
♛ Chapter 10♛
" Tem coisas que devem permanecer só em nossas lembranças mesmo, não em nossas vidas."
Valentina Zenere
Pela primeira vez fui tratada como uma pessoa rica, tive uma ótima visão do show e ainda conheci alguns cantores famosos.
Mas o que me fez ganhar a noite foi ver o sorriso da Valéria, nunca tinha visto ela tão radiante.
Nesse momento estamos dentro de um carro conversível, indo em direção ao Mcdonald, vim aqui algumas vezes ao lado da turma do colégio, mas essa é a primeira vez da minha irmã.
Achei que nesse horário estava fechado, apenas servia para as pessoas pegarem e saírem, Michael estacionou o carro na porta do McDonald, esse funcionava 24 horas.
— Não se preocupe, meninas — Ruggero falou chamando a nossa atenção — Esse Mcdonald é da minha família, então sempre tenho aqui após o show — explicou.
— Esse lugar é maior do que imaginei, é a primeira vez que venho aqui — Valéria falou descendo do carro toda animada.
— Valéria tenha um pouco de educação — pedi.
— Não a repreenda, docinho — Michael pediu — Me lembro até hoje da primeira vez que a minha mãe me trouxe aqui, agi da mesma maneira que ela — falou olhando pra ela e sorrindo.
Ruggero foi o primeiro a entrar, Karol ao lado da minha irmã e depois fiquei pra trás com o Michael.
— Docinho — ele me chamou novamente daquele apelido ridículo — Espero que não esteja tão tarde pra andar com sua irmã — Michael falou puxando assunto.
— Pare de me chamar de docinho, eu não sou a docinho de ninguém — falei, vendo ele me encarou surpreso — Não se preocupe com isso, Michael — pedi — Os meus pais deixaram o dia livre pra nós, não quero estragar o dia da minha irmã, quem sabe quando ela poderá viver isso novamente — falei num tom indiferente.
Ele apenas sorriu pra mim e sorri de volta pra ele.
A parte fechada era de um vidro especial, ninguém de fora podia nos ver, apenas nós podíamos ver as pessoas do lado de fora.
Era que nem aqueles carros com o tal vidro fumê, acho tão chique isso.
Era estranho vir aqui e não ver ninguém, mas era isso que os ricos faziam, o tal do tratamento vip que tanto falam.
— Peçam o que vocês quiserem, garotas — Ruggero avisou.
Tinha somente dois cardápios na mesa, Michael e o Ruggero não quiseram nem olhar, já que sabiam bem o que pediram.
Uma garçonete se aproximou de nós, ela tinha um belo sorriso no rosto.
Era de altura mediana, gordinha, morena, olhos castanhos e cabelos ruivos cacheados num corte chanel.
— Boa noite — desejou, pelo crachá que estava no lado direito do seu peito, vi que seu nome era Aisha — Já posso anotar o pedido de vocês? — perguntou gentilmente.
Eu e a Karol nem olhamos o cardápio, afinal sempre pedimos o mesmo pra nós duas, que era big mac, porção de batata frita, coca cola com pouco gelo e casquinha de morango.
A morena anotou tudo atentamente e depois direcionou o olhar para os garotos.
— Vão querer o mesmo de sempre, né garotos? — ela perguntou.
— Sim — Os garotos responderam em um perfeito couro.
Logo ela lançou o olhar pra minha irmã, ela ainda olhava o cardápio como se fosse uma máquina de brinquedos, seus olhos estavam brilhando tanto.
— Eu vou querer um duplo quarteirão, Mc Fritas cheddar bacon, fanta laranja e uma casquinha de chocolate — falou entregando o cardápio para a garçonete.
Encarei a minha irmã com um olhar de reprovação, ela havia pedido uma comida muito pesada.
Ela não iria dar conta de comer ou até mesmo passaria mal, mas resolvi nem dizer nada e deixar ela aproveitar o restaurante.
Em poucos minutos, trouxeram todos os nossos pedidos e começamos a comer.
Uma hora depois.....
Tínhamos acabado de comer, Ruggero e o Michael foram muito atenciosos e divertidos.
O que mais me deixou surpresa foi ver que a minha irmã terminou de comer tudo e logo em seguida me assustei com o horário, eram 1:30 da manhã.
Ruggero pediu pra garçonete colocar tudo na conta dele, seguimos até o estacionamento.
Michael foi dirigindo, Ruggero estava na frente e nós meninas atrás.
No carro estávamos em total silêncio, minha irmã estava dormindo no meu ombro e Karol mexendo no celular.
Michael deixou Ruggero em casa, era apenas quatro quadras do McDonald, já a Karol morava umas seis ruas pra frente do Ruggero.
Ajeitei a minha irmã no banco do carro, colocando ela deitada no meu colo, dormia profundamente.
