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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟐𝟒

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Através de uma pequena e vazada janela de grades enferrujadas, Polly Gray sabia que já era noite. Tentou deduzir as horas apenas olhando para a luz da lua, porém, não obteve tanto sucesso, mas sabia que era tarde. Muito tarde. Arrastando seu corpo dolorido das agressões sofridas mais cedo, ela sentou-se sobre um banco de concreto, um dos poucos luxos que tinha dentro daquele fedido cubículo. Conferiu o interior da boca com a língua, percebendo que um dente faltava em uma das fileiras. Ouviu passos e vozes serem dadas em direção a cela e se preparou fisicamente para a próxima sessão de tortura. Contudo, ao invés de ser puxada pelos cabelos ou violentada por algum guarda, ela foi guiada até uma sala, onde seus pertences estavam sobre uma mesa, assim como o documento da sua soltura, assinado pela inspetora: Grace Burgess.

Não tinha ânimo para comemorar, embora devesse e tivesse motivos para isso. Naquele momento, tudo que a Gray queria era o conforto do seu lar, longe de todos os infernos que visitou desde que colocou os pés naquela prisão. Em silêncio, saiu pela porta da frente usando as mesmas roupas que havia sido presa, agora, se encontrando um pouco mais amarrotadas e sujas. Polly se deparou com o doce sorriso de Michael, trazendo novamente uma chama aquecida para seu coração esfriado pela cela úmida. Mesmo se sentindo frágil, Polly ergueu o queixo e deu passos para dentro do veículo, levada para casa momentos depois. De todas as regalias que poderia pedir, Polly só solicitou um banho longo de essências terapêuticas. Ela queria limpar de vez todas as impurezas que aquele lugar deixara em sua pele e no seu interior. Em casa, fez o pedido que tanto desejava durante a viagem. Com cautela, Polly tirou o vestido, entrando em uma banheira com água preparada por uma das suas criadas em seu próprio quarto. Ela se esfregou com força, enquanto os pensamentos se distanciavam à medida que sua visão ardia ao olhar para a lareira acesa ao seu lado.

— Você precisa de ajuda? — Ouviu uma voz serena e embargada de preocupação perguntar do lado de fora do quarto. Amara. Polly reconheceu.

Levou alguns segundos para que Polly abrisse os lábios e proferisse as seguintes duas palavras.

— Sim, preciso.

Amara primeiro colocou o rosto, seguido do corpo, atravessando a porta por completo. Se aproximou de Polly nua na banheira, não se intimidando em vê-la em um momento tão íntimo. Uma almofada foi jogada ao chão para que Amara se ajoelhasse à altura da mais velha e ficasse mais confortável para ajudá-la.

— Ada está chegando para ficar com você, mandei que o motorista a buscasse. — Amara disse, enquanto suas mãos limpavam o couro cabeludo de Polly de forma tão delicada, que a Gray pôde se sentir um recém-nascido na banheira.

— Foi você? — Perguntou. Amara piscou algumas vezes, sabendo o motivo da pergunta de Polly.

— Sim. — Respondeu. — O Michael estava apavorado, e eu sei que não fez nada para ser presa.

Eu fiz. Confessei meu crime. — Polly disse de maneira amarga, encolhendo-se na banheira. Amara parou o que estava fazendo para encarar a mulher.

— Foi obrigada a confessar algo que não fez?

— As pessoas se aproveitam do que é bom e tiram dele tudo que podem, tornando-o uma carcaça deplorável de ruindade. — Polly desviou o olhar para água. — Não estavam totalmente errados, mas o que eu fiz foi por amor de uma mãe por um filho.

O silêncio pairou entre as mulheres. Amara entendia o olhar vazio que Polly dava ao nada, ela conheceria uma vítima de abuso com uma simples troca de palavras. E mesmo que a Gray tentasse mostrar seu lado forte, Amie sabia que por dentro, ela estava desmoronando como um iceberg.

— Foi ela que mandou fazer isso com você? — Amara sentiu um nó na garganta ao perguntar aquilo. Polly negou com a cabeça.

— Não foi preciso, eles fizeram tudo antes dela chegar. — Relatou. Amara piscou algumas vezes, afastando as lágrimas.

— Talvez devesse falar com o Thomas, ele saberá o que fazer com os homens que machucaram você.

— Homens? — Polly a encarou, sentindo desprezo naquela palavra. — Foram os homens que começaram com isso. Eu não preciso de um homem me defendendo, principalmente Thomas Shelby.

