Capítulo 29
Duas semanas de viagem a cavalo e mesmo assim não estamos nem na metade do caminho para Tyndarius. Fiz uma viagem longa assim apenas uma vez quando tinha mais ou menos uns 14 anos. Papai disse que eu já estava chegando na idade de ter responsabilidades maiores e que começaria indo conhecer os superiores do parlamento em Cristárya um reino aliado. O lugar onde o parlamento se reunia era uma sala enorme cheio de homens gritando a todo momento, uns tentando se fazer ouvir mais do que outros, uma confusão e para piorar eu era a única mulher do lugar além de ser extremamente nova, se destacar no meio de grandes tubarões não foi uma tarefa fácil.
Depois da família real e do concelho o parlamento é o grupo de pessoas mais poderosas e influentes de toda Galwey e Drofey e alguns outros reinos adjacentes.
Fico pensando em como deve estar o clima agora no parlamento com meu pai, o resto da família real e o concelho presos nas masmorras de Gardênia sem poder fazer absolutamente nada pois estão cercados de turmalina negra que bloqueia seus poderes o suficiente para não deixarem que revidem. E o que o parlamento deve estar pensando sobre tudo o que estão falando sobre mim? Será que estão do lado de Ahzac? Ou será que ainda são fiéis ao rei Valentino? E se estão do lado do meu pai, estão fazendo algo para pelo menos tentar libertá-los? São muitas perguntas que não terei respostas por agora.
Saímos de CastleCold e já passamos por Waterford e Pontoy logo mais estaremos em Gothen a casa que meu querido padrinho e amigo Beknor Daxkang lidera, a última casa que passaremos antes de finalmente sair de Drofey e ir de encontro com o reino perdido dos feéricos, Tyndarius. Gothen também é a casa de Marjorie e assim que chegarmos vamos nos abrigar na casa de sua irmã e seu cunhado. São os únicos de real confiança, sem contar que precisamos de um banho e um descanso digno, comidas melhores e um tempo para recarregar as forças.
...
— Bem vindos ao lar dos Milicent. — Marjorie cantarolou.
Paramos os cavalos em frente a bela casa de Lianda Milicent irmã mais velha de Marjorie e de seu marido Christoffer Collins Milicent. A casa se encontra no meio de um belo campo envolta da floresta sendo mais afastado da grande cidade de Gothen. Do lado de fora da para ver que a casa não é tão sofisticada como um palácio mas tem o seu luxo e me parece bem confortável e aconchegante, mal posso esperar para finalmente poder descansar.
— Finalmente! — Eliott bufou tirando o lenço que cobria os lábios, que usamos para esconder nosso rosto. — Não aguento mais cavalgar nem sei se consigo sentir minhas pernas.
— Eu com certeza não tenho mais coluna. — Armena tentou se endireitar ainda montada em seu cavalo. — Estão destruídas.
— Eu também estou acabado mas pelo menos já chegamos e vamos poder dar uma pequena pausa. — Addy se manifestou.
— Bom, eu sei onde fica o estábulo vamos deixar os cavalos lá e entrar. — Marjorie instruiu.
— Vamos! Não podemos ficar muito tempo aqui fora, para que lado fica? — Bogdan se apressou já guiando seu cavalo para se mexer.
— É só seguir reto e virar a esquerda, está logo a vista.
— Marjorie tem certeza de que sua irmã não vai se incomodar com a nossa presença? — Aproximei meu cavalo do seu e abaixei o tom de voz para soar discreta.
— Claro Aal! Lianda sempre amou você faria de tudo para ajudar e bom... Ela é minha irmã, então está tudo bem. Vamos?
Balancei a cabeça concordando.
— Vamos garoto só mais um pouco. — afaguei a crina do meu cavalo e o incentivei a andar novamente.
...
— Ai meu Deus Marjorie! — Lianda saiu correndo para os braços da irmã ao vê-la esperando no hall de sua casa depois da criada tê-la chamado ao anunciar a visita inesperada da irmã.
