H I P O T E C A
- Querida, seu pai hipotecou o prédio. - Diz tio Patrick passando a mão pelo cabelo desarrumado. - Eu não sei como, mas ele conseguiu esconder isso de todos nós.
Não pode ser.
- Ele hipotecou o prédio? - Digo incrédula.
- Sim. - Lamenta tio Patrick. - E a hipoteca venceu à 8 meses.
- Espera. - Digo tentando assimilar as palavras ditas por ele. - O banco vai tomar o prédio?
- Eu não sei como não tomaram ainda. - Tio Patrick diz cabisbaixo. - Os juros do banco aumentaram tanto que é quase impossível conseguirmos pagar.
- Tanto, quanto? - Questionei assustada e ele suspirou.
- Por volta de 62 mil dólares. - Ele diz comprimindo os lábios.
Sinto meu nariz arder pelo choro que se aproxima.
- Eu... Eu não tenho como... - Tento falar mas, as palavras parecem fugir da minha boca. - Não tenho como conseguir esse dinheiro.
- Calma, querida. - Diz ele, na tentativa de me acalmar.
- Eu não posso perder esse prédio, Tio Patrick. - Murmuro afundando minha cabeça em minhas mãos. - É a única coisa que tenho.
Minha cabeça parece girar e um nó se forma no meu estomago.
- Você ainda não perdeu o prédio, Selena. - Tio Patrick diz colocando a xícara de café sobre a mesinha de centro. - Eu não sei quando o banco ira mandar alguém aqui mas, quando mandar me ligue, posso ajudar. Quem sabe, não conseguimos um acordo acessível?
Eu assinto mas, não acho possível conseguirmos um acordo que cubra 62 mil dólares.
Depois de tentar me acalmar, Tio Patrick foi embora.
Meu coração estava apertado, eu não conseguia acreditar que tomariam o meu prédio, a única coisa que me sobrará.
Eu tinha algumas econômicas guardadas mas, nada muito extravagante, e meu estágio me pagaria um salário comercial, que não era lá grande coisa, afinal, eu era uma estagiária com dois dias de serviço.
Minha única saída era encontrar uma forma de ganhar dinheiro rápido, já que está praticamente certo que Justin me demitira amanhã.
As horas foram passando devagar, enquanto eu vestia um short de pijama no meio da tarde. Já havia chorado tanto que minha cabeça parecia latejar, e não estava adiantando em nada.
E mais uma vez eu me senti sozinha naquele apartamento enorme. Sem conseguir ver um final pra isso.
Nada que eu fazia parecia estar certo pra mim, então, vesti meu tênis de corrida, uma calça legging e um moletom por cima da minha regata branca.
Coloquei os fones no último volume e sai de casa, entrando no elevador.
Quando as portas de aço se abriram, sai correndo pelo saguão e ouvi Cameron gritando "Toma cuidado" de trás do balcão.
Corro praticamente em modo automático, e só percebo que estou longe de casa quando passo por uma rua residencial onde só havia casas e nenhum prédio em quilômetros de distancia.
Meu coração está tão acelerado que posso ouvir ele batendo forte no peito, quando tiro os fones.
É difícil explicar o por quê de eu estar correndo desesperada agora, acho que o mais simples de dizer é que eu estava ficando louca naquele apartamento, ouvindo vozes de como sou incompetente, na cabeça.
Aumento a velocidade dos meus passos passando a frente de uma viela, quando sinto um forte impacto contra meu corpo e sou jogada no chão.
Tenho dificuldades para abrir os olhos por causa do sol, e da pessoa que caiu em cima de mim e está me encarando neste exato momento.
- Da onde você saiu? - Murmuro tentando reconhecer o homem em cima de mim.
- Eu te pergunto o mesmo. - Ele diz rindo enquanto tento abrir os olhos.
Esfrego meus olhos com dificuldade e mesmo com o reflexo do sol, consigo ver os olhos azuis dele me fitando.
Quando minha visão finalmente entra em foco, percebo que o homem ainda está em cima de mim. Ele era loiro, o cabelo estava molhado e a barba por fazer, dando um contraste a mais contra o sol.
- Está tudo bem? - Questiona ele e a expressão em seu rosto é de preocupação. - Você se machucou?
- Acho que... estou bem. - Murmuro rindo por ele estar preocupado, enquanto ele me ajuda a levantar. - E você?
