela, por mim. Digo, ela não confiava em mim por quem eu era, tinha medo de como eu poderia reagir aos sentimentos dela já que na época eu não era uma boa pessoa. – Hansung olhou para frente, procurando se lembrar do passado conturbado. – Lembra da Hyuna? A ruiva? Eu gostava dela, era apaixonado por ela, até a pedi em namoro. Mas depois de tudo o que aconteceu na escola e as notícias pelo bairro, ela perdeu toda a confiança que tinha em mim, se tornou mais fechada e se afastou aos poucos até finalmente parar de falar comigo. Me ignorou porque eu não fui atrás dela, porque eu achava que ela estava errada e queria que ela viesse até mim pedir desculpas pelo comportamento grosseiro.
— Mas não foi? Quer dizer, foi ela quem se afastou, ela quem deveria voltar… certo? – Jungkook mordeu o lábio, soltando os pés.
— Não, Jungkook, não. Eu estava errado, eu deixei que ela visse a minha parte ruim, eu deixei ela viver naquela bagunça, eu deixei ela acreditar que eu não era bom para ela, eu a fiz ir embora, eu me afastei também e eu não dei chances a nós dois. – Hansung suspirou, virando o rosto para o irmão mais novo. – Eu fui arrogante e ignorante, eu a deixei sozinha, tornei toda a situação sobre mim, me senti certo por não deixá-la ver a verdade e errei sobre tudo. Ela não confiou em mim por medo do que eu pudesse fazer e eu fiz pior.
Jungoo enrugou os lábios e olhou para os próprios pés, finalmente enxergando o que estava acontecendo, entendendo um pouco mais o que estava errado.
— Então, se por um acaso a Taehye esconder um segredo muito importante, para ela e para o nosso relacionamento, por saber de tudo o que já fiz, então será por medo? – levantou seu olhar, tentando não ser óbvio.
— Não existem segredos em um relacionamento, Kookie. Mesmo que seja difícil, mesmo que seja doloroso, não devem existir segredos. Porém, se ela sabe das suas histórias, sabe quem você era antes, então a confiança diminui e o medo se sobressai. – o mais velho encarou o irmão, entendendo o que estava acontecendo. – Se você descobriu algo que considera importante para você, mas que é muito mais para ela, e ignorou todos os sentimentos dela quando te contou, então você está errado. Os dois estão. Ela por não te dizer e você por ignorá-la.
— Mas ela errou em não me contar, ela se escondeu de mim, mentiu para mim e ignorou tudo o que eu sinto por ela.
— Você está vendo, Jungkook? Fez com que essa situação fosse sobre você mas não é! É sobre a Taehye e sobre como ela está se sentindo depois de te contar a única coisa que a impedia de te revelar todos os seus sentimentos. – Han se aproximou, olhando bem fundo nos olhos do moreno a sua frente. – Você está sendo egoísta e ignorante. Você não sabe o que ela passou quando tudo aconteceu, seja lá o que tenha acontecido, você não sabe como ela se sentiu e não sabe o que ela está sentindo, porque ignorou tudo isso por você. Mas isso não é sobre você!
Jungkook olhou para os pés novamente, apertando o dedão e o mindinho, passando a mão por sua canela, mordendo o lábio em nervosismo e tentando segurar as lágrimas para não se sentir ainda mais envergonhado pelo que estava acontecendo. Agora entendia, mas se sentia burro, como um verdadeiro animal irracional e bruto.
— Eu ia pedir ela em namoro, hyung. E-Eu… E-Eu estava pronto. – Jeon sorriu, desfazendo tudo por uma expressão cansada e sôfrega, desaguando em lágrimas, desabando nos braços do irmão mais velho que foi rápido e aceitá-lo em seus colo.
— Deixou tudo ser só sobre você, Kookie, mas um namoro só pode funcionar quando o egoísmo é deixado de lado. – Hansung apertava o corpo do mais novo, fazendo um carinho gostoso em sua cabeça, quase bagunçando os fios ondulados. – Precisam fazer isso juntos, irmão.
— E-Eu amo ela, hyung. E-Eu amo a Taehye.
O mais velho balançou a cabeça, sentindo a verdade assustada saindo da boca do mais novo, o soltando para encará-lo no fundo novamente.
— Então vá e mostre. Não deixe que ela sofra sabendo disso, mas sem você ao lado. Você não foi a guerra, Jungkookie, você está aqui e tem tempo. Não deixe que isso seja só sobre você.
— M-Mas é tão difícil, Han. – Jungoo passou as mãos no rosto, fungando, olhando para as próprias mãos. – Hoje eu a vi chorando, soluçando, tremendo. Ela fica linda com as bochechas vermelhas, mas não quando está chorando, quando ela chora, dói. E-Eu quis ir até lá, abraçar, dizer que estamos juntos, mas não consegui, e-eu não conseguia me mexer. Mas eu queria tanto, tanto, ficar com ela.
— Você pode, Jun, você pode. Mas não pode pensar só em você. Ela não ignorou seus sentimentos, só teve medo deles, dos que não conhecia. Porque você não permitiu. – Hansung balançou os ombros, olhando para o irmão. – Ela quis mostrar que confiava em você quando contou, mas ao invés de aceitar e conversar com ela, você preferiu procurar brigar e a deixar nervosa e assustada quando ela só precisava de conforto e um colo para deitar.
Jungkook encarou suas mãos novamente, estalando os dedos rapidamente, balançando a cabeça sozinho. Sabia muito bem como era aquele sentimento, de ser deixado sozinho quando só precisava de alguém para dizer que estava tudo bem, quando só queria uma forma de se sentir bem e feliz, quando só pedia por uma palavra de afirmação e uma promessa de que tudo logo se encaixaria. Alguém para dizer que não estava sozinho.
Havia deixado Taehye justamente no momento em que a garota precisava de si, quando ela queria ouvir as doces palavras que ele poderia dizer, quando ela ficaria sozinha mesmo que estivesse acompanhada, quando se sentia negada e rejeitada. Havia deixado sua gatinha logo depois de prometer que ficariam juntos, que ficariam bem, que jamais faria nada para machucá-la, que nunca a deixaria sozinha. Jungkook a abandonou no momento mais importante daquele que seria o seu relacionamento.
Precisava voltar, precisava voltar para ela. Precisava de Taehye.
— Hyung, pode me deixar sozinho?