— Não pode culpá-lo. Thomas está sendo usado, Polly. — Amara sentou-se no chão. — Grace sabe como manipulá-lo. Ela quer usar a família dele contra ele, e começou por você...

— Então suponho que ela tenha pedido algo para você, para poder me libertar. Estou certa? — Perguntou. Amara encarou as mãos, sentindo sua garganta apertar. Acenou levemente. Polly uniu os lábios, voltando a separar apenas para perguntar. — O que ela pediu?

— Quer que eu me afaste dele. Por algum motivo sou um estorvo do que ele deve fazer.

— Você não pode! — Polly colocou uma mão para fora da banheira, segurando o braço de Amara. Uma nota suplicante soava dos lábios enrugados. — Tem que me prometer, você não pode obedecer aquela mulher.

— Polly, você está me assustando. — A reação preocupante de Polly despontou em seu rosto de maneira ávida. Amara se encolheu ao sentir as unhas da mulher perfurarem seu braço.

— Eu deveria morder minha língua por ter dito para que partisse. — Polly a soltou, esfregando as mãos quando um frio percorreu sua espinha. — Mas erramos, somos humanos. Eu devo reconhecer meu erro.

— Eu prometi a mim mesma que não me envolveria mais com essa família, eu estava confiante que poderia viver muito bem longe de tudo isso. — Amara puxou o ar para os pulmões. — Mas não é fácil se manter longe de Thomas Shelby, estamos ligados por algo maior do que posso controlar.

Polly a encarou, seu semblante era curioso e preocupado com o que a viajante tinha a dizer.

— Eu encontrei meus parentes. Você tinha razão, eu tenho sangue cigano correndo em minhas veias e isso explica por que sou tão inquieta. — Sorriu ao dizer as últimas palavras. — Eu descobri o motivo de estar aqui, a razão de ter sido mandada para o passado.

— E o que descobriu?

— Eu preciso ajudar o Thomas, salvá-lo dele mesmo. — Disse. — Mas essa tarefa parece ser impossível, principalmente agora. Eu não sei se ele quer salvo ou se... merece.

— Confesso que às vezes também tenho minhas dúvidas. — Polly fechou os olhos por algum momento. — Mas meu sobrinho sempre ouve a voz errada na cabeça dele. Thomas é teimoso como pai, mas é esperto como a mãe. Ele precisa de uma nova voz. Uma que diga o que é certo a ser feito. Sendo mais cauteloso e cuidadoso. — Polly virou o rosto para Amara. Sob a meia luz do quarto, os cílios longos da mulher faziam uma sutil sombra no rosto, mas ainda era impossível não notar o brilho esverdeado daquele olhar. — Fique dessa vez. Ajude-o. É o último favor que fará não só para mim, mas como para Thomas. Ele é o gatilho dele mesmo.

Amara apertou a mandíbula com o pedido de Polly, acenando em silêncio. Ao sair do quarto e ir para a sala, sentiu o estômago congelar cada vez que pensava nas decisões e atitudes que tomaria a partir dali. Salvar Thomas dele mesmo logo agora que deveria se manter longe, se tornara uma tarefa audaciosa e arriscada contra Grace, mas ela procuraria uma forma de fazer isso. Aliás, não era parte dos seus planos obedecer a inspetora. Seus pensamentos se dissiparam ao ver Ada e Karl. O olhar da Thorne era preocupante, assim como ela parecia mais abatida. Um abraço apertado foi trocado entre as mulheres.

— Onde ela está? — Ada se afastou. Seus olhos azuis estavam marejados. Amara sabia que a Thorne evitava chorar na frente do filho. — Como ela está?

— No quarto. — Respondeu, apontando para a escada. — Não muito bem, mas ela é forte. Muito forte.

— Obrigada, Amara. — O rosto pálido de Ada ficou vermelho por um curto momento. — Não sei o que seria da minha tia se não fosse você.

— O Tommy com certeza a tiraria de lá.

— Thomas... — Ada balançou a cabeça levemente. — Quando eu finalmente penso que entendo meu irmão, é então que me surpreendo novamente. Você sabe que o Arthur também foi preso?

— O Arthur? — Amara arregalou os olhos com a informação.

— Ele está sendo acusado de assassinato, matou um homem no bairro de Camden Town, é a única coisa que sei. — Falou. Amara passou a mão pelo cabelo. — Espero que o Tommy realmente o tire de lá antes que ele seja sentenciado à morte. Por Deus, nem quero imaginar o que meu irmão está passando naquela prisão.

