𝑿𝑿𝑽𝑰. the enemy of my enemy.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
O inimigo do meu inimigo.
PISAR NO MIYAGI-DO a luz do dia era uma sensação completamente diferente da primeira vez que Theodora conheceu o dojo. A coleção de carros antigos do LaRusso parecia ainda mais impressionante quando os raios solares refletiam as cores vibrantes das latarias. Além disso, tanto o jardim quanto a casa principal pareciam extremamente bem cuidados.
Apesar do preconceito inicial da garota, ela sabia que era um lugar agradável para treinar e estava ansiosa pelas técnicas novas a serem aprendidas.
Porém o mais impressionante era a diversidade de pessoas que estavam ali presentes. O Presas de Águia e o Miyagi-Do unidos. Daniel e Johnny do mesmo lado de uma briga, parecia impossível e, ao mesmo tempo, histórico.
── Estão prontos?
── Vamos começar!
A loira ajustou a gola alta da blusa preta que estava usando. Talvez fosse um pouco inapropriado para o clima atual mas as manchas embaixo dos olhos já denunciavam o quão destruída ela estava. Theo certamente não precisava que as marcas das mãos de Catherine ficassem aparentes.
Um silencio estranho pairou sobre o ambiente enquanto os alunos se entre olharam confusos.
── Começar o quê, exatamente? — Demetri perguntou hesitante com uma mão levantada.
── Começar uma nova era — Daniel tomou a dianteira com mais um dos seus discursos motivacionais — Muito de nós éramos inimigos. Mas rivalidades... — ele fez uma pausa, olhando para o homem ao seu lado — Não precisam durar para sempre.
Theodora se reprendeu mentalmente por pensar em Robby, mordiscando os lábios para disfarçar o incomodo, como se alguém pudesse ler sua mente e descobrir o quão vulnerável ela estava se sentindo.
── O torneio regional será em poucos meses. Nesse ano, muita coisa está em jogo. Sabemos que o Cobra Kai vai usar todo o jogo sujo que eles conhecem. Só há uma forma de vencê-los...
── Chutando o rabo deles até derrubar o cu da bunda!
Johnny completou gritando, fazendo o homem ao seu lado arregalar os olhos e os alunos se assustaram brevemente.
── Precisamos intensificar as coisas. Vamos ensinar um ataque mais forte do que qualquer coisa que o Cobra Kai possa fazer. Eles atacam primeiro? Vamos "pré-atacar"! — continuou o loiro empolgado.
── Estamos nos precipitando. Nós vamos responder às atitudes deles — Daniel corrigiu, resultado em uma careta do Lawrence.
── Águias não respondem — bufou — Elas mergulharam e pegam o que querem. Faremos isso. Vamos vencer o Regional.
── Com uma abordagem calculada e organizada.
── Morderemos primeiro!
── Você acha que eles planejaram essa aula? — Theo se esforçou para não soltar uma risada nasalada enquanto Miguel torcia o nariz.
── Bem, vamos começar aquecendo com exercícios simples — Daniel anunciou, as caretas dos alunos se transformando em um sorriso coletivo de alivio.
── Certo, em formação! — completou Johnny.
Theodora caminhou mais para frente junto ao grande grupo. Anteriormente, ela costumava ocupar a primeira fileira ao lado do Diaz e mais próximo o possível do sensei mas dessa vez se conteve com a última.
Ela sabia que era só uma questão de tempo até o mais velho questiona-la acerca do passado dela com Robby mas a Young estava adiando o máximo que podia, fugindo da verdade, reprimindo os sentimentos conflituosos.
── Respirem fundo e façam o que eu fizer — Daniel ordenou, juntando as mãos e fazendo movimentos rítmicos sincronizados com a respiração.
A loira não pode evitar franzir as sobrancelhas. Ela sabia que a técnica do Miyagi-Do era diferente de tudo que ela havia experimentado, sabia sobre as regras de apenas defesa, sem ataque, mas certamente não esperava isso. O exercício se assemelhava muito mais com uma meditação guiada a alguma técnica de luta.
── Em posição de luta! — Johnny berrou, roubando a atenção do Presas de Águia — Perna direita para trás. Chute frontal.
Um grito desviou a atenção de todos. Nate se encolheu no chão, resmungando de dor após ser acertado por um golpe de Mitch.