— Hm… – Hansung olhou em volta e concordou, um tanto confuso. – Depois você separa o que quiser e me dá o resto… eu vou… para o meu quarto. Se precisar…
— Não se preocupe, eu só… vou fazer umas pesquisas.
Hansung concordou e deixou o cômodo rapidamente, deixando Jungkook sozinho novamente, esperando que aquela reação tenha sido positiva depois de uma breve conversa.
Jungoo passou a mão nos frios já maiores e soltou um suspiro, correndo para frente do computador, começando a procurar algumas coisas, coisas que já havia escutado sobre o assunto “transexualidade” e “pessoas transgênero”.
“Transgênero o que é”
“O que é transexualidade”
“Como é feita a transição”
“O que é cirurgia de redesignação”
Bem, nem tudo fora sobre o assunto, mas havia tentado e dado o seu melhor. Jungkook passou horas na frente do computador, passou horas lendo artigos, relatos e vídeos sobre todas as pessoas que havia encontrado e poderia até discutir com alguém que não sabia do que se tratava. Mas o que Taehye acharia? Como falaria com a garota?
Por onde começar?
Clicando no primeiro vídeo que apareceu quando entrou em sua plataforma de vídeos, Jeon ficou um tanto assustado ao ler que a bela mulher que assistia falando, já havia sido um homem, pensando que talvez aquilo seria impossível. Analisando cada traço da youtuber, Jungoo passou a pensar em Taehye e como ela também jamais pareceu ter sido um homem ou algo do tipo, como em momento algum se questionou sobre aquele assunto e como ela se mostrava tão feminina e delicada. Isso foi o que a blogueira explicou, dizendo que era exatamente por aquele motivo que existia a transição e a opção de fazê-la por completo ou não, justamente por não se identificarem da forma que nasceram e o desconforto de “viver se escondendo de si mesmo”.
“A Hormonioterapia é um tratamento seguido por muitas pessoas transgênero para modificar seu corpo através do uso de hormônios, sejam eles femininos ou masculinos. O objetivo dessa terapia é nos deixar mais à vontade com nós mesmos, tanto física quanto psicologicamente. Também depende da visão e dos desejos de cada pessoa, e é fácil ver isso quando encontramos pessoas trans com e sem a realização de cirurgia, por vontade própria.”
“Para manter os efeitos causados pelos hormônios sexuais, é necessário que o tratamento seja levado pelo resto da vida. Porém, se a mulher trans fizer a remoção de seus testículos e o homem trans de seus ovários, a dose de hormônios pode ser reduzida depois da realização da cirurgia. Ainda assim, é importante que o tratamento seja feito durante toda a vida.”
Jungkook fez uma careta assustada, como se sentisse dor, e levou sua mão ao próprio membro, pensando em como seria doloroso e chato ficar sem seus próprios testículos. Porém, a careta se desfez e ele se mostrou preocupado, pensando se Taehye também havia feito a cirurgia, já que em momento algum quando estavam próximos demais, colados demais, sentiu algo diferente, como um volume. Talvez tivesse uma nova preocupação.
Rolando sua tela em busca de mais vídeos, o moreno encontrou algo que já havia sido citado, a tal “cirurgia de redesignação sexual”, feito pela mesma blogueira do vídeo anterior. Clicou no clipe e esse infelizmente não tinha legendas, então posicionou os fones de ouvido em sua cabeça, colocando o queixo sobre a mão, tentando não fugir do foco que buscava.
“A cirurgia de redesignação sexual é nada mais, nada menos, que remodelar os nossos órgãos sexuais. Ou seja, para os homens trans, o procedimento consiste na reconstrução do pênis no lugar da vagina, muitas vezes usando o tecido do próprio órgão sexual. Já para nós mulheres, é basicamente o contrário, é realizada a amputação do pênis e a construção da vagina. No meu caso, pelo meu “piupiu” ser consideravelmente grande, usando partes do meu tecido para a construção da minha “pepeca”. Ao contrário do que muitos pensam, não existem cicatrizes enormes ou marcas assustadoras, é uma vagina normal e funcional.”
“Mas, Hyori, por que essa cirurgia é tão importante? Simples, pessoal, porque é uma maneira de nos sentirmos ainda mais completos além dos hormônios. E é extremamente comum encontrarmos pessoas trans que se incomodam com seu órgão sexual e que desejam realizar ou já realizaram a cirurgia, afinal, não somos como drag queens, não é apenas uma maquiagem ou uma roupa, é quem nós somos por dentro e por fora. Necessitamos desse conforto, dessa liberdade.”
Jungkook deixou sua curiosidade falar mais alto e foi atrás de mais coisas sobre a youtuber Shin Hyori, vendo que na verdade aquele assunto não era o foco do canal da mulher, mas sim cuidados com a pele e moda. Ou seja, se Jeon não tivesse procurado justamente sobre pessoas transgêneros e sua transição, jamais saberia que a garota era uma mulher trans, na verdade, sequer passaria por sua cabeça algo do tipo. Hyori era perfeita. Parecia entender exatamente o objetivo de tudo aquilo e mesmo os vídeos mais antigos da blogueira, não mostravam nada sobre sua antiga identidade, nem mesmo pelo cabelo escuro e extremamente curto, ela era verdadeiramente perfeita como queria ser.
“Para finalizar mais um vídeo, gostaria de pedir que nunca, jamais, em hipótese alguma, pergunte à uma pessoa trans qual era o seu nome ou como ela era. Essa é uma identidade morta, ou melhor, inexistente. É uma escolha nossa dizer ou não, mostrar ou não. Somos nós e apenas nós, nunca houve outra pessoa.”
Fazia sentido. Taehye não era outra pessoa, não era alguém diferente, não era um homem. Taehye era Taehye e apenas isso. Não tinha nada para esconder ou guardar, não tinha o que omitir, não tinha nada para guardar, mas se sentiu confortável o suficiente e confiou o suficiente para acreditar que estava segura em contar e que faria melhor contando tudo que havia acontecido antes de chegar até si. Não era sua obrigação dizer que já viveu de outra forma, em outro corpo, como alguém diferente, mas se sentia melhor e mais confiante sabendo que Jeon sabia de tudo, não a verdade, porque não tinha nada para mentir.
Não tinha nada errado e se alguém estava errado, era ele. Taehye confiou em lhe contar algo que achava importante e válido para o laço que estava se formando entre os dois e Jeon apenas ignorou, pensando muito mais em si mesmo do que na garota. Pensando apenas sobre seus sentimentos e seus gostos, e não em como ela se sentia.