— Vai dar tudo certo, Ada. — Amara apertou a mão da mais nova, tentando de alguma forma transmitir força, enquanto em seu interior ainda tentava assimilar tudo que tinha realmente acontecido no bairro onde fechara negócios. Imaginar Alfie Solomons envolvido naquilo a intrigava.

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— O que você realmente tem a me dizer, Michael? — Amara perguntou, enquanto pousava a xícara de chá sobre a mesinha de centro.

A madrugada era silenciosa. Amara sabia que Ada e seu filho já dormiam profundamente no quarto de hóspede do segundo andar, assim como Polly finalmente parecia ter repousado em sua própria cama, coberta e segura por grossos lençóis postos por sua sobrinha querida.

— Depende do que quer ouvir. — Michael respondeu tão amargo quanto o uísque que repousava ao seu lado.

— Ada falou sobre a prisão do Arthur, ele foi acusado de ter matado um homem em Camden Town. — Amara trocou a xícara de chá por algo mais forte, era o que ela precisava. O uísque viajou para o fundo do seu estômago, fazendo-a estremecer quando o líquido acendeu seu corpo de dentro para fora. — Você estava em uma ligação há poucas horas e agora não parece muito bem.

— Era o primo John. — Ele respondeu ao elevar o olhar. — Arthur foi alvo de uma traição.

— Traição? — Amara prendeu a atenção no que o advogado tinha a dizer. O sabor amargo do uísque se acumulou em sua boca, engolido pesadamente para o fundo da garganta.

— Alfie Solomons. — Disse o nome com nojo. — John não entrou em detalhes, ele apenas disse que é questão de território, querem atingir o Thomas de todas as formas.

— Thomas sempre caminhando entre as cobras. — Amara inclinou o corpo para frente, sentindo o frio percorrer seu corpo gradualmente. — O que o Alfie tem contra o Thomas?

— Eu não sei. — Michael engoliu em seco. Bebeu o último gole de uísque até poder se levantar da poltrona que estava. — Ele deve saber quem eu sou, de quem sou filho. Eu percebi isso no modo que ele apertou minha mão quando o encontramos, e também de todos os olhares que ele me dar quando visitamos o bairro judeu. Acho que pode ser perigoso fazer negócios com esse homem. Era sobre isso que eu alertava você.

— Talvez tenha razão. — Amara ergueu o queixo. Sabia que lidar com Alfie era perigoso, e desde que não estivesse envolvida em questões sujas, ela saberia como controlá-lo, aliás, seu compromisso era diferente do que Thomas provavelmente tinha com o judeu. — Quando fui até a prisão, li o documento de soltura da sua mãe e lá estava dizendo que ela tem desviado dinheiro da companhia Shelby para uma conta fantasma. Isso é um crime grave, Michael. Você sabe de algo?

— Acha que eu tenho algum envolvimento nisso? — Ele deu um curto passo até Amara, encarando-a de cima.

— Eu não estou aqui para julgar ninguém. — Amara levantou-se, ficando a poucos centímetros do jovem advogado. — Eu preciso saber se posso realmente confiar em você já que as coisas em alguns anos vão se tornar... complicadas.

— Ela... — Michael passou a mão pelo rosto, angustiado. — Ela tem pensado sobre o futuro também, sobre uma vida melhor longe desses esquemas. No começo eu não achei justo, mas ela é bem convincente, então eu ajudei, indiretamente, apenas dizendo como deveria agir.

— Então ela realmente roubou o dinheiro do Thomas. — Amara concluiu. Uniu os lábios em uma linha dura, se sentindo levemente frustrada com a atitude de Polly.

— É um dinheiro sujo!

— Continua sendo dinheiro! — Ela rebateu, sutilmente.

— Eu sei, mas minha mãe precisa de uma vida melhor. — Michael trocou o peso da perna.

— E você acha que o Thomas não sabe disso? — Amara cruzou os braços. — Não sei se ainda devo manter você no meio dos meus negócios.

— Amara, por favor... — Michael deu um passo largo, prendendo os pulsos finos e femininos entre as mãos. — Eu jamais trairia você. Jamais! — Abaixou o tom de voz, deixando que seu olhar sereno deixasse claro suas intenções. — Se o Thomas sabe dos desvios, ele pouco se importou, por que com certeza, no fundo, ele sabe que o que a minha mãe fez não foi por maldade ou traição...

— Como vou saber se você não vai fazer o mesmo comigo?

— Eu não teria motivos para roubar você. — Michael ergueu uma mão, deixando que seu dedo passasse sutilmente pelo rosto da mulher. Amara, por sua vez, se desviou do toque, enquanto seu olhar cauteloso caía sobre o jovem. — Confie em mim, é tudo que eu peço.

