
Triste presente
Após aquele acontecimento inusitado na escola, eu e Okuyasu seguimos o dia como se nada tivesse acontecido.
- aonde vocês estavam? - Koichi questionava, nos olhando com um ar interrogativo.
- estávamos no ginásio... Hoje foi aula de educação física - digo deixando uma gota de suor escorrer de meu rosto - a propósito Koichi, soube que você e o Rohan brigaram, você tá bem? - pergunto mudando de assunto.
- ah sim... Brigamos, mas já fizemos as pazes - ele se explicava um pouco sem jeito.
- que bom, ficar de mal com o Rohan é complicado - Okuyasu adicionou - quando o Josuke brigou com ele da última vez os dois ficaram 2 meses sem se falar.
- ele é tão exagerado! Cara, não sei como você ainda é amigo dele - digo cruzando os braços.
Okuyasu dá um tapinha em minhas costas, rindo um pouco com Koichi.
- lá no fundo ele é uma boa pessoa, eu sei disso - o anão dizia com um brilho incomum em seus olhos.
Dou um sorriso de lado, sei que há algo rolando entre os dois, mas prefiro não comentar sobre isso.
- mas enfim, chega de falar do Rohan, vamos falar sobre vocês, como foi a aula? - Koichi questionava de forma ingênua.
- ah... Foi bem, nada fora do normal - digo com um pouco de nervosismo.
- sim... Muito normal, claro - Okuyasu também estava um tanto ansioso.
- fala sério, vocês acham que eu nasci ontem? Tá na cara que os dois estão mentindo - Koichi diz nos lançando um olhar penetrante, fazendo com que Okuyasu ficasse instável como uma panela de pressão.
De repente uma bela ideia surge na minha cabeça.
- tá, você nos pegou... Eu e o Okuyasu ficamos no vestiário por que fomos ver um- Okuyasu já muito sobrecarregado me interrompe.
- tudo bem!!! Nós estávamos transan-...!!! - tampo a boca de Okuyasu com força antes que ele pudesse terminar, já que estávamos no corredor da escola.
- .... - Koichi ficava incrédulo, sem saber o que dizer.
- Okuyasu seu idiota!! Pra quê isso?!! - o repreendo super envergonhado.
- eu não consegui Bro!! O olhar dele é penetrante demais!! - Okuyasu tampa o próprio rosto, começando a chorar de forma extravagante.
- vocês estão loucos?!! Por que fizeram isso?!! Poderiam ter sido pêgos!! - Koichi nos repreendia, mas se contendo para não chamar muita atenção.
- foi o Okuyasu que começou! - digo tentando tirar a culpa de minhas costas, mas acabou não adiantando muito.
- nunca mais façam isso, imagina se tivessem sido pêgos no flagra?? Vocês seriam expulsos!
- nós não vamos mais fazer isso... - Okuyasu abaixa a cabeça como se falasse com uma mãe.
- a merda já foi feita, não tem mais jeito, pelo menos tudo deu certo no final - digo puxando a orelha de Okuyasu - e você senhor Nijimura... Tem que aprender a controlar mais a sua língua!
- ai!! Porra Josuke! Isso dói! - ele me empurra, mas como eu sou mais alto aquilo acabou sendo inútil.
- vocês dois nunca vão aprender... - Koichi olhava para o chão decepcionado.
Eu e Okuyasu começamos a rir, por um momento eu senti um alívio, mas também me senti triste, pois aquele era o nosso último ano na escola.
Quando parei para repensar sobre todos os acontecimentos daquele ano, percebi que a minha vida é tão bizarra que dava pra fazer um mangá com ela.
Tivemos tantos momentos tristes... Mas tivemos inúmeros momentos felizes com amigos que vimos partir.
Lembrar disso me fez pensar em como eu devo aproveitar cada segundo da minha vida com as pessoas que eu amo.
Então sem aviso, eu abraço Okuyasu fortemente.
- hm...? - ele me fita confuso - o que houve bro?
- nada, não posso mais abraçar o meu namorado? - dou-lhe um sorriso doce, fazendo com que o moreno fizesse o mesmo para mim.
- ok, eu não tô muito afim de segurar vela hoje então eu vou indo - Koichi se despedia de nós dois, indo embora logo em seguida.
Okuyasu e eu fomos para casa juntos como sempre fizemos, então começamos a conversar no meio do caminho.
- Josuke... Você já parou pra pensar no que você quer fazer no futuro? - ele perguntava de repente, fazendo com que toda a minha atenção fosse voltada pra ele.
- acho que todo mundo já parou pra pensar sobre isso uma vez na vida Oku - digo andando ao lado dele - mas e você? Já sabe o que vai fazer?