De fato, havia deixado a garota sozinha. Mais uma vez.
Jungoo se encostou na cadeira acolchoada e pôs-se a olhar para o teto, pensando sobre as coisas que Harry havia dito mais cedo, sobre pessoas como a irmã mais velha não serem incomuns e estarem mais próximas do que imaginava. Não havia parado para pensar naquilo, não antes de sexta-feira, não antes de ver de perto e saber como estava próximo.
Revirando suas memórias e seus pensamentos mais antigos, Jeon se lembrou de situações na escola, quando havia acabado de entrar na nova escola e ainda não tinha quem chamar de amigo, quando seus olhos conseguiam ser maiores e ainda mais redondos, quando a sua criança interior já tentava se esconder. Se lembrava de um grupo de garotos, que pareciam donos da escola ou algo do tipo, eram os verdadeiros valentões do ensino fundamental da Busan Tiger. Eram extremamente implicantes, porém, nunca chegaram a implicar consigo quando souberam que era novo e principalmente que era mais novo, apenas lhe deram um apavoro, para que entendesse “seu lugar”.
Sempre via aquele grupinho mexer com uma garota esquisitinha mas bonita e não entendia o porquê, só sabia que todos os dias ela ia embora chorando, com as roupas sempre sujas e o cabelo bagunçado, e eles sempre iam para a diretoria quando acontecia – todos os dias. Na época, não entendia o porquê, já que ela era legal com todo mundo e era muito, mas muito, mas muito bonita, a garota mais bonita que Jeon já havia visto em toda a sua vida. Por algum motivo, ela não usava o uniforme feminino todos os dias, mas o masculino sim, com seu blazer cheio de bottons e tênis cheios de glitter. Também não estava sempre com o cabelo arrumado como quando usava uniforme feminino, mas aquilo não era extremamente importante.
Por que aquela memória estava de volta agora? Por que precisava se lembrar?
“— Esses são Seokjin, Taehye e Harry. Eles já eram daqui, mas aconteceram algumas coisas… e precisaram ir embora por um tempo.”
“— Taehye passou por muita coisa, Goo, muita coisa pesada de verdade. Talvez um dia ela te conte, quando estiver à vontade, e você vai precisar entender.”
“— Seokjin me disse que estavam na Tailândia. Não explicou muito bem, mas aconteceu alguma coisa com a Tae e eles acharam que lá seria um lugar melhor, e de fato foi, pelo que ele disse. Ela ficou melhor, mais feliz. Não sei muito – Hobi dizia concentrado em algum jogo no meu computador, me deixando curioso por seja lá o que tenha acontecido com a minha gatinha. Eu lembraria de perguntar, algum dia.”
Jungkook abriu bem os olhos, ainda encarando o teto acima de si, parecendo ter uma visão ou algo do tipo, como se tudo a partir dali fizesse sentido.
— Kim Taehye. Minha Taehye.
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Uma semana depois
— Muito bem, muito bem! – Hwang aplaudia os atletas enquanto saíam da quadra, logo após o técnico do time rival pedir tempo novamente, já que estavam perdendo e queriam poupar tempo.
Os jogadores estavam exaustos, cheios de raiva e sentindo extrema pressão por parte de quem os assistia, visto que após o interescolar viria o intermunicipal e era importante para a Busan Tiger se manter no topo em todos os campeonatos. Era o último ano de seus melhores jogadores e aquilo os pressionava ainda mais, já que nem todos continuariam no esporte depois de concluir os estudos.
Além dos jogos, ainda haviam as provas que eram conhecidas por definir o futuro de cada um dos alunos da terceira série, provas que tinham resultados em porcentagem apenas no primeiro mês do ano e encaminhavam os melhores alunos para as melhores universidades, ou deixava claro que teriam de tentar novamente. Infelizmente, a porcentagem de alunos que ia direto para a faculdade após o ensino médio era baixa, mas a Coreia continuava sendo o maior exemplo de educação no mundo todo e aquela pressão colocava os estudantes em estado de comportamento automático e robótico, sempre realizando as mesmas tarefas sem cessar.
Estavam todos cansados. Não apenas fisicamente, mas seus psicológicos estavam extremamente abalados.
— Vou jogar a bola com tanta força naquele número sete. – Jungkook estalou o pescoço, encarando o técnico do time adversário. – Parece que não querem jogar para ganhar, estão fazendo para nos machucar.
— Então revidem, sutilmente, sem que ninguém note que estão atacando para machucar. – Hanyu ergueu as sobrancelhas, olhando com calma para cada jogador. – Escutem, nós estamos ganhando, este é o último set e eles não estão nada perto do nosso placar. Joguem com força, com toda a raiva que estão sentindo, descontem na bola e por favor acertem pelo menos um rosto ali. Mas lembrem-se que estamos ganhando.
Os garotos riram e concordaram, se levantando no momento em que escutaram o apito do juiz, focando apenas no jogo e em ganhar. Já estavam perto do fim, não demoraria muito mais para ganharem, a não ser que o rival alcançasse mais números no placar. Seria normal se alguns pontos subissem, os atletas estavam cansados e nem mesmo seus reservas estavam sustentando aquele peso todo.
Mas as classificações do campeonato os levariam para os municipais, ou seja, não poderiam deixar que nenhum adversário tivesse esperanças de uma vitória.
— Namjoon, vamos colocar você de volta no banco e entrar com o Mingyu novamente, tudo bem? – o treinador encarou os dois mais altos do time, sorrindo animado com todas as ideias em sua cabeça. – Jungkook, você irá levantar todas elas para o Mingyu, mesmo que Soobin e Hoseok se posicionem, mande todas para o Mingyu. Eu quero o melhor ataque de vocês, eu quero que vocês desçam com a bola e quero que bloqueiem com força se ela voltar. Não rodem até o primeiro ponto deles, okay? Deixem que tenham um gostinho e depois atirem para todos os lados.
