━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; proximidades do Reino de Dressrosa.
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫

No dia anterior, Tral-san realizou uma ligação para Donquixote Doflamingo por meio de seu Den Den Mushi, com o intuito de firmarmos uma negociação entre ele e nossa aliança. Resumidamente, a proposta consistia em que ele abdicasse de seu posto como Shichibukai e, eventualmente, do trono daquele reino; caso contrário, não entregaríamos Caesar Clown, e este seria morto por Kaido, um dos Yonkou - nosso alvo no momento. O que surpreendeu a todos foi que Doflamingo aceitou nossa proposta sem qualquer hesitação, o que me fez compreender melhor como operam as dinâmicas entre os Imperadores do Mar e aqueles considerados "comuns", por assim dizer. Afinal, Doflamingo é um pirata protegido pela Marinha; então, por que ele teme tanto perder seus negócios com Kaido? Quão grande é, de fato, a autoridade de um Imperador? Querendo ou não, essa situação me causa um profundo mal-estar.

Estávamos próximos de chegar a Dressrosa e, de onde estávamos, já podíamos avistar as margens da ilha. Engoli em seco ao desviar o olhar e perceber uma porção de vegetação: Green Bit. Expirei lentamente, tentando acalmar a agonia em meu peito, pois, embora estivesse tão perto da minha salvação, ainda me sentia distante.

Apoiei as mãos no parapeito em frente à porta da cozinha e observei meus companheiros, que riam e trocavam reclamações, alguns animados com o que nos aguardava em nossa próxima parada, enquanto outros lamentavam o temor de enfrentar Donquixote Doflamingo. Bobagem. Como se aquele homem fosse capaz de nos enganar ou ousasse se opor a nós, especialmente com Luffy, Zoro e Sanji a bordo. Um passo em falso, e ele conhecerá o próprio inferno.

Mais ao canto, avistei Tral-san, afastado dos demais, encarando o país à frente com um olhar que pouco disfarçava seus sentimentos - o desgosto em seus olhos acinzentados era evidente. Eu já havia notado isso nele; não era necessário que meu Mantra estivesse ativado para perceber o repúdio que ele sente sempre que Doflamingo é mencionado em nossas conversas, seja ao tratarmos de nosso plano para derrubar Kaido, seja ao fazermos piadas sobre o estilo peculiar de Doflamingo, sua maneira de andar ou o quão excêntrico ele pode ser. Bem, não é estranho? Um pirata, mesmo sendo um dos Sete Corsários, ser o rei de um país? É, no mínimo, contraditório.

No entanto, não é nisso que devo pensar agora. Doflamingo, assim como toda a merda da Marinha e do Governo Mundial, são as últimas preocupações que desejo ter neste momento, não quando estou tão próxima de conseguir as plantas que me curarão e ajudarão a tratar todos os enfermos das Ilhas do Céu, enquanto ainda não consigo encontrar a Tenshi Tenshi No Mi e entregá-la a alguém de confiança para consumir... mas quem?

Ninguém realmente confia em mim em Skypiea. Não sei se Gan Fall confiava de verdade ou se apenas dizia aquelas palavras porque sou o único legado de sua filha... porque sei muito bem que, se não fosse o laço de sangue que nos une, ele seria o primeiro a me condenar. Duvido que eu estaria aqui agora; provavelmente teria sido enviada à forca ou à fogueira antes mesmo de despertar naquela cela, isso se Wyper e Laki não tivessem me executado naquela noite em que cheguei às margens do Mar Branco-Branco, com o corpo enfraquecido e faminta.

Inferno. Por que não me mataram quando tiveram a chance? Agora sou obrigada a resolver todos os problemas deles como se fossem meus! Mesmo que eu tenha uma parcela de culpa, isso não significa que sou responsável por tentar consertar tudo, até porque nem sequer sei como farei isso. Gan Fall morreu. Ele está morto. Ele não vai voltar. Eu queria que ele voltasse, que me orientasse, mas tudo o que ele fez foi deixar minha mente ainda mais confusa do que já estava.

