Saio do elevador procurando minhas chaves na bolsa para destrancar a porta, enquanto Justin e Ric conversam mais animados do que anteriormente.

— Eu tentei não rir, mas quando ele disse que tava correndo pra ver as amigas da Jade na piscina, eu não aguentei. — Alaric diz e os dois começam a rir como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

— Cinco pontos pra ver meninas de biquíni, quem nunca? — Justin diz e me encara entre o riso.

— Cinco pontos eu não sei, mas você já quebrou a perna, cara. — Alaric diz me fazendo rir.

— Cala a boca, Alaric! — Justin diz o socando e Ric revida.

Quando finalmente encontro a chave, abro a porta vendo a casa mais arrumada do que quando eu a deixei no sábado passado.
Tento adivinhar o que pode ter acontecido, mas me lembro que as meninas estiveram aqui depois que sai.

— Parem com isso e entrem. — Ordeno terminando de abrir a porta e dando espaço para os dois entrarem depois que pararam de se socar.

— Licença. — Alaric diz antes de entrar e se eu não tivesse visto antes, os dois praticamente brincando de lutinha na minha frente, não acreditaria que era a mesma pessoa.

— Ele sempre foi mais educado que eu. — Justin diz entrando sem formalidade alguma, enquanto indica Ric com o polegar me fazendo rir.

— Sabe que eu nem reparei?! — Murmuro irônica fechando a porta depois que eles entraram.

Guardo a chave da casa no chaveiro e tiro meu casaco pendurando em um suporte ao lado da porta, enquanto Justin e Aliric continuam conversando.

— Então, vocês estavam em Chicago? — Alaric questiona, desabotoando o terno e se sentando ao lado de Justin, que ja estava jogado no sofá.

— Sim. — Respondo, assentindo caminhando em direção ao outro sofá.

— O clima estava do jeito que você gosta, Ric. — Justin diz encarando Alaric, enquanto eu largo minha bolsa, me sentando no sofá. — Congelando! Nem dava vontade de sair da cama, não é Selena? — Ele diz desviando o olhar para mim.

Não sei o que dizer, olho para Ric e ele está me encarando assim como Justin, que esbanjava um sorrisinho sacana no canto dos lábios.

— É. — Murmuro, sorrindo sem mostrar os dentes, assim que consigo pensar.

O que ele estava insinuando?

— Como Katherine está? — Ric questiona.

— Do mesmo jeito de sempre. — Justin diz simples.

— É, ela está. — Ric murmura e em seguida força um sorriso.

A conversa cessa por alguns minutos, quando lembro de avisar Cameron que o hall está sozinho, mas o celular ainda estava sem bateria, então me levanto do sofá, pegando o carregador na bolsa e vou até a tomada perto de uma das janelas.
Ligo o celular e envio uma curta mensagem ao Cam, avisando-o.

— Eu e as meninas organizamos toda a casa... — Ouço Justin dizer e não dou muita atenção para suas palavras. — Me desculpa por ter vomitado em você e ter feito você ir embora da boate mais cedo. — Olho para trás o vendo segurando um papel em mãos e logo percebo do que se trata. — Deixei a roupa que você me emprestou, limpa, em cima da cama, obrigada por cuidar de mim nunca irei esquecer. Já te amo, Taylor.

Cada palavra, confirma minha tese de que as meninas arrumaram a casa, mas uma coisa é eu saber disso, outra bem diferente, é alguém ler em voz alta.

Justin ainda está encarando o papel seriamente mesmo depois de terminar de ler, enquanto Alaric não parecia não entender nada.

— Aonde você achou isso? — Digo indo até ele e tirando o papel de sua mão.

— Em cima da mesinha. — Ele indica a mesa de centro.

— Não mexe em mais nada, ta bom? — Digo e ele assente com um sorrisinho, que deixa claro que não garante nada.

Estamos nos encarando quando Alaric pigarreia tentando chamar a atenção.

— Podemos começar? — Ric diz tirando o celular do bolso de dentro do terno.

— Espera. — Digo guardando o papel no bolso da calça. — Antes, eu vou fazer um café, tudo bem?

— Claro. — Ric diz, colocando o celular sobre a mesa de centro e eu começo a andar em direção a cozinha.

— Eu te ajudo. — Ouço Justin dizer e o vejo se levantando do sofá, para me seguir.

Passo pelo balcão do centro da cozinha, pegando um pano de prato e vou até a pia lavar as mãos, as secando logo em seguida, sem deixar de notar Justin me seguindo a cada passo, sem dar nenhum piu.