— Pode colocar o Boo no meu lugar, senhor? Eu acho que estou passando um pouco mal. – Yoongi perguntou trêmulo, se apoiando em Hoseok. Suas bochechas estavam quentes e o garoto parecia estar pegando fogo internamente. – Não estou me sentindo muito bem…
O garoto fechou os olhos e em segundos, Yoongi se apoiava nos braços de Jeonghan Namjoon, sentindo o seu corpo cada segundo mais mole e sua cabeça cada segundo mais tonta. Sua visão ficou turva e seus olhos não paravam de tremer disparadamente, como se todo o sangue de seu corpo estivesse sendo sugado e os seus sentidos não estivessem tão aguçados como antes. Todos os músculos de seu corpo tremiam e sua respiração já não era mais a mesma, falha e seca, o ar que entrava por seus pulmões era como mil facadas os atingindo rapidamente. Estava fraco, estava cansado e não aguentaria mais muito tempo se esforçando tanto para ajudar seu time a alcançar os pontos necessários para a vitória.
Min já não estava muito bem desde a noite anterior, quando recebeu a ajuda de Jimin para conseguir dormir e passou horas rolando pela cama, indo e voltando do banheiro, sempre acompanhando de um copo de água. Não quis dizer nada na manhã do jogo porque seus time dependia de sua presença para salvar todas a s bolas que eram jogadas brutalmente para o fundo da quadra, não podia deixá-los na mão depois de todas as semanas treinando sem um reserva, sempre negando a ajuda de Seungkwan, este que agora deveria substituí-lo e também não se sentia preparado o suficiente para estar no lugar do melhor líbero do time.
Yoongi não gostava da ideia de ser substituído, mesmo que o jogo dependesse de sua boa forma para ótimas defesas, preferia estar sempre sozinho e sempre treinar para fazer tudo sozinho. O treinador Hwang entendia a euforia do garoto por estar no melhor time e ser um dos melhores, mas queria que seus atletas tivessem medo da substituição, pois apenas dessa forma entenderam o que fazer parte de um time e ser um time. Não podiam acreditar que seriam perfeitos para sempre e que sempre estariam ali e seriam os melhores para sempre, afinal, ninguém é insubstituível.
— Boo, consegue ficar no lugar do Yoon nesse último set?
— Eu não sei. Yoongi nunca quis trocar, isso é muito novo, sabe? Nunca joguei nenhum campeonato. – O garoto falou um tanto nervoso, olhando Yoongi com certo receio.
— Você consegue, Boo, vou estar aqui, olhando e apoiando. – Min sorriu, tentando ao máximo disfarçar sua dor e desconforto.
Seungkwan sorriu nervoso e se aproximou de Yoongi para cumprimentá-lo e agradecer pelo apoio. Não era normal que o Min aceitasse fazer qualquer troca enquanto algum jogo rolava, ainda mais sendo um campeonato tão importante para o futuro da Busan Tigers, mas o garoto realmente parecia exausto, como nunca havia sido visto antes.
Assim que o árbitro apitou, o jogo voltou a rolar e Yoongi se deitou na tela que separava a arquibancada do espaço da quadra e virou levemente o pescoço, olhando para Jimin há alguns degraus acima, acompanhado de Taehye e Harry. Sorriu um tanto cansado para o trio e virou sua cabeça novamente, agora olhando uma cena um tanto estranha e digna de desconfiança: Jeongyeon e Sunghyuk conversando, ou discutindo, próximos à porta de entrada do ginásio, quase escondidos, como se realmente não quisessem ser vistos. Jeon mostrava estar com medo, com os braços cruzados e os olhos bem abertos, abraçando seu próprio corpo e Sung desespero e raiva, parecia gritar e querer avançar na garota de alguma forma. Yoongi não se lembrava de vê-los tão próximos antes, nem de saber que o garoto havia voltado para a escola e, na verdade, já não via a garota pelos corredores há muito tempo. Mas o que era mais estranho e intrigante, era Sunghyuk estar parecendo um viciado em algum tipo de droga que não acessava o vício há muito tempo e seu rosto estar cheio de hematomas, manchas que pareciam extremamente recentes.
De qualquer forma, sabia que a garota não tinha bom gosto para homens, só não esperava aquilo e se lembraria de descobrir de qualquer coisa que estivesse sendo escondida.
O jogo acontecia muito rapidamente, era visível o desespero do time adversário. Não seria a primeira vez que perderiam para a Busan Tigers, na verdade, há anos a Yang Seo High já chegava a estar acostumada com a eliminação quando jogavam na Busan, por isso, todo ano entrava um técnico novo, diferente do anterior, e modificar todos os membros do time. Desde o início do jogo, Hwang sentia-se extremamente secado pelo técnico do time oposto, como se já se conhecessem e o adversário procurasse enxergar de perto as reações de Hanyu e, mesmo desviando, sempre voltava para o olhar louco, sem entender o porquê da perseguição. Não se lembrava do tal Seungho, nem mesmo de tê-lo visto em nenhuma das reuniões e conferências de vôlei, talvez fosse realmente muito novo como técnico.
As arquibancadas tremiam com os pulos da torcida e o público gritava desesperadamente. Os alunos da Busan Tigers nunca haviam presenciado um jogo tão acirrado como aquele. Nenhuma bola passava pelo bloqueio de Namjoon e Mingyu e os ataques de Gyu pareciam bombas atômicas, todas as bolas eram extremamente fortes e pareciam querer estourar quando o líbero adversário as salvava, mesmo quando achavam não ter chances de ser salva. O mesmo acontecia com a Yang Seo, que atacava com fervor e levava Seungkwan à loucura quando nem mesmo Hoseok e Soobin conseguiam retorná-las para o outro lado da rede, como se não soubessem jogar, chegava a ser cansativa a forma como jogavam, como ping-pong ou algo do tipo e a própria bola parecia não querer tocar o chão da quadra. Independente de que fosse o ganhador, aquele seria um jogo lembrado como épico, indiscutivelmente inesquecível e de fato histórico, afinal há anos a Yang Seo não era vista como um adversário forte como agora, na verdade, sequer chegava a jogar tanto tempo com o time da Busan Tiger. Porém, pelo menos agora, tinha algo diferente com aqueles jogadores, algo fora do normal, que talvez não devesse ser usado em nenhum campeonato, ainda mais por adolescentes.
Yoongi observou de longe quando mais uma vez o técnico adversário pediu um tempo e ambos os times se retiraram da quadra, agora poderia opinar sobre o jogo e talvez jogar uma pilhazinha. Hwang se aproximou do Min de forma desconfiada e sorriu nervoso, antes dos atletas se aproximarem.
