ᬊ Viagem Conturbada ️🌧️
〘 ⓻ 〙
- Isso não vai dar certo. - Ethan olhou seu reflexo no mar.
- Confie em mim.
Eu e Ethan estávamos na praia, tinha acabado de "dar um trato" na aparência dele, por partes era uma pequena vingança por suas ações na noite passada. Seu rosto estava avermelhado por causa do sol, cortei seu cabelo até metade do pescoço e aparei sua barba. Não vou mentir, sou péssima nisso, mas obviamente não vou admitir. Porém, temos que concordar que a barba e o cabelo são a maquiagem de um homem.
- Você também vai fazer isso?
- Claro que não, como se alguém prestasse atenção em mim. Agora trate de pensar em outro nome para você.
Ao embarcar no galeão, éramos Emily Blume e Nathaniel Strom. Por mais incrível que pareça, ou não, ninguém vinha até nos com olhares curiosos ou nos achavam suspeitos. Ambos fomos para nossa acomodação, graças a lotação, tivemos que dividir.
- É melhor do que imaginei. - admiti colocando a bolsa em cima da cama.
- E agora? - Ethan olhou para mim e mordeu o lábio inquieto.
- Como assim? - ele apontou para a cama e senti meu rosto esquentar.
- Não vamos ficar na mesma cama, nem que eu a parta em duas.
- É tão ruim assim ter que ficar junto comigo?
- Francamente Ethan, não temos esse nível de intimidade e jamais teremos.
- Bom, eu não vou dormir no chão. - o Alfa cruzou os braços e se deita na cama.
- E eu não vou dormir com você! - sento na beirada da cama de costas para o mesmo.
- Sejamos realistas, isso não é o fim do mundo, alguma hora estaremos juntos... - se aproxima de mim e eu aponto a pistola em seu rosto, o mesmo recua devagar.
- Faremos o seguinte. - solto a arma em cima da cama - Cada um em seu lado, não ouse fazer nada, ou irei encher sua cara de balas.
- Feito. - Ethan deu de ombros e fechou os olhos despreocupado.
- Quanto tempo ficaremos no mar?
- Três dias, no máximo quatro. - ele encarou o teto.
- Está bem, vou andar pelo convés. - guardo a minha pistola no cinto e saio do dormitório.
Enquanto andava pelo corredor, ouvi a conversa de dois marinheiros:
- Temos que estar prontos para tudo, dizem que nessas águas se escondem monstros das profundezas. - o Beta começou.
- Lá vem você com essas histórias, temo mais as tempestades marítimas que seus monstros imaginários. - o outro Beta riu desacreditado.
Uma vez li sobre o oceano que faz fronteira com o Reino do Oeste, são águas perigosas e tempestuosas, nunca se sabe o que pode acontecer em alto mar. Mas um monstro marinho é a última coisa que pode acontecer hoje.
Alguns Alfas e Betas trabalhavam no convés, sem dar importância as demais pessoas. Mas não podiam esconder um certo receio, parecia que estavam esperando por algo, estavam com medo. O dia estava ensolarado e o mar calmo, aparentemente, sem nenhuma chance de alguma tempestade acontecer.
- Victor? Onde você está? - uma Ômega com um bebê no colo passou gritando, mas se voltou para mim com um olhar preocupado - Com licença, por acaso viu um menino passar por aqui? Um pequeno Beta?
- Não, não o vi. - disse e ela voltou a procurar pelo convés.
Olhei em volta e parei quando avistei um menino loirinho sentado no mastro balançando as pernas no ar. Ri baixo e subi na enxárcia ficando o mais próximo possível dele.
- O que está fazendo aqui? - chamo sua atenção e ele me olhou com os olhos marejados.
- ...d-deixe-me em paz. - funga passando as costas das mãos nas bochechas molhadas.
- O que houve? Não vou sair até me contar. - me ajeito nas cordas sem desviar o olhar dele.
- Eu nunca mais vou sair daqui... - Victor disse sério.
- Sua mãe estava o procurando no convés, parecia preocupada.
- É mentira, ela só se importa com aquela bebê gordinha e sem graça. - fez um bico cruzando os braços
- Está com ciúmes da sua irmãzinha? - disse e ele ficou quieto - Cuidar de um bebê não é fácil, e só por que tem mais uma criança na vida de sua mãe, não significa que você fique de lado.
- ...mas ela mal tem tempo para mim.
- Você é bem grandinho, sabe andar, correr, pular e se alimentar sozinho. Já a bebê não, ainda não sabe fazer nada, e se ajudar ensinando tudo isso a ela, irá aprender mais rápido e sua mãe terá tempo para os dois. - após alguns minutos em silencio, ele se pronuncia:
- você tem razão! Acho que fui meio egoísta...