— Não vai ser fácil. — Disse entredentes. — Primeiro, você vai contar para o Thomas o que ajudou sua mãe a fazer, talvez ele realmente saiba o que tem acontecido, então quem sabe receba um perdão dele. Sobre sua presença ao meu lado, eu vou manter minha atenção redobrada em você. Qualquer desvio, qualquer assinatura fora da linha, eu derrubo você, Michael. E nem mesmo se você e sua mãe chorarem lágrimas de sangue, eu o perdoarei.

Amara se desvencilhou de Michael, dando passos até a porta da sala.

— E quanto ao Solomons? — Michael perguntou alto e seguro.

— Meus negócios com o Alfie diferem dos negócios que o Tommy tem com ele. — Respondeu sem encará-lo. — Se ele não pisar na minha sombra, então não teremos problemas. O único lado que tenho no meio disso tudo é o meu.

— Não pode confiar nele! — Alertou de forma clara.

— Eu aprendi que não posso confiar em ninguém, Michael.

Os passos de Amara foram dados de forma alta, enquanto subia as escadas para o segundo andar, decidida de que dormiria ali. Sua cabeça latejava enquanto se perguntava até onde algumas pessoas iriam por dinheiro. Não estava errada em saber que nenhum membro do clã Shelby estava a salvo do inferno. A ganância estava impregnada no sangue daquela família, até quando agiam pelo bem.

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A curva fechada feita em alta velocidade informava que as pessoas daquele carro estavam com pressa. O dia havia amanhecido entre nuvens pesadas, mas ainda não menos tempestuosas quanto os irmãos Shelby se encontravam naquele momento. Thomas foi o primeiro a saltar do carro, seguido por John. Ambos deram passos largos e rápidos para as grades da prisão masculina de Birmingham. Minutos depois de serem vistoriados minuciosamente por policiais, se encontravam no pátio central aguardando por um detento mais que especial.

— Eu não te disse, mas falei com o Michael ontem. — John limpou a garganta, encarando o irmão de soslaio. — Eu queria saber se a tia Polly estava bem.

— E então? — Thomas o questionou baixo, levando as mãos para dentro do bolso da calça, aguardando pacientemente a saída do irmão mais velho.

— Ela está bem, graças a Deus. — John disse aliviado. — Eu também falei sobre o Arthur e sobre o que realmente aconteceu, mas não dei detalhes, sei que é importante deixar o Michael longe desses negócios da família, foi o que prometemos para a Polly.

— Eu sei o que prometemos a ela. — Thomas deu um rápido suspiro. — Eu não tenho dormido bem, John. Tenho tido sonhos estranhos durante as poucas horas que prego os olhos.

— Que tipo de sonhos? — John se virou parcialmente para o irmão.

— Eu não queria acreditar que isso estava acontecendo bem embaixo do meu nariz. — Disse Thomas. — Polly precisou ser presa para eu saber realmente o que estava ocorrendo na empresa, e ainda assim, eu não acreditei.

— O que aconteceu? Porra. — John estava curioso.

Thomas engoliu o sabor amargo do cigarro quando a porta de ferro foi aberta. Ele poderia contar aos seus irmãos o que Polly vinha fazendo desde que encontrara o filho perdido, mas optou por manter isso em segredo. Os irmãos Shelby já tinham problemas demais para resolverem.

— Nada que eu não possa cuidar. — Foi a única coisa que respondeu.

— Eu odeio quando fala em enigmas. — John passou a língua entre os lábios.

O som de correntes chamou a atenção dos irmãos para o prisioneiro que via a luz do sol depois de muitas horas preso em algo parecido como uma masmorra sem janelas. Arthur ergueu o pulso para que as algemas fossem abertas. Sorriu maldosamente para os policiais, planejando internamente se vingar de cada um quando fosse possível. O Shelby mais velho deu passo até os dois homens que os aguardavam no meio do pátio cinza da prisão. Eram seus malditos irmãos.

— Como foi a hospedagem? — John perguntou com um toque de humor.

— Vai se foder, John! — Arthur bradou, enquanto John sorria de lado com o comentário. — Por que demoraram tanto?

— Não foi fácil te livrar te um crime de assassinato, Arthur. — Thomas deu um passo até o irmão, ignorando o péssimo odor de cela que ele tinha. — Você está bem?

— Merda, eu estou no meu limite. Eu quero ir para casa. — Arthur inclinou o rosto. — Tommy, aquele judeu vai ter o que merece. Eu vou matar ele.