— Pode aproveitar que está repousando e me ajudar com uma pulga? – o treinador perguntou incerto, vendo o branquelo concordar e abaixar a cabeça para escutar. – Descobre quem é esse tal de Seungho? Do início ao fim.
Yoongi concordou e sorriu, voltando sua atenção para os colegas de time, que esperavam um xingo ou conselho de Hwang.
— Último set, mais um ponto e nós vencemos, não deixem que eles empatem. Jeon, você vai sacar, com ódio, o mesmo que você usa nos treinos, eu quero ele aqui. Soobin sai e o Hyungwon entra. Eu quero um ataque inesperado e um bloqueio resistente. Jungkook você vai levantar todas para o Chae, mas vai direcioná-las para o Namjoon. Mingyu você também sai, vamos entrar com o Jeonghan novamente, posição original de cada um, mas sem o Yoongi e o Soobin. – Hwang olhou em volta e notou o técnico oposto observando com um olhar cheio de curiosidade e maldade. – Foda-se! Eu quero todos na formação de perigo e quem vai atacar é o Jungoo, de frente, sem deixar óbvio o seu objetivo. Hoseok saca.
— Mas e o central da Yang Seo, senhor? Ele está pegando todas, até as do Hoseok. – Jeon perguntou, preocupado, como capitão da equipe. – Não estão jogando para ganhar, mas para machucar. os joelhos do Boo estão esfolados, mesmo com a joelheira! E aquele número sete ‘tá parecendo um vampiro, com sede de sangue!
— Joga nele, ué. – foi Yoongi quem falou, chamando a atenção dos colegas. – Escutem, aquele central só tem marra, porque é o único que não saiu com esse novo treinador, então está confiante demais. E o oposto, o sete, só tem tamanho. Vocês estão esquecendo que acima da força, está a técnica e estão jogando a bola praticamente na mão deles. – o Min disse sincero e apontou para os jogadores do outro time. – Ataquem bem em cima da rede, entre o central e o levantador e, no mesmo segundo, corram para o bloqueio. Se aquela bola não bater no chão com força, eu não me chamo Yoongi.
Os colegas se entreolharam e ergueram os ombros, fazendo seu típico grito de guerra antes de voltarem para o jogo.
— Hay, Ho! Busan Tigers, go!
Hoseok respirou fundo e começou a lançar a bola para cima, esperando que o árbitro permitisse que o saque fosse realizado, sentindo todo o seu corpo arrepiar com a torcida que gritava seu nome e esperava por um ataque definitivo. Jung curvou-se levemente e começou a bater a bola Mikasa contra o chão, sentindo as pontas dos dedos tocarem o objeto com delicadeza, apenas ensaiando para quando estivesse pronto para sacar e lançar a bola que esperava ser a última.
Jungkook observava o melhor amigo distante, em sua posição, quase sentindo o mesmo nervosismo do Jung e seu medo de errar e colocar em jogo a vitória e o passe livre para os jogos intermunicipais. Jeon moveu alguns dedos das mãos e encarou o resto do time, enviando os sinais de posicionamento e de ataques que seriam feitos, tentando aliviar o peso que Hoseok sentia por medo de errar, mostrando que todos ali estavam jogando e confiando em sua força.
Jeon sorriu e fez um “OK” com as mãos, voltando para sua posição de preparação. Seus olhos estavam focados no chão da quadra, porém, por alguns segundos, virou seu pescoço na direção da arquibancada que sua torcida se encontrava, procurando rapidamente por alguém específico, contendo seu sorriso alegre quando olhos dourados se fixaram nos seus, sentindo-se feliz e quente por ver o sorriso quadrado que era capaz de erguer até mesmo os pelos mais escondidos de seu corpo. Certos fios dourados já estavam compridos e se tornavam capazes de serem separados e organizados em um penteado que com toda certeza não fora combinado com o time de torcida, cabelos enfeitados com laços cor-de-rosa que até escondiam as últimas mechas da mesma cor, como se apenas eles estivessem ali. Jungoo esperava que os lábios rosados, muito provavelmente hidratados com um gloss de morango, jamais parassem de sorrir e que em algum momento o motivo fosse ele, mas também que pudessem se encontrar novamente no melhor beijo que poderia ganhar – ou roubar – de alguém.
Como esperado, a garota usava o uniforme do cheer e carregava o mesmo número que o seu nas costas, junto de seu sobrenome e alguns pequenos detalhes em glitter. Como se fosse a primeira vez que a via vestida daquela maneira, torcendo por seu nome, vibrando por sua vitória, Jeon sentiu todo o seu interior tremer e uma agonia gigantesca tomou seu corpo, cheio de saudade.
Em algum momento, pôde sentir, de alguma maneira, o aroma doce do perfume de morangos que a garota costumava usar e reaplicar pelo menos três vezes no dia. Suas narinas inflaram com aquela sensação, de que a garota estava ao seu lado e não distante da maneira que via, por segundos sentiu o calor que o abraço alheio carregava e todo o conforto que sentia todas as vezes que se aconchegava naquele colo.
Não poderia dizer e ter certeza de que a garota sentia o mesmo e, na realidade, compreenderia se o sentimento de antes se tornasse negativo. Jeon não estava exatamente certo de como se sentia em relação à revelação inesperada de Taehye, mas sabia que até mesmo ela precisava de um certo tempo, afinal sequer olhava para o garoto quando compartilhavam as mesmas aulas. Aulas que antes sentariam em dupla, em apenas uma semana, se tornaram completos estranhos em classe.
No fundo e no raso, Jungoo desejava saber tudo que ela quisesse lhe dizer e deixar de esconder.
Taehye não estava muito distante com seus sentimentos, na verdade, sentia tanta falta do garoto quanto poderia descrever. Não sabia como ainda sustentava estar tão longe daquele afeto e se perguntava todos os dias até quando aquilo duraria, quanto tempo aguentaria fingir que estava tudo bem e que na verdade estavam tão felizes quanto antes daquela fria e escura sexta-feira. Mas não poderia fazer nada, não quando o próprio Jeon havia pedido “um tempo para pensar”.
Sentia falta do garoto implorando por alguns beijos em seu horário de almoço no trabalho e fazendo questão de esperar até que o expediente acabasse e perdessem ir embora juntos ou para que ele a acompanhasse até as aulas de violino, como já havia se tornado rotina.