- Sim. - Diz ele coçando a nuca, quando já estou em pé. - Desculpa por ter te derrubado.
- Não foi nada. - Digo passando a mão pela minha roupa, na tentativa de limpá-la.
- Meu nome é Oliver Murray. - Ele diz estendendo a mão para me cumprimentar.
- Prazer. - Digo apertando a mão dele. - Eu sou a Selena.
- Teria sido realmente um prazer, Selena. - Ele diz me fazendo rir. - Se eu não tivesse te derrubado no chão.
- Bem, não foi tão mal assim. - Digo enquanto começamos a andar. - Afinal, não é todo dia que alguém cai em cima de você, não é?
- É... - Diz ele, com um sorrisinho nos lábios.
- Ah, não! - Digo o fazendo me olhar. - Você faz isso!
- Isso o que? - Ele começa a rir.
- Você espera naquela viela até uma donzela indefesa passar, e então você pula em cima dela. - Digo incrédula e ele cai na gargalhada.
- Você realmente descobriu o meu segredo. - Ele diz entre o riso.
- O que eu posso fazer? - Digo sorrindo sem mostrar os dentes.- Sou boa em desvendar segredos.
- Na verdade, essa é uma ótima ideia. -Diz ele. -Mas, não. Eu não pulo em donzelas indefesas.
- Então o que você faz? -Questiono e ele começa a correr. -Ei!
- Eu sou publicitário para uma empresa privada. -Diz ele, enquanto eu começo a acompanhar o seu ritmo.-E você?
- Nem eu sei. -Digo aumentando a velocidade dos meus passos e ele ri fraco.
- É por isso que está aqui? - Ele questiona mas, não respondo. - Porque está se sentindo perdida?
- Talvez. -Digo dando de ombros. -Acho que, em termos, eu precisava fazer algo que me tirasse de casa. E você?
- Eu costumo correr quando preciso pensar. -Diz ele.
- E você faz isso sempre? -Indago.
- Pensar? - Ele questiona e eu assinto. -Não. Correr, sim.
Continuamos correndo por um tempo e nos despedimos quando voltamos para aquela viela onde ele havia caído em cima de mim.
Voltei pra casa em pouco tempo depois e fui direto para o chuveiro tomar um banho quente e demorado.
Me deitei na cama, ligando a TV. Eu estava tão exausta que nem havia notado o barulho na cozinha.
- Oi lindinha! - Diz Vanessa, entrando em meu quarto me fazendo dar um pulo pelo susto.
- Droga! - Murmuro colocando as mãos no peito. - O que está fazendo aqui a essa hora?
- Já são quase 6 horas, Selena. - Ela diz se jogando na cama. - E você não atendia o telefone.
- Onde está Ashley? - Digo me aconchegando mais na cama.
Os pais de Vanessa moravam em New Jersey, então ela dividia um apartamento com Ashley, a poucas quadras da minha casa.
Eu tinha a chave do apartamento delas e elas do meu, para caso de emergências. O que para elas era toda vez que eu não atendia o telefone por 5 horas seguidas.
- Está na cozinha. - Diz Ela parecendo preocupada. - O que está acontecendo?
- O banco vai tomar o prédio, Vanessa. - Suspiro e ela me puxa para seus braços. - Por que tudo é sempre tirado de mim?
- Não, não, não. - Diz ela, parecendo nervosa. - Como assim perder o prédio? Ele é seu ninguém pode tirar de você.
- Meu pai hipotecou para pagar minha faculdade. - Eu estava tão exausta pela corrida, que minhas palavras pareciam sair sozinhas da minha boca. - A hipoteca venceu a 8 meses e se eu não pagar dezesseis mil ao banco, eu vou perder o prédio.
- Você não vai perder o prédio. - Ela diz acariciando meu cabelo. - Nós vamos dar um jeito, eu prometo.
- Um jeito? - Rio debochada. - Discuti com Justin hoje de manhã Vanessa, e ele disse que que estava no trabalho errado. Na certa vou ser demitida.
- Ei! - Ela chama minha atenção. - Não é bem assim.
- Claro que é. - Bocejo me aconchegando nos braços dela. - É bem mais do que você imagina.
Vanessa ficou calada. Eu não sei exatamente por quanto tempo ela ficou ali, a ultima coisa que me lembro, foi do celular dela tocando antes de eu cair no sono.
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Oi meu amores sz
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