— Ele vai ter, mas vamos por partes primeiro. — Thomas o puxou para um abraço rápido.

— Por partes. — Arthur ironizou. — Eu quero um banho. Depois uma puta pra foder.

— Você pode ter os dois ao mesmo tempo. — John deu um passo largo até o irmão mais velho. — Você quase conseguiu o que realmente queria.

— O que eu queria? — Arthur levantou o rosto.

— Enforcamento. Você tentou isso duas vezes e ia conseguir uma terceira facilmente. — John disse.

— Eu fui um grande idiota e agora quero sair daqui. — Arthur desviou o olhar para Thomas. — Vamos embora daqui Tommy, antes que eu quebre a cara daqueles londrinos de merda.

— Está certo. — Thomas segurou o ombro do irmão, levando-o para longe da cela.

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— Arthur, que porra, você não vai se calar mesmo? — John se virou para o irmão no banco detrás. Desde que saíram da prisão, Arthur lamentava a vida que escolhera levar ao invés de se tornar um grande artista. — Você nunca ia a nenhuma aula de pintura e quando ia, usava o tempo livre para fazer badernas.

— Você não entende, John. — Arthur suspirou. — Eu deveria ter aproveitado minha vida de uma maneira decente e justa.

— Nem tudo está perdido, irmão. — Thomas quebrou o próprio silêncio.

— Você que é o mais inteligente está fodido até o último fio de cabelo, o que dirá o resto da família. — Arthur disse com decepção. — Nossos homens foram presos. Metade do nosso uísque foi confiscado. Estamos a um passo de caímos.

— Mas não vamos! — Thomas apertou o guidom do carro com força. — É só um momento, isso vai passar logo, eu tenho um plano.

— É! E eu espero não morrer nesse seu plano. — John mordeu o canto da boca ao dizer aquilo. — A minha mulher não para de jogar na minha cara que eu vou morrer por causa de vocês. Ela quer ir embora para a França e quer levar as crianças.

— Deixe-a ir! — Arthur disse.

— Ela não vai levar meus filhos, muito menos para a França! — John falou alto. Tentou controlar a emoção quando sentiu seu coração bater mais depressa. — Eu tenho medo de acordar um dia e não ver mais ela ou as crianças.

— John, ela nunca vai fazer isso. — Thomas tentou tranquilizá-lo.

— Eu não sei Tommy. A Esme é capaz de fazer qualquer coisa.

Até a chegada em Small Heath, o silêncio se apossou daquele carro. Depois da reunião do dia anterior, Thomas fora claro com o que aconteceria com Esme caso ela pensasse em fugir. Ele não só a cortaria da família, mas faria isso fisicamente também. No entanto, a catadora de cogumelos estava certa em uma coisa, a metade cigana de Thomas era forte, e tudo que ele queria realmente era fugir de todo aquele inferno.

Após deixar os irmãos em casa, Thomas fez seu caminho habitual para seu escritório. Uma parte do seu problema estava bem-feita, mas ainda havia outros a serem resolvidas. O carro estacionado na porta do prédio fez com que seu estômago revirasse. Aquela era uma visita a qual Thomas não esperava receber ainda cedo. Com passos cautelosos, ele atravessou a porta, recebido cordialmente por Lizzie.

— Thoma, eu não pude impedir, ela chegou e foi entrando... — A secretária pareceu se atrapalhar com as palavras.

— Está tudo bem, Lizzie, está tudo bem. — Ele a acalmou, sentando-a novamente em seu lugar. — Eu vou entrar e qualquer coisa eu a chamo, está bem?

— Sim. — Confirmou com rápidos acenos.

Thomas limpou a garganta antes de girar a maçaneta da porta e entrar. Sua atenção se prendeu na mulher esguia e bem-vestida atrás da sua mesa, que parecia distraída o suficiente para não notar sua presença ali. Era claro que sua curiosidade em bisbilhotar o que não deveria, falava mais alto. Thomas pigarreou alto o suficiente para que a atenção dela voltasse a ele.

— Eu mantenho minhas gavetas bem trancadas. — Ele comentou ao dar um passo para frente.

— Eu percebi. — O riso quase cruel de Grace fez o sangue de Thomas ferver.

— Você pode se sentar. — Thomas indicou uma cadeira a ela. — Por qual desprazer eu tenho sua presença aqui, Grace?

— Você é sempre tão receptivo. — Seu tom irônico não o incomodava, aliás, sua presença ali já fazia todo esse desserviço. — Como vai sua tia?