- Nunca é tarde para mudar.
- Obrigado moça. - Victor olhou para baixo e fica paralisado
- Vem, vou te ajudar a descer.
- ههههه -
Quando a noite caiu, uma forte tempestade balançava o navio para todos os lados. Mesmo assim não impedia que o cansaço do dia chegasse a nós. No momento em que iria deitar, o navio balançou com força para a esquerda fazendo a cama ser jogada contra a parede, rapidamente Ethan rolou para fora do colchão antes que fosse junto.
- O que foi isso? - disse apoiando as costas na parede.
- Com certeza não foi a tempestade. - Ethan respondeu e ambos olhamos para cima.
Sem demora me vesti e o lúpus fez o mesmo, fomos até o convés e quase fomos esmagados por um enorme tentáculo. Não acreditava no que meus olhos viam a minha frente: um monstruoso Kraken com múltiplos tentáculos tentava puxar o navio para si, seu tamanho era colossal por isso não teria esforço para nos levar consigo para as profundezas. Incansavelmente os marinheiros travavam uma batalha contra o monstro, golpeando seus tentáculos e avançando com os canhões, porém, por mais que tentassem a criatura continuava implacável contra os ataques .
- Blair! Vamos voltar! - Ethan gritou tentando me puxar para as escadas que levavam para o andar de baixo.
- Eu não vou recuar! - pego meu arco e atiro várias flechas contra a criatura.
- está louca...
O navio balançou nos jogando no chão, acidentalmente uma das flechas atingiu o olho direito do monstro.
- Eu consegui! Atingi ele! - o Kraken rugiu furioso e um tentáculo voou para cima de mim.
Me joguei para o lado tentando escapar de seu ataque, com o balaústre destruído, nada me impediu de cair para fora do navio. No último segundo, senti meu braço ser fortemente puxado e olhei para cima, o olhar do Alfa estava avermelhado e não parou de me encarar enquanto me puxava para dentro. Foi como se toda a batalha em volta perdesse a importância e apenas focava nas palavras de Ethan:
- Não tente se matar desse jeito, se quiser terminar o que começamos, temos que fazer isso juntos! - me olhou nos olhos e um trovão me fez voltar a atenção para a criatura furiosa tentando afundar o navio a todo custo.
Olhei por todo o convés procurando algo que me ajudasse a arquitetar um plano. De repente, um Alfa se lançou contra o monstro com um arpão em mãos, mas seu ataque é bloqueado por um tentáculo que o segurou fortemente, o fazendo soltar a arma que caiu a nossos pés. Desviei o olhar quando o mesmo foi levado até a boca em forma de losango do Kraken, sendo devorado rapidamente.
- Eu tive uma ideia, mas preciso de você. - peguei o arpão do chão e uma corda, puxei o lúpus para um canto desviando dos tentáculos que tentavam segurar qualquer coisa que estivesse no caminho.
- Não temos um mecanismo para lançar. - Ethan lembrou.
- Temos sim! - amarro uma ponta da corda no mastro e a outra em uma parte do balaústre - Ethan, você vai puxar o arpão para trás junto com a corda, mire bem no olho.
- E você? - o Alfa pegou o arpão e coloca na corda puxando os dois para trás - É muito forte, não vou aguentar por muito tempo!
- Só preciso de alguns segundos. Ao meu sinal, Ethan! - subo na enxárcia segurando a pistola entre os dentes.
Quando chego na frente do Kraken, seguro na corda com uma mão e com a outra disparo contra ele gritando o mais alto que conseguia. A criatura rugiu incomodada e se virou para mim batendo seu tentáculo contra o mastro, a corda se parte ao meio e agarro a parte ainda presa, sem soltar a arma continuo com os disparos.
♛ ℰthan ♛
Eu olhava para aquela cena com o coração quase saindo do peito, a corda não aguentaria por muito tempo e o monstro se preparava para seu ataque final contra a Ômega que disparava sem parar contra ele. Em um segundo, o mesmo se vira na direção dela, era a minha chance. Blair desviou o olhar para mim e gritou:
- Agora Ethan!
- Sorria desgraçado! - solto a corda e acabo caindo para trás.
Mas consegui ver o que aconteceu, o arpão acertou em cheio o olho direito do Kraken, que rugiu mais alto com a dor o perfurando, soltou o navio e rapidamente saltou no mar desaparecendo nas águas agitadas. Sorri satisfeito com aquilo, mas meu sorriso não demorou a sumir, a corda que segurava Blair se partiu de vez e a mesma caiu no chão.
Tudo se movia lentamente diante de mim, corri ao encontro dela e segurava o braço arfando de dor, Blair olhou para mim tentando sorrir.