— Lianda como está linda. — Marjorie disse toda feliz no meio do abraço da irmã.
Por um momento bem breve senti inveja de Marjorie. Gostaria de poder abraçar agora meus pais e Didacus que ficaram para trás.
— Céus... alteza! — Lianda se assustou com a minha presença ao ver que estava bem atrás de sua irmã.
— Olá! — Eu disse tentando parecer simpática.
— Nossa quanta falta de modos. — Lianda soltou os braços da irmã e fez um reverência longa demais. — Altezas. — Completou ao reparar em meus irmãos.
— Está tudo bem Lianda não precisa de tanta formalidade. — Sorri.
— Lianda? — Pudemos ouvir a voz alta de longe.
— Ôh! Christoffer venha ver quem está aqui! — Ela gritou de volta para o marido.
O piso do chão é tão liso que deu para ouvir perfeitamente o som dos sapatos de Christoffer se aproximando.
— Olha vejam só! Quanta honra. — Christoffer também fez uma reverência só que um pouco mais breve quando chegou perto do grupo de visitantes.
— Pedimos perdão por virmos sem avisar mas é que estamos tempo demais na estrada e precisávamos parar. Porém teria que ser um lugar confiável já que estamos em uma situação bem... complicada. — Bogdan explicou.
— Fiquem a vontade nós entendemos perfeitamente. — Christoffer deu um sorriso largo e abraçou a esposa ao lado.
— E por falar nisso... — Lianda começou. — Nós sentimos muito alteza, sabemos que toda essa história é uma grande mentira descabida.
— Obrigada fico feliz em saber que confiam em nós. Bom... Acho que já conhecem Owen e Cedric. — Os meninos curvaram a cabeça em um cumprimento cavalheiresco.
— Sim claro que lembramos. — Christoffer respondeu apertando a mão deles.
— Provavelmente também se lembram de Amena e Eliott. E este é Adam. — Apresentei.
Lianda ficou eufórica repentinamente rindo de orelha a orelha.
— Siiim Adam Kieran, O misterioso! Nós o conhecemos não é amor? — Se virou para o marido.
— Bom de vista é claro meu bem, você o conhece mais do eu provavelmente.
— Eu vi vocês dois nos jornais há algumas semanas atrás e vi as fotos das revistas também, li todas as matérias e artigos. Eu acho um casal tão lindo. — Lianda despejou as palavras sem ao menos parar para respirar direito.
Pelo canto do olho pude ver não só Eliott mas Bogdan e Addy darem risada. Será que meus irmãos sabem de alguma coisa ou suspeitam? Eliott esse maldito se ele tiver aberto a boca eu juro que irei matá-lo sem a menor piedade. Mas antes que pudesse contestar Adam foi mais rápido que eu.
— É um prazer conhecê-la senhora Milicent. — Adam tomou a mão de Lianda e depositou um beijo. — Fico grato por nos receber em sua casa é linda mas eu e a senhorita Aalis não somos um casal.
— Não mesmo. — Consegui ouvir Armena sussurrar achando graça.
Preciso urgentemente trocar de amigos.
— Não? — Lianda Arregalou os olhos chocada.
— Não, nem de longe. — Adam soltou um sorriso charmoso e gentil para ela.
Não pude deixar de sentir uma pontada no peito. Não que eu estivesse completamente incomodada e é óbvio que não somos um casal mas ouvir Adam falar daquela forma como se Lianda fosse louca por chegar naquela conclusão de algum jeito me afetou negativamente.
— Desculpe decepcionar vocês. — Foi o que eu consegui dizer com um sorriso amarelo.
— Por favor alteza nós é que pedimos desculpas. Minha esposa ficou empolgada demais com a suposta notícia. Ela acredita que tudo na vida é um eterno romance.
