capítulo 05.
𝗉𝖺𝗅𝖺𝗏𝗋𝖺𝗌 𝗉𝗋𝗈𝖿𝖾𝗋𝗂𝖽𝖺𝗌 𝗉𝗈𝗋 𝖺𝗉𝖺𝗂𝗑𝗈𝗇𝖺𝖽𝗈𝗌
𝗉𝗋𝗈𝗆𝖾𝗌𝗌𝖺𝗌 𝗉𝗋𝗈𝖿𝗎𝗇𝖽𝖺𝗌 𝖼𝗈𝗆𝗈 𝗈 𝗈𝖼𝖾𝖺𝗇𝗈
𝘮𝘢𝘴 𝘯𝘶𝘯𝘤𝘢 𝘴𝘢̃𝘰 𝘮𝘢𝘯𝘵𝘪𝘥𝘢𝘴
. ˚ ⚘ CAPÍTULO 05
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Um noivado importante
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Agosto, 1975.
A casa dos Malfoy, erguida em mármore branco e sombras imponentes, parecia repousar em um eterno estado de penumbra, como se o tempo ali houvesse parado. Durante os verões, os dias ensolarados pareciam um boato distante; as altas janelas nunca deixavam a luz entrar por completo. Elowen Malfoy, agora com quinze anos, crescia como uma flor rara em meio àquela atmosfera. Era bela, delicada, mas marcada por uma melancolia que parecia enraizada em sua essência.
Seu quarto, no segundo andar da mansão, refletia seu espírito inquieto. As paredes eram de um cinza pálido, adornadas por tapeçarias antigas que contavam histórias de glórias familiares passadas. A cama, coberta por lençóis de linho branco e um dossel de veludo, parecia mais um altar do que um lugar para descansar. Em uma das estantes, livros de poetas trouxas dividiam espaço com tratados de magia ancestral ─ uma escolha peculiar para alguém criada sob os valores puristas de sua família.
Na penteadeira, um espelho oval com bordas prateadas refletia a imagem de Elowen. Seus cabelos louros, tão claros que pareciam capturar o luar, eram escovados em movimentos lentos e ritmados. Ela gostava de cuidar de seus cabelos, não por vaidade, mas pelo conforto quase ritualístico que o ato lhe proporcionava. Seus olhos, de um cinza límpido, encaravam o espelho com a mesma expressão de sempre: um misto de curiosidade e resignação. Elowen sabia, como sempre soubera, que seu destino era como as páginas de um livro já escrito.
A voz de sua mãe, Seraphine, ecoou pelo corredor, cortando o silêncio.
━━ Elowen, está pronta? Não me faça esperar! ━━ o tom era firme, mas sem paciência. Seraphine Malfoy raramente era indulgente com a filha. Para ela, Elowen era um mistério desconcertante, uma filha que fugia de todos os moldes. Ainda assim, havia algo em Elowen que Seraphine não conseguia ignorar: uma beleza trágica, quase intocada, que parecia deslocada no mundo frio e pragmático dos Malfoy.
━━ Estou descendo ━━ respondeu Elowen, colocando a escova de lado. Vestia um vestido de cetim prateado, simples, mas impecável, que contrastava com sua pele pálida e cabelos dourados. Ela sabia que não importava o quanto se arrumasse, nunca estaria à altura do padrão de perfeição estabelecido por sua mãe.
Enquanto descia as escadas de mármore, ouviu o eco dos passos de seu pai no hall de entrada. Abraham Malfoy, sempre imponente em sua postura e palavras, lançava ordens aos elfos domésticos sobre a carruagem que os levaria à casa dos Black. Ele mal olhou para Elowen quando ela se aproximou, mas isso não a incomodou. Abraham era como uma sombra na vida da filha: sempre presente, mas nunca verdadeiramente lá.
━━ Tente não parecer tão... impressionada ━━ Seraphine avisou à filha, enquanto adentravam a carruagem. ━━ Embora, isso seja melhor do que aparentar estar vagando em outra dimensão. Você me cansa, Elowen.