── Droga, cara, foi mal — disse o garoto ajudando-o a se levantar.
── Jesus Cristo... — Theodora murmurou para si mesma, aquela seria uma tarde longa.
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A diferença das dinâmicas de Johnny e Daniel eram extremas, duas ideologias completamente opostas que claramente nunca iriam dar certo e isso ficava mais claro para Theo a cada segundo.
Após assistirem um combate violento dos alunos do Presas de Águia, com resmungos do LaRusso como trilha sonora, os adolescentes acompanhavam a luta do Miyagi-Do. Ou o que deveria ser uma, afinal nem Demetri nem Samantha haviam iniciado a disputa, eles apenas se rodeavam esperando algo.
── Isso. Continuem em círculos. Não se precipitem. Concentrem-se — o sensei encorajou.
── Não querendo ser chata mas isso é terrivelmente entediante — a loira resmungou, os olhos vidrados na 'dança' e os braços cruzados.
── Ah vamos lá, dê uma chance — Miguel riu nasalado da careta dela.
── Façam alguma coisa. Que merda é essa? — o Lawrence deu um passo a frente, indignado.
── Não é assim que funciona — Demetri respondeu, abaixando os punhos — Algum de nós tem que ser provocado.
Imediatamente uma garrafa de plástico voou das mãos do mais velho, atingindo a cabeça do garoto. A Young e o Diaz morderam os lábios, resistindo a um sorriso.
── Ei!
── Foi provocado agora? — o Lawrence refutou impacientemente.
O LaRusso revirou os olhos, decidindo que aquele era o sinal necessário para mudar de atividade.
Theodora franziu as sobrancelhas quando a entregaram uma lata de cera automotiva, se esforçando para dar uma chance ao ensinamento sem questionar ou resmungar. Afinal, nem tudo é o que parece ser.
A loira colocava o produto com a mão direita e tirava com a mão esquerda, sempre com movimentos circulares. Ela e Samantha dividiam o trabalho em um carro amarelo.
── Quantas vezes ele te obrigou a fazer isso? — a Young perguntou, usando o antebraço para tirar a franja do olho. Estava claro para loira que aquilo era um exercício para a memória muscular mas não deixava de ser engraçado a imagem da princesinha LaRusso lavando e polindo os carros da família.
── Acho que perdi a conta — respondeu a morena, esboçando um sorriso.
── Com a direita, com a esquerda. Não importa quantas vezes façam. Pratiquem o básico sempre — Daniel orientou caminhando pela fileira de carros — Bom trabalho garotas.
── É isso aí. Limpem bem. Quero que pareça novinho em folha! — ordenou o Lawrence, apoiado com os braços cruzados contra o próprio carro, onde alguns alunos trabalhavam não só no exterior como também no interior imundo — Tirem todas as latas daí. E se encontrarem alguma moeda, é minha!
O LaRusso precisou respirar fundo e se concentrar para não rolar os olhos pela milionésima vez naquele dia.
── Ok, próxima atividade!
O sorriso das garotas despencou rapidamente quando Johnny tomou as rédeas do novo exercício. Ele montou um circuito de corrida com obstáculos improvisados, alguns pneus velhos e vidro quebrado.
── Vamos, seus vermes! Mais rápido! — o loiro gritou, batendo palmas para incentivar — Ótimo. Ótimo. Não parem!
Theodora colocou a mão sobre as costelas assim que finalizou o circuito, recuperando o fôlego enquanto esperava a sua próxima vez.
── Quantas vezes ele te obrigou a fazer isso? — Samantha se aproximou também ofegante, repetindo a pergunta anterior da Young.
── Mais do que eu gostaria — ela sorriu cansada.
── Johnny, seremos processados — Daniel comentou preocupado, assistindo a exaustão dos alunos com os braços cruzados.
── Pelo quê?
── Meu Deus, acho que vou vomitar — Chris anunciou, tropeçando.
Theodora torceu o nariz, saindo do caminho o mais rápido possível e puxando a LaRusso consigo.
── No barco, não!
Daniel tentou impedir mas foi em vão. Quando o mais velho estava no meio do caminho o garoto já estava debruçado sobre o bote, colocando todo o seu almoço, ou o que havia sobrado dele, para fora.
── Dia um foi um sucesso — ironizou Theo, com o nariz torcido, tirando as mãos do ombro da morena.