Sou especial? Especial por ter nascido neste mundo? Não. Eu não sou especial. E, se sou, é porque sou filha de Deus. Essa é a única coisa que me distingue entre milhões de outras vidas. Afinal, sem Ele... eu não sou nada. Eu não seria eu. Eu não seria forte. Eu... sou a guerreira perfeita. Eu preciso ser forte.

"Perigo."

- O quê? - Virei-me na direção da voz, mas não havia ninguém.

"Dressrosa."

"Perigo."

"Não vá."

"Perigo."

- Quem... quem está falando? - sussurrei, baixo o suficiente para que apenas eu pudesse ouvir, enquanto olhava ao redor, procurando por alguém. No entanto, todos estavam distantes de mim.

Senti a respiração prender-se em minha garganta e engoli em seco, cravando as unhas na madeira que formava o parapeito. Uma gota de suor frio deslizou por minha testa, pingando sobre meu seio esquerdo, para o qual olhei imediatamente. Na mesma hora, lembrei-me do que me levava a essa situação com o capitão dos Piratas de Copas: o roubo do meu coração e a dívida que me prendia a Trafalgar Law. Eu sequer podia cogitar traí-lo, pois, mesmo que encontrasse uma maneira, uma única ordem dele e seus tripulantes teriam acesso ao meu coração e poderiam esmagá-lo para me matar, caso eu tentasse enganá-lo novamente, como fiz tão facilmente há dois anos.

Eu poderia afirmar que agora somos amigos, que nossa proximidade nos transformou em algo semelhante a colegas, mesmo sabendo que tudo o que nos une é nosso acordo e, agora, minha enfermidade.

Nunca imaginei que ele pudesse se compadecer de mim, e acho estranho que ele pareça preocupado comigo. Não é na forma como me trata, pois continua sendo exigente e desdenhoso na maioria das vezes em que estamos sozinhos, assim como mantém aquela frieza dilacerante no olhar sempre que seus olhos acinzentados se voltam para mim.

É, no mínimo, intrigante. Não consigo entender o que ele realmente deseja. Antes, eu compreendia que se tratava apenas de uma questão de conveniência, como ele mesmo afirmava. Contudo, com o passar do tempo, tornou-se nítido, óbvio, quase inegável, que ele queria me ajudar, que desejava me salvar. E tudo isso desde aquela noite em que vomitei sangue pela primeira vez, quando ele disse que não me deixaria morrer. Confesso que ouvi-lo dizer aquilo com a voz rouca e quase rasgada foi diferente do que eu estava acostumada, porque, naquele instante, ele parecia realmente querer me dizer aquilo, disposto a me confortar, a... fazer-me sentir acolhida.

"Não vá."

"Dressrosa."

"Não vá."

"Perigo."

Arregalei os olhos ao sentir um frio percorrer minha espinha no instante em que ouvi aquelas vozes novamente e, ao olhar para o lado, vi algo que me fez engolir em seco. Duas gaivotas estavam pousadas no parapeito, ambas me encarando fixamente. As vozes... eram delas. Minha pele se arrepiou por completo, todos os pelos do meu corpo se eriçaram, e minhas asas se agitaram à medida que eu me afastava das aves, que mantinham o olhar fixo em mim, como se tentassem continuar se comunicando.

Isso não pode estar acontecendo. Não há como. Animais não falam. Quer dizer, não animais comuns. Chopper é um animal e fala, mas ele comeu a Hito Hito No Mi, o que justifica tudo... não há motivo para essas gaivotas estarem falando. Não é normal. Não é natural. Eu devo estar cansada. Sim, só pode ser isso. Não há... há? Não. Não há. Elas não falam. Não falam, Elisabette, não falam! Céus... preciso descansar. Estou... delirando. Tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, tantas responsabilidades que preciso resolver sozinha, acabam me sobrecarregando demais e me deixando sem tempo para dormir, mesmo que eu esteja dormindo mais do que o habitual... ainda assim, continuo cansada e nem sei o porquê! Deus, o que está acontecendo? Sinto que minha cabeça vai explodir a qualquer momento.