Elowen, que observava o caminho através da pequena janela à sua direita, suspirou fracamente, os dedos entrelaçado sobre o colo, então sorriu. Sorriu como se tivesse ouvido um elogio ─ embora houvesse um pingo de sarcasmo ali, algo tão sútil que alguém como seus pais nunca notariam.
Quando a carruagem enfim chegou à casa dos Black, onde viviam Cygnus e Druella Black e suas três ─ agora duas ─ filhas, Elowen sentiu um arrepio ao observar a mansão que se erguia como uma sentinela escura contra o céu da noite. Era um lugar imponente, repleto de segredos e histórias que pairavam no ar como uma tempestade prestes a explodir.
Assim que entraram no salão principal, foram recebidos por Druella Black, que saudou Seraphine com uma cordialidade forçada, e por Cygnus, que mal moveu os lábios ao dar boas-vindas a Abraham. Narcissa, em um vestido azul profundo, já estava ao lado de Lucius, seus dedos delicados repousando no braço do noivo.
━━ Elowen! ━━ chamou Lucius, com um sorriso que parecia forçado, mas familiar. Apesar de suas constantes críticas à prima mais jovem, Lucius sempre fora sua figura protetora, como um cão de guarda relutante.
━━ Você está linda, Elowen ━━ Narcissa saudou-a, mostrando um pequeno sorriso sincero. ━━ Como vai?
Elowen deu um suspiro profundo. ━━ Cansada de passar o verão trancafiada em casa como uma prisioneira. Escrevi tantas cartas que, se pudesse, poderia juntá-las e formar um calhamaço. Mamãe me fez aprender a bordar, o que, a início, deveria ser um passatempo. Mas me empolguei demais e mal dormi nas últimas noites, fazendo cachecóis, toucas e luvas para meus amigos. Talvez eu os presenteie com suéteres combinando em seu casamento. Suéteres verdes, com seus nomes no centro ━━ ela parou por um segundo para recuperar o fôlego. ━━ Quando tiverem seu primeiro filho, vou bordar um cobertor para ele, também. A propósito, como o bebê se chamará? Que tal Rufus? ━━ ela riu sozinha. ━━ Oh, não! Que nome ridículo! Narcissa provavelmente colocará algo requintado e que grite "sou um moleque mimado", como... não sei, Draco? Ah, sim! Este é perfeito.
Lucius e Narcissa se entreolharam, as expressões sérias, mas com um fundo de diversão em seus olhos. Por fim, Lucius virou-se para a prima, colocando a mão livre em seu ombro.
━━ Somos novos demais para um filho, você não acha, Elowen?
Ela tombou levemente a cabeça para o lado, sorrindo. ━━ Bem, não é para terem um filho que estão noivando tão cedo?
Narcissa abafou um risinho, escondendo o rosto vermelho no peito do noivo. Lucius sorriu para Elowen. Sorriu de verdade, como mal costumava fazer... talvez, apenas, com a própria Narcissa. Mas Elowen tinha essa coisa de falar sem filtros que o divertia ─ até, claro, que ela dissesse algo absurdo como "Sou amiga de James Potter, um traidor de sangue, e de Lily Evans, uma nascida-trouxa". Mas, naquele momento, nada disso importava.
Elowen seguiu suavemente pelo salão, acenando vez ou outra para alguns rostos conhecidos. Ali, no meio de tantos bruxos, ela passou os olhos pela figura assustadora de Bellatrix, que girava a varinha por entre os dedos, seus cabelos desgrenhados caindo pelos ombros. Ela parecia entediada, e deu um olhar breve e indiferente a Elowen, como se não a aprovasse, mas também não fizesse questão de, talvez, lançar uma das Maldições Imperdoáveis nela.
━━ Procurando por alguém, Malfoy? ━━ a voz de Rodolphus Lestrange, marido de Bellatrix, soou atrás de si, fazendo-a se assustar levemente.