Samantha e Miguel não conseguiram resistir a uma careta frustrada.
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Mesmo com o corpo fadigado e a mente relutante Theodora se obrigou a chegar cedo para o treino no dia seguinte. Ela sabia que quanto mais tempo passasse parada, mais sua mente faria o oposto, a torturando com as cenas da noite que não devia ser mencionada.
Então a loira aproveitou o tempo livre para se alongar no gramado enquanto esperava os senseis chegarem.
── Sua facilidade em fazer isso é assustadora — Miguel comentou alongando os braços enquanto a garota estava esparramada no chão, abrindo um espacate lateral.
── Obrigada? Vou levar isso como um elogio — Theo riu, tirando o cabelo do rosto e levantando o tronco.
A atenção dos dois amigos foi rapidamente desviada para os senseis recém chegados e o mal humor evidente em ambas as faces.
── Você acha que eles planejaram a aula de hoje? — Miguel brincou, repetindo a pergunta dela no dia anterior, enquanto oferecia a mão para ajuda-la a levantar.
── Vamos torcer que sim.
── Atenção — Johnny gritou — Saudação.
Os alunos se reuniram em frente aos mais velhos, ansiosos pelo que vinha pela frente.
── Sensei Lawrence e eu temos o mesmo objetivo de prepara-los para o torneio — Daniel começou, gesticulando moderadamente.
── Mas temos formas distintas de fazer isso.
── Notamos que ensinar pontos de vistas opostos ao mesmo tempo pode ser confuso.
A turma concordou silenciosamente.
── Então conversamos e chegamos em uma solução — anunciou o loiro.
Para a surpresa de todos, eles estavam se dando estranhamente bem, resolvendo os problemas de maneira civilizada e racional.
── Vamos dividir para conquistar. O Presas de Águia treina na frente comigo — anunciou Johnny.
── E eu ficarei aqui com o Miyagi-Do.
Theodora sentiu que comemorou cedo demais a evolução. Os lábios dela se partiram em choque, incapaz de argumentar contra a decisão por mais que quisesse, então Miguel assumiu a voz da turma.
── Mas juntos não somos mais fortes? — questionou o garoto com a mão levantada.
── Ainda estamos juntos — o LaRusso reforçou.
── Mas separados. Em lados opostos do dojo — o loiro completou, apontando para o pátio da frente onde estavam estacionados os diversos carros de Daniel — Águias, me sigam.
── Miyagi-Do comigo.
Samantha e Miguel se entreolharam frustrados antes de acompanharem os mais velhos e seguirem para suas respectivas turmas.
── Em formação!
A Young apertou o passo, se juntando ao grande grupo. Ela começou a amarrar as madeixas descoloridas em um pequeno rabo de cavalo baixo enquanto prestava atenção na explicação do mais velho.
Pela primeira vez Theodora percebeu que era a única garota naquela parte do dojo. Sem Aisha ou Samantha ao seu lado. E, apesar de estar ao lado de Miguel, ela se sentiu estranhamente solitária.
── Falcão, como você é novo no Presas de Águia, venha.
── Sim, sensei.
O garoto de moicano vermelho deu um passo a frente. Imediatamente o Lawrence se agachou dando uma rasteira no adolescente desprevenido que caiu com as costas contra o chão de terra.
A Young colocou a mão sobre a boca, abafando um som de espanto misturado com uma risada.
── Que porra foi essa? — gemeu o garoto, se levantando com dificuldade.
── Hoje, vamos praticar rasteiras — se Johnny não estivesse de mau humor, um grande sorriso maquiavélico brotaria nos seus lábios — No Falcão.
── Posso ir primeiro? — a loira levantou a mão com um pequeno sorriso inocente enquanto o garoto a fuzilava com o olhar.
── Beleza, sei que fui escroto — Falcão se virou para falar com o sensei — Me desculpe.
── Falar é fácil. Quem é o próximo? — Johnny passou o olhar rapidamente pelos alunos — Bafo de Bunda, sua vez.
Theodora sabia que o exercício era uma punção pelo jeito no qual Falcão agiu, todos sabiam. Mas ao ser ignorada mesmo após se voluntariar, a garota teve certeza que aquilo também era uma punição para ela.