Balancei a cabeça e voltei a olhar para onde todos estavam, encontrando o olhar acinzentado do Cirurgião da Morte.

Ele permanecia em silêncio, apenas me observando, como sempre fazia, enquanto meus companheiros estavam agitados ao seu redor, discutindo sobre os perigos que poderíamos enfrentar ou o quanto seria divertido explorar Dressrosa, conhecida como Um Reino do Amor e Paixão - o que me leva a refletir sobre a ironia desse título, considerando que seu governante não passa de um pirata cruel.

Meu Mantra não tem funcionado já há algum tempo, e isso me faz sentir vulnerável, frágil. É como se eu estivesse reaprendendo a me virar sozinha, tal como anos atrás, quando ainda era uma menina sendo treinada para lutar e defender Upper Yard. Mesmo sendo pequena e magra como qualquer criança de 11 anos, eu já possuía uma força física considerável e apreciava a atenção e admiração que recebia de Enel todas as vezes que conseguia me defender das explosões na Provação das Esferas ou derrotar Shura durante a Provação das Cordas.

Aperto os punhos com força sobre o parapeito e olho para o meu corpo, observando a magreza e o desaparecimento repentino dos músculos que antes se destacavam facilmente nas roupas que eu usava. Estou esquelética, com um aspecto doente e exausto. Nunca vi meus olhos tão escuros e sonolentos... não que eu tenha o hábito de me olhar no espelho com satisfação, mas... sei que estou completamente diferente de algum tempo atrás. Quando retornei de Skypiea, meu corpo ainda estava tonificado, meus músculos definidos, conferindo-me um ar de superioridade em relação às outras mulheres do bando. Embora nós três possuamos corpos voluptuosos e curvilíneos, tenho plena consciência de que, no que diz respeito à definição e à aura de poder, eu estava acima de Nami e Robin.

Abri minhas asas e voei até a rede do navio, segurando-me nas cordas com uma das mãos enquanto a outra levava à testa para fazer sombra e, assim, observar melhor o reino a alguns quilômetros de distância. Presumo que levaríamos pelo menos uma hora e meia para chegarmos às margens, onde atracaríamos o Thousand Sunny para, então, decidirmos quem de nós ficaria no navio e quem acompanharia Tral-san na entrega de Caesar Clown a Doflamingo. Era óbvio que eu estaria com ele o tempo todo, apenas para garantir que nada lhe acontecesse que pudesse me prejudicar de forma a perder minha vida no processo.

━━ Segunda parte da Grand Line, Novo Mundo ; Reino de Dressrosa.

Assim que colocamos os pés em terra firme, o caos já se instaurou. Luffy insistia para que Momonosuke o levasse voando até a cidade, enquanto o menino afirmava com convicção que era incapaz de voar. Robin interveio em sua defesa, explicando que ele não possuía asas, o que apenas pareceu chatear ainda mais nosso capitão, que insistia ter visto o garoto voando quando estávamos em Punk Hazard.

Eu ainda vestia roupas comuns, apropriadas para o dia a dia - um vestido rodado de cor amarela e o cabelo preso desajeitadamente com uma fita branca. Estava pronta para levar Caesar ao local de encontro com nosso negociador, Donquixote Doflamingo. Observava em silêncio, encostada no casco do navio, enquanto meus companheiros se preparavam para a missão. Sanji, Brook e Kin'emon discutiam entre si sobre o garoto transformado em um dragão cor-de-rosa, chamando-o de tarado. Que bobagem, ele é apenas uma criança doce e inocente. Embora eu não tenha me aproximado tanto dele quanto Nami e Robin, ainda dividi minha cama com ele em algumas noites.

- Ei, Kin'emon! Vamos logo para a cidade! - chamou Franky, olhando diretamente para o samurai. - Devíamos tarar... digo, devíamos trocar de roupa para nos disfarçarmos.