— Por que quer saber? — Rebateu a pergunta.

— Depois do que ela passou, suponho que ela deve estar bem ferida. — Comentou.

— Polly Gray é forte, muito mais do que você pensa.

— Tem razão. — Sorriu. — E muito corajosa, aliás, ela estava roubando você bem debaixo do seu nariz.

— Esse assunto não é da sua conta. — Thomas disse entredentes.

— Você e sua família adoram brincar com fogo. — Disse ela. Thomas mordeu o canto interno da boca. — Soube que ontem, em Belgravia, na casa do Marechal Russell, pegou fogo graças a um explosivo.

— Que tragédia. — Thomas deu um meio sorriso.

— Você sabe o que provocou. — Grace estreitou o olhar.

— Eu costumo atingir muitos com uma única tacada. — Thomas apanhou o cigarro de dentro do bolso do paletó, acendendo-o. — Você está aqui, pois acabei com seu plano de invadir a casa daquele homem e atirar nele.

— Mas isso não te livrou ainda do que tem que fazer. — Disse Grace. — Sabe que eu tenho você na minha mão e sei como usar todas as peças do meu tabuleiro.

— Eu já te dei minha palavra. — Thomas tragou o cigarro. — Vou matar seu Marechal, mas vou fazer uma forma que eu consiga atingir meus objetivos. Vai ser da minha forma, no lugar que eu escolher. Eu sou um soldado com experiência. Eu sei o que faço.

— Eu realmente espero que toda essa sua experiência sirva para algo que deve ser bem-feito. — Grace levantou-se, dando um passo para perto da mesa. — Tem que seguir o plano.

— Plano? — Thomas brincou com o cigarro, enquanto um riso sutil passeava pelos seus lábios. — Seu plano era ruim, cheio de furos, por isso foi por água abaixo.

— Como ousa...

— Eu formulei uma saída viável para ambos os lados, então seja mais agradecida.

— Thomas, você precisa me deixar ciente de tudo que vai acontecer. — Grace engoliu em seco. Sentiu que confiar em Thomas não era uma coisa tão certa a se fazer.

— A única coisa que deve saber é que ele vem até mim.

Grace suspirou, dando um passo para trás. Ela gostaria de poder tirar o riso sarcástico do rosto de Thomas, levá-lo de vez à ruína e quem sabe a morte. Mesmo assim ainda dependia do gangster cigano para que seus planos dessem certo. Grace levou as mãos para o rosto, amassando-o por um momento, então voltou a atenção para o homem sentado na cadeira do outro lado da mesa.

— Thomas, você sabe que acima de mim, existem pessoas poderosas. Pessoas essas que esperam que o trabalho seja bem-feito. — Ela disse.

— Isso não é problema meu. — Thomas encarou o cigarro brevemente. — Grace, eu vou cumprir a missão que me foi passada.

— Eu espero. — Grace suspirou, mas não menos aliviada. — Assim como espero que não pense em fazer nenhuma gracinha.

— Por acaso eu tenho cara de quem faz gracinhas? — Questionou de modo sério. — Eu só estou pensando na minha vida. Eu diria que é melhor você e seus homens não tentarem nada.

— Realmente vai acontecer da forma que planejamos? — Perguntou. Thomas ergueu as sobrancelhas.

— Epsom, no dia da Derby, vai acontecer em três dias. — Confirmou sem emoção.

— Tudo bem, Sr. Shelby. Espero que mantenha o foco no que deve fazer nesse dia. — Grace disse, antes que desse passos até a porta.

Thomas voltou a respirar novamente quando viu a mulher partir do seu escritório definitivamente. Seu olhar foi de encontro a gaveta ao seu lado, a mesma que Grace tentava abrir inutilmente. Seus dedos foram ágeis em retirar a pequena penca de chaves de dentro do paletó, abrindo a gaveta com certa cautela. Levou um curto tempo até que Thomas retirasse o que realmente queria de dentro de lá. Primeiro encarou uma pequena pilha de cartas presas a um barbante, se arrependendo brevemente por não as ter enviado quando teve a oportunidade. Depois da decisão tomada por Amara, Thomas sabia que respeitar o pedido da mulher era também não a trazer de volta ao seu inferno. Acreditou que tê-la longe, era o melhor que poderia fazer não só a si mesmo, como a ela também. No entanto, bastou um breve contato para saber que nem o tempo foi capaz de sanar seus sentimentos pela mulher, e que agora ele se encontrava em uma redenção pessoal e para se tornar o homem que Amara merecia, mesmo que ainda trilhasse por linhas tortas.