Provavelmente, resquícios de mágoa pelas respostas omitidas anteriormente, e o pior de tudo é que ela não o culpava pelo tratamento. Theodora estava envergonhada e confusa, admitir isso para um adulto era difícil, principalmente quando ele era pai do problema.
Ela respirou fundo, voltando sua atenção para a atividade.
O estresse do Lawrence estava crescendo e servindo de combustível para as dinâmicas de forma cada vez mais intensa. Os golpes demonstrados tinham que ser cada vez mas fortes, ágeis e perfeitos para satisfazer o mais velho.
"Deixa de choramingar. Levanta! "
"Para de frescura! Soca a cara dele!"
"Você socou o saco dele? Qual o seu problema?"
Johnny andava de um lado para o outro, gesticulando as correções a serem feitas. Se eles não estivessem em um dojo, o homem poderia ser facilmente confundido com um treinador de futebol muito raivoso.
── Sensei Lawrence — Daniel chamou a atenção do loiro com uma expressão não muito feliz.
── Fala aí.
── Posso falar com você por um segundo? — Johnny franziu as sobrancelhas enquanto o LaRusso insistiu — Em particular.
── Muito bem pessoal, pausa de cinco minutinhos. Deem uma volta.
Falcão suspirou aliviado. Ele aceitou hesitante a ajuda de Theodora para se levantar, esticando as costas e indo em busca da sua bolsa dentro do dojo principal. Já a Young bufou cansada, sentando-se na escada da entrada, enquanto tomava pequenos goles da sua garrafa vermelha.
Alguns segundos depois Miguel se juntou a ela. Nenhuma palavra foi dita, ambos focados em entreouvir a conversa distante mas calorosa dos senseis.
── Pode falar baixo? Eu estou tentando ensinar — o LaRusso pediu impaciente.
── Falar baixo? Quer que eu sussurre? Karatê é um esporte barulhento.
── Eu não consigo treinar meus alunos ouvindo seu... Palavreado.
── Palavreado?
── É.
── Que merda é essa?
Em poucos segundos os múrmuros abafados dos dois se transformaram em palavras e as palavras em gritos raivosos, com sorte os gritos não se transformaram em socos.
Theodora manteve os ouvidos atentos na conversa enquanto abaixava a cabeça para responder uma mensagem do seu pai no próprio celular.
Daniel saiu pisando forte, o maxilar travado e os punhos cerrados. Ele parecia sempre um homem calmo mas Johnny era a única pessoa capaz de tira-lo do sério.
── Eu deveria saber que isso ia ser um desastre.
── Tudo para você é um desastre! — o Lawrence cuspiu ríspido, disparando direção a saída.
── O que? Pra mim?
── Sr. LaRusso, podemos conversar? — Falcão se aproximou timidamente, saindo do dojo principal e batucando os dedos na própria garrafa d'água.
── Que foi?
── Não sei onde eu me encaixo aqui... — o garoto respondeu timidamente, as bochechas ficando quase tão vermelhas quanto o tom do seu cabelo.
── O que esperava? Você ultrapassou os limites com todo mundo — assim que as palavras pularam dos lábios do mais velho, engatilhadas pela raiva, ele se arrependeu amargamente. O olhar dele suavizou em contraste com o do garoto que saiu em disparada com a cara fechada — Eli, espera...
── O que você fez? — questionou Johnny ainda mais revoltado.
── O que eu fiz? — o LaRusso assumiu a postura defensiva, gesticulando na direção do loiro — Não sou eu que fiquei batendo nele o dia todo.
── Estamos treinando pro regional, não é yoga — o Lawrence apontou o dedo na cara de Daniel. A discussão se intensificando conforme eles marchavam pelo estacionamento.
── Não desrespeite meu dojo na frente dos meus alunos.
── Não me diga como dar aula. Eu ensino como eu quiser.
── Eu sei o que está fazendo.
── É?
── Enquanto você estiver sob o meu teto, eles são nossos alunos.
── Sob qual teto? Estamos do lado de fora!
── Merda — Miguel e Theodora disseram em uníssono por motivos diferentes. A loira se apressou em pegar a própria bolsa colocando transpassada no tronco enquanto se levantava do chão.
── A onde você está indo? — o garoto franziu as sobrancelhas. A briga dos mais velhos servindo como trilha sonora para o ambiente.
── Assunto de família — ela explicou, andando de costas em direção a saída — Tenho que está no aeroporto em quarenta minutos.
