❪ 𝐎𝐎 ❫ ┆ ❛ 𝐃𝐀𝐑𝐊𝐍𝐄𝐒𝐒 𝐖𝐈𝐓𝐇𝐈𝐍 𝐎𝐔𝐑𝐒𝐄𝐋𝐕𝐄𝐒
PRÓLOGO
a escuridão dentro de nós
mesmos
ERA TARDE DA NOITE QUANDO UMA MÃO SUADA SACUDIU seu ombro. Devina acordou num pulo, pisando em falso, os olhos encolheram-se lutando contra a claridade da chama da vela dançante próxima ao seu rosto. Ela recuou atônita, completamente confusa, amedrontada pelo fogo, arrastando-se sobre a madeira e batendo suas costas contra a cama atrás de si, quando por fim o avistou, lá no fundo da escuridão de seu quarto mofado, o inteligível semblante atormentado e irritado de sua irmã mais velha.
── Você vêm ou não? ── Abigail lhe lançou um olhar crítico, como se quisesse intimidá-la.
Constance, sua irmã mais nova, se virou na cama ao lado quase despertando do sono inocente que a envolvia.
── Tem certeza que quer fazer isso? ── levantou-se apreensiva e apanhou uma capa de tricô na cor rubi, feita pela própria.
── Eu não tenho outra escolha! ── replicou, considerando-se a pior das pessoas ao julgar sua atitude leviana, sabendo que não haveria mais volta.
Embora uma sensação completamente desconfortável sufocasse sua alma, feito correntes emaranhando-se ao entorno dela, Devie mesmo inquieta, decidiu acompanhá-la, porque não soltaria a mão de Abie num momento como aquele. E foram ambas, descendo silenciosamente pelos degraus da escada principal até o modesto saguão, atravessando a porta frontal da residência. Como era nítido o quão assustadas caminhavam, os capuzes cobrindo suas cabeças e escondendo seus rostos, como se a vergonha as seguisse. A ruiva atrelou os passos, exausta do conflito que travava dentro de si própria, mas não foi o suficiente, quando uma maçaneta da casa a frente girou, acabou sendo surpreendida por uma silhueta que a paralisou, apenas conseguia pensar no olhar surpreso de Hannah Miller à observá-la, saltando para a frente da porta com uma manta cobrindo seus braços, ela que só havia saído para admirar o luar, teve mais sorte em encontrar aquele par de olhos esmeralda.
── Devie... O que está fazendo? ── abraçou o próprio corpo, como se temesse pela amiga.
── Promete que não conta pra ninguém? ── respirou fundo, reconhecia que não teria chances contra a curiosidade infinita de Miller ── Abigail precisa de ajuda... A gente vai visitar a viúva!
── A viúva Mary?! ── seus olhos azulados saltaram de seu rosto, jamais cogitou a ideia de que um dia a Berman fosse fazer aquilo, talvez Lizzie ou Isaac, seus amigos mais próximos tivessem coragem de investigar a velha, mas não Devina, justamente porque como diziam por Union, a mulher era um poço de mistérios e lidava com forças ocultas que em nada combinavam com a pureza da ruiva.
── Shiiu! Isso não pode sair daqui! ── a repreendeu e através da angústia sublime em toda sua expressão, Hannah soube que o assunto era sério ── Por favor... É um segredo! ── insistiu.
── Eu não vi nada! ── sacudiu a cabeça, após um longo suspiro.
Devina então foi puxada pelas mãos apressadas de Abigail que a arrastaram pelo campo de vegetação alta, o qual terminava com o início da floresta. A casa da velha localizava-se em algum lugar em meio às árvores, Abie nunca saberia como indicar o caminho para alguém, porém deduzia como chegar até lá com confiança, o que todos sempre confessavam é que tratava-se de uma estrada de terra bastante sombria, cercada por galhos apertados. Depois de atravessar pelo córrego, elas foram avançando entre as folhas cheias das árvores largas ao redor, talvez estivessem no caminho correto, a floresta parecia estar ficando cada vez mais estreita. Devie olhou para cima num instante, tendo a cismática impressão de que estava sendo observada, o farfalhar das asas acima de sua cabeça prendeu sua genuína atenção, eram negras e foram batendo forte de encontro ao céu. O grasnar estridente denunciava que tratava-se de um corvo, veloz o suficiente, prosseguiu voando depressa como se precisasse levar algum recado a alguém.
