↳ 𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏: Duplo azar
⚠️ 𝗟𝗘𝗠𝗕𝗥𝗘𝗧𝗘 ⚠️
Não inicie a leitura sem antes ler o capítulo anterior a este, por favor!
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𝑁𝑂𝑀𝐸𝑆 𝐷𝑂𝑆 𝑃𝐸𝑅𝑆𝑂𝑁𝐴𝐺𝐸𝑁𝑆
Mr. Compress: Atsuhiro Sako
Spinner: Shuichi Iguchi
Twice: Jin Bubaigawara
Overhaul: Chisaki Kai
Hawks: Keigo Takami
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7 de abril, oito da manhã
Chovia muito, chovia torrencialmente. A atmosfera era percorrida e coberta por uma densa e aveludada camada de negro, as nuvens cinzentas tristonhas pareciam revoltadas e descontavam a sua ira naqueles que percorriam as barulhentas ruas de Tóquio. Ainda era tão cedo e já os cidadãos tinham dado início aos seus dias monótonos e repetitivos, a apatia e o acomodamento era coisa característica dos seres humanos, já que nunca ofereceram resistência à ação da fortíssima teia que discretamente os envolveu e aprisionou ao longo dos anos, teia essa que se apresenta com o triste nome de rotina.
O stress em cada um crescia gradualmente devido a todo aquele cenário caótico de grande cidade, o trânsito congestionado, por exemplo, oferecia umas belas dores de cabeça aos condutores que em vão buzinavam, furiosos, era um sofrimento tanto para aqueles que estavam dentro dos veículos, tanto para aqueles que estavam lá fora, obrigados a ouvir aquela melodia distorcida e estridente feita de sons aglomerados. Estes, coitados, que não tinham o luxo de estar dentro de um automóvel, circulavam pelos estreitos passeios de pedra agarrados aos seus guarda-chuvas negros, muitos deles iguais, o que adensava todo aquele clima de moleza e de unidade, um ambiente feito de algo mecânico, marcado pela unanimidade. De uma forma simplista, poderíamos afirmar que todas aquelas criaturas se tratavam de formigas desejosas de chegar ao seu respetivo formigueiro, uma a uma, todas programadas com uma função. E que desejo esse de lá chegar a horas! Empurravam como quem não quer nada os vultos que seguiam em sua frente, impacientes, outros, mais flexíveis, tentavam ultrapassar os que se encontravam na sua dianteira das maneiras mais criativas, tudo isto no anseio de talvez conseguir apanhar um táxi e relaxar mais uns míseros minutos antes de se encontrarem frente a frente com a porta do maldito edifício que apelidavam de "local de trabalho" e serem obrigados pela ordem natural das coisas a entrar no ritmo maquinal.
Shigaraki Tomura não era diferente de nenhum daqueles seres. De facto, lá andava ele no meio de toda aquela multidão, apertado como uma sardinha numa lata, esforçava-se ele próprio também por avançar, contudo a densa massa que o rodeava atrasava-o. Aliás, se olhássemos de cima para aquele quadro de vida quotidiana urbana, seríamos facilmente iludidos pela ideia do jovem estar a ser engolido por todo aquele amontoado concentrado. Enfim, ele olhava para o relógio com alguma ansiedade, tinha uma entrevista de emprego num horário próximo àquele e não podia atrasar-se. As gordas gotas precipitadas caíam sobre o seu guarda-chuva – que era preto também, por sinal – como se testassem a sua resistência, aquele elemento da Natureza parecia ser o mais ameaçador de todos naquele dia, já que era o responsável pelas enormes poças de água formadas estrategicamente em algumas zonas das ruas, era o responsável pelas vastas quantidades de água acumulada nas beiradas das estradas, essas sim, as mortíferas, mas pacientes, muito pacientes, que aguardam o tempo necessário por um descuido, pela roda de um carro trapalhão que a atropela por acidente, acidente esse que custa a manhã à vítima daquele ataque tão premeditado.
Era impossível estimar quantas pessoas tinham já caído numa daquelas armadilhas disfarçadas! Mas havia uma que estava exclusivamente à espera do rapaz de cabelos claros. Não se sabia se era o seu vestuário que o tornava num alvo tão apetecido, ou quem sabe se foi apenas azar, mas foi numa longa passadeira, que separava como uma ponte dois blocos de edificações opostas, que se deu a fatalidade.
Tomura ingenuamente pensou estar livre daquele sufocador mar de gente e avançou sem as devidas precauções para aquelas tirinhas brancas pintadas no chão. Infelizmente para ele, aí mesmo um automóvel tingido de um vermelho ofuscante pisou impiedosamente aquela mina líquida já ali originada de há meia hora atrás e esta, igualmente desapiedada, viu por fim o seu objetivo cumprido.
— Seu grande filho da puta! — esbravejou ainda Shigaraki, mas de nada lhe valeu, já aquele veículo odioso lhe tinha saído do campo de visão.