— Não sabia que um dos seus sobrenomes era Saltzman. — Digo, quebrando o silêncio, enquanto ele lava as mãos.

— Eu nunca disse que ele era filho do meu pai. — Justin sorri desligando a torneira e puxando o pano de minhas mãos.

— Você não disse quase nada, na verdade. — Afirmo abrindo a porta do armário de cima e pegando o pote de café. 

— Eu falei o que achei que era importante, mas você que ficou ocupada demais tentando tirar minha camisa ao invés de prestar atenção. — Ele diz e eu solto o pote sobre o mármore da pia, o olhando incrédula. 

  — Eu não estava tentando tirar sua camisa. — Nego  e ele sorri malicioso.  

  — Você ficou o tempo todo brincando com os botões, Selena. — Justin alega, fechando a porta do armário que eu havia deixado aberta.

 — Não quer dizer que eu estava tentando tirá-la. — Digo dando as costas para ele e indo em direção as gavetas do balcão.

Abro uma delas tirando um dos filtros de café que ali haviam, mas quando vou fecha-la, sinto o corpo de Justin por trás do meu e o vejo empurrar a gaveta, calmamente.

  — Mas, você gostaria. — Ele diz em tom firme e eu respiro fundo.

 — É uma bela camisa. — Ouso dizer, engolindo em seco e ele ri fraco.

Me afasto dele novamente indo em direção a cafeteira - que estava sobre o balcão da pia - e colocando o filtro na mesma.

— Pega uma colher na segunda gaveta da pia, por favor? — Digo e ouço o barulho da gaveta se abrindo.

— Sabe de uma coisa? — Justin diz, me entregando o pote de café junto com a colher, e eu murmuro um "ham?" — Você também não me disse que havia ido embora, por causa da Taylor, naquela noite.

— Você não me perguntou. — Respondo na defensiva, o olhando rapidamente enquanto coloco o pó do café na cafeteira.

Ele se escora no balcão da pia de braços cruzados e me observa por alguns segundos, em silencio, como se estivesse distantes.
Em um movimento leve, Justin estica a mão pegando a jarra da cafeteira e em seguida vai até a torneira da pia, a enchendo de água.

— Quando eu joguei na sua cara que você havia ido embora com o Oliver, mesmo eu tendo te pedido pra ficar, você não negou. — Ele diz normalmente me entregando a jarra, já cheia.

— Porque não era mentira. — Digo colocando a água e fechando a tampa da cafeteira.   

Coloco a jarra de volta na acoplagem e ligo a máquina, me virando para Justin, que havia voltado a cruzar os braços.

— Poderia ter me dito sobre a Taylor, naquele momento. — Ele diz se aproximando mais de mim. — Mas, a única coisa que você disse, era que não estava brincando comigo.

— Eu não sei aonde você quer chegar, Justin. — Digo o encarando.

— Não pense que eu estou me intrometendo na sua vida, de maneira alguma, só que eu não to entendendo mais nada. — Ele diz sincero, descruzando os braços. — Em um momento estou te evitando e então nós conversamos e ai não consigo mais te evitar. Então você vai embora com outra pessoa e eu não sei o que pensar, nós viajamos e eu desejava me manter profissional com você, só que no outro dia eu acordo com nós dois nus em uma cama de hotel, e eu gostei daquilo...

Ele solta cada palavra me olhando fixamente nos olhos, e parece estar realmente confuso com isso.

— Mas..? — Digo o incentivando a continuar.

— Não tem um "mas", Selena. — Ele diz e pela primeira vez desde que começou a falar desvia os olhos dos meus. — Eu disse para alguns dos meus amigos, nesses últimos dias, que você era minha namorada e hoje, quando meu irmão me perguntou o que você era minha, a única coisa que pude dizer foi sobre trabalho mas, ontem a noite... Ontem quando a Miranda... Eu não sei.

Ah, ontem a noite!

— Você quer que eu diga o que eu acho? — Pergunto e ele desvia o olhar do meu rapidamente.

— Não. — Justin, murmura, voltando me encarar. — Eu nunca tentei falar sobre isso com você, e agora não é o momento apropriado. — Ele diz descruzando os braços e me dando as costa para voltar a sala, mas eu o impeço de se afastar, segurando em seu braço.