- bom... Acho que eu quero ser cozinheiro como o Tonio...
- parece interessante... Vamos esperar pra ver no que isso vai dar - dou-lhe um sorriso tímido, sem revelar as minhas reais intenções.
Acho melhor não contar nada a ele... Não agora.
Chegamos na porta da casa de Okuyasu, então eu lhe dou um último beijo de despedida e ele entra com suas bochechas rosadas.
Respiro fundo e sorrio atoa, tudo estava dando tão certo, meu ano não podia ficar melhor.
Quando me virei para olhar a rua, percebi que o tempo passou tão rápido... Sinto meu coração apertar, e pensar que antigamente eu me trancava em casa pra jogar videogame... Eu estava perdendo tanta coisa aqui fora.
Espero que tudo continue do jeito que está...
Volto para casa admirando aquele radiante dia.
No dia seguinte...
•|Okuyasu On|•
Acordo em minha cama como sempre, tenho uma sensação muito estranha em meu peito, algo não está certo.
Levanto da cama para verificar a casa.
Meu pai estava no sofá com Stray Cat, ambos assistiam TV tranquilamente, nada parecia estar errado, mas algo me incomodava muito.
Resolvo ir tomar um banho para me acalmar, talvez eu apenas tenha sonhado com algo que não consigo me lembrar agora e isso esteja me perturbando.
Quando tirei minhas roupas senti um calafrio percorrer por todo o meu corpo, eu sinto que há algo de muito errado acontecendo, mas o que seria isso?
Calma Okuyasu... Isso deve ser apenas coisa da sua cabeça, melhor eu tomar logo esse banho e tenho que tomar cuidado pra não ficar maluco.
Fico embaixo do chuveiro, começando a me lavar.
Tento me acalmar me molhando um pouco, mas aquela sensação não né deixava em paz.
Então, me redendo àquela angústia, comecei a pensar sobre todos os meus amigos.
Koichi? Não, ele estava normal ontem.
Vamos lá Okuyasu... Use a sua cabeça pelo menos uma vez!
Josuke? Não, com certeza não, ele estava tão feliz on-
Uma imagem se passava em minha mente, como se fosse uma memória fragmentada.
Eu só pude ver Josuke de costas para mim, apenas isso.
- Josuke... O que você fez?! - desligo o chuveiro e me visto apressadamente.
Saio do banheiro e em seguida corro para a rua fechando a porta rapidamente e indo até a casa de Josuke.
Quando cheguei lá, fiquei espantado com o quê vi.
Havia uma ambulância e uma aglomeração de pessoas.
- eu sabia que tinha algo de errado... - passo pelas pessoas com pressa, entrando na casa de Josuke preocupado.
Quando entrei, me deparei com uma cena melancólica.
Josuke estava sentado no sofá chorando bastante, sendo consolado por Koichi, que o fitava com pesar em seus olhos.
Me aproximo deles sem entender nada.
- Josuke...? - pergunto olhando para o mesmo, que me olhou com lágrimas em seus olhos - o que aconteceu? Que tumulto é esse lá fora? Por que você está chorando?
- ... - Josuke não me responde, apenas se levanta e me abraça forte.
Sinto suas lágrimas escorrem pelo meu ombro, então eu retribuo seu abraço, o envolvendo em meus braços.
- Oku... Eu... Eu... - ele dizia entre o choro, soluçando bastante.
- calma Josuke! Eu não tô entendendo nada! - Josuke encerra o abraço, me olhando com os olhos cheios de lágrimas.
Koichi ia até nós dois.
- a Tomoko... Ela... Se foi.
Arregalo meus olhos, paralisando com a notícia.
Josuke me abraça novamente, mas eu não consigo retribuir.
Eu não conseguia me mexer, eu estava tendo aquela sensação novamente.
Por um momento, a imagem de Keicho se passava pela minha cabeça, aquilo estava acontecendo de novo...
Eu estava perdendo alguém de novo...
Lágrimas começavam a escorrer por meu rosto.
Abraço Josuke como nunca havia o abraçado antes, sendo eu que chorava em seu ombro dessa vez.
Koichi não se aguentou e caiu em lágrimas conosco, deixando a casa de modo que eu nunca tinha visto antes.
Aquele feliz e tranquilo ambiente era tomado pela tristeza e melancolia, sem a Tomoko ali nada era como antes.
Depois de um tempo todos foram embora, apenas eu, Josuke e Koichi ficamos na casa.
Josuke olhava para o chão melancólico sem dizer uma palavra.
Eu apenas fiquei ao seu lado, o observando tristemente.