Há uma semana inteira Taehye dormia mal e acordava mais tarde que o normal, se perguntando se o garoto já estava disposto a acompanhá-la até a escola ou se estaria esperando por ela quando chegasse lá. Porém, embora estivesse um caos, fazia questão de procurar coisas boas em tudo tempo que passava sozinha, apreciando a si mesma.
— Vocês já conversaram, Hye? – Jimin perguntou curioso, olhando para a melhor amiga que tentava não encarar Jungkook na quadra, falhando miseravelmente. – Ele parece bem.
Tae sorriu confusa, pensando no que deveria falar, sem parecer triste como realmente se sentia.
— Eu espero que ele esteja tão bem quanto eu. Sabe que não estou chateada e muito menos magoada, só estou fazendo o que ele me pediu.
— Mas é ele o errado aqui, Tae-ah! Ele disse tudo como se fosse sobre ele e não sobre você, e ainda foi embora, te deixou sozinha, falando que te ama! – Park descontou sua raiva na pipoca que comia. – Quem ele pensa que?!
— Jimin, eu não vou discutir com você de novo. Ele não está cem por cento errado e eu não estou cem por cento certa. Quando ele estiver disposto a conversar comigo, eu vou aceitar e pronto, não vou atrás de ninguém.
Park bufou e encarou Harry, vendo o garoto erguer os ombros, como se concordasse e entendesse a irmã.
Quando voltaram a atenção para o jogo, era Hobi quem se preparava para sacar, claramente nervoso.
Hoseok sentiu um arrepio correr por sua espinha, como um forte choque elétrico, ao ouvir o árbitro apitar e permitir seu saque. Eram apenas 8 segundos que o ponteiro precisava dividir entre o saque e a preparação, porém, Jung pulou a preparação e lançou a bola, dando alguns passos antes de saltar e bater contra a Mikasa, sentindo o calor se instalar na palma da mão e a adrenalina de correr e se posicionar antes que o outro time tivesse o controle da bola. A recepção da Yang Seo foi perfeita e a bola foi rapidamente passada para o levantador adversário, que passou para o central e este mesmo atacou contra a Busan Tigers.
Seungkwan se jogou com os joelhos no chão e fez com que a bola voltasse para o alto antes de tocar o chão, evitando o ponto que seria marcado pela escola adversária, sentindo grande alívio quando Yeonjun a “levantou”, mas se desesperou novamente quando Hyungwon atacou para o outro lado da rede, passando por cima das instruções e Hanyu. Olhou para o treinador do lado de fora da quadra e balançou as mãos, pedindo calma para Hwang quando viram a bola cair para fora do campo, indicando pontuação e empate com o outro time.
Na linha de frente, Jungoo sentia o suor escorrer freneticamente em seu rosto e tudo o que desejava era que aquele jogo acabasse logo e pudesse finalmente se jogar no chão, exausto. Observou Hyungwon pedir desculpas um pouco mais atrás e sorriu, observando quando o ponteiro do time adversário sacou, respirando fundo quando Jeonghan recebeu a bola perfeitamente, dando o alerta para o capitão se posicionar e foi o que Jeon fez. Pressionou seus pés contra o chão da quadra e pulou o mais alto que pode, depositando toda a sua força no “tapa” que deu na bola que Yeonjun levantou, marcando o ponto de desempate entre os times. Gritou alegre juntamente a torcida, batendo palmas junto dos colegas de time, voltando a sua posição inicial.
A torcida vibrava mais que nunca agora, todos da escola e torcedores de fora gritavam como loucos, torciam não apenas pela vitória da escola, mas também pela conquista que seria jogar contra times maiores, e provar que não estavam ali apenas para dizer que a escola tinha um rendimento bem com esportes e lucrar em cima disso, ou apenas para que os alunos tivessem uma maneira de garantir notas maiores e créditos em certas matérias, mas sim que nutriam paixão pelo esporte e pelo time que há anos levava a cidade de Busan aos maiores rankings e o orgulho que carregavam sempre que tinham a oportunidade de falar sobre a escola e seu time tão querido e respeitado. Não era apenas um troféu ou uma medalha, mas uma prova do amor e da fraternidade de uma família.
Escutar os gritos, as batidas e os pulos contra a madeira da arquibancada e as palmas a cada ponto bem sucedido, ver os abraços que eram compartilhados e os sorrisos que se formavam em cada rosto e cada lágrima que era derramada pelos torcedores mais velhos, a emoção de fazer parte de algo maior que todos ali presentes e ver e sentir que o futuro do time estava seguro nas mãos de apenas dezoito jovens adolescentes.
Foi através de todos aqueles sentimentos e sensações, que Jungkook pode se erguer mais uma vez e sentir que estava tudo bem quando sua não se chocou contra a bola com suas últimas forças e a fez descer rapidamente e tocar o chão do campo adversário com força, marcando o último ponto, o tão esperado ponto da vitória. A Busan Tigers foi campeã mais uma vez.
Jungkook sorriu extremamente feliz e gritou desesperadamente quando olhou para o telão dos placares, correndo para se juntar aos colegas em um abraço coletivo por mais uma vitória. Os garotos gritavam o hino da Coréia do Sul e pulavam como idiotas, felizes e orgulhosos demais para pensarem em qualquer tipo de medalha, apenas aproveitavam suas presenças e a jovem vontade de se jogarem e rolarem por toda aquela quadra, a disponibilidade de comemorar da melhor forma que poderiam: palavras de agradecimento, sorrisos e abraços fortes que poderiam durar uma vida inteira.
Hanyu se juntou aos garotos no braço e tentou esconder suas lágrimas nos ombros alheios, orgulhoso de todo o seu esforço e de seus meninos por mais uma conquista e mais lugares para serem ocupados com os mais diversos títulos gigantes. Durante toda a sua vida como técnico e treinador, jamais havia tido um time tão esforçado e dedicado quanto aquele que Jeon liderava com maestria, tão faminto por vitória quanto Namjoon e Mingyu depois de algumas horas de trabalho pesado nos treinos. Hwang não mentiria se lhe perguntassem qual era o seu melhor time, mesmo porque, apesar do sobrenome Jeon sempre ter dominado os times já formados por si, sua desistência era comum e esperada, por isso, Jungkook surpreendeu ao continuar no time titular quando chegou ao ensino médio. Hwang se orgulhava de tudo aquilo e desejava ver de perto a evolução de cada um de seus garotos.