As unhas da mão esquerda foram rapidamente levadas ao pescoço já muito danificado de outras ocasiões, o som das mesmas em contacto com a sua pele pálida acalmou-o ainda que infimamente. Na realidade, ele preferia sempre a sensação das mesmas a raspar violentamente e a deixar marcas da sua presença, mas teria que se contentar só com o discreto ruído, já que não achava por bem aparecer na empresa onde teria o seu compromisso marcado com o pescoço todo coçado.
Desceu os orbes encarnados para avaliar a dimensão dos estragos feitos por aquela maré de água enquanto movimentava os dedos freneticamente sobre a garganta. A sua camisa branca cuidadosamente passada a ferro no dia anterior estava completamente inundada, colava-se ao seu abdómen como uma lapa se gruda a uma rocha. Suspirou, maçado com aquela situação. Não podia regressar a casa e trocar de roupa, caso contrário, chegaria atrasado e perderia a sua oportunidade para outro agente. Ainda que fosse um renomado profissional, o jovem queria agarrar aquela chance com unhas e dentes, já que o seu retorno ao Japão não tinha sido de todo fácil. Além disso, todos os outros músicos que valiam a pena do país tinham já os seus respetivos agentes, então o cantor caprichoso tão falado era a sua única opção do momento.
Tomura resignou-se à sua condição atual, não podia fazer nada, só lhe restava rezar para que a camisa e o pouco das calças que estavam molhadas secassem pelo caminho, milagre improvável, já que o dia estava húmido e não havia nada que indicasse que o quadro ia mudar. Levantou a cabeça e, pronto para continuar o seu trajeto, chegou-lhe aos ouvidos o som de uma buzina estridente, que imediatamente o deixou desnorteado e fez os seus olhos arregalarem-se quando se apercebeu de um outro veículo que vinha na sua direção.
O seu corpo paralisou-se. O ruído esganiçado da travagem abrupta arrepiou-o por completo, Shigaraki fechou instintivamente os olhos assustados, esperando talvez ser abalroado pelo automóvel que deslizava sem controlo pela estrada, com certeza o condutor havia ultrapassado o limite de velocidade. Ainda o para-choques lhe tocou de raspão nas pernas, mas por sorte nada mais grave aconteceu. O vidro do condutor desceu vagarosamente logo após o contacto e dele saiu a cabeça de um homem de cabelos esbranquiçados por conta da idade, cuja expressão não parecia nada amável ou preocupada.
— O senhor é doido? Você está numa passadeira com o semáforo vermelho!
O azulado desviou os seus olhos para o tal semáforo, realmente o homem estava certo... Tinha perdido demasiado tempo a tentar espremer a camisa e o casaco e a passar a mão no tecido numa tentativa miserável de o secar um pouco, acabou por nem se aperceber que só o devia ter feito depois de já estar no outro passeio. No entanto, Tomura não era pessoa de dar o braço a torcer e de dar razão aos outros, e reclamou logo de volta:
— Desculpe? E o senhor para que precisa dos olhos? Não sabe ler sinais de trânsito nem ver se há pessoas na rodovia? Eu já estava aqui antes do semáforo ter mudado de cor! Se você respeitasse a merda das regras, não teria quase me atropelado pois teria me visto já de antemão! É por pessoas como você, que não sabem conduzir, que há tantos acidentes! Quem lhe deu a carta de condução devia estar doido, só pode... — o jovem resmungava, enquanto a sua mão direita, revestida por uma elegante luva de couro, agarrava fortemente o guarda-chuva. O vento empenhava-se em tirá-lo, soprava ferozmente, procurando uma brecha ou abertura para levar para longe aquele elemento de proteção. Todavia, a raiva do dono era o seu maior obstáculo.
— O quê...? Diga-me lá isso outra vez se tem coragem! — o outro desafiava-o, um grande erro, o sangue do agente fervia-lhe nas veias e por pouco este não perdia o civismo que ainda lhe restava, não interpretem mal, Tomura não era de todo violento, mas era no entanto um bocadinho esquentado. E esquentado ao ponto de bater no capô do carro agressivamente para se fazer entender. Pois bem, foi o que fez.
— Quer mesmo que eu repita? — ele questionou, já a veia lhe saltava da testa.
O mais velho esbugalhou os olhos, surpreendido com aquela interrogação tão desafiadora e ousada quanto a sua. Acabou por dar de ombros e soltar um simples "Saia da frente" murmurado sem grande alarido antes de se encolher e voltar a colocar a cabeça dentro do automóvel. Shigaraki respirou fundo, satisfeito com a reação do outro, e obedeceu ao que foi dito por ele, ainda que levando o seu tempo a abandonar a passagem para peões. Ao colocar os pés sobre a rua, levou a mão à cabeça, uma enxaqueca começava a tentar dominá-lo, maldita cidade! Tomura nunca gostou muito de Tóquio, odiava toda aquela movimentação, toda aquela densidade populacional, todo aquele conjunto de edificações exageradas! E naquele preciso instante, odiou também a luz que lhe batia na face e que o cegava. Provinha de vários prédios espalhados por aquela zona, numerosos pósteres neles fixados exibiam com orgulho um moço de cabelos loiros e olhos doirados, cujo nome o recente agente já tinha ouvido outrora mas que agora não se recordava.