── Como eu resolvo isso sozinho?
── Eu não sei! Pede ajuda a Samantha. A minha ideia das algemas ainda está de pé.
── Eu não vou prender eles dois em uma... THEO! VOLTA AQUI! THEODORA!
˚ ⊹˚.⋆ ₊
── Eu queria que vocês pudessem ficar mais — Theodora choramingou sendo esmagada fortemente nos braços dos avós. A confusão do aeroporto ao redor deles não parecia afetá-los, diversas partidas e reencontros aconteciam simultaneamente — Um ano é muito tempo.
── Vamos tentar vir no dia Ação de Graças do próximo ano também — Owen foi o primeiro a soltar a neta deixando um beijo estalado no topo das madeixas descoloridas — Cuide do seu velho até lá.
A Young mais nova sorriu, olhando para Christopher atrás de si que também carregava um sorriso largo.
── Pode deixar.
── E por favor pare de crescer — Susan abraçou a garota uma última vez, beijando a testa dela e arrumando o pingente de floco de neve que sempre estava no pescoço da mais nova — Eu não vou aguentar se você ficar maior do que eu.
── Pode ficar despreocupada — Chris provocou, fazendo a filha estender a língua na direção dele.
Os três riram coletivamente. Um último aviso ecoou pelas paredes do aeroporto, anunciando o embarque do voo dos mais velhos.
── Essa é a nossa deixa — Owen anunciou pegando as malas da mão da esposa.
Theodora finalmente se desgrudou da avó relutante. Christopher aproveitou a deixa para abraça-la de lado oferecendo suporte enquanto os dois assistiam e acenavam para os mais velhos, cada vez mais distantes até eles se tornarem só silhuetas.
── Quer ir comer um hambúrguer? — o mais velho perguntou após alguns segundos de silêncio.
── Sempre — a loira respondeu sorridente, caminhando lado a lado em direção a saída.
A casa azul dos Youngs parecia um pouco mais vazia com a ausência dos Williams, mas a loira fez questão de animar o ambiente colocando algumas músicas dançáveis enquanto deslizava pelo chão da cozinha com suas meias de gatinho, usando um garfo como microfone e fazendo Christopher gargalhar em frente ao fogão.
Ao terminar, ele colocou o prato na frente da garota, assistindo ela se ajeitar na cadeira para devorar o hambúrguer. Os cabelos úmidos e descoloridos caindo desordenadamente para o lado e revelando os machucados arroxeados causados pelo Cobra Kai.
Christopher nunca foi muito super protetor com a filha. Ele estava acostumado com os machucados constantes na pista de patinação mas era um pouco mais delicado quando se tratava do emocional de Theodora, principalmente seus sentimentos conturbados envolvendo perda após a morte de Winter.
Porém, a volta do karatê da noite pro dia o assustava. Ele não queria que a filha tomasse um peso que não era seu. Não era o dever dela ser uma super heroína e impedir o Cobra Kai machucando seu exterior e interior e ele gostaria que ela soubesse disso, independente do que Johnny e Daniel falassem e pensassem.
── O que você está pensando? — o Young mais velho perguntou, sentando-se de frente para ela na bancada da cozinha.
── Não sei — Theo soprou o sanduíche, dando uma mordida generosa e colocando a mão em frente aos lábios para responder de boca cheia — Muita coisa e ao mesmo tempo nada. Faz sentido?
Ele acenou positivamente com a cabeça.
── Você não parece tão animada em voltar a treinar — ele apontou enquanto roubava uma batata frita do prato dela —Você ao menos quer participar desse torneio?
── Eu preciso.
── Mas você quer?
Theodora suspirou, evitando o olhar do pai enquanto brincava com o alface saltando para fora do pão.
── É complicado.
Christopher deixou os olhos examinarem o rosto dela com carinho. Por mais que ele quisesse diminuir a frustração da filha, ele sabia que essa escolha junto com as consequências acarretadas, precisavam ser decididas por ela sozinha.
── Só quero que você saiba que não tem problema em desistir, Teddy — aconselhou o Young mais velho, mastigando o próprio jantar — As vezes é preciso mais coragem pra desistir do que para continuar.
── Eu sei, pai — ela respondeu baixinho, dando outra mordida pequena — Eu sei.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
── Tem espaço pra mais uma?
