
ᥫ᭡ 017
CINCO DA MANHÃ, EXATAMENTE cinco da manhã e Seungmin já está me ligando. Eu estou terminando de calcar os tênis com a maior má vontade do mundo, espero todas as suas ligações caírem, quem sabe ele vai embora e eu não serei mais obrigada a fazer isso. Mas quando eu desço, o encontro me esperando na porta.
— Cadê a sua garrafinha? — ele pergunta quando me vê. Eu esperava um "bom dia", não que o meu esteja sendo.
— Garrafinha?
— É, de agua.
— Ah, não. Eu bebo com você, não vou levar peso — me nego a sair carregando algo. O peso do meu corpo já é o bastante.
Seungmin concorda, pois sabe que se eu entrar em casa outra vez, não irei voltar. Eu tranco a porta e guardo a chave na boca da estátua de sapo que tem na varanda, me certifico antes de que não tem ninguém por perto para olhar, mas são cinco da manhã.
Quando eu contei a meu pai e Sumin ontem que farei uma caminhada com o Kim, eles nem acreditaram. Levei muito tempo construindo a minha imagem de garota sedentária, é comum a reação deles. Mas ficaram felizes quando ligaram para o meu amigo e ele confirmou, até obrigaram Felix a ir, mas quando ele estiver 100%. Meu irmão está se recuperando do resfriado.
Kim e eu fazemos um alongamento antes de sairmos, ele disse que ajudará a manter o ritmo e que evitará que eu me machuque. Nós começamos a caminhar na mesma velocidade que caminhamos quando voltamos da escola, estamos inclusive indo na direção dela. O meu amigo disse que o mais importante é controlar a respiração e não perder o ritmo, que como estou começando é normal que eu me sinta cansada e que amanhã sinta as minhas pernas pesadas, mas que em uma média de três dias eu me adaptarei ao exercício e poderemos aumentar a velocidade em que andamos.
— Não acha que é cedo para virmos à escola? — falo quando passamos em frente ao prédio.
— Tenta não conversar muito, vai ficar com a garganta seca muito rápido — ele diz. Mas o que eu acho mesmo é que ele está tentando evitar o meu nau humor. Ótimo, estou nessa e nem posso conversar.
Nós continuamos andando juntos. Estou levando isso como um castigo. Eu preferia ter ficado em casa, quase nem dormi, meu sono é muito precioso. Meus olhos quase fecham conforme caminho. Pé direito, pé esquerdo. Me forço a ficar acordada.
A situação é chata, mas, pelo menos, a vista é boa, com a cidade ainda clareando e alguns dos passarinhos já começando a cantar. O vento também está gostoso e até faz eu me arrepiar. Talvez isso não seja lá tão ruim. Depois de um longo tempo caminhando, nós finalmente chegamos na minha casa novamente, nós damos a volta inteira no bairro.
— Até amanhã, Seungmin — eu me despeço.
— Onde você pensa que vai? — ele pergunta dando um gole na sua garrafa d'água. — Nós terminamos a primeira volta, ainda temos mais uma.
— O que!? — eu pergunto. — Assim vamos nos atrasar para a escola.
— Temos tempo o suficiente, não se passou mais de meia hora — ele me entrega sua garrafinha.
— E você acha pouco? — paro de reclamar para beber um pouco de água. — Eu não aguento mais. Quero dormir! — falo, mas depois que me levanto não consigo mais.
— Mais uma volta, Jiyoon. Assim você já acorda de uma vez por todas.
Eu resmungo, imploro, finjo choro e nada adianta. Ele me arrasta para outra volta no bairro. Já é a segunda vez que estamos passando em frente à escola e eu não quero nem pensar que ainda pode ter uma terceira.
Nós caminhamos e fazemos isso quietos, não paramos nem para beber água, fazemos isso em pequenos goles enquanto caminhamos mesmo. Só paramos de fato na pracinha do bairro, que é bem perto da pista de skate até.
— Eu vou deixar você sentar por três minutos — ele diz, começando a se alongar ao lado de um dos bancos.