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LONDRES

No mais caro quarto de hotel que Londres poderia oferecer, Amara se sentia inquieta. A noite chegou de forma bruta, com nuvens pesadas e sombrias, não aceitando nem mesmo que as estrelas ou a própria lua iluminasse a cidade movimentada. Amara sentiu a pele febril ao imaginar o que poderia ter levado Alfie a trair Thomas, e se futuramente, o judeu poderia ser um problema para ela. Por um curto momento, parou apenas para observar a movimentação de Londres pela janela. Pelo que parecia, as noites ali eram mais movimentadas do que durante o dia. Sua atenção se prendeu ao outro lado do quarto, sobre uma mesa redonda de mármore com estrias douradas, onde pilhas de papéis dividiam espaço com uma garrafa de uísque pela metade e um cinzeiro com alguns cigarros usados. Amara deu passos até as folhas amareladas, vendo a assinatura de Alfie em alguns daqueles documentos, sabendo que agora, não tinha como retroceder em seus negócios e que a confiança deveria prevalecer mesmo que fosse difícil. Seus pensamentos se dissiparam quando duas batidas sutis foram dadas em sua porta.

Lembrou-se vagamente de Michael, enquanto dava passos até a porta. Provavelmente, o jovem advogado deveria ter esquecido algo durante a reunião de mais cedo, ela não o culpava por senti-lo mais estável depois da conversa que tiveram horas atrás. Amara fechou mais o roupão em volta do corpo antes que girasse a maçaneta da porta. Estava pronta para falar com o jovem Gray quando se deparou com uma presença mais tentadora para seus olhos. De tudo que poderia dizer naquele momento, optou pelo silêncio, apenas dando espaço para que o visitante entrasse em seus aposentos. Amara levou uma mão para cima da aliança que usava, sentindo o material incomodar seu dedo pela primeira vez depois de um bom tempo. Havia começado esse pequeno incomodo desde que colocou os pés em Londres. Inúmeras perguntas se formaram em sua mente, mas todas foram facilmente respondidas. Thomas Shelby a acharia em qualquer lugar, se ele estivesse disposto a isso.

— Espero não estar interrompendo nada. — Thomas comentou ao retirar a típica boina que usava da cabeça.

O cigano não pôde deixar de notar o quão belo era o quarto que Amara estava. Era espaçoso, a decoração era clássica e cara. Os tons de bege, dourado e vermelho estavam por todos os lados. Aquele quarto de hotel era duas vezes maior que sua casa de apostas, dividido entre uma sala bem ampla e duas portas duplas de carvalho-branco, que ele supôs que levaria para o lavabo e quarto. Thomas uniu os lábios levemente admirado pela escolha de Amara, ele não podia negar que a mulher tinha bons gostos. Sua atenção se prendeu por poucos segundos em uma mesa espaçosa, onde alguns papéis estavam espalhados. Amara limpou a garganta, cruzando os braços. Thomas já conhecia aquela postura autoritária que ela passou a assumir, no entanto, ele não se intimidava com ela.

— Não está. — Ela respondeu. — Eu só não esperava que você me encontrasse aqui ou viesse a essa hora.

— São só oito e meia da noite, nem é tão tarde. — Disse quase humorado. Amara arriscou um leve riso de lado quando recebeu um. — Falei com o Michael mais cedo e perguntei onde estavam hospedados, espero que isso não crie mais problemas para ele. — Explicou. Amara revirou os olhos impacientes.

— E o que quer? Veio saber sobre a égua? — Deu um passo para frente, recolhendo os papéis espalhados pela mesa antes que Thomas realmente pudesse ler.

— Não, eu vim agradecer você por tirar a Polly da prisão. — Thomas levou as mãos para o bolso do casaco que usava. Amara parou o que estava fazendo, erguendo o olhar para o cigano. — Obrigado.

— Não precisa agradecer. — Ela deu de ombros. — Fiz pelo Michael, e pela Polly. — Amara abaixou o olhar, voltando a recolher todos os documentos.

Thomas deu um passo para frente e segurou o pulso da mulher, recebendo novamente o olhar quase selvagem que Amara possuía. Ao lado dela, ele se sentia sempre agindo por impulso, mesmo que tomasse todas as precauções para não cometer nenhuma ideia audaciosa demais que pudesse espantá-la.

— Eu vim por outro motivo também. — Ele disse.

Thomas a soltou. Levou uma mão para dentro do casaco, onde procurou algo que guardara há muito tempo. Amara ergueu uma sobrancelha quando uma carta já amarelada foi empurrada na sua direção.