— Me deixa falar. — Digo o trazendo de volta. — Eu tenho sentido a sua falta desde que você se afastou a primeira vez, porque nas últimas semanas, todos os dias eu fui sua sombra, mas na semana passada eu quase não te vi como normalmente. E eu quero ser franca com você, o máximo que eu puder, Justin... — Respiro fundo. — Eu ouvi sua conversa, de ontem, com a Miranda. — Afirmo, vendo sua pequena surpresa pelo que eu disse. — Eu estava na porta, não conseguia dormir tentando me forçar a não ir até você, eu ouvi tudo que ela disse e em certos momentos eu tive medo que você a levasse pro seu quarto. Quando você bateu na minha porta, você estava com uma expressão parecida com a de agora no seu rosto, completa confusão, e meu único desejo era ficar ao seu lado até que passasse. — Suspiro, deslizando minha mão em seu braço levemente e o soltando. — Eu entendo que você esteja confuso sobre mim, ou pelo que a Miranda disse, ou até mesmo pelo Oliver. Eu também estou um pouco confusa a certo modo, e não vou te forçar a nada que você não queira, Justin. Eu nunca te forçaria a nada.

Ele ainda está me encarando fixamente quando termino de falar, mas seu silencio prevalece.
Apoio minha mão esquerda no balcão da pia e olho para a cafeteira, atrás de mim, que ainda não começou a encher a jarra.

Tento me convencer de que tudo que falei não foi precipitado ou desnecessário, enquanto encaro a jarra ainda vazia.

Respiro fundo e volto a olhar para Justin que ainda estava me encarando da mesma maneira, só que estava mais próximo agora. 

— O que foi? — Pergunto sem entender o por quê de ele estar tão calado. 

 — Nada. — Ele murmura, quase inaudível esticando os baços e apoiando as mãos em minha cintura. 

Justin se inclina para me beijar e seus lábios chegam até a roçar nos meus, mas eu o interrompo.

— Eu to doente, lembra? — Murmuro o mesmo que ele havia dito nesta manhã, sentindo a boca dele a milímetros da minha.

— Isso é besteira, Selena. — Ele diz, selando nossos lábios, logo em seguida, enquanto passa os braços ao redor do meu corpo e me puxa, tão rápido, fazendo-me colidir contra ele.

Levo meus braços ao redor do seu pescoço, aprofundando o beijo. O beijo que eu esperei o dia todo para ganhar. O beijo que eu poderia me acostumar a pegar sempre que quisesse.

Uma de suas mãos desliza pela minha cintura, até a minha bunda, por dentro da calça me fazendo arfar. Sinto pequenos espasmos de eletricidade se espalharem pelo meu corpo, enquanto o puxo mais para mim, mesmo não havendo espaço disponível entre nós.

Justin acelera o beijo, me virando contra o balcão da pia e eu solto um gemido fraco quase como uma suplica, mediante ao ato.

Deslizo minhas mãos lentamente, que antes estavam agarradas aos cabelos de sua nuca, pelo tórax e abdômen, até chegar a barra da camisa, adentrando de encontro a sua pele.

Eu sei que não podíamos passar de um amasso quente na minha cozinha, mas parecia uma grande tentação ter ele tão perto e não desfrutar.

Justin tira a mão de dentro da minha calça, deslizando pela minha perna e a erguendo, firmemente, na altura de sua cintura.

— Desculpe. — Ouço a voz de Alaric vinda do corredor e tomo um susto, abaixando minha perna com rapidez e tirando as mãos de Justin, enquanto começo a tossir descontroladamente o fazendo rir.  — Selena, onde fica o banheiro? — Questiona Ric, já na porta da cozinha.

— Ta tudo bem. — Ouço Justin sussurrar, rindo fraco antes de sair da minha frente e se escorar no balcão ao meu lado.

— No final do corredor, Ric. — Informo apontando a direção, entre a tosse.

— Você está bem? — Alaric pergunta, parecendo preocupado. — Ta se engasgando? — Justin começa a rir.

— Ta tudo bem, Ric. — Ele responde cessando o riso, enquanto passa o braço em volta de mim, discretamente. — Ela pegou um resfriado, em Chicago.

— Isso é muito chato. — Alaric murmura e eu assinto, controlando a tosse. — Obrigado.

— Por nada. — Eu e Justin respondemos em uníssono.

Observamos ele entrar no corredor e, rapidamente, Justin volta para minha frente com um sorriso divertido no rosto.

— Vamos conversar sobre isso em outro momento. — Justin diz pegando uma pequena meixa do meu cabelo e a colocando atras da minha orelha. — Agora, onde fica o açúcar? — Ele pede.