- Sim! Traje esporte fino para homens. Topless e fio dental para as mulheres! - respondeu Kin'emon, exibindo um pergaminho para todos. - É assim que o povo de Dressrosa se veste. Vamos trocar de roupa para que possamos nos misturar com a população?

- Dressrosa, que lugar! - exclamou Sanji, com os olhos em formato de coração e um sorriso largo nos lábios.

- As mulheres aqui se vestem assim? - perguntei, aproximando-me e pegando o pergaminho, observando com atenção as figuras desenhadas.

- Sim, O-Eli! - Kin'emon sorriu, colocando uma pedrinha em minha mão.

- Bem, tudo bem. - coloquei a pedrinha em minha cabeça. - Pronto. Pode fazer a sua mágica.

Coloquei as mãos na cintura e fiquei a observá-lo, ciente de que, com seus poderes, ele poderia facilmente me vestir com trajes idênticos aos desenhos do pergaminho. Não me preocupava com a exposição da minha pele, pois todas as minhas manchas estavam cobertas por base e pó de arroz, o que significava que as chances de meus companheiros perceberem minha doença eram inexistentes.

Uma nuvem de fumaça envolveu meu corpo, como se algo forte estivesse me agarrando e apalpando minhas curvas com firmeza. Assim que a fumaça se dissipou, senti a brisa marítima soprar contra minha pele quase nua, agora vestida como as mulheres do Reino de Dressrosa. Meus seios estavam praticamente expostos, e uma calcinha minúscula, adornada com algumas rendas, cobria minhas partes íntimas. Olhei para meu corpo e arqueei uma sobrancelha, depois encarei Kin'emon, Sanji e Brook, que praticamente saíram voando com um jato de sangue espirrando de seus narizes. Enquanto isso, Tral-san me fitava de forma perturbadora - quase como se estivesse prestes a me esganar ali mesmo.

De repente, senti um cascudo forte atingir minha cabeça, derrubando a pedrinha e desfazendo o disfarce. Minhas roupas originais voltaram ao meu corpo. Levei as mãos ao local atingido e choraminguei alto, virando-me para ver Nami se aproximando dos três homens para acertá-los com um soco, o que os levou imediatamente ao chão. Inferno! Eu consigo desviar de golpes de espadas, tiros e até mesmo de raios, mas sou incapaz de me defender dos golpes da nossa navegadora? Que vexame. E como dói!

- Olha a mentira!

- Ai! Por que apanhei!? - reclamei, insatisfeita, enquanto fazia um beicinho e me encolhia no chão.

- Você é ingênua demais para o seu próprio bem! - Nami me segurou e me levantou, dando alguns tapinhas em minha cabeça. - Pronto, pronto. Já passou.

- Ei. Fique com isto. - Tral-san se aproximou de nós duas, entregando um pedaço de papel rasgado à ruiva.

- É um Vivre Card?

- Sim. Ele levará a uma ilha chamada Zou, da qual falei anteriormente. Se algo acontecer, vá direto para lá.

- Zou...!? - arregalei os olhos, sentindo minha pele empalidecer de surpresa. Não me recordava dele ter mencionado essa informação.

- Espere!

- Como assim, "se algo acontecer"? Nada vai acontecer, certo? - Usopp perguntou, visivelmente preocupado.

- Quem sabe?

Lancei-lhe um olhar de canto, franzindo o cenho, ao que ele retribuiu, perfeitamente consciente de que minha expressão era praticamente um "fala sério!", enquanto a dele dizia claramente "fique quieta". Era surpreendente como, às vezes, nos comunicávamos apenas por olhares, que invariavelmente traziam uma reprimenda mútua: eu, pedindo que ele deixasse de ser tão insuportável, e ele, me censurando por ser barulhenta ou por invadir seu tão prezado espaço pessoal. Que tolice. Ele sempre foge de mim como um rato escapa de uma águia faminta. Quando o abraço, fica rígido como uma tábua de madeira! Magrelo esquisito, será que você tem medo de afeto? Maluco.