— A Comissão de Voleibol de Busan parabeniza o time Busan Tigers pela vitória e deseja que esta seja uma nova fase incrível para o time! – um dos árbitros responsáveis pela contagem chamou a atenção com sua voz nos alto falantes. – A seguir, será realizada a entrega das medalhas e do troféu. Parabéns!
Jungkook deu alguns tapas nas costas dos colegas e foi o primeiro a se afastar, batendo palmas com um grande sorriso em seu rosto. Seus olhos se direcionaram para a arquibancada, à procura de sua família, soltando uma risada alta ao ver Junghan pulando com dois algodões doces nas mãos, andando animado em direção a grade que os separava, se apoiando no metal trançado.
— Hanie! – chamou pelo irmão mais novo, balançando as mãos quando o irmão olhou.
Junghan se apressou em entregar os doces para os pais e segurou a mão de Sunghan para que o irmão mais velho o levasse até onde Jungoo estava, gritando loucamente o nome do irmão, parecendo muito mais feliz que o próprio, como se ele mesmo tivesse jogado.
— Hyung, hyung! Você ganhou, hyung! – Junghan falava alto e saltitante, procurando um jeito de entrar na quadra para abraçar o irmão.
— Eu ganhei, Hanie! – Jungkook deu risada, indo até o portão que já estava aberto, pegando o irmão mais novo no colo, sentindo grande alegria ao receber um abraço apertado à maneira do garotinho. – Já que eu ganhei, mereço todos os seus legos do Batman e do Homem de Ferro.
Junghan pareceu pensar por alguns segundos, olhando para os olhos brilhantes do irmão, vendo como ele erguia as sobrancelhas, como uma barganha.
— Mas só um pouquinho, Junie, só um pouquinho. Por que é meu, né?
Jungkook balançou a cabeça e riu, começando a encher o irmão de beijos e cheiros, espalhando seu suor pelo garoto, rindo quando ele tentava se afastar, falhando em todas as vezes. O moreno afastou seu rosto do pequeno e olhou para o irmão mais velho, sorrindo Alegre como Sunghan nunca havia visto, pelo menos, não depois de se afastarem. Jeon se aproximou e deixou o irmão mais velho confuso ao abraçá-lo, juntamente ao pequeno que chegou a sumir entre os dois maiores.
— Obrigado por estar aqui, hyung. É importante para mim.
— Parabéns, Kook. Você está carregando o legado da família, ao menos um, não é? – Sunghan sorriu sem graça, erguendo as sobrancelhas.
— Eu também já quis desistir, hyung, você não é a ovelha negra só por não ter feito o que queriam que fizesse. Na verdade, foi o único que teve coragem de fazer, tenho orgulho de você por isso. Olhando para o papai, eu jamais conseguiria. Sou muito medroso. – Jeon ergueu os ombros, soltando Junghan quando o irmão balançou as pernas, sem prestar muita atenção para onde o garoto havia ido.
— Não tem que fazer tudo isso por ele, Kook, só por você. Eu sei que é difícil e eu sei que todas as nossas brigas também te motivam a desistência, mas se gosta do que faz e fica feliz, não deveria parar. – o mais alto começou a andar, olhando profundamente nos olhos do irmão mais novo. – Diferente do que pensa, você não é fraco. Tem talento e pode chegar muito longe e muito alto se quiser, mas faça por você.
— Eu gosto muito de tudo isso, hyung, do time. É como a minha segunda família, eu me sinto em casa jogando com eles. – o garoto olhou para o time sentado no chão da quadra, rindo como se fosse o último dia de suas vidas, felizes como nunca estiveram ao jogar. – Talvez um dia eu pare… para descansar. Só talvez.
Os dois irmãos sorriram e continuaram andando, agora procurando por Junghan e sua boquinha de matraca.
O menino poderia ter ido até os amigos do irmão mais velho para brincar como sempre fazia na hora de ir embora da escola, ou brincar com as bolas de vôlei que Hanyu sempre liberava após o fim dos jogos, mas preferiu chamar a atenção de outra pessoa, alguém que não via há alguns dias e talvez por isso fosse mais atraente. De qualquer forma, Han estava sorrindo bastante enquanto conversava com a garota alta de cabelos loiros e olhos dourados, parecia ter guardado muitas coisas para contá-la quando a visse, então mostrava apreciar aquele momento. Estavam se olhando na mesma altura e aquilo era ainda mais divertido no olhar do menino, que só faltava pular em cima da loira enquanto falavam.
Jungoo não gostaria de interromper aquele momento por nada no mundo, não enquanto pudesse vê-la sorrir como sorria, não enquanto observava a forma delicada e meiga que ela se movimentava e gesticulava, não enquanto pudesse sentir o aroma doce e de alguma forma rosado que ela tinha, não enquanto ela demonstrasse alegria e felicidade. Sabia muito bem como era gostosa a sensação de tocar os lábios da menina, por isso ficaria horas ouvindo ela falar e vendo seus lábios se tocarem tão perfeitamente quanto se tocavam, e testemunharia cada segundo que a língua da garota se mostrasse para umedecer os lábios quando estes já estivessem secos de tanto movimento e fala. Mas principalmente, daria tudo para sentir como sua língua se movia contra a sua e a forma que pareciam dançar quando se tocavam, como seus lábios se encaixavam nos beijos mais quentes e lentos que já haviam dado. Como pareciam perfeitos juntos.
A urgência de abraçá-la e fazê-la sua se fez presente muito rápido, como se apenas estar frente a frente de Taehye fosse suficiente para fazer com que seus desejos se revelassem, como se fossem muito mais fortes que sua própria vontade, como se seu corpo e sua carne falassem mais alto que seu cérebro.
Teria ficado mais tempo encarando a garota como um stalker, mas outro árbitro chamou pelos dois times jogadores, fazendo com que as atenções fossem divididas. Pela primeira vez depois de algum tempo, Jungoo pode sentir novamente a sensação de ter os olhos redondos, dourados e brilhantes, encarando os seus, quase como na primeira vez em que se viram, como desconhecidos.
Se o tal do imprinting fosse real como nos livros de Crepúsculo, Jeon com certeza teria um naquele exato momento, com toda a sua vida resumindo-se a uma pessoa apenas, como se toda a sua existência estivesse marcada por toda a eternidade pela presença e pelo amor de apenas uma pessoa. Como se estivessem destinados a ser e estar.