— Oras por favor Christoffer. — Deu um tapinha no marido. — Não é assim também não. Bem, venham comigo vou arrumar alguns quartos vocês devem estar cansados. Não é como o palácio mas espero que se sintam em casa e vou pedir para Constantine preparar o almoço. Enfim poderemos usar as louças novas para visitas especiais.
— Lianda você é tão boba. — Marjorie abraçou a irmã novamente matando ainda mais a saudade.
— Obrigada Lianda você está sendo de grande ajuda. Só peço para que você e Christoffer sejam discretos não quero que nada aconteça com vocês por nossa causa. — Acrescentei.
— É claro alteza seu pedido é uma ordem.
Lianda dispôs todos os seus quartos de hospedes. Marjorie e Armena ficaram no mesmo quarto para que eu pudesse descansar sozinha, insisti que não era necessário mas não adiantou minha recusa. Lianda, Marjorie e Armena juntas conseguem convencer o mais cabeça dura dos homens a fazer tudo o que elas querem. Lianda explicou que não tinhas criadas suficientes para nos servir mas não me importava muito com este detalhe nesse momento, disse que não havia problema algum e pude ver levemente os seus ombros relaxarem, dava para perceber o quanto ela estava se esforçando para nos deixar o mais confortável possível, apreciei seu gesto carinhoso.
Ao entrar no quarto respirei fundo. Um momento de paz e sossego. Me encostei na porta atrás de mim e observei o lugar, meu quarto em gardênia era o dobro do tamanho desse e um pouco mais luxuoso mas mesmo assim me fez lembrar de casa, do ar quente do meu quarto. Fechei os olhos e pude visualizar Luanda e Lilibeth cantarolando e andando de um lado para o outro fazendo seus serviços e afazeres, pude visualizar minha mãe com toda sua graça de rainha zangada comigo por alguma coisa que fiz ou deixei de fazer. O meu peito ardeu de saudades, lágrimas. Para mim o tempo está passando devagar demais parece que quanto mais demoro para chegar em Tyndarius mais riscos minha família corre. Antes de nossa chegada em Gothen Owen parou discretamente em uma viela desconhecida para comprar jornais, tínhamos que nos manter informados sobre a nossa situação, não havia nenhuma notícia de meu pai ou de Lenna, nada sobre o concelho ou sobre os líderes. As únicas coisas a serem divulgadas eram relacionados aos pronunciamentos estapafúrdios de Ahzac e aparições que ele fazia com Elaa Vadax ao seu lado e sobre um novo líder que Ahzac escolheu para ficar no lugar de Lenna Gako no palácio de Waterford em Drofey mas não se falava muito desse "novo líder." De qualquer forma tudo era frustrante Ahzac não estava fazendo nada de útil além de ostentar de uma riqueza e um trono que não era seu e me caçar como um bicho selvagem.
— Eu vou voltar por vocês, eu prometo. — Sussurrei bem baixinho.
Decidi me mexer, tirar minhas roupas sujas e tomar um banho. Lianda já tinha disponibilizado roupas limpas e depositado em cima da cama. Abaixei para tirar as botas e só ai reparei que minhas pernas estavam doloridas da longa viagem. Gemi sentindo um pouco de dor ao me abaixar novamente o mínimo esforço era cruel para mim. Tirei toda a roupa e ao passar por um espelho voltei alguns passos e me encarei. Estou suja com os cabelos desgrenhados, também estou mais magra perdi uns bons quilos que consigo agora ver os ossos da minha clavícula que estão sobressaltados. Em algumas partes das minhas coxas existem vergões roxos e a ferida que ganhei da minha última batalha apesar de já ter cicatrizado carrega umas machinhas vermelhas envolta. Confesso que a visão é deprimente, totalmente diferente da princesa de um mês atrás. Me pergunto se mais alguém reparou na minha mudança e quando digo mais alguém me refiro a Adam principalmente. Corto meus pensamentos e saio da vista horripilante do espelho não preciso de mais problemas para a minha cabeça, então corro para o meu banho.
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