Expirou com alguma brutidão. O dia estava péssimo e estava a correr-lhe pior do que péssimo. Primeiro, seu fato fora completamente molhado por um anormal, depois quase foi atropelado... O que sucederia? Ah, uma pergunta que parece atrair o demónio e todo o azar... Bem, pelo menos havia um lado positivo. O edifício da empresa de música a que Shigaraki desejava tanto chegar estava logo ali ao fundo, no final de uma ligeira subida. Só mais aquele esforço e estava "livre".
Pena que ele não imaginou que aquela subida iria ser o golpe final da sua manhã terrível. Assim como todas as outras ruas, aquela igualmente parecia entupida com a quantidade de gente que nela circulava. E ainda não sendo o suficiente, a pequena ventania que ainda há segundos lhe tentou roubar de forma maliciosa o chapéu de chuva cresceu de maneira assustadoramente notável, pelos vistos tinha unido forças com o forte temporal e buscava a qualquer custo desarmar os japoneses e deixá-los expostos ao tempo mais que desagradável.
— Merda... Só podem estar a brincar comigo... — o azulado rosnava ao mesmo tempo que tentava subir a calçada e manter o seu guarda-chuva consigo. — Nem devia ter saído da cama hoje... — balbuciou melancolicamente.
A consistente brisa não dava folga a ninguém, puxava, puxava e puxava até conseguir o que desejava, e alguns alvos eram tão leves que se não largassem o pobre objeto a tempo, eram levados com ele. Alguns viram-se mesmo obrigados a isso e no meio de toda aquela esfera urbana, construída pelos ruídos múltiplos e pelos variados movimentos, ouviram-se também os gritinhos diferenciados de desespero libertados pelos seres desprotegidos e indefesos que corriam pelas estradas, uns em saltos altos, outros tentando esconder-se por baixo de malas de trabalho.
Tomura, desafortunado, não sofreu com a maldade do vento. Sofreu, porém, com a fraca qualidade do seu chapéu de chuva, coisa que não era suposta, já que o homem que lho vendeu tinha-lhe garantido o contrário. Grande parte dos arames que o constituíam partiram-se com as fortes rajadas e como uma oportunidade aparecida do nada, notando imediatamente que mais uma criatura estava vulnerável, a chuva intensa caiu sobre o jovem, que por sua vez não teve sequer tempo de mandar um palavrão para o ar, desatou a correr desalmadamente pelo passeio fora, passando à frente de todos os obstáculos diante de si de um modo quase inexplicável.
Uma ótima ocasião para aquela carga d'água trocar um aperto de mão radiante com o senhor vento.
Pronto, lá Shigaraki se viu defronte da porta automática da tão cobiçada empresa, ficou uns minutos apenas parado à sua frente, sentia-se esgotado e completamente destruído, tanto como na aparência como na moral. E só de pensar que tinha acordado tão bem disposto... Que pensamento longínquo... Engoliu em seco. Deu uma olhada em si próprio, buscando possivelmente um aspeto positivo que o fizesse avançar para dentro do prédio. Nada encontrou. Os seus cabelos claros estavam colados ao seu rosto e inteiramente encharcados. As suas roupas estavam alagadas ao ponto de pingarem o chão, e o pobrezinho ainda as espremeu para não passar a vergonha de sujar algo lá dentro. Relativamente aos sapatos, ah, os sapatos... Sentia os pés nadarem neles de tanta água que ali se tinha infiltrado. E para completar, tinha o guarda-chuva caro partido na mão direita, totalmente dizimado.
Que bela impressão que iria dar... Ainda o jovem pensou em ir embora e fingir que aquela manhã nunca tinha acontecido, todavia, a necessidade de arranjar um emprego chamou-o de volta à realidade, clareando-lhe a mente. Não, não importava. Tinha boa fama. Talvez isso lhe bastasse. Foi só um dia mau. Acontece a todos, não?
Assimilou isso na sua mente um pouco nublada, devido a tudo o que tinha ocorrido, e ganhou confiança para por fim entrar no edifício. O olhar do jovem rececionista ali presente imediatamente foi atraído para si, que não conseguiu esconder a surpresa ao ver todo o estado lastimável em que o agente de olhos vermelhos se encontrava. Este último lançou-lhe um olhar questionador, e também um pouco frio, odiava sentir o julgamento sobre a sua pele e definitivamente detestava quando o ficavam encarando sem dizer nada. Pousou o mais que destruído chapéu de chuva num cilindro que se situava num canto próximo à porta, lá repousavam muitos outros, mas esses estavam intactos.
Com passos convictos e seguros, aproximou-se do balcão branco resplandecente.
— Bom dia, em que posso ajudá-lo? — o moço com o nome "Shuichi Iguchi" escrito numa plaquinha pendurada ao peito perguntou-lhe, evitando o contacto visual com o agente, sentira-se intimidado pelo olhar anterior e também não queria parecer intrometido ao analisar demasiado o ser que estava em sua frente, ainda que este fosse o motivo de uma curiosidade nascida dentro de si.