Porém, deixando nossas divergências de lado... ainda há Zou. Não me recordo dele ter mencionado a estadia de seus companheiros naquela ilha! Perfeito... perfeito demais. Tudo está se desenrolando conforme eu desejava! Se continuar nesse ritmo, conseguirei me curar da Febre das Árvores e obter a Tenshi Tenshi no Mi quando chegarmos em Zou! Assim que a tiver em mãos, posso encontrar uma maneira de enviá-la para as Ilhas do Céu ou levá-la pessoalmente antes de procurarmos por Kaido. Droga, aquele pássaro maldito estava doente e, de quebra, me contaminou; caso contrário, eu poderia muito bem tê-lo usado para levar tanto as plantas quanto o fruto do diabo... preciso pensar no que fazer antes que seja tarde demais.

- Para não sermos reconhecidos, precisamos estar disfarçados e... Mugiwara-ya!

- Pelo menos ele levou o Franky e o Zoro - murmurei, fazendo um beicinho ao ver meu capitão sair correndo em direção à cidade.

- E desde quando isso é bom? - Usopp me olhou com uma expressão apavorada.

- Cadê o Sanji!? - Nami estremeceu e começou a olhar ao redor, procurando pelo loiro. - Quem vai nos proteger!?

- A Lis! - Chopper de repente pulou em meu colo, e senti o desespero tomar conta de mim, não demorando a derrubá-lo no chão bruscamente. - Ai! Bati o bumbum!

- SAI DE PERTO DE MIM!

- Qual foi, Lis? Não precisava disso! Tadinho! - a navegadora pegou o pequeno nos braços e fez carinho em seu traseirinho enquanto ele choramingava. - O que deu em você, hein?

Encolhi os ombros e engoli em seco quando todos me encararam com olhares curiosos e as sobrancelhas franzidas em confusão, tentando entender o porquê da minha agressividade repentina em relação ao nosso médico. Droga! Não... não me olhem assim... assim não, de novo não... por favor. Não me encarem com medo, eu não vou machucar vocês, inferno! Parem... parem de me olhar assim. Dei um passo para trás e apertei os punhos, já sabendo que teria que inventar alguma mentira estúpida para eles, que perceberiam imediatamente a minha falta de honestidade, uma vez que sou péssima em mentir para eles... por favor, parem... não me olhem assim.

- É gripe. Elisabette-ya está gripada. - Tral-san se colocou à minha disposição, elevando sua altura sobre a dos meus companheiros ao se posicionar em minha frente. - Eu mesmo a examinei e constatei isso. Gripe é contagiosa. Ela não quer contagiar vocês. - disse ele com firmeza, fazendo até Robin acreditar em suas palavras.

- Oh, você está doente, Senhorita Elisabette? - Brook se aproximou de mim, dando alguns tapinhas suaves em minha cabeça.

- Bem... sim... mas é só uma gripezinha, não é nada tão sério assim. - falei com um sorriso, olhando para a rena que ainda me encarava com os olhos arregalados. - Desculpe, Chopper... eu me assustei com você pulando em mim e... reagi mal. Sinto muito.

- Não! Que isso! Está tudo bem, Lis! - ele sorriu, dando pulinhos.

Eu sabia que ele havia ficado magoado, mas não iria admitir isso, pois, mesmo sem conseguir utilizar meu Mantra, ainda conseguia perceber a mágoa em seu pequeno coração. Maldisse a mim mesma no instante em que vi o medo nos olhos de Chopper ao ser tão agressiva com ele, mesmo que por um breve momento. Aquele olhar assustado... recordo-me de tê-lo visto com a mesma expressão há dois anos, em Skypiea, quando os confrontei por estarem no Jardim Superior sem permissão.

Lembro-me daquele dia com nitidez, como se tivesse acabado de acontecer. Nami e Chopper olhavam-me assustados, enquanto Robin e Zoro se colocavam em posições de defesa, prontos para lutar, caso fosse necessário, tudo por conta da autoridade ameaçadora que eu havia imposto ao vê-los pela primeira vez.