Eu agradeço a Deus e a Seungmin, me sentando no banco. Eu bebo um pouco de água outra vez, respiro fundo e uso um pouco da água para molhar o rosto. O dia está totalmente claro e eu nem percebi. As pessoas já estão acordadas neste horário, a padaria em frente onde estamos já estava aberta desde a primeira volta, mas eu só percebo agora pois o cheirinho do pão quentinho da nova fornada me deixa com fome. Woah, caminhar consegue até abrir o meu apetite de manhã.
Eu olho para trás e encontro um Seungmin que não para de se mover, ele está sempre fazendo algum exercício ou alongamento. Eu olho fixamente para ele, o meu amigo fica em constante movimento.
— Você não para não? — questiono.
— É que eu não quero perder o ritmo — ele fala.
— Quero voltar para casa, está muito chato! — falo emburrada. — Você nem conversa comigo direito.
— É para que você não fique cansada — ele diz. — Você pode trazer os fones de ouvido amanhã, assim iremos escutando música.
— Amanhã é sábado, eu vou dormir na casa da minha mãe. Que pena, não é mesmo? — eu falo com uma falsa expressão de tristeza, por dentro pulando de alegria.
— Sua mãe não te contou? — essas palavras não me agradam nem um pouco. — Felix e eu vamos dormir na sua casa durante o fim de semana. Vamos caminhar os três, quatro se a sua mãe topar também.
— Mas... mas... o Felix está doente!
— Ele já está se sentindo bem melhor. Além disso, caminhar ajudará ele a se sentir ainda mais saudável — o miserável tem uma resposta para tudo.
— Não tenho como escapar disso, tenho?
— Não — Kim responde, todo sorridente. — Vamos. Nós podemos conversar, se isso te fizer se sentir melhor.
— Não faz — resmungo. Nós voltamos a andar, como os passos não são tão rápidos, não ficaremos mais cansados.
— Você pode não gostar agora, mas em uma semana vai ver como estará amando fazer caminhada — ele garante, eu duvido. — Você ficará mais disposta, melhorará o humor e a qualidade de vida também.
— Você está parecendo a professora de educação física — me refiro a maneira como ele fala. — Seung, você sabe se Chan vai para a escola hoje?
— Vocês dois não conversaram?
— Não, ele nem deve saber do desmaio — recordo que ainda tenho que contar o que aconteceu para ele. — Ele vai surtar.
— Pode apostar que sim.
Eu não sei como esqueci de falar a ele, os alunos ainda devem estar comentando sobre isso com os outros, ele acabará sabendo, de qualquer forma. Evito os pensamentos sobre a escola e qualquer assunto que a envolva. Mais algum tempo caminhando e paramos de frente para a casa de Seungmin.
— Se importa se eu não te acompanhar até em casa hoje? — ele pergunta. — Como caminhamos devagar chegamos mais tarde que o esperado. Eu tenho que acordar o meu irmão e arrumá-lo para a escolinha.
— Não tem problema, é uma rua atrás da sua casa — falo. — Tchau, Seung.
— Tchau. Eu te vejo no mesmo horário, mais tarde — ele se despede antes de entrar.
— Estou cogitando ir de carro.
— Nem pensar! — ele fala alto, já dentro de sua casa. — E não esquece de me mandar foto do prato!
Eu rio sozinha. Estou prestes a ir embora quando paro para olhar a casa de Hyunjin por alguns momentos, até me esqueço de que ele mora em frente ao meu amigo. Fico observando a fachada da casa por um tempo até que seguir o meu caminho.
Na verdade, a minha casa também não fica longe, é bem pertinho da dele, literalmente na rua de trás. Se não fossem as cercas ao redor das casas eu apenas passaria por alguma brecha e chegaria em casa, mas como não há espaço, vou pelo caminho tradicional. Quando cheguei em casa meu pai já está acordado, na cozinha. Eu passo apenas para dizer que cheguei e subo para o meu banheiro. Tomo um banho e tiro o cansaço das costas.