— Tenho reunião marcada com a diretora da empresa e respetiva equipa. — respondeu o interpelado sem grande afetividade, o homem magro procurava passar firmeza, mas mantinha-se desconfortável e o rececionista conseguia ver isso facilmente.
— Nome, por favor?
— Shigaraki Tomura.
O jovem adulto de cabelos roxos pesquisou pelo registo de tal encontro e assim que confirmou a sua veracidade, abriu um sorriso amigável para o outro, assentindo com a cabeça.
— Certo, peço-lhe então que aguarde ali enquanto eu aviso os responsáveis que o senhor chegou. — disse-lhe, apontando com a mão para uns sofás sofisticadamente dispostos no lado direito daquele grande piso de receção.
Tomura agradeceu cordialmente e virou costas, dirigindo-se para o lugar indicado. O outro mais baixo apenas o olhava, o seu andar dava a ideia que era desorientado. E também todo aquele plano de vulto atacado pela Natureza fez o sentimento de pena e compaixão de Shuichi crescer, fazendo-o chamá-lo de volta.
— O senhor não me leve a mal, mas... Não gostaria que eu lhe arranjasse uma toalha? — perguntou, a insegurança bastante visível.
O azulado abriu um pouco os olhos, espantado. Mas sorriu-lhe levemente. Um sorriso que o outro achou muito bonito.
— Se me fizesse esse favor, eu ficar-lhe-ia muito grato. — acabou por responder.
Dabi, no terceiro andar, contemplava o grande vidro da sala de reuniões em silêncio. Os seus lumes inexpressivos observavam com atenção as pequenas mas abundantes pingas originadas pelo imenso aguaceiro, acompanhavam morosamente o seu caminho trilhado com paciência, desde o início até ao fim, até acabarem de percorrer toda a vidraça e passarem a ser inacessíveis à sua visão.
De vez em quando, desviava os orbes para as grandiosas construções que se estendiam pelo cenário mostrado através daquela incrível janela, janela que sempre foi a fonte da sua perdição, uma vez que, sempre que o seu olhar a encontrava, todo o seu ser era envolto numa breve viagem, numa viagem onde todos os seus problemas e preocupações desapareciam, onde se sentia leve, onde, para dizer a verdade, não sentia nada para além do peso da existência. Todo aquele espetáculo de luzes diferentes era uma festa para os seus olhos azuis, poderia ficar horas a mirar aquilo e a divagar sobre as suas diversas origens, gostava de fazer isso. E gostava tanto que não perdeu tempo em mandar colocar um vidro igual na sala onde passa a grande porção do seu tempo: na sala onde compõe. Fugir do que lhe atormenta... Dabi era especialista nisso.
Magne, a diretora da empresa, falava enquanto se deslocava para a frente e para trás naquela divisão espaçosa. O cantor não fazia ideia do que saía da boca da sua superior, mas também não parecia interessado em entender, apenas deixava as pernas relaxar em cima da enorme mesa central e aguardava que a mulher se calasse. No entanto, logo a situação mudou quando as seguintes palavras foram proferidas:
— ... e é por isso que precisas de um novo agente, Dabi-chan.
O referido rapidamente mudou de atitude, a sua postura ficou tensa e tratou logo de dar a entender que não estava agradado com a sugestão.
— Já disse mil vezes que não preciso de mais nenhum agente... — contrariou. — Todos nós sabemos qual vai ser o final disto.
— Desculpa dizer-te isto assim, Dabi-chan, mas precisas. Tendo em conta que és cada vez mais falado, que estás a subir nas estatísticas de vendas e nas estatísticas de popularidade, precisamos de alguém que organize a tua vida profissional. Ou não queres ir mais longe do que isto? — a diretora argumentava, num claro esforço para o convencer.
— Claro que quero. — o moreno bufou. — Mas não preciso de um agente para isso.
— Dabi-kun. — Himiko interveio. Assistente de Dabi e de praticamente toda a equipa que trabalha com ele, Toga é reconhecida por todos como uma salvadora da pátria, pois ela é aquela que se algo faltar, ela recupera, se alguém precisa de algo, ela providencia. A mocinha ainda era pouco experiente, mas já tinha o seu lugar tão bem definido! — Não estás a facilitar nada ao despedires todos os agentes que contratamos para ti, sabes disso, certo?
— Não tenho culpa se eles não prestavam. — o cantor falou, rígido, afastando o rosto para o lado. Toga e Magne entreolharam-se, tanto uma como a outra sabiam muito bem que o contexto descrito pelo jovem não era assim tão linear quanto ele afirmava.
Verdade seja dita, Dabi nunca teve uma boa relação com os seus antigos agentes, sempre arranjava uma maneira de os mandar despedir, ou isso ou os próprios, exaustos, imploravam para que os deixassem ir embora. Isto porque, apesar de todo o talento existente dentro do moreno, a sua personalidade era, no mínimo, complicada. Atrás de toda aquela figura de estrela em ascensão estava um homem cheio de caprichos e exigências, apegado aos luxos e familiarizado com o típico "eu faço o que quero". Isso só por si já não gerava bom ambiente, então as ironias constantes, as provocações e às vezes até mesmo os insultos foram a gota de água para alguns dos seus anteriores colaboradores.