- Vou trocar de roupa. - falei com um sorriso, batendo as asas para alçar voo até o Sunny.

Para coletarmos algumas informações, Robin, Usopp, Tral-san, eu e Caesar Clown fomos à cidade, parando em uma pequena cafeteria, onde nos passamos por pesquisadores para fazer algumas perguntas às pessoas do local. A maioria nos recomendou não ir até Green Bit, enquanto outras simplesmente ignoravam qualquer pergunta que fazíamos sobre a pequena ilha nas proximidades do reino. Havia uma ponte de ferro conectando as duas ilhas, mas que parecia bastante enferrujada. Também obtivemos a informação sobre um cardume de Peixes Lutadores que habitam a região ao redor de Green Bit, o que poderia dificultar nossa ida até lá. A ideia de peixes grandes com chifres que nos atacam sem hesitar me causou arrepios! Criaturas grandes me lembram Oars... até hoje sinto pavor de tudo o que me aconteceu em Thriller Bark.

- Ei, Tral! Precisamos mudar o local do encontro agora! - Usopp murmurou para nosso aliado, seus dentes batendo de nervosismo.

- Ele tem razão! Coloque-se no meu lugar! - Caesar Clown protestou, também assustado. - Não quero ser negociado lá! Idiota!

- Não vamos mudar. Já estamos aqui. Parem com o chilique. - Tral-san disse, bebendo um gole de café. - O que me preocupa é a situação do país. O rei abdicou do trono do nada. Como podem estar tão calmos? Já estamos em circunstâncias inesperadas.

- É isso que me deixa com o cu na mão! - retrucou o nosso atirador.

De repente, senti uma presença poderosa, até mesmo para mim - uma aura perturbadora e intensa que fez meus pelos se arrepiarem e minhas asas se agitarem sob o casaco. Engoli em seco e olhei para o lado, abaixando minimamente os óculos escuros para enxergar melhor, e senti meu sangue gelar. Havia três pessoas mascaradas, e imediatamente reconheci o batimento cardíaco e a alma corrompida de um deles: Rob Lucci. Segurei a mão de Usopp com força, assustada, enquanto recordava os momentos que vivi com aquele homem, que quase arrancou minhas asas. Se não fosse por Sogeking, eu provavelmente estaria sem elas e talvez sem o movimento de um dos braços ou pernas.

Robin também percebeu a presença deles, escondendo-se sob o gorro e virando o rosto para evitar ser reconhecida. Os homens à nossa mesa nos olharam confusos até perceberem o que nos deixara tão assustadas. CP-9 e Robin no mesmo local me causavam arrepios! Sozinha, eu não conseguiria protegê-la... maldição.

- O que foi?

- A CP-0. - o Cirurgião da Morte sussurrou, também parecendo ligeiramente nervoso.

- Zero? CP-0!? Não era 9? - falei, sentindo o pânico me dominar. - Existem mais!?

- A mais poderosa organização do mundo: Cipher Pol Aigis Zero!

- Não me diga que eles têm relação com a CP-9!?

- São a maior de todas as Cipher Pol... - revelou Robin, com a voz nervosa e agitada.

- A CP-9 já era forte para danar! Eles são ainda mais!?

- Quando eles estão por perto, coisa boa não é. - murmurou ela, sua mão encontrando a minha, que ainda segurava a de Usopp.

De fato, a presença deles apenas nos tornaria ainda mais vulneráveis em território inimigo, especialmente considerando a especialidade deles em atacar quando nosso grupo está disperso: Nami, Chopper e Brook estão sozinhos em nosso navio com Momonosuke; Luffy, Franky, Zoro, Sanji e Kin'emon estão vagando por Dressrosa sem saber exatamente para onde ir; e nós quatro estamos aqui, tendo de lidar com Caesar e Doflamingo, agora precisando também ficar atentos à presença da CP-0 no reino. Céus, o que mais poderá acontecer?

Mas que caralho!

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