Elowen voltou-se para ele com um sorriso contido, quase etéreo, mas seus olhos vagaram pelo salão, procurando rostos mais interessantes. No momento em que viu Sirius, recostado contra uma parede, com seu habitual ar de tédio e desafio, ela deixou Rodolphus para trás e seguiu adiante.
━━ Black! ━━ Elowen chamou, caminhando em sua direção com passos leves, quase flutuantes.
━━ Olha só quem está aqui ━━ respondeu Sirius, com um sorriso meio sarcástico, como se não tivesse a observado quase obsessivamente desde que a viu adentrar o salão. ━━ Ensaiando os sorrisos sem-graça dos noivos para imitá-los no dia de seu próprio noivado?
Elowen sorriu, as sobrancelhas se franzindo de leve. ━━ Meu noivado? ━━ repetiu quase que em um sussurrou desacreditado, o que era raro para ela. ━━
E quem iria querer noivar comigo?
Sirius ergueu uma sobrancelha, os lábios curvando-se em um sorriso travesso que parecia carregar toda a confiança do mundo. Ele inclinou-se ligeiramente para frente, as mãos nos bolsos do traje perfeitamente alinhado, como se estivesse prestes a revelar um grande segredo.
━━ Ora, Malfoy, a questão não é quem iria querer noivar com você ━━ começou ele, em um tom que só poderia ser descrito como descaradamente provocador. ━━ Mas quem seria digno ━━ seus olhos azuis cinzentos, tão brilhantes quanto os dela, pareciam estudá-la, como se buscassem uma reação.
Elowen deu um risinho abafado, balançando a cabeça como quem descarta uma ideia absurda. Era sempre assim com Sirius ─ ele tinha um talento especial para transformar qualquer conversa em algo teatral, como se fosse o protagonista de uma peça cuja plateia fosse o mundo.
━━ Você é tão dramático, Black ━━ respondeu ela, cruzando os braços enquanto olhava para ele com aquele brilho distante nos olhos. ━━ Eu, noiva? Não sei o que seria mais engraçado: alguém querer ou eu aceitar.
━━ E se fosse eu? ━━ Sirius retrucou sem perder tempo, inclinando-se um pouco mais. Seu tom era leve, mas havia algo ali, algo quase genuíno escondido sob a superfície da brincadeira.
Por um breve momento, Elowen ficou em silêncio, como se ponderasse a questão. Mas, como sempre, seu sorriso cresceu, iluminando seu rosto de uma maneira quase desarmante.
━━ Então acho que o mundo teria virado de cabeça para baixo ━━ disse ela, os olhos fixos nos dele, mas sem um traço de malícia ou entendimento profundo.
Sirius riu, mas havia um quê de frustração em sua risada. Era típico dela ─ Elowen nunca percebia, nunca parecia levar a sério suas provocações. Ou talvez percebesse e escolhesse ignorar, um pensamento que o irritava ainda mais.
━━ Você é impossível, Elowen Malfoy ━━ declarou ele, cruzando os braços e encostando-se novamente à parede, o olhar divertido, mas um tanto exasperado. ━━ Espero que saiba disso.
━━ Eu sei ━━ respondeu ela, simples e direta, antes de desviar o olhar para os demais convidados no salão.
Sirius a observou por mais alguns instantes, em silêncio. Havia algo em Elowen que ele nunca conseguia decifrar completamente, uma espécie de mistério que o desafiava, o intrigava. E, embora jamais admitisse, talvez fosse exatamente isso que o atraía para ela.
Enquanto o noivado prosseguia, as formalidades foram cumpridas com a precisão quase militar que era esperada de famílias como os Black e os Malfoy. Narcissa e Lucius estavam radiantes ─ ou tão radiantes quanto alguém podia estar sob o peso de tantas expectativas. As conversas ecoavam pelo salão, um mar de vozes e risos educados que mascaravam a tensão no ar.