Todavia, Magne desta vez estava preparada.
— Pois é, Dabi-chan, mas deste garanto-te que não vais ter queixa. — sorriu, pousando uma pasta com documentos na frente do outro. — Ele é um dos melhores, talvez até mesmo o melhor, vê só o sucesso que ele teve com os antigos clientes! E ainda é novo! Tenho a certeza que ele vai ser muito útil para ti e para nós todos! — ela exclamava com entusiasmo, realmente até era motivo para isso, Shigaraki tinha aparentemente um ótimo histórico, uma boa fama e era muito bem falado por aqueles que já tinham interagido com ele naquele meio.
— Shigaraki Tomura...? — Dabi leu o nome escrito no início da primeira página com um tom seco e desinteressado. — Mas ele tem a minha idade, não...? Não parece ser muito experiente no ramo. Porque te interessaste por ele?
— Sim, verdade, mas não achas milagroso ele ter estes resultados com menos de trinta anos? — Magne abria cada vez mais o sorriso, a excitação pelo novo contrato que estava por vir era cada vez mais difícil de camuflar. — Ele ganhou muito dinheiro com os anteriores músicos que orientou! Ele é totalmente implacável!
— Bem, nisso tens razão...
— Ótimo! Ainda bem que pensas isso, porque eu já o contactei e vamos ter uma reunião com ele ainda hoje para assinarmos contrato! — a bomba foi largada sem qualquer tipo de preparação prévia, o cantor apenas lhe dirigiu o olhar zangado e carregado de insatisfação.
— Marcaste uma reunião com ele sem o meu consentimento?
— Sim!
A diretora recebeu apenas um suspiro enraivecido como resposta. Agora o jovem já não podia fazer nada para impedir essa reunião. Talvez ele não fosse assim tão "perfeito" como ela alega, talvez ele não ficasse com o cargo, Dabi tentava mentalizar-se dessa possibilidade. Uma possibilidade minúscula, Magne já estava mais do que decidida a admiti-lo na empresa, só lhe restava mesmo depois mais tarde tentar expulsá-lo. Não seria algo árduo, afinal não era a primeira vez que fazia algo assim. Ou assim pensava ele na altura.
Um silêncio constrangedor invadiu a sala, Himiko começou a fazer pequenos desenhos no canto de uma das folhas do caderno que sempre segurava e mantinha consigo. Magne sentou-se. O moreno, por seu lado, vasculhava as folhas dispostas diante de si com um percetível tédio, os lumes elétricos deram alguma atenção a uns artigos a letra maior, mas não se deram ao trabalho de ler nada a fundo. Acabaram por se focar na fotografia do azulado que acompanhava todas aquelas informações.
— Pelo menos podia ser pior... Acho que se aproveita qualquer coisa. — comentou com um sorriso zombeteiro a surgir no canto da boca.
— Dabi-chan... — a diretora repreendeu-o com um olhar semicerrado.
— O que foi? Todos os outros idiotas que vieram antes deste eram velhos demais e pouco divertidos, talvez este até tenha sentido de humor. — o olhar condizia com o sorriso, estava cheio de divertimento. Dabi nunca tivera grandes pudores no que dizia respeito a envolvimentos amorosos, isso era sabido, mas também era sabido que muitas das coisas que ele dizia eram da boca para fora e esta era uma delas.
— Deixa, Magne-nee... — Toga sorriu, também parecia agradada com o rumo da conversa. — O Dabi-kun diz isso porque ele não faz ideia de quem o Tomura-kun é na realidade. Pelo que ouvi dizer, ele é um osso bem duro de roer. O Dabi-kun não tem dentes suficientemente fortes para ele, uma pena. — falou com um tom provocativo, tentando falsamente esconder o sorrisinho comprometedor atrás da mão esquerda.
— Às vezes, os dentes não são tudo, Toga. — Dabi retribuiu com o mesmo tom cúmplice. Os dois encararam-se mutuamente durante uns segundos, segundos incómodos para Magne, que odiava quando eles começavam os seus joguinhos de palavras e provocações implícitas. O cantor acabou por olhar para a diretora, como se tivesse lembrado algo, arqueou a sobrancelha ao mesmo tempo que perguntou. — Quando é que é essa reunião? O homem chega ou não chega?
Magne surpreendeu-se com a questão e olhou o relógio de parede.
— Sim, realmente está na hora. Himiko...
— Eu vou já tratar disso! — a assistente interrompeu a amiga e acelerou o passo para a porta, no entanto, assim que pousou a mão no puxador da mesma, alguém bateu no vidro disfarçadamente.
A loira afastou-se e assim que foi obtida uma permissão para entrar, Shuichi apresentou-se com um comportamento de quem não está muito à vontade. Não o podíamos condenar, afinal o jovem rececionista era novo ali e não queria dar-se ao luxo de arriscar demasiado e acabar fora da porta.