Foi a primeira coisa que Theodora perguntou ao avisar Samantha sentada no banco de trás de um dos conversíveis de Daniel, esperando o treino começar. A loira pulou a porta, sentando-se paralelamente a morena com as pernas esticadas no banco.
── Você está bem? — a Young franziu as sobrancelhas, percebendo a feição cabisbaixa da LaRusso, que negou timidamente com a cabeça, abraçando os próprios joelhos.
── Eu fui ver a Catherine ontem — ela confessou frustrada— E o Robby.
── Ah — Theo espelhou a ação dela, sentindo um aperto estranho no peito que estava se tornando familiar a cada vez que o garoto era mencionado — Deixa eu adivinhar, não deu muito certo?
Sam riu sem graça, ela estava começando a apreciar a presença de Theodora e seu senso de humor estranho. Elas não tinham muito em comum fora o karatê mas a LaRusso podia imaginar um cenário onde elas seriam boas amigas, companheiras de dojo.
Ela certamente se sentiria menos solitária com outra garota ao seu lado.
Porém, antes que ela pudesse formular uma resposta para a Young, Miguel apareceu apoando-se na lataria amarela com um sorriso divertido.
── Bom dia, senhoritas. Meu nome é Miguel e eu serei seu chofer essa manhã — ele adentrou o banco da frente do automóvel, as mãos agarrando o volante enquanto ele examinava o painel — Contanto que vocês me ensinem a fazer ligação direta nessa coisa.
Theodora mordeu os lábios se divertindo com a tentativa do amigo de melhorar o clima enquanto a face de abatida de Samantha continuou a mesma.
── Nossa, nem uma risada de pena? — ele retrucou, virando o tronco para encarar as duas garotas.
── Eu nem vi meu pai sair de casa hoje — a LaRusso mais nova se explicou, enquanto o sorriso do garoto diminuía gradativamente — Será que ele e Johnny se acertaram?
── Também não o vi essa manhã.
Os três adolescentes bufaram frustrados. O plano de unir os dois senseis e os respectivos dojos era fácil na teoria mas até agora não tinha rendido absolutamente nada.
A loira cerrou os olhos ao ver Eli marchando em direção ao dojo, sem cumprimentar ninguém, com uma feição nada amigável e uma grande ferramenta apoiada nas costas.
── E aí, Falcão? — Miguel cumprimentou, acompanhando os passos do garoto com o olhar — Falcão?
── Espera, aquilo era uma marreta? — questionou Theo com os olhos arregalados.
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── Certo, pra trás! Vai cair!
Falcão gritou, golpeando a cerca fortemente. A madeira estalando ao atingir o chão e arrancando um grito alegre de Theodora e Demetri.
── Ei! O que vocês estão fazendo? — Daniel apareceu atrasado, quase correndo em direção aos mais novos com uma feição metade confusa e metade raivosa. Johnny o acompanhou com as mãos no bolso e as sobrancelhas franzidas.
── Vocês tinham razão. Falar é muito fácil — o garoto de moicano vermelho se explicou, ajeitando a postura — Então estou começando do zero.
── Mais especificamente, um deque de treino de Okinawa — a loira completou, estendendo um tablet com imagens do projeto na direção do LaRusso.
── Eli é um gênio do design. Eu conferi e está certinho — Demetri concluiu, com um sorriso satisfeito. Os mais velhos estavam mais confusos do que nunca.
── O Sr. Miyagi usava essa área para armazenamento, mas... Um novo deque nos daria mais espaço para treinar — Samantha adicionou se aproximando com o namorado e uma pá em mãos.
── E vamos ajudar a construir — o Diaz sorriu largo — Desde que vocês aprovem, é claro.
Os dois senseis se entreolharam antes da admirar o trabalho coletivo sendo feito, antigos rivais trabalhando juntos enquanto cortavam, lixavam, podavam e fixavam. Demetri e Eli eram apenas um deles, Mitch e Chris também se ajudavam e até mesmo Nate e Bart.
Talvez o Lawrence e o LaRusso ainda tivessem muito o que aprender com os próprios alunos.
── Por mim tudo bem — Daniel foi o primeiro a se pronunciar.
── É — Johnny completou, olhando para o ex-rival. Eles precisavam fazer aquilo funcionar, o Cobra Kai não podia ganhar — Parece incrível.
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