— O que é isso? — Perguntou quase em um sussurro.

— É para você, algo que deveria ter chegado em Ohio há dois anos. — Thomas respondeu. — Quero que leia quando a puder.

— Você me escreveu cartas. — Seu tom havia mudado, assim como sua postura. Thomas rodeou a mesa, parando ao lado da mulher.

— Às vezes era a única forma de expressar o que sentia. — Soou sincero. Amara o encarou.

— Mas nunca as enviou. — Disse de modo áspero, dando um passo para trás.

— Eu fiz isso pelo seu próprio bem.

— Meu próprio bem? — Amara sorriu com escárnio. A carta que estava bem presa em suas mãos foi colocada acima da mesa.

— Eu sempre fui sincero com você, mesmo quando errei. — Thomas aumentou o tom de voz, mas ainda se mantinha sereno. — Eu aprendi a me importar com você e então percebi que não podia ficar mais longe, mas vi isso tarde demais. E quando partiu, uma parte do meu coração ficou dilacerado, mas eu sabia que era esse o sacrifício que eu faria para te ver bem.

— Demorou para perceber isso tudo? — Ela o questionou. Thomas uniu as sobrancelhas. Pelo que parecia, seria difícil quebrar a barreira de gelo que envolvia Amara. Eles não eram tão diferentes quanto imaginavam, mas ao menos Thomas estava tentando algo, enquanto a americana apenas se afastava.

— Nunca é tarde demais. — Ele deu um passo cauteloso até ela. — Eu estou tentando fazer as coisas do jeito certo.

— E como está se saindo?

— É mais difícil do que parece, Amie. — Um suspiro saiu do seu peito. Ele demonstrou dor, confusão e arrependimento em um só olhar. Amara mordeu a língua quando se imaginou puxando o homem à sua frente para um beijo só para poder aliviar seus outros instintos. — Mas eu estou tentando.

— Bem, boa sorte, Thomas Shelby. — Deu um meio sorriso.

— Eu quero te provar que posso ser uma pessoa boa, e que posso te manter longe das minhas confusões. — Thomas encurtou o espaço. Deixou que seu olhar estreitasse com as belas safiras verdes. — Vamos dar um passeio essa noite.

Dessa vez Amara sorriu com o que era dito. Sair com Thomas Shelby era arriscado em muitos sentidos.

— A última vez que estivemos juntos em um mesmo lugar, quase morremos. — Recordou-se de algumas noites atrás no Eden Club.

— Eu prometo que nada irá acontecer com você. — Ele sorriu levemente, erguendo uma mão para o rosto feminino. — Eu irei protegê-la, confie em mim uma última vez. — Viu Amara engolir em seco. — Por favor, me dê uma chance de te provar que posso ser o homem melhor, pelo menos, ser melhor para você.

Amara abaixou o olhar para as mãos, sentindo os dedos de Thomas distribuírem uma certa carga elétrica excitante para seu corpo. Cumprir sua promessa feita a Grace era difícil, principalmente quando forças maiores a impulsionavam para outras decisões. Por outro lado, gostaria de ver com os próprios olhos até onde Thomas iria para impressioná-la e provar que ele poderia mudar. Por fim, optou por fazer o que seu coração realmente queria. Amara ergueu novamente o olhar, enquanto sua cabeça acenava rapidamente. O brilho que recebeu nos olhos azuis como mar, fez com que seu coração acelerasse e as pontas dos dedos congelassem. Ela não podia negar, gostava do esforço que Thomas fazia para se tornar uma pessoa melhor, mesmo que fosse só para ela.

Oiee gente, eu sei que a atualização demorou mais do que o normal, mas quem me acompanha pelo twitter viu que nas últimas semanas eu não estava muito bem e isso envolve muitas questões pessoais e de ansiedade, então eu tomei um tempinho longe do wattpad e redes sociais e agora estou retornando aos poucos. Eu não quebro meus compromissos, principalmente com meus leitores, de alguma forma, vir aqui e postar capitulo novo é uma distração para minha ansiedade e problemas. Muito obrigada pelo apoio no tt e muito obg por todos os leitores novos. 

Um ultimo aviso: POR FAVOR, sempre comentem e der seu voto, isso ajuda muito a não só a me animar e preparar conteúdo novo, mas como para divulgar a obra na plataforma. Gratidão eterna por todos que estão fazendo Dobra no Tempo acontecer ♥

Feliz Natal e um próspero ano novo, nos vemos em 2022 ♥

Capitulo postado dia (12/12/2021), não revisado.

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