— O senhor Shigaraki já chegou. Posso mandá-lo subir? — perguntou, a sua voz era ofegante, parecia que o moço de cabelos roxos tinha percorrido um longo caminho. De facto, umas linhas de suor caíam-lhe pela testa, linhas essas que foram rapidamente limpas pela manga do próprio jovem.
— Podes sim. — Magne assentiu com a cabeça. — Mas espera, Iguchi, não vieste pelo elevador?
— Não sei se é do tempo de hoje, mas o telefone não funcionava em condições e o elevador ainda não foi concertado, por isso tive de usar as escadas para a informar... — explicou-se. Agora tinha de voltar a descer tudo outra vez só para informar Tomura que já seria recebido. Essa ideia quase o fez suspirar de agonia.
— Oh, ainda não vieram fazer a manutenção do elevador? — a diretora questionou, pergunta à qual Shuichi respondeu negativamente. — Bem, manda Shigaraki subir, obrigada. — pediu. O moço apenas confirmou e saiu com rapidez. — Coitado, acho que ele ainda não se adaptou muito bem... Enfim, Himiko, anota aí que temos de tratar do elevador o mais rapidamente possível.
— Nada que o tempo não resolva. — Himiko respondeu, rabiscando rapidamente no seu caderninho o pedido da mais alta. — Anotado, Magne-nee.
A porta só voltou a ser empurrada no momento em que Tomura entrou, no instante em que as turmalinas chocaram com os rubis desanimados pela primeira vez. Nada foi dito inicialmente, os três pares de olhos estavam mais preocupados em explorar cada detalhe daquela criatura vítima de tudo o que era possível. Tomura suspirou, a sua vontade era soltar um grito frustrado, mas reteve-o dentro de si, empurrou-o para o fundo, o mais fundo possível, na tentativa de o matar ou simplesmente adiar para uma altura mais favorável. Magne nem conseguia ocultar o choque, a sua boca estava entreaberta e os seus olhos pairavam sobre as vestes inapresentáveis de Shigaraki. Himiko ria baixinho, não um riso malvado, mas sim um riso solidário, já que ela própria naquela manhã teve de trocar as suas roupas assim que chegou ao seu gabinete, a meteorologia não tinha sido simpática com ninguém. Dabi, por sua vez, olhava-o de cima a baixo, tal como Magne. Este não iria passar a oportunidade de mandar uma das suas célebres boquinhas.
— Bem! Parece que alguém está a ter um mau dia! — exclamou sem desviar o olhar do homem parado à sua frente.
— Sim, e acabou de ficar ainda pior. — Tomura devolveu de imediato a fala venenosa, a sua voz fria como uma lâmina. Estava mais que acostumado a levar com provocações, e com o tempo, foi erguendo uma espécie de muralha contra isso, aprendeu a lidar e não ser afetado por nada. Dabi sorriu perante a resposta ouvida, com que então era esse o tal agente implacável, hum?
Magne apercebeu-se celeremente da tensão existente entre os dois. Aliás, qualquer um perceberia se entrasse na sala de reuniões naquele instante, os lumes carmins mostravam abertamente o que o homem que os possuía sentia, denunciavam descaradamente o desagrado evidente sentido em relação ao cantor, mais, o desprezo palpável que lhe era dirigido. A diretora temeu que as coisas aquecessem demais e por isso tratou imediatamente de se intrometer, pedindo a Tomura que se sentasse.
Ele acedeu ao pedido, puxando a cadeira mais próxima sem retirar os olhos de Dabi. Sentou-se. A mulher começou a falar de burocracias, cortesias, coisas irrelevantes e que portanto, não captaram o interesse do agente. Toda a sua curiosidade mantinha-se naquele ser grotesco que estava descansadamente sentado defronte de si. Algo nele lhe prendia o olhar, não sabia se eram as queimaduras notáveis espalhadas pelo corpo ou se o seu ar preguiçoso e provocador que Tomura ainda nem conhecia mas já odiava. Os orbes vermelhos analisavam indiscretamente a sua próxima estrela, desde os cabelos rebeldes aos piercings no nariz e orelhas, desde o vestuário no mínimo descuidado às mãos que o cantor escondia com os braços cruzados. De facto, a única coisa que lhe "agradou" no outro foram as íris azuis, às quais ele deu mais destaque e permitiu a si próprio admirar com uma maior demora. De resto, apenas conseguiu pressentir que aquele emprego lhe ia dar muitas dores de cabeça, a expressão do outro dava a ideia que ele era alguém fechado e um pouco intolerante, seria mais uma barreira.