- Josuke... Eu... Sinto muito... - digo colocando minha mão sobre seu ombro.
- eu não entendo... Ela estava tão feliz... Ela estava tão bem... - Josuke olhava para mim com seus olhos perdidos.
- a morte não avisa quando vai chegar, é assim mesmo Josuke - Koichi dizia - foi uma perda para toda a cidade, ela era uma pessoa muito querida, todos nós amávamos ela.
- obrigado Koichi... Eu sei disso, ela fará muita falta - Josuke enxugava as lágrimas, se levantando.
- quando será o enterro?
- amanhã... - Josuke havia perdido todo o brilho em seus olhos, falando de forma desanimada.
- você pode ficar na minha casa se quiser, pelo menos até esse clima passar... - digo tocando em sua mão.
- obrigado Okuyasu... Tudo bem, eu aceito - ele me dá um pequeno sorriso.
- você quer ir agora? Ou prefere ir mais tarde?
- agora, só me deixa dar uma última olhada nessa casa...
- tudo bem... Tome o tempo que quiser - saio da casa com Koichi.
•|Josuke On|•
Fico sentado em meu sofá, olhando ao redor da casa.
Olho para o tapete da sala, tendo uma pequena lembrança de quando eu era uma criança.
- querido... Você tem que parar de brincar na chuva, vai acabar pegando um resfriado desse jeito - ela acariciava meus cabelos, me fazendo sorrir.
- ela sempre cuidou bem de mim...
Olho para a cozinha.
- Josuke!! Eu já te disse pra não sair sujando a casa assim!! - ela corria atrás de mim pela cozinha.
- ok, as vezes ela se irritava, mas eu também não era a criança mais santa do mundo - olho para o sofá.
- eu estou bem filhote... - estávamos deitados ali abraçados, enquanto ela fazia carinho em minha cabeça.
- tem certeza mãe? Você sabe que pode me contar tudo né? - pergunto preocupado, então ela deposita um beijo em minha testa.
- filho, eu te amo demais sabia? - ela dizia começando a chorar.
- mãe...? - tento abraçar ela, mas ela não reagiu.
Ela fechava os olhos devagar, então eu começava a me assustar.
- mãe!! Mãe!! - a balanço chorando - não pode ser!! Mãe!!
...
- desculpe mãe... - levanto do sofá - mas... Sem você, esse lugar só vai me fazer mal... - saio de casa, indo até Okuyasu e Koichi que me esperavam na calçada.
Okuyasu me levou para a casa dele e eu fiquei lá enquanto Koichi ia passando a notícia para os outros.
No dia seguinte em uma tarde chuvosa, todos foram ao enterro, até Jotaro e Joseph estavam lá.
Eu não sai de perto do túmulo, na me aguentando e começando a chorar ali.
- ... - Okuyasu ficava ao meu lado sem dizer uma palavra.
Todos iam passando e deixando flores sobre o túmulo dela.
De repente, uma pessoa inesperada chegava e deixava um buquê de flores ali.
- sinto muito Josuke... - Rohan me olhava de relance, saindo dali logo em seguida.
- Rohan... Obrigado... - sorrio o vendo ir embora.
Depois de um tempo, todos foram se retirando dali, eu, Okuyasu e Koichi fomos os últimos a irem embora.
Quando cheguei à casa de Okuyasu, ele não saiu de perto de mim, ficando ao meu lado o tempo todo.
Fomos para o quarto dele, ficando sentados na cama em um tenso silêncio, até que ele resolve quebrá-lo.
- então Josuke... Você... Quer fazer algo? Precisa de algo?
- não Oku, tá tudo bem... - o vejo abaixar a cabeça.
- desculpa se eu não puder te ajudar com nada... Talvez você precise ficar sozinho agora - Okuyasu estava prestes à levantar mas eu seguro sua mão.
- Oku... Eu só preciso de uma coisa agora - lhe dou um sorriso fraco - por favor... Fique comigo aqui...
- Josuke... - ele voltava a se sentar ao meu lado, então eu o abraço.
- não me deixe sozinho... Por favor... - repouso minha cabeça em seu ombro.
- eu não vou, nunca - sinto ele acariciar meus cabelos.
Ficamos daquele jeito até nos deitarmos na cama.
- você promete? - o olho fixamente.
- eu prometo - ele deposita um beijo em minha testa - eu te amo, não se esqueça disso.
- eu... Também te amo.
Naquele momento eu senti um calor em meu peito, mesmo diante daquele dia gélido Okuyasu era o único que podia me aquecer.
E foi nesse seu calor que eu adormeci, me deixando totalmente entregue à ele.
Queria que esse momento durasse pra sempre.
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