- ...nós vencemos. - a Ômega riu tentando ignorar a dor.
- Sim, mas você não parece bem.
- Torcer o braço não é coisa que morre...agora isso. - levantou o corpo mostrando o arco partido em dois embaixo de si.
- Eu sinto muito...
- Tudo bem, eu precisava de um novo mesmo. - disse indiferente.
- Sempre o tom de sarcasmo. - ri balançando a cabeça - Você vai ficar bem.
- Tem mais alguém ferido?! - um Beta gritou e eu levantei o braço, o mesmo me olhou e acena com a cabeça.
Um tempo depois, Blair estava na nossa acomodação com um pano na lateral do corpo prendendo seu antebraço direito.
- Se a corda não tivesse se partido, eu não estaria assim.
- Você foi imprudente, mas tenho que admitir, foi uma das coisas mais corajosas que já vi.
- Está dizendo isso por educação.
- Não, é verdade. Nunca tinha visto nada parecido - ela desviou o olhar com seu rosto levemente vermelho.
Adoro deixa-la desse jeito, é engraçado quando tenta esconder o que sente, porque não consegue no final.
- Não conseguiria sem você, até que trabalhamos bem juntos. - bate levemente no meu ombro.
- Obrigado. Você é destemida, para uma Ômega.
Seu sorriso some dando lugar a uma expressão irritada.
- O que quer dizer com isso? Um Ômega pode ser o que quiser, assim como um Alfa ou Beta. Qual é a de vocês Alfas? Sempre se acham os maiorais.
- Perdão, não foi o que quis dizer, eu nunca vi um...
- Uma Ômega fora do padrãozinho? Adivinhe, Alfa, eu não sou como as outras que conheceu. Vou dormir, boa noite. - apaga o abajur deixando o quarto totalmente no escuro.
- Blair, me des...
- Eu disse, boa noite! - me corta e eu suspiro irritado.
Realmente, foi rude da minha parte dizer isso, as vezes preferia ser mudo a dizer esses absurdos. Não estou tentando parecer "inocente", mas por anos fui criado pelo meu tio com suas ideologias de Alfas superiores aos demais, as vezes isso simplesmente fica em minha mente e coisas assim acontecem. Amanhã tentarei me desculpar com ela, preciso fazer isso. Hoje foi mais perto que cheguei de uma convivência aceitável, diria que o começo de uma amizade e iria odiar estragar tudo com uma frase só.
- ههههه -
No dia seguinte, acordei sozinho no quarto, não vou mentir, os acontecimentos da noite passada me deixaram acordado, e mais do que nunca, quero consertar as coisas. Assim que me vesti, fui para o convés, todos os marinheiros tentavam reparar os estragos causados pelo Kraken, eu diria que não poderiam fazer muita coisa, pois pela gravidade dos dados apenas conseguiriam fazer o concerto na cidade mais próxima.
Meu palpite estava certo, o capitão ordenou que mudassem o curso, mas a parte ruim era que a tempestade tinha jogado o navio para longe do destino final, dessa forma, prolongando a viagem para uma semana. Vejo um Beta varrendo o convés, me fazendo sair de meus pensamentos, meu olhar para no arco quebrado e lembro do que Blair tinha dito para Alice - por ser um lúpus, meus sentidos são mais apurados - me trazendo uma ideia, que possa melhorar as coisas.
Pego os pedaços do arco e os guardo dentro da minha bolsa, depois encontro a Ômega observando o mar na proa. Quando nota minha presença, se vira para mim com um olhar debochado.
- Bom dia macho Alfa.
- Me desculpe, pelo que eu disse. Como está?
- Nossa, um Alfa lúpus se preocupando com uma simples Ômega! Estou impressionada.
- Pare com isso, eu já pedi desculpas, o que quer de mim? - cruzo os braços.
- Já que perguntou. - diz ajeitando a postura - Vamos concordar em uma coisa, jamais subestime alguém por sua classe.
- Eu sei, nunca farei isso novamente.
- E jamais me deixe cortar seu cabelo novamente. - ri colocando a mão na boca.
- Está tão ruim assim? - franzi o cenho rindo também
Ela se apoia no balaústre e joga a cabeça para trás gargalhando alto. É a primeira vez que a vejo se divertir assim. Sinto algo estranho no estômago...borboletas? Não! Foco Ethan, foco! Sem...distrações.
~ O Kraken era uma espécie de lula, que ameaçava os navios na mitologia nórdica. Este cefalópode tinha o tamanho de uma ilha e cem tentáculos, acreditava-se que habitava as águas profundas do Mar da Noruega, que separa a Islândia das terras Escandinavas, mas poderia migrar por todo o Atlântico Norte.
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