Já os lumes do mais velho estavam também presos àquela criatura toda molhada que o fitava, examinavam curiosos o rosto do futuro agente. As marcas das unhas nas zonas próximas dos seus olhos, que antes se apresentaram sem vida e agora estavam cobertos por uma camada ainda que fina de algum interesse, os fios de cabelo azul claro despenteados e mal secos – a toalha não tinha auxiliado muito –, as feições, as cicatrizes perto da boca e no olho direito, nem mesmo o sinal junto ao lábio inferior lhe passou despercebido. Deixou também os seus orbes percorrerem o casaco e a camisa humedecida, "veste-se bem", pensou, mas o que realmente lhe atraiu foram as mãos esguias e pálidas, os dedos compridos tamborilando nervosamente no tampo da mesa. Transitou ainda por breves segundos o olhar para as luvas de couro repousadas ao lado do possuinte, que as havia retirado logo após que se sentou, e perguntou-se o motivo de Tomura as usar, talvez fosse estilo? Ou não gostava das mãos?
— Shigaraki, está a ouvir o que digo? — questionou-o Magne repentinamente, interrompendo aquela troca de olhares já demasiado prolongada e apanhando os dois desprevenidos. Ambos saltaram na cadeira e olharam-na como se esta fosse um fantasma.
O jovem de olhos encarnados sentiu-se embaraçado por não ter ouvido uma única palavra pronunciada pela diretora, e sentiu ainda mais vergonha por notar que esteve a olhar todo aquele tempo para o homem rude. Já não tinha dado lá muito boa impressão ao aparecer todo descuidado na reunião, agora, não aprendendo a lição, estava abstraído do real. Parabéns, Tomura.
— Peço imensa desculpa, estava distraído... — o peso do que a outra iria pensar dele fez uma inquietação tomar conta de si, logo as unhas voltaram ao pescoço, ato que não passou discreto ao olhar vigilante do moreno. Por mais que o azulado tentasse não coçar, não conseguia. Era um tique nervoso que tinha desde que se lembra, sempre que se sentia ansioso ou stressado, era a sua pele que sofria. Uma péssima mania, ele sabia, mas era cativo dela.
— Deve ter água nos ouvidos, coitado... — atiçou Dabi, com o único intuito de deixar o outro ainda mais constrangido.
— Talvez, tenha, sim. Por isso mesmo, talvez você não se importe de repetir o que foi dito, para poupar a diretora desse fardo. — Tomura sorriu, também tinha o seu lado trocista e estava disposto a alimentá-lo, ainda que não gostasse, se fosse o necessário para calar o jovem das turmalinas.
Dabi viu-se atrapalhado com tal resposta, obviamente também não tinha ouvido nem uma sílaba que foi dita. E essa reação precipitada fez o agente alargar o sorriso, ridicularizando-o com o olhar vingativo. O moreno apenas coçou a nuca e desviou o rosto para outro canto da sala. Magne suspirou.
— Não faz mal... Não era de todo importante. — a diretora balançou a mão num gesto vago. — Shigaraki, tem alguma coisa a dizer antes de assinarmos contrato? — interrogou-o, aproximando dele um conjunto de folhas de papel e esticando-lhe uma caneta.
Tomura agarrou-a, colocou-a entre os dedos, e começou a ler cada linha do contrato, cada palavra, cada sílaba, cada letrinha pequenina. A experiência que tinha, ainda que não fosse tanta assim, dizia-lhe para não facilitar neste tipo de coisas, caso contrário, pessoas como ele acabam sempre por sair a perder. E o dono dos olhos vermelhos não era esse tipo de pessoa. Se ia entrar em algo, era para sair a ganhar. Esfolheou o contrato, vendo e revendo cada termo, procurando possíveis diferentes interpretações que o pudessem prejudicar, mas não encontrou nada que o deixasse insatisfeito. Bem, pelo menos até ver o valor da comissão que iria receber.
Pousou a caneta na mesa e estendeu o amontoado de papéis de volta a Magne.
— Temos aqui um problema. — falou gélido, apontando para a última linha do contrato com o dedo indicador.
— Um problema? — a diretora alarmou-se, não queria de todo deixar aquela chance escapar por entre os dedos, estava disposta a fazer alterações se assim tivesse que ser.
— Não sou daqueles agentes que se contenta com dez por cento.
— Então com quanto se contenta?
— Trinta. — respondeu de imediato, direto e firme. Tomura não era homem de se contentar com migalhas se podia ter o pão inteiro, era ambicioso, nunca fazia nada pela metade. Além disso, a ganância era um pecado que o assolava, o dinheiro sempre teve uma importância notável na sua vida. Talvez fosse muito para um agente ainda jovem, mas era esse o valor e o orgulho do azulado não lhe permitia descer nem um iene, se não gostassem, lamentava, não era ele que ficava a perder. Pelo menos na maioria das situações. Esta aqui era uma exceção. Precisava do emprego... Não, não importava, era trinta ou nada, não trabalha de graça para ninguém!
— Trinta?? — como seria de esperar, Dabi instantaneamente se opôs. — É um absurdo! — elevou o tom de voz, levantando-se bruscamente. — Nenhum agente por incrível que seja cobra esse valor! És completamente doido... — atacou, considerava injusto um preço daqueles estar sequer em cima da mesa, o único trabalho de Shigaraki era marcar concertos e organizar viagens. Nem pensar que daria trinta por cento dos seus lucros para pagar um serviço tão simples como aquele, ainda mais para alguém com aquele caráter convencido.