— Terceira porta do armário de cima. — Respondo e o observo olhar para cima, procurando e abrindo a porta, em seguida, pegando o pote de açúcar. 

Terminamos de fazer o café e voltamos para sala, encontrando Alaric devolta no sofá.

— Agora podemos começar. — Informo entregando uma xícara a Alaric.

— Ótimo. — Ele diz. — Primeiro, eu falei com o seu tio e não tenho boas notícias mas, também não são tão ruins como você imagina.

— Pelo que eu entendi ela não precisa se mudar agora, não é? — Justin diz se esticando para colocar a xicara sobre a mesa.

— Não necessariamente. — Diz Ric, fazendo o mesmo que Justin. — Ela tem que informar todos os inquilinos com antecedência para não render mais processos, porém não precisa se mudar agora, só após o fim do julgamento. Claro que isso não impede seus moradores de abandonarem o prédio.

— Resumindo, se por ventura conseguimos entrar em um acordo e pagar a divida... No final como que vou arcar com as despesas de um prédio sem moradores? — Pergunto fazendo Justin e Alaric se entreolharem.

— Eu disse que não tinha boas notícias. — Ric diz comprimindo os lábios. — Se conseguirmos provar que você não sabia da hipoteca e que antes de morrer seu pai pagava em dias, então podemos diminuir a divida de 62 mil dólares.

— Isso é muito dinheiro. — Justin diz depois de um breve assobio e eu assinto. — Quero dizer, não é impossível, mas é muito dinheiro.

— O Justin tem razão, não é impossível. — Diz, Alaric. — Nós ainda podemos dar um jeito...

▪▪▪

O café já havia acabado e ainda estavamos falando sobre o mesmo assunto. Nada de novo sob o sol.

Alaric disse que um amigo dele, que também é advogado irá ajudar a preparar o processo, e que eu deveria conversar com os moradores para ver o que podemos fazer.
Justin insiste que não é impossível, mas tento imaginar como alguém consegue 62 mil dólares em 30 dias.

— Não perca a esperança, Selena. — Alaric diz se levantando e abotoando seu terno. — Como eu disse vou fazer tudo que puder para os danos não serem grandes. Se depender de mim você não perde o prédio.

— Obrigada, Ric. — Agradeço me levantando e esticando a mão para o cumprimentar, enquanto Justin mexia no celular, ainda no sofá.

— Você não vem, Justin? — Alaric pergunta e Justin o olha. — Já está tarde e você ainda não foi ver o Jaxon.

— Ah, sim. — Justin diz se ajeitando no sofá. — Eu já vou, não se preocupe.

— Tudo bem. — Alaric diz começando a andar em direção a sala e eu o sigo.

— Se tiver qualquer novidade, por favor me liga, Ric. — Digo abrindo a porta para ele.

— Pode deixar. — Ele diz saindo e parando a frente da porta. — Boa noite, Selena.

— Boa noite. — Digo e ele se vira indo em direção ao elevador.

Fecho a porta e me viro vendo Justin me encarando, enquanto ainda estava sentado no sofá, mas agora sem o celular.

— Então, você quebrou a perna por meninas na piscina, ham? — Digo o fazendo revirar os olhos.

— Eu tinha 16 anos. — Ele diz como se fosse desculpa, enquanto eu me aproximo.

Me sento sobre minha perna direita, virada na direção dele, que se ajeita no sofá.

— Por que ficou? — Pergunto o encarando.

— Eu também não sei. — Ele diz se aproximando mais e dando de ombros, em seguida. — Eu só queria ficar.

— Eu te deixaria ficar. — Digo e ele da um sorrisinho de canto. — Mas, você tem que ir ver o seu irmão.

— É a primeira vez que venho na sua casa e você me expulsa dessa forma. — Ele diz balançando a cabeça negativamente. — Vou ter que vir mais vezes, para você aprender que isso não se faz.

— Aproveita enquanto eu ainda tenho casa. — Digo sarcástica e ele franzi o cenho.

— Está duvidando da capacidade do meu irmão? — Ele diz indignado.

— Jamais. — Nego. — E você?

— Ele é o melhor advogado que eu conheço. — Justin diz. — Pena que é um babaca.

— Então, ele não é muito diferente de você, não é? — Digo e mais uma vez ele me olha com indignação.

— Não dá. — Ele diz se levantando. — Depois dessa eu vou embora.

— E vai voltar amanhã? — Questiono me levantando e ficando a sua frente.

— Quem sabe? — Ele sorri maroto.

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Primeiramente:

Segundamente:

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