Tenho tempo, me arrumo sem uma pressa exagerada habitual. Quando fico pronta, desço para a cozinha. Junto-me aos outros na mesa, estavam todos apenas me esperando. Até Yongbok está pronto, parece que ficou ansioso para voltar à escola e se arrumou mais cedo.
Coloco um pão francês com queijo mozarela, presunto e requeijão cremoso na sanduicheira. Quando o queijo derrete, ponho o sanduíche em um prato. Pego um iogurte de morango e acrescento algumas frutas frescas no copinho, arrumo tudo e mando foto para o meu amigo. Está tudo uma delícia. Não foi Sumin quem fez os pães hoje, mas os da padaria são bons também.
— Irá passar a compartilhar fotos de comida no seu Instagram agora, querida? — Sumin pergunta, servindo-se com alguns cubinhos de queijo.
— Não, é Seungmin que me obriga a provar que estou comendo — eu explico.
Os três na mesa riem.
— Ele é um garoto bacana — papai fala. — Está provando que é um bom amigo para você, que se importa. Eu gosto dele.
— Eu também gosto muito dele, Kim Seungmin é realmente um ótimo amigo desde que éramos pequenos.
— E ele é apenas amigo mesmo? — a outra mulher na mesa pergunta.
Papai por pouco não se engasga com a sementinha da uva que comia. Felix está gargalhando, não sei se de ver o papai neste estado, ou se é por sua mãe achar que eu e Seungmin poderíamos ser algo a mais.
— Jiyoon e Seungmin? — Felix pergunta risonho. — Sem chance, eu tô falando sério. É que, na verdade, a Jiyoon...
— Eu já estou com muita coisa na cabeça para pensar em garotos, pai — interrompo meu irmão antes que ele fale mais do que deve.
Yongbok parece entender o meu recado. Nós dois voltamos a comer em silêncio até mais alguém começar a falar.
— Você vai para a casa da sua mãe hoje? — papai pergunta. Confirmo com a cabeça. — Não sei se ela te contou, mas Felix irá com você. Ela vai pegar vocês na escola, vocês vão direto de lá, então já levem suas coisas.
— Eu tenho as minhas coisas lá também, não preciso levar nada — falo.
— Mas eu preciso! — Felix exclama como se soubesse disso só agora e então, num piscar de olhos, sai correndo em direção ao quarto dele.
Eu fico bem tranquila terminando de comer com todo o tempo do mundo que tenho. Felix deve estar em crise no quarto, vasculhando tudo a procura de roupas e produtos de higiene pessoal.
Alguns minutos se passam e ele volta com a bolsa da escola cheia, parece que irá explodir. Mas estranho ver os seus livros e cadernos nas mãos.
— Você leva na sua bolsa? — ele pede. — É que na minha não cabe mais nada.
— Tá bom — concordo ao ouvir a campainha tocar e perceber que não tenho mais todo o tempo do mundo para dizer não.
Pego minha bolsa do sofá e coloco os materiais de Felix dentro dela. Ficou tão pesada que posso até ficar com algum problema nas costas por conta dele, se isso acontecer ele me paga!
— Tchau, mãe. Tchau, pai — Felix se despede.
— Tchau. Aproveitem o fim de semana de casal! — eu digo antes de sair.
Ele e eu saímos de casa. Do lado de fora, Chan e Seungmin nos esperam. Seungmin fica atrás com Felix conversando, já Chan e eu vamos um pouco na frente. Antes de sairmos, quando me vê, Bang me dá um beijo na bochecha como "oi". Foi tão inesperado que posso chegar a ter corado.
Ter um namorado é tão diferente, mas posso acabar me acostumando. Ele e eu começamos a andar lado a lado, eu sinto sua mão tocar a minha de surpresa e quando vejo já estamos andando de mão dadas. Novamente, será fácil me acostumar a isso.
— Como foi o seu dia ontem? — ele pergunta.
— Uma merda... — respondo ajeitando a bolsa nas costas. Sinto que está acabando com a minha postura.