A lamparina na mão trêmula da primeira iluminava o trajeto minucioso, o vento que soprou empurrando sua saia, a faz avistar a casa da viúva, ou melhor, uma moradia composta por tecidos e bambuzais, lhe servindo como a legitimação do que necessitava para convencer-se. Foi assim que a de cabelos mais escuros tomou partido, mantendo sua irmã atrás de suas costas, invadiu a tenda passo por passo silenciosamente, apertando as pálpebras, sem qualquer receio, ao contrário da outra, que tremia, suando frio. A jovem de cabelos de fogo inclinou-se, notando o corvo de outrora sapateando num puleiro, grasnando novamente, porém desta vez mais agressivo que antes. Um doce arfar impediu que prosseguissem até os fundos, ao tempo em que uma mão abruptamente apertou o ombro de Abigail, do outro lado a expressão sofrida da senhora assustou quem já entrara em pleno pavor.
── Você outra vez? ── Mary reconheceu, apesar da sombra que cobria parcialmente sua face. Uma coisa curiosa é que, independente do que se falava, a viúva não chegava a ser tão velha, nem tão rude, porém com certeza o adjetivo que a definia melhor era "estranha", inclusive, ao ponto de causar arrepios.
── Preciso da sua ajuda. ── a moça logo expôs toda sua angústia, como se aquilo fosse amolecer o coração da mais velha ── Eu tenho um problema, e se eu não resolvê-lo, talvez daqui há nove meses, ele fique bem maior! Você entende o que eu quero dizer, não entende?
── Então a sua "coceira", não era o seu único porém, no fim das contas. ── ela debochou, mesmo sem esboçar qualquer sorriso e Abigail imediatamente se irritou, sentindo a indireta.
── Eu não estou de brincadeira! Se eu vim até aqui é porque, confio na sua medicina. De alguma forma... ── pausou as palavras cuidadosamente como se não soubesse ao certo defini-las, no fundo, Abie estava mentindo, ela sentia medo, na verdade, encontrava-se sendo consumida por ele ── Deve ter algum jeito de tirar isso, algo que, faça esse problema desaparecer. E-Eu faço qualquer coisa! Qualquer coisa que me pedir!
Devina se encolheu ao canto, pensando a respeito de tudo, não como se estivesse julgando sua irmã, longe dela ser assim, apenas começou a temer ser castigada por participar daquela ação, por isso abaixou a cabeça, ficando em silêncio.
── E o que você acha que eu posso fazer por você? ── a viúva arqueou as sobrancelhas, permitindo que o tempo passasse, vendo o desespero da garota aumentar, sem dar importância àquilo.
── Ora, você que me diga! Alguma erva ou algum método dos nativos, pode resolver esse meu problema? Porque eu tenho certeza que sim! A senhora é um poço de sabedoria e compreensão. Eu sei que entende que, essa criança não terá nenhum futuro! Seria cruel demais condená-la a uma vida tão miserável... ── finalizou, com uma onda de calor percorrendo todo seu corpo, ansiosa pelo que viria de seus lábios.
── O que é isso? ── Devina decidiu participar da conversa pela primeira vez, ao erguer a visão, assistindo a mulher ferver água numa espécie de caldeirão.
── É o que sua irmã vai tomar. ── esclareceu, jogando algumas ervas dentro dele ── É um chá medicinal... Porém não aconselhável, esse preparo é bem forte e pode provocar até mesmo a morte! Mas acredito que nas condições em que sua irmã se encontra, ela não se importe muito em correr esse risco...
── Qualquer coisa, eu disse! ── repetiu, somente enxergando a vergonha que se tornaria para sua família se seguisse com a ordem natural dos fatos ── Tudo bem, Devie! Não é nada demais, só não se impressione, tá?
── E o que veio fazer aqui? ── a viúva olhou no fundo dos olhos misteriosos de Devina, tentando arrancar algo deles.
── Eu só vim acompanhá-la. ── afirmou, enquanto Mary retirava um pouco do caldo da mistura em uma cuia.
── Ela vai precisar bastante da sua ajuda pra voltar pra casa. ── caminhou entre as irmãs, saindo para o lado externo da tenda ── Venham... ── as convidou, com a mesma postura séria de sempre. Muitas perguntas rondavam as cabeças das mais jovens, um redemoinho delas as atingiam em segredo, não havia como se preparar para aquilo. E tudo ficou ainda mais confuso quando a viúva parou na parte detrás da casa, reproduzindo sons estranhos com a boca, sem quase abrir os lábios ── Deite-se! ── ordenou, a fala morna, como se a mente houvesse embarcado em uma viagem distante.