Estava tão cansada tadinha, uma das maiores qualidades dela, era conseguir dormir em qualquer lugar.
— Se quiser, pode se sentar na frente — Michael falou.
— Não precisa, aqui eu consigo segurar a minha irmã — falei — Infelizmente onde eu moro tem muitos buracos — contei.
— Não se preocupe, o rei logo irá resolver tudo isso e terá uma condição melhor de vida — falou.
— A realeza não dá atenção para simples plebeus como eu — falei olhando pra janela — Já fizemos solicitação com o secretário do rei, e até hoje não deram esperanças — contei — Espero que a próxima rainha que escolherem, olhe pelos plebeus — desabafei.
— Garanto que as coisas irão mudar — falou me olhando através do retrovisor do carro — Você já passou fome? — perguntou num tom curioso.
— Sim, muitas vezes — respondi desviando o olhar pra minha irmã — A verdade que os meus pais não deviam ter tido filhos, me lembro que quando era criança várias vezes não tinha o que comer, mas a minha irmã eu fazia o possível pra ela não passar por isso, sempre pedia pelas ruas ao lado de um filho da minha vizinha da época — falei com um tom amargo na boca, ao me lembrar da época que pedia nas ruas ao lado do Marcos.
— Me desculpe por ser tão evasivo — pediu — Mas não deixei de reparar que a Valéria chamou você de mãe quando estávamos no McDonald — falou.
— Não me diga que acha que tenho uma filha grande desse jeito — zombei, segurando a minha risada, pra não acordá-la.
— Você é muito nova para ter uma filha com 10 anos — falou.
— Na verdade ela tem 11 anos, minha mãe ficou quase 5 anos com uma depressão pós parto profunda e eu junto com a vizinha cuidei dela, por isso ela se acostumou a me chamar de mãe, mas aos poucos estou cortando ela — contei — Esse é um dos motivos pelo o qual a minha mãe me odeia — falei baixo suficiente pra ele não pudesse ouvir.
Percebi que chegamos na área dos buracos, segurei com um pouco mais de força o corpo da minha irmã, pra que ela não tombasse do banco de trás.
— Ela ama muito você — falou — Sempre quis ter irmãos, mas infelizmente a minha mãe não teve mais filhos — revelou.
— Já que me fez algumas perguntas, agora é a minha vez — falei.
— Pode perguntar — concordou.
— Porque você vai deixar a banda? — perguntei curiosa.
— Por mais que ame cantar, desde do meu nascimento a vida tinha outros planos pra mim — respondeu.
Quando ia lhe dizer algo, percebi que havíamos chegado na Vila onde moro que por milagre não tinha ninguém nas ruas.
Minha irmã ainda não acordou, ela tem um sono muito pesado, então pelo jeito teria que carregar ela até a nossa casa, desci do carro, vejo Michael descendo também.
— Irei lhe ajudar — avisou, ajudando eu tirar a minha irmã do carro — Eu levo ela pra você — falou pegando ela gentilmente no meu colo.
Nossos rostos estavam tão próximos que naquele momento poderíamos nos beijar facilmente, quando nossos lábios iam se tocar, ouço uma voz vindo atrás de nós.
Me viro rapidamente, vendo que era a Marcos, fazia três anos que não o via, me lembro que a mãe dele me contou que ele tinha sido convocado para o exército real.
No dia em que Marcos foi embora, eu não pude me despedir dele porque estava fazendo uma prova para entrar no colégio de Elite.
Ele é o meu ex-namorado, ele foi o primeiro em tudo, mas infelizmente eu queria uma vida melhor e sabia que se acabasse me casando com ele no futuro, não conseguiria sair desse maldito lugar.
Percebi que estava muito diferente da última vez que nos vimos, usava uma regata branca que dava perfeitamente para ver os seus músculos definidos, calças jeans num tom escuro, coturno preto e seus cabelos castanhos bem curtinhos.
— O que aconteceu com a minha garotinha? — Marcos perguntou num tom preocupado.
Ele chamava a minha irmã assim desde que éramos crianças, ele sempre a tratava como se fosse uma filha.
Ele e a mãe dele ajudaram a cuidar da minha irmã quando a minha mãe estava no hospital.
— Ela comeu demais e acabou pegando no sono, Marcos — respondi.
Marcos e o Michael se olharam, parecia que o clima iria ficar pesado entre eles.
— Pode deixar que eu leve a minha garotinha — Marcos falou rapidamente, retirando ela do nosso colo e a pegando com carinho.
Michael me encarava com um olhar confuso, sabia que naquele momento, apenas o que restava fazer era me despedir dele.
— Às vezes temos que ir contra o destino que nascemos ou talvez conciliar o que amamos com ele — falei dando um forte abraço nele — Muito obrigada por tudo que fizeram por mim e a minha irmã nessa noite — falei lhe dando um selinho.
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