Chan nota o meu desconforto com isto, é pesado de mais. Ele para de andar então eu faço isso também, os nossos amigos nos ultrapassam nem um pouco interessados em nós dois. Ele tira a minha bolsa das minhas costas e carrega na frente, já que a sua ocupa a parte de trás.
— Eu levo para você — ele se oferece e eu não sou nem boba de recusar. Chan pegou a bolsa achando que estava leve, por isso ela quase foi ao chão. — O que tem tanto aqui?
— Minhas coisas e as de Felix — respondo. — A mochila dele já estava sobrecarregada de roupas, nós vamos passar o fim de semana na casa da minha mãe.
— Eu também vou! — Kim diz lá da frente.
— Então eu sou o único excluído da festa do pijama? — ele pergunta.
— Foi mal, a minha mãe quem convidou.
— Eu estava apenas brincando. Mas se vocês vão todos para a casa da sua mãe, isso quer dizer que eu não vou te ver durante o fim de semana? — ele pergunta com um biquinho.
— Não.
— Então vou ter que compensar o tempo longe na segunda — ele diz.
— Estou ansiosa.
— Que. Nojo. — Seungmin faz careta, como se fosse vomitar. Eu mostro a língua.
E quando percebo, aqui estou eu, em frente à escola pela terceira vez no mesmo dia. Eu me paro pensando se as pessoas ainda estarão comentando sobre o meu desmaio. Na maioria das vezes eu gosto de ver que a minha presença é notada quando eu chego em algum lugar, gosto de um pouco de atenção. Quem não? Mas desta vez é diferente, é por um motivo ruim. Eu desmaiei no meio da sala, todos viram e adoram comentar. Sendo que agora Chan e eu assumimos o namoro, os alunos devem ter muitas besteiras para pensar e comentar.
Suspiro já pensando no que virá e adentro as instalações da escola. Porém, acabo me surpreendendo quando não recebo nenhum olhar torto nem pessoas fofocando sobre mim e achando que eu não perceberia. Tem grupos formados aos cochichos sim, mas em nenhum momento eles olham para mim e disfarçam, então suponho que o assunto não é comigo. E se não é, significa que algo aconteceu de ontem para hoje, algo grande.
Nós quatro ficamos parados já na porta de nossa sala sem entender nada. Eu estou prestes a entrar quando uma voz conhecida grita o meu nome. Eu observo a figura feminina se aproximar, parada no meu lugar.
— Aí está você, exatamente quem eu estava procurando! — diz Baek Yujin. Ela parece atordoada, fora de si. Acho que estou começando a entender sobre quem são as fofocas.
— Eu? — pergunto. Olho ao redor e sou a única pessoa no seu campo de visão.
— Sim — ela confirma. — Jiyoon-ah... — Yujin falou comigo em um tom informal, não costumava ser assim. — Nós precisamos ter uma conversinha.
Eu não entendo a situação ou sobre o que se trata, mas Yujin parece bem nervosa. Seu rosto está meio avermelhado e, posso ter alucinado, ms eu vi sair fumaça dos seus ouvidos.
— Eu já entro — falo, indicando para os outros três aqui fora entrarem na frente.
— Jiyoon, você...? — Chan tenta ficar.
— Eu já acompanho vocês — insisto para que vão e finalmente eles me deixam sozinha com ela.
O corredor está praticamente vazio. Todos ow outros já estão em sala de aula, apenas o nosso professor que tem o costume de chegar um pouco depois. Ficamos ela e eu do lado de fora, com a porta da sala fechada.
Olho nos seus olhos, eles inibem raiva. Fico preocupada e confusa, onde está a doce Yujin que costumo ver? Alguém fez algo com ela, o mais provável que seja o idiota do namorado. Só não entendo uma coisa, por que conversar comigo?
— O que está acontecendo? — eu questiono. — Não estou entendendo nada, Yujin.
— Você está confusa? — ela ri com deboche. — Se você está confusa, imagine como eu me sinto — ela diz em um misto se frustração e raiva. — Como você se sentiria ao saber que o seu namorado está terminando com você por conta de outra garota?
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