Deitar no chão frio e úmido foi o início de uma sensação extremamente ruim para Abie, que engoliu rapidamente em seco, obedecendo ao pedido devagar, feito um passarinho assustado, ela sequer imaginava que a pior sensação de sua vida ainda estava por vir dentro de alguns minutos. Devina apenas ajoelhou-se ao seu lado, receosa, uma passada de olhos entre o rosto da viúva e depois de sua irmã, somente para conferir se estava tudo normal, na medida do possível, evidentemente. A velha entregou a bebida à moça que pareceu resistir a princípio, respirando acelerado, suas mãos suavam... Não, ela não queria morrer! Contudo, também não desejava ser motivo de escárnio, muito menos assumir uma responsabilidade como aquela.
Bastou pensar nas possibilidades de fracasso que teria e uma coragem instantânea surgiu em seu peito, levando a cuia até os lábios, as unhas apertando o objeto e virou o líquido em sua garganta numa só passada. Estava feito!, pensou. Um caminho sem retorno, sem mais chances para arrependimentos. Seria o que Deus melhor decidisse a partir de agora, embora desconfiasse que ele estivesse furioso com a mesma. No entanto, a outra Berman ainda pedia com veemência, sobretudo por sua vida, segurando a mão esquerda dela, pode sentir o quanto sua irmã estava nervosa, com a ansiedade balançando seu peito por completo, decidida a não deixá-la em paz.
── Você vai sentir como se as suas tripas estivessem lutando entre si, se empurrando para saírem de dentro de você com força. ── Mary comunicou, para que não houvessem surpresas ── Talvez você fique um pouco enjoada, o que é normal, mas se ficar tonta, me avise, pode ser um sinal de febre! Eu preciso tirar isso... ── apontou para a saia, tendo o consentimento de Abigail que não demorou a sentir sua barriga revirando-se, como se estivesse super aquecendo ── Vou esfregar azeite aqui! É um ótimo abatedor de doenças...
── Uhum... ── foi incapaz de encarar seu próprio corpo naquele estado tão vulnerável, sentindo as ferretoadas na região de seu umbigo.
── Respira fundo! ── a mulher procurou acalmá-la, pressionando as mãos na lateral de seu ventre.
── Ah, isso dói! Está doendo muito! ── Abie curvou-se para trás, as pernas separadas, enquanto seus dedos se fechavam ao entorno da mão de Devina que angustiada, concentrava-se a fim de não enlouquecer.
── É, eu avisei que iria doer... Agora, feche os olhos! Isso! Shiiu... Quietinha! Se mantenha firme, na minha voz... ── ela os selou com alguma essência de algum frasco especial.
── Tem certeza que isso é normal? Ela está ficando sem cor! ── Devie perdeu o fôlego entre um grito e outro de sua irmã, desesperada.
── Bom, é melhor começar a rezar, porque se ela morrer, eu mato você também! ── seu coração foi pulsando numa velocidade ainda mais acelerada, é claro que a viúva não deixaria testemunhas para o quê havia feito.
A ruiva então notou galhos quebrando-se atrás de si, virando seu rosto, foi como se alguém estivesse escondendo-se ali, as observando na quietude da mata, aquele sentimento cresceu ainda mais em seu peito, a segurança de que alguém além delas testemunhava o que havia sido feito, e foi mais forte do que nas vezes anteriores. Mas tornou a prestar atenção na respiração frenética de Abigail que, enfim normalizava-se, como se a dor fosse amenizando, apesar do suor escorrendo na lateral de seu rosto. O sangue espirrou pela terra junto da semente eliminada, como se estivesse marcando sua sina, ao segurar a saia de Abie, ajudando a viúva a terminar o que quer que precisasse para sua irmã sair ao menos viva dali, seus dedos esbarraram nele, o líquido viscoso manchado no linho fino de seu vestido. E por um instante, sentiu-se amaldiçoada, o medo gigantesco em ser castigada e o pior de tudo, havia se tornado refém de um segredo sombrio, que não poderia compartilhar sequer com a sua própria sombra.
₍ 001 ₎ Hey amores, cheguei!
Consegui atualizar de última
hora, amém!! Eu enfrentei
alguns probleminhas com
esse prólogo, então peço
desculpas pela demora... Mas
enfim, eu não sei se isso era o
que vocês esperavam, tô nervosa,
confesso! Eu sei que esse
prólogo foi um pouco pesado
e bem diferente de qualquer outra
coisa. Mas eu prometo, ele vai fazer
bastante sentido lá na frente, favs!
Então, espero que tenham gostado
mesmo assim!! ♡♡ E até a próxima!!
♡♡♡
₍ 002 ₎ Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do cap
aqui!
₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡
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