Foi Tae quem desfez aquele contato, quebrando o fio que juntava os dois novamente, sentindo todos os pelos de seu corpo se arrepiarem de uma vez só, todos juntos no mesmo segundo. Kim queria Jeon, precisava de Jeon. E teria assim que fosse possível.
— Eu preciso ir, Hanie. – a loirinha sorriu, se levantando enquanto ainda segurava as mãozinhas do garotinho.
— Mas você promete que vai brincar de Lego comigo na minha casa, Tata? – o brilho nos olhos do baixinho era como uma tortura ao se pensar em uma recusa, era como olhar fundo nos olhos de seu irmão mais velho.
A loira olhou para Jungkook mais uma vez e sorriu desconcertada, piscando algumas vezes antes de olhar para Junghan novamente.
— E-eu prometo, Hanie. E uma promessa não pode ser descumprida. – ela esticou seu mindinho, o enlaçando com o dedinho pequeno e magrelo do jovem Jeon.
— Obrigada, Tata!
Taehye observou o baixinho se afastar e correr para os braços de Sunghan, sorrindo como criança ao lembrar de sua relação com Harry quando o irmão era pequeno como o Jeon e ainda cabia em seu colo, mesmo que fosse pesadinho. Viu os dois irmãos se afastarem e se levantou lentamente, acompanhando-os com o olhar, tentando fugir do olhar penetrante e insustentável. Tinha medo de olhar demais e acabar nos braços do moreno, sem que ele quisesse.
Para evitar sentir mais dor e desconforto com a rejeição do mais velho, a Kim se virou rapidamente antes que eles pudessem se encarar novamente, pensando em sair correndo e desaparecer de sua visão, porém, Jungkook era sempre muito mais rápido, então não demorou muito para sentir a mão grande e quente tocando seu braço para impedir sua fuga. Sentir seu toque era como ter um infarto, não sabia o que esperar, seus batimentos se aceleravam muito rápido e logo diminuiam novamente, sua pressão subia e descia e ela ainda não entendia como havia sobrevivido a todas as vezes que se tocavam.
Mas ele estava ali e ela sempre estaria disposta a sentir.
— O-oi, Tae-ah.
A voz de Jungkook era capaz de realizar tantas coisas e fazê-la sentir tantas coisas, dos pés à cabeça, da pontinha do pé até seu fio mais rebelde. Taehye se entregaria com apenas algumas palavras, apenas um pedido seria capaz de realizações grandes, apenas alguns minutos o ouvindo falar, qualquer coisa, seriam suficientes para fazer um estrago, independente de onde estivessem.
Se perguntava o porquê de sentir tanta falta de seu corpo. Era claro que sentia saudade de sua presença, das horas que passavam conversando sobre as coisas que agradavam os dois, das vezes que ele tentava roubar um beijinho ou outro, de todo o tempo que passavam juntos em silêncio, cada um fazendo alguma coisa, aproveitando a presença um do outro. Porém, naquele momento, Taehye só queria uma coisa: sentir e tocar.
— E-eu não quero te incomodar. – finalmente prestou atenção em sua fala, tentando afastar-se de todos aqueles pensamentos sujos que tinha.
— Oi, Jungoo… Jungkook. – tentou segurar seu sorriso, puxando o ar pelo nariz com força, apenas para sentir o cheiro do garoto. Era incrível como, mesmo suado, ainda possuía um aroma amadeirado e forte. – Eu espero não te incomodar também.
Jeon tombou a cabeça para o lado, deixando que seus cabelos longos cobrissem seus olhos e de alguma forma escondessem seu enorme sorriso de coelho. Era automático sentir-se feliz ao lado da Kim.
— Você nunca incomoda, Tae. Eu não menti sobre o que te disse naquele dia, eu jamais mentiria sobre nada com você. – sentiu seu peito apertar, como se uma faca estivesse cravada em seu pulmão e sua respiração se desviasse. – Também sei que você jamais mentiria para mim, como nunca fez com ninguém.
Uma sensação de conforto tomou conta do corpo de Taehye e toda a tensão foi substituída por relaxamento e satisfação, tanta que até poderia se deitar no chão e ali mesmo ficar. Sentia-se leve, mas seu estômago se embrulhava, como se milhares de borboletas quisessem pular para fora dali para sentir o mesmo que a garota.
Tae estava finalmente sentindo-se adorável.
— Acha que nós podemos conversar? – o moreno soltou o braço da loirinha, levando a mão para a nuca, um tanto confuso com o que fazia. – Quando você quiser.
— Claro! Nós… Nós podemos sim, Jun.
Taehye sorriu, sua loirinha finalmente havia deixado um sorriso escapar e para si, por si.
Finalmente!
—Tudo bem, e-eu… e-eu vou…
— Taehye! – Jeon foi interrompido por Hyejin, que chamava a garota para um canto da quadra, provavelmente para se prepararem para a performance pós-jogo.
A Kim balançou as mãos e voltou a olhar para o moreno, sorrindo mais uma vez, agora com os lábios fechados, quase explodindo de ansiedade.
— Quando quiser, sabe onde me encontrar. – ela ergueu os ombros, se aproximando do garoto lentamente e, sem ter muita certeza se o que fazia era certo, depositou um beijo rápido em sua bochecha. – Eu preciso ir.
Confuso, Jungkook apenas concordou balançando a cabeça, vendo a garota se afastar, um tanto perdido por tudo que havia acontecido até ali.
— Hey, Jungkook! – Hoseok se aproximou correndo, mexendo os ombros do capitão do time. – Vamos, nós já vamos receber as medalhas e o troféu!
Jeon sorriu e concordou, acompanhando o melhor amigo que abraçava seus ombros, vez ou outra olhando para trás para encarar a loirinha uma última vez. Sentia saudade de tê-la ao seu lado e assim estivessem juntos novamente, faria questão de deixá-la quente e confortável no mundinho que construíram juntos e onde juntos deveriam ficar. Onde ficariam para sempre.
Para sempre e sempre.
Obrigada por ler
Oi, nenéns! Quanto tempo 🥺
O que acharam desse retorno? Como acham que será a conversa dos Junhye?
Não se esqueçam de usar a tag #NothingislikeHer lá no X (ou Twitter), eu to sempre de olho lá.
Também sigam os personagens e a autora lá, @jjungkookher e @ktaehyeher para os Taekook e @ggukksdaisy para a autora!
Amo vocês, nenéns! Se cuidem, até mais <3
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