— É pegar ou largar. — o mais baixo falou com tranquilidade, mantendo a postura indiferente representada com perfeição. Estava sereno, mas uma negação iria custar-lhe muito... Sinceramente, Tomura já não sabia como devia agir, então resolveu apenas manter a sua posição. Pensaria nas consequências mais tarde.
— Boa, assim facilitas as coisas. Eu largo. — o cantor falou com seriedade.
— Muito bem, lamento. — o azulado levantou-se, arrumando a cadeira devidamente no seu lugar. Agarrou nas suas luvas e calçou-as com alguma lentidão. Seguidamente, encaminhou-se para a porta. Contudo, parou antes de sair. — Ah, já agora... Boa sorte em encontrar um agente tão bom quanto eu. — falou com um tom um pouco cínico e baixou a cabeça em despedida.
Ia deixar o local, porém, como ele previra, Magne parou-o.
— Espere! — a voz quase implorava. A diretora não ia mesmo deixar escapar aquele homem, algo dentro de si lhe dizia que aquele era o tal, o único que iria aguentar a resistência de Dabi, ela viu isso no modo como ele se comportou com ele, ela sabia que ele tinha que trabalhar ali, que era com eles o seu lugar. — Eu altero o contrato. — ela sorriu leve. — Só preciso que me dê uns minutos.
— O quê? — Dabi indagou, revoltado.
— Vais agradecer-me mais tarde, Dabi-chan, tenho a certeza. — ela respondeu, antes de dirigir o olhar para Himiko. — Toga, vem comigo, por favor, preciso de mandar mudar o valor da comissão e assim aproveitamos e tratamos do problema do elevador.
— Claro, Magne-nee! — a mocinha respondeu com prontidão e correu logo para a porta, apressada, mas antes lançou um olhar jocoso aos dois homens. Ia gostar de ver como as coisas iriam evoluir entre os dois. Com um pouco de sorte, começariam uma guerra aberta no dia seguinte. "Interessante", pensou.
Assim que as duas os deixaram sozinhos, Dabi foi até ao outro com um ritmo que não mostrava pressa alguma. O mais baixo apenas olhava a movimentação do cantor com a sua expressão séria enquanto se aproximava morosamente da mesa, procurando descobrir nos seus lumes azuis tão irritantes e ao mesmo tempo chamativos o que ele iria fazer. O moreno deteve-se a uns centímetros de distância do outro, enfiou as mãos nos bolsos das calças descontraidamente e inclinou ligeiramente a face em direção ao rosto de Tomura.
— Achas-te muito bom, não achas? — questionou, sem qualquer traço de desplante ou insolência. O seu tom, na realidade, era tudo menos divertido.
— Não me acho. — Shigaraki retrucou, dando de ombros. Dava a ideia de que estava bastante relaxado. — Eu sou o melhor. Ponto final. — concluiu, encarando bem o rosto de Dabi como afronta, os dois trocavam olhares com um brilho incitador.
— Falas muito.
O azulado deixou uma gargalhada frígida ecoar por aquela vasta sala de reuniões. Inesperadamente avançou contra Dabi, fazendo o mesmo recuar pelo sobressalto e bater com a zona inferior das costas na mesa. Logo este último ficou trancafiado entre os braços do agente, que agarravam solidamente a borda daquela tábua de madeira envernizada com tanta dedicação pelo seu autor. Apesar do pequeno susto, Dabi não se retraiu por um instante que fosse, manteve o semblante descontente sempre bem exposto. Tomura aproximou a boca do ouvido direito do cantor e sua fala foi a mais dura que o moreno alguma vez ouviu.
— Já que chegamos a este ponto, ouve bem aquilo que te vou dizer, porque eu nunca mais vou voltar a repetir... Eu já ouvi falar muito, muito, de ti e não foi pelos melhores motivos, acredita... Se pensas que sou mais um daqueles que vão abaixar a cabeça e aceitar os teus caprichos de merda, estás muito enganado. Eu estou aqui para fazer de ti alguém muito famoso... E tu vais fazer de mim alguém muito rico... É troca por troca. Vais fazer um trabalho decente para que eu também te possa ajudar... E não te vais desviar desse foco, porque eu não o vou permitir. — ele discursava, baixo, lento, mas firme e autoritário, ah, como o que dizia transparecia na perfeição a verdadeira natureza de Shigaraki Tomura, o novo agente de Dabi, que estava ali para fazê-lo brilhar e que não iria permitir que nenhuma distração o impedisse de o fazer! Afastou-se, dando visão ao mais velho dos seus orbes encarnados determinados. — Eu vou dar-te o mundo, e só te peço trinta por cento dele... — fez uma pausa. — Estamos entendidos?
Aí Dabi percebeu que Tomura não estava ali para brincar. E essa perceção fez um dos seus muitos comuns sorrisos de lado aparecer no seu rosto queimado. Talvez aquele homem viesse tornar as coisas interessantes.
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