Elowen, por sua vez, movia-se entre os convidados como uma sombra, flutuando de um grupo para outro, mas nunca realmente pertencendo a nenhum. Sua presença era notada, mas raramente reconhecida, como uma nota dissonante em uma melodia perfeitamente ensaiada.
Em um canto mais afastado do salão, Regulus Black, o irmão mais novo de Sirius, observava tudo com o olhar atento e reservado que era sua marca registrada. Quando os olhos de Elowen encontraram os dele, ele fez um leve aceno, quase imperceptível. Ela retribuiu com um sorriso pequeno, mas genuíno.
Regulus sempre parece tão sozinho, pensou ela, mas não se aproximou. Ela sabia que, mesmo se tentasse, ele provavelmente não a deixaria entrar.
Mais tarde, quando o jantar foi servido e os convidados se acomodaram ao redor da longa mesa de madeira escura, Elowen encontrou-se sentada ao lado de Sirius novamente. Era como se ele sempre encontrasse um jeito de estar por perto, como uma sombra teimosa.
━━ Aposto que você adoraria estar em qualquer lugar, menos aqui ━━ comentou Sirius, enquanto pegava uma taça de vinho que um elfo doméstico acabara de servir.
━━ Você não tem ideia ━━ respondeu Elowen, olhando para o prato à sua frente sem muito interesse.
━━ Talvez você devesse fugir ━━ sugeriu ele, casualmente, enquanto girava o vinho na taça. ━━ Quem sabe para um lugar onde não precisem de noivos, alianças e formalidades chatas como essa.
Elowen sorriu, mas seu sorriso era melancólico. ━━ Fugir para onde, Sirius? Você sabe, o mundo inteiro é cheio de lugares como esse.
Por um momento, Sirius não soube o que responder. Havia algo em sua voz, uma aceitação resignada que o incomodava profundamente. Ele odiava como ela parecia tão conformada, tão... ciente de que não havia escapatória.
Mas, como sempre, Elowen logo mudou o rumo da conversa, desviando sua atenção para algo trivial e aparentemente sem importância. E Sirius, frustrado mas fascinado, deixou-se levar pela corrente de palavras dela, como sempre fazia.
O jantar seguiu com a pompa e formalidade de sempre. A comida era refinada e farta, o vinho fluía como um rio interminável, e as conversas eram uma mistura de elogios velados e disputas silenciosas.
Narcissa e Lucius estavam no centro de tudo, como estrelas em um céu de ambição. Ela, impecável em sua postura, parecia perfeitamente à vontade no papel de noiva ideal. Ele, com seu sorriso calculado, representava o futuro patriarca dos Malfoy.
Os brindes vieram logo após o prato principal. Cygnus Black ergueu sua taça primeiro, pronunciando um discurso solene sobre a importância da união entre famílias nobres. Druella, ao lado dele, sorriu com orgulho contido.
Quando chegou a vez de Lucius, ele se levantou, com Narcissa segurando delicadamente seu braço.
━━ Hoje celebramos mais do que um noivado ━━ começou ele, com sua voz grave e autoritária. ━━ Celebramos o fortalecimento de nossos valores, de nossa linhagem, de tudo aquilo que faz de nós quem somos.
As palavras ecoaram pelo salão, sendo recebidas com murmúrios de aprovação. Mas Elowen, que estava sentada ao fundo da longa mesa, mal ouviu o restante. Sua mente divagava novamente, os olhos fixos no lustre de cristal acima, como se quisesse encontrar algo além das palavras vazias e do peso sufocante daquela noite.
No final da noite, quando os convidados começaram a se dispersar, Elowen subiu na carruagem de volta para casa com seus pais. O silêncio reinava entre eles, mas ela não se importava. Seus pensamentos estavam longe, vagando por terras desconhecidas, como sempre faziam.
E, enquanto olhava para a lua que brilhava intensamente no céu, Elowen não pôde deixar de se perguntar: até quando aquilo tudo duraria?
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